Capítulo 8 - Um pouco de dança e sentimentos reprimidos
Não se esqueçam de votar! Votem no capítulo!
E leiam as notas finais que tem coisa importante, de resto, boa leitura!
Albus Dumbledore poderia esperar algumas coisas do baile de inverno. A presença do seu irmão não era uma delas.
Aberforth estava com uma gravata verde musgo, completamente desconfortável em um terno a casaca com manto preto, mas distraído demais para realmente pensar sobre sua roupa engomadinha e absurdamente cara que tinha sido financiada, sem consentimento, pelo irmão.
Albus realmente estava surpreso e olhava para Minerva dançando na pista de dança com o homem com um sentimento conflituoso.
Ele sentia que estava vendo alguma coisa acontecer.
Na forma como o bruto do Aberforth tocava com delicadeza a pele das costas expostas de Minerva, quase como se fosse indelicado estar com ela ali, mesmo que precisassem para dançar. Como Minerva parecia bem menos decidida e implacável do que o normal, como ambos se olhavam e precisavam de um bom tempo para parecer confortáveis, quando começaram a conversar e nisso pareceram se perder um pouco do resto.
O mais velho dos Dumbledore não sabia nem a metade. Aberforth, quando entrou no salão e se dirigiu para a primeira mesa com rostos conhecidos, achou que não conseguiria pensar em outra coisa além do tal Lakroff Mitrica.
Sirius e Remus o cumprimentaram, assim como alguns dos outros professores que foram se sentando, mas Aberforth não conseguiu tirar os olhos daquela coisa que se denominava Lakroff.
Até Minerva se aproximar.
Depois de guiar os alunos, ela veio até eles junto do tal Severiuous (sim, ele pensava no nome errado, porque se divertia com seus próprios pensamentos replicando Minerva irritada com sua gafe), e eles tomaram lugares, fazendo Aberforth se perder nela.
Minerva estava tão preciosa quanto uma esmeralda, usando a cor de uma.
Ela estava até mesmo com uma maquiagem leve, pelo que Aberforth percebeu, e ele ficou completamente desconcertado ao pensar, mesmo que por um único momento, que ela tinha se arrumado daquela forma para ser seu par.
Mas era tolice. Minerva estaria daquela forma, independente de ser parceira de Aberforth ou não. Em um mundo onde eles não viessem juntos, ela estaria igual.
Ele não deveria interpretar mal as coisas, certo?
Também não deveria perder tanto tempo olhando fixamente para ela enquanto falava, ou pior ainda, enlouquecer quando a dança começou e ele teve que tocar sua pele quente das costas expostas pelo vestido.
Foi tão avassalador tocá-la que ele se sentiu um adolescente idiota cheio de hormônios e, no começo, teve dificuldade para olhar diretamente para ela sem parecer ainda mais idiota.
A palma de sua mão parecia incerta contra a pele quente de Minerva, como se ele estivesse segurando algo muito mais frágil e precioso do que jamais ousou tocar, mas continuou, porque a dança pedia.
E ele não conseguiria se negar agora que tinha.
Em certo ponto, entretanto, percebeu que podia estar deixando Minerva sem jeito e tentou ser uma companhia menos irritante e conversar.
De alguma forma, a conversa entre eles fluiu, como sempre fluía, confortável, segura, como uma certeza à qual você se apega para melhorar seu dia.
Aberforth realmente quis estar ali, naquele baile, naquele momento, vendo Minerva em seus braços e ele teve que admitir para si mesmo.
Estava apaixonado.
Completamente.
Ele simplesmente não conseguia mais pensar em Minerva como alguém que passaria por sua vida deixando aquela marca e depois iria embora.
Como outras pessoas fizeram antes.
Ele apertou mais a mão nas costas da mulher ao pensar sobre isso. Não. Ele não queria perder mais alguém.
Mas quais eram suas chances com uma bruxa espetacular como ela?
— Desculpe não ser o melhor parceiro de dança — ele murmurou depois de hesitar em segurar em sua cintura e levantá-la no ar.
Minerva, entretanto, negou com a cabeça.
— Eu não conseguiria pensar em ter outro.
— Ser a única opção não quer dizer que me torno uma boa opção.
Ela sorriu.
— O que é isso? Aberforth incomodado por não ter os melhores trejeitos sociais? — zombou. — Você está bem?
— Deve ser o clima, ou a roupa cara.
Os dois riram, mas Aberforth olhou para aquele sorriso e de novo pensou em como ele poderia ser apenas uma nota em sua vida. Um capítulo de um dia bom, mas Minerva não seria parte de sua vida efetivamente se não soubesse como mantê-la ali.
— Provavelmente é você — ele comentou.
— Eu?
— Sim. Com um par tão encantador, a gente começa a pensar melhor sobre ter ignorado aulas de etiqueta.
Minerva dispensou aquilo com outra risada.
— Encantadora. Está querendo ser galanteador essa noite, Aberforth?
— Isso depende.
— De quê?
Ele sorriu e olhou-a diretamente nos olhos ao perguntar:
— Haveria de funcionar com você?
Ela também sorriu, apesar de se sentir levemente desconcertada pela intensidade dos olhos azuis a encarando. Pela forma com que ele estava bonito naquela noite, com tudo feito para se encaixar nos exatos lugares e o preto destacando seus olhos azuis.
— Acho que nunca pensei em ver a versão galante do velho Aberforth. Estou acostumada com o bruto que não gosta de ser acordado de dia.
— E você sempre me acorda.
— Isso é uma mentira tremenda. Foram só algumas vezes.
— Muitas só nesse começo de ano letivo.
— Eu precisava dos seus conselhos!
— Você aprecia meus conselhos, Minerva?
— Que pergunta estranha. Claro que sim, se não nem o incomodaria.
"Será que você aprecia mais coisas em mim?" ele pensou enquanto a girava antes de recolhê-la novamente. Sua mão sempre vibrando quando entrava de novo em contato com a pele dela.
A pessoa que fez aquele vestido de baile era um gênio louco.
— Se te serve de consolo — ele murmurou, parando ao perceber que a música tinha encerrado. — Não me incomodo tanto quanto faço parecer, porque eu aprecio sua companhia.
"Talvez mais do que devia", acrescentou mentalmente.
Mas, apenas talvez por se conhecerem há tanto tempo, ou por repararem cada dia mais nos mínimos detalhes de cada um, os braços cobertos de Minerva se arrepiaram como se uma corrente de ar a atingisse.
Como se pudesse sentir aqueles pensamentos.
Pudesse perceber que havia algo a mais.
E ela, Grifinória como era, era um pouco ousada demais para deixar passar sem se colocar bem de frente.
— Você aprecia ou aprendeu a se acostumar?
Aberforth não soube de que parte dele veio aquilo, provavelmente da mesma estupidez Grifinória de sempre, mas ele estendeu a mão e tocou o rosto de Minerva desta vez.
— Cada minuto com você é fascinante e agradável, eu nunca poderia me acostumar, pois parece melhor a cada dia que me dá a honra.
Minerva piscou surpresa, o ar dos pulmões saindo em uma lufada espantada.
Havia uma linha.
Uma linha imaginária que ambos tinham resistência de passar. Um ponto onde os sentimentos de ambos se encontravam com uma sombra do passado e de decisões que tomaram que podiam ou não se arrepender, mas que faziam parte de quem eram.
Essa linha fez com que os dois recuassem.
Aberforth soltou o rosto de Minerva e ambos sustentaram o olhar apenas por alguns segundos, antes de a mulher baixar a atenção para a lapela dele e ele para o salão.
A bruxa encontrou um enfeite torto e decidiu arrumar. Aberforth sorriu para aquilo, o toque dela em suas roupas. Como a mulher gostava de tudo no seu devido lugar, como alguém caótico como ele podia gostar dela.
Talvez ele gostasse de um pouco de ordem na sua vida.
Ou ele só gostasse demais de Minerva para começar a apreciar tudo que ela tinha a oferecer.
Ele, decididamente, gostava um pouco demais de Minerva.
Tanto que desejou que o tempo dela no baile fosse maior, que não precisasse parar em algumas horas para começar sua ronda, que não fosse professora ali e pudesse ser apenas sua convidada.
Mas Minerva iria sair, Aberforth tinha pouco tempo naquela noite para apreciar cada um daqueles detalhes. Seus olhos castanhos pintados de dourado suave, suas costas expostas, suas tranças com pedrinhas douradas e verdes, seu cheiro ocultado por um perfume discreto que ele não conseguia identificar, mas sabia que gostava, como tudo nela.
Ele estava acabado.
Quis que durasse mais.
Quando os primeiros acordes da próxima música soaram, Aberforth sentiu como se o salão inteiro estivesse conspirando para arrastá-la para longe dele. O brilho dourado das velas parecia mais frio agora, distante.
Quase podia se esquecer do plano de Albus para tentar conseguir uma amostra do DNA de Lakroff Mitrica.
Capítulo 8 — Um pouco de dança e sentimentos reprimidos
"Pensar antes de agir parece tão fácil, mas não é, porém se tivermos ações que são duvidosas a ponto de ter que pensar a respeito, então é melhor não fazer."
— Rafael Valladão Rocha
Os professores de Hogwarts e alguns da Durmstrang tinham feito turnos para vigiar os alunos durante o baile e depois dele, por isso Sirius tinha duas horas alternadas para aproveitar a festa, uma logo no início, as nove, depois outra às onze. Uma disposição que não podia ser pior para os planos de Remus, que queria sair o quanto antes.
Sinceramente ele nem queria ter vindo.
Negou o pedido de Sirius a princípio, mas ele foi tão insistente, lhe dando presentes, cortejando de tal forma que Lupin se sentiu na obrigação de fazer aquilo pelo bem da paz no seu relacionamento e de não ser interrogado sobre seus planos.
Mas ele estava impaciente.
Conseguiu aproveitar a refeição e a primeira hora de dança com Sirius, porém ter que esperar até o baile acabar o estava matando, ainda mais porque não haveria uma hora exata para o fim.
Leandro brincou que independente da liberdade, britânicos eram chatos demais para fazer a coisa durar muito além da meia noite e que se fosse no Brasil seria até o sol nascer, no mínimo, "direto da festa para o café da manhã" pelo que disse.
Remus concordava que provavelmente não duraria tanto, mas a lua estava crescente, perfeita para o ritual e idealmente tinha que resolver tudo antes de começar a lua cheia e principalmente deveria acontecer no Yule. Era uma graça ver Sirius tão feliz e ele estava lindo. Lupin facilmente tiraria uma hora para arrastar o noivo para o quarto e apreciar suas roupas fora do corpo também, mas estava tão focado em coisas mais importantes que nem conseguia se animar com a ideia.
Quando Sirius o deixou às dez para fazer ronda, Remus se voltou para a mesa de ponche e ficou com o olhar vidrado encarando nada em particular pensando se não conseguiria arrumar uma desculpa para ir embora. Deveriam ter se passado vários minutos nisso antes que alguém se aproximasse dele e o chamasse pelo nome.
