Os inimigos pareciam formigas, aumentando cada vez mais. Em certo instante, os magos, feridos e exaustos, começaram a achar que perderiam a batalha. Foi quando uma série de uivos ecoou pela floresta, seguido de olhos brilhantes a se destacarem na escuridão. Era a matilha de Lua Negra chegando.

Os bruxos que combatiam os soldados sentiram que os animais estavam do lado deles, visto que também atacavam os seus inimigos. Acreditaram que devia ser algum tipo de magia que algum mago estava usando a favor deles. As poderosas mandíbulas dos lobos dilaceravam as carnes dos soldados, entre gritos e rosnados. Alguns ficaram apavorados ao verem aqueles enormes animais rangendo os dentes e fugiam. Outros tentavam combatê-los, sem sucesso.

Os inquisidores mantinham-se impassíveis. Assistiam a luta de fora, covardemente, porque tinham medo da batalha e queriam apenas colher os frutos daquele ataque. Eles, sentados em seus cavalos a uma distância segura, vestiam máscaras escuras que cobriam seus rostos, para não serem reconhecidos pelos inimigos.

Quando a matilha apareceu, eles ficaram assustados. Mas confiavam nas armas de Deus e da tropa.

O bruxo montou no garanhão branco com o bebê embrulhado na manta de pelo de coelho e saiu a galope, sem olhar para trás. Se lutasse, colocaria em risco a vida da criança. Já havia cometido esse erro uma vez no passado e não o repetiria. Ela era a sua prioridade naquele momento. Caso algo acontecesse com aquele menino, tudo estaria perdido.

Klaus não fugira do campo de batalha. Enfrentava os magos com fúria e sangue frio. Ao deparar-se com o corpo ensanguentado de Elheonora no chão, ele pensou:

"Que desperdício a morte desta bela mulher. Depois de eliminar seu marido eu certamente a desposaria. Mas não há problemas, conseguirei mulheres tão belas quanto ela depois que me tornar o bruxo mais poderoso do mundo."

Em seguida, ele desferiu um último golpe no peito dela com sua espada, fincando-a no corpo. Sentiu prazer com aquilo, como se participasse também de sua morte.

Tyrone, ao avistar Klaus diante do corpo inerte da bruxa sorrindo vitorioso, pegou uma espada caída perto de um soldado e partiu para cima dele.

— Morra, seu traidor!

O bruxo malévolo defendeu-se do ataque. Em seguida, abriu a sua mão e jogou um pó nos olhos de Tyrone. Aquilo o deixou cego. Klaus, aproveitando-se disso, enfiou-lhe a espada no abdômen, assassinando-o. O bruxo sorriu, satisfeito, ao ver seu rival deixar de respirar.

— Não gostava mesmo de você. Serei o novo líder do clã! Depois acabarei com todos eles, um a um. — Ele revelou sua intenção, estreitando os olhos.

O que ninguém sabia era que Klaus havia recebido um dom das trevas: era capaz de absorver a energia mágica dos bruxos que ele e o seu Doppelgänger matavam. Depois de aniquilar suas vítimas, Klaus tocava o peito delas na região do coração e absorvia a magia. Ele se tornava cada vez mais poderoso.

No calor da batalha, Agathor foi salvo várias vezes por Lua Negra, que atacava os soldados com seus dentes afiados. Contudo, ao ver Elheonora ser morta alguns metros à frente, perdeu o seu chão. O mundo lhe tirou o que mais amava.

Tomado pela dor, ele ajoelhou-se, enquanto Lua Negra o protegia. Lágrimas caíram dos seus olhos e ele pensou em seu filho Phillip, que precisava dele. Aquilo pareceu lhe dar um novo ânimo. Os lobos tentavam combater ferozmente o Doppelgänger, mas ele parecia feito de névoa.

Klaus foi para cima de Agathor com sua espada, pulando sobre os corpos sujos de terra e sangue, que estavam espalhados pelo chão. O Rei dos Magos conseguiu ferir o bruxo sombrio no braço. Depois pegou o bastão, absorveu a energia da Lua e lançou um poderoso raio mágico contra Klaus, que caiu desmaiado. Agathor fez com que o brilho do cristal incidisse por toda a sua volta, mostrando a criatura das sombras, que se mantinha escondida. O mago disparou a energia do seu bastão contra ele, mas o raio o atravessou, sem lhe causar qualquer dano.

Enzo lutava com sua espada de prata e, depois de causar inúmeras baixas no flanco inimigo, recebeu um golpe em seu braço desferido por um oficial. Sua espada, conhecida como Fúria da Noite, caiu no solo e quando o rival se preparava para acabar com ele, o bruxo nórdico empunhou uma lâmina menor, que guardava sob suas vestes e furou o adversário sem piedade. Antes que respirasse para se recuperar do combate, dois soldados o cercaram com golpes de espada contra os quais sua arma não foi capaz de resistir. Ele sofreu investidas no peito e no abdômen, caindo ao chão. Eles só pararam de furá-lo quando era uma massa de carne e sangue.

Agathor, ao ver cair mais um dos seus, teve uma ideia: para matar tão maldita criatura, precisava pegar a espada de prata do seu amigo já morto. Assim, poderia ferir o ser que não pertencia a esse mundo.

O Doppelgänger preparou as suas garras letais para atacar o Rei dos Magos, mas ele se desviou da criatura. Agathor conseguia enxergar o monstro em toda a sua forma com o brilho do seu cajado e, com isso, se desviava dos seus golpes, até chegar perto de Enzo. Ele correu para finalmente pegar a espada de prata quando três soldados o cercaram. Começou a lutar com bravura. Mas estava tão concentrado na luta que não percebeu quando Klaus se levantou lentamente e, junto com o espírito errante, atacou-o por trás, com um golpe fatal de sua lâmina. Agathor caiu ajoelhado antes de seu corpo desabar para frente no meio do círculo do acampamento, o sangue espalhando pelo chão.

Klaus tocou o Rei dos Magos e sentiu a enorme quantidade de energia que esvaía dele direto para seu corpo. Ele se sentia cada vez mais forte. Quem conseguiria derrotá-lo agora?

A partir daquele instante, o pequeno Phillip Reinecker era uma criança órfã.

Lua Negra, percebendo que Juan havia conseguido fugir com a criança, se retirou da batalha junto com os lobos que sobreviveram. No meio da confusão, antes de ir embora, o imenso lobo arriou a sua cabeça perto do cadáver de Enzo e com um impulso instintivo prendeu a espada de prata entre seus caninos, travando-a.

O corvo percebeu um cavalo fugindo em galope e o seguia dos céus. De repente, uma águia o cercou com suas grandes asas e, como se não bastasse, uma coruja de grande porte também o confrontou. Ele partiu em retirada para não ser abatido por seus algozes que já lhe mostravam as garras.

Phillip foi levado em segurança para a caverna de Juan. O corvo voou até seu dono e comunicou-lhe o que havia acontecido.

"Quem poderia ter levado a criança e por quê?" Klaus pensou. "De qualquer forma é apenas um bebê e não tem valor algum para mim."

Todos os membros do conclave estavam mortos, com exceção do bruxo traidor. Os inquisidores se aproximaram dele:

— Bom serviço, Klaus. Tudo ocorreu como planejado. Pena que não conseguimos levar alguns para torturar, enforcar ou colocar em uma fogueira para servir de exemplo para o povo. Seria um grande show em praça pública.

Na verdade, Klaus não queria prisioneiros. O que desejava era matar a todos, absorver as suas energias mágicas e aumentar o poder dentro de si, tirando-os do seu caminho. Ele queria destruir todos os seres com poderes mágicos do mundo até restar somente ele, o único bruxo vivo na face da Terra.

— Pensem bem. Vocês eliminaram os maiores chefes dos clãs bruxos e deixaram seus seguidores como ovelhas sem pastor. Vai ser fácil pegá-los sem os seus líderes. Portanto, em breve vocês terão o show que desejam, porque bruxos e feiticeiros perdidos não vão faltar. Se precisar é só falar comigo que ajudo a condenar algumas mulheres e homens inocentes... Sei bem como culpá-los. Nós continuaremos a procurar aqueles que têm mais bens e terras, depois dividiremos a herança — Klaus retrucou, soltando uma gargalhada que ecoou pela Floresta Sombria, que agora era o túmulo dos mais famosos magos da Europa.

Os inquisidores sorriram de volta. Subiram em seus cavalos e se prepararam para a viagem.

O bruxo procurou pela espada de Enzo e o cajado do mago Agathor, mas não os encontrou no meio do massacre. Logo desistiu, pois os soldados já haviam começado a colocar fogo em tudo e o cheiro de carne queimada estava ficando insuportável.

Depois de incinerarem todos os corpos e recolher os despojos da batalha, Klaus, os inquisidores e seu exército seguiram viagem. O bruxo achou que matara todos os principais magos da Europa, mas ele não imaginava que o mais poderoso deles havia escapado.

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