Capítulo VI - Planos e Alianças
A TV nunca fora ligada. O painel que circundava o eletrônico carregava o tom cinzento e opaco do resto dos móveis, dispersos na imensidão do cômodo frio.
Os olhos cor de oceano admiravam o colchão. Naquele momento, seu corpo clamava por algumas horas sobre as molas acolchoadas.
A moça jogou-se sobre a beira da cama e arrancou os sapatos, percebendo a parte amassada da pele vermelha, moldada pelos diminutos suportes que sustentavam os diversos e pequeninos diamantes cravejados.
“Como fui idiota!” pensou.
Imaginava que deveria ter pedido todo o traje do cerimonial dois números acima. O desconforto de ser a General Das Tropas, em dias de festa, era desmedido. Dentro daquela roupa, esse fato tornava-se pior.
As mãos logo procuraram as presilhas douradas, que foram lançadas sobre o tapete, fazendo com que os fios vermelhos escorregassem vagarosamente pelas costas.
Antes que pudesse se despir, ouviu a sequência de duas batidas secas na porta. Não de demorou a levantar e caminhar até a saída. A figura que atravessara com avidez já era conhecida.
A General trancou a porta e cruzou os braços, olhando para baixo.
— Demorou, majestade — disse ela.
— Estava me despedindo de velhos conhecidos.
— Aveta já foi se deitar? — indagou a moça, soltando um suspiro pesado.
— Há muito. Quando John e Kaya foram.
Ela ergueu as sobrancelhas e curvou os lábios.
— Deu certo, Wictoria — proferiu o rei, aproveitando o silêncio.
— A princesa não desconfiou?
— Não. De absolutamente nada.
A General sentou-se sobre o baú abaixo dos pés da cama e apoiou o corpo sobre os braços paralelos ao tronco.
— É o único que consegue essa façanha.
— Que façanha? — Jonathan franziu o cenho.
— Contornar a princesa. Percebe-se de quem ela herdou a perspicácia.
O rei olhou para a janela, como se estivesse desconfiado.
— Como disse no nosso último encontro, ela pensa que eu sou contrário a essa visita a Lidium. Aveta deve continuar a pensar dessa forma.
— Não acha que devemos contar à princesa que...
— Não. — Jonathan foi sucinto. — Isso eu resolvo depois. Preocupe-se com seus deveres. E por favor, proteja minha filha acima de qualquer coisa.
— Assim será feito, majestade — respondeu ela, movendo levemente a cabeça. — E quanto a Penélope e Elijah? Conseguiram?
— Ao que tudo indica, sim. A bússola já está na mala.
— E se a princesa não encontrá-la no tempo que Vossa Majestade imagina?
— Ela vai. — Jonathan deslizou a mão direita sobre o queixo e respirou de forma profunda. — Eu confio na minha filha. Tenha uma boa noite, General Wictoria. Vocês partem amanhã pela madrugada.
A alguns quilômetros...
Os pés do homem fardado mantinham precisão na linha imaginária que o mesmo traçara pelo corredor. Fingir que seus passos tinham algum propósito realmente válido lhe dava a sensação de ser mais útil. Ora, se as grades das celas eram tão seguras como os cartazes da sala de chegada afirmavam, pensava ser uma imbecilidade sem tamanho ter que vagar pelos corredores como uma alma sem destino. No geral, o silêncio era o dono de todas aquelas paredes.
Naquela noite, no entanto, algo de inusual aguardava o jovem guarda.
— Apolo — disse uma voz roufenha, provinda dos degraus que davam acesso à parte superior do prédio.
— Sim, senhor. Estou aqui.
— Um dos nossos condenados tem visita.
— Mas os homens desta ala não...
— Damian Apolo, eu disse que um dos condenados tem visita. Por favor, não questione. Abra a cela vinte e sete e leve o detento à sala de visitas.
— Sim, senhor. — O jovem limitou-se a obedecer o superior.