A música mal permitiu ouvir a princípio, ou era sua cabeça que estava muito focada no ritual, mas ele só acordou quando ouviu uma segunda vez:
— Lupin!
Ele piscou e virou o rosto para encarar Severus Snape.
— Snape — cumprimentou com um aceno leve de cabeça. — Precisa de algo?
— Gostaria de tomar-lhe a palavra por um minuto, se importa?
Remus deu um gole longo na bebida que tinha nas mãos e devolveu o copo para a mesa antes de apontar para a pista.
— Na verdade eu já descansei muito, estava indo dançar.
— Será rápido.
— Então que tal dançar comigo e você me diz o que deseja?
A expressão de descontentamento de Snape foi imediata e Remus segurou o sorriso de vitória. Ele não queria falar com o outro homem, mas não sabia exatamente como dispensá-lo. Ainda mais se aquilo fosse coisa de Dumbledore terceirizando o trabalho sujo de interrogar Remus sobre sua escolha de se tornar professor de um instituto das trevas.
Que escolha ruim seria se ele confiasse em Snape algo assim, mas talvez estivesse contando com suas habilidades de espião para pegar qualquer detalhe comprometedor.
— Não, podemos ir lá fora, a música vai atrapalhar.
— Eu uso um feitiço de silenciamento, é lua crescente, Snape, não consigo ficar parado por muito tempo.
Novamente sua mensagem atingiu Severus tão bem quanto queria. O homem foi lembrado da "condição" de Remus e se tornou levemente desconfortável com a situação, como se não entendesse o suficiente das criaturas para avaliar se deveria ou não contrariar um lobisomem em lua crescente.
Aquilo era uma baboseira, mas Lupin sabia que aquele cara era preconceituoso demais com lobisomens para entender que se não fosse lua cheia, não seria afetado. Não passava de um simples bruxo durante todas as outras fases, mas Severus via Remus como uma criatura e só.
Lupin usaria isso a seu favor.
— Se desejar podemos falar depois, mas agora eu realmente preciso dançar um pouco — e já foi dando alguns passos sem se importar que parecesse grosseiro.
Quer dizer, parecer grosseiro para alguém que te vê como um animal não era tão difícil.
Entretanto, para infelicidade de Remus, Severus o seguiu.
Sem muitas alternativas e contando que o movimento o ajudaria a diminuir qualquer leitura mais complexa que Snape poderia fazer de si, Lupin continuou com o plano da dança. Foi até a pista e quase revirou os olhos para sua sorte quando as esquisitonas decidiram começar uma música mais calma.
Educadamente ele se inclinou apenas o suficiente e mostrou sua mão para Severus pensando se agora ele recuaria. Uma dança lenta com outro homem, um que estava em um relacionamento público assumidamente gay, em um evento cheio de gente talvez fosse intimidador de alguma forma.
Além do agravante de que era um lobisomem perigoso.
Mas Remus não estava com sorte, Severus inclinou de volta e aceitou a mão.
Lupin tinha tido aulas com Lakroff para dançar adequadamente com outro homem no baile, teve um ótimo trabalho com Sirius, mesmo que não fossem tão impressionantes quanto George e Harrison pareceram juntos. Talvez porque o casal mais velho estava menos preocupado com a aparência pública da coisa toda do que Harry. Além de que não tinham todo o salão praticamente para si como os meninos ao abrir a dança da noite.
Mesmo assim foi divertido dançar com Sirius e eles se entenderam perfeitamente. Sabiam quem conduzir e como.
Severus obviamente não tinha o mesmo conhecimento.
Nem estava se adaptando facilmente ao fato de que Remus não abriria mão do controle daquela dança e guiaria. Severus querendo ou não. Isso fez com que quase pisassem nos pés um do outro nos primeiros segundos e definitivamente aquilo pareceu uma briga por controle por mais tempo do que uma dança, além de que foi tudo silencioso, mas em certo ponto Snape pareceu aceitar alguma coisa porque decidiu interromper um pouco sua luta.
Não se deixou guiar, apenas estava sendo menos insistente.
Ele puxou a varinha discretamente da manga em um dos movimentos que se afastavam e Remus sentiu a magia circundá-los.
Deu um giro pela pista de dança uma vez antes de falar:
— E então, Snape? Como posso ajudar? — e apenas porque era um Grifinório incurável, ele foi direto — Dumbledore pediu para conversar comigo?
O professor de poções piscou com calma e continuou sendo praticamente arrastado a contra gosto antes de finalmente se pronunciar:
— O que o faz acreditar nisso?
— Imagino que ele deva estar curioso sobre minha decisão de lecionar na Durmstrang.
— E eu faria o trabalho do diretor? Acho que ele poderia encontrar pessoas melhores para pedir algo envolvendo você, considerando que não encerramos nos melhores termos. Um erro da minha parte, tenho de admitir.
Lupin tentou não reagir.
Parecia um eufemismo.
Um erro da sua parte? Talvez. Naquela sociedade pareceria apenas um erro. Não uma ofensa. Leandro teria feito da vida de Severus um inferno, talvez o deixasse em pedaços. Remus deixou para lá, estava tão acostumado com esse tipo de coisa.
— Entendo — murmurou Lupin sem emoção. — Se não é por Dumbledore, o que poderia querer comigo?
— Na verdade é justamente sobre o erro que acabei de mencionar. Acredito que, considerando as circunstâncias, mesmo que fosse verdade, permitir que descobrissem sobre sua condição o atrapalhou e lamento por isso.
O lobisomem levantou uma sobrancelha e aquele foi o único sinal que Severus recebeu de que ele ainda estava ali, porque Lupin simplesmente não disse nada. Apenas o olhou e continuou, de forma irritante, o guiando pelo salão. Snape já estava incomodado com toda a situação e aquilo só piorou tudo.
Eles dançaram em silêncio por um tempo, a música lenta transformava cada passo em uma negociação tensa. Os dedos de Snape estavam frios e rígidos contra os de Remus, e ele tentou novamente tomar o controle. A força bruta do outro, entretanto o impedia.
Parecia com aquela conversa.
Snape queria o controle, mas estava lutando contra uma parede sólida de músculos e pouco cérebro. Um grifinório, sem dúvidas.
— Você me ouviu?
— Ouvi.
— Então?
— Então? O que quer que eu diga?
Snape desistiu relutantemente novamente da dança e seguiu os movimentos do outro, vendo pelo canto dos olhos alunos apontando na direção deles e tentando ignorar isso pelo próprio bem de sua sanidade.
— Diga alguma coisa. Estou lhe pedindo desculpas.
— Então foi isso — murmurou com um ar observador.
— Perdão, está me entendendo?
— Você falou de um jeito que não parecia um pedido de desculpas.
Snape segurou a vontade de revirar os olhos.
— Pareceu o que?
Remus deu de ombros.
— E você se arrepende?
— Estou pedindo perdão, então a conclusão lógica é de que sim.
Severus estava sendo ele mesmo, entretanto não sabia, ou talvez só não tivesse notando ainda, que não estava conversando com um simples colega, alguém que tal qual Sirius se adaptaria a sua personalidade.
Sequer falava com o mesmo Remus que trabalhou em Hogwarts no começo daquele ano.
Aquele que estava acostumado com as grosserias sociais dirigidas a ele.
Este novo não queria mais se acostumar. Por isso, sorriu.
De repente quis que Severus soubesse com quem estava conversando.
— Você cheira a falsidade, um lobo geralmente sente esse tipo de coisa.
— Como é?
Remus inclinou a cabeça para ficar mais na altura do colega e olhou-o diretamente nos olhos quando disse:
— Minha conclusão lógica não é de que você se arrependeu, é de que você quer alguma coisa.
Para crédito de Snape ele era um espião bom demais para reagir. Mesmo assim, Remus sentiu sua pulsação aumentar e deu um sorriso de canto com aquilo.
— O que eu poderia querer de você? — perguntou Snape, novamente não deixando que nada passasse por seu rosto.
Remus não precisava de uma confirmação, entretanto, ele tinha instintos bons o bastante para ter certeza de que aquele homem tinha uma intenção oculta.
— Não sei o que quer. Porque não me diz? É melhor ir direto ao ponto.
— Estou apenas tentando resolver esse assunto em aberto entre nós.
Remus soltou um resmungo desacreditado.
— Entendo. Então você pede desculpas por espalhar que eu era um lobisomem?
— Sim. Me desculpe.
— Mais alguma coisa?
— Mais? Como assim?
— Tem mais alguma coisa que queira falar comigo?
Snape hesitou. Ele notou que havia algo de errado na forma sem emoção com que Remus soltava as palavras, mas não sabia ao certo como conduzi-lo.
Obviamente estava tendo dificuldade com aquilo em todos os sentidos.
— Você pode me perdoar? — perguntou.
— Por isso? Iam descobrir uma hora ou outra e o cargo está amaldiçoado, eu não conseguiria ficar mais. Não foi grande coisa.
— Certo... — Severus murmurou olhando para o rosto sem qualquer expressão de Lupin. — Estamos resolvidos então.
— Ah, desculpe, eu posso ter soado ambíguo. Eu disse que não me importo com isso, mas não disse que te perdoo.
Severus suspirou.
— Eu entendo que esteja chateado, mas estou pedindo desculpas.
— Sim, eu ouvi, mas estou dizendo que não te perdoo.
— Lupin, sei que pode não concordar com meus motivos, mas sabemos que eu apenas deixei claro um fato, não cabia a mim o que aconteceria depois.
Remus deu um sorriso gelado a Snape que mais parecia uma lufada de vento invernal.
— Era isso que você queria? Meu perdão? Por que quer ele?
— Eu já disse...
O sorriso do lobisomem sumiu.
— Eu não vou acreditar nessa sua desculpa esfarrapada de que quer acertar as coisas. Você não se importa o suficiente comigo para isso.
— Desculpe se dei a impressão de não me importar com você, eu apenas quero que possamos ser velhos colegas sem problemas.
— Eu não vou. Não vou te dar isso. Não somos velhos colegas, você queria que os alunos odiassem lobisomens como eu. Você nunca foi atrás de saber mais sobre lobisomens para questionar se tudo o que os livros falam é verdade.
— Está me julgando por acreditar nas pesquisas que existem sobre lobisomens?
— Não são pesquisas. São falácias e eu poderia ter ensinado uma geração sobre isso, mas você pulou o conteúdo em que eu estava e fez questão de ensinar exatamente como estava nos livros e assustá-los sobre mim.
Snape, desta vez, não resistiu a levantar as sobrancelhas e demonstrar o escárnio em sua expressão.
— Então você realmente está me julgando por obedecer o currículo?
— Quer saber, Severus? É por isso que não te perdoo. Você não entende o problema de verdade para se incomodar com ele.
— Então me diga onde é que os livros estão errados?
— Você quer que eu te dê aulas? — o loiro perguntou, um tom de ironia na voz. — Mas se sentiu confiante o bastante para falar sobre lobisomens na frente dos alunos no meu lugar? Como se soubesse mais do que eu sobre... a minha própria vida?
