🌙 Prólogo
"O sonho é a satisfação de que o desejo se realize." - Sigmund Freud.
Olhe, eu não queria ser uma rainha. Se você está lendo isto porque acha que pode ser da Monarquia, meu conselho é o seguinte: feche este livro agora mesmo. Acredite em qualquer mentira que sua mãe ou seu pai lhe contou sobre seu nascimento, e tente levar uma vida normal e feliz como um plebeu, fora da realeza e bem longe de um castelo.
Ser uma rainha não é mágico, não é um conto de fadas infantil. É perigoso. É assustador. Na maioria das vezes, acaba com a gente de um jeito penoso e detestável. Ter uma coroa na cabeça muitas das vezes significa ter consciência e responsabilidade por todo um povo, centenas de milhares de vidas, de súditos, que dependem da sua governança e qualquer erro seu ou foto mal intencionada pode acabar com tudo ao seu redor.
Se você é uma criança ou um adolescente normal em alguma região do Brasil, que está lendo isto porque acha que é ficção, ótimo. Continue lendo. Eu o invejo por ser capaz de acreditar que nada disso aconteceu. Eu também era só uma mulher normal até aquele fatídico dia.
Mas, se você se reconhecer nestas páginas - se sentir alguma coisa emocionante lá dentro -, pare de ler
imediatamente. Você pode ser um de nós, pode ter o sangue azul. E, uma vez que fica sabendo disso, é apenas uma questão de tempo antes que eles também sintam isso, e os soldados venham atrás de você.
Não diga que eu não avisei.
Meu nome é Camille Ramirez Allerano. Tenho vinte e seis anos de idade. Até alguns meses atrás, era uma empresária de uma rede de cosméticos no norte do estado de São Paulo sem qualquer aspiração a coroa.
Se eu sou uma mulher problemática?
Sim. Pode-se dizer isso.
Eu poderia partir de qualquer ponto da minha vida curta e infeliz para prová-lo, mas as coisas começaram
a ir realmente mal no último mês de maio, quando a empresa de Marcos, meu noivo, começou a fazer pesquisas e experimentos científicos sobre dimensões paralelas - vinte e oito cientistas renomados e dois bilionários em um laboratório escondido entre prédios comerciais no centro de São Paulo, em Barueri, a fim de observar transformações físicas de matéria inorgânica experimental.
Eu sei, parece tortura. A maior parte dos experimentos científicos da empresa era mesmo.
Mas o sr. Aster, nosso chefe do departamento de pesquisas e físico renomado, estava guiando essa pesquisa, assim eu tinha esperanças.
O sr. Aster era um sujeito de meia-idade com um ar de superioridade e deboche. Tinha o cabelo branco,
uma barba desalinhada e usava um casaco surrado jeans que sempre cheirava a café. Talvez você
não o achasse legal, mas ele contava histórias e piadas mesmo em momentos difíceis.
A máquina que Áster criara era um monstro gigantesco e circular de aço e ferro fundido, reforçado por cápsulas de dióxido de carbono e pepitas de prata que seriam ativadas pela eletricidade e assim criar uma forma artificial de energia similar a formada quando a Terra se formou.
Áster também tinha uma impressionante coleção de armaduras e armas romanas, portanto era o único cientista cujas explicações não me faziam dormir. Eu esperava que desse tudo certo na experiência. Pelo menos tinha esperança de não ter tantos prejuízos.
Cara, como eu estava errada.
Entenda: coisas ruins me acontecem em experiências científicas. Como na semana passada, quando mudamos de prédio e acabei me cortando com um tubo de ensaio que eu mesma derrubei, e eu tive aquele acidente com uma máquina de separação intermolecular. Eu não estava querendo me transformar na mulher aranha mas tive de ir ao hospital levar alguns pontos na ala de Traumatologia. Ainda assim naquele dia Marcos teve de me deixar em casa. Estacionando em frente a fachada o prédio onde eu morava, Marcos abriu a porta para mim como o cavalheiro que era. Havíamos saído do prédio tristes com mais uma derrota, o experimento não havia funcionado, a máquina sequer acendera.
O primeiro trovão ribumbou no céu quando saí do lado do carona e ele me beijou uma última vez, um beijo prolongado e apaixonado, uma atitude que certamente continha uma promessa silenciosa — o amor eterno entre nós. — a lufada de ar trazendo uma corrente de ar frio o fez estremecer, indicando a tempestade que logo chegaria a Barueri, em São Paulo. Seus lábios se descolaram e ele fez um muxoxo com eles quando eu ri e virei, já com a mão na maçaneta da portaria.
