Capítulo 15
Se vocês gostarem do capítulo como eu gostei, vão perceber que nem vai parecer que tem 4200 palavras ele... Para mim foi um capítulo tão leve...
MONTANHA
Júlia ficava incrivelmente vermelha quando com vergonha, mas, ainda assim, fazia um esforço hercúleo para se fazer de forte.
Não sei se era o seu gênio forte, sua raiva colossal por mim ou, admitindo melhor, o fato de ela ser uma linda mulher de lábios carnudos, a verdade é que eu realmente estava perdido naqueles olhos escuros e fortes. E por conta disso, demorei a entender a cagada que eu tinha falado e feito e a consequência disso logo depois.
Júlia me empurrou para longe dela e por conta disso caiu estatelada no chão. Eu ainda tentei me equilibrar do desequilíbrio inevitável e fui levando algumas araras comigo no processo. O tal do Vini começou a gritar enlouquecidamente como uma gazela e no fim só tinha a Júlia no chão e eu no outro lado com um monte de terno no chão.
A loja parcialmente destruída.
Contudo, olhando com mais atenção, o estrago tinha sido um pouco pior. Júlia estava com um salto num pé e a bota no outro e agora para piorar minha cota de machucados nela, um cabide de madeira tinha aberto um talho no canto da testa dela que sangrava pouco, mas que, ainda assim, tinha sido minha culpa.
Os garotos obviamente vieram tudo ao socorro dela. Me senti um babaca em ter perdido meus amigos para a minha garota. Mas tudo bem. Ela estava realmente mais machucada.
A tal Mari logo chegou com um esparadrapo e os meninos todos juntos se apegaram aos braços de Júlia a fazendo se levantar. Ela balançou a cabeça levemente tonta, perdida e confusa e parecia tentar se situar no mundo enquanto via o desastre que tínhamos feitos juntos. Dei um sorriso amarelo enquanto falava:
― Acho que acabamos por aqui hoje.
― Você acha? ― Disse Vini entredentes.
Com muito custo, talvez porque Júlia ainda estivesse muito tonta da queda, ela aceitou acompanhar a tal amiga Tai para escolher um vestido ali no Vini mesmo e eu fiquei de buscá-la a noite ao que ela respondeu algo como "aham", ou eu aceitei que fosse aham, para ser bem sincero. Só estava querendo fugir dali e do meu estrago o mais rápido possível.
A noite, estávamos todos preparados. Os meninos iam pegar carona na ida conosco, mas alguns deles voltavam com outras pessoas e em horários bem diferentes do meu. Na verdade, eu costumava voltar tarde também, mas agora estava algemado naquele espírito do mal e bem ou mal teria que aceitar o horário que ela quisesse voltar.
Quando deu nove e meia da noite, eu a liguei dizendo que estava esperando ela embaixo. Quem atendeu foi a Tai dizendo que ela e a Mari estavam fazendo os últimos retoques e que foi difícil esconder o gesso na perna de Júlia.
Mulheres. Sempre se atrasavam.
Fiquei absorto num joguinho no celular de tênis, o que não tinha lá muito a ver com o que eu fazia, por isso demorei a perceber que Júlia vinha ao meu encontro. Somente quando ela bateu com a unha no vidro que eu acordei estupefato, por um momento achando que estava sendo roubado - coisa comum no Rio de Janeiro diga-se de passagem - só para depois perceber que era ela com cara de enfado, mas igualmente linda, ainda assim.
Júlia estava usando um vestido longo que começava dourado em cima e ia ficando quase branco nas pontas. Havia um decote na altura dos seios no qual eu fiquei por longos segundos sem conseguir desviar o olhar. Ela bateu mais uma vez com as unhas no vidro e um pouco atordoado eu me levantei e sai do carro para abrir a porta para ela.
Ela estava com os cabelos soltos e uma maquiagem leve no rosto que demarcava bem os olhos negros e marcantes que ela tinha. Seus lábios carnudos pareciam mais demarcados e eu fiquei me perguntando como ela estava conseguindo ficar de pé com o gesso, mesmo que o outro salto fosse baixinho o suficiente para nem ser considerado salto.
(Inspirado nesse, mas não igual...)