— Sua aula seria emocionalmente enviesada, Lupin. Não é como se você fosse capaz de separar suas experiências da realidade objetiva.
— Não se trata de enviesamento quando eu estou falando do que vivo todos os dias, Snape. Isso não é teoria para mim, é a minha realidade.
— Qualquer outro professor teria dado aulas iguais às minhas, não pode me culpar...
Remus interrompeu. A fala e a dança, de forma tão brusca que Severus quase caiu e soltou a mão do homem.
— Qualquer outro professor tem que ensinar sobre lobisomens para o terceiro ano, mas nenhum deles tirou a oportunidade de alguém que vive isso ter a chance de falar. Você não sabe como é viver a vida inteira sendo desprezado por algo que você não tem controle e quando se tem a oportunidade de mudar a cabeça das pessoas, um preconceituoso aleatório vem e te tira a oportunidade.
Snape crispou os lábios.
— Eu não sei o que é fazer parte de uma minoria desprezada? Mesmo?
— Não venha me dizer que por ser mestiço você sabe pelo que eu passei, também sou mestiço, esse estigma está comigo, mas tenho um agravante.
— Pobrezinho, sofreu tanto. É isso que quer ouvir? Que sofreu mais? — questionou já se irritando, ele mal ouvia a música no fundo. — Isso é uma competição? Porque você não sabe nada da minha vida para poder se colocar como superior por causa de uma situação.
— Não é uma situação, é minha vida inteira assim, Severus! E não vou deixar mais as pessoas pisarem em mim porque preciso parecer dócil antes que me ameacem com uma focinheira.
— Você está usando como outras pessoas te trataram para julgar se deve ou não me perdoar? Eu te ajudei durante todo aquele ano, fiz as poções que você precisava para não sofrer tanto mesmo com tudo.
— Nossa, obrigada por fazer o que Dumbledore pediu — respondeu cheio de cinismo. — Deve ter sido um sofrimento para um professor de poções ter que preparar mais algumas poções.
— Não sei porque eu achei que poderíamos resolver isso civilizadamente. Eu devia ter esperado.
Remus abriu a boca em desafio.
— O que está insinuando? Só porque eu sou um lobisomem...
— Não é nem sobre isso — interrompeu. — Mas sobre seu grupinho de amigos. Vocês nunca foram civilizados. Fizeram tudo o que fizeram na escola comigo e acham que eu tenho que ser passivo.
— Então quer dizer que você não fez aquilo porque achou que eu mentiria para os alunos, mas porque queria se vingar por um bando de pegadinhas idiotas?
— Pegadinhas idiotas? Vocês me deixaram nu em frente à escola inteira! Eu quase morri!
— E você chamou Lily de sangue ruim depois de tudo que ela fez para te defender. Racista deve ser tratado com civilização?
— Vocês que causaram aquela situação!
— Nunca te forçamos a chamar Lily de algo tão baixo. Se te escapou, é porque você pensava assim.
— Eu nunca...
— A marca no seu braço diz o contrário.
Snape olhou Remus com fúria e o lobisomem devolveu o mesmo olhar, com um sorriso sarcástico enfeitando os lábios.
— Acho que nossa dança acabou.
— Perfeitamente. Espero não o ver novamente.
— Digo o mesmo.
E saíram da pista de dança.
Snape mal notou, mas Igor Karkaroff o seguia para fora do salão e mesmo de muitíssimo mau humor, começou a falar sobre um assunto que só o deixou pior.
-x-x-x-
[N/A: Vocês sabem que canonicamente falando não temos qualquer informação sobre a mãe do Blaze Zabini, nem o nome, certo? Eu criei tudo para essa fic baseado em vozes da minha cabeça, porque nem fic com ela aparecendo eu li, no máximo mencionam a mulher. Estou falando isso porque um dos meus betas questionou se ela não era uma mulher negra e eu, que imagino ela britânica e o pai dele italiano, vejo muito mais o pai negro, do que a mãe. Então é isso, o lorde Zabini era negro, Samanta é branca. Escolha minha de roteiro, mas é relevante? Nem um pouco, então vocês ainda podem imaginá-la como quiserem porque a cor de pele não interfere em nada na história].
Samanta, por certo tempo LeBlond, um dia Zabini, atualmente Xatwin (nome sempre sujeito a mudanças, assim como nas últimas sete vezes) era, no fim, uma mulher de relações.
Sabia como conversar, entreter, encantar, atrair e dissuadir.
Suas habilidades sempre foram úteis nesta vida, os milhares de galeões em seu cofre pessoal diziam isso. Para uma dama filha de uma linhagem pequena, ela alcançou muito, geralmente sabendo ao lado de quem deveria estar em cada momento.
Quando uma guerra começou, tentou não tomar partido até que o próprio lorde das trevas veio até ela. Estava interessado em suas habilidades, algo que a maioria dos homens ignorava e tratava como pura sorte ou um conjunto de belos seios, mas que para aquele homem ambicioso se tratava de astúcia que queria do seu lado.
Ela nunca foi marcada, não serviria para seu objetivo se fosse, só teria que circular por entre a alta sociedade e dar as informações que muitas vezes não chegavam aos homens. Não foi ruim trabalhar para o bruxo, mesmo que tivesse muito medo dele.
Foi o primeiro homem que ela já temeu na vida.
Dito isto, revê-lo não foi uma experiência empolgante. Todo o medo que sentia daquela criatura voltou, mas em um pacote muito mais atraente e jovem. A aparência não enganava, entretanto, ele voltou com força total, talvez mais.
O lorde das trevas era mesmo capaz de voltar dos mortos.
Imortal.
Ela achava que era apenas boato devidamente controlado por ele, não uma possibilidade.
Entretanto, talvez não fosse papel dela ir atrás de seu mestre, nunca foi, o lorde das trevas que vinha até ela ou a solicitava quando necessário, por isso provavelmente ele não tenha se irritado com sua ausência como ficou sabendo que ficara em relação a outros comensais. O lorde apenas deixou claro que Samanta tinha escolha em voltar a trabalhar para ele, mas que se escolhesse o contrário ele daria fim a sua maré de sorte com os homens.
E com a vida.
Não foi realmente uma escolha, mesmo que ele tivesse colocado assim, como uma simples negociação. Então ali estava ela, em um baile com Igor Karkaroff, o traidor, que ela achou que seria o alvo de toda aquela interação e foi o motivo dela reportar imediatamente quando recebeu o convite.
Entretanto, parece que estava errada.
O lorde das trevas veio como seu acompanhante, mas não parecia minimamente interessado em Igor.
Não tanto como estava interessado em Lakroff Mitrica.
Esse sim era interessante.
Durante toda a refeição na mesa com alguns professores da Durmstrang ela recebeu sinais sutis de seu mestre para tentar tirar mais daquele homem e de sua acompanhante. A lady Mitrica falava bem mais que seu pai, mas também parecia circular com tranquilidade para longe de assuntos relevantes.
Não falaram sobre a cidade que fundaram, os projetos de lei que participaram. Se qualquer tentativa de pressionar o assunto fosse feita, eles recuavam habilmente chamando os outros professores da Durmstrang na mesa para um novo assunto e se tornava muito mais difícil recuperar sua atenção.
Samanta, no fim, não sabia com o que estava lidando.
Lakroff notou muito rapidamente quem era o acompanhante "familiar" daquela mulher. Riddle continuava sem saber que o lorde dos Mitrica o conhecia demais para não notar quem era, ainda mais quando nem estava disfarçando tão bem.
Da mesma forma que Tom sussurrou durante o jantar para Samanta continuar conversando com a filha de Lakroff, a qual tinham começado um pequeno debate amigável sobre qual cidade mágica era mais impressionante, o lorde Mitrica também avisou Alice para não ficar desacompanhada durante o baile em nenhum momento. Que tomasse Nymphadora Tonks como companhia sempre que ele ou Harrison não pudessem.
A garota ficou curiosa pelo motivo da paranoia do pai, mas igualmente interessada na auror britânica que o velho Lakroff confiava o bastante para recomendar como sua segurança extra, por isso deixou para questioná-lo outro dia e quando foram liberados para a pista de dança, correu para garantir que teria Tonks para si.
Lakroff só tinha os dois últimos turnos livres e se despediu de todos que dividiram a mesa consigo para poder começar a patrulha e Samanta se viu incapaz de conseguir o que provavelmente interessaria mais a seu lorde.
Por enquanto.
O lorde Mitrica não pareceu completamente indiferente a ela durante a refeição. Pelo contrário, era bastante galanteador quando a conversa dele e do lorde das trevas acabava se unindo a das mulheres, então talvez tivesse alguma chance de tirar de outro homem simples tudo que ela precisava, se usasse as jogadas certas.
Geralmente ela sabia tirar o que queria dos homens.
Entretanto, enquanto não podia tentar nada com o Lorde Mitrica, tinha que aproveitar a chance para conseguir qualquer informação interessante de Igor Karkaroff e por isso o seguiu durante a noite com o olhar para que não perdesse nada de interessante.
Foi assim que saiu do salão de baile alguns instantes depois que viu Igor seguir Severus Snape.
Ouviu a música abafar o conteúdo da conversa, mas reconhecia suas vozes e pegou o caminho da direita contornando o roseiral, um caminho mais ao canto desviando de alunos escondidos aqui e passando por algumas plantas no momento em que Severus atacou um dos roseirais para chegar a uma estrutura de pedras que estava encoberta de sombras e podia escondê-la.
— O que quero dizer — dizia Karkaroff —, é que você está com medo, mas eu não. Sei como resolver o problema e poderia te ajudar, se quisesse. Se não achasse que a asa de Dumbledore é o suficiente.
— E o que você poderia ter feito para resolver um problema grande como o seu, Igor?
— Eu poderia até te contar, Severus, mas para isso eu preciso saber primeiro: você confia ou não em Dumbledore para te proteger da ira do Lorde das Trevas?
— Não sei o que quer dizer, Igor. Há alguém a quem o lorde das trevas teme mais?
Houve um momento tenso de silêncio antes de Severus olhar para os lados e Samanta pensou que poderia ter sido descoberta, mas de repente ele gritava:
— O que é que vocês dois estão fazendo?
— Estamos passeando — respondeu um aluno, provavelmente um Weasley. — Não é contra a lei, é?
— Então continuem passeando! — rosnou Snape, e passou roçando por eles, sua longa capa negra se abrindo às suas costas. Karkaroff apressou-se em alcançar o colega.
Eles pegaram as escadarias mais a esquerda e subiram para uma área que cercava o grande salão e era aberta demais para que ela pudesse segui-los sem ser vista, mas sabia que além de um longo corredor de bancos de pedra e algumas escadas, acabariam no pátio em frente ao saguão de entrada.
A mulher teve que perdê-los de vista por um tempo, justo quando dois traidores estavam prestes a revelar tanta coisa interessante, mas voltou para o salão e seguiu por dentro do castelo até onde provavelmente acabariam.
