🌙 1.2. Cemitério Maldito
Janet
Ainda sexta-feira, 13 de julho.
Barueri, São Paulo.
Eu estava acostumada a uma ou outra experiência esquisita, mas normalmente elas passavam depressa. Mas ter o mesmo pesadelo com mesma mulher estava acabando com os meus neurônios — e as minhas aspirinas. Eu era Janet Baker, uma mulher de vinte e cinco anos que se escondia do mundo. Escondia ser uma roteirista aclamada, onde ninguém a reconhecia por detrás de uma capa — seu uniforme de serviço que impedia qualquer um, desde paparazzis a outros profissionais de me reconhecer.
Aquela alucinação 24 horas por dia e sete dias por semana era mais do que podia encarar. Durante o resto do dia o mundo inteiro parecia me pregando algum tipo de peça. Malcolm e Willow agiam como se estivessem completa e totalmente convencidos de que Camille, a mulher dos meus pesadelos — uma morena alegre que eu mal tinha visto duas vezes na vida até o momento não era a mesma pessoa com a qual eu estivera sonhando nas últimas semanas — no álbum de fotos deixava claro que ela era aluna do colégio particular onde eu estudara no Fundamental desde o a sexta série.
De vez em quando eu soltava uma referência à Camille para um dos dois, só para ver se conseguia fazê-los titubear, mas eles me olhavam como se eu fosse louca.
Acabei quase acreditando neles: Camille nunca tinha existido, nem mesmo no colégio.
Quase.
Mas Malcolm não conseguiu me enganar. Quando eu mencionava o nome Allerano ele hesitava, depois
alegava que ela não existia. Mas eu sabia que ele estava mentindo.Alguma coisa estava acontecendo. Alguma coisa havia acontecido além do meu pesadelo.
Eu não tinha muito tempo para pensar no assunto durante o dia, mas, à noite, visões de Camille com a jugular sendo cortada por uma faca me faziam acordar suando frio.
O tempo maluco continuou, o que não ajudava meu humor. Certa noite, uma tempestade de raios arrebentou a janela do meu quarto. Alguns dias depois, o maior temporal jamais visto em Barueri quase alagou toda São Paulo a apenas trinta quilômetros do meu prédio. Um dos eventos correntes que pa era o número inusitado de pequenos aviões que caíram em súbitos vendavais no Atlântico naquele ano.
Comecei a me sentir mal-humorada e irritada a maior parte do tempo. Não conseguia me dedicar completamente aos meus roteiros e o meu escritório de trabalho parecia estar me causando alergia.
E no entanto estava com saudades de Jacob, pensei em enviar uma mensagem por WhatsApp.
Naquela noite tive outro pesadelo com Camille. Eu conseguia escutar os passos da mulher antes de virar no beco da rua principal com clareza, mesmo se tratando de um sonho. Ela saía de uma cafeteria famosa, em São Paulo, cinco quadras de distância do meu apartamento.
Conhecia o Balder's Café apenas pelo seu nome. Eles vendiam expressos em canecas personalizadas com personagens de Star Wars, lembro de passar e olhar pela vitrine, mas nunca tivera tempo de entrar.
Seu salto agulha Vizanno preto batia contra o solo apressadamente, podia ver claramente seu cordão pendurado no pescoço com um corvo de prata e minúsculos olhos de rubi, vermelhos. Escutava sua respiração pesada, com medo, enquanto seu perseguidor andava calmamente, empunhando uma faca em uma das mãos, como se tivesse todo o tempo do mundo.
A mulher me era estranhamente familiar, tinha cabelos negros que desciam como cascatas pelos ombros, mas não conseguia me lembrar dela. Tão pouco sabia porque estava sonhando com ela.
Pude ouvir seu último grito e o corte em sua garganta que finalmente a calou para sempre enquanto eu era uma mera telespectadora daquela cena horrenda, me aproximo de seu corpo e observo a mancha em sua camisa, o assassino parecia ter fugido antes que eu chegasse ao local.
O assassino deixou um aviso que eu jamais esqueceria, era quase como de ele soubesse que eu estava ali, observando. Um número escrito com sangue na camisa da vítima, como se soubesse que eu estava observando em meu sonho incapaz de fazer algo além de me mover como um fantasma e olhar a tudo em terceira pessoa, ninguém podia me ouvir ou me ver.
Foi apenas um número que mudaria a minha vida para sempre: 12.
Tinha sido apenas um sonho, mais um pesadelo e se fazia mais de dez anos que eu não tinha um. E um pesadelo em uma típica sexta - feira treze era sempre um mau agouro.
Acordo gritando e pingando de suor. Eu realmente não devia ter lido Stephen King na noite anterior.
O som do telefone tocava longe, alguém estava me ligando. Salto da cama, me libertando daquela prisão de pesadelos, certa de que aquele número era algum tipo de aviso, a palavra parecia presa na minha língua, intuitivamente: contagem. Aquele número... Aquela morte no meu sonho... Eu tinha a sensação de que era uma contagem regressiva? Para o quê?
