🌙 3.1. Game of Thrones
Janet
Eu nunca conseguira respirar debaixo d'água por mais de três minutos. Tinha medo de altura. Era claustrofóbica. Errava contas até de somar e mesmo tentando, eu era péssima em química no Ensino Médio. Tinha uma família problemática, uma mãe psicopata e um pai doente. Fugia de casa na adolescência.
Nada me preparou para estar dentro de um Universo que só existia na minha imaginação. Eu havia criado Andrômeda por conta de Crônicas de Nárnia, um dos meus livros e filme favorito.
De algum modo, eu estava em Andrômeda, o Universo que eu imaginava ir todas as vezes em que minha mãe me espancava ou me xingava me culpando pelo papai ter ido embora de casa e nos abandonado, ela só pensava no dinheiro, na maldita pensão alimentícia, lembrar daquilo me dava dor de cabeça.
Olho no relógio, eram 05: 46 da manhã.
Tinha acabado de acordar, assustada, em um quarto que não era meu. Dentro de um castelo que teoricamente deveria existir na minha imaginação.
Estava em um universo paralelo com o ser mais irritante da face da Terra, o loiro babaca mais metido do mundo. Aquilo só poderia ser uma piada do cosmos.
Marcos Felipe Nunes Spoenbelch.
Riquinho.
Metido.
Esnobe.
Um bilionário que se acha a última garrafa de Coca - Cola do deserto do Saara. Era um pesadelo loiro de olhos azuis.
Me lembrava das poucas vezes que o vira no CNZ, duas vezes no bebedouro, um punhado de vezes durante o intervalo na fila para comprar lanche enquanto minha prima suspirava e chamava ele de lindo. Marcos havia sido a primeira paixonite aguda da adolescência de Nathália.
Lembrar daquele colégio elitista me fazia lembrar de coisas que queria esquecer. Coisas que eu havia afundado no fundo das minhas memórias para nunca mais lembrar.
Mas estava lá.
A garota sendo arremessada contra a a parede de espelhos no banheiro do colégio mesmo sem haver ninguém lá. Os murmúrios sobre fantasmas que assombravam a escola.
A criatura sem rosto, usando uma bata sorrindo por debaixo do capuz no meio da quadra de esportes, como se eu fosse sua próxima vítima.
Meus esboços sobre ela em um caderno surrado. Suas aparições que pareciam me perseguir e acontecimentos que eu não tinha como explicar.
Um banho que eu tomava e o chuveiro começou a despejar sangue no lugar de água.
Um quase atropelamento de um carro que nunca existiu.
Eu tentava esquecer aquelas coisas e ignorar tanto quanto ignorava a existência do meu pai. Simplesmente superei com o tempo. Bocejo e procuro pelos meus chinelos até me dar conta de que não estava no meu apartamento.
Reconheço o quarto onde estava. Era o Quarto da Rainha, lembro rapidamente das informações na noite anterior, as paredes eram cobertas por um papel de parede bege com pequenos sol dourados, minha cama era uma queen size com lençóis escuros, haviam alguns aparelhos eletrônicos em cima de cabeceiras que ficavam ao lado da cama, com um abajur e exemplares de livros variados.
Do lado oposto, na outra cabeceira de mogno havia também um sino em cima dos livros - talvez para chamar os criados do castelo. - E a sua frente, ao lado da cama, em uma das paredes havia uma porta dupla de madeira clara. O castelo era feito de um material semi - transparente, o grafeno, um dos materiais mais fortes e resistentes do mundo.
Será que estavam sentindo minha falta na Terra? Me fazia aquela pergunta genuinamente inocente do que realmente acontecia.
Levanto da cama e tropeço em algo no chão. Era o jornal que Willow havia deixado na minha cama na noite anterior. Eu realmente estava sendo ingênua ao que acontecia.
Respiro fundo. Tinha trabalho a fazer. Marcos me ocultou aquelas informações porque deveria pensar que eu era apenas uma mulherzinha frágil que não aguentaria saber da verdade.
Ele tinha me levado para Andrômeda para me esconder. Esse era o segredo que ele me escondia. Eu era o alvo de Viúva Negra.
Abrindo as portas noto que na verdade se tratava de um closet duas vezes maior em altura e comprimento que o meu. Repleto de roupas de época, vestidos dignos de uma rainha da Idade Média. Parecia que eu estava presa de novo no banheiro do colégio cristão elitista, eu me sentia claustrofóbica.