Estava junto de uma estátua de unicórnio quando viu os dois novamente, em uma escadaria que descia para o lago negro.
Tentou escutar o que falavam de onde estava, no alto, mas pareciam estar ainda mais cautelosos e Samanta não escutava muito até que Severus disse mais algumas coisas e se separou de Igor, vindo em sua direção.
Ela se ocultou como pôde atrás da estátua e esperou um pouco para ver quais seriam os próximos passos de Karkaroff, mas ele continuou parado onde estava e Samanta decidiu segui-lo para tentar conseguir alguma coisa.
Passou por um corredor estreito e por um pequeno portão ornamentado para descer um lance de escadas. A noite com nuvens no céu deixava o ambiente mal iluminado por apenas algumas bacias de fogo aqui e ali. Um enorme pinheiro à esquerda criava desenhos no chão de pedra e dali a música já estava tão baixa que era possível ouvir a água do lago.
Samanta Xatwin deslizou pelo caminho sinuoso com a graça de uma serpente movendo-se entre folhas secas, sua expressão de placidez calculada, como se não soubesse exatamente onde estava indo. Ela não precisava apressar-se. Sabia que Karkaroff a esperava e principalmente, notou pelo olhar que recebeu: ele sabia que tinha sido observado. Por quanto tempo, entretanto, era uma questão.
O homem que havia sido um Comensal da Morte agora era um baú de segredos e de medos bem disfarçados. E Samanta gostava de farejar o medo.
Ele endireitou-se, a máscara de afabilidade logo em seu lugar. Com um sorriso que não alcançou os olhos, estendeu-lhe o braço.
— Lady Xatwin, saiu do salão de baile para andar pelos corredores. Será que a festa não está à altura das suas expectativas?
— Oh, Igor, o baile é encantador. Mas você sabe como é, às vezes a mente vagueia para... assuntos mais urgentes.
— Me fará companhia em minha ronda? Eu bem que já estava sentindo essa noite monótona.
Samanta permitiu que os dedos descansassem suavemente sobre seu braço, mas não se apressou em aceitar sua liderança. Em vez disso, inclinou levemente a cabeça, os olhos dançando sobre ele com um interesse quase preguiçoso.
— Monótona? Ora, mas você parece entretido o bastante — replicou, deixando a frase pairar no ar como uma nota de música suspensa.
Karkaroff manteve aquele sorriso falso e começou a guiá-la pelo caminho sinuoso de volta ao pátio, o toque firme, mas não agressivo. Um homem acostumado a liderar, mas que já havia aprendido a desconfiar quando a dança mudava de ritmo.
— O mundo anda... curioso ultimamente, não acha? — Igor comentou, a voz casual demais para ser genuína. — Rumores se espalham como incêndios, e nem sempre sabemos se são fumaça ou fogo.
— Ah, mas você sempre foi muito talentoso em distinguir um do outro, não foi? — Samanta murmurou, inclinando-se ligeiramente para perto, como se confidenciasse um segredo. — Sabe exatamente quando correr... e para onde.
Ele riu, mas o som foi baixo, quase seco. Era baixo lembrar-lhe de seu julgamento e como ele entregou seus aliados para fugir da cadeia. Ela não entenderia, não foi marcada como ele, sua palavra servia para fugir.
— Uma mulher perspicaz. Mas claro, você não teria chegado tão longe se não fosse.
— Nem você — replicou ela, os olhos cintilando à luz das fadas que voltavam a aparecer aqui e ali.
Um instante de silêncio tenso, onde apenas o murmúrio distante da festa preenchia o espaço entre eles.
Samanta deu um passo à frente, reduzindo ainda mais a distância, e continuou em um tom de conversa aparentemente inofensivo:
— Eu não pude deixar de notar... você parece inquieto esta noite, Igor. Será que Hogwarts não o recebeu tão bem quanto esperava? Ou será que me enganei em pensar que poderia estar conspirando?
Karkaroff fingiu um suspiro cansado.
— Lady Xatwin, sempre tão perspicaz. Eu poderia dizer o mesmo sobre você. Estamos no sétimo marido... quantos deles dançaram com você antes de... desaparecerem?
Ela riu, como se a insinuação de seus atos fosse uma piada realmente engraçada.
— Oh, Igor, você sabe como são os rumores. Eles crescem como ervas daninhas... mas nem tudo que reluz é ouro, não é?
— Sim. Rumores podem ser perigosos, especialmente em tempos como estes.
— Tempos como este você diz? Pensei que estávamos vivendo um período de paz.
Karkaroff riu, agora ele achava aquilo uma piada. Ele queria ter tido mais instruções de Lakroff, mas esperava que bastassem as que recebeu. Samanta estava querendo informações, claramente. Se as queria para você-sabe-quem, Igor também deveria se mostrar útil, como disse que seria.
— Dizem que certas... figuras estão retornando. Você não teria ouvido algo, teria?
— Figuras, Igor? Você fala como se fossem fantasmas. Mas fantasmas não dançam, não é? A menos que tenham algo a ganhar.
— Velhos fantasmas têm o péssimo hábito de ressurgir quando menos queremos — comentou como quem não diz nada demais.
— Sim, fantasmas são insistentes. Mas é engraçado... — ela traçou círculos no próprio pulso com os dedos, como se pensasse em algo distante. — Alguns fantasmas nunca nos deixam de verdade, não importa o quanto tentemos enterrá-los.
— Você fala como alguém que entende bem disso.
Ela sorriu.
— Entender é uma questão de sobrevivência, não acha?
Karkaroff hesitou um segundo antes de se inclinar levemente, a voz mais baixa agora.
— Então você deve entender... por que alguns de nós preferem olhar para o futuro em vez de reviver o passado.
Os olhos de Samanta brilharam com um interesse afiado.
— O futuro é um lugar instável, Igor. Depende muito de quem está moldando-o.
Ele estudou o rosto dela por um momento, então testou as águas:
— E me pergunto... quem exatamente está moldando o seu futuro?
— Ah, mas você já sabe a resposta para isso, não sabe? — Sua voz era sedosa, mas carregada de insinuação.
— Tantos rumores... tantos sussurros — Igor jogou a isca, fingindo desinteresse. — Eu volto a me perguntar, seria verdade que certas sombras do passado encontraram um caminho de volta?
Samanta riu suavemente. Igor sabia a resposta para aquilo. Pela conversa que estava tendo com Severus, pela marca em seu braço. Ele sabia muito bem que o passado estava de volta. Mentir só acabaria com aquela troca e Samanta precisava de informações. Igor estava apenas tentando descobrir o quanto ela sabia.
Estava tentando descobrir se Samanta tinha sido chamada.
Era uma jogada sutil vindo de um bruto como Karkaroff e fez a mulher pensar em como ele talvez tivesse mudado desde a última vez que se viram.
— Se eu lhe dissesse — ela começou, a voz grave, sedutora —, estaria alimentando rumores, e um homem tão inteligente quanto você sabe que rumores podem ser fatais.
— O que me mata não é o rumor — disse ele, mirando-a intensamente. — Mas a incerteza.
Samanta estudou-o, como um gato avalia um pássaro ferido.
— Se há algo que aprendi, Igor, é que a incerteza é algo que muitas vezes mantém um homem vivo.
— Existem outras coisas que podem manter homens em pé.
— Eu vejo... você parece confiante para alguém na sua situação.
— Vá direto ao ponto, Samanta, você sabe que eu sou um homem simples.
Ela ponderou sobre isso e achou que ser direta, como pedido, talvez fosse a melhor alternativa.
— O que te dá essa confiança? Ou será que devo dizer, quem?
— Não é como se eu pudesse lhe dizer, não é mesmo?
— Ah, mas eu fui sincera com você — choramingou. — Vamos, em nome da nossa amizade, não pode dizer nada?
Ele percebeu o jogo. Se insistisse, mostraria desespero. Se recuasse, perderia a vantagem. Então, sorriu, fingindo um conforto que não sentia.
— Tudo que posso dizer, em nome da nossa amizade, é que uma guerra exige aliados.
— Uma guerra não passa de uma tempestade, elas geralmente revelam raízes fracas e a sua, até onde me consta, não aguentará o vento. A menos que seus aliados sejam tão interessantes que possam segurá-lo.
— Sobre isso, o tempo dirá.
— Quem?
— Eu não lhe contaria nem se quisesse.
— Oh, Igor, não deveria esconder informações de uma velha amiga quando parecia disposto a dá-las a outro.
— Não é para seus ouvidos. Mulheres não entendem de guerras.
Samanta bufou:
— Guerras são perdidas por homens que subestimam mulheres.
— Tudo que posso dizer é que alguns fantasmas têm aliados poderosos. Outros... bem, outros são apenas ecos do passado.
— Ecos podem ser enganosos, Igor — falou em tom de advertência. Se Igor não soubesse melhor diria que Samanta estava até mesmo preocupada com ele pela forma com que o encarou. — Às vezes, o que parece fraco é apenas... paciente. Tenha isso em mente.
— Vou ter.
Eles entraram em um silêncio profundo enquanto continuavam a caminhar, Samanta estava inquieta, ela sentia que poderia chegar ao cerne daquela questão, só precisava insistir mais. Igor haveria de vacilar em algum momento, por isso não deixou que a conversa morresse.
— E você? Como está Durmstrang? Ensinando seus alunos a temer o que não entendem?
— Durmstrang está forte, como sempre. Mas eu me pergunto... por que alguém como você se importaria com uma escola distante? A menos que também esteja procurando... aliados?
— Isso depende. Me ofereceria os mesmo que você tem?
— Quem é aquele que veio com você? — ele desconversou.
— Apenas um familiar distante.
— Mesmo? Família? Então começaremos a mentir um para o outro?
A bruxa crispou os lábios.
— Por que julga ser uma mentira?
— Eu nunca o vi. Você não tem família além de seu filho, sempre deixou isso claro.
— Se eu contar quem é meu aliado você conta quem é o seu?
— E você faria isso?
— Não sei. Você poderia responder primeiro. Afinal, aliados são como parceiros de dança, Igor. Escolhemos com cuidado, mas nunca sabemos quando vão pisar em nossos pés. Eu poderia te ajudar com isso. Sabe que já fomos de confiança, porque isso mudaria agora?
Karkaroff soltou um som que parecia um resmungo e parou de andar, olhando-a de frente. Ele bem que gostaria de confiar em Samanta, mas agora, estavam em lados opostos.
— Sempre uma excelente dançarina, mas parece que estamos rodopiando em círculos, Lady Xatwin. Talvez seja melhor deixarmos isso para outra ocasião?
Ela retribuiu com um sorriso afiado.
— Você também não está tão enferrujado quanto imaginei. Gostaria apenas de alertá-lo, também em nome de nossa amizade, que um mestre não tolera falhas, muito menos traição. Suas convicções recentes não podem cegá-lo dos fatos.