Talvez eu só devesse jogar no Bicho.
Eu era uma mulher que tinha pesadelos desde adolescente, aquele se tratava de mais um. Resolvo pegar o bloquinho de anotações na gaveta da cabeceira ao lado da cama e anotar, como sempre fazia. O livro preto com letras douradas de capa dura depositado no fundo da gaveta parecia me chamar.
Outro pesadelo. Recorrente. Viro a página para relembrar a nota anterior, faziam - se exatos treze anos que eu não escrevia nada alí. Pensando sobre o assunto, faziam - se treze anos que eu não tinha um pesadelo. Pego o segundo livro na gaveta, os escritos que continham ali estavam manchados, não se tratava exatamente de um livro, estava mais para um caderno antigo em brochura com páginas brancas e muitas preenchidas.
Era um presente da minha avó do meu aniversário de treze anos, um livro de feitiços. Um segredo que apenas ela e eu sabíamos: éramos bruxas brancas, Wiccas que só realizavam magia autruista e benigna. Uma religião neopagã e iniciática, que cultuava e reverenciava a natureza e a Lua. Dividindo - se em Magia Branca e Magia Negra.
Minha cabeça latejava, esbarro em uma garrafa de cerveja enquanto me levantava da cama, tinha bebido algumas doses na noite anterior - o álcool era o motivo para eu ter tido pesadelos, eu supunha, fecho o livro e o abandono na gaveta novamente, não acreditava naquelas bobagens. Um som ao fundo era o que tinha me acordado, o toque de um telefone fixo baixinho.
Eu sou Janet Baker, uma roteirista de vinte e cinco anos, que trabalha para BBC Brasil e faz inúmeros filmes e roteiros para a Paramount Pictures, uma das maiores indústrias cinematográficas do mundo e uma das poucas que tinham sedes em outros países, como o Brasil, e esse foi o dia em que a minha vida começou a descer ladeira abaixo.
Meu telefone fixo jurássico ficava na cozinha, em uma Era onde tudo era resolvido apenas com um toque do celular e graças ao WhatsApp e aos e - mails, o telefone tinha se tornado completamente obsoleto mas havia sido uma exigência da minha mãe, um presente de quando me mudei para São Paulo, sozinha, com uma proposta de emprego e apenas trezentos reais no bolso, uma passagem só de ida na classe econômica do ônibus interestadual e um Trident no bolso de trás do jeans rasgado — e algo que Malcolm Pace, meu chefe na Paramount agradeceu de joelhos, já que eu era famosa por não atender a ligações no celular.
Malcolm havia se tornado um homem de quase dois metros de altura, pele morena em tom de café torrado e olhos amendoados como ouro derretido. Deixá-lo irritado era algo raro mas perigoso e era algo que eu fazia com frequência, não propositalmente, claro. Eu culpo o Exército Brasileiro e a ABIN por terem tornado dele uma máquina de matar ambulante. Malcolm era um dos meus melhores amigos, era o cara chato que cuidava de mim como um irmão mais velho que meus pais nunca me deram nem mesmo depois do divórcio. Aos tropeços caminho pelo corredor, encontro meus vasos de areia e pedras energizadas, feitiços que serviam para equilíbrio do chakara, coisas que havia aprendido com a minha avó há muitos anos atrás e por força do hábito, ainda usava.
Fora Malcolm Pace que criara o meu pseudônimo Lady Merged assim que me formei em Cinema e Audiovisual na USP. Era graças a ele que havia me mudado para São Paulo para fazer faculdade e seguir os meus sonhos, finalmente viver a minha vida após tantos anos presa a minha mãe e ao meu passado.
Caminho pelo corredor que dava para as portas dos quartos do meu loft, cambaleante, para atendê-lo e quando finalmente chego até a sala. O maldito telefone do inferno continuava tocando, bocejo e resolvo ligar a cafeteira no meio do caminho na cozinha sem me importar com o som do toque, volto para a sala e ligo a televisão. Seja lá quem fosse, era uma pessoa muito insistente e realmente queria falar comigo.
Aquela semana estava mesmo exaustiva, haviam mais projetos a serem completados e eu estava cansada. Mal terminara o roteiro principal de Ashten, uma história de uma princesa indiana que é raptada por militares. Os produtores estavam pressionando para que eu entregasse logo o meu trabalho, sabendo que certamente seria sucesso nas bilheterias de todas as salas de cinema.
- Alô? - atendo com uma mão, tirando - o do gancho enquanto pegava com a mão disponível uma xícara de café preto e forte, fumegante, da cafeteira e assoprava, para beber e me livrar da ressaca, coloco a xícara em cima de uma mesinha e pego o controle remoto ligando a TV.