Olhei para seus olhos azuis celeste, e acaba olhando para cima por instinto, gemendo quando Marcos passou os lábios pelo meu pescoço, fazendo uma trilha de beijos, ela certamente queria ultrapassar todos aqueles limites. A lua cheia, acima deles, estava vermelho - sangue, parecia mais próxima da Terra e sua coloração incomum se dava pelo efeito do sol passado por detrás da lua, seus raios solares deixando - a vermelha.
O Eclipse lunar fazia abrir uma passagem para um lugar que até então os humanos desconheciam. Tudo o que poderiam ver a olho nú seria a lua em um vermelho vibrante mas o fato era que não apenas um evento astronômico acontecia, como também ocorria um evento místico, as Portas entre os Mundos estavam abertas e os deuses, esquecidos, poderiam enfim sair e visitar o mundo mortal.
Me assusto por um instante e me afasto, a visão da lua vermelha poderia ser assustadora aos olhos humanos. A mulher do outro lado da rua parecia nos observar e eu acabo notando a figura que usava capuz, em meio a chuva.
- Que houve amor? - Marcos perguntou.
- Nada, a lua cheia e vermelha... Me assustou, só isso. - passei as mãos pela testa e sorriu, envergonhada. Marcos riu e beijou suas têmporas, em seguida, beijou minha testa sem notar minha mentira.
- Eu imagino que a Lua de Sangue possa ser assustadora mesmo, os Maias acreditavam que ela era um sinal para o fim do mundo. - Marcos ri. - Mas, já está na nossa hora, meu amor, eu tenho que ir.
Marcos era, certamente, um príncipe dos contos de fadas. Ele beijou minha mão e sorriu para mim.
- Como sabe sobre tudo isso? - Camille perguntou. Tentando ao máximo não pensar na mulher que os observava.
- Bem, isto é um pequeno segredo. - Marcos ri e sussurra em meu ouvido. - Mas, um dia eu te explico.
Óbvio que ele leu na internet.
Deixou que eu entrasse no saguão do meu prédio, mas eu jamais poderia saber que aquela tempestade se tratava de um aviso também pudera, ninguém imagina que algo que só existe em mitos possam ser reais até se deparar com eles. Eu não sabia que a empresa de Marcos realizava pesquisas sobre arquivos achados de Leonardo da Vinci e Halking. A teoria explicava que no dia em que eventos astronômicos como a Lua de Sangue ou um eclipse solar acontecessem, seria possível ver a olho nú, uma das treze dimensões paralelas existentes na teoria científica deles.
Criada por Leonardo da Vinci e explicada nos anos 1980 pelo cientista, junto com o físico americano James Hartle, elaborou uma nova ideia sobre o início do Universo. Ela foi de encontro a uma limitação da teoria de Albert Einstein que sugeria que o Universo surgiu há quatorze bilhões de anos, mas não indicava como ele teria começado. A teoria comprovava que universos paralelos poderiam ser reais, mas eles não faziam ideia de como eles estavam certos. (Obrigada Wikipédia)
Existia um universo paralelo escondido entre dois buracos negros, há poucos anos luz da Terra. Um universo que era a cópia exata do nosso e uma Terra exatamente como a nossa que em breve seria desbravada. E naquele dia, eu descobri que a diferença entre a ciência e a magia era apenas na semântica, porque ambas se completavam ao invés de serem opostas.
Fracas e finas gotas de chuva começavam a descer e daquela vez o meteorologista havia acertado, em breve uma chuva torrencial inundaria São Paulo. Observei a fachada do edifício luxuoso onde morava e Marcos seguiu para o seu carro antes de ficar completamente encharcado, triste por ter de se despedir no exato momento em que algum animal uivou, sofrêgo, um cachorro talvez?
A minha promessa em seus ouvidos ainda pareciam fazer cócegas, Marcos sentia uma incontrolável vontade de rir. Rir de pura felicidade, finalmente ele a teria em seus braços, ela seria completamente sua, única e totalmente sua, após tantos anos de namoro, finalmente seu relacionamento se consolidava.