― Não sabia que o carro estava aberto. ― Ela disse quando viu eu saindo do carro e eu me adiantei para abrir a porta para a bruxa má odeio cavalheirismo do oeste e acabou que nós dois tocamos a porta do carro para abrir. Fiquei alguns segundos a encarando antes que dissesse a frase mais verdadeira que saíra dos meus lábios até então:
― Você está muito linda. ― Ela não desviou o olhar, mas suas bochechas ficaram levemente avermelhadas enquanto ela me respondia:
― Obrigada. ― E deixou que eu abrisse a porta do carro enquanto ela se acomodava no passageiro.
A viagem foi de uma quietude eletrizante. A sensação era de que se eu tocasse a pele dela, poderia surgir uma faísca elétrica entre nós. Ao mesmo tempo, a minha vontade era de jogar o carro para o acostamento e experimentar aqueles lábios carnudos. Eu realmente precisava ser internado. Estava realmente cogitando, cogitando na real verdadeira mesmo beijar o espírito do mal?
Milk, Doug e Lucas adentraram o passageiro e continuamos a viagem por mais algum tempo em silêncio. No entanto, essa proeza não demorou muito. Milk falava demais e conseguia preencher qualquer espaço vazio em segundos.
― Você vai ver! Ele tem um jardim enorme! Uma piscina também, mas ninguém deve usar. ― Disse Milk para Júlia que sorriu.
― Vai ser a primeira vez que verei famosos sem precisar atendê-los. ― Comentou Júlia, mas sua voz parecia levemente tremida. Doug interferiu:
― Não se preocupe com isso. Você está tão linda que vai parar meio mundo. ― Júlia estremeceu.
Adentramos a propriedade e os guardas conferiram nossas identidades antes de adentrarmos. Havia um manobrista que levaria o nosso carro para um estacionamento mais ao longe, por isso, precisávamos descer.
― Desçam primeiro para chamar a atenção que vou falar rapidinho com a Júlia. ― Disse para os meninos que concordaram sem pestanejar e saíram. Assustei Júlia pegando a mão esquerda dela entre as minhas mãos. Ela estava bem gelada e eu tinha quase certeza de que não era por causa do ar condicionado.
Seus olhos encararam os meus. Ela tinha medo, ainda que não quisesse admitir isso com todas as letras. Era uma mulher que sempre tentava parecer forte, a qualquer custo. Tentei dar o meu melhor sorriso com dentes e tudo para confortá-la. Normalmente isso acalmava as mulheres, por conta da pequena covinha em um único lado da minha bochecha que insistia em aparecer. Ela continuou me encarando nos olhos como se perscrutasse a minha alma.
― Tudo bem ter medo. Eu vou dar a volta e te ajudar a sair com essa bota pesada do carro. Segure firme no meu braço que vai ficar tudo bem. Ninguém aqui vai matá-la ou atacá-la. ― Ela deu uma risadinha baixa antes de responder:
― Mas pode ser que eu tropece no chão liso. ― Sorri de lado.
― Não se preocupe. Eu te seguro. ― Pisquei.
Incrivelmente, talvez pelo medo, ela não revirou os olhos nem fez cara de mal. Apenas assentiu. Talvez estivesse pela primeira vez me dando um voto de confiança. Decidi ser digno dele.
Sai do carro entregando a chave para o manobrista e fui seguido de vários flashes enquanto seguia para o lado de Júlia e abria a porta para ela. Estendi a minha mão para que ela pegasse e ela agarrou como se fosse um bote salva-vidas. Puxei-a com delicadeza, mas firmeza e ela se levantou graciosamente ficando frente a frente comigo. Seus olhos negros pareciam dois buracos negros prestes a me tragar para o fim. Acho que Júlia era o universo e todos os contos infantis só no olhar.
Tentei não pensar nessas coisas absurdas que passavam pela minha cabeça, enquanto mais uma saraivada de flashes nos atrapalhava a visão.
Tentei passar calma para ela, sem desviar do seu olhar de buracos negros e mistérios escondidos enquanto estendia o braço para que ela pegasse. Júlia abraçou o meu braço e eu aproveitei para segurar sua mão tentando dar paz. Me arrependi um pouco? Muito. A mão dela estava não só gelada, mas suarenta. Mas não a larguei mesmo assim.
