Capítulo 9 - Última valsa e três pedidos aos Grindelwald
Quero lançar um desafio para vocês.
Esse capítulo é especial, só focado em Tom e Lakroff, o casal preferido da maioria (ou de todos, não sei, alguém tem outro casal como preferido?).
Por esse evento especial, queria ver se vocês vão gostar o bastante para vencer o desafio. O capítulo com mais votos de "O herói caído" tem 175 votos. Vocês conseguem bater esse número? A título de curiosidade, o capítulo com mais comentários dessa parte tem 1221, eu nem vou desafiar porque duvido que esse chegue nisso, mas em votos? Acho que da para bater. Então... se vocês baterem esse record tem bolo (explico mais nas notas finais).
VOTEM NO CAPÍTULO!
Boa leitura a todos.
Anteriormente em "Quem será seu herói?"
Harry aceitou o ponche batizado de Fred sem que percebesse e o gosto o fez mostrar a língua, mas a reação tão espontânea tirou risada dos amigos e o relaxou um pouco depois de Draco e tudo aquilo no banheiro.
No lugar ele deu uma olhada pelo salão e seus olhos se arregalaram ao ver Sirius e Snape, entre tantas pessoas, dançando juntos. Ele não era o único aluno olhando naquela direção e decididamente não era o único surpreso, mas aquela cena inusitada foi tão impactante que ele quase perdeu algo pior.
Lakroff.
Já deveria ser seu turno de festa, porque ele estava na pista de dança ao invés de em ronda, mas não com Alice, sua parceira.
Estava com Voldemort.
— Ivan! — ele chamou quase agitado demais. — Preciso de uma distração.
O mais velho não hesitou.
— De que tipo?
— Algo que tire o professor Mitrica do salão e o force a se afastar do homem que está dançando com ele agora.
Todos olharam para o salão e em pouco tempo encontraram o acompanhante de Lady Xatwin em uma valsa com o professor de história. Não só isso, eles repararam na forma como ele sorria e parecia entretido em uma conversa. Isso deixou todos curiosos de porque Harrison queria atrapalhar, mas Ivan não perdeu tempo com perguntas.
— Me dê um tempo — disse saindo.
A música que tocava já estava no fim e Harry assistiu completamente fissurado quando Lakroff pegou a mão do seu acompanhante e deu um beijo.
"Tom vai ficar furioso" ele pensou tentando manter o rosto limpo enquanto Voldemort simplesmente segurava Lakroff e não o deixava sair assim que a próxima música começou e juntos voltaram a dançar, como se todo o resto do mundo não existisse.
Harrison acabou tomando um segundo gole do ponche porque o copo ainda estava em sua mão e ele estava distraído demais e dessa vez ele tossiu enquanto Fred puxava a bebida dele.
— Aqui, sem bebida para você alteza, é muito jovem.
George e Luna apareceram naquele momento. Harry registrou apenas com meia atenção o fato de que seu acompanhante parecia mais sério que o normal enquanto tentava ler os lábios do seu avô e seu parceiro de dança, mas percebeu em pouco tempo que um deles tinha colocado um feitiço para confundir quem tentasse.
— Malditos velhos paranóicos.
— Tudo bem, alteza? — questionou George.
— Eu não tenho certeza.
Luna parou ao seu lado e inclinou a cabeça, também olhando na mesma direção, antes de murmurar:
— Essas são péssimas notícias.
— O que foi?
— Lakroff leu errado suas visões. Ele terá que pensar rápido para consertar isso se quer que as coisas deem certo.
— Eu mandei Ivan criar uma distração — Harry se preocupou.
— Talvez seja melhor assim... — ela abaixou a cabeça e olhou para o chão, a mão no queixo pensativa antes de balançar com a cabeça. — Sim, provavelmente é o melhor.
— Vou ficar de olho na minha irmã — anunciou se virando para George. — Vamos para a pista? Ou já cansou?
George deu uma risada aberta, como se a ideia de se cansar de um pouco de diversão fosse irreal e, no lugar, ele olhou para Fred e Angelina:
— Nos acompanham?
[...]
Gina e Lilá logo se juntaram ao grupo e dançaram apenas um pouco antes de Ivan acontecer.
De repente ele estava no palco e falava pelo microfone que ampliava sua voz magicamente para todo o salão.
— Amigos da Durmstrang e colegas das demais escolas, desculpe atrapalhar sua dança, mas quero que me ajudem em uma missão que será interessante para todos [...] Tem esse professor nosso que é o favorito da maioria, e não estou falando de você Leandro — isso tirou algumas risadas do lobisomem e também de vários alunos da Durmstrang. — Estou falando do nosso vice-diretor. Ele é um cantor incrível e eu quero convencê-lo a subir aqui no palco e cantar uma música para seus alunos. O que acham Durmstrang?
Um burburinho animado imediatamente começou nos alunos, em sua maioria, de vermelho, e Ivan acenou:
— Ele está bem ali — apontou, levando a atenção de todo o salão para Lakroff e consequentemente Voldemort em seu disfarce.
Harry conhecia Tom. Muito bem. Mais do que qualquer um provavelmente. Ele viu a frustração nos olhos dele, mesmo que estivesse tentando passar despercebido, quase como se quisesse fundir-se à multidão e Lakroff estava olhando para Harry, sabendo exatamente o que estava acontecendo.
Aquela jogada já era muito óbvia, a distração mais fácil e previsível, mas ainda uma distração e Riddle não tinha como provar isso.
Ivan, no palco, chamava:
— Vamos lá pessoal, vai ser divertido ter um dos diretores aqui. Chamem conosco: Mitrica! Mitrica!
Não era preciso dizer mais nada, os alunos da Durmstrang tinham sido fisgados...
Lakroff assentiu e foi recebido por aplausos entusiasmados até o palco. Ivan desceu num pulo e o platinado foi falar com a banda antes de tomar o microfone para si.
Em pouco tempo o instrumental começou e houve um coro de reconhecimento por parte de um grupo muito seleto de bruxos naquela noite.
Um grupo que muitas vezes era o último a entender o que acontecia naquele mundo, mas dessa vez foram os únicos. Todos os nascidos entre trouxas e mestiços sorriam e puxaram seus pares para dançar uma música trouxa que começou a tocar.
Harrison não sabia exatamente o que Lakroff e Voldemort estavam falando, mas enquanto ele e Angelina cantavam a plenos pulmões aquela música, acompanhado de um coro de "sangues ruins", ao menos entendeu a mensagem que aquilo passava.
E não combinava em nada com o que aquele Riddle levantava com suas máscaras e marcas nos antebraços.
Voldemort foi a um baile para adolescentes por um único motivo muito claro.
Os Mitrica.
Ele observou a família de longe e não se enganou em pensar que Lakroff Mitrica não seria capaz de reconhecê-lo considerando a nova ligação que tinham, mas aguardou para ver o que fariam.
Nada.
Apenas fingiram junto de Marvolo.
Ele viu Harry Potter olhando-o durante o jantar e bastava um aviso para Dumbledore que Marvolo estaria em grande desvantagem. O velho paranoico provavelmente acreditaria no garoto e Voldemort teria que correr para longe. Talvez até mesmo perdesse Samanta como arma se ela não conseguisse convencer as pessoas de que seu parente teria sido sequestrado pelo lorde das trevas. Nada impedia o garoto, que podia lhe fazer mal se quisesse.
Tinha uma profecia dizendo que talvez devesse.
"e um deve morrer pelas mãos do outro, pois nenhum pode viver enquanto o outro sobreviver..."
Mas Harrison não fez nada.
Lakroff Mitrica, sua pequena anomalia que era a filha adotiva, eles apenas pareciam completamente cientes de sua presença ali, mas também não fizeram nada para atrapalhar.
Aquilo era curioso, para dizer o mínimo.
Dizia muita coisa sem que precisassem falar propriamente.
Claro, eles estavam assegurados pelo pacto de sangue, mas era apenas isso?
Agiam como se Voldemort nem estivesse ali e claramente não o temiam. Não apenas como alguém que não podia lhes fazer mal por causa do pacto de sangue, mas não pareciam se importar com o mal que ele ainda podia causar a outras pessoas, inclusive aqueles que eles se mostravam próximos.
Para todos os efeitos era como se não fosse ele ali. Não mudaram em nada a forma de agir.
Voldemort não podia machucar os Mitrica. Mas e os outros?
O Weasley ao lado de Potter, por exemplo. Nada o impedia de usá-lo.
Harrison se associava a famílias sombrias e poderosas na Durmstrang, claro, mas os Weasley? Eram traidores de sangue. E alvos fáceis.
Será que os Mitrica não viam o perigo? Ou simplesmente não se importavam?
Eram uma família com um vidente, talvez eles apenas acreditassem o suficiente em uma profecia.
Potter era aquele que nasceu com o poder de derrotá-lo, aquele que, infelizmente, Marvolo já tinha marcado como seu igual e que se soubesse jogar certo, podia machucar Voldemort sem que ele tivesse tempo de reagir.
Eles já conheciam a profecia a muito tempo, um pouco depois de Marvolo descobrir que Harry Potter era, na verdade, alguém que adotou o nome Mitrica, ele recebeu uma encomenda.
Dois dias depois, para ser exato.
Lakroff mandou a Voldemort uma lembrança que provavelmente pertencia à própria Lilian Potter, com ela em Nurmengard contando a Gellert Grindelwald a profecia. Vinha acompanhada de uma carta com algumas coisas interessantes. Como a localização da esfera que continha a coisa no ministério da magia. "Para caso queira confirmar por si mesmo".
Marvolo quis, é claro, mas isso lhe deu tempo para pensar em tudo.
No restante do conteúdo da encomenda. Um bilhete junto de um livro muitíssimo antigo, mas bem conservado: "Profecias são, sem exceção, auto infligidas". Uma pesquisa da família Grindelwald sobre videntes, predições e profecias no geral. Haviam informações que Marvolo nunca aprendera antes, como esperado de um conhecimento guardado por uma linhagem.
Sempre uma injustiça que o saber tivesse donos.
Mas a encomenda, assim como a atitude da família naquela noite, tudo passava uma mensagem interessante.
As cartas que Harrison outrora trocou com Voldemort.
Tudo que se faz comunica algo e Marvolo estava curioso
Por isso ele apenas os observou durante o baile.
Principalmente Lakroff Mitrica.
"...mas ele terá um poder que o Lorde das Trevas desconhece...".
O mesmo poder que Lilian usou contra ele, o mesmo que agora colocava o lorde das trevas na posição de fera com focinheira. A linhagem Grindelwald. Conhecimentos que, assim como aquele livro ou a poção para estabilidade mágica, apenas aquela família tinha guardado.
Atacá-los enquanto continuavam sendo essa força desconhecida era tolice.
Marvolo teria que aprender.
Observar.
Se aproximar.
Entendê-los antes de sequer pensar em antagonizá-los.
Mas não podia continuar com aquele gosto de derrota na boca.
Deixá-los confiantes demais, apesar de tudo.
"Milorde, concorda em jamais causar mal a qualquer pessoa com o nome Mitrica e não terei mais negócios a tratar com o senhor. Nem motivos para voltar a atrapalhá-lo em seus empreendimentos..."
Lakroff Mitrica estava dançando com Dumbledore.
Que tipo de mensagem isso passa?
Eles conversavam enquanto rodavam pelo salão junto dos alunos, sob os olhares curiosos principalmente de professores.
Voldemort precisava encontrar um meio de se impor como uma força verdadeira diante deles, para que não o subestimassem agora que tinham mostrado uma mão de cartas muito melhor que a sua.
O jogo parecia ganho para eles e isso incomodava Marvolo.
Teria de encontrar um modo de ter algum controle sobre toda aquela situação e logo.
"Milorde, porque matá-lo seria um desperdício" Riddle ainda ouvia constantemente todas as palavras trocadas em sua conversa com o lorde dos Mitrica. Como um tipo de rito antigo que talvez escondesse algo entre suas linhas e metáforas.
Como prever os movimentos daqueles que vislumbram o futuro?
Daqueles que já se mostraram não um ou dois, mas vários passos à frente.
"Você sabe meu nome?"
Albert Grindelwald.
"Correto".
Mentira.
Marvolo não precisou de uma prova.
A verdade bateu como um raio em sua mente no instante em que Lakroff pronunciou aquela palavra.
Era uma mentira. E o pior? Ele sabia disso no fundo de sua alma recém conquistada e ligada. Como se ela pudesse dar respostas para perguntas às quais Voldemort não tinha pensado.
Como se soubesse mais.
Sentisse algo que ele ainda não conseguia alcançar por estar fragmentado.
O ponto é que se Marvolo não tinha conseguido sequer o nome de um deles, como poderia esperar derrotá-los?
Estava claramente preso em uma situação que ia muito além dos conhecimentos precários atuais. Contra uma linhagem inteira que tinha o privilégio de informações que talvez Marvolo apenas tenha sonhado.
Tinha que mudar isso, aquele fluxo por onde tudo estava escorrendo para longe de si.
Tinha que...
Seus pensamentos foram brutalmente interrompidos.
Por um cuspe.
Lakroff Mitrica, que tinha total atenção de Voldemort desde que voltara ao salão, aparentemente livre de sua ronda, tinha acabado de cuspir.
Na mão de Dumbledore.
"Ele cuspiu em Dumbledore" pensou com um misto de emoções que somente seu corpo e alma praticamente recuperados poderia lhe dar o prazer.
Ele estava devidamente surpreso, sem dúvidas, quase incrédulo, o lorde Mitrica que conheceu era um homem de postura e calma insanos, mas...
Ainda insano.
Deveria ter sido enfim puxado por Albus para mostrar sua verdadeira face.
Aquela que Marvolo teve a rara honra de ver em luta, o sorriso completamente caótico e o olhar iluminado com uma vida que não mostrava o suficiente para nem mesmo em qualquer memória de Bartolomeu tivesse lhe mostrado antes. O brilho de um homem que tinha tudo a perder, mas coragem de sobra para arriscar.
Foi um gesto discreto, Marvolo por um segundo achou que Mitrica iria beijar a mão de Dumbledore, mas sua inquietação ficou satisfeita com aquele cuspe.
Ele puxou um lenço do trench coat azul que usava e secou a boca enquanto Dumbledore retirava a varinha das vestes e "limpava" a saliva.
Provavelmente era porque Marvolo era observador demais, ninguém mais no salão devia ter visto esta parte, mas na verdade a saliva de Lakroff viajou até o bolso de Dumbledore ao invés de secar.
A curiosidade com aquilo e o lenço na boca impediram que Marvolo visse que Lakroff estava falando de novo, mas deve ter dito algo que desconcertou bastante o velho Albus, porque de repente ele parecia completamente chocado e confuso. Bem mais do que quando foi acertado por um cuspe.
Conseguiu ler as próximas palavras nos lábios de Lakroff apenas porque falou com muita clareza.
"É isto ou nada e não quero perguntas suas, isso é entre mim e ele" então se curvou e se afastou. A música que dançavam já tinha acabado e dava início a outra.
Marvolo acompanhou Mitrica com os olhos até se juntar novamente aos outros professores que conversava antes da interrupção. Seja lá o que Dumbledore queria com aquilo, Riddle tinha a impressão de que tinha se chocado com uma parede de pedras bem robusta e instável.
Ao menos não era o único.
Olhando para Samanta para averiguar se ela teria mais sorte com a filha adotiva da família, viu que ambas ainda dançavam, o que já era mais do que Albus teve.
Então caminhou.
Deu uma pequena volta no salão para alcançar Lakroff, passando pelo palco onde as esquisitonas tocavam e lançou um pequeno feitiço, apenas por garantia.
Antes mesmo que pudesse chegar a Lakroff, entretanto, o bruxo o viu, como se seus olhos procurassem por Marvolo no salão e imediatamente demonstraram aquele reconhecimento sutil que recebeu a noite inteira. Quando parou diante dele, Mitrica o cumprimentou, mas o nome falso que Marvolo estava usando aquela noite soou estranho em seus lábios.
Tão estranho como o nome falso de Lakroff.
Alguma coisa estava acontecendo com Marvolo, ele sentia coisas estranhas, tinha pensamentos errantes e lembranças confusas, como se uma parte dele estivesse faltando, mas era diferente de quando tinha todas aqueles pedaços de sua própria alma longe de si. Parecia uma coisa muito pequena, mas com poder o suficiente para fazer falta, uma chave valiosa que incomodava seu cérebro como uma coceira constante.
Talvez fosse realmente a alma. Agora que tinha recuperado quase noventa por cento de sua presença original, aqueles pouco mais de dez que faltavam e que nunca voltariam podiam incomodar muito mais. Como uma lembrança constante do que havia sido tirado dele.
