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III

FORAM MAIS TRÊS DIAS SEM NOTÍCIAS ATÉ JOÃO PAULO REAPARECER. Eu estava sentado no fundo da sala à espera do início da aula quando a porta abriu e, lembro como se fosse hoje, o silêncio pareceu varrer cada canto. Como se estivessem coreografados, todos se viraram para o olhar ali, parado à porta tal qual um animal acuado. Cabeça abaixada, cabelos sobre os olhos, o moletom parecendo mais folgado, ele apenas mirou a cadeira mais próxima e sentou.

— Esse é corajoso – alguém comentou.

Virei-me e flagrei a atenção de Maycon fixada em João. Senti um calafrio me subir pelas costas ao ver um sorrisinho maldoso nos lábios dele. É claro que eu já havia imaginado a situação do meu amigo diante de toda a escola, mas tinha me esquecido de que o perigo estava muito mais perto.

Se eu dissesse que o Maycon era uma espécie de "valentão" do colégio seria mentira. Ele não era o tipo de aluno que se metia em brigas ou vivia em rodas de bagunça. Pelo contrário, tinha notas muito boas, ficha sem advertências e nunca figurou no ranking de problemáticos da escola. Em compensação, tinha uma inteligência ferina que usava para manipular as pessoas. Com isso, tornou-se um pequeno ditador cruel e exigente que sabia como aproveitar as oportunidades para reafirmar seu poder sem macular a imagem exemplar. Naquela manhã, portanto, as flechas visavam a apenas um alvo: João Paulo.

Sentado perto de Maycon, Thales também percebeu as intenções do outro.

— Deixa o cara, velho! O cara já tá zoado no colégio todo...

— E eu falei alguma coisa? – Maycon dissimulou. — Eu só disse que ele é muito corajoso, só isso. E sabe de uma coisa? Eu acho que ele merece nosso apoio – e ao terminar de dizer isso, levantou-se e foi em direção a João.

A sala ficou tensa, todos com a respiração suspensa enquanto acompanhávamos os passos de Maycon. Senti como se assistíssemos a um daqueles documentários sobre a vida animal em que testemunhamos leões se aproximando da presa sem podermos fazer nada. A minha vontade era a de gritar alguma coisa, impedir um ato sem sentido, provar pro João que sim, eu o apoiava. Mas a coragem fugiu de mim no momento em que pensei como seria tomar as dores alheias e ser zoado pela turma toda. Com o coração disparado, fiquei quieto. É, eu sei, eu fui covarde.

Vi apenas quando Maycon parou a poucos centímetros de João Paulo, ergueu a mão e, no exato momento do golpe, o sinal tocou e o professor do primeiro horário escancarou a porta, como de hábito.

— Bom dia, bom dia, turma! – Seu sorriso, porém, logo se dissipou ao notar o clima estranho entre os alunos. Varreu a sala com o olhar e pareceu compreender tudo ao ver JP. Aproximou-se com gentileza do garoto. — Ora, ora, Sr. Sumido! E então, como vai o teu pai? Já saiu do hospital?

Meu sangue gelou.

— S-Sim, senhor. Ele já foi pra casa.

— Ah, que bom. Nós ficamos muito preocupados. Mas agora você já está firme e forte, não é?!

— É... Bem mais tranquilo...

— Assim que se fala, rapaz! Cabeça erguida. – Virou-se para a sala e deu um sorriso para os outros alunos. — Chega de conversa. Vamos pra aula. E, Maycon, pode ir se sentar. No intervalo vocês terão tempo suficiente pra conversarem com o João.

Enquanto o clima voltava ao normal, eu olhei para frente e dei de cara com os olhos de João Paulo sobre mim. As órbitas emanavam não apenas o cansaço das noites insones com o pai. Havia decepção. Talvez pelos boatos sobre nós dois, talvez pela minha total falta de atitude, o olhar dele me feriu de uma forma tão profunda que, anos depois, a expressão no rosto do meu amigo ainda invade meus pesadelos.

***

AH, AQUELE LUGAR... O jardim atrás da quadra de esportes da nossa escola era um local bem cuidado, mas pouco frequentado por ficar isolado do restante do prédio. No final das contas, servia mais como praça para encontros apaixonados, ou então como um belo lugar para quem gostava de se esconder do mundo. Por isso mesmo, quando o sinal de saída bateu e eu perdi João Paulo de vista, sabia que ele estaria por lá.