Igor sabia bem disso. Sabia que tinha um alvo nas costas, que aquele que não deve ser nomeado não descansaria até tê-lo morto por sua traição, mas o lorde das trevas não conhecia o poder de Lakroff Mitrica. Igor sim. Uma parte e mesmo ela era o bastante.
— E visando nossa amizade, eu dou meu próprio alerta. Cuidado, Lady Xatwin. Talvez você esteja dançando diretamente no fogo e brincar com ele pode queimar... especialmente quando há mais de uma chama.
Samanta arregalou os olhos, mas logo se controlou ao olhar em volta e sussurrar:
— Mais de uma chama?
— É tudo que estou disposto a lhe dizer. Realmente, cuidado se está pensando em se colocar entre o fogo.
Ele ia sair, mas a mulher agarrou seu braço e o manteve no lugar.
Sua cabeça corria como uma locomotiva soltando fumaça tentando entender todas as implicações daquilo. Mais de uma chama. Alguém que poderia se igualar ao lorde das trevas?
Dumbledore?
Não. Karkaroff estava insinuando que Snape não estava seguro com ele, então havia uma nova força se erguendo? O que faria alguém interesseiro como Igor acreditar que um novo alguém poderia lhe oferecer proteção e uma aliança tão significativa? Parecia irracional.
Samanta piscou diante de uma ideia. Seria arriscado, mas talvez se estivesse certa...
— Fogo é fogo, Igor. O que importa é quem controla o combustível. E você... parece estar jogando com duas chamas ao mesmo tempo. Isso é perigoso, não acha?
— Eu me protejo bem, não se preocupe. Mas você... sete maridos, sete histórias. Quantas delas terminariam diferente se alguém... investigasse mais a fundo?
— Isso foi uma ameaça?
— É como você interpretou? — ele perguntou com um aceno de mão que dispensava o assunto, mas a ameaça continuava lá. — Talvez suas raízes também não aguentem uma tempestade, Samanta.
— Investigações são tão tediosas, Igor. E tão... inúteis, quando não há provas. Mas falando em histórias, me diga mais sobre seu novo protetor. Lakroff Mitrica, não é? Um nome interessante para um homem tão... misterioso.
— O que te faz acreditar que é a ele que eu me referia?
A bruxa cantarolou, puxando mais o braço de Igor, colocando entre os seios de forma sutil.
— O filho de Gellert Grindelwald. Se há para ter duas chamas, não vejo quem mais poderia ascender a sua esperança de sair impune do que fez.
— Se quer mesmo saber, Samanta, Lakroff é um homem de visão. Algo que certas figuras do passado... parecem ter perdido.
Apesar do que disse, a voz de Igor vacilou. Samanta notou que tinha acertado em cheio, então era mesmo Lakroff Mitrica. Isso explicava o interesse do lorde das trevas no vice-diretor. Talvez seu mestre já soubesse esse tempo todo que aquele homem o estava desafiando ao colocar Karkaroff sobre sua proteção?
Parecia uma jogada horrível de se fazer. Colocar alguém como o lorde Voldemort contra um simples herdeiro de um lorde das trevas. Lakroff Mitrica era um tolo se achava que tinha alguma chance e Igor estava sendo um maior ainda em depositar sua fé nisso.
— Visão é importante, Igor, mas cuidado com miragens. Elas podem desaparecer quando você mais precisa delas.
Novamente eles ficaram em silêncio e Samanta enfim soltou Igor, esperando que ele se afastasse, mas no lugar ele ficou e a encarou por um longo tempo antes de parecer vacilar. Foi muito rápido, um lampejo de fragilidade, um pedido de ajuda de um amigo.
— O quão forte ele está? — ele sussurrou.
E talvez porque já tinha conseguido informações o bastante ela decidiu ser sincera.
— Mais forte do que nunca.
— O quão, Samanta? — ele insistiu, fingindo estar desesperado.
Talvez isso tenha tocado a piedade da mulher, porque ela respondeu:
— Está reunindo alguns com ele, mas por enquanto apenas aqueles que mais confia. Vai acontecer algo grande em breve, é sua chance de fugir, tem que ser antes. Tem que ser agora.
— Um baile?
Ela arregalou os olhos.
— Como você sabe?
— Isso mostra a força das minhas raízes para você? Pode me contar algo sobre o baile?
— Não poderia nem se eu quisesse.
Ele assentiu.
— Está bem então. Sou grato pelos seus conselhos, lady Xatwin.
A bruxa fez uma reverência.
— Espero que os escute, sinceramente. Ou terão sido em vão.
— Não vou deixar que o risco a que se colocou me informando seja inútil.
— Vai fugir, então?
— Quando exatamente eu deveria?
Ela ponderou.
— Ano novo.
— Obrigado. Tenho que ir, Lady Xatwin, continuar minha ronda.
Samanta não insistiu mais. Se curvou e foi até seu mestre relatar o que sabia.
-x-x-x-
-x-x-x-
Eram cerca de dez horas quando Samanta voltou ao salão principal e nem precisou procurar muito, pois Voldemort se aproximava com uma taça de ponche que provavelmente tinha transfigurado no lugar dos copos que os alunos usavam.
Por mais que o baile estivesse adequado, estava nesses padrões para jovens, ponche não era o tipo de coisa que a bruxa se sujeitava a tomar, mas não negaria uma bebida do lorde, por isso tomou nas mãos e deu um gole.
— E então? — ele lhe perguntou.
Sentiu uma magia de silenciamento se erguer a sua volta e, olhando em volta para caso alguém os tivesse notado, começou seu relatório sobre o que tinha acabado de conversar com Karkaroff.
O lorde ficou em silêncio e ouviu com calma todo o relatório, fazendo uma pergunta apenas quando viu que ela tinha terminado:
— E o que você teve que falar para ele te revelar tanta coisa?
Samanta tentou não demonstrar medo, pelo contrário, ela sorriu e agiu com naturalidade:
— Lhe disse que deveria temer seu passado. Fingi que estava do seu lado e que queria seu bem. Disse para que fugisse.
— Como se ele fosse conseguir se esconder de mim.
— Obviamente que não, mas Igor não é um grande Lorde, meu senhor, ele não tem as dificuldades que alguns homens melhores apresentam. Não vou mentir e lhe dizer que não o informei de nada, mas consegui essas informações principalmente por assumir algumas eu mesma e estar falando com um mentiroso ruim.
— O que mais lhe disse?
— Dei a entender que o senhor já tinha me contatando.
— Não me lembro de ter dado autorização para um movimento desses... — ele murmurou olhando para a mulher que quase tremeu, sentiu até mesmo suas costas e mãos suarem, mas ele no fim apenas acenou. — É algo que ele já deveria supor pela marca, não vou dizer que é um movimento ruim.
— Sinto muito por assumir coisas — e se segurou para não se curvar diante dele.
— Eu te tenho do meu lado porque sabe pensar, não vou julgá-la por pensar na melhor alternativa, mas numa próxima tente um pouco mais dando menos. Tudo que você falou também chegará aos ouvidos de quem protege Igor.
— Mas Lakroff Mitrica sequer é um inimigo digno — ela debochou sentindo como se aquilo fosse uma piada, mas logo se calou quando recebeu apenas o silêncio por parte de seu lorde.
O homem.... não, a besta, a criatura imortal que assombrava seus pesadelos agora com uma face de anjo, ele era uma estátua impenetrável, Samanta não poderia dizer o que viu, mas de repente havia um brilho diferente nos olhos dele. Se era raiva, curiosidade, insatisfação, qualquer coisa, ela não sabia.
— Tentei colocar um feitiço de localização em Igor, caso ele realmente tente fugir.
— Improvável. Ele confiará em Mitrica. Seu feitiço logo será descoberto e Igor deixará de confiar em você. Pode desfazê-lo antes que volte ao baile e encontre com Mitrica — olhou envolta para procurar o homem.
Lakroff aparentemente tinha acabado seu turno de ronda, pois estava no salão em um canto com sua filha, ambos conversavam com professores da Durmstrang e uma auror. Tonks.
A mulher antes era irrelevante, não chamava atenção mais do que o fato de ser uma Black que tinha herdado o dom da família, mas Marvolo estava oficialmente curioso agora que ela tinha chamado a atenção dos Mitrica.
Ficaria de olho na Black.
Assim como pretendia ficar de olho em todos daquela família.
— Mais alguma coisa que eu deva saber?
Samanta ficou com medo de como seria a reação a próxima informação e quase se encolheu ao dizer:
— Igor já sabia sobre o baile, meu senhor.
— Interessante.
Aquela resposta calma a pegou completamente de surpresa assim como o que veio em seguida:
— Quero que tente ter uma dança com Alice Mitrica. Acha que consegue?
— Com uma mulher, milorde?
Ele se permitiu apenas um leve levantar de sobrancelha, mas continuava olhando para os Mitrica enquanto respondia:
— Não vai chamar tanta atenção em um baile com tantos casais homoafetivos se é isso que lhe preocupa. Ou dançar com uma mulher e ser vista é um problema para você?
— Na verdade não, mas não sei como será a recepção do meu marido se isso chegar até ele.
Marvolo se virou para a mulher e se perguntou se aquilo era uma tentativa de humor de Samanta.
Se fosse, não era bem vinda.
— O que devo conseguir dela, milorde? — ela questionou de prontidão, provavelmente sentindo o humor de seu senhor.
— Um posicionamento.
— Um posicionamento, milorde?
— Você já está a par de quem é Alice Mitrica? Theomore, Barty ou Lucius lhe disseram?
— Tenho um conhecimento vago, meu senhor.
— Tente descobrir de que lado da guerra ela estaria se isso se estendesse para outros territórios além da Grã-Bretanha. Mas obviamente seja o mais discreta que conseguir. Acha que consegue?
— Posso tentar, milorde.
Samanta deixou a taça em uma das mesas atrás deles e foi até seu objetivo um tanto receosa. Não era tão boa tirando o que queria de outras mulheres como fazia com homens e sua aproximação foi notada rapidamente.
As pessoas estavam rindo de algo em sua conversa e olharam em sua direção com sorrisos ainda nos rostos, ao que ela retribuiu e fez uma leve reverência.
— Olá novamente a todos —já tinha falado com a maioria ali durante o jantar, exceto, claro, a renegada dos Black.
Bem... com Sirius Black como lorde, ela provavelmente não era mais renegada. Ficou na dúvida se deveria ir contra as normas adequadas e se apresentar porque não sabia se qualquer um ali saberia os modos corretos, mas Lakroff Mitrica tomou a inciativa.
— Fräulein Tonks, essa é Frau Xatwin — ele transitou entre o alemão sem se importar com o sotaque que isso acrescentou a suas palavras quando normalmente mal tinha um.
Samanta acenou uma segunda vez, agora para a auror.
— É um prazer — não era, mas provavelmente não era para a outra que também fez o mesmo aceno e repetiu as palavras.
Samanta, então, enfim se virou para a Alice e se curvou:
— Lady Mitrica, se não for pedir demais adoraria o prazer de uma dança com a senhorita.