A TV estava desconectada do sistema de TV a cabo e tudo o que era transmitido era um chiado. É exatamente por isso que eu às vezes odiava a tecnologia, coisas tão frágeis que podiam me irritar com facilidade. Por que ninguém criava um controle universal inquebrável que desse para se localizar? Ou uma TV que nunca se desconectasse do aparelho de canais fechados?
Merda. Eu devo ter pisado no controle de desconectado a TV sem querer na noite anterior, fazia isso sempre.
Caçando o controle da TV a cabo, ela continuava a chiar. Talvez Héstia, a bondosa deusa grega do lar, devesse me estapear pela minha falta de organização. Realmente, eu deveria pedir por ajuda de algum programa especializado em organização de ambientes do Discovery Home & Healthy.
Troco de canal rapidamente. Estava no 665 e nada passava ali além de programações sobre gados e fazendas.
- você... - troco de canal rápido demais apertando os botões de modo que conseguia escutar uma frase desconectada até chegar aonde queria.
- está...- o próximo canal passa.
- em perigo! Corra, Mr.Bean! - paro no Telecine, estranho. Aperto os botões do controle novamente, procurando o jornalismo.
A BBC News transmitia o jornal matinal naquele instante, o repórter apresentava uma matéria sobre uma série de assassinatos em São Paulo que estavam chamando a atenção das autoridades.
Treze mortes em um prazo curto de dias apenas em São Paulo, uma série de atentados terroristas na Europa e em seguida a repórter apresenta as outras informações daquele dia, uma nova e desconhecida doença se instalava na China e já alcançava a Itália. Me remetia a Peste Negra, seus sintomas ainda eram desconhecidos mas já era comentado o termo epidemia.
Estremeço com o pensamento. Eu não precisava de material atual para meus roteiros.
Os médicos diziam nos principais jornais que não era motivo para pânico. Abaixo o volume da TV e atendo o telefone.
Estava tão desacostumada em usar o telefone fixo que não me lembrava mais como ele funcionava, passei minutos tentando entender porque não escutava a pessoa do outro lado da linha até notar que estava segurando o telefone pelo lado errado. Não havia voz alguma ou sequer ruído do outro lado da linha, resolvo continuar ali para rastrear quem fosse o infeliz que gostava de tentar me dar um trote tão cedo. Desligo o telefone e ele toca novamente.
Silêncio. Ninguém falava nada do outro lado da linha. Bufo, só podia ser um trote. E quem fazia isso hoje em dia?
Pesco o celular do bolso que vibrava e não parava de tocar com a mão disponível, observo minhas próprias roupas, eu estava de pijamas: uma blusa preta do AC/DC e uma calça de moletom com emblemas de super heróis da Marvel e meu cabelo provavelmente estava horrível. Encaro a mulher no reflexo da tela do celular, meus cabelos castanho escuros pareciam um ninho de pássaros, presos em um elástico, meu rosto pálido parecia precisar de sol e meus olhos castanhos estavam marcados por olheiras.
As mensagens brilhavam na tela, alguns deles eram de dublês me enviando fotos pelo WhatsApp, Paolo... Ou seria Paulo? Eu nunca gravava o nome deles.
Senhora, assim está bom para a cena? Em seguida havia uma foto de seu membro, ejaculando. Mordisco o lábio inferior, pensando algumas vezes se seria válido xingá - lo e demití- lo ou não por uma simples fotos de alguns centímetros de anatomia humana.
Minha mente vagueia até meus momentos com ele. Não valiam a pena, um orgasmo de apenas dez segundos não me pareciam dignos de replay. E além do mais agora eu não precisava mais dele para obter sexo, já tinha Jake. Eu podia ter o homem que quisesse, como e quando quisesse, e para mim, sexo era algo que devia ser verdadeiramente apreciado, desde que tivesse consenso, segurança, sanidade e respeito, tudo era válido. Eu estava acostumada a estar sempre no controle de tudo em todos os âmbitos da minha vida, inclusive o amoroso e o sexual. Tinha quem eu quisesse, quando e como eu quisesse, e dublês estúpidos já não me satisfaziam mais, a monotonia de seus diálogos vazios e bajulações para conseguir um emprego me davam enjôo.
- Janet? Janet Baker? - uma voz masculina me chama do outro lado da linha me tirando de minhas distrações, finalmente o infeliz que estava me irritando resolve ter a decência de se apresentar e decido apenas mandar um emoji de observação para Paolo. Eu já havia lhe dado uma resposta de emprego e para ser sincera, ele era apenas um homem com um pênis de treze centímetros que se achava um deus do sexo mas no meu caderninho ele só havia recebido duas estrelas e meia de um total de cinco. Eu não tolerava o desrespeito.
Acesso outra notificação do WhatsApp, mesmo sabendo que não teria tempo - nem paciência - de ler todas. Kayra, a assessora da revista Capricho, me envia um contrato em PDF sobre uma provável parceria, mas eu me sentia confusa em mudar de área e sair dos roteiros para as revistas adolescentes. Ainda assim seria uma excelente oportunidade, outras mensagens brilhavam na tela, algumas empresas de marcas de roupas e alimentos que queriam contratos para que eu dirigisse seus comerciais para a televisão.