Por mais que pudesse ser perigoso, sentia-se entusiasmado em descumprir os protocolos. Ir contra a maré sempre lhe soara uma boa maneira de aproveitar a vida. Mesmo que, em dado instante, aquilo significasse guiar um homem algemado à sala fria e vazia de visitas.
Quão grande foi também a surpresa do detento que, mesmo sem saber quem o aguardava, pôs-se à disposição. Mesmo que fosse um homem frio e sem afeto algum, não era agradável permanecer sozinho.
Após ser devidamente assegurado que ele não tentaria uma fuga, o condenado caminhou ao lado do jovem fardado até o fim do corredor, despertando curiosidade entre os outros, que mantinham-se calados.
O Comandante, mesma pessoa que chamara por Apolo, aguardava na porta.
— Agora ele está sob minha responsabilidade.
— Sim, senhor — respondeu o subordinado, ao desprender as mãos do detento.
Uma vez guiado para dentro daquela imensa caixa de concreto, o homem estreitou os olhos e os pousou sobre a figura também masculina que o aguardava, sentado na cadeira, na extremidade oposta da pequena mesa ao centro do cômodo.
— Como o combinado. Você tem dez minutos, nada mais — disse o Comandante ao visitante, que acenou em afirmação. Em seguida, deixou os demais a sós.
— Sente-se, Homero.
— O que quer comigo? — rebateu com um tom desconfiado. — Eu já disse que não digo nada sem a presença de um defensor habilitado.
— Acalme-se, Homero de Salazar. Eu venho em paz — disse o outro. — Sente-se. Eu tenho uma proposta.
Ainda ressabiado com toda a gentileza da visita, o ex-conselheiro decidiu fazer o que lhe era pedido e sentou-se.
— Você é aliado de meu irmão. Acha que eu caio nesses joguinhos patéticos?
O homem riu.
— O reino onde vivo é aliado do seu querido irmãozinho. Isso não quer dizer que eu concorde com tudo o que eles fazem em conjunto.
— Diga logo o que quer! Pelo que soube depois da minha prisão, você faz parte daquele núcleo.
— E eu faço.
— Então vá embora! — disse Homero, exaltado.
— Tudo bem — O visitante olhou para a porta, onde o comandante gesticulava com os dedos no pulso, indicando que o tempo não era muito —, mas... — Enfiou a mão no bolso da jaqueta que usava. — Acho que pode ficar com isso aqui. — Estendeu uma carta de baralho dourada, com desenhos abstratos em suas extremidades e o número 6 estampado.
— Isso é uma...
— Sim, Homero. É uma carta oficial de Lidium. Do lendário jogo real. Sabe o que isso significa para nós, daquele reino, não sabe?
Homero assentiu, segurando o objeto.
— Sabe também que para tê-la eu preciso deter confiança de toda a corte e realeza. Enfim, vou deixá-la sob seus cuidados até a minha volta.
— E a proposta? — o ex-conselheiro parecia curioso.
— Primeiro decida se confia em mim ou não. Depois eu digo o que é — o visitante sorriu. — Agora eu tenho que ir. Pense bem, Homero. Eu não gostaria de passar o resto da minha vida trancafiado em uma cela imunda, cheia de ratos. — Ergueu as sobrancelhas. — Tem dois dias para pensar.
O visitante acenou e deixou a sala.
Homero estava estupefato. Não sabia se poderia realmente confiar em um inimigo declarado, mas ele conhecia aquele tom de voz. Reconheceria alguém como ele em qualquer circunstância. O ex-conselheiro observou a carta por alguns segundos e deixou a mente vagar pelas possíveis saídas que aquela aliança lhe traria.
Hey, galera. Estamos de volta.
Vários mistérios pairaram sobre esse capítulo, será que alguém já tem alguma ideia do que eles estão tramando? Haha
Espero que estejam gostando. Não esqueçam a estrelinha ⭐
Muito obrigada!
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