Ela se sentia completamente fora de seu ambiente, ela não tinha o costume de pedir uma dança, apenas ser solicitada. Estava apenas supondo os modos corretos quando Alice se virou para o pai que tinha a tira colo e perguntou:
— Posso?
Lakroff Mitrica, para descontentamento de Samanta, lhe deu um longo olhar avaliativo, mas depois simplesmente mudou para algo à suas costas e de alguma forma ela soube. Soube que ele estava olhando para o lorde das trevas.
O homem entendeu que aquilo era uma ordem?
Ou só estava se perguntando de porquê Samanta estava dispensando um de seus dois pares na noite para dançar com sua filha?
Seja o que fosse, sua avaliação foi interrompida por uma aparição que veio do outro lado do salão.
— Professor Mitrica, me daria a honra de uma dança?
A expressão do vice-diretor e, na verdade, de praticamente todos ali, foi de completa surpresa e descontentamento. Uma reação espontânea e imediata ao ponto que um dos professores chegou a soltar algumas palavras em outra língua que Samanta reconheceu imediatamente como português, mas não sabia exatamente o conteúdo porque tinha um sotaque bem diferente de Portugal.
Albus Dumbledore tinha feito o pedido.
-x-x-x-
-x-x-x-
Albus tinha que conseguir uma amostra do DNA de Lakroff Mitrica.
Um tempo considerável de dois meses para isso, mas não era tolo de acreditar que teria muitas oportunidades e o baile parecia uma para não se desperdiçar.
Ele fez questão de conseguir um dos seus turnos livres junto do Grindelwald e estava pronto para agir quando se aproximavam das dez.
Esperou no salão de baile observando até encontrar Lakroff entrar por uma das portas que levava ao pátio e seguir até onde estava sua filha. Ele a levou junto de sua acompanhante até um uma das paredes do salão principal onde se juntavam as várias mesas e começaram a conversar.
Dumbledore ainda estava impressionado e devidamente curioso com a tal filha do homem, pensou até mesmo em se aproximar dela, mas seria completamente estranho e ele não poderia parecer diferente naquela noite. Tinha de agir o mais naturalmente possível para pegar um provável vidente de surpresa.
O que tinha em mente era muito pequeno para que Grindelwald tivesse uma visão sobre, ao menos era o que esperava e, por isso, estava confiante quando recebeu o sinal de que estava tudo pronto para o plano começar e então se aproximou de Lakroff.
— Professor Mitrica, me daria a honra de uma dança? — perguntou chamando a atenção de todos.
Leandro Spinosa provavelmente tinha xingado. Dumbledore não conhecia português o suficiente, mas sabia de entonação e aquilo parecia um insulto.
Ele não precisou ser direto, entretanto, pois a filha de Lakroff o fez.
— Você está brincando, não é? Depois do que você fez com meu pai?
— Eu acredito justamente que deveria me desculpar por isso — disse em seu conhecido tom de gentileza e sabedoria.
Alice detestou aquele tom.
— Então peça desculpas e vá pastar no inferno.
— Alice — Lakroff chamou, mas não parecia uma repreensão, apenas um toque.
— O que foi? Eu não gosto nada desse aí. Não permito, xô! — e balançou as mãos como se espantasse Albus.
Bem, ele esperava encontrar resistência, mas não aquela garota.
Teve alguma esperança, entretanto, quando Lakroff se virou para ela com um sorriso e a cabeça levemente inclinada.
— Não sabia que as novas regras de comportamento implicam que preciso da autorização da minha filha — Dumbledore sorriu diante daquelas palavras. — Mas se ela diz, acho que terei de declinar — o sorriso do outro morreu enquanto Lakroff sorria ainda mais, agora para o diretor. — Sinto muito professor, mas eu dispenso a experiência de ser lembrado novamente de coisas inconvenientes sobre o passado dessa família.
— Eu jamais causaria tal inconveniente de novo, quero apenas uma conversa, se me permite. Não precisa ser uma dança, mas acredito que seja melhor não terminarmos nas circunstâncias que estivemos a sós da última vez.
— Quando você criou boatos sobre Lakroff que chegaram nos jornais? — perguntou o professor Spinosa.
— Eu nunca quis que essas coisas fossem tão longe, chamei o professor Mitrica em particular, como isso chegou ao profeta é realmente um mistério.
— Mais uma prova da falta de proteção dessa escola — disse em inglês, mas acrescentou em português — vagabunda.
Demian Yiakin puxou o braço do marido para censurá-lo, mas Leandro apenas revirou os olhos nem um pouco arrependido.
— Me dê uma oportunidade e garanto que se lhe causar um inconveniente não pretenderei pedir-lhe nada mais enquanto estiver em Hogwarts — Dumbledore insistiu e fez uma reverência, esperando pela resposta de Lakroff.
O Lorde Mitrica levantou uma sobrancelha e mordeu o interior da própria boca aparentemente pensando e era tudo que Albus precisava, que ele considerasse.
— Papai — chamou sua filha.
Mas, para sorte de Albus, Lakroff aparentemente tinha tomado uma decisão:
— Vá dançar com Lady Xatwin, eu e Dumbledore estaremos logo ao lado.
A mulher não pareceu satisfeita com a afirmativa do pai e olhou de forma mortal para Albus antes de se virar para Ninphadora Tonks.
— Não suma, ainda quero aproveitar mais sua companhia essa noite, enquanto for possível, de preferência — mostrou sua mão.
Tonks ofereceu a sua quase de forma mecânica e foi surpreendida por um beijo nas costas e um sorriso galante que não esperou receber de outra mulher, mas que mexeu com ela de forma estranha.
Alice logo depois se virou para Samanta e lhe ofereceu o braço e a lady Xatwin segurou qualquer comentário ou pensamento sobre como aquilo fugia a norma correta em um baile já que foi ela que fez o pedido e, portanto, deveria ser quem guiava até o salão. Não se sentia completamente confiante em guiar outra mulher, coisa que nunca fez, mas isso lhe dava mais controle da situação.
Obviamente não seria fácil ter o controle de Alice Mitrica.
Albus, por sua vez, ofereceu a própria palma e foi recebido pelas mãos enluvadas de Lakroff.
Uma pena, pois uma parte interna dele queria descobrir no que mais aquele homem era igual a Gellert. Se suas mãos teriam o mesmo formato.
O mesmo calor.
Ele não conseguia descobrir com elas encobertas, mas Albus não precisava de mais provas superficiais de que aquele homem era Gellert Grindelwald, não um filho. Eles estavam ainda mais parecidos agora.
Lakroff Mitrica tinha deixado os cabelos crescerem. Para pessoas que só viram Gellert quando começou a estampar os jornais com seus cabelos platinados e curtos, ver aquele que se chamava de Mitrica com cabelos loiro dourados (apenas pontas tão claras que ficavam esbranquiçadas em comparação) compridos até atingirem os ombros, não veria mais tanta semelhança entre pai e filho.
Mas Albus conheceu Gellert quando ele tinha exatamente os mesmos cabelos compridos.
Lakroff tinha apenas uma trança e um olho azul para diferenciá-lo da imagem ainda vivida do único amor da vida de Albus e de seu maior arrependimento.
Era a cópia perfeita.
A mesma pessoa.
A mesma magia, os mesmos formatos bem desenhados, a mesma altura.
"Como você achou que me enganaria quando não está nem disfarçando?" pensou Dumbledore enquanto o guiava até o centro do salão e esperava a próxima música começar.
Ambos se curvaram um para o outro, deram as mãos e começaram.
Era quase irônico, mas Albus não sabia guiar um homem em uma dança. Muitos anos atrás ele já dançara com Gellert, mas quem guiou foi o outro e Lakroff devia saber, porque em pouco tempo de falta de jeito de Albus, o mais novo tomou a dianteira e o controle da dança para si.
Uma conversa, uma dança, tudo se tratava de quem tinha o controle da situação. No fim as duas coisas eram muito parecidas e Dumbledore queria perder o controle.
Ou fazer o outro acreditar que o tinha feito.
Um, dois, três. Um, dois, três. As esquisitonas continuavam alternando entre músicas mais agitadas e danças lentas. Aquela era uma valsa, três passos, por vez e Albus esperou um pouco enquanto observava o parceiro de perto.
Aquela provavelmente era a maior oportunidade que já teve de olhar Lakroff Mitrica com tanta liberdade e proximidade, o que só confirmava suas suspeitas.
Ninguém podia ser tão parecido com um pai.
— Não ia falar comigo ou algo assim? — perguntou, com a mesma voz, apesar de um tom diferente de Gellert.
Esse não se assemelhava a nada como Grindelwald já se dirigiu a Albus, mesmo nos piores momentos. Parecia tratar Dumbledore como uma barata e tinha uma frieza mortal.
— Professor Mitrica — ele aceitou que estava sendo guiado e colocou a mão no ombro do homem. — Eu sinto muitíssimo por como lhe incomodei da última vez.
Lakroff levantou uma sobrancelha.
— Já lhe disseram que o senhor é um mal mentiroso?
— Por que acha que é mentira?
— Você no máximo se arrepende de como isso prejudicou sua imagem com outros professores, inclusive de sua escola, é por isso que está me convidando para uma dança, você quer mostrar a eles que é um homem correto e sabe reconhecer seus erros. Quer que pensem que estamos em bons termos. Está me usando para que te perdoem, estou enganado?
— Sou tão óbvio?
— Não. Porque você quer alguma outra coisa também, só não descobri ainda.
— Quero entrar em um acordo com você.
— Que tipo de acordo?
— Isso depende mais de você do que de mim. O que quer para fingir que não está mais incomodado com o que fiz? Fingirmos, enquanto estiver em Hogwarts, que estamos em bons termos. Meus professores nem os seus acreditarão em uma simples dança.
— E você vai fazer o que eu pedir?
— Desde que seja um pedido racional.
Albus esperou pacientemente Lakroff avaliá-lo com seus olhos absurdamente azuis por um tempo enquanto o fazia rodopiar a sua volta, a música já devia estar na metade quando enfim ouviu algo e foi uma pergunta:
— Você já ouviu falar que um Grindelwald sempre sabe? Por acaso meu pai teria lhe dito isso?
— Ele já mencionou sim.
Lakroff negou com a cabeça.
— Seus olhos dizem tudo.
— Como?
— Você é fácil de ler, Albus Dumbledore. Você ainda acha que eu estou mentindo quando chamo Gellert de pai. Como quer que eu finja quando sei que você estará me vigiando com essa ideia escabrosa?
Albus sorriu de forma condescendente. Ninguém nunca disse que ele era fácil de entender. Muito pelo contrário, as pessoas tendiam a dizer que ele era misterioso até demais.
Exceto Gellert.
Ou Aberforth, que o conhecia muito bem.
— Não precisa se preocupar com minha vigília se está dizendo a verdade, eu não descobrirei nada, não é?
