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Capítulo XXIV - O Extra

O medo é algo natural do ser humano. E não, jamais pode ser generalizado como um traço ruim. A fria gota de suor que escorria tímida pela têmpora de Tyliard mantivera a mesma temperatura que as mãos da moça ao seu lado. Os cabelos que inflamavam a moldura do rosto arredondado já pareciam menos incandescentes e mais opacos.

- Cuidado! - disse o rapaz, levando a mão à frente da moça e encarando o chão. - É uma arataca¹.

Foi possível enxergar o movimento incômodo da garganta da moça ao engolir em seco.

- Ali! - Ela olhou para a forqueadura² disforme que se destacava devido à luz que a entrada da esquerda emanava.

Tyliard sacolejou a cabeça em afirmação e eles apressaram os passos, mesmo com a dificuldade de Wictoria pelo ferimento em sua perna.

Os pés de ambos deslizavam por algumas pedras que afunilavam o caminho estreito onde passavam, causando certa instabilidade em seus passos cautelosos.

Aos poucos, revelou-se uma mesa de pedra. Era iluminada por um refletor à bateria, que banhava a pele branca da garota com um tom ainda mais claro. Os braços cruzados sobre o peito e os cabelos alinhados aos ombros conferiam-lhe um ar fúnebre.
Um nó se formou na garganta do Agente, que teve de controlar o bambear de suas pernas trêmulas. Jamais vira figura tão pálida em toda sua existência.

- Ela está... está...

- Não - disse Wictoria, aproximando a cabeça das narinas da jovem princesa, a fim de detectar sua respiração. Em seguida, colocou os dedos sobre a pele cadavérica. - Mas o pulso está fraco. Não temos muito tempo. - Tentou parecer calma, mesmo que a imagem angelical quase sem vida lhe deixasse em pedaços.

Tyliard posicionou os braços abaixo do corpo desfalecido e o tomou em seu apoio.

- Eu vou na frente. - Wictoria virou-se com demasiada pressa e andou na direção do estreito corredor de pedra por onde passaram minutos antes.

Cada passo era calculado. Com a garota em seu colo, era ainda mais difícil para Tyliard.

- Droga! - murmurou entre os dentes, ao sentir os pés escorregarem sobre a superfície rochosa, quase levando-os ao chão.

- Calma. - A general pôs a mão direita sobre o antebraço do Agente. - Eu te ajudo.

Os dois seguiram juntos, mesmo com a limitação do espaço. Wictoria amparava a Tyliard e ele transmitia segurança a ela com seu olhar tenro. Fora a primeira vez que a general percebera aquele traço amável na face naturalmente sarcástica do Agente.

- Oh, meu Deus! - exclamou Valentina ao vê-los sair da caverna. A moça estava em posição de ataque, esperando qualquer surpresa. - Ela morreu? - questionou com os olhos extremamente abertos, e os lábios trêmulos vacilando em seu falar.

- Não. Mas não temos tempo.

- Vou chamar reforço - disse a comandante, em resposta, sacando o aparelho de um dos suportes do coldre.

Os três encaravam a jovem Ylana. Tinham medo.

A cada minuto sua alma parecia mais distante do mundo dos vivos...


- Comandante! - disse ofegante o príncipe, ao atender o telefonema. Depois, apenas ouviu o que ela dizia. - Estamos indo agora mesmo. - Passou os dedos entre os cabelos. - Okay. Tenham cuidado.

- Acharam a princesa? - Penélope, que estava ao seu lado, em seu quarto, questionou.

- Sim. E-eu-eu preciso avisar aos outros. Preciso falar com Aveta.

Penélope abaixou o olhar e respirou fundo. Por mais turrão que Elijah fosse, era claro que as opiniões de Aveta eram de demasiada valia para ele, e isso a incomodava.

Assim que deixou o quarto, o príncipe ordenou que enviassem reforço ao local onde sua irmã fora encontrada, e partiu de imediato aos aposentos de Aveta e Laerte. Os dois conversavam em murmúrio:

- Talvez - dizia o príncipe de Salazar.

- Mas você não acha que... - Aveta foi interrompida pelas batidas na porta. - Entre! - Ordenou ela.

- Acharam Ylana! - Elijah girou abruptamente a maçaneta e adentrou o quarto, sem cerimônias.

- Eu disse que a encontrariam - disse a princesa.

- Já avisou aos outros? - Laerte questionou, cruzando os braços e andando até o lado da esposa.

- Sim. Já estão todos cientes - respondeu o outro, com a respiração descompassada.

- Um minuto - pediu Aveta, ao ouvir o som estridente de seu celular sobre o criado-mudo, depois andou a passos firmes até ele. - John. - Sua expressão tornou-se preocupada. - Não, pode falar.

Elijah e Laerte estagnaram ao notar o tom de voz que carregava os lábios avermelhados da moça.

- E meu pai, onde está? - ela questionou, inspirando fundo. - John, John, me escuta! - ordenou, era claro que o príncipe do outro lado estava completamente desequilibrado ou, talvez, assustado demais para pensar com cautela. - Se acalme, está bem? Se concentre apenas na minha voz. Eu preciso que leve Kaya até a biblioteca, ela sabe onde fica a entrada. Fiquem lá até eu chegar.

Laerte franziu o cenho. Ele sabia de que entrada se tratava. Um nó emudeceu sua fala, e os braços, antes colados ao corpo com alguma postura, agora elevavam suas mãos até a boca.

Aveta pediu cuidado e desligou o telefone, apressada.

- Precisamos voltar - ela disse, afoita.

- O que houve?

- A próxima fase do jogo começou. - Ela andava desesperadamente pelo quarto, juntando seus pertences. - E veio com um extra.

- Extra? - inquiriu Elijah, em total confusão.

- Kaya entrou em trabalho de parto.

¹ arataca: Armadilha boca de lobo, ou de urso.
² forqueadura: bifurcação

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Pegaram a pipoca? Eu pegaria. O negócio vai ficar feio...

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