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VI

O DESTINO TEM UM JEITO ESTRANHO DE CONTAR HISTÓRIAS (E NÃO SERIA A PRIMEIRA VEZ). Eu tive um coágulo na cabeça que, literalmente, "explodiu". E, ironia das ironias, decidiu jorrar sangue pelo meu cérebro logo naquele dia, naquela hora, nos braços de João Paulo. Foram quatro meses internado, mas para mim pareceram anos. As visitas dos meus amigos aliviaram as longas sessões de fisioterapia e deram-me forças para enfrentar as complicações que a doença trouxera. Mas aquele de quem eu mais precisava de apoio, esse não apareceu.

Voltei para casa e, aos poucos, comecei a me atualizar com as novidades da escola. Muitas coisas haviam acontecido durante esse tempo, porém eu logo notei que, sejam quais fossem as histórias, meus amigos evitavam falar no nome de JP.

— Está melhor assim? – perguntou Luanna ao arrumar o travesseiro atrás de mim. O quarto ventilado e o dia luminoso me estimularam a sentar próximo à janela.

— Obrigado mesmo.

— Já tem data pra voltar pro colégio? – perguntou Thales, sentado na cama.

— Acho que agora só no ano que vem mesmo... Ainda vou ter que fazer outra cirurgia e mais sessões de fisioterapia.

— Mas era preciso raspar a cabeça desse jeito?

Olhei para Luanna e ergui os ombros, sorrindo. O médico havia dito que não seria necessário algo tão radical, mas, por via das dúvidas, preferi tirar tudo de uma vez.

— Tu vai usar peruca?

— Claro que não, seu maluco! Que ideia!

A campainha tocou e ouvi passos no andar de baixo. A voz de mamãe recepcionou alguém.

— Ah, mas ia ficar lindo com uma peruquinha ruiva, já pensou? – Luanna brincou. — Ou então uma loira encaracolada, igual anjo?

— Ou então um Black Power agressivo, que nem o do Buda, do 1º ano, lembra?!

— Não, Thales. Tem que ser algo natural pra combinar com o Di. Tipo... surfista de cabelão longo...

— Eu nunca surfei na vida!

— E o que é que tem? Tem tanto menino com cabelo longo por aí...

— É mesmo! Imagina o Di com o cabelo do...

Nessa hora, Maycon apareceu na porta com um presente nas mãos. Primeiro de tudo, eu estranhei a visita dele, afinal, não éramos tão chegados a ponto de sairmos juntos, e muito menos de fazermos visitas um para o outro. Depois, ele parecia desconfortável em estar ali, como se o tivessem obrigado a ir me visitar. Luanna e Thales trocaram olhares.

— E aí, Diego? Tudo bem?

— Tudo.

— Er... Eu trouxe um... Um presente pra ti...

Ele me entregou uma caixa comprida. Quando abri, dei de cara com um action figure clássico do Hans Solo junto do C3PO e do R2D2. Eu era e ainda sou fã de Stars Wars. A descoberta do coágulo coincidiu com a estreia dos novos filmes e fiquei frustrado por não ter podido ir ao cinema. Aquele presente foi um acerto em cheio.

— Pô, Maycon... Nossa! Cara, obrigado mesmo! Eu não tinha esse... Não sei nem o que dizer...

— Que nada... E aí, quem vai comprar peruca pra ti?

— Ah, ninguém. Esse dois tão malucos! Até parece que eu vou usar um cabelão grande que nem o do JP!

O comentário saiu sem intenções, mas Maycon se calou e Luanna ficou desconcertada. Quando Thales tentou mudar de assunto eu não deixei.

— Como ele está?

Era a hora de alguém me dizer alguma coisa. Há semanas, meses!, eu não tinha notícias do João Paulo. Ligava e ele não atendia, perguntava sobre e todos pareciam ignorar o que eu dizia. Era como se de uma hora para outra ele não existisse mais sobre a face da Terra. Eu precisava de respostas.