— Eu não sabia que tu tinha a mania de perseguir os teus problemas – ele comentou ao me ver chegar. Sentado em uma das mesas de pedra sob as mangueiras, estava meio oculto pelas sombras das árvores.

— João, eu não consegui...

— Pra tua informação, amigo, eu saí correndo da festa porque tinha me esquecido que no sábado era dia dos exames mensais que eu venho fazendo e, pelo que me lembro, eu já tinha te falado antes, não tinha?

Sem saber o que responder, fiquei calado. Há mais ou menos uns três meses, ele comentara sobre a tal bateria de exames que precisaria fazer todos os meses, alguns precisando de internações para melhor acompanhamento. Porém, apesar de muito insistir, ele nunca me contou o propósito dessas consultas. Ele prosseguiu.

— Sabe o que me chateia, Diego? É que... Cara, tudo bem que tu tenha esquecido dessa minha rotina, afinal, se eu, que sou o interessado, esqueci, não posso cobrar de ti. Agora, o que me deixa com raiva é que tu não fez nada pra desmentir. E pior: sabia que existe uma coisa chamada telefone? E uma melhor: internet! Sinceramente...

— Eu... Eu não sabia o que fazer.

— Como assim, cara? "Não sabia o que fazer...". Acorda!

Confesso que eu tentei me segurar, mas não sei que força foi aquela que me impulsionou a falar de forma desmedida. Não estava acostumado àquele tipo de pressão e, diante dos problemas que aquela situação já tinha me causado, acabei descontando toda a raiva sobre o meu amigo, vomitando coisas guardadas há meses.

— E o que tu queria que eu fizesse, seu droga? Do nada chegam pra ti e falam que teu melhor amigo é gay, tá a fim de ti, e pior: saiu correndo da festa bem depois que te olhou ficando com uma menina. Tu queria o que, cara? Palmas? Um beijo?

Ele se levantou de um pulo e ficou cara a cara comigo. Um cheiro adocicado invadiu minhas narinas junto à tensão perante o que imaginei estar prestes a acontecer. Se alguém estivesse vendo aquilo eu nem precisaria mais pisar no colégio. E então, os olhos dele se encheram de lágrimas e a voz saiu em um sussurro de sinceridade que ficou gravado em minha mente.

— Sabe o que eu queria, Diego? Eu só queria um amigo. – Pegou a mochila e saiu por entre as mesas, deixando-me não só paralisado como também destruído. Naquele momento, eu julgava ter acabado de perder o meu melhor amigo.


EU SAÍ DALI TRANSTORNADO. Não apenas pela briga, mas também por aqueles segundos cara a cara com João Paulo. Na minha cabeça, ele tentaria me beijar. Em outras circunstâncias, a simples aproximação tão incisiva já seria motivo suficiente para um soco bem dado, mas, por ter ficado sem reação diante dele, um turbilhão de pensamentos começou a se formar. Como se isso não fosse o suficiente, ainda fiquei com o cheiro do perfume dele impregnado em mim para me lembrar de cada detalhe do rosto de João.

Passei o restante da tarde angustiado, pesquisando histórias parecidas com a minha ou qualquer coisa que me tranquilizasse. Quando estava em um fórum de games e recebi uma resposta do tipo "caraca, tu é gay!", aquilo me feriu. Passei a madrugada acordado. Pensei bastante e, aos primeiros minutos da manhã, tomei uma decisão que à época, considerando os pormenores do caso e minha falta de maturidade, pareceu ser a mais sensata: não me afastaria de João Paulo, mas estabeleceria uma espécie de "limite de aproximação" para evitar maiores contatos.

Não foi tão fácil quanto imaginei. Às vezes eu me pegava relembrando situações que havíamos vivido juntos, ou então, ao me deparar com algum problema, pegava o celular e ligava para ele no impulso, inventando qualquer desculpa para justificar o suposto equívoco. Nesse jogo sem sentido, dois meses se passaram até que o destino decidiu intervir nessa palhaçada.

"Desgraçada!", pensei quando a professora de Expressão Artística, diante de um vaso com dezenas de papelotes, sorteou o meu nome e logo em seguida o nome do João Paulo. O objetivo era que cada dupla ficasse com uma obra de arte e, ao invés de uma simples resenha escrita ou uma reprodução gráfica, fizesse uma pequena performance teatral baseada em nosso entendimento sobre o intuito do artista. Quando a professora anunciou que nossa obra seria La Pietà, de Michelangelo, senti um calafrio. Inconscientemente, eu já previa que aquele trabalho mudaria nossas vidas para sempre.