Pelos Black.
Regulus Black.
Também da família de Harry Potter.
Aquele garoto realmente era seu inimigo jurado, tudo estava ligado a ele.
E Voldemort estava momentaneamente incapacitado.
Precisava mudar a balança.
— Minha prima está ocupada com sua filha — comentou de forma despreocupada. — Será que pouparia esse homem da solidão neste momento e me daria o prazer de uma dança?
Leandro Spinosa, um lobisomem Alpha sangue puro, uma criatura rara sem dúvidas e muito curiosa na opinião de Marvolo, estava logo ao lado e falou em sua língua materna:
— Está requisitado hoje, Lakroff. Daqui a pouco tem uma fila.
Riddle deu uma risada sutil que chamou a atenção do grupo e olhou diretamente para a imensidão dos olhos azuis de Lakroff enquanto respondia, mas em português, para que seu amigo lobisomem entendesse bem:
— Filas podem se desfazer em instantes com as palavras certas. Mas diga-me, Lorde Mitrica... devo esperar como os outros ou já posso tomar o que vim buscar?
Algo na forma como o loiro reagiu deu prazer a Marvolo. No modo como ele inspirou profundamente, como diversão passou por seus olhos, no jeito entreaberto de seus lábios levemente curvados em um sorriso tão discreto que mal era visível.
Ele deu a mão a Riddle, como quem nem considera negar um pedido como aquele e realmente, Marvolo sentiu satisfação conforme o guiava para a pista de dança, a última conversa deles pairando naquele espaço de silêncio.
"Para os herdeiros Grindelwald que restaram é preciso conquistar e se mostrar, não tentar se estreitar sorrateiramente, isso é visto como ameaça e não somos dados a aceitar ameaças, entende?"
"E você quer ser conquistado, Mitrica?"
Voldemort não esperou nem um instante para levantar alguns feitiços de silêncio entre eles e sentiu Lakroff erguer o próprio, um que impedia as pessoas de lerem seus lábios. Ambos sem suas varinhas ou palavras, apenas suas vontades e magias funcionando em resposta e sincronia.
Um prelúdio do que viria.
A valsa das flores de Tchaikovsky que Marvolo sabia que ia tocar a seguir começou, assim como havia enfeitiçado as esquisitonas para fazerem, sem se arriscar que começassem com um de seus ritmos agitados e atrapalhassem no que queria.
Uma música longa, como pressentia que seria aquela conversa.
Ele tomou a cintura de Lakroff com firmeza e observou como o outro, que tinha tomado o controle da dança com Dumbledore, simplesmente cedeu-a de bom grado a Voldemort enquanto começavam.
O cheiro de Riddle envolveu Mitrica antes mesmo de sentir seu toque.
Uma mistura de pimenta e café, com um traço sutil de canela – quente, quase provocativo. Não era forte, mas era marcante.
Um aroma que impregnava as vestes negras impecáveis, o manto ao estilo fato-escuro, sem gravata, apenas detalhes dourados reluzindo sob a luz dos candelabros. A capa vermelha presa à corrente de ouro movia-se sutilmente enquanto dançavam.
Estava ótimo.
Mas não divino.
Eles se moveram juntos, como se fossem duas partes de uma única entidade, tão conforme a música como se fizessem parte dela. A valsa os envolveu, e seus corpos se aproximaram, quase se tocando, mas nunca completamente.
As notas musicais, as outras pessoas no salão, o rosto de Voldemort.
Falso.
Era mais fácil diferenciá-lo assim. O professor de história não via Tom naquela pessoa, não sentia a frieza de seu toque com aquelas luvas pretas e as próprias brancas de Lakroff os separando.
Não via os olhos vermelhos, a mandíbula quadrada, de queixo fino, a beleza esguia, tudo que o fascinara.
Aquele homem que Voldemort fingia ser era mais robusto. O rosto à sua frente era comum demais. Como de alguém que se encontra no metrô e se esquece tão logo se separam. Ainda sem grandes falhas ou excessos, mas um ser humano.
Um simples humano quando na verdade não devia.
Era quase um pecado a parte mudar a aparência verdadeira.
Mas além do rosto tudo era correto, impecável. O cabelo bem arrumado, a postura ereta, o corte elegante da roupa que se ajustava como uma segunda pele. Mas o que havia por baixo?
Lakroff conhecia a verdadeira forma do homem diante dele. Sabia o que estava escondido sob aquela casca. E, justamente por isso, via a mentira em cada linha daquela aparência perfeita.
A dualidade talvez fosse o problema.
Não era Tom, mas os modos e a voz ainda eram de Tom.
Não a exata mesma nota, mas a forma de se falar, a entonação, a atitude.
Ainda era uma parte de uma pessoa pela qual Lakroff tinha que admitir que estava apaixonado e ter sentimentos por uma parte o fazia fraco para qualquer uma.
Todas formavam quem era Tom. Ele querendo ou não.
Por mais que o seu Tom tivesse aprendido e evoluído muito para ser diferente, aquilo na frente de Lakroff era ele. Ponto final. Apenas era o passado dele. O passado de seu Tom, quem um dia ele foi, quem poderia ter sido sem Harrison, e Lakroff era louco o bastante para gostar do homem apesar do seu passado, então era quase torturante ter Voldemort segurando-o.
Um fruto proibido sem dúvidas.
Uma maçã podre, mas que cheirava maravilhosamente e que o atraia pela voz da serpente que já o havia enganado até a loucura. Pelo toque dominante em sua cintura. O perigo em seus olhos.
Voldemort guiava com uma confiança que beirava a arrogância, mas seus olhos revelavam algo enquanto encarava Lakroff, o outro só não sabia o que. A tensão entre eles era palpável, como uma corda esticada prestes a se romper.
Os dois, na verdade, se encaravam e tentavam entender os pensamentos um do outro sem que precisassem começar a falar mesmo que já estivessem seguros de que ninguém os ouviria. Era como se dizer algo agora quebrasse algum encanto.
Mas então Lakroff riu sozinho e Marvolo levantou uma sobrancelha questionadora, ao que o outro respondeu em um sussurro:
— Você não vai gostar de saber, milorde.
Falar foi quase estranho e a voz de Marvolo estava um pouco mais grave do que o normal.
— Diga-me mesmo assim, o que tem a perder?
— Estava pensando que esse disfarce é mais alto que o senhor de verdade, lhe incomoda sua altura?
Riddle soltou uma risada debochada.
— Sempre fui um homem alto para minha idade e país, mas acabei rejuvenescido demais. A altura me incomoda apenas um pouco em comparação ao rosto que tende a não ser levado tão a sério como eu desejaria.
Lakroff levantou as sobrancelhas, levemente surpreso que Voldemort aceitasse dividir aquele pensamento consigo. Quase soava como uma vulnerabilidade, o desejo de ser levado a sério contra como isso poderia ser afetado por sua aparência. Parecia mais do que o lorde das trevas normalmente aceitaria dividir com alguém.
— Há quem não o leve a sério? — perguntou levemente curioso.
— Isso te surpreende depois de ter visto como pareço ultimamente?
— Mesmo com o rosto jovem o senhor é claramente de se fazer ser obedecido.
— Ah sim, mas há quem vá contra isso, não é mesmo, Mitrica? — Lakroff apenas sorriu para a insinuação e Marvolo continuou. — Antes as pessoas não precisavam de um aviso, bastava olharem para mim para temer.
— Eu prefiro o rosto que vi ao que me contaram, mas o senhor gostava da antiga aparência então?
— Não tinha nada contra ela, servia para meus objetivos.
— Entendo, mas imagino que ainda hajam vantagens na nova circunstância.
— De certo modo.
O salão de baile estava envolto em uma luz prateada, refletida nos enfeites de gelo que cobriam as paredes e nos flocos de neve que caiam do teto enfeitiçado. A música, preenchia o ar com uma melodia que parecia pulsar no ritmo dos corações daqueles que dançavam.
Mantinha aqueles dois próximos, mesmo que às vezes seus corpos se separassem para girar pelo salão toda vez que seu ritmo se tornava mais intenso, para depois desacelerar novamente.
— Devo dizer que fiquei curioso — comentou Marvolo, agora ele ganhando contornos de sorriso nos lábios. — Você não me parece do tipo que cospe nas pessoas sem um bom motivo.
— Você viu, é claro.
— Não tinha como perder.
— E eu achando que fui discreto, mas imagino que não o bastante para olhos mais atentos. Devo supor que estava prestando atenção em mim, milorde?
— A quem mais eu daria atenção esta noite?
A resposta pegou Lakroff desprevenido e o fez piscar enquanto se afastavam alguns passos tensos antes de se encontrarem de novo, as mãos juntas.
— Leu os jornais? Eu tenho motivos para fazer o que fiz.
— Tenho certeza de que Dumbledore mereceu, não pense o contrário por um segundo. Mas que tipo de boatos ele vem inventando afinal?
Lakroff revirou os olhos.
— Ele tem plena convicção de que sou meu progenitor.
O olhar de Voldemort ficou mais intenso por um segundo, como se considerasse aquilo.
— Você e Gellert a mesma pessoa? Como ele acredita que isso funciona se há um preso em Nurmengard?
— Não sei, mas dei uma amostra de DNA para ele. Dois coelhos com uma cajadada, ainda tive o prazer de cuspir nele.
— Então é um prazer. Você e Dumbledore não estão nos melhores termos.
Não foi uma pergunta, mas Lakroff respondeu mesmo assim.
— É praticamente um eufemismo dizer isso.
O loiro correspondia aos movimentos do outro com graça e habilidade calculados, a cada novo toque eles pareciam perfeitamente cientes um do outro, mas eram afastados pela música na mesma proporção que lhes dava aquele momento a sós. Assim suas magias, pairando entre eles. Impedindo que qualquer um invadisse um espaço que agora era apenas dos dois.
— Você dança como se estivesse lutando contra algo — Lakroff sussurrou, mais para si mesmo do que para ser ouvido.
Mas é claro que Voldemort ouviu.
— Talvez eu esteja... lutando contra você.
— E por que lutaria contra mim? Já lhe disse que não sou seu inimigo. Ou estamos em maus termos?
— Eu poderia não ter perdoado facilmente a forma como me enganou.
— Eu nunca disse que era alguém confiável, entretanto não me parece aborrecido. Ou pretende me ameaçar?
— Eu nem poderia mesmo que quisesse.
— Isso quer dizer que não quer?
A música estava sempre ganhando contornos mais agitados, forçando-os mais a cada giro. Lakroff sentia o calor do corpo do outro, algo que não associava a Tom, mas sim o frio, a maneira como ele a puxava para mais perto, mesmo que apenas por um instante. Era um jogo de aproximação e distância, de toques breves e olhares prolongados. Mitrica sabia que estava sendo testado, mas também estava testando-o.
Testando aquele pedaço cruelmente vivo de um todo que Lakroff queria, mas não podia.
— O que deseja de mim? O que o motivou a vir até esse baile que parece tão indigno de sua presença?
— Indigno você diz? Quando convidou sua própria filha.
— Ela é jovem e torna qualquer baile uma festa por si própria, mas e o senhor?
— Queria falar com você e queria uma resposta, mas vou lhe dar um tempo para pensar.
— Tempo?
— Quero que responda com certeza e honestidade, porque como agirei de agora em diante dependerá dessa resposta.
— E qual a pergunta?
— Antes de lhe dizer quero deixar claro um aviso, lorde Mitrica, independente do acordo que temos, você deve saber quem eu sou.
— Eu sei, milorde.
— Sabe mesmo? Ou à luz de sua vitória recente o cegou para alguns fatos?
— Não acredito nisso.
As luzes cintilavam diante do gelo, projetando sombras que pareciam dançar junto com os casais. Mas no centro da pista, onde Lakroff e Voldemort se moviam, a luz era mais fraca, como se o mundo ao redor estivesse se desvanecendo, deixando apenas os dois.
— Entretanto você não me teme como as pessoas normalmente acham prudente fazer — murmurou Marvolo, o olhar sempre fixo no do outro.
— Penso eu, que diante das circunstâncias, vi do que o senhor é capaz e enquanto não descubro um truque novo que possa enganá-lo, você é sim uma força a se temer. Todavia sou um homem criativo e você já se provou capaz de ser ludibriado, o que me dá certa confiança a mais. Igualmente sou um homem de riscos, então mesmo que eu o tema, isso não me impede como faria com outros.
— Sim, sim, eu vi a sua coragem insana. Você é fascinante, Lakroff Mitrica. Mas lembre-se... até as estrelas mais brilhantes podem ser apagadas.
O loiro sorriu involuntariamente.
— E você acha que pode apagar uma estrela, milorde?
— Eu já apaguei constelações inteiras.
Um chiado muito alto encobriu momentaneamente os sentidos de Lakroff.
Como um alerta gigantesco, alto e de luz cegante que deixou sua mente completamente destruída por alguns segundos.
Ele decididamente tinha algum problema, porque aquele era justamente o tipo de frase que mexeu com cada fibra de seu ser.
"Tom vai me matar" ele pensou, porque se sentiu pela primeira vez naquela dança quase como se estivesse traindo o homem que amava, porque por aquele milésimo de segundo, ele se sentiu atraído por quem Tom um dia foi.
Por Voldemort.
Lakroff decididamente tinha um problema.
Talvez ele tenha demonstrado isso, provavelmente por melhor mentiroso que fosse, ele tremeu levemente. Algo tão sutil que a maioria das pessoas não notaria no meio de uma dança, mas Voldemort sim.
Foi como se, de repente, se tornasse mais fácil ler seu adversário e ele apertou mais.
Voldemort puxou Lakroff para mais perto, tanto que pôde sentir a respiração quente de vida do outro lhe tocar os lábios, e sorriu. Quase uma risada, na verdade, um som baixo e sedutor que fez Lakroff sentir um frio na espinha.
Mas Mitrica manteve o olhar fixo, desafiador, mantendo o controle como podia.
— Cuidado, milorde, brincar com estrelas pode te consumir.
Aquela resposta era bastante ambígua.
Era uma ameaça, uma provocação, ele estava admitindo que aquilo tinha o atingido?
Voldemort não sabia dizer e esse era o ponto de Lakroff Mitrica.
Ele não sabia, na mesma proporção que parecia que sim.
— Outra que algumas constelações quando não se apagam, queimam.
Certo, aquilo era uma ameaça. Voldemort apenas negou levemente com a cabeça enquanto empurrava o outro no ápice da música.
Em outros tempos a atitude de Lakroff lhe causaria ódio, ele desejaria destruí-lo e talvez Marvolo realmente quisesse aquilo. Muito provavelmente sim.
Mas também o atraía como olhar para um animal exótico e perigoso.
Alguns convidados estavam observando, intrigados pela dança entre o misterioso, mas querido pelos alunos, Lorde Mitrica, e o desconhecido acompanhante de lady Xatwin de olhar penetrante. Sussurros começaram a circular, mas Lakroff e Voldemort pareciam alheios, como se nem os notasse mais.
De fato, Voldemort não tinha qualquer interesse nos demais para vê-los diante de si agora.
— O que queria me falar, milorde? — perguntou Lakroff com curiosidade.
E Voldemort respondeu:
— Você aceitaria um lugar ao meu lado?
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Capítulo 9 — Última valsa e três pedidos aos Grindelwald
"Lakroff tinha visões constantemente, principalmente quando tirava seu aparelho bloqueador. Nem sempre ele entendia corretamente o que queriam dizer ou quais ouvir
Isso tinha a tendência cruel de arruinar seus planos".
Aquilo não pegou Lakroff completamente de surpresa, apesar de não condizer muito com o que ele supunha que Voldemort fosse. Era esperado que Riddle quisesse como seus soldados pessoas que se mostraram capazes de derrotá-lo, mas até onde sabiam se tratava de um homem orgulhoso, era difícil de acreditar que sua frustração com tudo não o impedisse de sugerir algo assim.
A música estava no fim, a ritmo da dança estava desacelerando quando respondeu com tranquilidade:
— O senhor disse que me daria tempo para pensar, mas lamento dizer que não sirvo para ser comensal — respondeu com tranquilidade.
Quando ele e Voldemort pararam, Lakroff, com um sorriso no rosto satisfeito por aquilo estar no fim, apenas pegou a mão que segurava, levou aos lábios e beijou.
— Foi um prazer, milorde.
— Não é como comensal a que me refiro.
Bem, isso era um pouco mais intrigante.
— Acha que eu ofereceria ao homem que me derrotou em duelo a posição de simples peão e acreditaria mesmo que ele aceitaria?
Uma nova música estava começando, igualmente lenta, Voldemort segurou a mão de Lakroff impedindo-o de simplesmente sair, mas não era como se ele fosse conseguir.