Marcos parecia ansioso, quase havia me esquecido de que ainda estava falando com ele pelo telefone fixo enquanto meus dedos deslizavam pela tela do celular. Sua voz era grave e ele esperava pacientemente que eu falasse com ele, um frio na espinha percorre pelo meu corpo.
Guardo o celular no bolso da calça de moletom e mudo de ideia o pescando novamente e buscando pelo contato de Willow enquanto Marcos começava três frases diferentes antes de começar a me explicar como ele tinha meu número.
Ninguém tinha meu número de contato, principalmente o meu número de telefone fixo. Dígito uma mensagem pelo WhatsApp para Willow em busca de explicações, ela era minha assistente pessoal, cuidava de toda a minha agenda e contatos, assim que percebo que ela também não sabia ao certo de quem se tratava, pedi para que ela fizesse uma investigação rápida.
Ao fundo o jornal matinal ainda falava as notícias locais de São Paulo e os arredores. Eu o assistia desde meus doze anos, mas meu cérebro, por mais que eu tentasse, não conseguia assimilar tantas informações ao mesmo tempo assim. Um dos benefícios de ter uma assistente pessoal que era ex - agente da ABIN era ter informações rápidas até mesmo da CIA, logo Willow me envia o que eu precisava saber.
- sei que não deve ser lembrar de mim, eu sou Marcos Felipe. - ele pausa e pigarreia, aparentemente constrangido. - Marcos Felipe Nunes Spoenbelch, estudei contigo no CNZ, era da turma da sua prima, Nathália Helena. Desculpe - me mas Willow Ramstone me passou seu número privado - ele parecia cansado e arrependido. Em outras circunstâncias eu teria arrancado a cabeça de Willow mas a voz de Marcos me parecia tão desesperada que entendia o motivo para Willow ter se penalizado dele a ponto de entregar meu contato mesmo sabendo das consequências.
- Sim, claro que me lembro de você Marcos - respondo, era mentira, eu não lembrava dele mas a investigação de Willow era eficaz, dou um gole no café enquanto o PDF que Willow me enviou estava carregando.
Era uma ficha básica, com o nome completo de Marcos, seus pais, sua profissão, sua formação acadêmica, os países na qual viajou, ficha criminal e algumas outras informações, sua namorada morava em um apartamento financiado em um prédio próximo ao meu, no Edifício Valhala. Tudo o que se era comprado, consumido, pesquisado ou sequer pensado no país era registrado na Receita Federal e, por conta disso, era material confidencial que a ABIN podia ter acesso.
Vejo pela sua ficha escolar que ele realmente tinha estudado comigo, sua família era dona de uma multinacional que agregava várias empresas menores, principalmente de bebidas alcoólicas, seu sobrenome Spoenbelch, era dono de grandes marcas como a Budweiser e a Stella Artois. Foi na sexta série do Ensino Fundamental em que o conheci, ele usava um corte estilo Justin Bieber e tinha cabelos loiros e olhos azuis tão claros que me davam vertigens.
- Que bom que se lembra. - ele fala, fungando. Cada um se iludia como podia.
Noto pela sua voz que ele estava chorando pouco antes de me ligar, Nathália Helena, minha prima, tinha sido loucamente apaixonada por ele naquele período e eu tinha visto Camille Ramirez Allerano poucas vezes na minha vida.
— Bem, eu consegui seu contato com Willow Ramstone e Malcolm Pace, eles me disseram que poderia te ligar, eu estou ligando porque Camille... —ele pausa e funga novamente, começando a chorar, eu ainda lia suas fichas do extenso material que Willow me enviou, seus pais haviam morrido em um acidente de carro e ele herdara uma empresa. — Ela foi assassinada.
Meu coração pára algumas batidas.
— Marcos, está tudo bem? — aquela provavelmente era a pergunta mais estúpida a se fazer para um homem que acabou de perder o amor da vida dele, a mulher com quem ele iria se casar e ter uma família, mas eu tinha medo que ele se matasse de tanto chorar.
Espero alguns minutos na linha até que ele se recompõe e abaixo o volume da televisão. Marcos acaba contando que tinha desmaiado quando recebeu a notícia e como Camille tinha poucos parentes no Brasil, ele estava ajudando a mãe dela, Sharon a avisar os parentes e amigos.
Acabo notando que a entrevista do jornal agora falava justamente sobre o caso de Camille, os peritos já tinham entrado na residência e inspecionavam o local mas não fora encontrada digital, segundo o repórter o caso estava conhecido pela mídia como Viúva Negra, porque inicialmente a polícia cívil pensou se tratar de uma mulher em busca de vingança contra seu ex marido e essa hipótese ainda não havia sido completamente descartada. Observo, um pouco tarde demais que segundo os médicos legistas e a perícia, Camille havia sido assassinada no exato momento em que eu sonhava com ela.
Eu não sabia ainda, mas o caso Viúva Negra ganhava repercussão na mídia. Alice Balbin, médica legista da Delegacia de Los Angeles vinha para o Brasil de avião e chegava naquele exato instante no Aeroporto de Congonhas, fretado a mando do próprio Ministro de Segurança por ordem da CIA, ela tinha de investigar se os rumores eram corretos. O caso Viúva Negra se trataria realmente de um caso isolado em São Paulo ou de um novo serial killer?
- Me desculpe, eu... Só sinto falta dela. - Marcos funga. - enfim, o enterro será realizado amanhã às nove horas da manhã. Eu queria... Queria saber quem iria, quem iria estar lá por ela.
- Sim, entendo. - sussurro para ele.
- Gostaria de saber se você iria. Chamei todos os ex - alunos do CNZ. Haverá um culto fúnebre amanhã antes do corpo ser velado e enterrado. -Marcos me explica rapidamente.
- Claro, prestarei minhas condolências à família e darei meus sinceros pêsames -respondo.
- obrigado! Te passo o endereço então. Será no Cemitério da Paz, na Avenida Salim Maluf número 397, próximo ao... - ele logo diz, me mandando um atalho do Google Maps pelo celular já que eu lhe explico que não tinha caneta e papel por perto.
- Não, olha eu conheço muito mal São Paulo apesar dos anos em que trabalho aqui, não vou conseguir chegar no cemitério através do GPS, infelizmente. Será que você poderia por favor me levar até lá? - pergunto, mordendo a cutícula do polegar.
- Sim, claro. - ele piguarreia. - te busco às oito em ponto, okay?
- okay. - respondo e desligo.
Desabo no sofá, colocando aos mãos na cabeça.
O que estava acontecendo com a minha vida? E aquele pesadelo? Por quê tinha a estranha sensação de que tudo aquilo me era muito familiar. Encaro a TV, bom eu teria um enterro para comparecer na minha agenda.
E um dia nada produtivo até amanhã, pelo menos eu descansaria e teria forças para encarar um cemitério.
Estremeço com as lembranças ruins anteriores em cemitérios.
Em algum momento daquele dia entre baldes de pipoca e sessões de filmes na Netflix acabo pegando no sono. Eu tinha assistido A Garota do Trem, O Diário da Princesa, Cemitério Maldito e O Menino do Pijama Listrado.
Quem liga? Netflix é vida.
Eu literalmente tinha dormido mais de doze horas e aquilo era assustador, acho que estava ficando doente. Mas era um descanso merecido.
Mensagens brilhavam na tela do meu celular enquanto eu bocejava e desligava a TV, observo o relógio na tela de bloqueio. Pelo WhatsApp Rodiney me perguntava se iria furar com ele no domingo, seria a abertura de uma boate.
Resolvo ignorar meu melhor amigo. Não achava que uma boate com mulheres seminuas fazendo streaptease ou gogoboys fosse algo que iria melhorar os meus ânimos.
Eram 07:35 da manhã. Arregalo os olhos.
Puta merda eu estava muito atrasada.
Correndo para o banheiro, envio algumas mensagens para Willow perguntando sobre o andamento dos roteiros que havia enviado para a Fox Filmes. Willow me oferece uma sugestão de vestido, um preto com babados em crochê e sapatos de salto agulha Vizanno da mesma cor. Rodiney resolve não digitar mais nenhuma mensagem, eu sabia o que ele estava pensando.
Ele deveria estar me xingando e lembrando que faziam - se dois meses que eu não ia ao Mistress Alexia me divertir com nenhum de seus garotos e garotas de programa.
Assim que termino de me vestir uma mensagem de Marcos brilha na tela do meu celular indicando que ele estava no saguão do prédio me esperando. Salvo seu número no WhatsApp para que assim eu não me assustasse mais com aquela cabeleira loira.
Desço pelo elevador e me pergunto porquê a trilha sonora dele era Supremassive do Muse. Talvez, uma piada interna de um dos construtores do prédio? A letra dizia sobre um ato supremo e uma queda, eu esperava que não fosse a queda do prédio.
Marcos me esperava, encostado no seu carro, de braços cruzados. Usava um óculos de sol Rayban e uma jaqueta de couro preta por cima de uma blusa pólo branca e calças jeans surradas também pretas que combinavam com seu sapato social. Ele me observou e sorriu de um modo sacana abrindo a porta do carro para mim, como um exímio cavalheiro.
— Olá, Janet Baker! — sua voz impessoal parecia ter uma certa grama de sarcasmo. Ele precisava dizer o meu sobrenome em voz alta?
Todo mundo que me conhecia a mais de sete segundos sabia que eu odiava minha família com todas as minhas forças.
Marcos sorri para mim. Seu cabelo loiro claro era grande e chegava a altura dos ombros, pareciam fios de ouro reluzindo ao sol, ele levantou o óculos e o prendeu no topo da cabeça.
— Bom dia, Marcos! — pisco para ele e entro no carro. Seus olhos azuis deveriam ser considerados pornográficos de tão sexys.
Ele gira a chave de ignição assim que entra pelo lado do motorista e pisa fundo no acelerador cantando na pista. Marcos pega um atalho e dirige em alta velocidade, pegando a interestadual.
Quem ele pensava que era? Aírton Senna?
— Por quê está pegando esse caminho? — pergunto enquanto ele freia bruscamente, atrás de um caminhão. Estremeço pelo frio do ar condicionado.
— Para ganhar tempo, não gosto de me atrasar. — ele troca a marcha.
Estico meus dedos para regular o ar. Eu não iria morrer de frio só porque um babaca que quis me dar carona gostava de brincar de ser um picolé.
A ponta de seus dedos tocam os meus, acho que ele também estaria com frio. Levo um susto pelo brusco choque térmico, ele era quente como o sol.
Afasto minha mão incomodada pela ardência do calor que emanava de seu corpo e ele piguarreia, ligando a seta para estacionar.
Finalmente chegamos a rua Salim Maluf, endereço do Cemitério da Paz.
Assim que saímos do carro, notamos uma mulher parada na porta do local, acompanhada por um homem alto. Ambos pareciam ter seus mais de cinquenta anos, a mulher tinha seus cabelos castanhos modelados em cachos e em mechas brancas naturais, resultado de sua idade. Seus olhos castanho esverdeados não tinham mais vida e ela aparentava ter uma clara ascendência italiana, seu corpo era esbelto e contrastava bem com seu vestido preto e justo.
Era Sharon Allerano, mãe de Camille. Ao seu lado estava Isaac Ramirez usando um paletó cinza, marido dela e pai de Camille Ramirez Allerano. Isaac tinha cabelos pretos e um rosto endurecido pela vida, uma barba espessa muito bem aparada dando a ele um aspecto similar a de um mafioso italiano. Sharon era empresária, dona de uma rede de lojas de cosméticos e produtos de beleza por todo o país e Isaac era bancário.
Não, não era todo mundo rico naquela escola. Eu mesma, não era. Meu pai era dono de uma microempresa, nós contávamos moedinhas para comprar pão, ele só se tornou relativamente rico depois do divórcio.
Será que eles eram mesmo mafiosos? Eu sempre tive aquela curiosidade quando estudava com Camille no CNZ, as crianças costumavam pensar que por eles serem descendentes de italianos faziam parte da máfia italiana.
Caminhamos em direção a capela onde o corpo de Camille jazia no caixão, esperando a cerimônia em sua despedida em uma tenda. O pastor Elion da Igreja Evangélica do Nazareno em São Paulo estava em seu posto com uma bíblia na mão.
- Um falecimento é um acontecimento muito triste, que nos obriga a refletir sobre o pouco tempo de nossas vidas. Ninguém consegue fugir da morte. Mas a morte não precisa ser o fim. - Elion começa o culto fúnebre. Meus olhos observam as coisas ao meu redor, tentava me distrair. O cheiro das rosas e das coroas de flores me davam enjôo e meu café matinal havia sido escasso e minha mente fértil ficava me lembrando de filmes de terror que começavam em cemitérios.
Me lembrava de Cemitério Maldito, um filme de terror barato onde um cemitério indígena para animais revivia os mortos que eram enterrados nele. Uma garotinha resolve enterrar o gato da família na porcaria do cemitério para tê-lo de volta e bum! O gato volta dos mortos.
Eu esperava que aquele não fosse o caso daquele cemitério.
Lá fora uma mulher usando um casaco vermelho com capuz se destacava das outras que geralmente vestiam preto. Ela colocava uma única e solitária rosa negra em cima de uma lápide. Seu cabelo era castanho e tinha mechas californianas naturais, tons de loiro, ruivo e castanho claro contrastavam com o castanho médio predominante.
Ela abaixou o capuz e eu ofeguei um grito. Tinha uma feição angelical mas aquela distância não podia identificar muitos detalhes em seu rosto. A mulher me era estranhamente familiar, como se fosse alguém que eu conhecesse anos atrás.
Ofego quando percebo quem poderia ser. Aquela sem sombra de dúvidas era Larissa Fox, fora uma de minhas melhores amigas por muitos anos. Me perguntava o que ela fazia alí, em um cemitério.
- Janet - Marcos me chama sussurrando baixinho, viro para ele. - aconteceu algo?
- Não. - minto. - está tudo bem, pensei ter visto alguém mas não era nada.
O pastor continuou o seu culto.
- Jesus nos oferece a vida eterna. Todos que se voltarem para Jesus serão ressuscitados um dia, para viver para sempre com ele. Não haverá mais tristeza nem sofrimento. A dor da morte de quem amamos é grande mas em Jesus encontramos consolo e esperança - ele abre a bíblia e pigarreia.