E Marcos já era dela. Seria para sempre dela, de corpo e alma. Mente e coração desde que esbarrou com uma confusão de cabelos pretos esvoaçantes, a garota de personalidade forte e um gênio indomável pelos corredores do colégio particular no sétimo ano, sabia que seria dela desde o Ensino Fundamental. O pedido de casamento anos depois era apenas um bônus, e ela havia dito sim.
O blackberry tocou no bolso da calça e Marcos pescou para ver qual seria a notificação, era uma mensagem do Doutor Aster, o físico renomado que Marcos contratara, uma brecha entre as dimensões havia sido encontrada e o projeto deles seguia o curso.
Virou para abrir a porta do carro e se deparou com uma mulher, do outro lado da rua, olhando fixamente para ele. Chegava a ser desconcertante, tufos de seu cabelo cacheado saíam para as laterais do capuz preto. Ela usava um casaco preto, calças de moletom e tênis de corrida, seus olhos castanhos pareciam destruídos por uma dor profunda.
Ele entra no carro, ignorando a desconhecida. Observa Camille entrar no elevador pelo vidro do hall de entrada carregando o buquê de rosas negras artificiais, as preferidas de Camille, símbolos do Amor Incondicional, o sentimento eterno que preenchia o coração dele, felicidade, um amor que pinicava o seu peito como um beija - flor em pleno vôo. Marcos queria que tudo fosse perfeito, romântico e ele achava que pelo sorriso e o brilho nos olhos da sua amada ele havia atingido o seu objetivo. Marcos certamente havia feito o pedido de casamento que ela queria ter, e para ele, isso bastava.
O quinto relâmpago brilha no céu e a trovoada seguinte o faz estremecer de frio. Sua vida tinha sido apenas escuridão por treze anos. Desde que seus pais faleceram em um acidente de carro e ele se viu forçado a ir morar com os tios. Forçado a ter seu destino traçado pelas mãos de outras pessoas.
Observando - a entrar no prédio o melhor que podia, enquanto a chuva aumentava, liga o pára - brisas e pisa de leve no acelerador, se afastando devagar. Marcos sabia que ela estava preocupada, gerir uma empresa sozinha não era para poucos, principalmente porque sua família tinha um histórico não tão invejável assim. Todos sabiam implicitamente que a família Ramirez Allerano era perigosa, tinha uma ligação secreta com a máfia italiana e viviam suas próprias regras. Tudo sobre eles era um mito, ninguém sabia da verdade de fato.
Os Ramirez Allerano haviam migrado de Roma, na Itália para o Rio de Janeiro há três gerações atrás fugidos de uma promessa cruel. Ali, durante anos, acabaram criando uma rede de empresas, um império que lavava o dinheiro das máfias. Mas Marcos não se importava com isso, sabia que Camille era diferente, era boa e honesta, generosa e justa. Ele sabia que ela estava triste em ter de aceitar seu posto por direito, gerir a empresa da família e carregar um fardo pesado demais.
Ele observa seu reflexo pelo retrovisor, seus cabelos loiros estavam divididos no meio e cortados em camadas. Marcos Felipe odiava ir ao barbeiro, mantinha o cabelo até a altura dos ombros, resolve ajeitá - los com as mãos enquanto olhava ela acender a luz de seu apartamento de modo que ele poderia ver que ela já havia chegado lá em segurança. Era um pedido de Marcos, garantir que ela estava completamente segura.
Camille tinha o hábito de chamá - lo de Rei Arthur quando queria ofendê - lo em uma briga por conta da sua semelhança com o ator que interpretou Lancelot em Uma Noite no Museu. Ela sabia que Marcos era um pouco super protetor, ele morria de medo de perder mais alguém que amava desde que perdera os seus pais em um trágico acidente de carro.
O empresário resolve ligar a seta e virar, freia atrás de uma moto no cruzamento enquanto bate o anel de prata com o busto de um falcão no volante. O anel era uma relíquia de família, o símbolo dos Spoelberch, ficava no dedo mindinho e após tantos anos de trabalho, aquilo fora tudo o que realmente sobrou de seus pais.
A multinacional como herança não era nada. A empresa Mevius, fundada pelo avô de Marcos, era uma das mais ricas do mundo no ramo da cervejaria, muitas marcas famosas de bebidas eram compradas pela Spoelberch. O sobrenome de Marcos, que ele carregava com pesar, soava como uma ironia do destino. O lembrava do acidente de carro que tirou a vida de seus pais, Allan Spoelberch e Sarah Nunes havia ocorrido justamente porque o motorista do caminhão invadiu a pista da rodovia no exato momento em que seus pais voltavam para casa, estava embriagado.