— Quer então que eu finja não me incomodar sabendo o que você estará fazendo, o esforço que terá para me manter sempre sob seus olhos?
— Por que seria um incômodo se não há nada a esconder?
Lakroff bufou:
— O fato de você não imaginar o que incomodaria nisso mostra muito sobre você.
— Não há nada que queira e que eu possa fazer para diminuir esse incômodo?
— Tem duas coisas. Se fizer as duas eu ignoro que está me vendo como um lorde das trevas por aí.
— O que seria?
— A primeira coisa é que não mande seu espião invadir meu quarto nunca mais, se quer uma prova de que não sou Gellert eu mesmo lhe dou, basta pedir.
Dumbledore mordeu o interior da boca.
Nem mesmo Severus Snape tinha sido habilidoso o bastante para invadir sem ser percebido, mas aquilo mostrava uma quantidade de magia absurda de vigília em um simples quarto.
Apenas outra prova.
Para que nem Snape conseguisse desviar de todas as proteções, o homem teria que ser um dos melhores, melhor até do que Albus seria capaz.
Ele só conhecia dois que poderiam chegar tão longe.
— O que ele está procurando lá? Seja sincero.
— Essa é a segunda coisa?
— Não, mas é a condição para eu lhe dar uma prova concreta, seja lá qual quiser.
— Seu DNA. Uma amostra de DNA.
— Testes de DNA são compatíveis entre pai e filho. Apenas vai confirmar que temos vínculos familiares.
Albus não conhecia o suficiente de meios trouxas para ter essa informação, mas não o surpreendia aquele homem ter.
Era uma mentira, como quase tudo que Lakroff dizia.
Se ele fosse Gellert, os trouxas tinham tecnologia o bastante para provar isso ou, no mínimo, dizer que eles eram irmãos gêmeos monozigotos, mas Lakroff queria que Albus descobrisse a mentira. Isso o levaria a desconfiar ainda mais e ele poderia perder seu tempo com um teste trouxa que ajudaria com sua mentira.
Ele já tinha feito um desses testes.
Sabia que tipo de resultado daria.
Entretanto, Albus negou com a cabeça.
— Não farei um teste trouxa.
— O que fará, então?
Dumbledore pensou sobre aquilo. Não queria contar a Lakroff porque o deixaria alerta, mas a este ponto, ele já deveria estar. Mentir não o levaria a lugar algum e suas suspeitas ainda se confirmaram com a próxima frase de Lakroff:
— Já pegou uma amostra de Gellert quando invadiu Nurmengard a duas semanas atrás?
O diretor apenas suspirou.
— É inútil desmentir isso?
— Tanto quanto eu dizer que não sou meu pai para você. Já tem o que precisa dele ou não?
— Já.
A música desacelerou se aproximando do seu fim, Lakroff parou de dançar, mas puxou a mão de Dumbledore até sua boca.
— Então tome — e cuspiu. Uma bela cuspida vinda do fundo da garganta cheia de saliva. — Faça o que quiser com isso — acrescentou com um sorriso soltando a mão alheia.
Dumbledore apenas sorriu e lançou um feitiço para guardar o material genético no frasco que estava com ele. Não precisava mais do fio de cabelo que pegou da roupa enquanto dançavam.
Por fim, antes que ficasse ainda mais estranho eles ali parados, Albus foi direto.
— Qual era a segunda condição?
Lakroff limpava a boca com um lenço que guardava no bolso do paletó.
— Quero conversar com seu irmão e quero que ele jure que não vai te contar o assunto dessa conversa.
-x-x-x-
Sirius estava deprimido, mas não podia nem mesmo ir reclamar com Lakroff, que era sua primeira opção, porque o homem estava dançando com a filha no salão de baile e seria estranho Sirius interrompê-los. Afinal, o que ele poderia querer dançando com o vice-diretor da Durmstrang?
Ele estava pensando em desculpas quando enfim achou uma: Remus.
Ele pode estar indo perguntar sobre Remus. Como vai o desempenho dele na escola? Mas Sirius teve que negar com a cabeça. Não. Não serviria. Outros professores como Leandro estavam mais presentes na Durmstrang recentemente e poderiam dar uma opinião mais adequada.
O Black tinha que achar algo melhor para poder chorar sua indignação de que seu noivo realmente o tinha deixado para fazer um maldito ritual de sabe se lá o que, e agora estava sozinho no salão de baile.
Certo, eles estavam decaindo um pouco mais para as trevas recentemente, mas perder uma noitada com o noivo por causa delas não estava em seus planos.
Ao menos Remus teve a decência de procurá-lo e se despedir, mas Sirius achava que aquilo era o mínimo. Ele notou que seu noivo parecia bem estressado por algum motivo e não conseguia imaginar o que era. Estava tão azedo que Sirius deu autorização para ele ir, mesmo que provavelmente fosse com ou sem ela.
Agora a música tocava e Sirius decididamente queria se divertir, mas não sabia como agora que tinha perdido seu noivo.
E ele estava tão bonito nas suas vestes! Que desperdício! Remus tinha vindo combinando e tudo.
Foi reclamando internamento de seu lobisomem, que ooutro apareceu ao seu lado, quase o assustando.
— Você está com uma cara de cu — disse Leandro.
— Bem que me avisaram que você fala muito sobre bundas.
— É uma boa palavra, melhor ainda em português. Soa bem na boca. Cu — disse em sua língua materna, como se apreciando aquela única sílaba. — Remus disse que você ficaria assim. Ele teve que sair por causa do ritual, não é?
— Sim.
— Bebe um pouco cara — disse oferecendo do seu próprio copo. — Ou vai dançar. Não fica aqui no canto.
Sirius olhou para o copo que lhe foi estendido depois encarou Leandro com uma sobrancelha levantada.
— Eu tenho cara de idiota para cair em uma dessas?
— Cara de idiota você tem, mas não está batizado — e para provar, ele mesmo deu um gole. — Bem, mais ou menos, tem cachaça brasileira aqui. O gosto é forte, não sei nem se você aguenta, vamos, tente experimentar.
— Dá mais um gole para eu ver um negócio.
Leandro riu e tomou quase metade do copo em uma golada ainda abrindo a boca em um sonoro "ah" de contentamento mostrando que tinha engolido todo o líquido.
— Você vai ter minha vingança, Black, mas estamos no meio de um baile. Lakroff comeria minhas tripas com alho e cebola se eu fizesse alguma coisa no meio de todos os alunos. Mal exemplo ou algo assim. Falando nisso, você não acha que o Lakroff é a pessoa mais provável a cometer canibalismo antes de morrer?
— O que? — perguntou Sirius em choque.
— Eu acho e olha que eu não bato bem das ideias, principalmente na lua cheia, mas ouvi falar que carne humana é podre e não quero testar os efeitos no meu estômago. Sem contar que vão me prender com certeza.
— E o Mitrica não?
— Ele também é o mais provável de cometer um crime e sair impune. Quem é aquele cara? — perguntou apontando para fora do salão.
Sirius teve que procurar um pouco para ter certeza de quem o lobisomem falava, até que identificou Severus Snape entrando no salão e passando pelas mesas nas bordas para ir para o lado do pátio.
— Esse cara deixou Remus fulo da vida.
— O que é fulo?
— Irritado, furioso, soltando fumaça pela boca tal qual um dragão pronto para queimar o gás com suas faíscas e queimar tudo à sua frente.
— Mesmo, é?
— Sim. Eles dançaram juntos, daí vi Remus inquieto o resto da noite. Eu podia sentir o cheiro dele no salão de tanta raiva e olha que isso aqui está fedendo a hormônios adolescentes. Mas enfim, vou ao banheiro. Segura isso e não batiza ou eu posso mudar de ideia sobre comer alguém e te enrabo, em todos os sentidos, você não me testa.
— O que é enrabo?
— Descobre sozinho — e deixou o copo na mão do Sirius. — Lakroff e os aurores não podem saber que estou bebendo cachaça, vê se cuida desse copo que tá difícil contrabandear bebida aqui dentro.
Ele saiu e Sirius ficou observando o copo com desconfiança.
Leandro tinha bebido...
Mas ele podia estar indo tomar um antídoto, não indo ao banheiro. Apesar de parecer muito paranoico da sua parte. Mesmo assim decidiu deixar o copo quieto e estava balançando de um lado para o outro entediado enquanto esperava Leandro voltar, até que seus olhos bateram em Severus e aquela nova informação imediatamente o fez sair do salão.
Foi até o pátio onde o homem estava gritando com alguns alunos e se aproximou sem saber exatamente o que queria falar. Por algum motivo, mostrou-lhe o copo.
— Você tem um feitiço para saber se aqui tem alguma poção?
A expressão de Severus foi absurdamente raivosa, como se a presença de Sirius Black naquele momento fosse a última coisa que quisesse na vida, mas algo o segurou de apenas sair dali ou dizer algo indelicado, Sirius viu como ele pensou e se conteve muito antes de levantar a varinha e murmurar algumas palavras para o copo.
— Tem algum veneno muito fraco.
— Veneno?! — Sirius se surpreendeu.
— Pode ser apenas bebida alcóolica, isso também é um tipo de veneno. Por que quer saber?
— O professor Spinosa me deu isso.
— E qual o problema?
— Eu posso estar na mira dele. Tem como saber se é veneno ou bebida alcóolica?
— Bebe, se você passar mal a gente sabe que é veneno.
Sirius cruzou os braços e levantou uma sobrancelha.
— Brilhante, professor. Agora o que foi? Está bravo porque não gosta de ver pessoas se divertindo?
Snape quis dar uma resposta atravessada, mas se lembrou rápido que precisava de Sirius Black se queria ficar de olho em Harry Potter e já tinha um problema em mãos, Lupin, não precisava de outro.
Mas Sirius notou a pequena hesitação.
Ele tentou pensar em como chegar no assunto que queria, mas nunca foi o estrategista dos Black, ele era um grifinório direto, por isso achou melhor suspirar e ir direto ao ponto.
— Soube que dançou com Remus.
— Estou ocupado, Black, se não tiver nada realmente importante eu vou...
Ele estava tentando fugir, Sirius queria respostas, por isso agarrou a mão de Snape e apontou para o salão.
— Uma dança e te deixo em paz.
— Como é? Eu não quero dançar com você.
— Vamos lá, nós dois queríamos nos ajudar ou algo assim, não é mesmo?
— Como uma dança se relaciona com isso?
— Você quer que Harrison não te odeie para que você possa ajudar. Nós dois sabemos que você não quer me usar de intermediário para sempre. Bem, o primeiro passo é mostrar a ele que temos uma boa relação. Se ele se importa com minha opinião, isso dará a mensagem.
— Uma dança? Você pode simplesmente falar.
— Nunca ouviu dizer que uma imagem vale mais que mil palavras?
Snape não queria, além de que sabia que assunto Black tentaria estabelecer entre eles, mas se sua situação estava difícil, ele tinha que resolver o quanto antes e fazer o que Sirius queria era uma opção rápida.
— Uma dança apenas e eu guio.