Tinha sido fisgado, estava oficialmente curioso.
Ele aceitou que a mão alheia voltasse para sua cintura e os dois recomeçaram uma valsa.
— Vou ser objetivo lorde Mitrica — começou Riddle, olhando nos olhos de Lakroff. — Quero você ao meu lado como meu braço direito. Quero-te em uma posição que nunca ofereci ou imaginei oferecer a alguém um dia e, por isso, é melhor que pense bem, porque a recusa me parecerá como uma declaração de inimizade. Quero-te imediatamente ao meu lado, não atrás e curvado como os demais.
Lakroff arregalou os olhos, um gesto relativamente sutil, mas permitiu a Voldemort ver surpresa ali e por isso sorriu com certa satisfação. Parecia ter tido sucesso em pegar um possível vidente desprevenido, isso era algo a se parabenizar.
— Está me oferecendo uma parceria? Devo estar enganado, o senhor não o faria...
Não Voldemort, não agora. Aquela merda queria dizer que Lakroff tinha lido algumas visões erradas e isso era péssimo.
— Sejamos sinceros, Mitrica, você carrega o nome e o sangue dos Grindelwald, a linhagem de um lorde das trevas, o conhecimento de um, uma família que mesmo que possa apresentar suas fraquezas, ainda é a única que pode dizer sem medo ter alguma capacidade de me enfrentar de frente. Vocês não são soldados, são generais. Como líder dessa família e alguém que preza acima da própria segurança pelo bem dela, estou te oferecendo a posição mais alta na minha estima. Oferecendo que me ajudem a alcançar meus objetivos porque, ouso dizer, temos alguns em comum.
— Temos? O senhor se lembra que minha filha é um aborto?
— Não aja como se fosse estúpido, porque ambos sabemos de suas reais capacidades. Você sabe meu nome, sabe de onde eu vim e sabe que em meu exército já aceitei pessoas menos puras. Sua sobrinha, Lilian Evans, estaria viva se tivesse aceitado minha proposta e foram feitas mais de uma. Mesmo que eu use do preconceito das famílias sangue-puro para conseguir sua força e dedicação, nós dois sabemos que tenho objetivos maiores e não acredito que você não pense parecido. Você acredita nas artes das trevas, no poder real da magia, não concorda com o que Dumbledore quer para a sociedade e mesmo que não more na Grã-Bretanha, Harrison tem muito poder aqui que sei que não é do feitio de vocês ignorar ou ele não teria assumido tantos títulos para começo de conversa. Eu vejo nos seus olhos que tipo de pessoa você é, mesmo que finja ser outra. Não está cansado de fingir? Eu te ofereço a liberdade e a segurança de todos que desejar.
Lakroff ficou em silêncio, a mente correndo enquanto tentava avaliar o que fazer agora. Voldemort esperou de forma paciente enquanto se moviam pelo salão.
— Como eu disse, lhe darei tempo para pensar na proposta.
O silêncio do homem loiro permaneceu por mais um tempo, mas ele não pensava na proposta de Voldemort.
Sim no que aquilo significava.
Ele tinha que tomar muito cuidado agora que uma de suas visões acontecera, mas não da forma como esperava e aquilo mudava completamente seus planos. Tinha que refazê-los e rápido, além de que sem a ajuda de Tom que sabia melhor como ler aquele homem.
— Eu tenho que perguntar, o que exatamente o senhor pretende fazer se eu recusar?
— Você deve entender que no caso de uma negativa eu vou assumir que se não estão do meu lado, estão contra mim.
— Já disse que não pretendemos interferir nos seus negócios. Na verdade, deixei bem claro em nossa batalha como queria afastar qualquer ideia de um lorde das trevas da minha família, como isso já machucou muito nossa linhagem e que não precisamos servir a um mais uma vez.
Marvolo levantou uma sobrancelha e deu um sorriso que, por todos os bruxos das trevas, era o sorriso de Tom. Algo serpentino no canto dos lábios, os olhos brilhando, a cabeça levemente inclinada como se estivesse prestes a dar um bote.
— Sou uma pessoa paciente, Lakroff Mitrica, mas também tenho que ser cauteloso, nós dois sabemos que não posso simplesmente deixar as coisas como estão. Estou oferecendo que me ajudem, então estaremos em bons termos. Do contrário não vou dizer que não podem mudar de ideia, mas posso vir a tomar decisões que podem te fazer se arrepender de ter negado uma proposta tão boa enquanto havia tempo. É uma guerra, coisas acontecem. Seu teto pode ser mais frágil do que se espera.
— Sem dúvidas é uma guerra, mas eu sugeriria que não perdesse seu tempo travando-a conosco — suspirou. — Mas eu sei que o senhor não vai nos ignorar, minha ideia é apenas que se lembre que tudo que fizer haverá uma retaliação a altura. Não vamos ficar para trás.
— Esta resposta, quer dizer que você pretende negar?
— Eu pretendo.
O olhar de Voldemort já dizia tudo. Ele faria com que Lakroff se arrependesse disso, assim como fez vários outros que foram contra seus planos se curvarem eventualmente.
Ou ao menos, ele mataria tentando.
— Espero que não leve o que acontecer a seguir para o lado pessoal, é apenas guerra, vocês podem mudar de ideia quando perceberem o erro.
— Espero que o senhor não faça nada que force meu sobrinho neto a cumprir uma certa profecia, se eu pudesse evitar envolve-lo nesses pormenores seria ideal.
Marvolo teve uma reação interessante a ameaça velada naquelas palavras, seu olhar ofídico veio à tona, vermelho e na forma de uma serpente, por um milésimo de segundo onde sua expressão não era mais tão simpática como vinha sendo e ele estava para dizer alguma coisa. Lakroff esperava que não tivesse cometido um erro muito grande.
Talvez ele devesse ter aceitado. Trabalhar como espião com Voldemort era algo com o qual podia lidar. Ele saberia mentir, enganar o lorde das trevas, e poderia voltar a ter informações do que ele planejava. Talvez tivesse perdido uma boa oportunidade e estava com essa incerteza quando a música encerrou.
— Como eu disse, talvez você e sua família não tenham a real dimensão de como e porque deveriam me temer, mas isso pode ser remediado — murmurou Voldemort enquanto ambos se curvavam.
Lakroff abriu a boca para responder, mas a voz de Ivan se fez ser ouvida pelo salão. Chamando o professor Mitrica para o palco e ele soube que aquela era sua deixa.
Seja como fosse agora, aquela tinha sido sua decisão.
Teria que arcar com ela.
Mas talvez Voldemort estivesse enganado. Lakroff já tinha uma boa dose de medo daquele homem.
"Voldemort mata todos os Mitrica" pensou diante do coro dos alunos o chamando para subir.
-x-x-x-
O salão de baile ainda estava cheio de vida quando Lakroff desceu do palco, casais giravam ao som da música e de risadas ecoando pelas paredes altas. O professor, no entanto, não estava mais no clima para festas.
A tensão de toda sua interação com Voldemort ainda pesava em seus ombros. Seus olhos azuis, normalmente calmos, agora varriam o salão em busca do homem sem sucesso. Também não via Samanta Xatwin por mais que procurasse.
Alguns alunos e professores vieram cumprimentá-lo pela apresentação e ele notou como recebeu um novo tipo de olhar de alguns "menos puros" (como tinha dito Voldemort). O que uma música não tinha o poder de dizer, não é mesmo? Ainda estava receoso com sua própria atitude quando encontrou Alice. Ele a havia avisado para não ficar sozinha, mas, como sempre, ela parecia ter um talento especial para ignorar seus conselhos.
Lakroff estava indo decidido até ela quando Igor Karkaroff o interceptou. Não estava muito disposto a lidar com o homem em público, então apenas o chamou para o barco assim que a festa acabasse, o que era uma droga já que perderia tempo valioso com Tom tendo que lidar com aquela barata de dentes pútridos, mas talvez desse algum prazer a horcrux curvar aquela criaturinha até talvez fazê-la chorar.
Então, quando finalmente se livrou do homem, encontrou sua filha exatamente onde não queria que estivesse, em um canto do salão, desacompanhada de qualquer um que realmente pudesse dar algum apoio se Voldemort tivesse tido a ideia de ir até ela, mas ainda sim cercada por um grupo de alunos da Durmstrang.
Ela sabia o que era aquilo. Curiosidade. Interesse. E talvez, para alguns, um certo fascínio em descobrir quem era a "filha" de Lakroff Mitrica, o professor que parecia intocável para a maioria deles.
— Então você realmente trabalha no Ministério? — um dos alunos perguntou, um rapaz alto com feições afiadas e um sotaque carregado.
— Trabalho — respondeu Alice, com um meio sorriso, tomando um gole de sua bebida. — Embora meu trabalho não seja tão emocionante quanto parece.
— Você não estudou na Durmstrang, não é? Por quê? — questionava outro.
— A escola não me aceitaria — ela dispensou. — Mas acho que qualquer escola tem um limite de quantos Mitrica consegue suportar sem ruir. Vocês não estariam prontos para tantos de nós.
— É solteira?
Alice e alguns do grupo riram da pergunta direta, mas antes que a garota pudesse continuar sua interação com os alunos, a voz de seu pai cortou o ar como um feitiço bem lançado:
— Achei que tivéssemos um combinado, Alice.
A temperatura do ambiente pareceu cair um grau. Alice não precisou se virar para saber que Lakroff estava ali. E pela reação dos alunos, a presença dele era ainda mais imponente do que ela imaginava.
O professor da Durmstrang se aproximou, o olhar afiado escaneando o grupo como se calculasse o perigo potencial de cada um. Mesmo sem levantar a voz, a simples entonação carregava uma autoridade inquestionável.
— Eu pedi para que você não ficasse sozinha — ele continuou, cruzando os braços.
Alice suspirou dramaticamente, inclinando a cabeça para o lado.
— Tecnicamente, eu não estava sozinha. — Ela gesticulou para os alunos ao redor, que pareciam cada vez mais desconfortáveis. — Estava muito bem acompanhada.
Lakroff lançou um olhar a um dos meninos, que imediatamente decidiu que seu copo precisava ser urgentemente reabastecido e desapareceu.
— Claro, excelente companhia — respondeu o loiro, sarcástico. — Um grupo de adolescentes com mais testosterona do que neurônios.
Alice riu, enquanto os alunos restantes, percebendo que talvez não sairiam ilesos dessa interação, começaram a se dispersar.
— Pai, eu sei me virar — ela disse, ainda sorrindo. — Trabalho cercada de bruxos no Ministério. Não precisa me proteger o tempo inteiro.
— Preciso, sim — retrucou Lakroff, ajeitando um botão do próprio traje. — Ainda mais quando vejo um bando de jovens interessados demais na minha filha.
Alice revirou os olhos.
— Ah, por favor, não me diga que você ia começar com o "Se algum deles te incomodar, eu cuido disso pessoalmente"...
— Não, claro que não — ele disse, ajeitando as abotoaduras da roupa com falsa indiferença. — Eu só queria saber se prefiro transfigurá-los em alguma coisa discreta ou jogá-los no lago.
A mulher gargalhou, mas logo em seguida fez uma careta.
— Nem vem, estou brava com você!
— Comigo? — ele levantou as sobrancelhas. — O que eu fiz? Foi você que me desobedeceu.
— Você também! Eu disse para não dançar com aquele nojento asqueroso!
— Qual deles?
— Dumbledore, é claro! Eu até joguei baixo — sussurrou a última parte. — Chamei de papai e tudo... — ela levantou o olhar para avaliá-lo. — O que foi? Esse não é o velho dinossauro que eu conheço.
— Não me chame assim, de verdade — suspirou. — Você me desobedeceu por vingança?
— Não exatamente. Tonks teve que sair, provavelmente porque Leandro estava indo para o barco e eles estão fazendo ronda por lá. É por isso também que não estava com ele. Viu? Não fui apenas desobediente. Já você...
— Eu precisava conversar com o homem, era importante.
Ela revirou os olhos e cruzou o braço.
— Não gostei nada disso. Aquela coisa tinha que ser jogada para o lugar dela.
— Não fale assim em público, se os professores de Hogwarts ou os alunos escutam, vão pensar que estou te educando para caminhos não muito agradáveis.
— Não gostar de Albus Dumbledore não tem a ver com Gellert, é uma questão de bom senso.
Lakroff apenas sorriu de canto, satisfeito consigo mesmo. Mas Alice percebeu. O sorriso não era tão fácil como de costume. Os olhos dele carregavam uma sombra, e por trás da teatralidade do pai coruja, havia algo mais.
Ela cruzou os braços e inclinou a cabeça, avaliando-o.
— Está tenso — ela disse, casual, mas atenta. — O baile não foi tão divertido quanto esperava?
Lakroff arqueou uma sobrancelha, mas Alice viu que os dedos dele apertaram levemente as luvas.
— Um pouco mais cansativo do que o esperado.
Alice sorriu de lado.
— Você parece alguém que acabou de dançar com a própria morte, ou um dementador.
Lakroff piscou lentamente para ela.
— Você não está completamente errada.
Ela soltou uma risada baixa e provocadora.
— E ele ao menos era um bom dançarino?
Por um instante, Lakroff hesitou. Mas então, com uma expressão exausta, suspirou.
— Ele é alguém que sabe conduzir.
Alice ergueu uma sobrancelha. Então não estavam falando de Dumbledore. O que queria dizer que aquela reação de seu pai era por causa do acompanhante de Samata Xatwin. O que era, no mínimo, curioso.
— Então ele sabe conduzir, mas e aí? Você ainda é o melhor dançarino que eu conheço. A menos que ele tenha feito você girar até ficar tonto, não vejo motivo para essa cara de preocupação.
Lakroff sorriu para a filha com um olhar afiado.
— Estamos falando de dança?
— Não.
O homem negou com a cabeça com suavidade e um sorriso no rosto, depois ofereceu um braço para Alice.
— Quer dançar mais? O baile já está quase no fim e mal conseguimos aproveitar juntos.
— Há quem diga que dançar com o próprio pai não é exatamente uma diversão, mas não se preocupe, eu me entretive bastante essa noite.
Mesmo assim ela já foi colocando sua mão envolta no braço do homem e os dois se dirigiram para o salão.
-x-x-x-
Lakroff foi um dos últimos a sair do baile.
Como professor, ele esperou não ver mais nenhum aluno da Durmstrang antes de levar Alice para fora do salão e em direção ao lago negro.
Depois de saírem do salão principal para o salão de recepção, o saguão, um pátio externo e as escadas, eles aproveitaram o ar noturno gelado, Alice sentiu como de repente o que poderia ser absurdamente frio de inverno se transformou em um frescor agradável, provavelmente por magia do pai e apenas riu baixinho. Ela e Lakroff caminharam em silêncio por alguns minutos, os passos ecoando contra o chão de pedra até que ela começou a se questionar de quão longe era tudo aquilo.
— Quer dizer, como não chegam atrasados nas aulas? — perguntou indignada.
— Não há aula na casa dos barcos.
— Mas seus alunos na Durmstrang devem estar precisando acordar muito cedo para sair desse lago e chegarem no castelo, porque que caminhada! Olhe essa quantidade de escadas, estão fazendo academia todo dia! E isso é só para chegar para o café da manhã, nem imagino o esforço que é para alcançar uma sala de aula.
Lakroff apenas riu porque não tinha muito o que dizer, Hogwarts realmente tinha uma estrutura muito grande.
Quando enfim terminaram as escadas e chegaram à casa de barcos, Alice parou logo na entrada e deu uma boa olhada para cima, vendo a extensão do castelo e suas luzes durante a noite.
— Pelo menos é uma vista bonita.
O pai não gostava muito daquela escola, mas tinha que admitir, era bonito.
A silhueta imponente do navio da Durmstrang os aguardava mais adiante, suas velas espectrais tremulando levemente, mesmo sem vento. Um dos barquinhos encantados os levou até lá, deslizando sem esforço pela água escura. Alice apoiou os braços na lateral, olhando o reflexo da lua crescente se despedaçando nas ondas.
— Você realmente vai fazer todo esse mistério? O que vou encontrar de tão importante no barco? — ela perguntou, arqueando uma sobrancelha.
Lakroff, que observava o horizonte, apenas sorriu de lado.
— Seria mais divertido se eu deixasse você adivinhar.
Alice riu sem emoção.
— Algo me diz que "diversão" não é exatamente o que está em sua mente agora.
O pai não respondeu, apenas virou o rosto para ela por um instante. O olhar dele estava diferente. Mais... incerto. Como se não tivesse certeza de como expressar algo.
A desconfiança começou a crescer na mulher.