Começamos a andar em passos lentos. Alguns microfones e várias perguntas vieram em nossa direção, mas eu respondi que as perguntas ficariam para depois. Finalmente salvos, fomos até o salão de entradas onde uma música calma tocava e finalmente o barulho dos flashes não chegavam. Júlia suspirou ao meu lado, parecendo respirar pela primeira vez desde que chegou na mansão, mas não largou o meu braço, principalmente porque seus olhos se arregalaram enquanto ela dizia:
― Aquele é o... Caio Castro? ― Ela perguntou quase gaguejando e embora fosse muito engraçado, apenas me limitei a assentir. Sua mão ainda continuava muito firme no meu braço e aparentemente ela ainda não tinha percebido isso.
Algumas pessoas vieram me cumprimentar e Rafa apareceu para me dizer que havia alguns patrocinadores ali na festa querendo conversar comigo. Ameacei sair, mas Júlia fincou as unhas na minha blusa social me impedindo de andar. Franzi o cenho. Era raro ver aquela mulher frágil ou qualquer coisa do tipo.
― Por favor, não me deixa sozinha. Não vou saber o que fazer. ― Dei um sorriso amarelo e tentei confortá-la.
― Eu volto em cinco minutos. Senta naquele sofá por enquanto e come alguma coisa, bebe algo se alguém te oferecer. Tá bom? ― Ela continuou olhando para mim por mais alguns segundos, mas quando percebeu que isso não faria com que eu deixasse de seguir, até porque realmente precisava ver alguns patrocinadores, ela suspirou, fingiu uma cara de paisagem e assentiu. Me desvencilhei dela e segui na direção apontada por Rafa.
Foi estranho deixar Júlia. Ela realmente parecia desolada e ter parado de apertar sua mão melequenta foi... estranho? Não sabia dizer. Decidi não pensar a respeito.
― Senhor Almann.. ― Disse e comecei a falar de trivialidades. Era sempre assim que os assuntos começavam. Falamos sobre alguns brindes que a empresa estava com ideias de distribuir e ele alegou que o Banco que ele representava poderia ver alguma coisa, para conversarmos melhor.
Depois de alguns minutos de conversa, a esposa do senhor Almann, uma senhora já na casa dos cinquenta, mas com tanta plástica para fingir ter 30, os cabelos bem loiros e curtos de estatura bem baixa me deu um sorriso de canto dos lábios enquanto inquiria:
― E onde está a sua namorada? ― Só naquele momento que eu fui perceber que já estava no papo entretido há mais de 5 minutos, quando eu havia prometido para ela que seriam poucos minutos. Um sentimento estranho de culpa se apossou de mim.
― Por aí. Se divertindo. ― Ainda assim tentei parecer casual, mas os olhos de águia da mulher repuxada e de sorriso de escárnio pareceram perceber. Ela balançou os cabelos curtíssimos e comentou fingindo causalidade:
― Ah... eu acho que realmente está mesmo. O Rui Lemann está dançando com ela.
― O Rui... como é que é? ― Estava realmente chocado e não era para menos. Vamos as explicações de quem era Rui Lemann.
Rui era um galinha inveterado que podia ser assim não só por sua beleza - cabelos castanhos, olhos azuis, porte atlético, educação fajuta de lorde - mas porque Rui era filho do Lemann, só um dos homens mais ricos, mais ricos, do Brasil. Eu duvidava de que Rui já não tivesse pego até as velhinhas daquela festa. Neymar costumava brincar que no ranking de pegações, Rui estava em primeiro, ele em segundo e eu em terceiro. O fato de ele ter enxergado Júlia significava apenas que era carne nova e nada mais. E eu não queria que Júlia se machucasse por isso. É claro que essa era a minha preocupação primordial. Porque Rui era muito bom de lábia. Duvidava de que Júlia não caísse na dele. Mesmo que não tivesse caído na minha.
E tinha o fato de que eu não gostava muito daquele cara, mas enfim. Tinha que continuar pelas aparências.
Fui andando a esmo como um abobalhado procurando Júlia. No entanto, havia muita gente e aquele palácio tinha várias salas e eu realmente não sabia onde eles podiam dançar. Passei por uma sala com um pancadão e várias meninas que bem bêbadas rebolavam até o chão e outra onde um garoto tocava piano e algumas meninas e muitas dondocas encaravam tudo quase como se estivessem tendo um orgasmo. Balancei a cabeça.
Foco, Montanha. Júlia. Atrás de Júlia.