Virei de um para o outro. Luanna parecia buscar palavras para me falar alguma coisa. Os outros dois estavam mais interessados nos próprios tênis. Por fim, convencida de que eu não iria desistir de uma notícia sobre o João, ela respondeu.

— Ele... não... Ele não está mais com a gente. Saiu do colégio um mês depois do que aconteceu contigo.

Fiquei boquiaberto com a revelação. João Paulo não fazia o tipo emotivo e, por mais que o choque de me ver quase morto pudesse ter sido grande, não acreditava que a situação fosse tão traumática a ponto de ele mudar de colégio. Tinha algum fio solto naquela história.

— Mas ele disse o porquê? Pra onde ele foi? Gente, falem qualquer coisa! Pelo amor de Deus, não é possível que ninguém sabe de nada!

O clima no quarto piorou. Luanna olhou para Maycon. Havia frieza no olhar dela.

— Bora, Maycon! Fala pra ele!

— Fa-Falar o quê? – perguntei já com o coração na mão.

— Fala logo, Maycon! Que droga!

Maycon olhou janela afora e, pela primeira vez desde que nos conhecemos, vi certo vacilo nos olhos dele.

— Maycon, fala logo, cara – insistiu Thales. — Ele vai saber de qualquer jeito.

— Tá bom... Eu... Nós...

Tu, Maycon. Não tem nós! – corrigiu Luanna.

— Sim. Eu, acompanhado do meu grupo de sempre... Nós... Nós batemos no João Paulo.

— Vocês espancaram ele, tu quer dizer! – disse Luanna, irritada.

— V-Vocês o quê? – A escultura do Hans caiu do meu colo quando eu tentei me levantar, mas, ainda sem forças nas pernas, despenquei na cadeira. Retomando seu habitual olhar frio, Maycon olhou para mim.

— É, é isso aí mesmo. Nós chutamos, batemos, rasgamos as roupas e... exibimos ele pra escola toda. É isso.

— Vocês deveriam ser p-presos! Expulsos!

— Eles foram, Diego – Thales interrompeu. — Lembra que quando tu ainda estava no hospital eu cheguei a comentar que Maycon, Julian, Pedro e o Cris tinham feito uma cagada absurda e estavam suspensos? Era isso. Eles agora tão cumprindo serviço comunitário.

Não ouvi o resto. Olhava de Luanna para Thales e dele para Maycon, me sentindo um completo idiota enganado esse tempo todo.

— Por que vocês fizeram isso? O que foi que ele te fez, Maycon? E daí se ele é gay? Ele nem falava contigo! Não falava com ninguém! E... tu faz isso?

— Diego... – Luanna tocou no meu braço de um jeito esquisito, como se quisesse segurar uma nova explosão da minha parte. — O João Paulo não é bem... gay...

— Como assim "não é bem gay"? Isso não existe!

Nesse ponto, Maycon explodiu.

— Ele é uma me-ni-na! Acorda, cara! Teu amiguinho de merda te enganou esse tempo todo! Por baixo daquele monte de moletom que ele usava tinha calcinha e sutiã.

— Isso é mentira...

Mentira?! Velho, o cara não tem pelo nenhum no corpo!

— E d-daí?

— E daí que eu vi! Ele não tem nem isso aqui, ó! – E apontou para o pescoço, indicando o pomo de Adão. De fato, lembrei que nas últimas férias João Paulo viajara dizendo que faria uma cirurgia e depois voltou com um curativo no pescoço. Quando tirou as bandagens eu não percebi a diferença, mas agora, com a voz de Maycon gritando em meus ouvidos, eu sabia o que era. — Ele é ela, Diego!

— Espera... Não! Ele tem...– Lembrei-me de que, quando crianças, depois das aulas de natação, nós tomávamos banho juntos. Ele era um menino como outro qualquer, com todos os órgãos no lugar certo.