— Dinossauro... — Lakroff bufou, mas a voz de Alice ficou um pouco mais séria. — O que aconteceu no baile? Você parecia mais tenso que o normal — e um pouco mais astuta, acrescentou. — Quem, de verdade, era aquele cara que você dançou?
— Acho que você já suspeita da resposta — respondeu de forma vaga.
Mesmo assim Alice cruzou os braços e fez uma tentativa.
— Você estava com muito medo de eu ficar sozinha. Ou é um comensal, mas não acho que um seja capaz de te afetar tanto, então não me restam muitas alternativas. Era o tão famoso Lorde das Trevas? — disse Alice, fingindo um ar de indiferença. — Ele é tão assustador quanto dizem?
Lakroff riu, um som baixo e meio distante.
— Ele é... complicado — admitiu. — Um dançarino perigoso.
— Dançar com Voldemort agora é um esporte radical?
Ele soltou uma risada seca.
— Se fosse, eu já teria ganhado uma medalha.
Alice continuou olhando para ele, esperando mais. Lakroff finalmente desviou o olhar para a água, o rosto sereno, mas os olhos carregados de pensamentos.
— Há pessoas que nos forçam a enxergar partes de nós mesmos que preferíamos manter enterradas — ele disse, vagamente.
— Ele te fez pensar na guerra?
— Não só isso.
A mulher ficou em silêncio e fechou os olhos, sentindo o movimento do barco. Não demorou muito e eles estavam entrando na Durmstrang e seguindo para a cabine do vice-diretor.
Harry já os esperava sentado em uma poltrona no escritório que tinha uma decoração que, na opinião de Alice, gritava Lakroff em cada enfeite bem escolhido e cheio de elegância.
— Você sabe que eu vou te matar por essa história de torneio, não é? Se você morrer eu te trago de volta e te mato de novo, Lakroff deve saber como fazer isso.
— Já pedi desculpas!
— Não foi o bastante! — Alice reclamou indo até o irmão mais novo. — Você é uma peste que só sabe atrair problemas, o que eu vou fazer com você para enfiar nessa sua cabecinha que você nunca, na vida, deveria se arriscar assim pelos outros?
— Eu faria isso por você.
— Não deveria — ela rebateu na mesma hora. — Credo, Hadrian!
Harrison baixou os olhos porque o uso do nome pelo qual os irmãos o conheceram sempre era um sinal de que estavam muito bravos e geralmente ele tentava evitar.
Apesar de que, com Alice, aquilo era mais frequente.
Eles tinham a tendência de brigar por coisas idiotas na mansão.
Pegadinhas, provocações, por mais que Hazz fosse próximo de todos os irmãos, Alice e ele dividiram um quarto, se conheciam a mais tempo, falavam mais, tinham a idade mental mais próxima. Isso criava um certo laço único, o mesmo companheirismo que Heris e Diego tinham entre si. Nada de amar um mais que outro, mas realmente se ligar de uma forma específica.
— Minha vontade é de te dar uns tapas na bunda — Alice continuava.
Não era uma ameaça real. Alice tinha a tendência a resolver as coisas com as mãos, mas nunca encostou um dedo em Harry nesse sentido, ele sequer hesitava com aquela ameaça.
— Quer o cinto do Lakroff? Acho que ele te empresta.
— Vai a merda, garoto impertinente! Você ao menos o deixou de castigo, certo? — perguntou se virando para Lakroff.
O homem apenas desviou o olhar como se tivesse sido pego fazendo algo errado.
E tinha.
— Eu não acredito em vocês dois! — arfou Alice. — Não sei se isso é porque são homens ou bruxos, mas seus cérebros definitivamente não estão funcionando como deveriam.
Quase como se concordasse, Nagini balançou a cabeça de onde estava mais ao canto e Alice apontou o dedo para ela:
— Ela me entende, aposto que teria te deixado de castigo se pudesse.
— Por que você não o deixa de castigo? — perguntou Lakroff.
— Como se ele me visse como autoridade o bastante para obedecer — resmungou revirando os olhos.
Harry sorriu pois não precisava dizer nada para confirmar.
Lakroff foi até sua adega enquanto comentava:
— Se te serve de consolo, Sirius Black o deixou de castigo por ter roubado o título de lorde da Sonserina de Voldemort.
— Não serve, que tipo de castigo foi? Esse menino me pareceu bem livre na festa de hoje com o ruivinho para estar de castigo — e mudando rapidamente de humor, acrescentou. — A propósito, uma gracinha, se eu gostasse da fruta perguntaria se tinha mais desses.
— Tecnicamente são um grupo de sete — comentou Lakroff. — A propósito, acho que estou devendo uma grana para Sirius, ele apostou que os Weasley eram uma opção melhor, mas eu jurava que Harrison ficaria com os Malfoy.
Harry corou porque se lembrou do que tinha acontecido no banheiro com Draco e voltou a se sentir péssimo com tudo aquilo, como se estivesse traindo a confiança de George ou algo parecido.
Mesmo que ele tenha contado ao acompanhante durante o baile tudo que ocorreu no banheiro.
Lembrar disso, na verdade, só deixou o garoto mais corado porque o fez lembrar de George se aproximando e sussurrando em seu ouvido "Sou grifinório, eu não desisto de uma competição quando a vejo", então, como se não bastasse, ele beijou a bochecha de Harry.
O garoto na verdade arregalou os olhos e respirou fundo porque sentia que podia explodir por dentro só de lembrar daquilo.
— Ele está bem? Tem alguma coisa errada com ele — murmurou Alice para Lakroff que já carregava uma taça de vinho.
— Amor jovem.
Harrison conseguiu ficar ainda mais vermelho, se é que fosse possível, e cobriu o rosto com as mãos.
Amor.
Não podia ser isso.
Ele só não... reagia bem a essas coisas.
E ele teve uma dose dupla naquela noite.
"Mas, pelo meu ponto de vista, tem um com a vantagem" a voz da horcrux sussurrou no fundo de sua cabeça e Harrison quase deu um gritinho.
— Não começa, isso tudo já é horrível sem seus comentários!
— Agora ele está falando sozinho — murmurou Alice junto da risada de Lakroff. — O menino já veio quebrado, mas quando ele fala em voz alta é porque está um pouco pior.
— Calada você também!
— Olha como fala com os mais velhos!
— Velhota!
— Apaixonadinho — Harrison soltou um resmungo indecifrável e Alice riu. — Cuidado, Hazz, ou você vai acabar com o coração partido antes mesmo de terminar a escola.
— Não é amor. É só... confusão.
— Ah, sim, confusão. Claro. Porque todo mundo fica vermelho como um tomate e fala sozinho quando está "confuso".
— Eu tenho que dormir! — anunciou negando com a cabeça. — Só vim deixar Tom e já vou deitar.
— Deixar Tom?
Harrison olhou para Lakroff. O homem retirou suas luvas, os dedos tremendo levemente ao retornar para segurar a taça de vinho e olhou para Alice, seus olhos azuis revelando uma hesitação que ela raramente via nele.
— Tem uma coisa que precisamos te mostrar — sua voz estava mais suave do que o normal.
-x-x-x-
Alice observou Tom se materializar, seus olhos castanhos se estreitando em um misto de surpresa e desconfiança. Ela sabia quem ele era, mas ver uma horcrux ganhando forma física era algo completamente diferente.
Lakroff olhou para Tom com um olhar carregado de emoção indecifráveis, seus dedos tremendo levemente ao se aproximar. Riddle, por sua vez, manteve uma postura rígida, mas seus olhos revelavam uma mistura de curiosidade e desconfiança.
Não queria admitir nem para si mesmo, mas estava nervoso.
Os irmãos de Harrison sabiam sobre ele, depois que foram morar na mansão Mitrica, o menino nunca escondeu que tinha um bruxo das trevas morando em sua cabeça. Isso já havia dado o que falar no começo, quando eles realmente ficaram preocupados com o que isso poderia significar e ainda não confiavam o bastante em Lakroff para acreditar que Harrison estava seguro se ele dissesse que estava.
As coisas mudaram com o tempo, Harrison pôde ser ele mesmo na casa, falando com Tom, os irmãos se acostumaram com a ideia. Eles perceberam eventualmente como aquela horcrux era importante para o garoto, como o tinha ajudado nos piores momentos, até quando nenhum deles esteve lá.
Alice sabia quem era Tom Marvolo Riddle. Tudo. Sabia quem era Voldemort e o que era uma horcrux, mas a forma com a qual ela olhou para Tom assim que ele se materializou o deixou mais desconcertado do que gostaria de admitir.
Por Salazar.
Ele tinha mudado muito.
Para se importar com a reação de outra pessoa daquele jeito, era sempre uma certeza de que a horcrux era uma pessoa diferente, mas parecia que a cada nova oportunidade o mundo criava uma chance de provar aquilo de uma nova forma mais decisiva.
— Tom — Lakroff murmurou quando o silêncio se estendeu demais. — Esta é Alice.
— Eu sei quem ela é.
Sua voz era fria, mas havia um tom de respeito, como se ele reconhecesse a importância dela.
Harrison usou o medalhão da Sonserina e canalizou sua magia, junto da horcrux em sua cabeça e conseguiu formar uma imagem que aos poucos, conforme mais magia cedia, mais material e real se parecia. Um corpo de magia. Era a primeira vez que Alice estava vendo aquilo e, apesar de já estar familiarizada com a ideia de uma horcrux, decididamente não pensava que aquilo era possível.
— Você está bem? — ela perguntou à Harrison, parecendo ignorar momentaneamente a nova pessoa na sala.
Tom tentou não se incomodar.
— Estou — Harry garantiu. — Já me acostumei.
— Isso deve tirar muito de você. Quer dizer, cinquenta por cento da alma desse cara precisou quase matar uma garota na câmara secreta para ter um efeito parecido e você está lhe dando magia e energia vital sozinho o bastante para se igualar a esse efeito?
— É diferente. Eu e Tom estamos ligados, ele consegue usar minha energia como se fosse a dele a este ponto. Não precisa roubar, nós partilhamos.
— Isso não te cansa? — negou com a cabeça. — Não te drena?
— Só um pouco. É como usar vários feitiços de uma vez. Por isso eu vou dormir.
— E você fazia isso com três horcrux antes? A sua, o medalhão e o diadema?
— Sim, mas agora não temos mais o diadema.
— Então é mais difícil agora?
— Sim, até porque antes Lakroff podia usar o diadema e oferecer um pouco dele, mas agora só funciona se for comigo, só eu posso doar a energia necessária sem morrer por causa da nossa ligação.
Alice, que estava sentada com as pernas cruzadas, ponderou um pouco sobre aquilo.
— Então vocês fazem isso com frequência e por que mesmo?
Os três homens ficaram em silêncio.
Por quê?
Aquele era um bom ponto.
Porque queriam.
Porque desejavam ver Tom, falar com ele, tocá-lo. Não havia um motivo realmente razoável para dar a Alice e todos sabiam disso.
Não foi, entretanto, preciso mais palavras para a garota fazer as ligações necessárias e entender.
— Você está apaixonado por ele, por isso ficou daquele jeito no baile quando dançou com Voldemort, você gosta dele.
— Como é que é?! — Tom praticamente gritou com um olhar de fúria na direção de Lakroff que imediatamente corrigiu.
— Eu gosto desse, não daquele.
— São praticamente a mesma pessoa, esse só é... o que convive com Harry, aquele é o lorde das trevas. Alguém como você consegue sempre fazer a diferenciação? Ou os dois mexem com você?
— Você quer colocar seu pai em uma situação difícil? Porque está conseguindo.
O olhar de Tom dizia tudo.
Ele parecia pronto para matar Lakroff.
— Eu estou saindo! — Harrison anunciou já abrindo a porta do escritório.
Alice suspirou enquanto via o irmão fugir.
— Vocês dois são um problema, não é mesmo? Você se apaixona pelas piores pessoas.
— Talvez — admitiu com um suspiro.
Tom estava com os braços cruzados, impaciente no centro da sala e não disse nada quando Alice se levantou e finalmente lhe deu atenção, indo até ele, parando bem a sua frente e o encarando nos olhos apesar da diferença de altura.
— Então é assim que você se parece. Tom...
— Sim — respondeu com mais indiferença do que realmente sentia.
— Você é quem cuidou do Hazz quando estava com os tios naquela casa horrível.
— Eu tentei — havia um pingo de dor em suas palavras. — E você cuidou dele no orfanato.
— Eu tentei — a menina respondeu com uma dose muito parecida de dor.
Ambos conheciam bem as falhas um do outro naquela missão e podiam se entender naquele ponto crucial das coisas.
Os dois sustentaram um olhar intenso, nenhum disposto a ser o primeiro a quebrá-lo e ficaram assim por tempo o bastante para Lakroff estar se sentindo desconfortável observando. Depois do que pareceram minutos inteiros, Alice deve ter chegado a uma conclusão porque assentiu.
— Continua cuidando dele.
— Digo o mesmo.
— E cuida do meu pai, ele é um idiota apaixonado, vai fazer tudo por você pelo que o conheço, mas se você se aproveitar disso, aposto que nem Harrison vai te perdoar.
— Eu imagino que seja o caso.
Alice não gostou muito da resposta, mas não tinha muito mais que pudesse fazer, ela se virou para seu pai e apontou em direção a lareira.
— Me acompanha até em casa?
— Eu já volto — disse olhando para Tom.
— Claro — ele estava com uma frieza intensa na voz, quase um veneno.
Alice franziu o cenho.
— Você está bravo com ele por nutrir sentimentos por você como um todo?
Tom nem pensou em negar, conhecia aquela garota, ela era astuta, uma verdadeira cobra desde sempre. Com algumas atitudes de leão.
Mais um dragão em uma família de mariposas que não eram do tipo que se deve tentar enganar.
— Eu não sou Voldemort — respondeu com simplicidade.
— Você já foi — ela rebateu. — Sentimentos são confusos, não pode julgá-lo por uma versão de você ser capaz de enganá-lo com as atitudes de uma que já o conquistou.
— Ele não gostaria se fosse o contrário. Eu não teria esse problema para diferenciá-lo.
— Mas você está apaixonado?
A pergunta cruzou o ar como uma bala que calou Tom. Ele desviou o olhar pela primeira vez da garota e ela suspirou voltando-se para seu pai. Lakroff não estava demonstrando reação e ela não esperava que ele o fizesse diante daquele silêncio revelador.
— Vamos para casa — ela chamou de novo, indo até a lareira e pagando o pó de flú.
A mansão Mitrica ficava praticamente vazia na maior parte do ano, exceto em períodos de férias escolares quando todos voltavam ao menos um pouco (a depender do trabalho), era uma mansão grande com moradores exclusivos mágicos: os elfos e, talvez, os quadros. Alice era a única que podia ficar no casarão, ligar a entrada e saída do flú com o ministério soviético para trabalhar, mas talvez um lugar tão grande e vazio não agradasse ninguém da família, porque isso acabou sendo muito discutido.
Ela ofereceu ter um apartamento em Moscou perto da entrada para o ministério, mas as proteções na mansão eram centenárias, fortalecidas por gerações de lordes e suas magias, Lakroff ainda tinha muito medo de deixá-la sozinha em um tanque de tubarões como era o ministério e esperar que tudo ficasse bem. No mínimo ele queria ter certeza de que Alice ficaria segura em casa.
Depois de longas brigas, a mulher decidiu que ficaria na mansão, mas passava bastante tempo na cidade depois do trabalho, tanto Moscou quanto Yaga, a cidade que fundaram em volta da mansão, sempre acompanhada de um dos elfos. Geralmente Bibi, que apesar de ser uma elfa Grindelwald e bem velha, se adaptou rápido a ideia de que agora haviam trouxas na família e não mudou sua lealdade nem por um minuto. Pelo contrário, ficou feliz em ter mais pessoas para servir.
Provavelmente, levando em consideração como era cuidadosa com Alice, deve ter percebido a atitude especial que Lakroff dava à sua única menina e se tornou igualmente uma coruja, mas Alice se acostumou.
Por mais que não dissesse com frequência, era bom ser tão amada e cuidada depois de tantos anos onde sentia que era só ela que podia se importar com sua própria vida, então não lhe causava nenhum desconforto ter Bibi sempre próxima.
Lala estava ultimamente passando bastante tempo na mansão Black com Monstro, Long vivia saindo para verificar Heris e Poo para verificar Diego então Alice achava a casa ainda mais solitária se não fossem pelos quadros.
O problema é que nem todos gostavam dela.
A maioria não o fazia. Por isso a cidade, quando estava cansada de provocá-los sobre como era uma herdeira legítima pela adoção de sangue e se algo acontecesse com Hazz, o filho dela que assumiria como novo lorde da família. Nos momentos que isso não a distraia ou que não tinha trabalho extra, fazia amizades com muitos dos moradores e comerciantes.
