🌙 5.2. A Seleção
Janet
O tempo que passava em Andrômeda era como as Férias de Verão que eu sempre quis. Eu tinha Sol, praia, Netflix e água fresca. Ninfas iam e vinham servindo aos moradores e aos moradores do castelo.
Tinha tudo o que precisava para relaxar e curtir. Bem, isso quando eu realmente tinha tempo, é claro.
Muitos pensam que uma Rainha é apenas adorada, servida e posta em um pedestal, como as deidades egípcias, as esposas do faraó. E eu não estava ali de férias fingindo ser Rainha, eu estava alí porque os andrômedanos precisavam da Rainha Perdida e porque talvez em um grau menor a Terra também precisava.
Mas, eu não tinha muito de Cleópatra no meu DNA. Marcos estava sendo pressionado pelo Conselho, afinal em Andrômeda funcionava uma Monarquia Parlamentarista e ele respondia a um parlamento. Os Ministros queriam me conhecer e realizar a Coroação, para mim era algo natural estar no controle, ter uma meta à minha frente e alcançá-la resolver um problema. Mas em Andrômeda onde tudo era permeado por lendas e misticismos a razão às vezes parecia se confrontar com todo o tipo de crenças e mitos. E isso era algo incontrolável. Algo que irritava me irritava.
Lendas existiam em torno do Rei e da Rainha, de onde nós vínhamos, o que representávamos, quem nós realmente éramos. Haviam pinturas minhas, com o meu rosto, nos corredores do Castelo das Luzes e eu não fazia ideia de como.
Na Terra, Viúva Negra estava atacando a humanidade. Mesmo com o tempo passando de uma forma diferente ali e na Terra, meses ali eram dias em São Paulo mas ainda assim dias eram tempo o suficiente para Viúva Negra realizar seu plano.
Estava treinando a dias, aulas de esgrima, de etiqueta, de lutas corporais, história, inglês, francês e espanhol. Eu me sentia como América Singer dentro de A Seleção. Mas, diferentemente dela, eu tinha deuses no lugar de professores, eles podiam existir tanto na Terra quanto em Andrômeda e ficavam, na maior parte do tempo, em templos que existiam nas cidadelas andrômedanas.
Marcos tinha olheiras profundas devido a noites e noites sem dormir, lendo relatórios e mais relatórios, as mortes e atentados em São Paulo não pareciam ter fim e ele se sentia responsável.
Tudo o que ele conseguira descobrir era que uma empresa farmacêutica em São Paulo desviara milhões de reais nos últimos sete meses para uma empresa fantasma e essa empresa fantasma estava criando uma perigosa e viciante droga sintética, variante da Popper e da cocaína.
Poderia ser mais um caso de corrupção que talvez acabaria sendo investigado pela Polícia Civil e até mesmo desmembrado em alguma parte de Lava Jato. Eu não duvidava que políticos estavam patrocinando Viúva Negra propositalmente, o Caos poderia ser muito lucrativo.
Marcos, no entanto, pensava diferente. Ele tinha certeza que se tratava de outra coisa, de um plano de Viúva Negra em uma escala maior. A Delegacia de São Paulo investigava o caso mas tudo parecia ser um labirinto sem saída.
Medidas desesperadas pediam atitudes extremas, aqueles assuntos não saiam da minha cabeça. Tomo a segunda aspirina naquele dia e ligo para a única pessoa no mundo que saberia o que fazer em uma situação como aquela, o homem que serviu ao seu país, o soldado que levou vinte e três tiros em um atentado terrorista na Tunísia e nos tempos livres grudava chiclete na minha cadeira nos sets de gravação: Malcolm Pace.
- Mal! - chamo assim que ele atende no segundo toque, suspira do outro lado do telefone. O sinal do iPhone em Andromeda era maravilhoso.
- Janet.. onde você está, mulher? - Malcolm pergunta, havia um som de algo se quebrando próximo a ele. Mordo o lábio e olho para os lados me certificando de que ninguém nos ouvia.
- Lembra da missão na Bélgica dez anos atrás? - respondo a pergunta dele com outra pergunta. Malcolm suspira.
- Entendi. - ele solta um grunhido, sua voz fica séria. - Precisa de ajuda?
Mordo o polegar pensando se Marcos seria sempre aquele anjo calmo e pacífico ou se ele arrancaria minha cabeça fora. A missão da Bélgica fora um assunto que juramos com sangue nunca mais remoer.
- Sim, se lembra do dispositivo, o aparelho que encontramos na Missão LaCarte? Talvez eu precise de Jake também. - pergunto para ele, ouvindo que ele derrubava algo.
— Porra... Leonardo da Vinci, entendi. Até mais, senõrita — Malcolm desliga. Ele remetia aos achados da missão da Bélgica, havíamos encontrado uma passagem secreta entre a Bélgica e uma floresta inabitada, enquanto caçávamos malditos mafiosos russos que sequestraram mulheres.
Aquela passagem dava para uma caverna estranha com escritos em hebraico e latim, alguns trechos em italiano mostravam que aquela caverna havia sido visitada por pessoas ilustres.