Marcos balança a cabeça na tentativa de esquecer de seu passado, de suas dores. Ele estica os dedos e liga o rádio, suspira quando o som da banda Scorpions invade o automóvel.
Eu ainda amo você. Marcos canta o refrão enquanto dirigia, aquela música o fazia lembrar de Camile e esquecer de seu passado, sabia que teria de secar o carro depois, mas não queria pensar nisso naquele momento, outro trovão no céu ilumina o pára - brisas. Alguns minutos depois ele finalmente chega em seu prédio também.
São Paulo era composta majoritariamente por prédios residenciais e modernos. Ali em Barueri, onde boa parte dos prédios eram luxuosos e tecnológicos demais não era diferente. Entra na garagem e estranha a luz do portão principal ligada, resolve ignorar e segue para o saguão do residencial, tremendo de frio e irritado por estar longe de sua amada.
Chega sozinho ao saguão, o porteiro não encontrava no local. Ele acha estranho mas resolve ignorar, era algo incomum, apenas isso. Chama o elevador e logo entra, aperta o botão com o número do seu andar, assobiando Welcome to the Jungle da banda Guns'n'Roses desta vez, era o que acontecia toda vez que via Camille, ele tinha vinte e sete anos afinal, seus hormônios estavam a flor da pele e sua promessa de se casar virgem para que assim como Camille ambos pudessem desfrutar da primeira vez deles somente após a Lua de Mel estavam fazendo com que cada gota de testosterona dele trabalhassem em dobro.
Marcos certamente precisaria de um banho gelado. A ereção presa em seu jeans doía, ele certamente se masturbaria pensando em sua amada Camille. E é isso o que faz, em seguida segue com a toalha na cintura em direção ao seu guarda-roupa vestindo uma cueca e uma calça de moletom, o celular anunciava centenas de novas mensagens e Marcos acreditava se tratar da empresa.
Mesmo pedindo para Camille ficar em casa, ele sabia o quanto ela era teimosa, deveria ter ido ao Balder's Café, sua cafeteria preferida e como sempre, estaria trabalhando de lá. Ele observa que alguns amigos o estavam enviando muitas mensagens ao mesmo tempo e ele não esperava por isso, resolve procurar entender o que estava acontecendo enquanto secava os cabelos.
Cansado de tanto trabalho, ele resolve se dar algumas horas de férias forçadas. Eram os contras em ser o CEO de uma empresa como a multinacional da família Spoelberch, a Mevius Enertenement. Ele saí de seu closet e anda até a cozinha para preparar a pipoca. Se daria o luxo de ter uma noite de filme sozinho, as mensagens continuavam piscando na tela do seu iPhone mas ele ignora.
Marcos não sabia que a mulher que estava observando o beijo dele com Camille e a despedida entre eles. Agora estava do outro lado da cidade, em um apartamento barato, chorando.
Aquela mulher era Nathália Helena, hoje era uma publicitária de classe média mas há treze anos atrás, havia conhecido Marcos no colégio elitista cristão CNZ, e se apaixonado perdidamente por ele na sétima série.
Um amor que ela nunca esqueceu. Eu sei, é o maior date errado continuar amando platonicamente o mesmo cara desde os doze anos.
E vê-lo ali, com outra, enquanto ela caminhava, foi o golpe final na sua dor. Nathália então pegou o livro que trazia consigo, escondido entre montes de caixas e objetos embalados com plástico bolha, um livro que ela havia furtado de sua prima, Janet Baker, há treze anos atrás. Era uma ideia insana, que Nathália não fazia ideia se iria funcionar ou não.
Os feitiços contidos ali seriam suficientes para uma vingança, desenhou o pentagrama no chão de taco com um giz branco no exato instante que a TV de tela plana exibia um comercial sorridente da Mevius Enertenement, a empresa de Marcos.
A magia ancestral no sangue de Nathália não era, nem de longe, tão forte quanto em Janet que tinha uma clara ascendência Wicca, mas era suficiente para conjurar e invocar um Espírito antigo. Um Filho do Caos, a divindade greco-romana mais antiga do Olimpo, era aquilo, aquele poder que Nathália precisava para se vingar, para nunca mais sofrer pelo seu coração partido por aquele homem. Poucos imaginariam que os Deuses eram reais, afinal os humanos tinham a ciência para explicar - quase - tudo e as religiões monoteístas para desvendar todos os mistérios do Universo. Nathália era uma destas descrentes, agnóstica convicta, mas após tantos anos convivendo com pessoas tão religiosas, um tiro no escuro seria válido.