No geral, Alice tinha criado uma rotina sólida e já era bastante acostumada com a rede de flú, mas ela queria conversar com seu pai, por isso esperou no hall de entrada ele aparecer por entre as chamas.
Lakroff já podia imaginar algumas coisas das quais sua filha podia acusá-lo e apenas acenou para a sala mais próxima.
— Não precisamos sentar, vou ser rápida — ela respondeu o surpreendendo.
Era interessante, mesmo sendo um vidente, justamente os filhos eram aqueles que mais tinham o costume de surpreender o lorde Mitrica.
— Sou todo ouvidos.
— Você não negou nenhuma das vezes que disse isso lá, mas quero ouvir de você — murmurou de forma sombria enquanto cruzava os braços. — Você está apaixonado por aquilo?
A palavra "aquilo" atingiu Lakroff de formas incômodas e dolorosas que quase o fizeram se mover, mas ele apenas fechou os olhos e pensou sobre aquilo antes de responder.
Era um grande mentiroso, sua vida foi cercada de mentiras desde seu nascimento, talvez antes disso também, a mentira escorria dele com mais frequência e naturalidade que a verdade.
— Acho que estou — mas naquele momento ele não conseguiu apenas mentir.
A resposta o assustava demais para mentir.
Como se precisasse ouvir de si mesmo para terminar de acreditar, colocar o último prego naquele caixão.
— Provavelmente estou. Eu decididamente ajo como se estivesse.
Alice acenou com a cabeça, sem tirar os olhos do pai.
— Ele é diferente de você. Ele não existe. Não como você, não como o outro que dançou com você essa noite. O que vai fazer?
Lakroff hesitou.
— Essa é a pergunta que me assombra.
Alice se aproximou mais, observando o brilho nos olhos do pai.
— O que você pensou em fazer?
— Uma loucura — admitiu.
— Você sabe que isso não é... saudável, certo?
Lakroff olhou para ela com um olhar carregado de algo indecifrável ao sussurrar:
— Você já quis algo que sabia que poderia te destruir?
Alice abriu a boca, mas hesitou.
Ela podia pensar sobre aquilo. Entendia o que era estar em uma situação com poder para ser sua ruína. No seu caso, aceitou carregar e exibir um nome que a colocava em uma posição que nunca pediu. Ela nunca se apaixonou, por mais homens que se aproximassem dela, sempre entendeu que estavam atrás do nome, não dela. Eles a cansavam, enojavam, mas ela vivia com certo medo.
Alice não tinha o poder de um bruxo.
Se um deles realmente quisesse, não haviam leis, estado soviético, elfos ou pai adotivo que pudessem impedir que alguém a machucasse. Viver entre os bruxos e tentar se impor, estabelecer limites, criar sua própria fama, manter a vida que tinha e não ser completamente subestimada por bruxos era sempre um risco.
Podia baixar a cabeça e aceitar as coisas como eles queriam, ou se esconder, mas isso não era exatamente o que ela queria. Talvez fosse coragem demais, ou talvez ambição, mas ela não aceitava que pisassem nela. Que a vissem simplesmente como um projeto de ciências biológicas mágico. Queria fazer algo.
Queria ser útil para Harry.
E Alice era.
Usando o sobrenome que ganhou e toda a curiosidade que tinham sobre sua condição, dando abertura para que pensassem que ela podia ser manipulada e que era um elo mais frágil, ela avançava no ministério e conseguia informações de todos os tipos. Por mais que intimidasse um aqui e um ali, eles não a levavam a sério, mas justamente por isso conseguia se infiltrar em cantos que não calculavam.
Era uma luta arriscada, muito diferente de roubar coisas na infância do orfanato para si ou vender, roubar informações, usar status no lugar dos músculos, era um desafio e poderia destruí-la de forma muito mais definitiva se tivesse sido pega na infância.
Mas ela fazia.
Já se deixou levar muito pelo medo ou por não pensar antes de agir, agora ela pensava muito e tinha uma boa dose de atitude para levá-la adiante.
Uma dose de loucura.
Mas as situações eram bem diferentes e ela não sabia se podia aceitar aquilo.
— Isso é só por você? Está sendo egoísta e pensando só no que é melhor para você? — ela disse, finalmente.
— Nunca! Minha prioridade sempre são vocês.
— Mesmo?
A voz de Lakroff ficou tão profunda como o oceano, tão gélida quanto o canto mais escuro do mar antártico:
— Não ouse duvidar disso.
— Eu já tive motivos para precisar duvidar — Alice sussurrou.
— As coisas são diferentes. Eu sou diferente.
— É mesmo? Você não está enfiando os pés pelas mãos por causa de uma paixonite que pode te fazer perder-se por um tempo?
— Eu te garanto que minhas prioridades sempre foram e continuam sendo minha família, Alice. Eu posso jurar pela minha vida e magia. Eu mataria Tom com minhas próprias mãos se isso significasse o melhor para nós.
— Então porque já não fez isso?
Lakroff desviou o olhar, como se não quisesse admitir. Alice o encarou por um longo momento, deixando o peso de suas palavras assentar. Não precisava de legilimência para saber que seu pai estava se perdendo em seus próprios pensamentos. Havia algo doloroso naquela atitude. Uma rendição que, infelizmente, combinava com ele, mas que até então era oferecido apenas a sua família. O homem que ela conhecia não se importava com mais nada, e ali estava ele, admitindo estar à mercê de um sentimento que não deveria existir.
Ela não sabia o que a preocupava mais: o fato de Lakroff estar apaixonado por algo que tecnicamente não existia ou a possibilidade de que ele estivesse considerando fazer algo a respeito disso.
Mas, se pensasse sobre isso, é lógico que Lakroff seria aquele que se apaixonaria em uma circunstância daquelas.
— Você está com medo? — ela perguntou.
— Medo do quê?
Alice não piscou.
— De perder isso. De perder ele.
O lorde fechou os olhos por um segundo.
— Medo de perder a mim mesmo. De novo. De perder vocês.
"Voldemort mata todos os Mitrica" a frase ecoou por sua cabeça como uma lembrança constante.
O silêncio que se seguiu foi quase palpável. Alice soltou um suspiro e se aproximou mais, colocando uma mão no braço do pai.
— Eu confio em você, Lakroff. Você daria sua vida por nós, o problema é que você não valoriza sua vida o suficiente, então talvez isso não seja um sacrifício tão grande.
— Eu daria mais do que minha vida a vocês.
Alice assentiu.
— Eu confio em você — repetiu. — Confio minha vida, a dos meus irmãos. Vou confiar que não vai deixar isso atrapalhar o que é importante, mas pense bem no que está fazendo. Não quero dizer que você tem que viver a nosso serviço, mas se essa é uma atitude egoísta e você quer dizer e agir como se fosse nosso pai, tem que entender que não pode ser egoísta se isso for nos machucar. É o que diferencia ser um pai de verdade ou não.
— Tem minha palavra — falou com convicção. — Eu não tenho medo de perder Tom como tenho de perder vocês.
— Desculpe te pedir para pesar suas prioridades.
— Não se desculpe — tocou a mão da mulher com afeto. — Você tem razão. Eu já cometi o erro de não pesar corretamente, Gellert já cometeu e sabemos o que aconteceu. Não vou cometer os mesmos erros que ele.
— Algumas pessoas precisam de mais de um erro parecido para aprender de verdade.
— Não eu. Eu juro.
Alice assentiu novamente e se afastou.
— Você já pensou no que Harrison vai dizer? No que Tom vai dizer? No que você vai dizer para si mesmo se isso der errado?
— Se der errado, eu conserto.
— E se não houver conserto?
O silêncio que se seguiu foi ensurdecedor.
Alice fechou os olhos por um momento, sentindo a exaustão emocional daquela conversa. Quando os abriu, encontrou Lakroff observando-a com um olhar que não conseguia decifrar.
— Pode voltar.
— Alice — a mulher fez um sinal para que ele continuasse e Lakroff manteve a voz profunda e sincera ao dizer: — Eu te amo.
Para ela, Lakroff não tinha problemas para dizer aquelas palavras.
Talvez mostrasse como, por mais forte que fosse o que sentia por Tom, ainda não era o mais forte que o homem tinha a oferecer a alguém.
Ainda sim... foi intenso o bastante para ele dar o que não deu a mais ninguém.
Talvez, por mais que pensasse sobre isso, Lakroff realmente não tivesse qualquer controle ou certeza de o quão longe iam aqueles sentimentos.
A mulher a sua frente, entretanto, percebeu a importância daquelas palavras e decidiu responder com igual sinceridade:
— Eu também te amo.
-x-x-x-
Quando Lakroff retornou a seu escritório ele teve certeza, pela forma que Tom estava olhando-o, que nem o que Alice disse tinha aplacado sua raiva. E Lakroff obviamente tinha muitas maneiras de resolver isso, mas era dele que estávamos falando e aquele era Tom.
Tão belo.
Principalmente com raiva.
Lakroff podia imaginar se esse Tom fosse o de carne e osso, se sua fúria faria suas bochechas corarem ou se ele sempre manteria aquele olhar ofídico e distante. Quantas diferenças realmente existiam entre ser feito de magia ou um ser de carne?
De qualquer forma ele se distraiu, admirando, talvez tenha começado a sorrir como um bobo para a forma esguia de Tom encostado à mesa com os braços cruzados, porque em algum ponto ele percebeu que tinha levado um tempo com isso.
E Tom não disse uma palavra.
— Tom? — ele chamou.
Silêncio.
Lakroff fechou os olhos de tanta força que precisou juntar para não cair na gargalhada.
Tratamento de silêncio. Muito maduro da parte dele.
Mas sinceramente? Lakroff não estava surpreso. Na verdade, ele estava feliz.
Tom ainda estava ali.
Ele podia simplesmente desaparecer, mas ainda estava ali. Ele podia ficar mudo o quanto quisesse, mas já estava falando.
"Com quem aprendeu essa técnica?" ele pensou, olhando para Tom, tentando manter o rosto plácido. "Porque aposto que Harrison odeia tratamento de silêncio".
Mas... parando para pensar... Harrison não escolhia ignorar a horcrux quando estava bravo com ela? Levante seus escudos de oclumência e deixe-o sozinho, algo assim. Talvez ele tivesse que ter uma conversa séria sobre a nocividade do tratamento de silêncio em relações interpessoais com seu neto.
De certo ele achava um tratamento melhor do que o confronto direto considerando seus traumas, mas há soluções melhores.
Lakroff negou com a cabeça, decidido a se focar e andou em direção a horcrux chateada.
— Tom eu preciso que fale comigo para que eu possa me redimir.
Nada.
Isso não abalou o homem que se aproximou mais, o olhar matador de Tom sempre virado para ele, como uma serpente prestes a dar o bote, ou um basilisco capaz de petrificá-lo.
— Diga-me, o que fiz que te chateou?
Tom levantou uma única sobrancelha, gesto que foi o bastante.
Era como se tivesse dito "E você já não sabe?"
— Eu precisei dançar com Voldemort, precisava saber o que ele queria e na verdade — seu tom ficou mais sombrio. — Temos um problema. Sobre minhas visões, eu interpretei mal uma delas, bem que a imagem não estava muito clara, eu deveria ter feito mais para tentar ter contexto. Voldemort — mas ele não conseguiu terminar.
Naquele momento ouviram uma batida na porta que fez Tom virar a cabeça e Lakroff bufar.
— Karkaroff — murmurou frustrado. — Ele veio dar seu relatório do que conseguiu com Samanta Xatwin. Posso mandá-lo vir outro dia.
Tom, entretanto, ainda em silêncio, ajustou sua postura impecável e caminhou até a entrada.
A porta se abriu, e Igor Karkaroff apareceu no escritório com um ar de subserviência, mas também de curiosidade. Ele olhou para Lakroff, que estava de pé ao lado da mesa, e depois para Tom, um completo estranho, que estava parado perto dele com uma presença... incômoda.
[N/A: subserviência. substantivo feminino. 1. sujeição servil à vontade alheia, submissão voluntária a alguém ou a alguma coisa; servilismo. 2. ato ou efeito de bajular; adulação, bajulação].
Karkaroff hesitou por um momento, sentindo o ar gelado que emanava de Tom, mas rapidamente se recuperou.
— Professor Mitrica — disse, com um aceno de cabeça respeitoso. — Eu vim dar meu relatório, como solicitado. Este homem seria?
Lakroff estava prestes a responder, mas Tom interveio, sua voz suave, mas carregada de um poder que fez Karkaroff se encolher, como um reflexo do corpo, um instinto natural ou uma memória muscular.
— Então você é Igor Karkaroff — disse Riddle, seus olhos escuros fixos no homem, sua língua ácida, venenosa em cada sílaba. — O traidor.
Ele já tinha escutado aquela voz antes?
Ou alguém que falava no mesmo tom?
— E você seria o que mesmo?
Tom levantou uma sobrancelha.
— Até o fim dessa reunião você descobrirá e aprenderá a falar no tom correto comigo. Agora sente-se.
Igor franziu o cenho ao encarar a figura pálida e esguia que lhe falava. Algo nele estava errado. Algo que não conseguia definir.
Talvez fossem seus olhos.
Estavam estranhos. Muito. Pareciam sem vida alguma, sem o brilho natural que todos possuem, mas também não era completamente opacos. Pareciam...
— Sente-se, Igor — a voz de Lakroff o chamou para a realidade.
Karkaroff continuou encarando aquele homem enquanto se dirigia até uma das cadeiras, mas Tom não se moveu. Não ofereceu a Igor nada além de um olhar mortalmente afiado. Talvez um leve inclinar de cabeça. Como um caçador observando a presa, um predador cuja fome não era física, mas de domínio absoluto.
O diretor da Durmstrang sentiu um arrepio inexplicável ao passar por ele e se sentar, forçando-se a ignorar o frio cortante que parecia emanar daquele homem.
Ou melhor... Frio não.
Lakroff que era gélido. Glacial até. O próprio sopro invernal mais fatal.
Já aquele homem era... alguma coisa diferente.
Algo que sugava o calor do ambiente enquanto emanava uma energia mágica bizarra. Igor não era exatamente o homem mais sensível à magia, mas podia sentir cada fibra daquele homem, da ponta dos pés até o menor fio de cabelo, parecia pura magia irradiada e bruta. Raivosa.
Prestes a engolir você como engolia o calor.
Era ridiculamente belo, mas completamente assustador, como se fosse irreal ter aquela forma perfeita.
— Lakroff, — começou Karkaroff, incerto, os dedos tamborilando na madeira da cadeira. — Posso falar diante desse...
— É assim que se dirige a um mestre? — cortou Tom como um chicote estalando e matando todo o som da sala. Karkaroff só conseguia ouvir o som do seu coração.
Ele batia rápido, como se o estivesse alertando sobre aquele cara, mesmo que estivesse com Lakroff.
— Como é? — perguntou incerto.
— Você chama seu mestre pelo nome. Um ser indigno como você.
— Indigno! — se exaltou.
Tom curvou o canto dos lábios um pouco, apenas o suficiente para incomodar imaginar aquela figura sorrindo e se aproximou.
Também havia alguma coisa de muito errada com seus passos, pensou Karkaroff. A forma como ele andava, era polido demais, mas não era isso que incomodava, a pausa entre os passos, a calma, o movimento do corpo.
Karkaroff tinha a impressão de conhecer aquilo.
E não gostava.
— Eu já o vi antes?
— Acredite, se tivesse me visto, não teria se esquecido — respondeu Tom a cada instante mais próximo e Karkaroff tremeu.
Também tinha alguma coisa de muito errada no ar.
Ele continuava sem saber o que.
Lakroff estava assistindo inerte, os olhos brilhando de interesse e mais alguma coisa que Tom não se preocupou em descobrir.
— Como ousa chamar seu mestre pelo nome diante de outro, além de tudo, quando deveria se curvar como o traidor que é?
Karkaroff franziu a testa, confuso, mas também a cada instante mais visualmente incomodado pela presença de Tom.
— Eu não sei do que você está falando — respondeu ele, tentando manter a compostura.
Tom deu um passo à frente, e Karkaroff involuntariamente se levantou. Como se não suportasse estar em uma posição de vulnerabilidade diante daquele homem.
— Não sabe? Então me diga, Karkaroff, por que você está aqui? Por que jurou lealdade a Lakroff Mitrica? Será que é por medo? Medo do seu antigo mestre? Medo de Voldemort?
Karkaroff engoliu seco, seus olhos se movendo rapidamente entre Tom e Lakroff. Ele não sabia quem era aquele homem, mas sentia que estava diante de alguém perigoso. Como se já não bastasse o louco do Lakroff Mitrica, ele ainda tinha esse...
Essa coisa.