Eu era a Rainha de todo o povo, uma governante legítima de Andrômeda. Meu lado racional queria sair gritando, mas ao invés disso, retirei o livro que havia surrupiado na madrugada anterior, quando acordara nas dependências do castelo.
Minha curiosidade maior que o meu medo, me fez sair do quarto onde estava e desvendar o ambiente, logo percebi que estava em um castelo e andares abaixo, encontrei uma biblioteca vazia. Peguei o primeiro livro que encontrei e o li enquanto não conseguia pegar no sono.
No livro páginas amareladas e antigas falavam sobre Andrômeda, o universo paralelo idêntico a Terra, possuí os mesmos planetas que a Via Láctea possui, as mesmas estrelas pois foi formada junto a Terra com o Big Bang. Isso era até plausível.
Virei na página seguinte. O correspondente ao Planeta Terra em Andrômeda possui o mesmo nome da constelação, também se chama Andrômeda, com o mesmo número de continentes, países e mares. Os planetas correspondentes a Marte, Júpiter, Vênus, Mercúrio e Plutão mantém os mesmos nomes em Andrômeda.
Andrômeda fica escondida da Terra o único meio de chegar até ela é por viagens interdimensionais, têm um diâmetro de 250 mil anos-luz e possui o dobro do tamanho da Via Láctea. Não é possível vê - la a olho nú. É assim chamada, de Andrômeda, devido a proximidade da Constelação de Andrômeda, cujo termo é oriundo da Princesa da mitologia Andrômeda, filha de Cefeu.
Tudo o que sabia era que Cefeu era o rei da Etiópia e da Cassiopéia. Penso. Talvez devesse pesquisar mais sobre Cefeu depois.
As páginas seguintes diziam que quando foi formada, o Big Bang que a gerou e também gerou a Terra, assim como fez - se as características necessárias para a vida poder surgir (tais como o oxigênio, o hidrogênio) também se formaram em Andrômeda que passou pelos processos de resfriamento assim como a Terra.
Sabemos que durante o Big Bang a Terra ficou muito quente e ainda não era possível haver vida, logo após houve uma chuva torrencial que resfriou a Terra e gerou os primeiros microorganismos. Os mesmos microorganismos formados em Andrômeda tinham uma peculiaridade: A presença de hidrogênio e nitrogênio em sua própria função.
Dadas essas condições, Andrômeda gerou formas de vida orgânicas mais propensas a estas condições. A magia de Andrômeda citada muitas vezes no livro é (geralmente) ciência que está ligada a mitologia.
Feitiços como os de levitação são possíveis graças a quantidade de oxigênio, 0,5 % maior que na Terra, imperceptível para humanos. Nomes estranhos estavam naquele capítulo, eram feitiços básicos. Pareciam vir de um idioma antigo. Latim, talvez?
Viro na página seguinte e um papel amarelado caí de dentro do livro. Abrindo o papel, posso notar a letra cursiva de Willow.
A Roda do Ano começou. Uma única frase. Um aviso. Respiro fundo e guardo o bilhete, passando os dedos pelas folhas do livro, volto a leitura.
O capítulo seguinte era informativo, falava sobre as galáxias. Eram formadas por muitas estrelas, poeira cósmica, as Galáxias são agrupamentos desses corpos no universo, observo a gravura e passo meus dedos por ela.
A Galáxia de Andrômeda - penso, lendo sua descrição. O relevo oval de sua imagem me fazia pensar em um olho. - possui formato espiral e sua localização é de mais de dois milhões de anos-luz do Planeta Terra, sua posição é próxima da Constelação de Andrômeda. Segundos pesquisadores e cientistas, é tida como a mais próxima da Via Láctea.
Sua extensão é a maior de todas as outras galáxias do chamado Grupo Local (composto pela Galáxia do Triângulo, Via Láctea e mais 30 de pequena dimensão). A massa da Galáxia de Andrômeda é praticamente a mesma da nossa, possuindo 7.1×1011 massas solares (massa solar = massa do nosso Sol, o que equivale a 332.946 Terras).
Alquimistas haviam descoberto Andrômeda no século XVI. A Alquimia
É um dos astros mais brilhantes e chamativos, com uma magnitude aparente de 3,4, registrado pelo astrônomo francês Charles Messier. Possui ainda de 180 a 220 mil anos-luz de diâmetro. Dentre as principais características, podemos citar que seu corpo celeste é muito estudado e possibilita enormes descobertas científicas, como a estrutura espiral e os conglomerados abertos, a matéria interestelar, o núcleo galáctico, a poeira interestelar entre outras formas impossíveis de serem detectadas na nossa Galáxia.