Para quem não sabe, La Pietà é uma escultura que retrata a dor da Virgem Maria com o Cristo morto no colo. Pensava nisso e em minhas próprias dores quando atendi ao interfone e, minutos depois, vi o rosto de João Paulo através do olho mágico. Na hora, eu me arrependi por não ter marcado a reunião na biblioteca ou em qualquer outro lugar público.

— E aí, cara, tudo bem? – cumprimentei ao abrir a porta para ele.

Enquanto caminhávamos pelo corredor envoltos por aquele clima entre nós, percebi coisas diferentes em João. Passados dois meses praticamente incomunicáveis um com o outro (mesmo na escola), só ali notei as mudanças que várias pessoas já haviam me apontado, mas eu não me importei: o cabelo estava mais comprido, o rosto mais fino e, por ele estar de bermuda, percebi a ausência de pelos nas pernas.

— Algum problema? – perguntou ao me surpreender olhando para suas pernas.

— Er... Não... Chinelo legal. – Ele estava com havaianas brancas surradas sem nada de especial. Se João ignorou minha reação ou se fingiu de inocente, não sei dizer. O fato é que ele me olhou de um jeito estranho e continuou a andar.

Agradeci muito a Deus por meus pais e minha avó estarem em casa. Não gostaria de mais uma discussão sobre relacionamentos estranhos ou boatos com meu nome e muito menos de mais uma cena constrangedora como a que aconteceu nos jardins da escola. No final das contas, indo contra o meu medo sem sentido, foi uma tarde de estudos bastante agradável, com ideias hilárias para o trabalho, mas nenhuma aproveitável. Assim, marcamos outra reunião para o fim de semana seguinte, dessa vez na casa dele.

Quando o deixei na porta e o vi caminhando rua abaixo, cheguei a sentir como se tudo o que se passara tivesse sido um mero devaneio da minha parte e a vida tivesse voltado ao normal. Mas, como felicidade às vezes é finita, sempre tem alguém pra te puxar para a realidade.

— Esse menino que estava aí... Qual o nome dele? – Vovó puxou a conversa durante o jantar.

— João Paulo – respondi.

— Ele é meio... diferente, não é?

Quase engasguei com um pedaço de carne.

— Dona Flor, esses meninos de hoje são todos assim mesmo. Ninguém sabe mais quem é o quê – brincou o meu pai, mais preocupado com a garrafa de refrigerante do que com a conversa da sogra. Minha mãe concordou.

— É, mamãe. Hoje em dia já é normal.

Vovó olhou para ela e fez uma cara de "tá me chamando de burra?". Repousou os talheres no prato e cruzou os braços.

— Querida, eu não estou falando sobre ele ser transviado. Isso está na cara.

— Mamãe, por favor!

Eu cogitei me enfiar na garrafa de refrigerante enquanto o meu pai ria até perder o fôlego. Vovó, afiada como sempre, prosseguiu em sua análise.

— Eu estou mentindo, por acaso?

— Sim. Não... Não sei! Para de rir, Renato! – gritou mamãe diante das gargalhadas de papai. — Só que uma coisa dessas não se fala por aí, desse jeito...

E foi então que vovó, do alto de seus bem vividos noventa anos, virou para mim e, sem nem um pingo de sarcasmo, ironia ou repressão, aconselhou.

— Olha, que esse menino é o que eu falei, ou seja lá o nome que vocês gostam de dar hoje em dia, isso é fato. E, pra dizer a verdade, não vejo problema nenhum. Não tem diferença. Cada um deve viver como bem quiser. É uma coisa que sempre digo: se o teu vizinho não é foragido da polícia, é um bom cidadão e não atrapalha a tua vida, o que ele faz na cama não te interessa. Mas vou te dizer: tem alguma coisa muito, mas muito da errada nesse teu amigo. E eu não falo de corpo, de cabelo ou de qualquer coisa assim, não. Diego, esse menino carrega um fardo muito, muito grande nos ombros.

Mamãe cortou a conversa alegando que vovó constrangia a mim e a papai . Contudo, enquanto o jantar prosseguia, eu só conseguia pensar naquelas palavras. Lavei as louças no automático, joguei videogame com papai sem prestar atenção ao jogo, tomei banho sem tirar aquilo da cabeça. A madrugada já ia longe quando organizei as peças e cheguei à conclusão mais óbvia: com tantos exames, internações e o emagrecimento sem razão, além do fato de esconder as coisas de mim, João só poderia estar à beira da morte.

*

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