Quem era afinal?
— Por que acha que tem o direito de me interrogar?
— Não sei se é coragem ou pura tolice sua me fazer essa pergunta, mas para o seu próprio bem, sugiro que aprenda a me responder, antes que tenhamos de te ensinar por meios menos agradáveis.
— Quem você pensa que é para me ameaçar?!
— Eu sugiro, Igor — Lakroff murmurou de um lugar distante, Igor só tinha olhos para o intruso e a pressão da magia que emanou dele —, que enquanto estiver com este homem na sala, responda as perguntas dele. Se quiser pode levar como uma ordem.
— Não precisa ordená-lo a isso — sussurrou Tom, suave até demais. — Ele vai aprender. Se for um aluno especialmente ruim precisará de mais atenção, mas eu me faço entender. Por que está aqui, Karkaroff?
— Eu tenho um relatório para entregar — murmurou com um misto de incerteza e raiva. Aquelas ameaças estavam começando a irritá-lo.
Ele também obedecia a Lakroff?
Se achava acima de Igor e Mitrica, claro, sempre viu Karkaroff como um incômodo, ele estava testando-o? Vendo se teria medo de um simples servo?
Ele não se deixaria assustar tão facilmente, pensou decidido.
Mas sua atitude quase morreu no mesmo instante que Tom inclinou a cabeça para o lado. O simples movimento foi desconcertante.
— Não é a isso que me referi. Por que jurou lealdade a Lakroff?
— Eu... eu acredito na visão do professor Mitrica — respondeu ele, tentando soar convincente.
Tom riu, um som baixo e sem humor.
— Acredita? — ele repetiu, sua voz cheia de desdém. — Você não acredita em nada, Karkaroff. Você é um covarde, um rato que corre de um lado para o outro, buscando proteção onde quer que possa encontrá-la. Primeiro foi Voldemort, depois Dumbledore, e agora Lakroff. Quem será o próximo?
Karkaroff estava visivelmente desconfortável agora, suas mãos tremendo levemente. Ele voltou a olhar para Lakroff, como se esperasse que ele interviesse, mas o lorde permaneceu em silêncio, observando a cena com um maldito sorriso sádico.
Igor já sabia que jurar lealdade ao Grindelwald era um problema, que ele era insano e jogaria qualquer um aos lobos se estivesse de mau humor, como o maldito Potter que ele adotou, mas ele não tinha feito nada para ser alvo de seu sadismo agora.
— Eu não sou um traidor — Karkaroff insistiu, mantendo-se firme, mas deu um passo vacilante para trás quando o homem se aproximou mais. — Eu apenas... eu apenas quero proteger a mim mesmo e à minha escola.
— Proteger? — Tom deu mais um passo à frente, e Karkaroff recuou novamente. — Você não protege nada, Karkaroff. Você só pensa em si mesmo. Você é um parasita, sugando a força de outros para se manter vivo. E agora você vem aqui, esperando que Lakroff te salve do monstro que você mesmo ajudou a criar.
Quem aquele homem achava que era?
— E o que você quer de Lakroff? Eu... eu sequer sei quem você é — Karkaroff balbuciou, tentando manter a compostura. — Mas você não tem o direito de me julgar!
Aquilo não parecia humano. Era isso que tanto incomodava Karkaroff. Ele não sabia distinguir, mas conforme Tom se aproximava seu cérebro registrava nos cantos mais profundos um fato: a ausência de cheiro. O homem era um buraco escuro e desconhecido e isso mexia com os instintos do ex comensal.
Todos tinham cheiro.
Todos respiravam.
Algum canto da mente de Karkaroff percebeu que aquele homem não o fazia.
Tom sorriu, um gesto que não chegou aos olhos.
— Eu tenho todo o direito de julgá-lo — ele disse, sua voz agora um murmúrio mortal. — Porque eu vejo você pelo que você realmente é, Karkaroff. Um homem fraco, sem lealdade, sem honra. Um homem que traiu seus amigos, seus aliados, e até mesmo seu próprio mestre. E você acha que Lakroff vai te proteger? Você acha que ele não vê o que você é?
Karkaroff olhou para Lakroff, desesperado.
— Professor Mitrica, por favor... — ele começou.
— Cale-se! — a voz do desconhecido veio como aço afiado. Baixa, sibilante, mas carregada de uma autoridade impossível de ignorar. Karkaroff parou no ato, a respiração presa na garganta.
Tom se aproximou, sua presença preenchendo o ambiente como uma sombra. A sala parecia ter ficado menor, o ar mais denso. Ele inclinou-se sobre Karkaroff, sem tocá-lo, mas perto o suficiente para que o outro sentisse o vácuo que uma horcrux criava quando estava tão forte, tão necessitada de magia. Sem cheiro. Sem calor. Sem vida.
Mas podia tirar tudo que precisava de seu alvo.
— Você fede a medo, Igor Karkaroff. — O nome foi dito lentamente, como se fosse uma praga. — E sabe o que fazem os covardes quando estão com medo? Traem. De novo e de novo, como um cão que troca de dono por uma tigela de restos. Diga-me, em quantos mestres você já cuspiu antes de fugir com o rabo entre as pernas? — Os lábios de Tom curvaram-se em um sorriso cruel. — Foi assim quando se ajoelhou diante do Lorde das Trevas. E assim quando veio rastejando até Lakroff Mitrica, esperando proteção como um verme implorando para não ser esmagado.
Karkaroff crispou os dedos, o rosto se avermelhando, mas não ousou responder. Lakroff apenas observava, os olhos estreitados, os pelos dos braços arrepiados.
— Se deseja a proteção de Lakroff e dos Mitrica, então prove seu valor. — Tom se afastou um pouco, deixando o silêncio pairar por um instante. Seu olhar era perfurante, desprovido de qualquer vestígio de humanidade. — O que Samanta Xatwin quer? E não ouse mentir para mim. Eu sentirei. Eu sempre sinto.
Karkaroff engoliu seco. O desconforto em seu corpo era visível. Aquele homem o fazia querer correr, mas ele tinha lidado com homens piores.
Voldemort.
Lakroff.
Não ia se intimidar com outro comensal dos Mitrica.
Por pior que parecesse.
Karkaroff sabia que teria que se mostrar útil e ele fez tudo que foi ordenado. Com um pouco mais de confiança (com certeza porque Tom estava se afastando) ele começou:
— Ela quer segredos, obviamente. Está tentando descobrir qual lado está mais forte, onde deve posicionar-se. Samanta sempre teve medo do lorde das trevas, ela trocaria de lado por um homem que ofereça mais assim como troca de marido, mas enquanto não oferecemos nada, consegui apenas migalhas. — Ele hesitou ao ver os olhos de Tom estreitarem-se. — É... é uma mulher perigosa, mas movida por interesses próprios. E-ela ainda é leal a Voldemort e me confirmou seu retorno e força, disse que não está cauteloso, apenas esperando o momento certo de atacar. Confirmou que apenas um grupo muito seleto de comensais já entraram em contato, mas por pouco tempo.
— O que você disse a ela? — perguntou Lakroff com calma.
— Pouca coisa, ela adivinhou que minha confiança diante da situação se tratava de voc... — Ele pigarreou e se corrigiu — do senhor, mas o subestimou. Samanta acha que eu estou confiando em algo que não pode fazer nada, isso mostra como o lorde das trevas realmente está restabelecendo sua antiga força, ela não descartaria um Grindelwald se o lorde das trevas se mostrasse menos do que já foi um dia. Está assustada, mas também confiante de que se investigarmos o passado de seus maridos não encontraremos nada, então não é uma boa forma de coagi-la para o nosso lado se for do seu desejo.
— O que mais?
— O lorde das trevas realmente está preparando um baile. Será no ano novo, ela sugeriu que eu fugisse nesse momento porque aparentemente ele estaria distraído o bastante, é bem provável que sim, esteja chamando todos os comensais como o senhor previu, meu senhor. O lorde das trevas quer algo de Samanta nesse baile, ela está envolvida, mas não descobri o quê. Ainda. Mas eu posso descobrir, só preciso de tempo.
— Tempo? — Tom riu, mas era um som vazio, sem alegria que fez Karkaroff se sobressaltar. Já estava quase esquecendo aquela presença estranha.
Ou melhor... não. Não tinha como esquecer.
A coisa era um incômodo constante e desconhecido, mas Karkaroff estava se sentindo mais confiante conforme não ouvia sua voz odiosa. Mas ela retornou.
— Você já esgotou esse luxo há muito, não acha, Karkaroff? — Tom sibilou, sua voz como uma lâmina afiada. — Eu me pergunto, para que precisamos de você? Se sua única utilidade é ser um rato fugidio, podemos muito bem cortar a cauda de vez.
— Podemos agir com certeza agora, ao invés de ficarmos no campo da suposição!
A fala de Karkaroff quase morreu, Tom estava novamente diante dele e agora Igor tremia visivelmente, suas mãos agarradas à parede atrás dele. Não conseguia olhar nos olhos de Tom, sentindo que estava sendo esmagado pela existência do homem.
Sim, havia algo de muito errado com ele.
O diretor da Durmstrang, entretanto, não teve muita opção senão encarar aqueles olhos estranhos porque Tom moveu-se. Rápido como um chicote, sua mão fria agarrou o rosto de Karkaroff, os dedos gelados como a própria morte, pressionando sua mandíbula.
Igor sentiu como se aquele homem estivesse usando uma força que não era totalmente física, mas sim mágica, como se ele estivesse drenando a própria essência de Igor que arfou, sentindo uma onda de arrepios cortante percorrer seu corpo, como se sua magia estivesse sendo sugada, deixando-o fraco e vulnerável. Ele tentou se soltar, mas os dedos de Tom eram como garras de gelo, imóveis e implacáveis.
Riddle se deleitou com o medo em seus olhos, com a sensação de roubar energia daquele inútil para se manter forte, como apenas uma horcrux podia fazer, tocando a própria alma de um bruxo com seu toque morto.
O choque do contato atravessava a espinha de Karkaroff e o fazia perder o fôlego.
Tom observa Karkaroff por um instante, deixando um silêncio desconfortável se prolongar. Em seguida, com um meio sorriso, inclina ligeiramente a cabeça.
— Você é um fracasso, Karkaroff. Um fracasso como bruxo, como líder, como ser humano. E você acha que pode se esconder atrás de Lakroff? Você acha que ele não sabe que você é apenas um peso morto, um fardo que ele carrega por pena? Você deveria ser útil, mas o que fez? Apenas confirmou as suspeitas de tudo que o seu senhor já havia previsto? Quanta utilidade isso realmente tem?
— E-eu...
— Você sabe o que está em jogo, Igor? — Tom não precisou elevar a voz; falou baixo, devagar, cada sílaba gotejando ameaça como um veneno prestes a se espalhar. O som deslizou pelo ar como a última brisa antes de um raio atingir o solo. — Creio que um homem em sua posição deve saber que... há destinos piores que a morte.
Karkaroff tremia agora, as mãos agarrando a madeira atrás de si como se isso pudesse lhe dar alguma estabilidade. Lakroff não interveio. Apenas observava, avaliando, permitindo que Tom fizesse seu espetáculo.
Apreciando cada parte dele com a respiração tensa.
— Não se preocupe, Igor. Eu compreendo sua posição. Você está preso entre forças que talvez nem compreenda completamente. — Tom suaviza o tom de voz, assumindo um ar quase afável. — Mas não há vergonha em ser um sobrevivente. Desde que sobreviva, é claro.
Por fim, Riddle soltou Karkaroff com um empurrão desprezível. O bruxo caiu contra as estantes quase derrubando seu conteúdo, a respiração ofegante.
O silêncio que se seguiu era esmagador.
Cortado com habilidade por aquele que era pouco mais que um ser.
— A única coisa que um homem como você precisa lembrar é: enquanto for útil, terá um propósito. — A expressão dele permaneceu impassível. — Quando não for mais... Bem, duvido que terá tempo para lamentar.
Karkaroff engoliu em seco.
Não, aquele homem não era normal, havia algo acontecendo na cabeça de Karkaroff que o fazia sentir-se ainda pior perto dele, a forma como falava o fazia se sentir minúsculo.
De repente, o ex-comensal percebeu que podia temer aquele homem quase tanto quanto temia Lakroff.
Principalmente porque ele soube.
De alguma forma tinha certeza de que Lakroff o deixaria ser devorado por aquela pessoa e riria em deleite.
Era o que seu olhar dizia.
Lakroff estava se divertindo. Estava aproveitando aquilo como aproveitava um de seus vinhos. Ou talvez lhe causasse ainda mais prazer... ah, sim, causava muito prazer.
— Vá. — Tom ordenou. — Não se demore em trazer algo que valha a pena de verdade, Igor. Caso contrário, alguém pode decidir por você. E se falhar..., espero que seu medo de Lakroff seja maior do que seu medo de Voldemort.
Karkaroff tremeu diante do nome e assentiu freneticamente, tropeçando ao atravessar e sair da sala o mais rápido que pôde com o rosto completamente pálido.
A porta se fechou atrás dele, e o silêncio tomou conta do quarto.
Tom ficou parado por um momento, apenas uma inspiração calma como se aproveitasse o momento de júbilo por ter conseguido descarregar, mas seus olhos ainda estavam cheios de fúria. Ele finalmente se virou para Lakroff depois de um minuto inteiro e notou algo curioso.
Não só a respiração de Lakroff estava lenta, com lufadas longas e densas de ar, mas ele o observava com um brilho insano nos olhos, as bochechas levemente vermelhas, tão suave que mais parecia uma ilusão, mas ainda lá. A raiva em Tom fervia, mas, por um instante, havia algo mais. Algo triunfante.
Ele ainda era Tom Riddle. E o mundo ainda deveria temê-lo.
— Ele não merece sua proteção — Tom disse, sua voz ainda firme, um pouco distante. — Ele é um traidor, e traidores não têm lugar no seu mundo.
Lakroff se aproximou de Riddle, sentindo um prazer a parte por Tom ter falado com ele quando ainda não tinham saído do tratamento de silêncio propriamente, mas não comentaria isso. Não ia quebrar aquele encanto, seus olhos estavam cheios de admiração e algo mais, algo que Tom não conseguia nomear.
— Você é incrível, sabia? — disse no lugar de qualquer provocação, sua voz suave, mas cheia de emoção, estava grave, mais que o normal, intensa, um pouco grogue. — Mesmo com tudo, você ainda é o homem mais forte que eu conheço.
Tom arregalou seus olhos, ainda carregados de uma mistura de raiva e algo mais, algo que ele não queria admitir.
"Forte", pensou.
Ele se sentia um pouco mais forte agora que tinha destruído Karkaroff, mas...
Que inferno, ele ainda era fraco!
Ele ainda era só uma horcrux sem corpo. Sem magia de verdade. Sem poder para fazer alguma coisa real.
Tom não era como Lakroff, não era nada sem Harry e nada se comparado a sua outra versão que, apenas com sua presença, reduziu Tom a inexistência.
Harry teve que levantar seus escudos oclumêntes e, de repente, Tom não existia. Não via nada, ouvia, dizia ou fazia. Era apenas uma memória, menos que uma vinha. Tudo apenas porque Voldemort estava lá. Ele tinha poder de verdade. Poder de destruir Tom sem nem mesmo tentar.
— O que Voldemort queria de você afinal? Que história é essa de visão?
Tom não era nada quando estava ao lado de Voldemort, só um pedaço rebelde.
E Lakroff não conseguia diferenciá-los...
Lakroff não admitiu, mas se sua filha tinha alguma razão, Lakroff tinha se apaixonado. Tom viu por anos homens e mulheres fazerem as coisas mais estúpidas por paixão, mas, naquele caso, isso só significava que ele nutria sentimentos por um Riddle.
No fim, Voldemort tinha tudo de Tom e mais.
Aquilo doeu de uma forma que Tom nunca quis que doesse, nunca quis que acontecesse.
— Ele me pediu para me juntar a ele.
— Bem, é esperado que ele te queira como comensal quando você, além de provar sua força, provou serventia lhe dando a profecia.
— Ele me ofereceu o lugar imediatamente ao seu lado, Tom. Deu a entender que me queria como seu igual.
Uma dor lacerante atingiu a mente de Tom, somada a uma dor fantasma no peito que incomodou além da razão.
Por isso sempre achou sentimentos uma falha de caráter, uma fraqueza.
Sentimentos são uma fraqueza.
Iam ser sua ruína!
Podiam ser parte de sua força agora, mas era uma maldita faca de dois gumes.
Tom era substituível. Não era nada comparado com Voldemort. Nada que Voldemort não pudesse oferecer se Lakroff soubesse jogar e ele sabia. Tom era só um pedaço de um homem de verdade. Um pedaço de alma tão pequeno que podia sumir em instantes.