Sirius não segurou a risada sincera que escapou por seus lábios com aquela afirmação, mas acenou com a cabeça e indicou o salão.
— Tudo bem, se souber como guiar um homem.
— Eu aprendo — resmungou.
Sirius deixou o copo de Leandro em uma mureta e puxou Severus para dentro do salão.
As reações dos alunos vieram de imediato, mesmo que já tivessem visto Snape na pista com Remus Lupin, vê-lo repetir a dose, agora com Sirius Black pegou a maioria completamente desprevenido.
Eles apontavam e abriam espaço no salão aos sussurros enquanto Sirius e Snape se aproximavam do centro.
A banda atacou as primeiras notas, um compasso acelerado que exigia precisão. O salão se moveu em uníssono, casais girando em padrões meticulosamente ensaiados. Mas entre eles, sua dança era diferente.
Snape tinha apenas a noção de como guiar Sirius e o Black, travesso como era, sorria enquanto era guiado. O sonserino avançava, enquanto o grifinório recuava, como espadachins testando a guarda um do outro. O ritmo era rápido demais para hesitação, forçando-os a confiar nos instintos enquanto mediam forças através dos movimentos.
— E então? — começou Sirius, olhando para o rosto de Severus como que desafiando a si mesmo a não encarar seus pés. Confiando nem que por um momento que o outro saberia o que fazer se ele cedesse. Mas, para se entregar por completo, ele queria que Snape lhe oferecesse outra coisa no lugar. — Como foi com Remus?
— Por que pergunta a mim e não a seu parceiro? Tenho certeza de que ele terá uma versão interessante dos fatos.
Snape guiou o outro em um giro, os dedos apertando sua mão por um segundo a mais do que o necessário. Uma pressão calculada que dizia 'estou no controle', mas Sirius não aceitou quieto. Quando o professor de poções tentou conduzi-lo para um novo passo, o animago resistiu desacelerando propositalmente, um atraso sutil o bastante para irritá-lo sem que ninguém notasse.
— Não seja impertinente — ralhou Severus.
— Me diga o que quero saber.
— Eu fiz o que você pediu. Ofereci minhas desculpas a Lupin.
— Então por quê me disseram que ele saiu bravo dessa conversa?
— Seu noivo não aceitou muito bem meu pedido — respondeu com relutância.
— Mesmo?
— Mas espero que entenda que fiz minha parte e não me responsabilize pelos sentimentalismos dele. Isso está fora do meu alcance.
Sirius revirou os olhos.
— Foi com essa atitude que tentou conversar com ele?
— Minha atitude foi adequada, a dele por outro lado...
Sirius empurrou mais contra Severus e o homem apertou a cintura do Black com força para tentar controlá-lo.
— Eu disse que minha condição era guiar.
— Quando queremos alguma coisa temos que aprender a controlar a atitude, não é mesmo?
— Está me dando uma lição de moral, Black?
— O que você falou que deixou Remus tão irritado?
— Aparentemente não me desculpei pelo que ele queria.
— E o que seria?
— Ter lhe roubado a oportunidade de ensinar os alunos sobre um assunto que ele acredita ser mais adequado do que eu.
— Então era só pedir desculpas por isso também.
— Eu concordei em me desculpar por apenas uma coisa.
Sirius arqueou a sobrancelha, desafiador e impenetrável, enquanto rodava pelo salão, não tirando os olhos de seu parceiro de dança nem por um segundo.
Snape estava irritado demais, seus movimentos eram bruscos, mas o Black conseguia acompanhá-los, como se estivesse sendo desafiado a conseguir e ele não perderia assim tão fácil.
Os acordes soavam, Sirius sabia que tinha que fazer um movimento. Ele precisava de Snape para conquistar a confiança de Dumbledore.
— Bem, não há muito o que se fazer se Remus não quer seu perdão, mas você sequer entende por que ele não aceitou?
— Como isso poderia interessar?
— Se quer se aproximar de Harrison, terá que no mínimo entender o que ele acredita e até onde me consta, meu afilhado é tão simpatizante à causa dos lobisomens quanto possível. Seu orgulho não permitiu pedir desculpas a Remus pelas aulas?
— Ele não queria ouvir minhas desculpas, desde o começo não esteve aberto a me perdoar.
— Você estava agindo como alguém digno de perdão?
— E o que é que você sabe sobre isso, Black?
— Bem... — ele se afastou.
Severus o guiava com elegância para um giro, como se estivesse se adaptando ao que tinha de fazer. Realmente mostrando que aprendia rápido, mas havia algo na rigidez de seus dedos sobre sua cintura, na maneira como seus olhos afiados pareciam querer sufocá-lo. Sirius sorriu, não porque queria, mas porque estavam em um salão sob os olhos de seus alunos.
Os olhos de Dumbledore.
— Você disse que me perdoava, não? Se eu consegui seu perdão você há de conseguir o de Remus.
— Essa sua condição para aceitar algo como uma ajuda minha não está indo longe demais?
— Eu quero entender até onde posso confiar em você, Severus Snape. Com nosso histórico não pode me julgar.
— Posso demonstrar que sou de confiança de outras formas.
— Entretanto, mesmo que me convença, também terá que convencer o Harry. Quer uma dica? Aprenda mais sobre lobisomens.
— Eu sei muito sobre eles.
— Não o bastante, aparentemente, pelo menos de acordo com Remus.
— Ele me disse que os livros não são confiáveis. Aprendo por onde então? Devo entrevistá-lo?
— Quanto deboche para algo que é verdade. Nada melhor do que um lobisomem para te ensinar sobre sua causa.
Severus soltou um suspiro irritado.
— É a única forma que tenho de convencê-lo?
— Ah, sim, você precisa aprender mais sobre lobisomens e defender a causa se me quer do seu lado bom, mas não é a única forma. Eu vou ouvir o que você tem a dizer. Sobre Harrison, quero dizer. Mas não prometo fazer, ainda mais se não mostrar o mesmo esforço tentando olhar o meu ponto, morcego ranzinza.
— Cachorro sarnento.
— Não diga isso, Severus, os alunos estão ouvindo — murmurou, o sorriso sempre no rosto.
Eles rodopiaram por mais alguns acordes antes da música acabar e estavam ambos ofegantes quando pararam, mas nenhum quis demonstrar isso ao outro e continuaram mantendo forçadamente a respiração ritmada enquanto se cumprimentavam educadamente.
Sirius ia se afastar, mas Snape o puxou pela mão e logo outra dança começou fazendo-os voltar a se mover.
— Tem mais algo a dizer, Severus?
— Só quero garantir que você me escute. E que me leve a sério.
Sirius ergueu uma sobrancelha, divertido, enquanto Snape o guiava com movimentos mais precisos agora, a resistência entre os dois se transformando em um equilíbrio tênue.
— Eu sempre escuto, Snape. Só não prometo concordar.
O salão já havia voltado ao burburinho normal, mas ainda havia olhares sobre eles. Se Dumbledore observava, Snape não saberia dizer, mas não duvidava.
— Você está me pedindo que compreenda a mente de um lobisomem, Sirius, mas será que você ao menos se esforçou para entender a minha?
O animago estreitou os olhos, uma sobrancelha arqueada.
— Sabe, eu poderia dizer que não dou a mínima, mas... — Ele o puxou para um giro inesperado, que Snape brigou para acompanhar. Seus lábios se apertaram, uma sombra passando por seu olhar antes de se dissipar sob um sorriso ligeiramente forçado. — Eu entendi algo hoje. Você não tem tanto controle quanto gosta de fingir.
Snape crispou os lábios, mantendo o aperto sobre a cintura de Sirius, o suficiente para parecer um aviso. Mas Black riu baixo, provocador.
— Você quer ter razão mais do que quer ter sucesso. E esse é o seu problema, professor.
— Engraçado, vindo de alguém que nunca planeja além do próximo impulso.
— Nem todos podem ser meticulosos e chatos como você.
— Nem todos podem ser imprudentes e estúpidos como você.
Sirius sorriu, mas dessa vez havia algo levemente sombrio em seus olhos.
— O que vai ser então? Vamos continuar nos insultando até que um de nós tropece ou vamos aceitar que somos a melhor chance um do outro?
— Melhor chance você diz?
— Você mesmo falou, sou impulsivo, eu não sei ler Harrison. Ele é completamente imprevisível para mim e preciso entendê-lo para conseguir guia-lo e você precisa de mim para fazer isso por você, agora que ele te odeia.
Snape suspirou, desviando o olhar por um segundo — mas apenas um segundo — antes de guiar Sirius a um movimento final. O som do último acorde preencheu o salão e ambos ficaram parados, sem que ninguém mais ousasse interromper o momento que durou até a próxima música.
— Eu detesto isso — murmurou Snape, soltando Sirius finalmente.
— Detesta o quê? — perguntou o Black, ajeitando as vestes.
— Ter que precisar de você.
Sirius inclinou a cabeça, como se saboreasse a confissão.
— Sentimento mútuo, morcegão.
Eles se encararam por um longo segundo, um acordo silencioso selado entre o ranger de dentes e a relutância. Quando Snape virou-se para sair, Sirius o chamou uma última vez:
— Até a próxima dança.
Snape nem precisou olhar para responder.
— Vamos ver se você consegue acompanhar.
Sirius seguiu até o canto em que ele estava antes, pensando sobre o que tinha acabado de acontecer, ainda sentindo o toque gélido de Severus na sua mão, quando Leandro o puxou tão rápido que quase deu um grito de susto.
— Cadê minha cachaça?
Black arregalou os olhos e correu na direção da mureta, mas antes de sair do salão já conseguia ver que a bebida não estava mais lá. Leandro parecia disposto a bater em Sirius e, com o seu tamanho e olhos brilhantes de lobisomem, aquilo assustou um pouco o lorde que se ofereceu para conseguir um novo copo.
Leandro o puxou para tentar se esconder um pouco, enquanto tirava uma pequena garrafa das vestes e dava para Sirius.
— Coloca isso num copo para mim e vê se some com a garrafa depois.
Sirius fez o que foi pedido, mas tomou um gole dessa vez.
Grande erro, mas Leandro realmente não imaginou que aquilo haveria de funcionar.
Por sorte, Lakroff estava muito distraído agora que estava sendo chamado para o palco.
O lobisomem poderia começar sua vingança.
Olá! Gostaram? Semana que vem tem o capítulo dos Grinddle então é isso, lamento se sentiram muito a falta deles aqui, apesar do Lakroff ter tido uma participação muito especial.
IMPORTANTE: Meu livro vai entrar em promoção gratuito para todos (até quem não tem Kindle Unlimited, todo mundo mesmo) dos dias 12 à 16 desse mês. Então quem ainda não leu porque está sem dinheiro é a hoora de aproveitar e quem quiser me ajudar, é a hora de recomendar para deus e o mundo o livro que vai estar de graça. Espero que aproveitem a oportunidade para me ajudar a divulgar bastante!
É isso, espero que tenham gostado e até semana que vem.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro