XVII - Visita Cabulosa
Juan tentava manter suas pálpebras abertas por causa da visita indesejada, mas tomado pelo cansaço dormiu profundamente. A Lua estava cheia e a madrugada silenciosa. Ele havia salvado a criança, além de lhe proporcionar um lar onde teria educação e carinho.
De repente, o mago começou a sonhar. Viu-se no palácio do Rei Albert e não entendia porque voltara. Observou um jovem, à sua frente, lutando com um soldado. Em um primeiro momento, não o reconheceu, mas identificou assustado, a espada pelas gravações que ela possuía em seu cabo: era a Fúria da Noite. Foi a partir daí que reconheceu o seu portador. Era Phillip, já um rapaz, treinando com o capitão da guarda real, aprendendo a se defender dos golpes ardilosos. Juan se sentiu feliz com aquela cena e sorriu para o garoto, que o fitou, acenando para ele.
De repente, algo parecia errado. Phillip ficou sério e o sangue começou a escorrer de sua boca. Juan olhou em direção ao peito do garoto e, assustado, percebeu as garras do Doppëlganger atravessando-o. A cabeça da criatura surgiu por trás do rapaz, fitando os olhos do mago. Ele acordou aterrorizado, levantando as costas da cama.
Juan prontamente fitou a espada de prata que estava ao seu lado, junto com o cajado. Levantou-se e segurando o bastão, utilizou-o para refletir a luz da Lua, que adentrava a janela. Procurou por seres sobrenaturais por todo o lugar, sem sucesso. Foi lá fora e novamente passou o feixe de luz que o artefato emitia pelas redondezas e viu que não havia ninguém.
— Preciso guardar esta espada com todas as minhas forças para entregá-la a Phillip quando ele se tornar um jovem.
Ela poderia colocar tudo a perder, se caísse em mãos erradas. Embora houvesse a chance do bruxo sombrio se transformar em um ser imortal caso pegasse o livro, o mago sabia que a espada tinha o poder de destruir qualquer ser sobrenatural se fosse fincada direto no coração do inimigo. Por isso, deveria ser entregue ao menino quando este virasse um jovem com idade suficiente para saber como utilizá-la. A espada sempre teria o poder de destruir Klaus.
Juan se levantou, cavou um buraco ao pé de uma árvore na mata e escondeu a Fúria da Noite. Quanto ao cajado, resolveu que tomaria conta dele.
Longe dali, Klaus decidiu que era hora de partir em busca do seu objetivo. Penetrou em seu portal com o corvo em seu ombro e apareceu do outro lado, na Floresta Sombria, perto do grande carvalho onde se sucedera a reunião trágica. O Doppelgänger entrou logo depois dele, aparecendo em seguida no local do Conclave. Klaus parou, olhou para a Lua e sorriu. Lembrou-se das mortes, das pessoas gritando, vítimas do seu engodo. Recordou de todo o poder que conseguira ali.
O bruxo chamava a criatura de Fratello, que significa irmão em italiano, porque a considerava como parte de si.
— Está vendo, Fratello? Este foi o local onde conseguimos aniquilar os maiores magos do mundo. Seus seguidores ficaram sem os principais chefes e agora ficou mais fácil para eliminarmos todos. Serei o maior e mais poderoso mago deste mundo.
A criatura transformou-se na forma gêmea de Klaus e disse com uma voz monstruosa, passando os dedos sobre os lábios:
— Ainda sinto o sabor do sangue deles em minha boca.
— Em breve teremos o poder de todos os demais bruxos para saciar a nossa fome. Você vai sentir o gosto metálico de suas vidas. Agora é hora de agirmos. Onde estará aquele mago dos infernos? Na minha visão ele estava em uma caverna no alto de uma montanha, aqui perto. Vamos acampar esta noite e amanhã cedo começaremos a nossa caçada. Eu quero aquele livro para mim. Ele será meu!
Sua duplicata sorriu com os dentes pontiagudos, porque já estivera na caverna e conhecia o caminho.
Pela manhã, o replicante foi na frente e não encontrou Juan na gruta. Ele começou a voar por sobre a montanha à procura de algum sinal do adversário. O corvo também vasculhava os céus em busca de pistas. O mago sentiu a presença deles, vestiu seu manto cinza claro surrado, pegou o cajado e preparou-se para o pior. O confronto não demoraria para acontecer, mas ele evitaria ao máximo que o livro fosse encontrado. Por isso, observado por seus amigos animais ele o escondeu na parede da cabana fazendo um feitiço. Resolveu que não esperaria a chegada de Klaus. Ele emboscaria o bruxo e seu monstro na montanha. Passou o dedo à sua frente no ar e entrou na abertura que conjurou para ganhar a travessia. Com o uso constante dos portais de transporte, Juan voltou a dominar a magia com perícia.
A criatura cruzou com o lobo negro que se dirigia à caverna, indo ao encontro do mago. Lua Negra mostrou seus caninos raivosos para o monstro que o encarou de volta, com os dentes afiados como serras. O lobo andou em volta dele e ele mostrou suas garras cortantes. Klaus subia a montanha logo atrás deles, pois queria procurar pelo livro na caverna.
— Espere, Fratello! — Disse Klaus ao surpreendê-los em um confronto iminente. — Nós não queremos lutar com lobos. Nossa presa é outra. Por que perder tempo?
O lobo andou em volta deles e se preparava para chamar a matilha quando, vendo o recuo dos inimigos, também resolveu retroceder para esperar o mago Juan. Quando os inimigos haviam ido embora, outros olhos amarelos iluminados pela luz da lua apareceram em meio a um arbusto; era um lobo branco que parecia conhecer Lua Negra. Eles se entreolharam e, subitamente, a fera de pelagem albina se transformou na forma humana.
Era o mago em seu disfarce animal que se preparava para o combate.
Estendeu o braço direito, girou-o no meio do ar e puxou para si o cajado do poder. Os dois foram à caça de seus inimigos. O encontro seria iminente.
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