Capítulo Nove
Rol Fisher:
Ajudei muito com os animais e com a Karen, que só fazia com que eu ficasse ainda mais melancólico com uma canção envolvendo algo relacionado a uma maldição, joias, insanidade de vários líderes e até diversos cadáveres pelo caminho da origem dessa alcateia. Na primeira hora que estive ali, até foi interessante de se ouvir. Posso dizer que a história é um pouco peculiar, pois a Karen tem uma péssima voz. Imaginar ouvir isso por um bom tempo seria como um grilo sendo enforcado ao mesmo tempo em que um prato é arranhado por um garfo várias vezes. Por último, tudo isso estaria em um replay infinito.
Chegou a me estressar toda vez que ela abria sua boca e começava a cantar, que deu vontade de entara na jaula dela e xingar tão alto e fazer com que ela perdesse a voz, o pior foi tiffany e a irmã dizendo que er um som lindo.
— Se vocês entendessem o que ela está cantando, mal iria dizer outra coisa — murmurei para mim mesmo em todas as vezes e até peguei as meninas emocionadas com o som.
Quando estava perto da hora de comer, Tiffany me mandou ir, e a partir daquele momento, eu poderia fazer outra coisa ao invés de continuar ajudando, já que não havia mais nada a ser feito, e ela poderia cuidar do restante sozinha. Despedi-me da irmã dela e dos animais. Na hora de me despedir da Karen, as coisas ficaram ainda mais estranhas, principalmente com um sorriso. Já mencionei que Karen tem um sorriso um pouco feio?
— A joia se ativou novamente — cantarolou Karen, enrolando a língua.— As veias sanguíneas se tornaram roxas e elétricas; o sofrimento e a loucura primeiro destruíram a mente e o corpo, por último a alma.
Olhei para ela, que piscou na minha direção.
— Então, querido amigo, está pronto para testemunhar o que vem a seguir? — ela perguntou com um brilho peculiar nos olhos. — O final que tanto esperamos vai chegar.
— O que vai acontecer? — perguntei, nervoso. Karen apenas sorriu de forma enigmática, ignorando minha pergunta. — Está bem
Saí rapidamente dali, com medo de sua loucura se voltar contra mim. Tive que ouvir os sons animalescos, meu lado lobo querendo se libertar e correr atrás desses monstros, apenas por diversão. Devo admitir que estava sendo difícil controlar meu outro lado; era como se ele estivesse tentando se separar de mim e fazer o que bem entendesse. Encostei-me na parede, minha respiração agitada e desregulada.
Me deixe sair e correr livremente!
Ouvi os pensamentos do meu lobo, as garras começavam a surgir. Mordi o lábio com força e retomei o controle, respirando lentamente. Me aproximei dos quarenta degraus, subindo até o andar superior, onde vários guardas pareciam ansiosos ou rosnavam para o nada.
— Este lugar é cheio de doidos — falei e continuei a caminhar, mantendo-me o mais longe possível daquelas pessoas.
Andei por um bom tempo e percebi que não sabia onde poderia comer. Não tinha ideia de onde ficava a cozinha ou a sala de jantar. Não perguntei a Carmuel, à Tri e muito menos a Tiffany e sua irmã.
Seu burro!
meu lobo disse debochado e riu.
— Já que o senhor é tão inteligente, sinta o cheiro da comida — falei, e minha resposta foi silêncio. Meu lobo não sente muito o cheiro de nada, como se não bastasse mudar apenas de pelos ou ficar em uma mistura de marrom e branco. Ele é assim desde que era pequeno, e nada resolve. Ele também aparece quando tenho uma alta carga emocional. Mas foi assim que me apresentei ao meu melhor amigo, Scott Prescott. Quando o conheci, estava tão feliz que acabei me transformando. Pelo menos Scott não estranhou aquilo. Realmente estava com saudade dele e até das nossas conversas. Não consigo explicar como deveria ter aproveitado mais tempo com meu amigo. Sei que prometi que iria voltar antes do filho dele nascer, mas isso foi apenas algo que disse sem perceber como fazer isso acontecer.
— Rol! — Ouvi alguém chamar, e me virei para ver Valmir Railane vindo na minha direção. Ele parecia mais sofrido e triste, o que me deixou surpreso. Estava bem pálido, e dava para ver suas veias por completo. — Como está?
— Você está bem? — Perguntei. — Está muito pálido, e suas veias estão quase à mostra.
Ele balançou a cabeça.
— Não, não é nada — Valmir disse, desviando do meu olhar. Era visível que ele escondia algo e estava sofrendo por isso. — Estou indo para a sala de jantar, quer vir comigo?
Em resposta, meu estômago roncou alto, e fiquei envergonhado com isso.
— Sim, por favor. Não como nada desde o lanche de ontem à noite. A Tri só me acordou, e fomos treinar minha magia — falei enquanto começamos a andar. — Depois, fiquei o restante do tempo ajudando o Carmuel com as coisas dele.
— Sério, deve estar morrendo de fome — Valmir disse, e eu assenti. — Deixa eu perguntar como foi o treinamento?
Então, contei tudo a ele, como o canalha do Carmuel usou magia para fortalecer meus "inimigos".