Saio do quarto em silêncio e desço pelas escadas, acabo me perdendo entre algum andar na ala norte do castelo, onde um corredor repleto de portas se estendia.
Cômodos que eu desconhecia.
Folheio outra página do livro, desinteressadamente enquanto aceno para um guarda.
- A Galáxia de Andrômeda foi catalogada como M31 no catálogo Messier, e no NGC 224 (Novo Catálogo Geral), em Outubro do ano de 1786, por John Herschel. - leio em voz alta, para que o guarda pensasse que eu apenas queria um local silencioso para ler.
- Sabe, muitos estudiosos relatam que a Galáxia de Andrômeda terá seu fim próximo, pois com o passar dos anos a Via Láctea e a Galáxia de Andrômeda se aproximam e possivelmente, entrarão em rota de colisão. Esta previsão é prevista para acontecer na mesma época do fim do Sol, em aproximadamente 4 bilhões de anos. Mas se quiser ler em paz há uma biblioteca exclusiva de Vossa Majestade. A Biblioteca da Rainha fica no andar de baixo. - o guarda explica, ajeitando seu fuzil.
Todos os guardas usavam um uniforme azul, similar a roupa de um soldado do exército. Usavam armas como policiais e tinham uma insígnia de ouro reluzindo na roupa, uma cabeça de leão, o símbolo de Reinado do Sol.
E tudo por causa da minha avó, ou pelo menos era nisso que Marcos acreditava veementemente, bem se eu era uma rainha poderia ter roupas melhores? Não haveria Deus ou homem, sendo ele imortal ou não que me fizesse usar um vestido de princesa.
Marcos aparece batendo na porta da Biblioteca como se não fosse nada demais e pede para entrar. Eu queria socar seus dentes perfeitos.
Ele nota meu rosto irritado e lhe explico que não poderia usar aquelas roupas.
- Posso entrar? - Marcos pergunta.
- Tudo isso aqui é seu, vossa majestade. - respondo com um sorriso.
- Isso também é seu, Majestade. É tão real quanto eu, temos a mesma posição política e é costume em Andrômeda que o rei peça sempre permissão a Rainha ao entrar em um cômodo, principalmente um cômodo que pertence a ela. - Marcos explica e gesticula uma saudação.
Tudo bem. Se tudo era meu, porque eu me sentia uma intrusa?
- Aqui, no Quarto da Rainha e no Salão da Rainha, alguns andares de distância daqui, são os únicos lugares do castelo onde não posso entrar seu sua explícita permissão. É a lei. - Marcos sorri.
- Eu ainda não entendo. Sabe eu tenho um emprego e uma vida em casa, não posso ficar com a bunda pro alto não! - rebato e Marcos cai na gargalhada, sentado na cadeira e grita um nome estranho.
Eu não queria ser da realeza. Não queria nem tentar! Queria voltar para o meu cobertor quentinho e minha Netflix.
América Singer, nunca te critiquei.
- sei que tem sua agenda em casa Janet mas isso é para sua segurança. - ele fala calmamente e abre passagem para o servo passar pela fresta da porta.
Era Ágape, o tigre albino humanoide de quase um metro e oitenta de altura, principal servo de Marcos, ele trazia um monte de papéis e pastas entre os braços e usava um colar no pescoço.
Ágape me reverencia em silêncio e escuta atentamente o pedido de Marcos e começa a redigir uma carta, o papel, retirado das árvores mágicas da Floresta Negra era mágico, porque ao retirar a celulose para fazer o papel retirava também a magia das driades - as ninfas das árvores - que existiam ali, logo escuto uma carruagem sair às pressas e um carro chega em cerca de trinta minutos depois. Era Andron, o alfaiate real.
Andron é anunciado às pressas pelos soldados. Ele era um homem jovem, deveria ter seus vinte anos, uma pele pálida e branca como papel, que me fazia pensar que ele vinha de um filme de Crepúsculo, tinha olhos dourados como ouro líquido e um cabelo preto preso em um rabo de cavalo baixo.