No fim, quando vi que me cumprimentavam e eu não conseguia responder direito, afobado, comecei a parecer um idiota perguntando pela menina. Devia parecer um desesperado, isso sim. No fim, encontrei Felipão e Pantera conversando com duas gêmeas gatas e loiras e decidi atrapalhá-los.
― Vocês viram a Júlia? ― As meninas fizeram cara de azeda enquanto os meninos franziram o cenho.
― Ela não está com você?
― É, põw. Você deixou a mina sozinha nessa festa, Montanha?
― Idiota! ― Pantera e Felipão se revezavam em me odiar. Bufei.
― Eu só fui atender um patrocinador por 5 minutos. ― Tentei me justificar, mas minha cara devia estar me entregando porque os meninos me encaravam como se soubessem que eu mentia. Por fim, uma das gêmeas se manifestou com enfado.
― O Rui tá com ela. ― A entonação era de nojo puro. Na certa, já tinha sido atacada por Rui e não gostou de não ter virado namorada dele. O sonho de consumo de todas as meninas dali. Talvez ela só estivesse me dizendo isso com o intuito de ver Rui livre de qualquer outra carne nova no pedaço.
― Ah não. Você deixou que o Rui chegasse nela. ― Disse Felipão tentando segurar a gargalhada. Eu não via nenhuma graça, por isso o fuzilei com o olhar.
― Você é um idiota! ― Repetiu Pantera gargalhando. Bufei.
― Dá para pararem de me julgar e me dizer logo onde a Júlia está?
― Antes que ela se torne a namorada dele. ― Brincou Felipão.
― Na certa devem estar se atracando no banheiro. ― Disse Pantera piscando. A outra gêmea não gostou de pensar nisso cruzando os braços e parecendo decidida a me ajudar só para que Júlia não tivesse a sorte - ou o azar, dependendo do ponto de vista - de ser atacada por Rui. Eu já estava morrendo por dentro. Alguma coisa queimava no meu estômago como um rugido que queria escapar só de imaginar Rui atacando a namorada de outro. Idiota.
― Vem, eu te levo lá. ― Disse uma gêmea, mas no fim as duas foram juntas e por tabela Felipão e Pantera foram atrás, dando de ombros.
No salão que íamos, outro ambiente, estava tocando um arrocha e havia muitos casais claramente bêbados aproveitando o fato de que ali não estavam sendo filmados para se esfregarem uns aos outros naquela dança corpo a corpo. Eu não sabia o nome daquelas gêmeas e talvez não estivesse bem o suficiente para ver diferença de uma para a outra, mas a mais próxima de mim deu um sorriso de canto de boca e achando Júlia primeiro que eu - ou achando Rui primeiro que eu, já que ele era uma figura bem destacada de todos naquele terno escuro - apontou para a direção de Júlia. Meu corpo tremia só de imaginar Júlia com o corpo enrascado no mulherengo inveterado.
A primeira coisa que eu ouvi foi Felipão rindo. Depois, foi Pantera tentando segurar o riso e, por fim, a outra gêmea resmungando realmente curiosa:
― Ela deve ser difícil. Nessa hora eu já estaria o beijando.
― Quando fui eu dançando com ele ali, eu o beijei, Ana. ― Comentou a outra gêmea com desgosto. O comentário saiu dos meus lábios antes mesmo que eu pudesse pensar a respeito:
― Acontece que ela tem um namorado aqui!
Felipão riu.
― Vai lá então garanhão. Pega o que é seu antes que o Rui pegue.
Não precisei de outro incentivo. Talvez o sangue estivesse correndo muito veloz enquanto eu domava um leão selvagem dentro de mim, talvez fosse a música reverberando nas minhas células, fosse o que fosse, passei pelos casais marchando e estanquei na frente do casal fazendo eles pararem de dançar. No entanto, eles riam e Rui me cumprimentou zombeteiro:
― Boa noite, Montanha. Arranjou uma flor linda para o seu terreiro, seu traste. ― Júlia revirou os olhos, mas não parecia ofendida, até porque eu e Rui vivíamos nos chamando de traste mesmo. Naquela hora, eu não via nenhuma graça.
― Pois é. Falta você né. Já pegou quantas só nessa festa? 3,4,5? ― Rui fechou a cara olhando para a Júlia de esguelha como se não quisesse ofendê-la. Tarde demais, Rui.
― Eu não peguei ninguém. Estava tendo um papo bom aqui com a Júlia. Estávamos contando para ela que a Senhora Lemann também aplica feng shui na casa como ela. ― Arqueei uma sobrancelha.
― Como é que? ― Aquela palavra parecia até grego para mim. Aplicar feng shui na casa? Seria alguma espécie de tinta para mal olhado? Isso explicaria porque os Lemann continuam liderando o ranking de ricaços no Brasil. Só não explicaria os últimos azares da Júlia. Talvez ela estivesse precisando aplicar isso de novo.
― Ainda que não seja chinesa, minha mãe acredita nessas coisas de energia que o feng shui fala para as casas. Essas paradas aí. ― Concordei com a cabeça, embora fosse mais porque não estava entendendo porcaria nenhuma.
― Diz para ela então tentar comprar uns cristais para o banheiro. Vai ver que vai deixar ela com bem mais energia. ― Rui concordou sorrindo.
― Cristal para banheiro? Tá ensinando bruxaria para o Rui, Júlia? ― Novamente ela me lançou aquele raio mortal pelo olhar como se decidisse que eu não merecia continuar vivo.
― Cristais para dispersar a energia sugadora da água do banh... ah, deixa para lá, Bruno. ― Disse Júlia já sem paciência. Rui interviu.
― Eu vou.. bom, a gente se vê por aí, Júlia. Vou ficar aguardando tu me aceitar no Facebook. ― E ele piscou enquanto saía. Piscou! Quase acertei o rosto maculado de Rui só com isso. Tentei me controlar.
― Tá bom. ― Ela disse para o Rui que se distanciava. Esperei o babaca estar a uma distância considerável para voltar minha atenção para Júlia novamente.
― Você não vai aceitar ele. ― Ela fechou a cara imediatamente.
― Quem você acha que é para mandar em quem eu aceito ou não na minha conta de Facebook? ― Eu já estava perdendo a paciência, fato.
― Ele é um galinha! Não vê que ele só quer falar com você até te comer e depois ir embora? ― Alguns casais ao lado pareciam chocados com o meu palavreado chulo e se distanciaram. Júlia ficou com o rosto afogueado, mas acho que era mais de raiva do que de vergonha.
― E se for? O que você tem a ver com isso? Preciso te lembrar nosso prazo? ― Fechei a cara. Ela conseguia me tirar do sério simplesmente agindo como se eu não pudesse nem um dia vir a me tornar sequer amigo dela.
― Não precisa. Mas me respeite enquanto estivermos juntos. ― Ela balançou a cabeça em negativa.
― Da mesma forma que você me respeitou transando com a fulaninha no carro? ― Bufei. Aquilo por acaso era ciúmes?
― Já estou há dois dias sem transar. Satisfeita? Eu não estou te traindo mais. ― Júlia não parecia satisfeita e começou a sair da pista de dança, mas eu a puxei novamente colando o meu corpo ao seu. Ela não protestou porque tinha ficado surpresa e por isso ficou quieta.
― Não quero dançar com você. Está agindo como se fosse o meu dono. Nem namoramos de verdade. ― Ela disse baixo, mas sem tentar sair de perto de mim. Parecia quase um resmungo.
― Me desculpe. Confesso que errei também por ter deixado você tanto tempo sozinha. Me perdoe. ― Falei sinceramente. Júlia ficou quieta.
A música era agitada, mas nós nos mexíamos devagar ao som de uma música só nossa, uma música lenta e pouco similar a tocada. Júlia ficou algum tempo em silêncio aceitando o embalo do meu corpo no seu e depois de muito relutar, suspirou e encostou a sua cabeça no meu peito enquanto eu abraçava a sua cintura mantendo minhas mãos nela.
― Só o meu salto que está me cansando. Deixa eu apoiar um pouco do meu corpo mais em você do que no salto e na bota. ― Abri um sorriso de canto dos lábios. Quase brinquei dizendo um "aham", mas sabia que perderia aquele momento de fragilidade da bruxa má do oeste se fosse tão babaca. Ela só estava tentando arrumar uma desculpa que justificasse a verdade que era estar cansada daquela festa absurdamente chata de ricos. O pior é que eu concordava com ela. Para piorar, o salto com a bota realmente deveria ser horrível. Por isso, apenas a abracei e murmurei próximo do seu ouvido:
― Fique o tempo que precisar. Eu te apoio enquanto isso. ― E embora ela nada tenha dito, ela jogou um pouco mais do peso dela para cima de mim, abraçando, para a minha surpresa, a minha cintura, enquanto permitia que eu nos balançasse lentamente. Aspirei o cheiro do seu cabelo com cheiro de morango enquanto sentia pouco a pouco o sangue outrora quente, em brasa viva esfriar, ainda que meu coração parecesse aconchegante, morno e acalentado.
Era a primeira vez que Júlia parecia aceitar ser menos grossa comigo. Era a primeira vez que ela tinha deixado que eu conhecesse um pouco da menina que erguia grandes muros intocáveis e foi a primeira vez que enxerguei ela mais como a Dorothy do Mágico de Oz, que queria apenas ter o seu lar de volta, do que a Bruxa má que roubava cabeças para a sua estante de um filme macabro que vira na infância.
E sem entender o porquê, ou mesmo querer buscar explicações para isso, eu sorri.
Levei Júlia para casa em segurança. Ela estava bem cansada de ter trabalhado e depois ido uma festa e do fato de ir trabalhar no dia seguinte que acabou apagando no carro enquanto voltávamos. Fui um banana? Talvez tenha sido. Olhei seu rosto tranquilo em um sono reparador e não consegui acordá-la.
Com pena dela, dormindo tão profundamente, a peguei no colo e aproveitei do fato de ter gravado a senha do seu apartamento para entrar. Na verdade, estava curioso também de onde e como ela morava. Na sua chave na bolsa estava uma plaquinha de identificação, apartamento 302.
O apartamento de Júlia era bem pequeno. A cozinha e a sala ficavam no mesmo ambiente e havia um quarto com banheiro e um quartinho na área de serviço. Só. Mesmo assim, estava razoavelmente arrumado ainda que no quarto dela houvesse um tanto de maquiagem em cima da cama, provavelmente o que foi utilizado para ela se arrumar.
Coloquei ela com cuidado no canto da cama e percebi que Layla estava em cima de um puff ao lado da cama. Ela levantou a cabeça só para ver que era eu e ao ver que não corria perigo deitou novamente decidida a continuar seu sono. Cobri Júlia com a coberta que estava no canto da cama e ela se remexeu até que ficasse mais confortável. Não consegui sair de imediato da intimidade dela aproveitando o fato de que aquela mulher não ia me levantar uma sobrancelha ou me lançar um olhar mortal enquanto eu encarava o seu rosto.
Dormindo, até que ela parecia um anjo de cabelos escuros. Seus cílios estavam alongados e seus lábios levemente abertos enquanto ela respirava baixinho. Ajeitei alguns fios que insistiam em tirar a visão dos seus olhos fechados e sorri de uma maneira que nunca achei que sorriria.
― Rui pode saber até o que é essa paranaue de feng shui, mas a imagem que eu tenho de Júlia agora ficará somente na minha cabeça e não na dele. ― Murmurei baixo e satisfeito com esse segredo que seria mais meu do que dela.
Por fim, tirei a sandália do pé da Júlia e coloquei seus pequenos pés novamente para dentro da coberta. Agora seria bem mais confortável dormir. Decidi que era hora de sair e fechei a porta do quarto e depois do apartamento.
Quando liguei o carro e parti, tinha certeza de que no dia seguinte o nosso treinador mataria todos nós por não termos nos concentrados ou sequer lembrado do treino e saído da dieta por um dia. Sorri.
Até que tinha sido um dia bem diferente...
Oi Oi lindezas! ;)
Calma, ainda não houve beijo, mas estamos próximos! Eles precisam primeiro diminuir esse sentimento de cão e gato que os fazem nem acordar para o sentimento que está na cara que um sente pelo outro né? haha
Mas fiquem tranquilos que está perto de eles acordarem!
Quem achou uma fofura Montanha nem perceber que está com ciúme? E depois ele sendo todo fofo?? Alguém suspirou??
Ataque de fofura do Montanha...
Vai ficar difícil depois de um tempo para vcs escolherem qual Crush literário vocês mais Amam: Seth, Ale, Al, Ham, Danilo.... e agora Montanha rsrs
Boa leitura meninas!
Não esqueçam dos comentários e estrelinhas, muito importantes para mim!
Bjinhoos
Diulia.
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