— Isso é bem a cara dele — Valmir disse, rindo como se lembrasse de uma época que nunca mais irá voltar. — Uma vez, ele não aceitou que iria perder para mim e usou magia para me atrapalhar completamente com meus movimentos de luta.
— Ele é o pior! — Falei, decidido.
— Só que ele não era tão agressivo, como foi com você — Valmir disse sinceramente. — Ele mudou muito, e tenho medo por ele e pela Tri.
— Parece que você os conhece muito bem — Falei. — Qual é a sua história?
— Eu sou só um... — Ele começou, então parou bruscamente, seu rosto molhado de suor.— Rol, preciso ir! — Ele disse, visivelmente perturbado. — Para chegar na sala de jantar e cozinha, vai por esse corredor, desça as escadas e chegará nas portas da mesma, que são decoradas com diamantes rosas.
Dito isso, ele se virou e saiu correndo para longe. Eu o observei até que ele virou em uma parte do corredor. Fiquei minutos tentando ir atrás dele, mas meu estômago roncou tão alto que fiquei envergonhado e isso me fez desistir.
Segui pelo caminho que ele indicou, observando vários guardas ansiosos, nervosos, parecendo prestes a explodir. Ignorei, afinal, sabia que não me interessava. Ao chegar em frente à sala, abri as portas decoradas com diamantes rosas; esse povo sabia ser chique. Passei pelas portas e vi Santiago e Gred conversando, todos felizes.
Pelo menos um de nós consegue sorrir nesse lugar.
Senti alguém me abraçar e olhei para baixo, vendo aquele beta de ontem que sorria para mim.
— Tio Rol — disse meu nome todo feliz. — Você é um beta como eu, nunca tinha visto um. Você é tão alto.
Baguncei seus cabelos.
— Será que sou eu que sou alto ou você que é muito baixinho?
Átilas fez um beicinho que achei adorável.
— Não sou baixinho — ele disse e me fez rir. — Soube que você enfrentou o líder Carmuel? — Nessa última parte, seus olhinhos brilharam. — Isso não é perigoso.
— Não, se preocupa, eu sei me defender dele. — Falei com um sorriso. — Como foi o seu dia na cozinha?
Ele começou a me contar, desde a hora que acordou chamando seu padrasto que disse que já estava na hora dele. Ele só se manteve vivo até que Tri chegou e conversaram por alguns segundos. Imagino como deve estar sua cabeça, ainda mais com ele já tendo sido treinado para caso uma coisa dessas aconteça.
— Os guardas do líder me trouxeram para cá, e fiquei ajudando o tio Valkar e a tia Vilma — Átilas disse. Pelo visto, os dois cozinheiros não são babacas como o resto do pessoal daqui. Me sentei no balcão ao lado de Santiago e Gred, ouvi a história de Átilas enquanto o ajudava a se sentar no meu colo.
— Mas em determinado momento, o tio Valkar e a tia Vilma começaram a passar mal — Átilas disse, e o olhei curioso. — Ficavam chorando ou batendo a cabeça deles na parede com bastante força.
Olhei para Gred, que suspirou.
— Os feromônios e a magia do líder Carmuel enlouqueceram, e todos que estavam na parte de cima da alcateia sentiram. — Gred explicou. — Átilas não sentiu...
— Por que Carmuel não o enxerga como um de seus protegidos — Uma mulher disse tristemente. Ela tinha cabelos castanhos escondidos em um chapéu de chef, usava uma roupa toda branca, e nas mãos, segurava uma bandeja coberta.
— E como ele é beta e não sente muito bem os feromônios, ou é novo para ver e sentir a magia, nada vai acontecer com ele — Um homem disse, vindo do mesmo lugar, com vários pratos e talheres em mãos. O homem tinha cabelos pretos misturados com algumas pequenas entradas brancas.
— Então, os feromônios não afetaram ele — o homem disse.
— Tio Valkar! Tia Vilma! — Átilas gritou, e os dois cozinheiros sorriram. — Viram, o tio Rol veio me ver.
Ambos sorriram divertidos, e a expressão triste da mulher desapareceu por alguns segundos.
— Eu vejo, querido — Vilma disse. — É uma honra conhecer você, Rol Fisher. Sou Vilma Railane, e o meu marido Valkar Railane...
Ela olhou para trás e suspirou, assim como o marido.
— Espera, vocês têm um filho chamado Valmir Railane? — Perguntei, e todos me olharam.
— Como sabe disso? — Valkar perguntou. — Ninguém fala dele ou dos outros que se foram há oito anos atrás.
— Dos que se foram? — Santiago e eu perguntamos confusos.
— As pessoas que o líder e o anterior mataram oito anos atrás quando a loucura os possuiu. — Gred disse, e sua voz se tornou melancólica. — Foi uma carnificina em massa, e Valmir Railane foi morto ao tentar fazer Carmuel voltar à razão e não matar seu próprio pai. Por ironia, o antigo líder matou Valmir na frente de Carmuel. Naquela noite, ambos eram bestas irracionais, e o líder anterior já havia dado sinais muito tempo antes.
Olhei para todos naquele espaço. Se Valmir morreu, quem era o rapaz com quem conversei ontem e hoje?
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Gostaram?
Até a próxima 😘
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