Ela deixou uma lágrima cair quando a poeira do giz rodopiou e algo começou a acontecer, para surpresa de Nathália, a magia realmente funcionava e a ciência não podia explicar aquilo. Aquele homem que ela amou por treze tortuosos anos e que esfregava na cara dela a felicidade que ele tinha com outra mulher, porque Camille tinha poder, tinha fama, tinha dinheiro. E Nathália não. Mas ele pagaria, todos pagariam caro por cada ano de sofrimento que Nathália passou.
Ela respirou fundo, encarando os comerciais da Mevius Enertenement enquanto a cobra diante dela parecia falar em seus pensamentos. Um Espírito ancestral poderia aparecer na forma de um animal, já que eles, diferentemente dos Deuses não possuíam forma física. O que ela havia conjurado se tratava de um Espírito, um Filho do Caos, o deus mais antigo da mitologia greco-romana, um ser anterior a tudo.
A cobra apenas a observava, em completo silêncio, reflexiva. Assim como os Deuses, cada Espírito representa um sentimento, uma força da natureza e uma ação humana (socorro Luíza Mel). Ela oferecia a Nathalia poder para se vingar, para matar todos aqueles que a feriram, em troca de uma possessão completa, que tomaria sua alma, sua mente e a corpo. Os humanos eram cruéis, egoístas e fracos e Nathália acreditava que a humanidade tinha de padecer, para algo novo se formar.
Seleção Natural. Os fracos padeceria, os fortes sobreviveriam.
Nathália aceitou o Pacto e formou um Pacto de Sangue com o Espírito. A possessão ocorreu de forma brutal e dolorosa, tal como o ódio em seu coração, entrando por sua boca e suas cavidades nasais forçando - a. Engasgando a mulher caiu cambaleante para trás e o terceiro raio desceu do céu, ribumbando com uma trovoada consecutivamente. No Olimpo, os Deuses estavam atentos aquela atividade, um filho de uma divindade tão forte quanto o Caos era algo que poderia ser sentido há eons de distância, enérgicos, Júpiter, o pai dos deuses, resolve intervir e convoca Athena para descer a Terra e Hades para, no submundo, descer às profundezas do Tártaro e acordar os outros Filhos do Caos.
No apartamento de Marcos, ele permanecia indiferente a programação da TV. Pensava na Mevius, a sua empresa e levar assuntos do trabalho para casa era algo que ele detestava. A janela estava aberta e o vento pareceu soprar com mais força, frio, fazendo - o estremecer. Ele se levanta e fecha a janela.
Não muito longe dali no Olimpo, morada dos Deuses, uma movimentação acontecia. O panteão grego, não tão alheio as atividades sobrenaturais que estavam acontecendo silenciosamente em São Paulo - afinal acordar um filho do Caos era algo que demandava muita energia - tomava as devidas providências. Um filho do Caos era uma divindade muito poderosa para que eles pudessem guerrear contra, então, decidem por acordar os irmãos dela. O Espírito da Maldade, que agora possuía Nathália, tinha doze irmãos, que serviam em contrapartida aos doze deuses olimpianos. E agora, livres eles finalmente realizariam os seus desejos.
A Mevius era uma rede de cervejarias que Marcos mais odiava no mundo. A maldita bebida amarga que tirou a vida de seus pais. Marcos imaginava que seria alguém da empresa que ligava para ele agora, talvez Simon, sócio executivo da Mevius desde que seu pai morrera, querendo mais ações de uma empresa que pertencia a Marcos por isso ele resolve continuar ignorando as notificações do aparelho. Às vezes a tecnologia era uma merda.
Marcos se joga no sofá e liga a Smart TV, algo que ele também detestava, mas sabia apreciar um bom filme, busca uma latinha de Pepsi na geladeira enquanto o filme carregava na Netflix e faz a pipoca. Ele não fazia ideia do que aconteceria com o vida dele a partir daquela fatídica noite.