Horas depois quando voltamos e atiramos no mafioso, prendemos seus capangas, a caverna simplesmente havia desaparecido. Nada que boas horas na cadeira de choque não nos fizesse esquecer.
Aqueles eram bons tempos. Mas a partir daquele dia, pesquisei incessantemente aquele caso. Nada fora encontrado, era como se aquele homem e a caverna nunca tivessem existido.
- Janet? Está pronta? - Marcos pergunta batendo a porta do Quarto da Rainha, me tirando das minhas lembranças.
Passara duas horas recebendo os cuidados de Willow e um punhado de serviçais, elas conseguiram deixar minha pele tão macia que eu me perguntava se eu havia trocado de corpo e fizeram um penteado elaborado em mim. Usei um vestido roxo simples mas digno da realeza.
Willow sorriu para mim e seguimos para o Salão Real.
- Sabe que eu odeio parecer uma princesinha, não sabe? - pergunto para ela que sorri e acena para mim.
Marcos me recebia na porta, se curvou em uma reverência, beijou minha mão e me estendeu o braço.
- Majestade? - eu aceitei e seguimos juntos até o centro do grande Salão Real, todos os ministros estavam presentes e suas respectivas companheiras e companheiros. Henrique de Buxcalberk, o Duque, sorriu para mim.
Eu reconheceria aquele cabelo ruivo em qualquer lugar, sorrio para ele a aceno.
- Todos saúdem o Rei Branco! Marcos Felipe, Vossa Majestade! - o conselheiro real anunciou e todos o reverenciaram, se curvando.
- Vida longa ao Rei! - os Ministros saudaram e se sentaram em seus lugares. Cadeiras de madeira repletas de gravuras moldadas a mão, lustradas sobre a mesa quadricular de mogno.
- Estamos aqui para reconhecer a Rainha Perdida em nosso reino. Todos os representantes dos quatro cantos de Andromeda estão aqui presentes, os representantes de seus Estados estão aqui. Andrômeda, o Estado Real tem por direito, agora, um rei e uma rainha. - o Juiz ao centro anunciou.
- Protesto! Como podemos averiguar que ela é realmente a Rainha Perdida? - o Conde de Buxcalberk, Allan Di Avorth perguntou, ultrajado. Allan era um homem velho, de cabelos calvos e era tio de Henrique, tinha olhos castanhos e usava um cordão fino com um lobo de prata com olhos vermelhos feitos com dois pontinhos feitos de rubi.
- Ele está certo! - outro Ministro se posicionou.
- Ordem! - o juiz bateu o martelo. - Ordem! Silêncio!
- Todos aqui conhecem as lendas e conhecem a lei. O próprio Rei Branco averiguou que ela se trata da Rainha Perdida, como ousa ir contra seu soberano? - o juíz, perguntou inquisitivo.
- Vossa Excelência, não duvido que o rei tenha averiguado mas o que temos como prova disto? Ela pode ser uma bruxa oriunda da Floresta Negra para enamorar nosso rei e cometer um atentado contra ele. - Allan Di Avorth retruca.
— Basta, eu sou o Rei e não tolerarei esse desaforo! — Marcos grita e bate na mesa. Toco em seu braço e sussurro que estava tudo bem, as lendas de vovó falavam sobre isso, sobre um mundo paralelo. De repente todas as histórias que vovó me contava na infância pareciam fazer sentido.
Uma Terra perdida e uma Deusa da Natureza. Vovó se referia a Andrômeda, e se referia a ela mesma como Wicca, a Deusa da Natureza, cultuada pelas Wiccas. Vovó era uma bruxa, ela era Salém, uma das quatro bruxas iniciais que havia formado o Mundo quando o Caos, a primeira divindade da mitologia greco-romana implodiu, em osmose, se fragmentando e formando os primeiros deuses iniciais e consecutivamente as primeiras galáxias, os primeiros planetas.
Dobro a manga do vestido para poder mostrar o meu pulso, o símbolo do Sol e da Lua, a tatuagem que eu havia feito com vinte anos estava ali junto de uma marca de nascença que eu herdara da minha avó. Somente eu tinha aquela marca, uma meia lua cravada na minha pele, o sinal de quem a minha avó era de verdade.
— Uma autêntica neta de Salém. — um Ministro exclama. Allan arregala os olhos e se ajoelha, os outros Ministros seguem o seu exemplo. Ninguém além de mim e da própria Salém tinha aquela marca e todos os andrômedanos sabiam disso.
— Ave Rainha Perdida! — eles me saúdam e eu me curvo para eles em reverência mútua.
— Obrigada. Agora... — aponto para Allan que permanecia pálido enquanto todos voltavam as suas posições. — Você está demitido.
— Ma-ma-mas minha rainha, eu...— Allan começou a gaguejar.
— Quero você fora do meu castelo até hoje às seis da tarde. — digo calmamente e saio do sala de reuniões.
Você agiu bem. Nunca gostei dele. —uma voz feminina falou comigo. Me viro e dou de cara com Larissa.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro