Capítulo 7 - Um pouco de música e amor jovem
Olá todos! Como estão?
Perguntas rápidas: deram uma chance para ler meu livro? Me seguem no instagram também ou só no tiktok (curiosidade aleatória)?
Sobre a fic, esse capítulo vai ser pequeno porque eu decidi dividir em parte um e dois, a parte dois, portanto, está quase pronta e vocês terão 3 capítulos de baile de inverno. Esse focaremos nos nossos protagonistas mais jovens, o próximo nos adultos e o último será apenas Grinddle. Sim, eu tenho coisa o suficiente desse casal para fazer um capítulo completo, vocês que lutem.
Espero que gostem, boa leitura e sigam para as notas finais para ver as imagens que usei de inspiração para a roupa de alguns personagens.
No capítulo anterior de Quem será seu herói?...
— Boa noite, crianças. Viram Harrison?
Ivan apontou para onde colegas de escola ainda chegavam.
Naquele momento eles o viram. Usava uma camisa preta e luvas pretas, calça e uma capa branca com o interior e uma boa camada de tecido em verde musgo, haviam padrões de losangos de ouro por cima de todo verde, na gola e mangas da camisa, além de vários acessórios, como as abotoaduras que George lhe dera, as correntes que seguravam a capa no lugar, o broche de lapela também dado por George, brincos de uma argola grossa que abraçava a orelha inteira deixando-a dourada e, por fim, uma corrente que prendia os óculos de aro preto atrás da cabeça.
Havia alguma coisa em seu cabelo, todos perceberam apesar de não saber exatamente o que, mas que fazia pontinhos de luz brilharem conforme ele se mexia que mais pareciam estrelas no céu noturno.
Estava lindo, constatou Neville e George talvez também concordasse, uma vez que estava de olhos arregalados encarando com um sorriso distraído e vidrado o garoto.
— É tão injusto que ele seja tão bonito e tão bom em tantas coisas ao mesmo tempo – murmurou Parvati e talvez não fosse a intenção que todos ouvissem, mas isso gerou risinhos das outras meninas.
E uma boa risada de Ivan, que se aproximou de George e lhe deu um tapa forte nas costas antes de dizer com firmeza:
— Cuide dele.
George acenou vagamente antes de seguir até onde o menino estava e, após uma reverência, o puxar em direção de onde Minerva havia chamado.
[...]
— Eu devo me curvar? – perguntou George ao se aproximar com um sorriso para Harrison.
Que era oficialmente o garoto mais bonito daquela noite.
Com o sorriso mais bonito, constatou quando Hazz lhe sorriu.
George pretendia tirar vários daqueles do menino até o fim da noite, queria deixa-lo com as bochechas doloridas se pudesse.
— Quem fez o convite que toma a iniciativa e guia – o Haus Feuer explicou as tradições.
George se curvou imediatamente e pediu a mão de Harrison, beijando as costas antes de lhe oferecer um braço.
Harrison colocou o seu por cima do dele e sorriu aguardando que George o guiasse.
[...]
Quando entraram no salão, George notou algumas coisas. Como o sorriso de Hermione mal contido, os olhares na sua direção de deboche e que Harrison ficou tenso. Alguma coisa o incomodou apesar de manter o sorriso intacto, por isso o grifinório até tentou fazer uma piada sobre como o fogo na sala de Dumbledore foi bom, incentivando-o a comprar vestes descentes para a noite ao invés de um de seus pijamas.
Harry realmente riu disso e deve ter ficado lindo rindo para uma foto, esperava que os jornais pegassem justo essa, o melhor ângulo de Harrison era o momento exato em que brilhava em uma risada, mas George sabia que havia algo que o atormentou de algum modo. O deixou atento.
Eles sentaram-se na mesa e Percy por algum motivo estava lá, mas tratou como se nunca tivesse visto George exceto por um breve olhar que já dizia tudo.
[...]
A mesa dos campeões era como a dos demais. Ludo Bagman, esta noite de vestes roxo-berrante, com grandes estrelas amarelas, batia palmas com tanto entusiasmo quanto qualquer estudante e não acompanhava ninguém; a mulher que tinha vindo com Karkaroff, mãe de Blaise, não estava lá e Draco a procurou encontrando cconversando com Lakroff Mitrica junto da mesa de professores da Durmstrang; Madame Maxime, trocara o uniforme costumeiro de cetim negro por um vestido rodado de seda lilás, os aplaudia educadamente; O Sr. Crouch, Draco percebeu de súbito, não estava presente. A quinta cadeira de juiz à mesa estava ocupada por – Draco se segurou para não gritar de frustração – outro maldito Weasley. O tal Percy, monitor Chefe até ano passado.
O que ele estava fazendo lá estava fora dos conhecimentos de Dray, que ficou feliz quando pôde parar de bater palmas e se focar em outra coisa. No menu, por exemplo.
[...]
Por alguma sorte que Draco mal podia descrever, Ivan Tshkows fez um comentário sobre quadribol e Malfoy conseguiu se segurar para não zombar de Weasley e Longbottom quando eles disseram que fariam testes no ano seguinte, apenas lhes desejou sorte de forma irônica para tentar ganhar da Sonserina e contou de novo como era apanhador. Os meninos todos entraram em uma conversa sobre quadribol e equipes nos mundiais que conseguiu fazer Malfoy ao menos um pouco menos azedo.
Entretanto, sempre que sentia ter ouvido a risada de Harrison ecoar pelo salão seu humor parecia ganhar um traço a mais de ódio.
Ele não deveria estar com um homem, pensava.
Não devia estar com um Weasley.
Não devia estar rindo tanto, parecendo tão satisfeito, sendo tão bonito.
Draco não devia estar olhando tanto naquela direção e, que merda, Harrison não devia estar tão entretido que seus olhares nunca se encontraram.
As mãos do loiro estavam marcadas por suas unhas de tanta que as apertava para conter a vontade de fazer alguma coisa.
Qualquer coisa.
Gritar com Harrison de preferência.
Ele não seria trocado por um Weasley de todas as pessoas!
...
Foi apenas no fim do jantar, quando toda a comida acabou que Draco registrou que não estava sendo trocado se ele e Harrison nunca tiveram nada.
Se ele nunca deixou que tivessem nada.
Mas ele queria que tivessem algo?
Ele perguntou no corredor a Harrison algo que não teve resposta, o que o garoto queria de Draco. Talvez estivesse na hora de se fazer a mesma pergunta.
O que ele queria de Harry Potter?
Os repórteres já tinham sido encaminhados para fora pelo zelador e alguns dos aurores, o jantar foi tranquilo e muitíssimo gostoso.
Para todos que não estavam com a cabeça cheia demais para aproveitar.
Harrison com certeza seria uma dessas pessoas, se seu par não fosse George Weasley.
Foi uma questão de tempo (pouco tempo) para que ele parasse de sentir o formigamento na testa, levantasse seus escudos oclumentes e se concentrasse em outras coisas menos enervantes como roubar comida alheia sem ser notado. Isso, na verdade, era mais difícil que a missão de ignorar Voldemort que estava sob o olhar muito competente de Lakroff, apenas porque George não parava de fazer brincadeiras que lhe faziam rir e dificultavam ser discreto em sua missão nada adequada de comer de outro prato. Estava quase mandando os modos a merda e trocando os pratos na cara dura por conta do Weasley.
Tom não conseguia falar com Harrison, ele tinha deixado o medalhão seguro no barco e com os escudos mentais mal o sentia, o que o incomodou na medida do possível. De novo, se não estivesse com um gêmeo Weasley para fazê-lo se distrair.
Ou se focar no presente.
Ele, mesmo que sempre fosse tão observador e soubesse das coisas como apenas um vidente Grindelwald conseguia, não viu os olhares que Viktor mandava em sua direção sempre que estava segurando o riso, não sentiu os olhos de Draco Malfoy queimando em suas costas, não se importou com Dumbledore, Karkaroff ou Ludo Bagman, exceto quando George completamente desinibido soltava comentários ácidos e certeiros para cada um em situações diferentes.
Foi um ótimo jantar, realmente.
Para aqueles que não estavam presos em arrependimentos, em emoções complicadas, em dores.
Foi um bom jantar para Hermione também, que ria junto com Harrison da maioria das brincadeiras de George, teve boas conversas com Harry e Viktor, mesmo que tivesse notado mais sabiamente que o menino estava abalado com algo.
Não foi difícil juntar os pontos, mas ela não o julgou, talvez uma parte de si também mandasse olhares na direção da mesa de Ron e ficasse triste sempre que via Lilá rindo, mas ela conseguiu ignorar isso a maior parte do tempo e tentou ajudar Viktor e sentia ter conseguido, ele sempre sorria para Hermione quando ela falava com ele e era um bom ouvinte, além de bom de conversar.
Fleur não tinha o que reclamar de seu par, nem Cho do seu.
Quando toda a comida foi consumida, Dumbledore se levantou e pediu aos estudantes que fizessem o mesmo. Então, a um aceno de sua varinha, as mesas se encostaram às paredes, deixando o salão vazio. Hermione teve certeza naquele ponto que havia sido encantado para ficar maior por dentro, porque havia muito espaço mesmo para deixar as mesas e para que todos dançassem. Em seguida, o diretor conjurou uma plataforma ao longo da parede direita.
Sobre ela foram colocados uma bateria, algumas guitarras, um baixo, um alaúde, um violoncelo e algumas gaitas de foles. As Esquisitonas subiram no palco sob aplausos delirantemente entusiásticos dos bruxos.
Eram todas extremamente cabeludas, trajavam vestes negras que haviam sido artisticamente rasgadas. Apanharam seus instrumentos e Harry, que estivera tão interessado em observá-las que quase esqueceu o que viria a seguir, de repente percebeu que as lanternas de todas as outras mesas tinham se apagado e que George se inclinava para lhe estender uma mão.
— Me concede essa dança?
Hazz sorriu e tomou-lhe a palma sendo guiado até o centro do salão bem iluminado ao som de uma música lenta da banda.
— Sabe guiar um homem ou devo fazer outro papel hoje? — ele teve que perguntar porque, só agora notou que nunca tinha averiguado se George sabia dançar com um par do mesmo sexo.
O garoto Weasley, entretanto, deu um sorriso confiante.
— Seu vice-diretor teve a gentileza de me ensinar o que fazer.
O sorriso de Harry aumentou, ele sempre se esquecia como Lakroff e George tinham uma estranha comunicação funcional quase desde que chegaram em Hogwarts. Não é como se eles falassem com frequência sobre isso, mas aparentemente ambos falavam-se com frequência entre si.
— Professor Mitrica foi seu par?
George deu uma risada, ladina e travessa:
— Por que eu dançaria com um professor se podia arrastar meu irmão para fazer esse papel?
O mais novo acabou rindo também.
— Fred participou das aulas de dança então?
— Agora nós dois sabemos exatamente como agir com pares do mesmo sexo, ele precisando desse conhecimento ou não.
George colocou a mão livre nas costas de Harrison e o menino manteve a sua no braço de seu par, em pouco tempo estavam girando pelo salão sem qualquer dificuldade. Sem que Harry se importasse com o toque do seu par.
O silêncio o fez consciente disso.
Do toque gentil e preocupado, do olhar, da proximidade.
Harry realmente tinha um fraco por ruivos, aparentemente, porque de repente estava querendo falar para se distrair.
O primeiro assunto que lhe veio à mente, entretanto, foi Percy.
— Seu irmão não trocou uma palavra com você – mencionou, testando terreno.
George girou Harrison para uma direção e depois rodou na oposta antes de responder.
— Graças a Merlin, eu não quero falar com ele também.
— Mesmo?
George assentiu, de alguma forma os outros campeões dançavam a sua volta, mas ele só conseguia olhar para como Harrison parecia em seus braços, até mesmo as aulas que teve não se passavam em sua mente, estava guiando-o por memória muscular.
— Obrigada por se preocupar, alteza, mas te garanto que a opinião de Percy não vale para mim o suficiente para me incomodar com sua atitude.
— Certo. Eu ficaria muito chateado se algum irmão meu não quisesse falar comigo.
— Tenho outros cinco desses aí, eu supero.
— Na mitologia trouxa do Brasil, mais um homem, e sua mãe teria dado à luz a um lobisomem.
— Já viu Gina? Bruta daquele jeito, isso explicaria muita coisa.
Harrison foi para trás, as mãos ainda ligando-os à distância de braços, depois andou em sua direção e foi levantado em um giro alto.
— Ei, sorte sua que sou leve.
— Eu levantei Fred, alteza, aguento seu peso.
Por algum motivo Harry corou com aquela informação. Teve uma visão de George o levantando e colocando nos braços como se isso fosse nada e diferente do normal, onde ele reclamaria de sua própria altura e peso por culpa da desnutrição na infância, apenas registrou o fato de que George era forte. Mais do que aparentava.
Eles voltaram a aproximar os corpos e giraram juntos para o lado, acompanhando a valsa.
— Fred reclamou de ter que ter aulas de dança?
— Apenas o bastante para que eu não esquecesse que estava devendo uma a ele.
— Já sabe como vai pagar?
— Ele ainda não disse, o que é péssimo, mas convenhamos que não fará nada muito humilhante com alguém que tem a cara dele.
— Se for adiante com a ideia maluca de pintar o cabelo não terão mais esse problema.
— A maioria das pessoas ainda nos confundiria, tenho certeza. Só você nunca errou.
— Eu tenho uma trapaça.
George andou à volta de Harrison e depois o rodopiou, agarrando-o por ambas as mãos e os aproximando.
— Alteza, não sou como você – eles foram para trás e voltaram. – Mas sei que conseguiria nos diferenciar mesmo sem suas habilidades.
— Bem, não é tão difícil agora que os conheço.
George riu e o olhar que tinha para Harrison era puro afeto.
— Alteza, meus irmãos me conhecem desde que nasci e não acham a tarefa fácil. Talvez você repare demais em mim? – provocou.
Harrison riu e provocou de volta:
— Ou você que gosta demais de mim e deixa a coisa meio óbvia.
— Talvez.
Eles pararam de frente um para o outro quando notaram que a música acabou, houveram aplausos das pessoas pelo salão e os dois meramente notaram que estavam acompanhados de mais pares do que quando começaram, principalmente alguns professores que haviam se juntado a valsa. George se inclinou novamente e levou a mão do parceiro aos lábios para um beijo casto, encarou diretamente seus olhos e tocou os óculos, brincando com a correntinha dourada que os segurava.
Foi como se brasas fossem colocadas no rosto de Harry, que sentiu toda a pele próxima de onde a mão de George pairava se esquentar, quase que em expectativa.
— Mas você também gosta de mim, não é Harry?
A música pareceu desacelerar, todo o tempo à sua volta, os flocos de neve encantados que caiam do teto estavam mais lentos e Harrison sentiu perder o ar dos pulmões.
Outra música começou. George o guiou para acompanhá-la.
Outras pessoas estavam se juntando à valsa, mas nenhum dos dois notou.
Capítulo 7 — Um pouco de música e amor jovem
"Nossas dúvidas são traidoras e nos fazem perder o que, com frequência, poderíamos ganhar, por simples medo de arriscar".
— William Shakespeare
Neville guiou Gina para a pista de dança e conseguiu não pisar em seu pé e realmente prestar atenção nela por metade do tempo. A garota, astuta como era, não demorou a notar que o menino estava incomodado com algo e chegou a perguntar, mas Neville desmentiu e levou mais tempo para fazer aquela expressão deprimida olhando para outra direção.
"Ótimo" pensou a garota com um suspiro resignado, "ele é um idiota como Ronald e não conseguiu pedir a pessoa que realmente gosta para vir com ele".
Ela tentou guiar a dança para que aquele lorde em formação conseguisse aproveitar ao menos uma dança e se focar no presente. Funcionou, Neville aparentemente achou muito divertido ser guiado e apenas quando a quarta música começou o menino se deu por rendido.
— Vamos sentar um pouco?
— Ah... mas... agora vem uma realmente boa!
As Esquisitonas começavam uma nova música que Neville não reconhecia, sinceramente ele ouvia mais música quando ia para os Mitrica do que sozinho e a família de Harrison era fã de bandas trouxas, por isso estava quase que completamente alheio aqueles músicos.
— Não, não gosto dessa.
Uma parte dele sentia-se mal de quase mentir para Giny, mas sinceramente? Não é como se ele pudesse gostar de uma coisa que nunca ouviu.
Ele conduziu a garota para fora da pista de dança, passando por Fred e Angelina, que dançavam com tanta exuberância que as pessoas à volta deles se afastavam com medo de se machucar, e se dirigiram à mesa em que Rony e Lilá estavam sentados.
Neville sentou-se a abriu uma garrafa de cerveja amanteigada oferecendo a Ron:
— Como é que vocês estão indo?
Rony não respondeu, nem deu atenção a garrafa. Olhava feio para Hermione e Krum, que dançavam ali perto. Lilá estava sentada com os braços e as pernas cruzadas, um pé balançando ao ritmo da música. De vez em quando ela lançava um olhar aborrecido a Rony, que a ignorava completamente.
Gina se sentou do lado dela e apenas alguns segundos depois se levantou.
— Lilá, você me daria a honra de uma dança?
A menina loira encarou Gina como se tivesse nascido uma segunda cabeça nela.
— Como é?
— Vocês se importam, meninos? — perguntou a ruiva sorrindo.
— Quê? — disseram Neville e Ron, que estavam distraídos demais com seus próprios problemas
Gina olhou vitoriosa para Lilá:
— Quer mesmo esperar a boa vontade de dois garotos? Vamos lá, não seremos os únicos pares do mesmo gênero e viemos com garotos, é diferente de Harrison ou do professor Black. Estamos apenas nos divertindo, vamos, vai ser legal.
Lilá não parecia ter argumentos quanto aquilo e aceitou a mão de Gina para levantar, sendo guiada pela menina mais jovem para a pista.
Elas notaram que não eram o único par de mulheres e talvez isso tenha deixado a mais relutante Lilá a vontade. Na verdade, com tantos casais inusitados, ninguém estava prestando atenção nas duas. Provavelmente os outros estavam mais focados em sua própria dança ou em Minerva McGonagall com um aparente namorado que decidamente deixava os alunos curiosos.
Ainda mais porque o homem se parecia estranhamente com o diretor.
No fim, as meninas se divertiram por um bom tempo até que alguns meninos da Beauxbatons apareceram e as chamaram para dançar, separando-as.
Mas só um pouco.
Por sorte ambas pareceram concordar que gostavam mais da companhia uma da outra do que de garotos e logo tinham dispensado seus novos acompanhantes para se encontrar novamente no centro da pista e rodopiar juntas.
Foi uma boa noite e um baile maravilhoso, mesmo que seus pares originais fossem dois ridículos e covardes que não tinham tido a força necessária para chamar quem queriam.
Bem, ao menos era o caso de seu irmão. Sobre Neville, Ginevra não podia ter certeza se faltou coragem ou oportunidade.
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O amor é um pássaro rebelde / L'amour est un oiseau rebelle
Que ninguém consegue domar / Que nul ne peut apprivoiser
E é inútil chamá-lo / Et c'est bien en vain qu'on l'appelle
Se lhe convém se recusar / S'il lui convient de refuser
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— Oi senhorita auror muito bonita, posso tirá-la para dançar?
Ninfadora Tonks abriu a boca e fechou, incapaz de responder logo de cara ao pedido que a mulher que apareceu a sua frente fez.
— Como? — foi tudo que eloquentemente conseguiu dizer após um tempo.
A mulher de cabelos castanhos compridos e vestes muito interessantes, que eram formadas por um macacão com uma longa saia de gala, sorriu.
Ela tinha um sorriso muito contagiante.
— Meu parceiro essa noite, que é meu pai — ela começou. — Está trabalhando agora, pensei que poderia me acompanhar em uma dança? Aposto que consegue fazer seu trabalho de observar lá de perto também. Está aqui pelos alunos ou pelo lobisomem? Qualquer um que seja você tem uma boa visão da pista. Não vai atrapalhar e posso pedir ao seu superior se quiser. A menos que você seja a patente mais alta aqui, aí seria uma honra maior ainda.
— Não, não sou a maior patente — respondeu ainda um tanto desnorteada.
— Então com quem eu falo para ter o prazer de sua companhia, moça bonita?
Tonks corou com o elogio e novamente sem palavras abriu e fechou a boca diversas vezes antes de conseguir responder quem era o chefe dos aurores ali. A mulher saiu e em pouco tempo Ninfadora viu um pequeno esquilo azulado pisar pelo salão passando pelas pessoas distraídas que não o viam até estar diante de seu rosto.
O patrono, com a voz de seu chefe, anunciou que estava autorizada a dançar com a senhorita Alice Mitrica, mas que era para se manter de prontidão.
O fato de sentir algum medo vindo da voz do homem foi estranho, mas ela não conseguiu pensar bem sobre isso antes de ver o furacão que foi a aproximação da outra, com um sorriso vitorioso no rosto e mãos agarrando a sua:
— Vamos bruxa bonita, dance comigo!
Sem mais argumentos e curiosa com aquela pessoa, Tonks aceitou ser levada para a pista.
— Prazer, Tonks — se apresentou.
— Alice Pandora Mitrica, a seu dispor — cumprimentou segurando as bordas da saia e fazendo uma referência formal, mas logo estava segurando as mãos de Ninfadora, colocando uma em sua cintura, depois mantendo a outra esticada. — Sabe guiar ou eu faço?
— Nunca guiei.
— Sempre há uma primeira vez, mas podemos guiar as duas, que tal? — e deu um leve puxão em uma direção, fazendo Tonks acompanhá-la na mesma direção.
Em pouco tempo estavam ambas rodopiando sem problemas, por mais que Tonks estivesse em posição de guiar, na maior parte do tempo ela que acompanhava os comandos da outra, que sempre manteve aquele sorriso contagiante que impedia Ninfadora de conseguir manter a expressão séria de quem trabalhava.
— É auror a quanto tempo? — Alice puxou papo.
— Entrei na academia de aurores no final de 1991.
— Está atuando apenas este ano então? — perguntou em tom de surpresa. — Bem que você parecia jovem.
— Você não parece ser mais velha do que eu — acusou Tonks.
Alice riu.
— Talvez, quem sabe. Sou de 1973 e você?
— Também... De maio.
A risada da Mitrica ficou mais travessa.
— Sou de abril, mais velha.
— Por um mês!
Alice não parecia se importar e girava agora com ar de vitoriosa.
— Quantos problemas você já arrumou com seu ministério?
— Como assim?
— Bem, eu estou no meu desde a formatura e já quebrei uma ou duas varinhas.
— Suas?
Alice riu outra vez, mas agora tinha um tom bem mais emblemático naquele gesto.
— De um superior babaca que achou que podia mandar em mim.
Tonks arregalou os olhos.
— Mas se ele era seu superior...
— Aí que está. Ele não era do meu departamento, então eu não era obrigada a responder a ele só porque achava que sim. As pessoas tentam tirar vantagem de você se for como eu, daí você tem que esfregar na cara desses bruxos que eles não são grande coisa ou te comem viva.
— O que quer dizer com isso?
A mulher cantarolou, mas não respondeu completamente.
— A maioria me acha mais fraca e pensa que só estou onde estou por conta do meu pai, não por mérito próprio, então tentam tirar vantagem. Eu as ensino que não é bem assim.
— Você trabalha em que departamento?
— Pesquisa e Análise das tecnologias e do avanço da comunicação em massa dos trouxas.
— Nunca ouvi falar, que país?
— União soviética.
— Você tem um inglês perfeito.
Alice meneou com a cabeça.
— Sou nascida aqui, mas moro na Rússia.
— O que você faz neste departamento?
— Chefio — e sorriu vitoriosa diante da expressão de Ninfadora.
As duas conversaram por uma ou duas danças, Tonks perdeu um pouco a noção apesar de tentar se manter focada em seu alvo, acabou fisgada e curiosa demais com sua parceira de dança.
Uma bruxa e um aborto.
"Categoria Artur, abortos com habilidades mágicas básicas, como chamamos por lá, mas isso é confidencial, bruxa bonita, então estou confiando em você".
Ninfadora se viu querendo dançar mais com a garota, saber mais sobre ela e as coisas que falava sobre a cidade de onde vinha. Yaga. Uma dupla de meninas se aproximou delas e elas sorriam incentivando-as a dançar sem medo e Tonks notou com certa surpresa quantos casais do mesmo gênero tinham na pista de dança.
Harry Potter e o Weasley.
Sirius Black e Remus Lupin.
Leandro Spinosa e seu marido, Demian Yiakin.
A professora de herbologia, Pomona Sprout e Madame Papoula Pomfrey.
Tonks e aquela garota tão curiosa, então agora uma que devia ser uma Weasley e uma menina loira.
Era um baile estranho.
Mas Tonks gostou disso.
Alice girou-a pelo salão e ela mal viu seu cabelo se tornando rosa chiclete.
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George achava que sua mãe com certeza seria a mulher que mais lhe daria medo até o fim de sua vida. Ou pelo menos até se formar, quem sabe.
Ele não conhecia Alice Pandora Mitrica, entretanto.
— Já imaginou como é a sensação de ter sua varinha enfiada na uretra? — ela perguntou antes de sorrir e acrescentar. — Sou Alice, mas pode me chamar de senhora.
Ele não teve escolha além de responder:
— Sim senhora.
A própria caixa de pandora da família, como avisou Harrison em um sussurro em seu ouvido assim que a mulher apareceu com Ninfadora Tonks a tiracolo e exigiu que trocassem os pares.
Exigiu.
Não foi uma pergunta.
Ela apontou para Harrison e anunciou:
"Vamos trocar, Potter".
E Harrison teve tempo apenas de dar aquele aviso e boa sorte antes de cumprimentar Ninfadora e sair com ela pela pista.
— Você é o engraçadinho que se achou digno de cortejar um Mitrica. Tem noção do problema que arrumou para sua vida? — continuava Alice.
George, entretanto, conseguiu achar rapidamente palavras para rebater:
— Estou pronto para lidar com as consequências.
Aparentemente era uma boa resposta pois Alice sorriu.
— Então, já imaginou? A varinha entrando, abrindo você por dentro, farpas de madeira enfiando na pele, um objeto mágico que pode simplesmente explodir e causar um dano que nem os melhores curandeiros poderiam reverter?
A descrição estava fazendo George dançar de forma engraçada pois estava sentindo dores fantasmas na virilha e em seu colega.
Alice continuava sorrindo.
— Eu já enfiei a varinha de um bruxo no seu nariz e foi por muito menos, então já sabe não é? Não vacile ou irei ter que me divertir com você e você não quer isso.
— Não, senhora.
Ela o avaliou, então depois de um tempo pareceu chegar a uma conclusão.
— Você fez meu irmão rir bastante.
George não sabia o que dizer sobre aquilo então optou pela verdade:
— Gosto de vê-lo rindo.
E, novamente, aquela parecia ser a resposta correta, pois enfim Alice deu um sorriso que não parecia uma ameaça.
— Não é qualquer um que consegue tirar essa reação dele.
— Por isso eu tento. É mais especial quando é raro, mas nem por isso ele deveria sorrir menos para a vida.
— Eu posso concordar com isso – disse depois de alguns segundos.
E mesmo com todo seu nervosismo George sentiu que tinha passado em algum tipo de teste.
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Neville assistiu o baile acontecer sem muita animação, apenas por algum tipo de desencargo de consciência, afinal não deveria deixar Gina sozinha, mas o humor de Ron o estava contagiando.
Ele viu a parceira e Lilá dançando ao lado de Alice Mitrica e Nymphadora Tonks que estava uniformizada, o que deixou Neville confuso se ela não deveria estar trabalhando, mas como nenhum dos outros aurores parecia estar se importando, também ignorou.
Tomou em alguns goles sua cerveja amanteigada e em algum ponto viu Alice puxar Tonks até Harry e George, eles falaram algumas coisas entre si e trocaram de pares, Alice agarrando George e o puxando para dançar.
Neville sequer conseguiu sorrir ou se divertir com o fato de que a mulher deveria estar lançando ameaças para George naquele momento.
"Cuide do meu irmãozinho ou eu te castro" algo assim.
Nem deu muita atenção à provável bronca que Alice com certeza estava dando a Harrison na segunda dança onde fizeram outra troca.
Os minutos e músicas passavam e Neville tentou falar com Ron, puxar qualquer assunto, tirar a atenção deles daquela onda de auto depreciação, mas o amigo só tinha atenção para Hermione e Viktor.
Sua cabeça começou a doer e foi atrás de outra bebida, deixando o Weasley sozinho por uma música inteira.
Talvez duas. Sua noção de tempo realmente estava péssima.
Quando já ia voltando para a mesa, viu Viktor se aproximar com um sorriso e um pouco suado.
— Oi Nevirir.
— Já disse para me chamar de Nev.
Viktor riu.
— Eu sei, foi uma piada, esqueça isso. Como está sendo o baile para você?
Neville não quis responder àquela pergunta e no lugar trocou de assunto:
— Cadê Hermione?
— Ela foi se sentar com seu amigo enquanto eu pegava as bebidas.
Aquilo acendeu todos os sinais de alerta do menino que saiu correndo depois de dizer a Viktor que tinha de fazer uma coisa. Quando chegou à mesa era como esperado, Ron estava sendo um perfeito babaca.
— Não seja tão burro! — disse Hermione com bastante firmeza. — O inimigo! Francamente, quem é que ficou todo excitado quando viu o Krum chegar? Quem é que queria pedir um autógrafo a ele? Quem é que tem um modelinho dele no dormitório?
Rony preferiu ignorar as perguntas:
— Quando é que ele te convidou? Você estava tentando convencê-lo a participar do FALE, é?
— Eu não! — disse Hermione, manchas rosadas em seu rosto se intensificando. — Ele veio até a biblioteca e disse que estava a tempos querendo falar comigo, mas não arrumava uma desculpa boa o bastante.
Hermione contou aquilo muito depressa e corou tanto que ficou quase da mesma cor das bolas da árvore de Natal.
— É, é... isto é o que ele conta – disse Rony em tom desagradável.
— E o que é que você quer dizer com isso?
Neville decidiu que já era hora de interromper:
— Ron, Viktor é uma pessoa muito simpática, não pode julgar Hermione por... – mas Ron bufou alto e se levantou.
— Muito simpático! Sem dúvidas, vocês dois estão perdendo os sinais. É bem óbvio, não é? Ele é aluno do Karkaroff!
— E o que tem isso?
— Primeiro ele tenta se aproximar do Neville e agora de Hermione? Ele só está tentando se aproximar de vocês para tirar informações suas. Ele é perigoso!
— Do que está falando? Ele é amigo de Harrison — contrapôs Hermione.
— Que não seria burro o bastante de soltar nada sobre Neville, coisa que nunca fez.
— Como é?! Burra?!
— Você disse que eu estava sendo burro, mas não está vendo os sinais. Como Harry mesmo disse, ele nunca tinha falado nada sobre Neville até ele próprio ir se apresentar aqui em Hogwarts. Ele estava tentando proteger o amigo das influências ruins e vocês dois foram atraídas por eles como patinhos. Geralmente aqueles que mais confiamos são os que têm mais chance de nos trair, alguém colocou o nome de Harry no cálice, não foi? Porque não aquele que conseguiu convencer a chamar o próprio nome também? Uma tarefa que tenham que se enfrentar e ele tem a oportunidade de atacar para Karkaroff os dois inimigos de você sabe quem, os dois deram chance! É claro que ele só está usando você, Hermione.
A grifinória pareceu ter sido esbofeteada por Rony. Quando falou, tinha a voz trêmula, mas tinha ficado em pé:
— E vai dizer essa teoria para Harrison também? Que você acha que um dos melhores amigos dele colocou seu nome no cálice e quer matá-lo?
Rony mudou o rumo da conversa com a velocidade da luz.
— Você ficou tão feliz de dois alunos da Durmstrang te convidarem que nem suspeitou de suas intenções? Krum já é jogador profissional, que ele estaria querendo com uma aluna mais nova de Hogwarts?
— Ron! — reclamou Neville. — Isso é muito baixo!
Hermione tremia.
— O torneio é justamente para conhecer bruxos estrangeiros e fazer amizade com eles! — disse com voz aguda.
— Não é, não. É para se ganhar! O que acha que um bando de sonserinos quer?
As pessoas estavam começando a olhar para eles.
— Rony pare com isso — pediu Neville.
Mas Ron não deu atenção ao amigo tampouco.
— Por que você não vai procurar o Vitinho, ele deve estar se perguntando aonde é que você anda?
Hermione deu um passo decidido, como se fosse sair e Ron já estava ganhando um sorriso de vitória que deu a Neville uma vontade gigantesca de lhe acertar um tapa.
Não precisou.
Hermione fez isso por eles.
Todos que estavam olhando em volta arregalaram seus olhos e observaram em expectativa, mas Hermione puxou a barra do seu vestido e acrescentou:
— Se vir o "Vitinho", estarei na pista do outro lado — então saiu decidida pela pista de dança, desaparecendo na multidão.
Rony acompanhou-a com uma expressão no rosto que misturava raiva e indignação e Neville bufou completamente irado quando ele acrescentou:
— Ela me bateu, ela é louca!
— Achei muito adequado — resmungou se afastando.
Já tinha se cansado, não precisava de mais baile para ele.
Saiu antes de ver Viktor se aproximar de Ron e perguntar:
— Onde está Hermi-o-nini e Nev?
— Não faço ideia — disse emburrado, erguendo os olhos. — Perdeu seu par, foi?
Krum fez uma carranca, mas foi atrás de procurar a menina. Ron bufou e ia atrás de Neville quando Percy apareceu e começou a reclamar de George, ele mal registrou sobre o que o irmão tagarelava antes de conseguir uma desculpa para enfim sair, quando Percy indignou-se com Fred falando com Ludo Bagman e decidiu que "tinha que interromper".
-x-x-x-
Nada, ameaças e orações / Rien n'y fait, menace ou prière
Um fala bem, o outro é silêncioso / L'un parle bien, l'autre se tait
E o outro é que eu prefiro / Et c'est l'autre que je préfère
Ele não disse nada, mas eu gosto / Il n'a rien dit; mais il me plaît
O amor, o amor, o amor, o amor / L'amour! L'amour! L'amour! L'amour!
-x-x-x-
Todas as portas envolta do salão estavam abertas de par em par e as fadinhas luminosas no roseiral piscavam e cintilavam quando Neville desceu alguns poucos degraus de uma das saídas laterais e se viu cercados de plantas que formavam caminhos serpeantes e de grandes estátuas de pedra. O Longbottom ouviu um rumorejo de água caindo, que lhe pareceu uma fonte. Aqui e ali as pessoas estavam sentadas em bancos entalhados e ele tomou sozinho o caminho que passava pelo roseiral, mas tinha dado apenas alguns passos quando ouviram uma voz desagradável e conhecida.
— ... não vejo com o que tem de se preocupar, Igor.
— Severo, você não pode fingir que isto não está acontecendo! — a voz de Karkaroff era baixa e ansiosa como se cuidasse para ninguém os ouvir e Neville imediatamente decidiu se abaixar e se esconder por entre alguns arbustos e ouvir mais. — Tem se tornado cada vez mais nítida nos últimos meses. Se me disser que não está começando a se preocupar seriamente, não acreditarei nem por um segundo em sua palavra.
— Então, fuja — disse a voz de Snape secamente. — Fuja, eu apresentarei suas desculpas. Eu, no entanto, vou permanecer em Hogwarts.
— Vai? — Igor parecia esconder algo em sua voz, algo profundo que fez Neville tentar prestar mais atenção ainda, tapando a respiração. — O que o lorde das trevas fará com você? Acha que Dumbledore é o suficiente para protegê-lo depois de sua traição?
— Olhe quem fala. Igor, eu não estou com vontade de ouvir sobre seus medos, não estou tendo uma noite agradável e sua presença está sendo um incômodo.
— Não está sendo agradável? Eu te vi agora a pouco dançando no salão com o lobisomem. O que pretendia com aquilo, hein Severus?
— Decididamente não é da sua conta — e pareceu ainda mais furioso.
Os dois professores contornaram um canto. Snape levava a varinha na mão e ia estourando roseiras pelo caminho, com a expressão mal-humoradíssima. Ouviam-se gritinhos em muitos arbustos e vultos escuros saíam correndo para fora deles.
— Dez pontos a menos para Lufa-Lufa, Fawcett! — rosnou Snape, quando uma garota passou correndo por ele. — E dez para Corvinal, também, Stebbins! — quando um garoto passou no encalço dela.
— O que quero dizer — continuou Karkaroff indo para frente de Severus, impedindo-o de andar —, é que você está com medo, mas eu não. Sei como resolver o problema e poderia te ajudar, se quisesse. Se não achasse que a asa de Dumbledore é o suficiente.
Aquilo pareceu interessar Severus de um certo modo, ao menos fez com que parasse seus ataques a plantas e alunos, ao que Neville pôde ouvir.
— E o que você poderia ter feito para resolver um problema grande como o seu, Igor?
— Eu poderia até te contar, Severus, mas para isso eu preciso saber primeiro: você confia ou não em Dumbledore para te proteger da ira do Lorde das Trevas?
— Não sei o que quer dizer, Igor. Há alguém a quem o lorde das trevas teme mais?
Houve um momento tenso de silêncio e Neville mal ouviu os passos de Ron até que ele estivesse no caminho e na visão de Snape, que imediatamente resmungou:
— O que é que vocês dois estão fazendo?
Neville quase questionou o plural antes que o professor de poções gritasse seu nome e o Longbottom se visse forçado a se levantar.
Karkaroff, percebeu Nev, pareceu ligeiramente desconfortável ao vê-los ali. Levou a mão nervosamente à barbicha e começou a enrolá-la com o dedo.
— Estamos passeando — respondeu Rony secamente. — Não é contra a lei, é?
— Então continuem passeando! — rosnou Snape, e passou roçando por eles, sua longa capa negra se abrindo às suas costas. Karkaroff apressou-se em alcançar o colega.
Neville continuou a descer pelo caminho sem esperar para ver se Ron o seguia ou não. Queria distância do garoto.
Ele, entretanto, não entendeu o sinal sutil:
— O que aqueles dois estavam conversando? — murmurou se aproximando.
— Não sei, você interrompeu — respondeu secamente.
— Neville, me espera!
— Não.
— Neville! — tornou a chamar, dessa vez mais alto.
Os garotos tinham chegado a uma enorme rena de pedra agora, por cima da qual avistaram o jorro cintilante de um alto chafariz, sentados em um banco de pedra, as silhuetas escuras de duas pessoas contemplavam a água ao luar. A gritaria de Ron chamou atenção de Hagrid, uma das sombras, que se levantou e olhou para os meninos.
Neville acenou para ele e correu em outra direção, Ron não se deixou ficar para trás.
— Neville, o que foi? O que eu fiz?
Quando o Longbottom percebeu que não tinha muita escolha, Ron continuaria a seguí-lo, enfim parou, mais ao fundo do castelo, longe o bastante para ter coragem de se virar para o amigo e reclamar:
— Você foi horrível com Hermione!
Ron também parou e corou, Neville só não sabia se era de raiva ou vergonha, pois ele logo rebateu:
— Eu disse o que ela precisava ouvir.
— Não, não disse. Você foi cruel de propósito porque achava que assim poderia atingi-la. Você não foi muito diferente das coisas que Malfoy faz.
— Como é?!
— Ela provavelmente gosta de você, assim como você gosta dela, então porque raios você faz isso?
— Eu não — começou, mas Neville falou por cima do amigo.
— Porque não podia simplesmente tê-la convidado ao invés de brigar com Mione por ter recebido convites? Porque não a trata bem e tenta conquistá-la ao invés de afastá-la só porque você está frustrado?!
— Eu não gosto dela!
— Eu te conheço, Ron Weasley, muito bem, eu sei que gosta!
— Você não tem como me conhecer mais do que eu mesmo.
— Aparentemente é possível, porque eu sei dizer quando está sendo um babaca e você não!
— Escuta aqui, Neville, você tinha que estar do meu lado, eu...
— Eu não vou ficar do seu lado quando você está tão absurdamente errado. Hermione também é minha amiga e todos nós merecíamos ter uma noite boa se você não fosse orgulhoso demais! Esse tempo todo, poderia estar com ela e não estaríamos todos infelizes se você só tivesse tomado uma atitude!
Ron abriu a boca, mas pareceu momentaneamente sem palavras e aquilo motivou Neville a continuar falando, porque ele não queria ouvir as desculpas do amigo. A adrenalina corria em seu sangue, ele sentia o rosto queimando pela pequena corrida e pela raiva, o coração acelerado a boca desinibida de grifinório:
— É uma merda ver isso, sabe? Vocês dois se gostam! Mas nunca fazem nada sobre isso como se tivesse alguma coisa impedindo além de suas próprias cabeças duras! Enquanto isso tem gente que realmente não pode fazer nada sobre a pessoa que gosta porque sabe que nunca seria correspondido e poderia arruinar tudo só de falar. Vocês têm sorte e não aproveitam ela, é frustrante!
— E o que é que você sabe?
— Eu sei muito, eu sei como é não estar com a pessoa que gosta, ver ele pensando em outra pessoa, sei como é frustrante, mas eu não estou descontando meus problemas nele! Bem... eu não... não é minha intenção tornar a noite dele pior porque a minha não vai ser como quero. Eu ia me divertir apesar disso, mas você dificulta tanto!
— Então porque não volta lá, chama essa pessoa que você gosta tanto e me deixa em paz? Se sabe tanto como aproveitar a noite, se é tão fácil só chamar essa pessoa!
— Não é fácil, esse é o ponto!
— Para mim também não é!
— Deixe de ser ridículo! Mione aceitaria ter vindo com você se tivesse pedido!
— Eu pedi!
— Aposto que foi um grande babaca, por isso ela negou!
— E você? Harry está lá com meu irmão porque você não teve coragem de aceitar o pedido dele mesmo que ele tenha feito todo o trabalho!
— O que Harry tem a ver com essa história?
— Eu vejo como você fica com ciúmes dele — acusou, cruzando os braços. — Acha que eu não sei? Você me julga por ter feito tudo errado com a Hermione, mas está bravo com você mesmo por ter sido tão ruim quanto.
— Eu não gosto do Harry, seu idiota!
Ron bufou e revirou os olhos, soando bem irônico:
— Não, não.
— Estou falando sério!
— Eu já disse, Neville, não tem como não perceber o ciúmes que você tem dele.
— Eu não tenho ciúmes do Hazz!
— Tem.
— Não.
— Eu vejo como você olha para a gente quando estamos juntos, principalmente quando ele começa com aquelas brincadeiras de flertar.
— Que merda, Ron, pare de tornar isso sobre mim e assuma a culpa pelo que fez essa noite!
— Assuma que gosta do Harry e não teve coragem de vir ao baile com ele só como amigo — desafiou, se aproximando do garoto.
Neville deu uma passo na direção do ruivo, irritado demais para conter a língua:
— Se eu admitir, você admite que foi um grandessíssimo idiota?
— Claro, se admitir primeiro.
— Eu não gosto do Harry. Não tenho ciúmes dele.
Ron deu uma risada sem emoção e virou o rosto, perdendo como Neville estava decidido quando disse as próximas palavras.
-x-x-x-
O amor é filho da boemia / L'amour est enfant de Bohême
Ele nunca, jamais conheceu leis / Il n'a jamais, jamais connu de loi
Se você não me ama, eu te amo / Si tu ne m'aime pas, je t'aime
Se eu te amo, tome cuidado / Si je t'aime, prend garde à toi!
-x-x-x-
— Já chega! — disse Pansy de repente soltando Draco. — Eu vou lá — e puxando a barra de seu vestido ela seguiu decidida até onde Ivan e Luna dançavam.
Draco acompanhou o passo mais distantemente e viu as meninas trocarem algumas palavras no ouvido uma da outra por conta da música alta e depois Luna falou com Ivan, o menino se curvou e acenou com a cabeça algumas vezes antes de se curvar para as duas e se retirar.
Pansy, vitoriosa, teve sua mão puxada por Luna para o centro da pista de dança e começaram a dançar juntas.
"Maldita traidora" pensou Malfoy percebendo que tinha sido deixado de lado.
Ivan não parecia nem um pouco incomodado como Draco, ele olhou em volta e parece ter captado Viktor Krum sozinho, seguindo até ele, tomando uma cerveja de sua mão e iniciando um papo.
— Inferno sangrento — Draco praguejou, indo até o banheiro.
Sua noite estava péssima.
Infernalmente péssima.
E, sendo bem sincero, encontrou algum conforto no fato de que não era o único, que Pansy também estava condenada a perder a chance de estar com alguém de que gostava, mas agora ela simplesmente tinha arrumado coragem para dançar com uma garota em pleno salão lotado!
Uma simples Lovegood.
Os pais de Pansy a matariam quando soubessem, Samanta Xatwin estava ali aquela noite, que tipo de mensagem Pansy queria passar para a classe alta britânica simplesmente tirando uma menina para dançar quando o lorde Peverell e o Lorde Black estavam com homens? Apoio?
O que seus pais diriam de sua atitude de abandonar o herdeiro Malfoy para simplesmente dançar com uma garota?
Draco estava oficialmente furioso e a culpa era de Pansy.
Era de Theodore de alguma forma, que não parava de entrar na sua cabeça.
Era de Potter.
Sua cabeça estava começando a doer o que foi mais um incentivo para atravessar as portas abertas dos salões até virar a esquerda e descer alguns lances de escada até o banheiro mais próximo.
No caminho viu dezenas de pessoas juntas nas escadas se beijando e o professor Snape gritando para pararem com isso arruinando sua noite também.
Ótimo. Draco adoraria que o professor arruinasse a vida de todos! Para que sentissem ao menos um pouco de sua frustração. Quis gemer quando viu seu próprio reflexo derrotado no espelho.
E ele ficava tão bem em roupa social.
Mas estava um lixo.
Não conseguia manter um pensamento que fosse, tinha alguma coisa errada consigo.
Potter.
Potter.
Potter.
Tudo continuava fugindo nessa direção e só o deixava mais frustrado.
Porque o maldito Weasley tinha de convidá-lo? Porque ele pareceu tão feliz com o convite? Não devia. Potter devia ter negado, seguir as tradições, devia ser um exemplo de lorde.
Mas ele era subversivo na mesma proporção que tradicionalista, e de alguma forma isso funcionava com ele.
As pessoas ouviam, abaixavam a cabeça, concordavam.
Mudavam.
O Lorde Black era assumidamente um homem gay. Faria um lobisomem de consorte.
Pansy estava dançando com uma garota em um baile de Yule formal.
Mesmo que sediado por Hogwarts, havia uma importância vital no primeiro baile que participavam sozinhos. Era tempo de alguns deles serem apresentados a sociedade.
Pansy se apresentava agora como alguém que abandonaria um Malfoy em prol de um par de menor importância social.
Harrison estava mudando tudo e agindo como se nada, se divertindo quando um baile era imagem e mensagem. Uma chance de um lorde mostrar o que queria que outros vissem. Ele fez um Weasley seguir tradições, ignorou outras, estava criando as próprias.
Ele era um maldito lorde aos quatorze e um dos mais importantes para o futuro da alta classe bruxa, mas agia como se isso fosse fácil, porque era fácil para ele, porque ele fazia o que queria e não pensava nas consequências.
Porque as pessoas não estendiam consequências para o lorde Peverell.
Para aquele que derrotou o lorde das trevas.
Estava tão furioso que não viu Theodore se aproximar e quase levou um susto quando foi chamado.
— Que merda Nott.
O idiota do Theo riu dele:
— Não queria te assustar, foi mal.
— O que quer?
— Estava me perguntando — Theo murmurou como quem não queria nada. — Sua parceira te abandonou.
— E como isso é da sua conta? Vai relatar o que tenho a dizer sobre isso ao seu pai?
Theodore levantou as mãos:
— Calma, porque está na defensiva Draco?
— Não estou com paciência para lidar com você hoje.
— Por quê? Percebeu finalmente que você não tem nada de especial para Potter?
— Como é?
Os olhos castanhos esverdeados de Theodore escureceram para marrom e ele se aproximou de Draco com uma seriedade sombria rara de se mostrar.
— Nós dois sabemos que você é igual Pansy, está caidinho por quem não devia, mas você achava que tinha alguma coisa de especial para Harrison porque ele fazia algumas piadinhas e te deixava falar com ele.
Os olhos de Draco se estreitaram e também escureceram, como o céu escuro antes de uma tempestade.
— Theodore, estou te avisando, melhor você pensar bem antes de falar mais alguma coisa.
— Por quê? Vai contar para o seu pai? E como ele vai reagir quando souber que você tem tanta importância quanto um Weasley para o lorde Peverell? Ele não te pediu para se aproximar de Potter? Quanto sucesso teve com isso além do que tinha de nascença?
Draco sentiu como se tivesse levado uma azaração, mas não recuou, lambendo os lábios e sorrindo.
— E você? Recebeu a mesma missão e não conseguiu merda alguma nem tendo um nome como Nott. Você não passa do garoto que anda comigo aos olhos do Potter.
— Eu não me iludi que tinha conseguido algo, não como você fez. Você não tem nada demais! É só um maldito Malfoy que nasceu com mais cadeiras do que devia e Harrison sentia que tinha que te ouvir, mas ele não precisa, quanto mais o tempo passa menos você se torna útil, porque não tem nada a oferecer além de votos que ele pode conseguir com outras famílias.
— E você tem tanto a oferecer quanto eu — debochou. — Uma cadeira a menos, para ser mais exato.
— Quer saber o que vai acontecer? Em alguns meses Potter volta para a Durmstrang e você vai continuar sendo apenas um recurso que ele usa para receber alguns convites para eventos sociais até que outros lordes possam fazer isso e ele não precise mais manter os bons laços com você. Draco, você era o mais fácil dele se aproximar e foi o que fez. Você e Pucey foram como dois idiotas competir por ele e Pucey não tem o nome que Potter precisava para se enfiar na alta sociedade então ele recorreu a você. E foi tão útil para ele, não é? Até descobriu qual era a primeira tarefa para ele. Mostrou para que serve seu sobrenome. Parabéns, agora pode começar a ficar desleixado como tem sido nas últimas semanas. Observando os outros tentarem como se você já tivesse uma vantagem.
— Como você sabe sobre a primeira tarefa? — sussurrou olhando para os lados, com medo de que alguém o pegasse com essa informação e chamasse Harry de trapaceiro.
Desqualificassem ele.
Se bem que provavelmente não podiam fazer isso, mas ainda sim, sua primeira reação foi se preocupar com Harry.
Ele estava mesmo acabado.
— Tenho minhas formas de saber das coisas, Draco, achei que soubesse. É por isso que sou útil para você também, não? Apesar de você nunca saber como usar meus recursos.
— Theodore, mais uma palavra e eu vou te azarar!
— Que tal algumas? — Theodore se aproximou e como se quisesse mostrar que não temia Draco, levou suas mãos até sua gola e ajeitou. — Acha que Potter tem uma dívida de vida com você ou algo assim depois do desempenho dele contra o Dragão? Ou será que ele sente isso mais com os Weasley que foram aqueles que você usou para ter essa informação privilegiada? Por favor, com quem ele está aqui hoje? Eu tenho uma cadeira a menos? Para os Weasley faltam duas que você e já estão tendo muito mais sucesso que você em conseguir favores de Peverell-Potter.
— O que você acha que vai conseguir vindo aqui e me dizendo essas coisas, Nott?
— Eu? — o outro recuou, dando de ombros. — Sou o único entre seus amigos que te fala a verdade, que tenta colocar esse pezinho privilegiado no chão. Se toca, Potter está te usando assim como todas as pessoas sempre vão tentar usar um Malfoy e você está achando que é quem ficou por cima. Baseado em quê? Quer se aproximar de Potter? Fazer o que seu pai mandou? Era para conseguir uma aliança política solida, não se apaixonar por ele e deixa-lo ser amigo de traidores de sangue como os Weasley. Dever favores a eles. Você os deu a chance perfeita, agora estão seguindo tradições e você ouviu Pansy, acha que é a única que pensa assim? Que os Weasley são sangue puro como nós e podem voltar a alta sociedade? Eles estão tomando cargos no Ministério, no banco, agora tem as boas graças do único lorde que rivaliza com todos os outros. Ou você deixa essa paixonite de lado e pensa direito ou você vai continuar sendo usado para o mínimo até que Potter crie sua própria força aqui como fez na Durmstrang.
— Este é seu último aviso Nott.
— Por quê? Não gosta de ouvir a verdade e vai me atacar por isso? Acha que Potter não percebeu que você se encantou por ele? — ele riu, uma risada seca sem qualquer emoção além de deboche. — Com tantas pessoas atrás dele o grande Malfoy com certeza vai ser diferente. Quão útil deve ser ter alguém como você apaixonado, não é mesmo? Ele sabe que você não pode levar isso adiante por causa das tradições, que não tem a coragem de um Weasley grifinório para desobedece-las, então ele não precisa se preocupar com avanços, mas recebe favores como se fosse um inocente que não entende porque você manda aqueles olhares.
Draco pegou sua varinha e apontou para Theodore.
— Vai me atacar? — o moreno perguntou com um levantar de sobrancelha.
— Você está me provocando e isso não vai ser bom para você!
— Mesmo? Agora até Rosier me deve uma, você vai precisar um dia que eu cobre os favores que os outros me devem, você não fez muita coisa além de comprar vassouras para entrar em uma equipe de quadribol e ganhar pontos para a casa, você vai precisar de ajuda e sabe que sou inteligente o bastante para isso. Eu não tenho medo de você, Malfoy, nós dois sabemos, mas pense no que eu disse, é uma dica de amigo. Não quero que você seja usado.
— Vai a merda.
— Claro — e com um aceno condescendente saiu do banheiro, deixando Draco sozinho e sem ar.
Inspire.
Expire.
Pense.
Não o deixe entrar na sua cabeça.
"Mas ele tem razão" pensou. Ele precisava de Theodore ao seu lado, tê-lo como inimigo era muito pior.
Mas até que ponto ele tinha razão?
Porque estava sendo tão difícil pensar?
Era como se tudo que Theodore tinha dito tivesse entrado em seu corpo, uma maldição que estava queimando de dentro para fora, ardendo em sua pele, mas ele não conseguia discernir as coisas.
Potter poderia estar o usando?
Ele pensou em quando Harrison e Draco se conheceram, na forma como ele foi longamente avaliado, como Potter sabia exatamente quem ele era antes mesmo de serem apresentados, como foi formal, como tratou Draco como herdeiro Malfoy.
Era assim que ele via Draco desde o começo?
Herdeiro Malfoy.
Cinco cadeiras no Wizengamot.
Mesma idade, bom alvo?
E Draco? Como agiu?
Ele se lembrou mortificado, agiu como um idiota que não conseguia manter os olhos diretamente nos de Potter, que desvia quando ele sorria, sempre impressionado com o poder de Potter mesmo com sua idade, com sua inteligência, buscando um lugar perto dos garotos famosos e aceitando como eles pareceram não se importar com sua presença e acolherem.
Por quê?
Ninguém faz as coisas sem esperar algo disso.
Por que aceitar alguém que nem estudava no mesmo ano e que tinha uma diferença de idade da maioria de seus amigos mais próximos? Porque aceitar o herdeiro Malfoy?
Porque era o herdeiro Malfoy.
Draco não passava de cinco cadeiras e alguma influência na casa onde se sentaram?
Era uma ligação fácil para se inserir na comunidade nova.
A conclusão mais óbvia, mais fácil e Draco... não percebeu. Não suspeitou.
Ele simplesmente achou que Potter queria ser seu amigo!
Ele...
Aceitou que um sonserino... que um dragão, um bruxo das trevas, se aproximou inocentemente sem querer nada em troca?
Pensando agora sobre isso, parecia bem ilógico, não?
Draco tornou a se olhar no espelho.
Era um idiota, como não viu isso antes? Nem os amigos que tinha desde criança se aproximaram sem esperar algo em troca. Estavam lá porque seus pais queriam, por terem a mesma idade deviam aproveitar e estar junto de um Malfoy.
Se não fosse um Malfoy, Theodore nem o chamaria de amigo.
Pansy o abandonava pela primeira menina de que gostava e pela subversão de Potter.
Blaise... não tinha nem como saber.
Estava em um ninho de cobras e apesar de seu nome dizer que era uma grande entre elas, era uma cobra jovem e muito burra. Estava ignorando como todos eram.
Todos só queriam tirar alguma vantagem uns dos outros.
Estava se deixando usar como um grande idiota! Na primeira oportunidade que teve, se mostrou valioso para Potter e o ajudou sem pedir nada em troca, claro que Potter o manteria por perto!
Era útil e fácil!
Se o que Theodore dissera fosse verdade, se Draco parecesse estar apaixonado (porque ele não estava, se recusava a aceitar isso agora), se as pessoas percebessem, então a forma que Potter o tratou logo depois disso...
Usando os primeiros nomes, sugerindo coisas de duplo sentido.
Caramba...
Ele era tão idiota!
Agora parecia mais ridículo ainda, jogou água no seu rosto e ia se secar quando viu outra pessoa entrar.
Tinha momento pior?
— Oi Draco.
É claro que tinha que ser ele.
Tinha que ser Potter aparecendo nos momentos em que Draco estava furioso.
— Potter — cumprimentou de volta e puxou uma toalha para secar o rosto e conseguir sair dali logo.
Tomar uma grande distância do Potter o quanto antes.
Mas é claro que o outro não estava disposto a oferecer aquele espaço para Draco. Quando se virou estava cara a cara com ele.
— O que eu posso ter feito agora? — perguntou com os braços cruzados, mas uma expressão puramente curiosa, paciente.
Draco soltou um riso debochado, mas não respondeu, apenas tentou desviar dele para sair. Harrison não deixou e segurou seu braço.
— De verdade, você tem que parar de ficar bravo comigo sem me dizer o motivo, podemos resolver como amigos, não quero que as coisas entre nós fiquem estranhas sem que eu possa...
— Sem que você possa o que? — se virou, puxando o braço com força. — Manipular a situação a seu favor?
Potter olhou-o de cima abaixo por trás de seus óculos e os retirou, deixando que caíssem no peito, pendurados pela corrente de ouro, ele coçou os olhos com calma e Draco se irritou.
— Não tenho porque ficar aqui — Potter tornou a lhe agarrar e ele estreitou os olhos. — Me solta.
— Não antes de você me dizer porque está assim.
— E desde quando eu sou obrigado a lhe dar satisfação?
— Vamos ter essa briga de novo?
Draco fechou os olhos e se virou, furioso, as bochechas ardendo quentes, punhos fechados.
Da última vez que eles tiveram uma briga assim Draco quase...
Quase o que?
Se deixou levar?
Foi enganado pelos olhares de Harrison?
— Você está magoado comigo — sussurrou o Potter, mas foi possível ouvir e isso fez Draco abrir os olhos de novo.
— Não estou — negou apesar de não ter sido uma pergunta.
— O que eu fiz? — a voz de Harrison estava baixa, ele olhava, aqueles olhos verdes brilhantes escaneando o rosto de Draco, procurando alguma coisa e havia preocupação em sua expressão.
Parecia tão genuíno.
Quantas expressões dele eram genuínas? Draco conhecia Theodore, que era falso como um galeão de papel. Podia mudar quantas expressões quisesse para manipular os outros.
Sabia até chorar de mentira.
"Quão útil era um Malfoy apaixonado?" pensou se lembrando das palavras de Theo.
Quão útil Draco podia ser para Potter sempre tentar resolver uma briga quando Malfoy o tratava mal "sem motivo"?
Ele levantou a postura e encarou com uma das poucas vantagens que tinha contra Potter: seus poucos centímetros a mais de altura.
— O que você quer, Potter?
Harrison não vacilou e olhou para Draco com tranquilidade antes de suspirar.
— Seu perdão. Mas um pedido de desculpas só é valido se eu souber do que tenho que me desculpar.
Aquela resposta só o deixou pior, Draco quis estourar com Harry, gritar tudo em sua cara, toda a confusão que ele o forçou a sentir e para que?
Malfoy se cansou, agarrou a mão do menino e o puxou até uma das cabines, não queria ser interrompido por alguém entrando. A cabine era um pouco apertada e ele bateu à porta com força trancando. Ficou na frente dela para impedir que o outro fugisse, mas essa disposição deixou Potter quase colado a ele.
Que fosse, Draco não deixaria mais ser enganado.
Não deixaria seu coração acreditar em qualquer mentira.
Draco não gostava de verdade de Potter, estava sendo enganado e isso fazia algum sentido, nisso conseguia pensar.
Harrison parecia estar com as bochechas vermelhas, mas não conseguia ver bem naquela luz fraca da cabine e não ia dar atenção a isso, nem a como ele se segurou nas vestes de Draco para não perder o equilíbrio com o vaso contra suas pernas.
— Draco?
Ele foi direto ao acusar:
— Você me usou.
Harrison respondeu com um olhar completamente confuso, era como se Draco tivesse dito algo em outra língua.
— Desculpe, me perdi.
— Você me usou.
Uma pausa. Potter continuava encarando-o longamente, Draco não ia ceder, levantou uma sobrancelha desafiadora e aguardou, as mãos muito bem presas contra seu próprio corpo, não ia tocar Potter.
O moreno finalmente pareceu perceber que não teria uma resposta e perguntou:
— Em que situação eu teria te usado, posso saber?
— Desde que chegou em Hogwarts.
— E te usei para quê exatamente?
— Influência. Você sabia que eu era o herdeiro Malfoy e era útil para você.
Harrison demorou para responder àquilo e para Draco foi quase como uma confirmação, se não fosse pela expressão de Potter.
Foi como quando se conheceram, como se tivesse sido lido, avaliado até a alma, Harrison desviou os olhos dos seus e pareceu observar algo na cabeça de Draco, a sua volta. Malfoy podia ir embora, mas ele queria a confirmação verbal.
Não ia sair dali.
Não ia deixar seu coração doer daquele jeito.
Por fim, o haus feuer falou:
— Seguindo por essa lógica eu também devia estar magoado já que você e Pucey vem tentando me usar para conseguir vencer a competição de liderança na Sonserina.
Certo.
Draco não esperava aquela resposta.
Ela o desmontou de forma brilhante.
— Eu não te usei...
— Se você mentir para mim eu também vou me dar ao direito de mentir, mas achei que se íamos resolver isso, tínhamos que ser sinceros.
Draco molhou os lábios ainda chocado e estava procurando palavras quando Potter acrescentou:
— Por Morgana, todos na mesa da Sonserina fazem amizade usando uns aos outros e todos queriam me usar, eu só achei que você era a melhor opção. Eu preferia ser usado por você do que pelos outros, porque pelo menos você parecia se importar mais comigo como pessoa do que um simples nome. Eu quis ser seu amigo e não me importei que me usasse, deixei claro para todos como tinha preferência por você, faltava mandar alguém calar a boca quando achava que você queria falar comigo, porque você, Draco Malfoy, me via como um ser humano, não apenas um propósito. Eu quero... eu tento ser constantemente seu amigo e te dar a vantagem que for com meu nome porque gosto de verdade de você e achava que você também gostava de mim porque foi atrás de descobrir sobre os dragões e até hoje não me pediu para pagar esse favor. Achei que você era diferente, que era gentil e que eu podia confiar em você de um jeito que não podia me dar ao luxo na mesa da Sonserina. Não se fossem como os dragões traiçoeiros da Haus Feuer. Por isso continuo insistindo na sua amizade. Eu estava errado em pensar assim?
"Não" Draco pensou, a cabeça conseguindo atingir novos níveis de dor depois daquilo.
As coisas que Theodore disse estavam se misturando a tudo aquilo que Potter dizia agora e estavam formando uma confusão horrorosa em sua mente que parecia prestes a explodir.
Ele tremeu quando sentiu uma coisa em sua bochecha e olhou vidrado para Harrison ao perceber que era sua mão. Ele tinha um olhar preocupado e cautela em sua voz quando sussurrou:
— O que aconteceu com você? O que te disseram que te deixou assim? Deixe-me pagar o favor, se você acha que eu sou esse tipo de pessoa, me deixe te ajudar como você me ajudou.
"Eu não acho" Draco pensou, mas não disse.
Ele não achava que Harrison fosse esse tipo de pessoa, nunca pensou até Theodore colocar essa dúvida.
Mas o problema não era Nott, era Draco. Com seus malditos sentimentos confusos. Theo era muito mais racional e inteligente, ele podia ter visto algo que Draco perdeu preso aquela nevoa. Preso aos olhos absurdamente verdes de Potter.
Ele podia estar se perdendo de novo.
Onde estava Theodore? Porque ele não falava com Potter? Draco não conseguia sem ser levado para onde seu coração se dividia em dois e batucava em sua orelha como louco.
Ele precisava sair dali.
Mas não podia fugir. Não agora:
— Está dizendo que nunca quis usar meu nome?
— Não além do que todos quiseram me usar como "o menino que sobreviveu".
— Você me vê como alguém de confiança?
— Sim e queria que você tivesse a mesma impressão de mim.
— E como posso confiar em você? Confiar que você não está me enganando?
Harrison se remexeu, parecia estar desconfortável, suas mãos agarraram com mais firmeza as roupas de Malfoy e eles ficaram mais colados.
Certo, decididamente ele estava com as bochechas vermelhas, constatou o loiro.
— Draco — e deixou que seus olhos verdes brilhassem na direção do outro menino. — Confiar nas pessoas é uma merda, nós nunca sabemos quando podemos fazer isso, por isso ser um sonserino as vezes é tão difícil, nós sabemos que o outro sempre quer alguma coisa e nós podemos ser parte disso ou não, mas o que eu fiz para gerar sua desconfiança? Se, e repito, eu fiz de tudo para mostrar meu favoritismo a você, por que estou sendo questionado agora? Era o que estava ao meu alcance, o que mais eu poderia fazer? O que quer de mim?
Draco não tinha resposta para aquilo.
E Harrison cheirava a cacau.
Cacau, morangos e uva... como vinho, um aroma Frutal quebrado por alguma coisa. Talvez fosse um perfume oriental ou Chipre, mas Draco não conseguia entender o porquê estava pensando em perfumes agora de todas as coisas.
Era sua confusão.
Provavelmente por causa da proximidade com o corpo esguio, mas forte de Potter, com o cheiro de seu suor, com seu cabelo bagunçado como um ninho de pássaros.
Mas que de alguma forma ficava ainda mais bonito assim.
Bagunçado, simples, bem a sua frente.
Draco estendeu os braços e segurou sua cintura, Harrison arregalou os olhos, mas não disse nada, apenas baixou a cabeça.
Ele sempre parecia desconcertado com aquela proximidade.
"Será que o Weasley também te deixa assim?" o Malfoy pensou se sentindo convencido.
E aquilo levantou a questão de novo:
O que ele queria de Potter?
— O que eu quero de você... essa é uma boa pergunta — sussurrou de volta.
Isso fez Harrison arrumar motivação para levantar o rosto de novo para Draco que sustentou seu olhar.
— Está querendo cobrar o favor?
Draco negou levemente com a cabeça:
— Não é sobre isso.
Ah.
Quão mais fácil se fosse apenas isso.
Harrison inclinou a cabeça e esperou que Draco disse mais alguma coisa, mas depois que o silêncio se estendeu por um tempo, enfim perguntou de novo:
— Alguém te disse alguma coisa? O que te deixou tão desconfiado?
O loiro imediatamente mudou de assunto:
— Eu estou completamente errado em desconfiar?
Harrison meneou com a cabeça.
— Acho que ser precavido é o mínimo, mas daí você pode me questionar, não precisa ficar bravo e me evitar.
Draco sorriu.
— Bem, eu te questionei.
— Depois de eu insistir!
Houve uma quantidade maior de carinho do que o esperado, mas o loiro rebateu:
— Você sempre insiste.
Aquele tom de voz e a forma como o mais alto o olhava deixou Harry desconsertado, ele se remexeu, de repente muito mais consciente de como seus corpos estavam colados e corou ainda mais, fechando os olhos.
Estava sentindo como se estivesse fazendo alguma coisa muito errada.
— Podemos ir agora?
Draco inclinou a cabeça.
— Por que você sempre insiste em mim?
— Já disse que quero ser seu amigo.
— Mesmo? Só isso?
Harrison encarou os olhos de tempestade de Draco, que lhe deu um sorriso misterioso. Mesmo vendo sua alma, Harry não tinha ideia do que o menino queria.
— O que quer dizer?
— Você só quer isso mesmo? Amizade? Não foi você que disse que poderíamos ser bem mais que isso se eu tivesse ido para a Durmstrang?
Na vez que Harrison disse aquilo, Draco tinha ficado completamente desconcertado, tinha se perdido nas palavras, acreditado em coisas que Harrison desmentiu depois, pareceu um idiota.
Mas quem estava confuso e preso agora era outro.
Isso deu a Draco uma sensação de poder e vingança interessante.
Gostava de ver Potter assim: perdido.
Ele tinha muito poder para uma pessoa só, bem que podia tirar um pouco disso.
Deixá-lo preso a um cubículo em seus braços e encarando seu rosto como se esperasse que desse uma resposta.
— Eu já te perguntei antes e vou repetir, Harry Potter, o que você quer de mim?
— Não entendo como minha resposta não te serve.
— Porque para alguém com tanto poder, essa é uma ambição muito fraca.
— Talvez eu não seja uma pessoa tão ambiciosa assim.
— Agora quem está mentindo é você.
Harrison também ganhou um sorriso.
— As pessoas sempre acham isso mesmo, mas talvez devessem começar a acreditar. Minha cabeça é mais simples do que parece.
— Interessante e o que se passa na sua cabeça quando eu insisto que não te quero por perto e você continua se aproximando?
— Que eu não gosto de pontas soltas.
— Mesmo? E o que se passou na sua cabeça da última vez? Quando estávamos na mesma situação?
Draco o estava provocando, Harrison notou isso, mas George devia estar esperando e ele não tinha tempo para lidar com as inseguranças de Draco, ele já se explicou, agora tinha que voltar para a festa.
Ele encarou Malfoy em desafio:
— O mesmo que agora. Que você precisa aprender a falar normalmente com as pessoas antes de se enfurecer com elas.
Draco riu.
— Ficou bravo?
— Um pouco, fui acusado aqui e não me deram direito a defesa — e cruzou os braços, para criar alguma distância entre eles.
A risada de Draco continuava em seu rosto, na forma como seus lábios se curvavam. Algo estranho passou por seu rosto e Harry se sentiu encurralado pelo sorriso que recebeu. Aquele era um sorriso de cobra.
— Quer voltar para seu Weasley? — Draco sussurrou.
— E você? Não tinha que voltar para Pansy?
— Pansy sabe se virar, mas e o seu vira lata?
— Não chame George assim!
Draco fez cara de confuso:
— Você conhece os sonserinos o bastante para se aproximar de mim e conseguir se encaixar, mas não para saber o que pensam do seu parceiro?
— Eu sei o que pensam, o ponto é o que dizem ou fazem. Pensamentos são traiçoeiros, mas o que você deixa sair, Draco?
— Por que aceitou vir com a água de salsinha? O que você ganha?
— Eu não ganho nada, uma boa companhia talvez.
— E isso basta para convencer o lorde Peverell?
Harrison inspirou fundo e levou uma mão para os olhos esfregando com os dedos com força e impaciência.
— Onde quer chegar?
— Você fica lá, dando risadinhas com ele, se exibindo diante dos jornais como gay igual seu padrinho...
— Não preciso ser necessariamente gay para vir com um garoto.
— É, com certeza é o que os jornais dirão. Não necessariamente gay.
— Eu não me importo com o que os jornais vão falar.
— Se importa, você é um sonserino. Então o que está querendo ganhar? Que está querendo dizer trazendo e agindo desse jeito com um simples Weasley?
— Ele não é um simples...
— Não é você que disse que sua cabeça não era tão difícil assim? Me conte então, qual o objetivo do Lorde Peverell que o fez aceitar passar por essa situação?
— Eu quero sair daqui.
— Se sua cabeça é tão simples, me diz, você vai deixar o Weasley te beijar como você quase me deixou aquela vez?
Harrison arregalou os olhos e tentou criar distância, mas não conseguia, era muito apertado ali, Draco manteve as mãos firmes na cintura alheia.
— O que foi, Harry? Está tentando fugir por quê?
Potter o encarou e havia, Malfoy notou, algum fogo ali, um fogo de fúria e desafio que se expandiu até sua voz:
— Então era isso mesmo que você estava tentando fazer no corredor, me beijar? O que você ganharia me beijando, Malfoy?
— Posso ganhar muita coisa de você, Peverell-Potter. Mais do que você ganha do água de salsinha.
— Você tem sua resposta então, não acha?
— Como assim?
— No próximo baile, se você está tão interessado em beijar o "supostamente gay" você pode tomar a coragem de aparecer nos jornais com ele e convidá-lo.
— E quem disse que queria te convidar?
— Você está sendo tão ridiculamente óbvio que só se eu fosse uma porta para não notar – rebateu.
Draco riu e Harry esperava muitas respostas provocativas dele, mas ainda se surpreendeu:
— Quer dizer que eu era sua primeira opção e você se contentou com o Weasley?
Harry ficou ainda mais irritado.
— Você sequer podia ser uma opção se era tão covarde para fazer alguma coisa!
— Você prefere os corajosos então? — caçoou Malfoy. — Ele só não pensa o bastante para avaliar as consequências.
Harry estava se sentindo muito ofendido e agora não queria sair dali até defender George.
— Ele pensou. Muito. Mas tomou atitude, diferente de você que foi covarde demais e não me convidou a tempo.
— E por que você não tomou atitude e me convidou, Potter?
Harry riu agora, uma risada seca.
— Quem disse que eu queria te convidar?
— Você também é ridiculamente óbvio — acusou apertando mais a cintura do outro.
Harry não se deixou afetar.
Não muito.
— Mesmo? Me solte e me veja sendo óbvio bem longe de você!
— Porque te soltar se você sempre fica tão bonitinho vermelho nos meus braços?
— Ousadia sua dizer que eu fico vermelho quando suas bochechas estão sempre corando quando sorrio para você.
Os dois estavam se encarando, expressões duras com sorrisos forçados, as respirações descompensadas, os pulsos acelerados.
Draco aproximou mais seu rosto de Harrison e sussurrou em seu ouvido:
— Porque não me diz Potter? Se gosta de coragem, seja corajoso. Admita que você queria que eu te desse um beijo, por isso não fugiu.
Harry rebateu na mesma moeda, sussurrando de volta:
— Eu digo depois que você admitir que queria dá-lo a mim.
— E se eu admitisse?
Potter não estava pronto para aquela resposta e ficou tenso, o coração batendo tão alto que provavelmente Draco conseguia ouvir, o cheiro de Malfoy estava por todos os lados e sua cabeça estava virando gelatina.
— E então? — sussurrou Draco, se afastando de sua orelha e se aproximando de seu rosto.
"Próximo demais" se alarmou Harry que conseguia sentir a respiração do outro bater contra seu próprio nariz.
Draco estava a pouquíssimos centímetros de distância quando perguntou:
— Vai aceitar e pedir meu beijo, Potter?
Era hipocrisia.
Ele tinha acabado de mencionar coragem.
Ele deveria ter coragem para simplesmente mandar Draco Malfoy ir para um pasto incomodar um grupo de vacas, mas no lugar sua boca congelou e ele assistiu apavorado o outro se aproximar.
Então ele fugiu.
Fez algo que mal precisava desde a infância: ficou intangível.
Os braços de Draco passaram por ele incapazes de mantê-lo no lugar e como um fantasma ele atravessou a parede de madeira que separava os cubículos, chegando no espaço ao lado que por sorte estava vazio, arrebentou a porta contra suas dobradiças e saiu correndo para fora do banheiro.
O loiro, deixado para trás, ficou encarando completamente surpreso o espaço vago em que foi deixado e saltou com o barulho que a porta do lado fez de repente, ele abriu sua porta também, mas demorou demais, tudo que viu foi o reflexo na pia do banheiro de Potter saindo pela porta.
E ver Theodore.
Que estava lá limpando as mãos como se não tivesse voltado para ouvir.
Deve ter visto Potter se aproximando quando ele deixou Draco sozinho e quis ver o que aconteceria, o maldito fofoqueiro.
Malfoy riu e olhou o amigo, com os braços cruzados:
— Pode deixar, estou cuidando para que ele não me use de graça.
Para seu imenso crédito ele aparentemente tinha deixado Theodore sem palavras porque conseguiu sair tranquilamente sem seus comentários do banheiro.
Decidiu voltar para seu dormitório. A noite já tinha atingido seu limite.
-x-x-x-
O pássaro que você pensou surpreender / L'oiseau que tu croyais surprendre
Bateu as asas e voou / Battit de l'aile et s'envola
O amor está longe, você pode esperar / L'amour est loin, tu peux l'attendre
Você não pode esperar mais, ele está lá / Tu ne l'attend plus, il est là!
-x-x-x-
Luna se aproximou de George enquanto ele bebia do ponche batizado por Fred, junto do irmão, Angelina e Ivan Tshkows. Até pouco tempo Viktor estava com eles, mas foi procurar por Hermione uma segunda vez. Luna estava acompanhada de Pansy o que imediatamente fez George levantar uma sobrancelha e olhar para Ivan.
— Seu par roubou o par de quem?
O russo deu uma risada engraçada e olhou em volta.
— Malfoy, mas não o vejo.
— George, uma dança — Luna pediu, sem esperar uma resposta, já puxando suas mãos para a pista.
Ele deu o ponche como pôde para o irmão e seguiu a menina. Mal tinham começado a rodopiar quando ela fez um sinal para que se abaixasse e então falou no seu ouvido:
— Você sabe que terá que lutar pelo coração de sua alteza, certo?
George franziu o cenho, mas seus olhos imediatamente capturaram Harry entrando no salão, correndo e com a respiração acelerada até seus olhos se encontrarem e ele sorrir antes de ir até onde os outros estavam com mais calma.
O Weasley imediatamente olhou para Luna e entendeu que era um daqueles momentos onde a garota parecia saber mais que os outros.
Videntes.
George teria que se acostumar se estivesse gostando de um.
.
.
.
.
Ele tinha acabado de admitir que gostava de Harry?
Ele já tinha o feito antes?
— Você sabe que seus sentimentos não são exatamente os mesmos, não é? — perguntou Luna trazendo o garoto do pequeno surto que estava encobrindo seus pensamentos e o forçando a prestar atenção nela.
— O que quer dizer, Luna?
— O coração de sua alteza passou por muita coisa. Ele não vai ser conquistado facilmente e muito menos admitirá um sentimento como o amor sem se negar muito antes disso. Ele não tem a confiança para acreditar que alguém realmente se apaixonaria por ele.
— Por que ele não teria? Ele... — mas George não conseguiu completar a frase.
Luna fez isso por ele:
— Eu sei, Harry é apaixonante, mas... e saiba que só estou te contando isso porque confio que você nunca o magoaria, mas é mais provável que você saia magoado: ele sente que está sempre mentindo. Interpretando uma pessoa da qual os outros gostam, mas que não representa ele de verdade.
— Eu sei quem ele é de verdade.
Luna sorriu e negou com a cabeça.
— Aí que está. Não. Você não conhece. Nem eu ou qualquer um aqui, os nargles só me avisam de como será, mas nem eles tem certeza.
— Te avisam?
— A mudança pode ser drástica, mas um dia ele mostrará seu verdadeiro rosto, ele só não acredita que todos continuarão do seu lado quando o fizer.
— Eu não vejo o que poderia me afastar.
— E se ele fosse uma pessoa totalmente diferente?
George estava para dar uma resposta, mas de repente sentiu que não era a certa. No lugar ele pensou um pouco e soube melhor o que dizer:
— Se for completamente diferente, então eu só preciso conhecer essa nova versão e sei que vou gostar dela também. Posso gostar das duas.
— Não importa o quanto mude?
— Não. Ainda será o Harry.
A garota meneou com a cabeça e depois de um tempo e alguns rodopios pela pista, acrescentou:
— E o que fará se ele não corresponder?
George não hesitou:
— Então estarei ao seu lado para fazê-lo sorrir.
— Isso não é o que você fará se ele corresponder?
— Também. Eu só me importo com ele, Luna, então não importa se sou eu ou qualquer um, no fim eu e meu irmão vamos fazê-lo rir.
— É um sentimento bom, mas você tem que ser realista. Se quiser ele, terá que lutar por isso, não apenas esperar que aconteça. Se for assim, se não quiser verdadeiramente e não fizer o esforço necessário, ficará para trás — ela inclinou a cabeça e olhou no fundo de seus olhos.
Era diferente ver Luna tão séria. Normalmente seu olhar vagava, como se visse apenas o que os outros não enxergavam e descartasse o mundando que estava bem a sua frente. Como se tivessem coisas bem mais interessantes para se olhar. Desta vez, entretanto, ela tinha totalmente o foco em George. Nada mais interessava a garota.
— Você está disposto a lutar por ele ou vai deixar para o acaso?
-x-x-x-
Tudo ao seu redor, depressa, depressa / Tout autour de toi vite, vite
Vem, então volta / Il vient, s'en va, puis il revient!
Você acha que controla ele, ele te evita / Tu crois le tenir, il t'évite
Você acha que o evita, ele te controla / Tu crois l'éviter, il te tient!
O amor, o amor, o amor, o amor / L'amour, l'amour, l'amour, l'amour!
-x-x-x-
Harry aceitou o ponche batizado de Fred sem que percebesse e o gosto o fez mostrar a língua, mas a reação tão espontânea tirou risada dos amigos e o relaxou um pouco depois de Draco e tudo aquilo no banheiro.
No lugar ele deu uma olhada pelo salão e seus olhos se arregalaram ao ver Sirius e Snape, entre tantas pessoas, dançando juntos. Ele não era o único aluno olhando naquela direção e decididamente não era o único surpreso, mas aquela cena inusitada foi tão impactante que ele quase perdeu algo pior.
Lakroff.
Já deveria ser seu turno de festa, porque ele estava na pista de dança ao invés de em ronda, mas não com Alice, sua parceira.
Estava com Voldemort.
— Ivan! — ele chamou quase agitado demais. — Preciso de uma distração.
O mais velho não hesitou.
— De que tipo?
— Algo que tire o professor Mitrica do salão e o force a se afastar do homem que está dançando com ele agora.
Todos olharam para o salão e em pouco tempo encontraram o acompanhante de Lady Xatwin em uma valsa com o professor de história. Não só isso, eles repararam na forma como ele sorria e parecia entretido em uma conversa. Isso deixou todos curiosos de porque Harrison queria atrapalhar, mas Ivan não perdeu tempo com perguntas.
— Me dê um tempo — disse saindo.
A música que tocava já estava no fim e Harry assistiu completamente fissurado quando Lakroff pegou a mão do seu acompanhante e deu um beijo.
"Tom vai ficar furioso" ele pensou tentando manter o rosto limpo enquanto Voldemort simplesmente segurava Lakroff e não o deixava sair assim que a próxima música começou e juntos voltaram a dançar, como se todo o resto do mundo não existisse.
Harrison acabou tomando um segundo gole do ponche porque o copo ainda estava em sua mão e ele estava distraído demais e dessa vez ele tossiu enquanto Fred puxava a bebida dele.
— Aqui, sem bebida para você alteza, é muito jovem.
George e Luna apareceram naquele momento. Harry registrou apenas com meia atenção o fato de que seu acompanhante parecia mais sério que o normal enquanto tentava ler os lábios do seu avô e seu parceiro de dança, mas percebeu em pouco tempo que um deles tinha colocado um feitiço para confundir quem tentasse.
— Malditos velhos paranóicos.
— Tudo bem, alteza? — questionou George.
— Eu não tenho certeza.
Luna parou ao seu lado e inclinou a cabeça, também olhando na mesma direção, antes de murmurar:
— Essas são péssimas notícias.
— O que foi?
— Lakroff leu errado suas visões. Ele terá que pensar rápido para consertar isso se quer que as coisas deem certo.
— Eu mandei Ivan criar uma distração — Harry se preocupou.
— Talvez seja melhor assim... — ela abaixou a cabeça e olhou para o chão, a mão no queixo pensativa antes de balançar com a cabeça. — Sim, provavelmente é o melhor.
— Vou ficar de olho na minha irmã — anunciou se virando para George. — Vamos para a pista? Ou já cansou?
George deu uma risada aberta, como se a ideia de se cansar de um pouco de diversão fosse irreal e, no lugar, ele olhou para Fred e Angelina:
— Nos acompanham?
— Claro! — Fred deixou o copo que tinha tirado de Harrison na mesa e puxou Angelina com delicadeza.
Luna já segurava as mãos de Pansy.
— Vamos também?
A Chanel não tinha como negar diante daquele sorriso.
Eles se juntaram em um canto do salão, próximo de uma parede onde Alice conversava animadamente com Leandro Spinosa, seu marido e Ninphadora Tonks. Depois teria que perguntar, mas tinha a impressão de que Lakroff era culpado por Alice estar tão interessada na bruxa.
Uma distração talvez? Mas porque chamar a atenção apenas daquele auror? Ele não tinha certeza.
Remus não estava em lugar algum enquanto seu noivo dançava com o professor de poções e Harry suspeitava que tinha ido embora para fazer o ritual. Grande erro deixar Sirius sozinho em uma festa com Leandro quando ele provavelmente estava em busca de vingança, mas o que poderia fazer? Eles colheriam o que plantaram.
Gina e Lilá logo se juntaram ao grupo e dançaram apenas um pouco antes de Ivan acontecer.
De repente ele estava no palco e falava pelo microfone que ampliava sua voz magicamente para todo o salão.
— Amigos da Durmstrang e colegas das demais escolas, desculpe atrapalhar sua dança, mas quero que me ajudem em uma missão que será interessante para todos.
— Você disse que queria uma distração — murmurou Fred em tom de quem respeitava Ivan pela ousadia de subir ao palco.
O russo continuava:
— Tem esse professor nosso que é o favorito da maioria, e não estou falando de você Leandro — isso tirou algumas risadas do lobisomem e também de vários alunos da Durmstrang. — Estou falando do nosso vice-diretor. Ele é um cantor incrível e eu quero convencê-lo a subir aqui no palco e cantar uma música para seus alunos. O que acham Durmstrang?
Um burburinho animado imediatamente começou nos alunos, em sua maioria, de vermelho, e Ivan acenou:
— Ele está bem ali — e apontou, levando a atenção de todo o salão para Lakroff e consequentemente Voldemort em seu disfarce.
Harry conhecia Tom. Muito bem. Mais do que qualquer um provavelmente. Ele viu a frustração nos olhos dele, mesmo que estivesse tentando passar despercebido, quase como se quisesse fundir-se à multidão e Lakroff estava olhando para Harry, sabendo exatamente o que estava acontecendo.
Aquela jogada já era muito óbvia, a distração mais fácil e previsível, mas ainda uma distração e Riddle não tinha como provar isso.
Ivan, no palco, chamava:
— Vamos lá pessoal, vai ser divertido ter um dos diretores aqui. Chamem conosco: Mitrica! Mitrica!
Não era preciso dizer mais nada, os alunos da Durmstrang tinham sido fisgados e começavam a chamar, cada instante mais alto, pelo nome do vice-diretor. Contagiando alguns alunos de outras escolas que logo começavam a gritar junto, como os gêmeos Weasley e todos a sua volta, logo em seguida.
Lakroff assentiu e foi recebido por aplausos entusiasmados até o palco. Ivan desceu num pulo e o platinado foi falar com a banda antes de tomar o microfone para si.
Em pouco tempo o instrumental começou e houve um coro de reconhecimento por parte de um grupo muito seleto de bruxos naquela noite.
Um grupo que muitas vezes era o último a entender o que acontecia naquele mundo, mas dessa vez foram os únicos. Todos os nascidos entre trouxas e mestiços sorriam e puxaram seus pares para dançar uma música trouxa que começou a tocar.
Harrison não sabia exatamente o que Lakroff e Voldemort estavam falando, mas enquanto ele e Angelina cantavam a plenos pulmões aquela música, acompanhado de um coro de "sangues ruins", ao menos entendeu a mensagem que aquilo passava.
E não combinava em nada com o que aquele Riddle levantava com suas máscaras e marcas nos antebraços.
-x-x-x-
— Por que você está aqui?
Neville abriu os olhos e viu parado a sua frente alguém que não esperava. Não que esperasse qualquer pessoa naquele canto escuro do pátio pavimentado em que havia se escondido. Mesmo de dia não haviam muitas pessoas sentadas naquele banco de pedra. Então lá estava, Viktor Krum.
— Onde está Hermione? — perguntou.
Viktor sorriu de uma forma estranha e se sentou ao seu lado, mesmo sem ser convidado.
— Seu amigo Ron veio até ela e pediu desculpas por alguma coisa que não entendi, os dois estavam falando inglês muito rápido, mas parece que ela ficou mais furiosa e foi para o quarto.
— Sinto muito. Acho que tenho parte da culpa disso.
— Como assim?
— Eu briguei com Ron por ele não tomar uma atitude com a garota que gosta — murmurou, puxando as pernas e colocando o queixo em um dos joelhos, olhando para a estátua mais ao canto e para a escadaria junto dela. — Aqui é meio isolado, como me achou?
— Sinceramente eu posso ter me perdido um pouco.
Neville riu, mas não disse nada, apenas pensando em tudo que tinha acontecido naquela noite. Viktor notou que havia algo de errado e olhou para o amigo com pesar.
— Está tudo bem?
Longbottom não soube porque exatamente falou, talvez porque precisava verbalizar o desastre que foi sua noite, então ele contou a Viktor:
— A pessoa que eu gosto veio com outra pessoa e eu lidei como um idiota com tudo isso. Ou não. Nem sei.
— Bem vindo ao clube — brincou, se recostando na parede atrás deles. — Aconteceu com metade da corte, se te serve de algum consolo.
Neville apenas deu um muxoxo fraco e continuou olhando para as escadarias mais ao lado. Ninguém que descia por ela virava na mesma direção que Viktor, mas, talvez parando para pensar, fosse possível ver Neville do topo delas.
— Realmente desculpe arruinar sua noite também.
Vitor negou com a cabeça com um sorriso.
— Está tudo bem. Então Hermionini e esse Ron se gostam?
— Mas Ron é um idiota, algo assim.
— Entendo. E seu par?
— Deixei-a com outra garota.
— Trocado por uma garota, parece Ivan. Esse baile definitivamente está quebrando alguns padrões de gênero.
Neville sorriu.
— Está. Mas acho que fui trocado porque sou um par deprimente, não necessariamente porque meu par preferia a menina.
— Você não é um par deprimente.
O loiro suspirou e pareceu discordar, ao que Viktor tocou seu ombro e tentou ser mais incisivo:
— Você não é mais deprimente do que eu ou todos os outros.
— Eu nem dancei direito com Gina, apenas o pouco que achei que seria educado na hora, além de que briguei com um dos meus melhores amigos e não sei mais como as coisas serão depois disso.
— Se ele é um dos seus melhores amigos, tenho certeza de que ele vai te perdoar.
— Não é uma questão de perdão — sussurrou, apertando as mãos em cima do colo.
Viktor viu que havia algo ali, Neville estava tremendo e parecia fraco, como se algo muito forte o tivesse atingido, ele franzia o cenho com uma expressão preocupada e desolada, enquanto seus olhos pareciam vidrados.
Krum percebeu que não gostou de ver o garoto daquele jeito e se levantou.
— Vem cá — chamou, pegando uma das mãos de Neville e puxando levemente.
O mais novo encarou Krum com aquela mesma expressão deprimida, mas agora levemente confusa.
— O que foi?
— Vou te mostrar que você não é um par deprimente.
— Eu não quero voltar para o baile, de jeito nenhum.
— Não precisa, você não consegue ouvir a música daqui?
— Não — respondeu com honestidade.
Mas, de repente, Viktor sacou sua varinha e Neville escutou ele murmurar algumas palavras, então uma música suave começou a percorrer o ambiente como um vento calmo de fim de tarde.
Neville não mudou a expressão, mas aceitou meio que a contragosto ser puxado pelo outro até ficar de pé, porque se tinha arruinado uma amizade ao menos não queria ser insuportável com outro.
Krum se aproximou e tocou a cintura do outro garoto com uma calma e delicadeza que poderia parecer estranha vindo de um cara com sua aparência, isso se Neville já não o conhecesse o suficiente. Viktor era gentil, atencioso e naquele momento balançava ao som da música esperando que ele fizesse o mesmo.
Longbottom colocou uma mão no braço do apanhador e manteve a outra levantada e segurada, aceitando ser guiado.
Neville tinha ido para a aula de dança de Lakroff, ele tinha recebido olhares mortais de uma quantidade absurda de pessoas quando Hazz o escolheu como par (homens e mulheres) e naquela ocasião o amigo se deixou guiar (provavelmente porque sabia de como era a personalidade passiva do amigo e queria provocá-lo), então Neville tinha apenas uma vaga noção do que tinha que fazer, mesmo assim Viktor foi paciente e a cada passo permitia que o garoto tivesse uma melhor noção do que viria a seguir.
O loiro tinha que se focar, entretanto, para não pisar no pé do outro e isso de alguma forma ajudou.
Mesmo que subconscientemente, parar de se martirizar um pouco e se focar em outra atividade, ouvir a música suave e tentar acompanhá-la, isso lhe deu alguma calma e ele logo tinha parado de tremer ou apertar tanto a mandíbula. Viktor notou isso, mas não disse nada, apenas ficou satisfeito que tinha usado a magia para tocar uma música longa.
Depois de dois ou três minutos, nenhum dos dois sabia ao certo, Neville estava olhando para o rosto de Viktor ao invés de seus pés.
— Desculpe. O baile também não foi o ideal para você.
— Está sendo bem agradável agora.
Neville corou, mas deu uma risada e negou com a cabeça.
— É feio mentir.
— Não estou mentindo.
— Você não queria estar aqui comigo.
— Não quer dizer que deixa de ser agradável. Eu gosto da sua companhia.
Viktor levantou a mão e soltou a cintura de Neville, que girou no lugar antes de inverterem e Viktor girar. O Longbottom quase era baixo demais para ser o par do garoto búlgaro, mas eles deram um jeito e logo estavam colados de novo.
— Quer me contar como exatamente foi sua briga ou quer continuar se distraindo? — perguntou o apanhador.
Neville pensou apenas alguns segundos sobre aquilo antes de suspirar e admitir:
— Eu contei para Ron que sou atraído por ele.
Isso espantou Viktor ao ponto de que ele parou e Neville tropeçou batendo contra o peito do mais velho. Foi quase como bater em uma parede, mas quentinha.
— Como é? — questionou Viktor.
— Ele começou a reclamar sobre como eu não tinha direito de julgar ele por não ter convidado Hermione porque eu também não aceitei o convite do Harry e eu estourei, contei para ele a verdade.
— Que é? — perguntou pausadamente.
Neville levantou os olhos e encarou Viktor.
— Bem, que eu gosto dele. Que foi a ele que não tive coragem de convidar e que o Hazz não tinha nada a ver com isso.
Houve um momento de silêncio onde apenas a música tocava ao fundo, talvez o piar de uma coruja das neves voando, mas Neville estranhou a longa pausa e já ia perguntar, mas Viktor foi mais rápido.
— Eu achei que você gostava do Hazz!
— O que?! Não! Por que todo mundo está achando isso?
— Bem eu já te vi com ciúmes do Hazz e... — mas Viktor pensou sobre aquilo e, de repente, notou que praticamente todas as vezes que Neville ficou enciumado foram momentos em que Ron Weasley estava envolvido. Será que ele tinha se enganado tanto? — Você já ficou competindo com Malfoy pela atenção do Hazz.
— Bem, ele é meu amigo e eu não gosto do Malfoy, mas não tenho como impedir a amizade deles, só atrapalhar. Ainda mais sabendo que Malfoy parece gostar do Hazz mais do que devia, aquela maldita doninha não merece alguém como Hazz.
Viktor continuou parado, olhando para Neville e pensando sobre tudo aquilo, ao que o garoto o encarou confuso por um longo tempo antes de reclamar:
— Não acredito, você achava mesmo que eu estava competindo com você pelo Hazz ou algo assim? Eu até tentei te dar conselhos.
— Achei que eles serviam para você também.
— Por favor, Hazz é uma peste, não sei como tem tanta gente apaixonada por ele — reclamou revirando os olhos — É mentira, é claro, eu o amo, mas não assim — e riu, um som baixo, mas ainda levemente divertido. — Vou contar que pelo menos duas pessoas pensaram hoje que eu era apaixonado por ele. Aposto que vai rir.
Viktor ainda estava bastante confuso, repensando todas as impressões que tinha de Neville, mas voltou a dançar, talvez porque se lembrou que até então estava tentando consolar o amigo.
Eles voltaram ao silêncio por um tempo, mas não demorou muito para o cérebro de Viktor voltar a fazer as sinapses necessárias.
— Você contou então que gostava de Ron. E qual foi a reação dele?
Neville fechou os olhos e choramingou:
— Eu não sei. Eu entrei em pânico e tentei desconversar, mas ele ficou lá, travado, gaguejou que sentia muito, que não pensava o mesmo e ele ficou me encarando até que eu não aguentei mais e fugi.
— Você fugiu?
— Sim — respondeu, mortificado.
— Mas daí você ficou sem resposta!
— Eu já tinha uma! Ele disse que não sentia o mesmo.
— Mas não é só isso que está te deixando assim, você está com medo de isso estragar a amizade de vocês.
— Ron é um idiota, é claro que ele vai agir diferente a partir de agora e eu estraguei tudo! Por causa de algo que talvez fosse apenas uma paixonite passageira eu posso ter feito tudo ruir!
Viktor deu um sorriso complacente.
— Você não sabe disso.
— Eu conheço o garoto por quem me atraí. Ele é um idiota.
— Então esse é seu tipo? Idiotas? — brincou Viktor e Neville o empurrou.
— O seu também. É só um tipo diferente de idiota.
A expressão de Viktor se fechou um pouco e Neville imediatamente se sentiu culpado por ter tocado no assunto.
— Desculpe. Vamos falar de outra coisa.
— Na verdade, tem uma coisa que vim pensando durante essa noite. Como eu me senti vendo-o com outro.
— E como se sentiu?
Viktor ficou em silêncio por um tempo, como se ainda não tivesse pensado o bastante naquele assunto, mas Neville permitiu que ele tirasse aquele tempo. Eles passaram por algo similar naquela noite, mas muito diferente entre si. Ron também não estava com quem gostava e incomodou a Neville ver dois amigos que podiam ser felizes juntos, atrapalhando suas próprias chances por orgulho. Viktor, por outro lado, assistiu Hazz com um par que se encaixou a ele como uma luva.
Mesmo no pouco que Neville prestou atenção a festa, Harrison estava sempre sorrindo e não parecia estar em outro lugar ou com outra pessoa.
— Os dois podem ser só amigos — Neville não conseguiu segurar o comentário, mesmo que soubesse que não serviria de nada para ajudar.
— George Weasley iniciou uma corte.
— Ele mal sabe o que está fazendo, veio.... — mas se calou percebendo sua gafe.
Viktor, entretanto, não gostou da frase interrompida.
Os dois se afastaram seguindo a dança e giraram em volta de pessoas que não existiam, então voltaram a se aproximar, girando enquanto seguravam as mãos um do outro. Neville tinha abaixado a cabeça. Viktor o encarava.
— Sabe que vou tirar essa informação de você uma hora ou outra não é? Melhor terminar a frase, Neveril.
O mais novo apenas negou com a cabeça enquanto eles se afastaram de novo, quando se juntaram, Viktor agarrou a cintura dele com uma mão e com outra puxou sua cabeça relutante para cima.
— Seja o que for, não vou te julgar.
— Por que tem tanta certeza de que vai conseguir tirar essa informação de mim?
— Você é Nevirir, é sincero, um livro aberto.
— Devo me sentir ofendido?
— Não — garantiu negando com um balançar de cabeça, depois olhou nos olhos do menino enquanto suavemente se inclinaram de um lado para o outro. — É muito bonito.
— Bonito? — perguntou Neville com os olhos arregalados.
— Você é uma pessoa verdadeira em tudo que faz, nem todos são assim.
O mais novo riu e tentou se afastar, Krum deixou, mas apenas uma distância de um braço, girando-o então trazendo de volta.
— Por que riu?
— Você talvez só esteja procurando pessoas no lugar errado. Vai encontrar muitas verdadeiras como eu na minha casa. A Grifinória é mais óbvia que a Sonserina, caro dragão feuer.
Viktor sorriu enquanto guiava o outro pelo lugar, como se estivessem em um salão, como se a música deles fosse a mesma de todos e não estivessem em uma situação deprimente.
— Eu te garanto — murmurou o apanhador — que mesmo que eu procure na sua casa, não será fácil achar alguém como você. Que tenha seu coração. Ele é uma parte maravilhosa de você — e antes que Nev pudesse dizer alguma coisa, acrescentou: — Você foi o único a decidir enfrentar aquele trasgo.
— Ron foi comigo.
— Por que você chamou. Estou errado? Ou foi ele que se lembrou de Hermione primeiro?
— Você está sabendo muito dessa história.
— Hazz me contou.
— Quando? Se ele nunca falava sobre mim?
— Depois que te conheci e quis saber mais de você.
Eles foram para os lados, passaram em frente um do outro, depois se juntaram com os braços no centro e caminharam em linha reta. Não tinham notado, mas o feitiço de Viktor havia mudado, a música agora era outra, uma bruxa antiga da qual estavam fazendo a dança tradicional sem dificuldades. Como se já soubessem de cor. Como se, com o outro, fosse natural seguir aqueles movimentos.
— E perguntou para ele ao invés de falar diretamente comigo? — questionou Neville.
Viktor sorriu.
— Ele gosta muito de você, acho que narra suas conquistas melhor. Foi apenas uma impressão, mas achei que você iria diminuí-los em sua narrativa.
— Não foi você que disse que eu era sincero?
— Porém muito humilde. Você já estava para se diminuir.
— Hazz me superestima.
— Ou você que não notou seu próprio valor.
Neville mordeu o lábio enquanto giravam para seguir na outra direção e acabou admitindo:
— George não sabia como cortejar e pediu conselhos a mim.
Viktor, entretanto, apenas riu.
— Eu disse que você me daria a resposta eventualmente.
— Não está bravo?
— Não. Ele é seu amigo a mais tempo, seria rude não o ajudar. A decisão, no fim, é do Harrison. Impedir outros de tentar não adiantará de nada. Não que não seja frustrante notar cada dia mais que eu nunca tive chance alguma.
— Já vai desistir?
Viktor meneou com a cabeça.
— É isso que vim pensando durante toda a noite. Acho que sim. Acho que está na hora de desistir e ver Hazz como ele me vê, como eu o via antes, apenas um irmão mais novo.
— Por quê?
— Porque eu não tenho chance.
— Você não tem como saber.
— Eu tenho. Porque existe uma diferença gritante na forma como ele age comigo ou com o Weasley, por exemplo.
— Claro, você o conhece a mais tempo, tem muito mais intimidade com ele.
— E eu arruíno esse companheirismo que temos com sentimentos que não podem ser correspondidos.
— Não tem como saber sem tentar.
— Eu sei, Nev. Tem como saber sim.
— Então você vai desistir?
— Sim.
Eles pararam próximos a uma parede, giraram e se juntaram, Viktor guiando-os com calma via a expressão azeda de Neville e achou-a muito fofa.
— O que foi?
— Nada. Só não achei que você fosse o tipo que joga a toalha assim.
Realmente, uma expressão muito fofa. Nev sequer olhava nos olhos de Viktor, que sorriu.
— Todos têm de saber escolher suas batalhas. Não pense menos de mim apenas por isso.
— Mas Hazz não é uma batalha que vale a pena lutar?
— Não quando ele não me quer assim. Eu só estaria o incomodando, quando podemos ter algo incrível sem essa questão no meio.
— E você acha que controla seus sentimentos o suficiente para decidir apenas não os ter mais?
— Não sou tolo a ponto de pensar que será fácil.
— Mas então...
— Nev — Viktor chamou incisivo, fazendo o mais novo olhá-lo nos olhos de novo. — Eu apenas acredito que não é o momento, se for para acontecer não sou eu que tenho que insistir, eu só vou incomodá-lo.
Longbottom ficou em silêncio por um longo tempo, olhando para Viktor com aquela expressão zangada, como se estivesse engolindo um sapo que ficou preso na garganta.
Eles continuaram seguindo a dança e o silêncio se estendeu, ao que Viktor ficou aguardando observando o outro pacientemente.
Verdadeiro como era, Neville não aguentou segurar por muito tempo.
— Acho, então, que realmente não era para ser você com o Hazz. A pessoa que ele escolher deve ser alguém que nunca desistiria.
Viktor ficou surpreso com o quão ácido saiu aquele comentário relativamente inocente, mas percebeu algo que o deixou feliz.
Neville realmente se importava muito com Harry. Mesmo com toda a dúvida da corte, a frustração no rosto daquele garoto era aberta demais para ignorar.
— Bem, então chegamos à mesma conclusão. Não serei eu.
Longbottom não parecia satisfeito com aquilo. Seu rosto estava contorcido em uma careta que durou até o fim da música, mas logo outra começou a tocar e Viktor não soltou o garoto, forçando-o de certa forma a continuar.
Essa era menos contida, como se a magia sentisse que eles precisavam extravasar, os movimentos da dança se tornaram mais firmes, os rodopios mais rápidos. No silêncio que se seguiu entre eles, apenas a dança e seus rostos mostravam sinais do que estavam pensando.
E talvez não devessem pensar, estavam ali no começo para se distrair, mas agora ficavam frustrados novamente com suas situações, com a impossibilidade de seus sentimentos, as respirações ficando mais ofegantes conforme a música avançava.
Eles moviam-se com precisão, apesar de tudo, novamente como se sempre soubessem os movimentos a se fazer.
— Você está bravo comigo? — perguntou Viktor depois do primeiro refrão.
— Talvez.
— Você não vai desistir? De Ron?
— Vou, mas é diferente!
— Diferente como? Por que você se assumiu?
— Sim! — disse convicto, mas fez uma careta e negou com a cabeça. — Eu acho.
— Você quer que eu conte a Hazz? Isso vai te deixar menos chateado comigo?
— Não importa, você já desistiu. Contar a ele agora é inútil.
— Por que está tão chateado?
— Não sei.
No fundo, a música tinha apenas seus instrumentos, a voz da cantora que deveria acompanhá-la aparentemente não era replicada por aquele feitiço, mas Neville sabia a letra.
O amor é filho da boemia
L'amour est enfant de Bohême
Ele nunca jamais conheceu leis
Il n'a jamais, jamais connu de loi
Se você não me ama, eu te amo
Si tu ne m'aime pas, je t'aime
A magia devia estar brincando com eles. Neville dançava com raiva, uma confusão de sentimentos. Ele também desistiria, certo? Ele sempre soube, mas agora tinha certeza de que não era correspondido e provavelmente tudo ficaria pior com essa informação no ar. Se pudesse, o Longbottom nunca teria dito nada, não lhe deu qualquer tipo de alívio ou satisfação tirar aquilo do peito, só lhe causou uma angústia nova. Viktor só queria evitar aquilo.
Mesmo que Hazz não agisse diferente, seria assim, as coisas mudam depois de uma confissão dessas.
Porque Neville estava tão frustrado?
Provavelmente porque ele mesmo não tomou essa mesma decisão de desistir bem antes de chegar onde tinha chegado.
Quando a música acabou, outra começou em sequência e Viktor estava pronto para deixar Neville ir, se ele não tivesse ficado.
Sem dizer nada eles continuaram.
Continuaram dançando, tanto que começaram a suar. Mantinham-se pensando, deixando o coração acelerado mandar.
Não havia um motivo para aquilo, mas com o tempo a raiva de Neville cresceu, depois foi diminuindo, aos poucos, em cada lufada cansada de ar. Viktor foi paciente e esperou cada um daqueles mil sentimentos do mais novo o preencherem e passarem por seu rosto, sempre tão expressivo e sincero e pôde observar com fascínio enquanto se deixava pensar racionalmente.
Ele decidiu, ou percebeu que gostava de Harrison no começo daquele mesmo ano, surgiu e foi intenso, talvez como foi para tantos outros que igualmente se encantavam pelo Potter, mas antes disso ele sentia apenas um carinho inocente. O que tinha o feito mudar? O que poderia desfazer aquilo? Talvez apenas superar.
Seguir em frente.
Neville também sabia que deveria seguir em frente mas estava mortificado por sua tolice em verbalizar aquilo. Tornava tudo mais definitivo. Ele definitivamente estava com inveja de Krum que não passou pela mesma coisa.
Viktor tinha inveja da coragem de Neville.
Os dois rodopiavam.
Ali, visto de longe, pareciam um casal que tinha escolhido o próprio baile particular, dançando sob a lua, a vista das estátuas e vinhas nas paredes, eles se encararam. Viktor sorriu, um sorriso deprimido, mas que também tentava ser consolador. Neville suspirou e recostou sua cabeça no ombro alheio e se deixou levar. Krum o apertou mais.
Amanhã os dois teriam que lidar com as novas perspectivas. Hoje, porém, eles apenas dançavam.
Se você não me ama / Si tu ne m'aime pas
Se você não me ama, eu te amo / Si tu ne m'aime pas, je t'aime!
Mas se eu te amo, se eu te amo / Mais, si je t'aime
Se eu te amo, tome cuidado / Si je t'aime, prend garde à toi!
É isso, espero que tenham gostado!
Deixem aqui seus comentários de expectativas para o próximo capítulo (quem sabe uma ideia sua não me inspire e eu decida fazer? É a sua chance) e até semana que vem sem falta!
A propósito, me pediram uma imagem das roupas do baile que usei de inspiração. Essas são fotos de como o Harry está, porém de verde, não azul.
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