O nome Nazareno me lembrava a banda de rock Nazareth o que me faz segurar uma risada, principalmente porque o pastor, que era calvo, usava um chapéu preto em uma tentativa de combinar com sua batina e seu paletó preto.
Começa - se uma leitura de Efésios e todos permanecem em silêncio. Sinto uma leve pontada do lado esquerdo do meu cérebro como se eu fosse uma vítima de epilepsia.
Eu parecia a beira do um ataque de pânico. Meu estômago embrulhava e minha garganta ameaçava despejar meu café da manhã para fora.
Marcos aperta a minha mão e sussurra no meu ouvido.
- tudo bem? - em pergunta em um cochicho. Eu estava prestes a vomitar mas consigo assentir.
- suas mãos estão frias. - ele contasta e realmente, eu estava suando frio. Gelada como um defunto.
Era uma péssima alusão a se pensar no momento.
O corpo de Camille desce ao túmulo e o primeiro sino toca. Meu corpo estremece com o mau presságio.
O sino toca uma segunda vez e os coveiros começam a cobrir o caixão com terra. A terceira badalada me faz desviar daquela cena.
Viro o rosto em busca de um refúgio e encontro um jardim planejado que havia entre um conjunto de lápides de outro. E então paraliso, lá estava ela. Parada como se nem sequer respirasse.
Usava uma bata negra como a noite, o capuz cobria todo o seu rosto e me impedia de reconhecê - la. Ao meu redor o cemitério parecia se desfazer, como um brinquedo de montar barato.
Pisco algumas vezes e coço meus olhos, o lugar estava intacto. Eu estaria delirando?
Aquela criatura continuava me olhando, parada, sem respirar - e eu sabia bem porque seus ombros não se mexiam em nenhum momento, nem seu peito - e eu sabia bem quem ela era. Podia sentir o seu sorriso, e por um milésimo de segundo, consigo ver seus dentes pontiagudos e brancos como os de um tubarão, seus lábios pintados de um vermelho assustador como se ela bebesse sangue constantemente. Ela carregava consigo uma foice, a lâmina era similar a uma meia lua.
Era a Morte? Me pergunto mesmo sabendo que aquela nunca seria a resposta certa. Aquilo era muito anterior a Tânatos. Estremeço, ela parecia emanar medo.
A criatura bate a ponta da foice no chão e o cemitério desaparece explodindo em pedaços, como um átomo se desfragmentando. Um som alto de carruagens e lâminas se chocando umas contra as outras me parecia ensurdecedor.
Pisco algumas vezes e tento recuperar o ar, tampando os ouvidos com a ponta dos dedos. Nada tinha acontecido, tudo estava exatamente normal.
Eu estaria delirando por conta do calor?
Os parentes de Camille começam a ir embora mas aqueles olhos, com glóbulos oculares vermelho - sangue, frios e rasgados como se fossem feitos de vidro pareciam me perseguir.
Marcos me puxa para longe da multidão.
- Quer que eu te leve embora? - pergunta.
- sim, por favor. - confirmo com a cabeça engolindo seco.
Marcos me guia até o carro e abre a porta para mim, coloca o cinto de segurança, já que notava que eu não parava de tremer.
Aqueles olhos me dariam pesadelos. Com toda a certeza, eu não dormiria naquela noite.
Marcos acelera e estica aos mãos para ligar o ar condicionado assim que entra na rodovia.
Seus dedos encostam nos meus. Sua mão era quente como o sol. Afasto meus dedos por conta do choque térmico, suas mãos pareciam quentes demais para um humano? Afogo um grito e Marcos piguarreia.
Ele resolve não comentar sobre o ocorrido e se remexe no banco do motorista. Logo, estaciona em frente ao meu prédio.
- posso ficar com o seu número de telefone? - Marcos pergunta, parecendo sem graça. Seus olhos azuis como o céu não paravam de olhar para os meus. Sustento o olhar e suspiro, parecendo brava. Ele queria manter contato comigo?
- sim, pode ficar e manter contato. - respondo a sua pergunta silenciosa e dou um sorriso de lado, notando sua felicidade. Seria bom ter um amigo para conversar e não apenas dublês estúpidos com quem eu transaria periodicamente.
Aceno para o porteiro e pressiono o código no elevador. Subindo para o meu andar, já que o meu apartamento ocupava um andar inteiro. Centenas de metros cúbicos de pura solidão.
Jogo minha bolsa no sofá da sala e desabotoo meus calçados, acabo acendendo as luzes da sala e da cozinha juntas e me jogo em um poltrona. Eu me sentia cansada como se tivesse corrido uma maratona.
Lindo. Lindo dia.
Não conseguia parar de pensar em Camille e em como sua vida foi breve por causa da violência do mundo. E se amanhã fosse eu? Ou alguém que eu amasse? E aquela criatura? Por que continuava me perseguindo? A roupa que usava era uma bata, uma roupa da Inquisição, será que fazer um filme sobre a Idade Média estava afetando minha sanidade mental?
