Capítulo XVIII - Contatos
Aveta permanecia inquieta, observando o céu claro pelo vidro que era estampado por alguns grãos de poeira. Podia sentir o cheiro que dançava do ar, notas de amêndoa e laranja deslizavam através do espaço.
— Estou pronta — disse a comandante, saindo do banheiro de seu quarto enquanto secava os cabelos longos com uma toalha de algodão. — Com quem acha que deveríamos falar primeiro?
— Wictoria.
Valentina revirou os olhos.
— Tyliard também deveria saber — ela disse, abandonando a toalha sobre a cama e calçando as botas altas.
— Ele pode ser o Ás. — Aveta mirou a comandante. — É improvável, mas não podemos deixar que mais pessoas saibam.
Valentina ergueu as sobrancelhas, concordando, sem ter muitas opções.
— Vamos — disse a comandante, colocando-se de pé.
As duas deixaram o quarto da moça e seguiram até os aposentos de Wictoria. A ruiva, quando teve a visão das duas figuras femininas em sua porta, franziu o cenho e deu um passo para trás.
— Aconteceu alguma coisa? — questionou.
— É meio óbvio — respondeu Valentina.
— Perguntei à minha superior, não a...
— Não estamos com tempo para se alfinetarem — disse a princesa, notando o clima odioso entre as duas. — Precisamos conversar com você.
— Entrem — pediu a general, dando espaço para que passassem.
Assim que se acomodaram nas extremidades entre as quatro paredes, uma delas decidiu iniciar a conversa.
— Tenho suspeitas sobre quem está por trás dos ataques — Aveta começou.
— Pode dizer, estou ouvindo. — Wictoria projetou o pescoço para frente, mostrando que estava atenta ao que quer que fosse dito.
— A pessoa que está por trás dos ataques, é alguém próximo. Alguém que conhece o reino de Lidium como a palma das mãos. — Aveta parecia desconfortável em dizer aquilo na frente de Valentina.
— O que foi? — perguntou a comandante, ao perceber a testa franzida em sua direção. — Não acha que eu posso estar pro trás disso, não é? — Soltou uma risada curta.
— Qualquer pessoa pode — Wictoria interveio. — O que vamos fazer, alteza?
— No momento, nada. É hora de observação — disse Aveta, pensativa. — Mas temos que começar a nos preparar. Valentina, você tem algum soldado de confiança? Alguém que morreria por Lidium, sem pensar duas vezes.
A comandante pousou os olhos expressivos sobre a linha do piso e anuiu, mordendo a parte interna da bochecha.
— Todos — Tombou a cabeça para o lado —, mas existem uns dois ou três que sacrificariam a própria família pelo reino... Por mais doentio que isso pareça — completou em sussurros.
— Wictoria — Aveta chamou. — Preciso que me ajude em uma coisa, mais tarde.
— Estou às ordens, alteza.
— Tyliard parece interessado em você, general — disse a princesa.
Valentina alternou o peso entre as pernas e soltou o ar pela boca, discretamente.
— Impressão sua — disse a comandante.
A general riu. As mechas ruivas, soltas em caracóis sobre as bochechas, penderam para frente enquanto ela molhava os lábios.
— Eu o conheço — afirmou a princesa, deixando Valentina ainda mais incomodada. — Precisamos tirar proveito disso. Quero que se aproxime dele.
— Não tem um castigo pior? — Wictoria lamuriou.
— Como se não quisesse — Valentina comentou.
— São duas chefes do exército ou duas crianças de cinco anos de idade? Ainda não entendi o motivo de todo esse rancor imediato, mas eu ordeno que parem, ou eu serei obrigada a agir sozinha, e vocês sabem que eu farei se for preciso.
As outras se calaram.
Então, mostrando que faria o que fosse necessário para cumprir com seus deveres, Wictoria deu um passo à frente, elevando a postura, com as mãos para trás.
— Ótimo — disse a princesa. — Posso contar com você, Valentina?
A morena abaixou o queixo e piscou lentamente, assentindo e mostrando seu apoio.
— Vou até o alojamento conversar com alguns soldados — disse ela. — Qualquer novidade, sabem onde me encontrar.
Aveta agradeceu com um gesto e espreitou a imagem da comandante sair do quarto batendo a porta com alguma força.
— Acha prudente confiarmos nela? — Wictoria indagou.
— É a única de Lidium que sabe sobre o que descobri. Se ela estiver por trás do Ás, ou ao seu lado, é simples saber.
— Ás? — A general expressava confusão em seus traços faciais.
— Sente-se — Aveta pediu. — Vou contar tudo desde o começo.
As sombras projetadas de diversos ângulos pelas luzes dispersas no teto e nas paredes do quarto revelavam uma figura ansiosa e receosa. As mãos alternavam entre esfregões pelo próprio rosto preocupado e apertos uma na outra, aliviando a tensão com estalos nos dedos mais compridos.
A mente viajava entre as diversas informações que recebera nas últimas horas. Além de temer pela própria vida e a da esposa, Laerte temia pelos amigos em Salazar, John e Kaya também estavam em perigo, assim como a criança que a princesa carregava em seu ventre.
Enquanto tentava encontrar uma solução, ouviu um barulho estridente e irritante que provinha do móvel de cabeceira. As luzes em azul e branco mostravam a chamada recebida. O príncipe correu até o aparelho e desbloqueou a tela com a digital, antes de atender.
— E aí, cara? — disse a voz do outro lado.
— Eros. Nem consegui falar com você no casamento. Tudo bem?
— É... a princípio, sim.
— O que aconteceu? Eu te conheço — disse ao amigo.
— Na verdade eu liguei para perguntar se você sabe de alguma coisa. Sabe, né? Você é da realeza agora.
— Como assim, Eros?
— Ué? Sobre o decreto — o amigo disse.
— Que decreto?
— Chegou aqui no quartel de bombeiros uma ordem do rei, mandando que nos preparássemos para um possível ataque. Os hangares estão em polvorosa, abastecemos todos os helicópteros e bimotores. Ambulâncias, caminhões...
O príncipe sentiu o coração apertar e engoliu em seco. Não queria demonstrar medo, mas não podia deixar de alertar um de seus melhores amigos.
— Não posso falar no momento, mas eu peço que, pelo amor de tudo que você ama, tome cuidado com tudo que fala.
— Está me deixando preocupado, cara. O que está acontecendo?
Laerte ficou em silêncio. Pela primeira vez desde que soubera dos ataques, uma luz parecia surgir no fim do túnel.
— Você ainda pilota? — perguntou o príncipe.
— Claro. É o que eu faço desde sempre — brincou Eros, sem saber da magnitude dos problemas que estava por enfrentar.
— Sabe onde fica Lidium? — Laerte inquiriu.
— Sei, sei.
— Nos próximos dias pode ser que eu precise de um grande favor — disse Laerte, colocando uma das mãos na cintura.
— Sabe que eu estou aqui para o que for preciso.
— Tem mais alguém aí com você?
— Não. Eu saí para fumar e ligar.
— Então, o que eu vou te dizer agora precisa de sigilo absoluto.
— Pode falar.
— Então, tudo começou na festa...
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