- Janet, tenho que te mostrar algo. - Marcos me guia, sem esperar minha resposta e me tira do armário, fechando meus olhos por todo o caminho até que eu possa ver quando chegamos no destino. Andron tira minhas medidas com uma fita métrica no meio do caminho enquanto caminhávamos, ele tinha uma pele pálida demais, cabelos pretos longos que escorriam pelos ombros e orelhas pontiagudas.
Ele era um duende de Senhor dos Anéis.
- Por que exatamente eu estou aqui Marcos ? - pergunto, ainda andando de olhos fechados. Marcos piguarreia como se pensasse no que podia me contar e o que não podia.
- Janet sei que você entende pouca coisa agora mas eu não tive escolha, você corria perigo - Marcos explica, parecendo genuinamente mal com a culpa. Então minha teoria estava certa, alguma coisa ou algo estava me caçando?
- Perigo? Isso tem uma ligação com o caso Viúva Negra não têm? Por isso os assassinatos têm ocorrido em São Paulo - pergunto, levantando uma sombrancelha, cruzo meus braços para que ele entendesse que eu falava sério. Estávamos andando há mais de trinta minutos e Andron já havia ficado para trás, saímos da Cidadela, que rodeava o Castelo das Luzes e seguimos para uma região natural e inabitável. Era uma entrada em uma rocha gigantesca, uma caverna.
- Sim, perigo. - ele me puxa para o interior da caverna. Mas eu não conseguia parar de pensar no que se tratava todo aquele segredo, meus joelhos doíam da caminhada e eu sentia que precisava de água, queria socar Marcos por me fazer caminhar aquela distância.
Estava em uma caverna, haviam desenhos nas paredes feitos com tinta extraída de plantas e frutos esmagados outros eram desenhos rupestres feitos com carvão e sangue de animal, pareciam antigos e muito similares aos dos homens das cavernas. Eram minimalistas, mostravam uma mulher, de longos cabelos pretos que usava uma armadura completa, seus traços me lembravam o de Monalisa, como se fossem feitos pelo mesmo artista. Me lembrava de uma série que eu costumava assistir quando mais nova Da Vinci's Demons, que contava a história de Leonardo da Vinci, aquilo me parecia com a cena dos primeiros episódios da série quando Leonardo ainda criança era atraído por uma caverna e entrava nela descobrindo seu "chamado" para ser um dos maiores gênios da história.
- Esta é Avalon. - Marcos sorri. Eu estava deslumbrada. A luz que batia no lago, formado pelas gotas de água que caíam das estalactites refletiam ali.
- Avalon é o nome desta caverna? - pergunto, enquanto adentravámos.
- Sim, era o nome de uma princesa celta que morreu para proteger o seu povo, esta caverna foi para homenageá - la. - Marcos explica. - Nossos ancestrais, os Angeli, os primeiros andrômedanos, fizeram estas gravuras, Avalon era reverenciada por eles por sua bravura, os primeiros andrômedanos eram anjos mas viviam na Terra de tempos em tempos. É óbvio que os humanos são incapazes de ver os anjos mas Avalon, de algum modo viu, seu pai, o Rei celta Kurkuzar II, achou que ela estava senil e a trancafiou na torre do castelo, quando ela estava prestes a cometer suicídio, uma das bruxas iniciais, que formou Andrômeda a trouxe para cá, para esta caverna, mas não havia muito o que ser feito, ela faleceu. - Marcos sorri e meu queixo cai, aterrorizada.
- Anjos? - pergunto. Tinha um breve conhecimento de latim para entender o que aquela palavra poderia significar.
- Quando Adão e Eva pecaram um terço dos anjos os ajudou, por terem desobedecido as ordens de Deus foram amaldiçoados, ficaram conhecidos como Nefilins, eram gigantes, metade anjos e metade homens - Marcos explica.
- Híbridos? - Pergunto.
- Sim, os Nefilins, do hebraico, aqui em Andromeda eles fazem a guarda das fronteiras, são conhecidos como Sentinelas, existem alguns arcanjos e serafins também, claro - Marcos explica - Nefilím, que significa desertores, caídos, derrubados - Marcos aponta para o desenho na parede - Deriva da forma causativa do verbo nafál ou nefal que significa cair,queda,derrubar,cortar. Traz uma ideia de dividido, falho, queda, perdido, mentiroso, desertor. - Marcos conta e sorri. - Literalmente os que fazem os outros cair ou mentir - observo a gravura. Eram imagens de anjos voando nos céus e alguns caindo.
Havia uma descrição abaixo da imagem de tinta óleo, na moldura vinha escrito: "são chamados de tiranos. Em aramaico Nephila designa a constelação de Orion, exatamente como o gigante e caçador da mitologia grega, que entre os hebreus era o anjo Shemhazai, conforme relatado no Livro de Enoque." - Leio atentamente e me viro para Marcos. Não tinha tanta consciência assim de trechos da Bíblia mas achava que Enoque se trataria de um livro bíblico. Era um livro apócrifo.
Marcos sorri.
- Enoque é um livro bíblico Janet mas não exatamente... Bem, onde eu estava? - Marcos coça a cabeça. - Ah sim, estava de explicando como Andromeda funciona, vamos agora para a divisão geográfica.
- Em Andromeda existem quatro divisões geográficas que correspondem a cada continente na Terra, Gahnim corresponde ao Continente Africano onde existem cinquenta e quatro países exatamente como os cinquenta e quatro países da África. - Marcos explica - o continente africano possui o maior número de países, seguido pela Ásia e pela Europa com um total de cinquenta países cada. - Marcos explica. - Cada país, como por exemplo Lesoto, um país do continente africano,aqui é conhecido por outro nome Adhar, têm a mesma extensão, ou seja, uma extensão territorial aproximada em mais de um bilhão quilômetros quadrados - Marcos ri e me entrega um mapa, sobreposto sobre um mapa mundi da Terra.
- E este? - aponto para o outro ponto do mapa.
- É Botsuana com uma extensão territorial aproximada em 581.730 quilômetros quadrados e assim por diante, cada país na Terra é um país aqui, mas as grandes divisões são conhecidas pelos pontos cardeais, sendo assim a República Centro-Africana, República do Congo, São Tomé e Príncipe, Argélia, o Egito, existem aqui. - Marcos aponta no mapa.
- Sabe tudo isso de cor? - pergunto sufocando um riso.
Ele levanta a tela do seu iPhone.
- Li na internet. - Marcos dá de ombros.
- Então os mesmos países que compõem o continente africano, Núbia, Marrocos, Sudão, Sudão do Sul, Tunísia, Benim, Burkina Faso, Quênia, Somália... todos eles existem aqui?
- Sim. - Marcos responde. Observo um quadro gigantesco em tinta óleo na parede oposta a que estávamos. Observo a pintura, pareciam anjos. Era um quadro realista demais. - Sabe mesmo o nome de todos os países do continente africano?
- Não. - nego com a cabeça, ainda observando o quadro. - li na internet.
Eu chutaria se tratar de um quadro renascentista. Àquela altura eu não duvidava de nada. Na transcrição abaixo estava escrito: Nefilins, Leonardo da Vinci, 1543.
Leonardo da Vinci?
Eu sabia o que eram Nefilins. A Bíblia faz menção aos Nefilins como "anjos caídos", "espíritos impuros" ou "demônios", e no tal apócrifo Livro de Enoque como "vigilantes", sendo em ambos os tais anjos que copularam com as filhas dos homens e engendraram esta raça híbrida dos gigantes. Mas jamais encontrei relatos de pinturas de Leonardo da Vinci sobre eles.
- Marcos ? - o chamo apontando para a figura. Marcos trazia consigo um livro puído e me entrega com um sorriso, estava aberto em uma pagina que mostrava uma biografia sobre a angeologia, o estudo dos anjos. O safado estava colando. Leio a página que ele marcava.
Nefilim é o grupo de Elohim que se rebelaram adquirindo o epíteto que corretamente significa: Os Deuses desertores. Deuses desertores?
- Como pode haver pinturas de Leonardo da Vinci aqui? - pergunto para Marcos.
- Bem, o pintor renascentista foi um dos gênios que descobriu Andrômeda, poucos sabem mas Da Vinci era um alquimista. - Marcos explica.
- Alquimista? - pergunto.
- Sim, Janet, como acha que Andrômeda funciona? Ela existe porque foi formada pelo Big Bang mas como acha que a magia daqui funciona? Magia é ciência Janet, a alquimia é isso, é explicar o inexplicável, a física e a química também podem ser Magia Negra ou Magia Branca. - Marcos explica. Ignoro aquela informação, eu tinha muitas perguntas.
- Então os gigantes são o resultado de uma união entre duas espécies, seres que foram alterados geneticamente devido a compatibilidade entre as mulheres humanas e os Nefelins - olho para Marcos. - Se eles existem aqui, porque são Sentinelas?
- Bem, os Nefilins são apresentados como seres híbridos originados da relação entre anjos e humanos. Há 600 anos formaram uma aliança com o alquimista Pieter Van Eckhardt, a partir da qual o mesmo ganharia a imortalidade ao trazer a raça de volta à existência no século XXI. - Marcos explica.
- Isso é Magia mas também é ciência Janet. Se eu for te explicar tenho que te mostrar que até mesmo na Terra a sua ilusão de ciência é falsa, o Big Bang nada mais é do que um efeito de um feitiço, conhece as lendas da tribo Bakairi? - Marcos me pergunta e eu me lembro de algo muito importante, no fundo da minha memória, uma lembrança infantil.
- Minha avó... Ela é descendente de índios, a tribo Bakairi é de onde advém meu sobrenome Baker.- explico para Marcos e ele sorri.
Marcos parecia saber muito sobre mim e eu não fazia ideia de como. Não queria saber, se eu pensasse muito sobre aquele assunto meu cérebro explodiria. Já estava ficando tarde e tínhamos passado o dia todo conversando.
Tinha consciência de que minha avó, Maria, era descendente de uma tribo de índios brasileira os Bakairi, de onde vinha o meu sobrenome Baker, sabia que ela era uma professora de português aposentada que sempre exigia de mim um dez no boletim.
Mas eu não fazia a menor ideia de que minha avó era uma bruxa.
A tribo Bakairi era de uma cultura miscigenada, um povo que acreditava no Sol e na Lua como divindades, afastados da sociedade e da civilização mas também era um povo mágico onde o Cacique podia ser mulher e a magia era visível.
Essa ascendência fez nascer um grupo de bruxas e feiticeiras no histórico da família - apesar de, na minha geração a maioria era majoritariamente cristã. Ainda havia nossa ascendência neo pagã que sempre esquecíamos nas festas de fim de ano em família. Minha avó era uma Bruxa Branca - uma feiticeira que só realizava Magia Branca, a força oposta a Magia Negra e a Feitiçaria.
Era muita informação para processar ao mesmo tempo.
Levanto da cama no dia seguinte com um salto, batendo os pés descalços no piso de mármore branco. Tinha muito trabalho há ser feito.
Quando Willow aparece eu já estava prontamente arrumada. Pisco para ela e a garota de cabelos rosa sorri para mim. Infelizmente o closet de uma rainha em Andrômeda só tinha vestidos, converso com Willow e ela me informa que haviam costureiras oficiais apenas para a Rainha, as Shivas, exatamente como o deus indiano.
Logo um conjunto de calças jeans e blusas sociais, jaquetas e calças de couro estavam no meu armário, vestidos mais modernos e roupas mais naturais. A roca de costurar era mágica, por conta disso elas conseguiam fazer o que imaginassem, Willow me explicou.
- Bem, senhora. Já que fez meu trabalho por mim. Gostaria de me acompanhar para o café da manhã? - Willow Ramstone me pergunta, me dando um soquinho no ombro.
- Claro, vossa excelência. - debocho e saímos rindo do Quarto da Rainha. Willow cumprimenta outros funcionários do castelo no caminho e um deles, um rapaz jovem de uniforme, cabelos loiros escuros e olhos castanhos, com uma cicatriz no olho esquerdo lhe entrega um monte de papéis e livros, eram relatórios.
- Ainda não consigo acreditar que tudo isso é real. - suspiro, acompanhando Willow pelos corredores. Ela lia os papéis, franzindo o cenho.
- Espere até conhecer o seu povo. - Willow ri tentando desviar o assunto da papelada. - Acho que Quíron vai ser o que mais vai te surpreender.
- Quíron, tipo o Quíron da mitologia grega? O centauro que treinou Jasão? - pergunto, realmente eu não estava lúcida.
- Sim, monstros e deuses são reais aqui, assim como são reais na Terra, eles exercem influencia em Andrômeda. - Willow Ramstone ri e seus cabelos rosa claros balançam ao vento. Observo que suas orelhas eram levemente pontiagudas como as de um duende.
Estranho. Nada era como eu imaginava.
- Willow, o que exatamente são os espíritos? - pergunto a ela. Willow parece estremecer e suspira começando três frases diferentes antes de realmente dizer algo.
- Os Espíritos são Filhos do Caos, a entidade mais poderosa a preencher o Universo. - Willow explica.