Maycon sorriu com desdém.

— A uma altura dessas a frase certa é "ele tinha".

Luanna se agachou à minha frente e pegou em minha mão.

— Os professores nos explicaram, Di: o João Paulo é transsexual. Uma mulher transsexual. Basicamente, é uma mulher que nasceu no corpo de um homem... Nasceu no corpo errado. Lembra das idas ao hospital, dos remédios que ele vinha tomando desde o ano passado, das viagens pra fazer exames, das milhões de sessões no psicólogo que a gente dizia que era porque ele era doido psicopata? Há muito tempo ele já vinha se preparando pra fazer a cirurgia...

— Q-Que cirurgia?

Desprovido de qualquer máscara de piedade, Maycon estendeu a mão na frente da própria virilha e, com os dedos, fez um movimento de tesoura.

— Será que agora a gente chama ele de Joana ou de Paula? Acho que Paulete seria legal, né?!

Eu não aguentei.

— Sai do meu q-quarto, Maycon.

— Como é que é?

— Sai do meu quarto! – Eu ameacei pular sobre ele, mas Thales e Luanna correram para me segurar. Maycon permaneceu de pé, o ar raivoso misturado à expressão de desdém. Ouvi passos na escada e mamãe apareceu, assustada com o barulho.

— O que foi isso?

— Tira ele daqui! Tira esse cara daqui!

— Diego, calma!

Eu queria ferir Maycon de qualquer jeito, quebrá-lo ao meio como acabara de fazer com o action, tirar sangue daquela arrogância e fotografar a humilhação dele. Thales empurrou Maycon para fora do quarto, mas, antes de sair, ele soltou mais um esguicho de veneno.

— Pelo menos eu não te enganei, idiota. Eu sou esse aqui que tu tá vendo. E teu amiguinho bicha, hein?

— Bora embora, Maycon! – ordenou Thales o puxando pelo braço. Pelas escadas ainda era possível ouvir a briga dos dois e a voz desesperada da minha mãe.

Luanna me ajudou a ir para a cama e eu caí como um peso morto. Segurei na mão dela feito âncora contra o mar de desespero. Tive vontade de fazer dezenas de perguntas, ainda mais em relação à mentira sustentada por todo aquele tempo. Queria saber se os meus pais também sabiam ou até que ponto ainda poderia considerar algum deles como amigos de confiança. Mas não fiz nada disso.

Minha cabeça parecia pesada, algo que em um primeiro momento imaginei ser pelo choque da notícia. Hoje, ao analisar melhor a situação, noto que aquela dor tinha um nome: culpa. Por quantas vezes o João não viera conversar comigo sobre algum "segredo" e eu fugira? Quantas e quantas vezes preferi estar longe ao invés de ali, ao lado dele? E quando eu falava aos quatro ventos que não tinha preconceito, mas o mantinha distante, às vezes com vergonha de estar ao lado do JP? E, meu Deus!, eu o beijei! Eu não podia culpá-lo por ter escondido isso de mim, afinal, como ele poderia confiar em mim desse jeito?

— Diego... – Luanna passou a mão pela minha testa. A preocupação tomava o rosto dela.

— Lu, chama a minha avó...

— Di, não fica assim. Eu queria ter te contado, mas...

— Luanna, por favor, chama a minha avó...

Por um instante ela pareceu disposta a falar mais alguma coisa. Os olhos brilhavam e os lábios chegaram a se mover para formar uma frase, porém, vendo minha apatia, ela desistiu. Pelo tempo que demorou entre Luanna descer e vovó subir, calculei que ela explicava aos meus pais o que havia ocorrido. Quando a porta finalmente se abriu, vovó entrou, pegou uma cadeira e, sem dizer uma palavra sequer, veio para o meu lado. Quando ela pegou no meu ombro, eu desabei.

Nunca chorei tanto quanto naquele dia.

*

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