E Lakroff os via como iguais...
Ele não admitia esse tipo de fraqueza vindo de si mesmo.
Não isso também.
Já bastasse sua condição como horcrux, não ia deixar que coisas tão pífias como sentimentos fossem mais fortes que a razão. Ele era Lord Voldemort e Lakroff...
Lakroff era apenas útil. Nada além disso. Não lhe daria nada além.
Uma maldita coisa que tinha de aprender a não errar à qual dos Riddle deveria se curvar.
Tom correu até Lakroff de forma decidida e agarrou o lenço das vestes que usava em seu pescoço, o puxando como uma maldita coleira.
Ah, se ele pudesse, faria isso, colocaria aquele homem em uma coleira para nunca mais sair cheirando outras pessoas por aí.
— Maldito cachorro — ele praticamente cuspiu, se alguém como Tom Riddle cuspisse palavras.
A voz dele pingava veneno, cada palavra daquele insulto impregnada de um sarcasmo cortante, como se estivesse se divertindo ao enfiar uma faca invisível cada vez mais fundo.
E que ódio ele sentiu, que vontade de enfiar ainda mais a faca, Lakroff estava com aquele olhar vidrado, com aquela respiração pesada, as bochechas coradas...
Tom era lento, mas até ele conseguia entender o que aquilo significava.
— Você é um atroz cão no cio!
— Desculpe — pediu Lakroff com sinceridade, mas sua boca estava salivando.
— Minha vontade é de acabar com você. Eu queria poder matá-lo!
— Eu sinto muito, prometo que não farei de novo.
— Você não vai, porque eu vou acabar com você de forma que nem sua noção masoquista conseguirá deturpar!
— Desculpe-me, eu apenas queria descobrir o que Voldemort queria.
"Esse não é o problema" pensou Tom a consciência sendo mais preenchida de fúria.
De dor.
Ele não aceitava aquele homem causar aquilo. De jeito nenhum, ninguém podia ter esse poder sobre Tom!
— Você vai aprender a nos diferenciar, por bem ou por mal.
— Eu sei a diferença, Tom — havia tanta sinceridade nas palavras dele que Tom vacilou por um segundo.
— Então o que é aquilo que sua filha disse?! — perguntou puxando mais o tecido como se pudesse enforcar Lakroff com ele.
— Quando estou com Voldemort eu não consigo evitar de pensar que queria poder matá-lo apenas por ousar ter mais que você. Por ter uma vida que devia ser sua, não dele. Quando estou com ele eu desejo você ainda mais porque vejo cada parte sua pela qual sou fascinado e desejo te dar o que ele tem, roubar dele cada suspiro de vida e te oferecer em uma bandeja de ouro. Ele me inspira fúria porque ninguém deveria ter o direito de fingir ser você como ele finge.
Tom estava segurando o tecido com tanta força que chegou a tremer. Não tirou os olhos de Lakroff nem por um segundo, pensando sobre aquelas palavras, odiando-as com todas as forças porque estavam mexendo com aquele canto obscuro de insuficiência, de dor e preenchendo com satisfação.
Lakroff não tinha o direito de fazer tanto com Tom.
De mexer tanto com ele.
De fazê-lo mudar tão rápido.
Ele quis bater naquele homem, acertar-lhe um tapa na sua cara, mas ao mesmo tempo isso era tão baixo. Por toda a ironia do destino, era tudo que podia fazer! Isso o estava enfurecendo! Ele queria poder ser ele, de verdade, e torturar aquele homem por ter, mesmo que por um segundo fugaz, sentindo qualquer coisa por Voldemort.
Tom queria...
— Você está com ciúmes?
Tom puxou o tecido até forçar Lakroff a se ajoelhar, tão rápido e forte que seus joelhos fizeram um barulho alto contra a madeira.
— Como você ousa? — A voz era um fio de seda prestes a se romper. Baixa, carregada de algo indescritível, algo que fazia o ar ao redor parecer rarefeito, como se a sala estivesse se fechando sobre si mesma.
— Existe um ditado trouxa que diz: se está com ciúmes, pegue na mão e assume.
Tom agarrou os cabelos de Lakroff e os puxou com força entre os dedos, ouvindo o homem gemer em resposta e só os deuses sabiam que tipo de gemido era aquele.
Ah... Tom não estava com ciúmes.
Aquilo era ridículo. Aquilo era pequeno. Um sentimento tão mundano para alguém como Tom? Não. Ele tinha algo pior. Ele não simplesmente sentia, ele pecava.
Ele tinha inveja.
Estava cercado de ira e inveja por Voldemort.
— Você está louco se pensa que pode me dizer uma coisa dessas e sair impune — As palavras foram ditas com a calma meticulosa de quem mede a profundidade da cova que está prestes a cavar. A frieza nelas não vinha da ausência de emoção, mas do prazer cruel de assistir o medo se espalhar. — Eu já disse que você é meu, Lakroff Mitrica. Eu não divido o que é meu.
Lakroff inspirou fundo, olhando para a fúria naqueles olhos avermelhados e sentindo seu coração acelerar.
— Sim, milorde. Seu — sussurrou. — Por isso eu neguei a proposta de Voldemort.
Tom piscou, mas não soltou o aperto no outro.
— Como?
— Independente do que dissesse, sabemos como Voldemort é, ele iria querer que eu fosse leal a ele, por isso eu cantei uma música trouxa para respondê-lo.
— Você cantou para ele?
— "Você nunca vai saber como é. Seu sangue é frio como gelo" — cantarolou Lakroff se aproximando lentamente. — "E uma luz fria e solitária emana de você. Você vai acabar como os destroços que se escondem atrás da máscara que você usa".
— Elton John? — Tom murmurou baixinho.
E você pensou que este idiota nunca ia conseguir?
Bem, olhe para mim, estou de volta outra vez
Eu provei o amor de um jeito simples
E, se você quer saber, enquanto eu estou de pé, você desapareceu
— Achei que ele seria adequado para conseguir um efeito bem decisivo para a minha resposta. É uma música muito popular aqui na Inglaterra, todos os "sangue ruins" me acompanharam.
— Isso é tolice, você podia ter se tornado um espião! Voldemort não confiaria em você, é claro, mas isso poderia mudar com o tempo, você...
— Eu já disse que sou seu, então não podia ser leal a outro.
Você não sabia que eu ainda estou de pé e melhor do que nunca?
Parecendo um verdadeiro sobrevivente, me sentindo como um garotinho
Depois de todo esse tempo, eu ainda estou de pé
Juntando os pedaços da minha vida sem você na minha mente
Lakroff gemeu outra vez com um segundo puxão forte de Tom e apenas o assistiu com a respiração entrecortada.
Tom estava pensando.
Lakroff não tinha o direito!
Ele não podia ter tanta influência sobre os malditos sentimentos de Tom!
Não podia ter tanto poder sobre ele.
Tom levantou Lakroff pelos cabelos e o empurrou, acertando a cabeça dele contra a prateleira e se deliciou com o som abafado do impacto. Seus dedos se enroscaram rapidamente nos cabelos do outro, puxando com força o suficiente para forçá-lo a inclinar a cabeça para trás, expondo a linha de sua garganta. Lakroff arfou, e Tom o observou, faminto.
Ele podia sentir o calor da pele do homem contra seu próprio corpo, a respiração quente e descompassada que saia dos lábios semiabertos batendo contra seu rosto, os olhos semicerrados cheios de algo que Tom conhecia bem — desejo e submissão, misturados de uma maneira que fazia sua mente latejar com um prazer cruel.
— Você nunca mais vai se aproximar da minha outra versão a menos que eu mande, está me ouvindo? — a voz de Tom era um rosnado baixo, áspero, carregado de ameaça.
— Perfeitamente, milorde.
Tom soltou um som áspero, rouco, um som que escapou de sua garganta não exatamente como uma palavra, mas um grunhido baixo, carregado de fúria e apertou Lakroff contra a prateleira, alguns objetos caindo ao redor deles com a força do impacto.
Lakroff fechou os olhos e resmungou, mas não disse nada além disso, claro que não, Tom podia imaginar como ele estava e com medo não era uma das coisas.
— Eu sumo — ameaçou, porque acreditava (esperava... desejava em seu íntimo mais profundo) que isso o assustasse. — Eu nunca mais apareço para você se ousar falar com aquele homem de novo, está me escutando?
Novamente Lakroff conseguiu confundi-lo, ondas de prazer vieram acompanhadas do olhar do medo que ele recebeu em resposta.
Era um medo tão real. Tão delicioso.
Parecia mesmo que Lakroff se importava...
— Estou — sussurrou Lakroff, todo o prazer que ele sentia antes realmente substituído por medo e cautela. — Eu nunca mais cometo esse erro, milorde.
— Você vai aprender a apenas odiar aquele homem e nunca, jamais, vai nos confundir.
— Prometo que o faço.
— Agora está obediente cãozinho? Não quero ter que me dar o trabalho de ameaçá-lo toda vez para que aprenda a não fazer o que não devia.
— Eu prometo que não vai precisar ir tão longe de novo.
— Como eu posso confiar?
— Eu realmente sinto muito, Tom.
Era tão raro Lakroff chamar Tom com aquela entonação, tão sério, sem suas brincadeiras e provocações, sem um olhar divertido de criança travessa. Apenas seu nome. Apenas sinceridade e medo. Aquilo mandou novamente ondas de prazer para onde antes só existia fúria e aquelas duas emoções se juntaram, se misturaram como apenas algo de linha tão tênue podia e Tom se preencheu daquelas emoções como um bruxo das trevas prestes a lançar uma maldição.
Ele apertou mais e quando Lakroff gemeu, Tom capturou aquele som com a boca.
Não foi um beijo. Foi uma invasão.
Tom agarrou o rosto de Lakroff com uma das mãos, as unhas arranhando sua pele para que pudesse tirar pedaços e deixá-los presos entre as unhas, enquanto sua boca se apossava da dele com violência. Sua língua deslizou para dentro, exigente, dominadora, e Lakroff cedeu sem oferecer resistência. Ele retribuiu o beijo com a mesma fome, os dedos cravando na cintura esguia de Tom, puxando-o contra si até que não houvesse mais espaço entre seus corpos.
Riddle queria aquilo.
Inferno sangrento, ele queria Lakroff Mitrica.
Ele não sabia nada do que a maldita criança tinha dito sobre estar apaixonado, mas sabia que queria Lakroff, dele, de Tom e apenas dele, para nunca largar, de todas as formas possíveis e daquela forma. Completamente entregue.
Desejando apenas Tom.
Temendo apenas Tom.
Tudo sendo apenas sobre Tom.
Lakroff tocou seu rosto, como um homem sedento no deserto em busca de água e Tom sentiu. Sentiu o calor de Lakroff, a forma como ele tremia levemente, como se o próprio ar ao redor estivesse eletrificado com a tensão entre os dois, então mordeu. Seus dentes cravaram no lábio inferior do outro, arrancando um gemido abafado que se perdeu em suas bocas.
O loiro respirou fundo, como se precisasse recuperar o fôlego, mas Tom não permitiu. Ele o beijou mais forte, mais fundo, arrastando a ponta da língua sobre o pequeno corte que havia deixado. Saboreando o gosto metálico do sangue misturado ao desejo.
Mitrica soltou um som baixo, uma mistura de dor e prazer que fez um arrepio percorrer a espinha de Tom.
— Você me quer tanto assim? — Tom murmurou contra seus lábios, mordiscando a pele sensível antes de arrastar sua boca até o queixo, até o maxilar. Ele sentiu Lakroff estremecer quando roçou os dentes ali, sem pressa, ameaçador, provocador. — Ou é só o medo falando?
— Eu... — A voz de Lakroff falhou por um instante, engolida pelo próprio arfar, pelo prazer sufocante. Mas então ele sorriu. Um sorriso torto, cheio de desafio. — Você quer que eu peça, Tom? Quer que eu implore por você?
Os olhos castanhos de Tom ganharam um tom completamente vermelho agora enquanto um sorriso sádico enfeitava seus lábios. Uma pontada de excitação cruzou seu corpo, violenta e faminta.
— Implore — ordenou com prazer pingando em cada sílaba. — Quero que você se lembre de quem é que manda aqui.
— Eu imploro, milorde — murmurou Lakroff, a voz muito grave, completamente preenchida por luxúria.
Já eram três pecados.
— Eu imploro para ser seu — continuou.
Tom o beijou de novo, com ainda mais brutalidade, como apenas a raiva de um e o medo de perder de ambos podiam fazer. Um medo que, mesmo que fosse difícil para ambos admitir nutrir tanto por outra pessoa em suas vidas, estava lá, movendo-os a insanidade.
Era uma relação tão complicada ainda por cima.
Tom agarrou Lakroff pela nuca, puxando-o para si, e o outro gemeu contra sua boca. Suas mãos se apertaram ao redor da cintura de Tom, os dedos deslizando sob o tecido de sua roupa, encontrando pele fria, queimando com o contraste. Eles se apertaram, se puxaram, se agarraram como dois oponentes em um duelo onde a única vitória possível era a rendição completa.
O olho do loiro estava fechado e ele só sentia a bruma de sentimentos entorpecendo todos os seus sentidos e de repente era apenas Tom e Tom por todos os lados. Deixou escapar um ruído entrecortado quando Tom se afastou por um segundo, apenas o suficiente para arrastar os lábios por seu pescoço. Ele abriu a boca, os dentes raspando na pele sensível antes de morder de novo, mais forte desta vez. Lakroff arquejou e puxou Tom contra si com um desespero que fez o outro rir baixinho contra sua pele.
Quando seus olhos se encontraram outra vez, Mitrica estava ofegante, seu rosto corado e os lábios inchados pelo beijo feroz que haviam compartilhado. Tom se sentiu vitorioso, triunfante, embriagado pela visão do homem diante dele — desfeito, rendido, apenas seu. Estava tendo que manter o homem firme no lugar para que não se curvasse.
Além de que estava recebendo um olhar com tanto desejo que duvidou, qualquer um, em qualquer dia da vida de Lakroff, duvidou que pudessem tirar igual.
— Tom... — Lakroff sussurrou, quase sem forças, mas com os dedos ainda cravados em sua pele, ainda o segurando, como se recusasse a deixá-lo ir, enfiando seu rosto na curva do pescoço dele enquanto tentava refrescar seu rosto em chamas.
Tom não permitiu, ele puxou Lakroff pelo queixo e o forçou a manter aquele olhar vidrado e completamente entregue para ele.
Não queria perder um segundo daquele olhar.
— Você é meu — repetiu, porque queria fixar bem a mensagem.
— Completamente.
Tom voltou a apertar os cabelos de Lakroff, aproveitando como conseguia puxá-los com mais força agora que tinham aquele comprimento, e atacou o pescoço exposto com outra mordida, sentindo as vibrações do gemido do loiro e chupando a ferida até ficar completamente roxa.
Uma marca, uma prova.
Ele sempre gostou de marcar o que era seu.
— O que ia dizer?
Lakroff inspirou e expirou algumas vezes, a névoa de prazer cegando-o a cada lufada de ar gélido que sentia contra sua pele em chamas, antes de conseguir dizer:
— Eu realmente estou apaixonado por você, não é?
Tom arregalou os olhos.
-x-x-x-
Houve uma época em que eu não achava que fosse conseguir
Você descendo a rua, me deixando de novo
As ameaças que você me fez eram para acabar comigo
E se o nosso amor fosse como um circo, você seria o palhaço agora
-x-x-x-
Ao mesmo tempo.
Gellert estava dormindo.
Foi apenas porque era muito sensível à coisa que seu corpo reagia à magia e o fez abrir os olhos. A cela escura o cumprimentava, um breu completo, junto do barulho da nevasca do lado de fora enquanto dava um bocejo longo. Ele ouviu alguns estalos e um baque surdo no corredor e se moveu com calma para não se machucar demais enquanto se sentava no chão de pedra úmido e gelado. O frio ajudava a sair da embriaguez do sono.
Depois de piscar algumas vezes seus olhos funcionaram o bastante para notar que entre toda aquela escuridão havia uma sombra. Um cheiro de ferro velho pairava no ar, talvez do seu sangue seco, talvez das correntes enferrujadas, quase ocultou um perfume desconhecido, mas Gellert soube que não estava mais sozinho na cela.
— Boa noite — ele cumprimentou fechando os olhos e encostando a cabeça na parede para descansar.
Ele realmente estava com muito sono.
Aquelas correntes estavam sugando muito dele, cada dia mais. Seu corpo parecia mais pesado, respondia menos a seus comandos, era uma tortura lenta que conseguia disfarçar quando queria. Na frente do bisneto, por exemplo, mas não parecia ser necessário diante de seu visitante.