Sem notar que era observado, Marcos permanecia absorto a tela da TV. Parecia ser um filme brasileiro, Marcos lê na sinopse, a diretora era Lady Merged. Marcos já ouvira falar dela, Merged significava Mesclada no inglês, este era o pseudônimo que ela usava porque aparentemente queria manter - se no anonimato e viver uma vida normal. Sentiu um calafrio percorrer a sua espinha, talvez de frio, mesmo com a janela fechada, um sono incomum parecia se apossar dele e ele boceja.
Tudo o que a mídia sabia sobre ela era que ela era brasileira e apenas isso, nada mais. Bem, ele nunca havia assistido aquele filme, então resolve ver e dá o play quando retorna ao sofá. O homem sente uma ponta de inveja, afinal, como poderia ser se ele pudesse manter-se também no anônimato?
Brilhando na tela da TV, o filme começava, um segundo calafrio percorre a sua espinha e ele não deixa de ignorar que, ele sentia como se, de algum modo, ele não estivesse mais sozinho no apartamento. Era um filme de ficção científica, onde uma jovem garotinha se perdia de sua família e acabava indo parar em uma casa abandonada.
Marcos bufa e rola os olhos entediado, não queria dormir, pensando que aconteceria o clichê de sempre um cara qualquer apareceria do nada e iria matar a criança. Ela entrou na casa e chamou com um " Olá" que todo filme de terror tinha, como se o assassino fosse falar " estou aqui", ele joga mais um pouco de pipoca na boca enquanto a garotinha era estripada e então o telefone toca. Um segundo calafrio percorreu o seu corpo, sentiu algo estranho desta vez, como uma manta cobrindo o seu corpo. Imaginou estar começando a apresentar sintomas de uma febre.
Ele grita de susto e deixa a vasilha de pipoca cair, derramando no chão. Pega o telefone e atende. Já se passavam das duas da manhã mas ele não conseguia dormir, quem o estaria perturbando naquele horário?
- Spoenbelch. - ele atende, irritado, sem olhar para o número que o ligava.
Uma risada maligna preenche o ambiente, uma voz assustadora e inumana que se assemelhava a uma faca raspando a lâmina em uma pedra, rouca e asmática.
- Querido, querido. - a voz parecia feminina. - Espero que não fique muito triste quando perceber, mas é realmente uma pena porque quando você perceber será tarde demais. - a voz debocha com uma gargalhada que o faz tremer.
- O quê? Quem é você? Como tem meu número? - Marcos pergunta. Quem o estaria ameaçando? Alguém da Ambev? A sala parece ficar alguns graus mais fria. Marcos se lembra da família de Camille, poderiam ser finalmente seus primos, os parentes mais ferrenhos na mafya, descontentes com o relacionamento deles.
E então ela desliga.
Marcos dá de ombros, sabendo que trotes eram coisas comuns, ele tinha um sistema de segurança eficiente. Poderia ser um presidiário querendo dinheiro ou até mesmo Pablo, seu melhor amigo, querendo fazer uma brincadeira com ele. O telefone toca novamente.
- Olha, eu sei que é você Backyardigan ! - Marcos atende, imaginando se tratar de Pablo realmente já que ele era o único que tinha o seu número de contato e também o único que o pregava peças desde a sexta série quando eles se conheceram no CNZ, o colégio elitista na Baixada Fluminense no Rio de Janeiro.
Pablo era uma eterna criança que não conseguia aceitar que já tinha vinte e seis anos, quem o via de fora imaginava que ele se tratava de um retardado mas Pablo era um dos melhores economistas e analista de Marketing do país que geria parte da empresa junto com Marcos. Havia se formado em Harvard, era um gênio com uma aura de idiota.
- Perdão, senhor. - a voz era de Bruna Zuggerman, sua secretária e assistente pessoal. Ela tinha uma voz infantil e manhosa que ele conhecia a quilômetros de distância.
- ah Bruna, desculpe. Imaginei ser um amigo. - Marcos soa arrependido. Sente um estalar em seu corpo, uma pontada na cabeça como se ele fosse vítima de epilepsia, coisa que não era. Seu estômago começa a se embrulhar pelo nervosismo ele sentia que algo muito ruim tinha acontecido.
- Eu sinto muito ter de lhe dar essa notícia, senhor. - Bruna faz uma pausa. - Mas sua noiva... - Bruna piguarreia e abaixa a voz, parecendo um miado de gato, Marcos sente sua pressão baixar e escuta a pior frase de sua vida, segundos antes de desmaiar. - Ela foi assassinada.
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