Pego o meu notebook e faço uma pesquisa. O Google não me dava muitas informações, mas resolvo tentar em cada site, se não estivesse ficando louca pelo menos seria um bom material para um novo roteiro, buscar por algo que me explicasse o que poderia ser aquela criatura, suas vestimentas e caracterização me pareciam muito similar com desenhos e gravuras sobre a Morte, mas eu estava certa de que não se tratava disso, as pesquisas me levam a Inquisição Espanhola, a caça às bruxas. Um nome aparece entre as pesquisas e resolvo pesquisar mais sobre aquele deus, Caos, o início de tudo.
Eu precisava beber, mesmo que curar uma ressaca com outra ressaca não fosse algo recomendado pelos médicos, caminho até o balcão que dividia minha sala da minha cozinha. Eu tinha praticamente um bar a minha disposição então escolho uma bebida mais forte.
Por que aquele nome me chamava atenção? Tânatos não tinha ligação nenhuma com o Caos, então porquê eu estava tendo visões com a Morte?
Vodca, era o que eu precisava. Coloco um cubo de gelo no meu copo e bebo tudo de uma vez, repetindo a dose rapidamente.
E então, a lâmpada da cozinha explode.
Curto circuito. Penso. Imaginando se tratar de um defeito da rede elétrica e sigo para a cozinha.
A fiação começa a pegar fogo e uma luz irrompe diante dos meus olhos, clara como o sol. Viro o rosto para longe da claridade mas ainda assim tinha a impressão de que ficaria cega.
Meu copo cai no chão, derramando minha bebida no piso de taco e a luz me faz cambalear para trás pisando com os pés descalços nos cacos de vidro.
Não tenho tempo para gritar de dor porquê o pânico agora tomava conta de mim mas consigo sentir o sangue aos meus pés, esquentando no piso de madeira.
Através da luz, diante dos meus olhos, surgia um homem. Eu realmente estava muito bêbada.
Era Marcos, eu o reconheceria em qualquer lugar, principalmente porque eu acabara de estar com ele há poucas horas atrás no enterro de Camille... Só que ele parecia mais velho?
Usava roupas estranhas, quase que de época, mais parecia um cosplay do Pequeno Príncipe com um casaco azul marinho em uma costura de calda que rastejava no chão com detalhes dourados em espiral por cima de uma blusa branca abotoavel, calças brancas de brim e uma botina de couro preta. Humanos não envelheciam assim.
Grito o mais alto que posso. Meu cérebro simplesmente não conseguia assimilar aquilo, era demais para qualquer neurônio humano.
Marcos levanta as mãos como se estivesse diante de um animal selvagem e perigoso e ele fosse um domador.
- Janet, calma! - ele grita mas eu ainda estava em pânico, caindo no chão, vomitando tudo o que tinha no estômago.
- Calma! Eu posso explicar. - Marcos estende as duas mãos em sinal de rendição. - Vem comigo, vai ficar tudo bem.
- Não tem nada bem! Como que algo pode ficar bem? - sussurro histericamente. Meu olho esquerdo tremia tanto que parecia tentar pular para fora do meu rosto. Belisco o braço uma vez.- Nada - de algum modo Marcos estava mesmo bem diante de mim. Me pergunto se aquilo poderia se tratar de uma pegadinha de Willow ou até mesmo de Malcolm junto da equipe de efeitos especiais da Paramount por eu ter me atrasado algum dia.
- Vem comigo! Eu posso explicar tudo! - Marcos estende a mão para mim.
Eu estava tremendo, aterrorizada. Procuro um pano e material de limpeza para limpar aquela sujeira, e então me ajoelho, limpando. Marcos retira de seu bolso um pano com um monograma gravado, o símbolo de uma águia com as letras N e S em prateado ofuscante.
Quem no mundo tinha um guardanapo personalizado? NS eram as iniciais do seu sobrenome, a marca registrada da sua família: Nunes Spoenbelch.
Aceito sua ajuda e respiro fundo, levantando. Resolvo guardar a vassoura e os panos dentro de um balde para lavar depois. Marcos apenas observava a tudo em silêncio, como se nem ao menos respirasse.
Eu não nasci para ter medo mas estava começando a questionar a minha sanidade mental então talvez eu devesse reavaliar os meus parâmetros. Aperto sua mão, simplesmente para sentir que aquilo de algum modo era mesmo real e observo o vórtice de energia que estava bem diante de mim, fecho os olhos caminhando até o vórtice, sentindo de Marcos me acompanhava ao meu lado.
E então, com um segundo de coragem, salto para o vórtice, em direção ao desconhecido, sem pensar em onde cairia.
* Tânatos ou Tânato: é o deus grego da morte.
Quando me falam que não gostam da Janet porque ela é pessimista.
Eu fico tipo:
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