Me lembro das lendas da tribo Bakairi, onde os índios mais antigos reverenciavam a Terra e o Ar e diziam que os deuses entravam em seres humanos para realizar suas vontades e desejos. Haviam muitas bruxas entre os Bakairi, elas reverenciavam a natureza e o paganismo, acreditavam nisso. De repente, as lendas da vovó pareciam fazer sentido.
- Entidade? - questiono, curiosa. Willow se levanta e desparece pelo corredor aparecendo em seguida com um livro.
- Antes mesmo dos deuses e dos homens existirem, um único Deus preenchia o Universo e o Cosmos - Willow suspira, desconfortável. - seu nome era Caos. Ele foi pouco representado na própria mitologia grega porque tanto os gregos e os romanos tinham receio em mencioná-lo. As lendas e mitos apontam que o Caos morreu, ele gerou seus filhos por mitose e deles chegou a Nix, Tártaro, Ebero, Ponto, Urano e Gaia. - Willow aponta para as gravuras do livro.
Uma mulher de cabelos castanhos aparece, seus olhos eram cinzas como um dia de chuva. Ela usava uma blusa social rosa e calças jeans que combinavam com seu all star, seus olhos de um cinza céu fixaram - se em mim e a vem em minha direção. Pela sua postura sempre ereta e em alarme eu diria que ela poderia ser uma policial ou uma advogada.
- De Urano e Gaia nasceram os Titãs, esta é a parte conhecida na mitologia porém o que poucos sabem é que eles não foram os únicos filhos do Caos. O deus - território gerou uma estirpe inicial antes de morrer ou desaparecer no próprio Cosmos, eles são conhecidos em Andrômeda como Espíritos porque são seres sem corpo, alma ou forma física que encarnam em seres humanos de tempos em tempos. - a mulher explica e Marcos reaparece no quarto interrompendo a conversa.
- Só que esses humanos somos nós. - Marcos explica. - Olá, Minerva. - ele se curva para a deusa ao meu lado.
- Como? - pergunto assombrada, eu não tinha mais estômago para sentir medo, pânico ou surpresa depois de tudo o que aconteceu nos últimos dias. Olho para a deusa ao meu lado e ela sorri.
- Janet Baker, você já tem as respostas que precisa. - a deusa da sabedoria diz, ficando de pé, ela desaparece em uma explosão, deixando um livro no banco onde estávamos.
- Nós somos Hospedeiros Janet, eu, você... E outros... Tenho pesquisado sobre eles há anos na tentativa de encontrá-los. - Marcos explica. -você foi escolhida desde a infância quando era bebê, eu também fui.
- O que você representa? Quem são esses outros? - pergunto.
- Eu sou Areté, o Espírito da Bondade. E os outros Filhos do Caos viram logo. - Marcos sorri como se guardasse grandes segredos.
Certo, fazia sentido Marcos ser a Bondade, mas se ele era a bondade o que eu seria? Quem seriam esses outros Espíritos? Se cada Espírito representa um sentimento ou uma ação humana ou uma força da natureza, eles seriam bons? ou ruins?
Naquele mesmo dia envio uma carta para Quíron, o centauro e ele me responde, aparecendo no Castelo das Luzes logo em seguida.
Marcos o cumprimenta como se fosse um amigo de longa data.
- Majestade. - Quíron faz uma reverência e Marcos cochicha algo para ele. Marcos o escuta.
Quíron galopa em direção aos jardins e segue para um dos aposentos reais. Trazia consigo um conjunto de livros e as mulheres ao seu lado, pelas roupas eu imaginava se tratar de serviçais do Castelo das Luzes, traziam mais pilhas e pilhas de livros.
Quíron sorri e logo percebo que perderia minha semana lendo todos aqueles livros.
Pelas manhãs eu era treinada em esgrima e lutas corporais. Marcos convocara professores de karatê, jui jitsu e muai thai, para que eu ficasse forte caso enfrentássemos alguma batalha pelo caminho, a tarde tinha aulas de etiqueta com Hyla, uma das filhas de Hécate, a deusa grega da magia.
Willow sempre me buscava a noite quando a lua ficasse no ponto mais alto do céu, ela me mostrava como a Terra estava, aparentemente ninguém tinha percebido que eu estava ausente por dias.
O tempo e o espaço não funcionava da mesma maneira. Então ninguém notaria - Marcos explicou.
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