Ele sentiu um calor e soube que uma tocha havia sido acesa. Ela tremulou no lugar com a força da magia, lançando um brilho vacilante que distorcia as silhuetas dos dois homens dentro da cela e Gellert esperou, a respiração calma, as mãos unidas sobre os joelhos, olhos pálidos cravados onde via apenas o borrão do visitante.
Seu rosto estava marcado pelo tempo, mas sua postura era imponente. Ele parecia um rei derrotado que ainda ostentava sua coroa invisível.
— Que decadência — disse uma voz igualmente desconhecida, aveludada, elegante.
O ex-senhor das trevas sorriu de canto, um sorriso que não tinha alegria, apenas ironia.
— Eu sei, não é? Desculpe, não posso oferecer um lugar para se sentar, o novo lorde das trevas vai ter que me perdoar.
Voldemort franziu o canto dos lábios em resposta enquanto encarava a figura à sua frente. O silêncio entre eles se estendeu por segundos longos e calculados antes que ele falasse, sua voz serpenteando pelo espaço com suavidade letal.
— Grindelwald.
— Voldemort — Gellert disse, sua voz rouca, mas ainda carregada de autoridade. — Ou devo chamá-lo de Tom? Parece-me apropriado, já que chegou até aqui como um menino que perdeu um jogo.
Os olhos vermelhos de Voldemort brilharam por um instante, mas sua expressão permaneceu impassível, não permitiria à outro membro daquela família lhe tirar a paciência. Ele se aproximou, cada passo ecoando no chão de pedra, e parou diante de Gellert, avaliando-o como se observasse algo abaixo de si.
— Engraçado — Voldemort murmurou. — Pensei que encontraria um homem derrotado. Mas vejo que ainda se apega a esse teatro. Ouvi falar dessa maldição nos seus olhos, é interessante que ainda funcione apesar de dizerem que está com correntes que punem qualquer demonstração de magia. Mas a magia não é sua, não é mesmo? Quem lançou? Seu filho?
— Perspicaz. Como ele vai? Você o encontrou recentemente, sinto a magia dele em você. — Gellert estreitou os olhos que começaram a perder o tom acinzentado e opaco para um pouco mais de vida, apenas um pouco. — Não me diga... Ele não inventou um maldito pacto de sangue?
Voldemort não respondeu — nem precisava — Gellert já tinha começado a rir, uma risada fria.
— Ele me julga tanto, mas comete os mesmos erros como um tolo.
— Seu filho tem uns conhecimentos de magia bem sombrios, isso nos seus olhos é tão raro que provavelmente os guardas nem sabem do que se trata mesmo que a maioria seja formado na Durmstrang, não é o tipo de conhecimento que se ensina, mas aquele que escondem apenas nas tribos que ainda usam magia tão primal. Não seria bom para mim, então vou tirar.
Gellert suspirou. Ele esperava que Voldemort não conhecesse uma maldição dessas, era usado principalmente por tribos de criaturas mágicas ou Megeras especialmente velhas.
Então ele não dispensava realmente todos os tipos de magia que achava inferior.
O homem de cabelos alvos, evidência da idade, sentiu a onda de magia que atingiu seus olhos e os fez arder até recuperarem completamente a visão.
Uma chateação.
Era uma maldição usada por xamãs para ligar sua visão a um animal, geralmente corvos. Em tribos de criaturas mágicas muito antigas e humanóides era raro, mas você podia ver o chefe mago entre eles sempre acompanhado de um corvo cego e quando eles não estivessem juntos, então o mago estaria cego. O xamã que se ligasse a um corvo poderia ver o que ele enxerga, mas isso tinha um preço, o animal começava perder a própria visão com o tempo. Era possível, entretanto, trocar a visão, o animal voltaria a enxergar enquanto o que lhe lançava a maldição aceitasse o estado de cegueira para si. Usado bastante para vigiar a região e garantir que não haviam invasores. Uma via de mão única, apenas o xamã pode ver o que o corvo vê.
Era possível usar entre dois bruxos, apesar de ser considerada uma magia suja, bestial, tudo que o amaldiçoado via, o outro teria em sua mente como uma memória própria, bastava procurar em seu palácio mental, mas cegava o que estava amaldiçoado a menos que o outro emprestasse sua visão ou parte dela, e não lhe oferecia qualquer vantagem, seria apenas uma vítima, assim como a criatura para o xamã. A contra maldição era um conhecimento ainda mais difícil de se alcançar.
Mas Riddle sabia.
Se Voldemort estivesse certo sobre a quem Gellert estava ligado, então, a menos que Lakroff Mitrica estivesse distraído com alguma coisa que não o fizesse notar entre suas memórias o que estava acontecendo ali, logo ele saberia da presença de Voldemort.
Era uma corrida contra o tempo.
Gellert teve que fechar os olhos um pouco até se acostumar com a luz, mas Voldemort esperou, encarando-o com paciência e quando o tempo para Grindelwald se acostumar passou, o rosto de Grindelwald foi segurado com força e uma poção foi enfiada contra seus lábios.
Ele tentou resistir, mas havia magia sendo usada nele para dissuadir o contrário, como um leve impulso de maldição império, apenas enfraquecendo ssuas próprias ideias e ele estava sem acesso a própria magia para resistir.
Ele tossiu depois de beber todo o conteúdo e assistiu Voldemort com impaciência.
— Veritaserum. Como se fosse funcionar em mim, garoto.
— Não fazia mal tentar, você podia ser um velho fraco pscicologicamente depoiss de tantoss anos de solidão. E então, qual seu nome?
— Lakroff Mitrica — zombou. — Tenho sete anos e sou roxo.
Voldemort estalou a língua e Gellert inclinou a cabeça, divertido.
— O que foi? Esperava que eu estivesse com medo de você? Está tão acostumado a ver homens se curvarem que esqueceu como é enfrentar alguém que já está morto?
Voldemort não respondeu de imediato. Ele deslizou a varinha entre os dedos, girando-a levemente, mas sem erguer a ponta. O silêncio que se seguiu foi espesso, tenso, como um fio prestes a se partir.
Então ele falou, baixo, preciso:
— Você não tem medo da morte porque ela é a única coisa que ainda pode lhe conceder um último resquício de controle.
Gellert arqueou uma sobrancelha, o sorriso aumentando.
— Ah, então você entende. Isso me surpreende, Tom. Sempre imaginei que você e a morte tinham uma relação... peculiar.
— Você sabe demais para um homem enjaulado.
— Um Grindelwald sempre sabe, garoto.
Voldemort ignorou a irritação que sentiu ao ser chamado de garoto. Os olhos vermelhos se estreitaram levemente.
— Você se orgulha de sua indiferença, Grindelwald, mas é um fingimento. Se a morte realmente não significasse nada para você, não teria lutado tanto. Eu sei da sua fuga. Então Lakroff, seu próprio filho, te entregou e ainda te amaldiçoou para ficar de olho em você. Isso deve ser uma traição e tanto.
— De forma alguma.
— Então você é como ele? — perguntou com um sorriso de canto, inclinando levemente a cabeça. — Um tolo apegado a família. Essa é sua fraqueza, como é a dele? Seu filho, seus netos. Os Potter. É muita ousadia de vocês não perceber que se eu já matei parte da família, posso fazer o mesmo com os outros, principalmente os trouxas.
Foi apenas um instante — um único instante — mas os olhos de Gellert hesitaram. Voldemort viu. Ele viu e soube que estava certo. Um sorriso ínfimo e cruel tocou os lábios finos do Lorde das Trevas.
— Obrigado.
Se levantou, começando a andar pela cela.
— Então aquele tolo realmente adotou trouxas, não foi apenas o aborto. Imagino que eles também sejam Mitrica agora, mas já estou cuidando desse pacto, logo ele não terá efeito algum.
— Boa sorte com isso, conheço um homem que tentou muito antes de conseguir.
— Mas conseguiu.
Gellert estalou a língua.
— Antes que consiga, já será tarde demais para você, esse é o ponto.
— Vocês videntes não estão seguros demais em suas habilidades e talvez em uma certa profecia quando essas coisas não são fatos?
— Disse aquele que foi matar um bebê por causa de uma simples profecia ouvida pela metade. Gostou de como causou a própria queda?
Voldemort manteve aquele sorriso controlado no rosto.
— Acha que pode me provocar? Um moribundo como você.
— Talvez eu consiga. Me diga, vai começar a usar tortura agora ou pretende me sequestrar? Por isso os comensais segurando os guardas lá fora?
Marvolo inclinou-se levemente para frente.
— Não se preocupe, não vou desperdiçar tempo com tortura. Sei que não importa quanto sangue derrame, você se manteria calado. Mas... existem formas mais sutis de extrair verdades.
Gellert soltou uma risada curta e revirou os olhos.
— Ah, claro. Legilimência. O brinquedo dos inseguros. Antes de começarmos, me de o prazer de visualizar a cena, como foi quando descobriu que Harry era um Mitrica?
Marvolo bufou e dispensou com um gesto de mão.
— Uma realização, estava torturando um goblin para conseguir algumas informações sobre um cofre Black que poderia estar guardando algo que eu quero e encontrei algo ainda mais interessante vasculhando sua mente. Nada que um pouco de jeito não ofereça, não é mesmo?
— Então mostre-me desse jeito tão habilidoso.
Voldemort não reagiu. Apenas observou. E então sussurrou:
— Eu vim buscar informações. Sobre sua família. Sobre Lakroff Mitrica. Podemos ser racionais.
Gellert riu, um som baixo e rouco.
— Meu filho? — ele perguntou, seus olhos brilhando com uma mistura de orgulho e desprezo. — O que você quer saber sobre ele?
— Tudo — Voldemort respondeu, seus olhos vermelhos fixos em Gellert. — Seus poderes, suas fraquezas, seus segredos. E, é claro, como derrotá-lo.
Gellert inclinou a cabeça, como se estivesse considerando a pergunta.
— E por que eu te daria essa informação? — sua voz estava mais séria. — Lakroff é meu sangue. Minha criação.
Voldemort deu um passo à frente, sua presença agora ainda mais opressiva.
— Porque você não tem escolha — respondeu, sua voz um sussurro mortal. — E porque, no fim, você sempre escolhe o poder. Eu posso te libertar, Gellert. Eu posso te dar o mundo que você sempre desejou. Tudo o que você precisa fazer é me dizer o que eu quero saber.
Gellert olhou para ele por um momento, seus olhos cheios de uma mistura de diversão e curiosidade.
— Você realmente acha que eu me importo com o mundo agora? Eu já tive tudo o que queria, e olha onde isso me levou. Uma cela. Solidão. Arrependimento.
Voldemort assentiu com a cabeça.
— Um homem que já perdeu suas esperanças. Esses são difíceis, mas o que espera com isso Gellert? Seu filho, seu sangue como disse, te condenou a essa cela e a morte. Não me faça perder meu tempo — as palavras tinham um tom áspero. — Diga-me o que eu quero saber, ou você vai descobrir que há coisas piores do que a solidão.
Gellert riu novamente, um som que ecoou pelas paredes da cela.
— Você realmente acha que pode me ameaçar, Tom? — ele perguntou, sua voz agora cheia de desdém. — Eu sou Gellert Grindelwald. Eu já enfrentei Dumbledore. Eu já enfrentei o mundo. O que você pode fazer que já não tenha sido feito comigo?
Voldemort olhou para ele por um momento, seus olhos vermelhos brilhando com uma fúria contida. Ele então levantou a mão, sua varinha pairando ameaçadoramente contra a pele de Gellert.
— Se não quer a liberdade, posso jurar dar-lhes uma morte branda. Um simples feitiço e seus queridos parentes não sentirão dor. Do contrário, os machucarei e você saberá que a culpa foi sua e de seu filho irresponsável. Ou pensa mesmo que sua cria, um adolescente um aborto e um ou dois trouxas podem fazer grande coisa contra mim?
Os olhos de Gellert brilharam, travessos.
— Mas eles já fizeram, não?
Ele se inclinou ligeiramente para frente, aproximando o rosto do de Voldemort, e sussurrou:
— Peões só são úteis enquanto o rei ainda respira.
O silêncio caiu como uma lâmina.
Voldemort não piscou. Não se moveu. Ele apenas olhou para Grindelwald, avaliando suas palavras. E então, sem pressa, ele se endireitou. Sua varinha girou entre os dedos, e um suspiro quase entediado escapou de seus lábios.
— Você fala demais para um homem morto.
— Então faça. Mas saiba que, ao fazer isso, você só estará provando o que eu sempre soube. Que você é fraco. Que você precisa matar para se sentir forte.
Voldemort inclinou a cabeça, sem deixar a raiva transparecer em seus gestos, apenas murmurou com suavidade:
— Como desejar, mas antes...Legilimens.
Voldemort não tinha muito tempo e ele encarou diante dele muralhas tão densas e inpenetráveis quanto a fortaleza de Nurmengard, ele tinha um controle pscicológico muito grande. O que, é claro, já foi confirmado com sua resistência a poção da verdade. Estava sendo um trabalho realmente difícil e Marvolo não podia continuar até destruir aquele homem já que Lakroff poderia aparatar a qualquer momento e trazer mais guardas.
Como Voldemort queria ser discreto e não revelar seu retorno ainda, então fez o que podia.
Não foi uma tentativa em vão, algumas coisas, na verdade, foram bem interessantes. Afinal, por mais que quisesse demonstrar força, Grindelwald era um bruxo velho e aposentado. Sem magia para usar oclumência da forma correta, resistindo apenas por própria vontade.
Voldemort achou que os resultados ainda foram bem positivos.
Quando saiu da mente do antigo lorde das trevas, mais cansado do que gostaria de admitir, estava com um sorriso vitorioso, mas Gellert apenas fechou os olhos e resmungou:
— Você realmente precisa fazer esse tipo de coisa para disfarçar o quão fraco é, Riddle.
— Você é o velho fraco, Grindelwald. Eu podia ter te dado mais, agora quero que saiba que seu filho se importa tão pouco com você que o deixou para morrer, é com essa certeza que vai partir, ele não se importou em te proteger
— Não esperava menos dele.
— Espero que exista vida após a morte, para você testemunhar pelas minhas mãos a morte de todos os Mitrica.
A palavra final foi pronunciada sem emoção e um lampejo verde encheu a cela.
Gellert caiu para o lado, o eco do feitiço ainda ressoando entre as pedras. Seu corpo ficou imóvel, a expressão congelada entre a satisfação e a resignação. Morto com dois únicos pensamentos em mente.
Sua morte não causava mal a sua família, a Lakroff, para que fosse percebida pelo pacto de sangue.
E que Voldemort ainda é quem mata todos os Mitrica em suas visões.
Gellert sinceramente não confiava em Lakroff o bastante para morrer com menos do que medo em seu coração e se Riddle podia ter algum sucesso ali era esse. Ele conseguiu colocar medo no coração de um Grindelwald.
Voldemort permaneceu ali por um instante, observando o cadáver como se estivesse avaliando um quadro. A corrente do pacto de sangue começou a subir por seu peito e pescoço e o enforcou por alguns segundos enquanto pensava no que queria fazer àquela família, mas logo ele se conteve.
Ele não queria causar mal aos Mitrica, apenas destruir esse maldito pacto.
Isso não estava no acordo e o pacto finalmente soltou seu aperto.
Ele queria alguma informação sobre Lakroff e conseguiuu. Aquele tolo apaixonado receberia sua mensagem. Voldemort ainda podia atingir os Mitrica, estaria em torno deles e todos que amavam cairiam por sua ingênua decisão de enfrentá-lo.
Depois, sem mais uma palavra, virou-se e saiu da cela. A porta se fechou atrás dele com um baque oco, deixando Nurmengard ainda mais vazia do que antes.
Olá! Já votou no capítulo?
Pequena votação aqui, eu vou seguir o que vocês falarem SE conseguirem bater o récorde de votos, se não conseguirem eu vou fazer o que eu quero e vocês que lutem, mas vamos lá. O que preferem para o próximo capítulo:
1. Fanservice dos adolescentes Draco e George competindo pelo Harry e os gay panic do menino, além de outros casais, mas um capítulo mais leve focado nos jovens e com a pegadinha do LEandro nos marotos.
2. Um capítulo focado no Gellert, no Lakroff e no passado deles com a revelação final da árvore genealógica do Hazz para aqueles que tanto querem saber quem é Lakroff Mitrica.
3. Um pouco dos dois para ser uma bela montanha russa emocional.
Já sabem né? Se perderderem o desafio eu faço o contrário do que vocês querem porque eu quero escrever as duas coisas, a ordem não prejudica a narrativa em nada.
Enfim, é isso, espero que tenham gostado e até a próxima!
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