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Capítulo 5 - Encontro indesejado e dois homens mortos

Olá! Estou meio sumida porque a Amazon lançou um concurso de escrita Jovem-adulto e eu fiquei muito empolgada em tentar participar, mas isso me colocou na posição de escrever um livro original em menos de 3 meses e gente, que desafio. 

Eu vou voltar ao ritimo normal de publicações da fanfic em Janeiro, até lá meu hiperfoco está sendo meu livro, mas estou me mantendo viva no tiktok para matar saudade e não vou desistir da fic, só tenho menos tempo para ela e possivelmente vou fazer capítulos menores. 

Estou ansiosa para vocês conhecerem o mundo do meu livro e os personagens, torço muito que enquanto vocês esperam atualizações da fic, possam ler meu livro também. O primeiro de vários.

Não, não é o livro do Tom e do Lakroff, porque o livro deles é adulto e não se encaixava nas regras do concurso, principalemnte por causa da idade e conteúdo mais maduro deles (sim, os velhos continuarão sendo nossos senhores de idade e avós do Harry - ou quase) enfim! Continuarei com esse também a partir de Janeiro.

A fic segue em atualizações conforme disponibilidade de tempo, mas nunca que vou abandonar vocês. To bem aqui.

Espero que gostem!

No capítulo anterior de "Quem será seu herói?"...

"Muita coisa se passou pela cabeça do Weasley naquele momento e decididamente ele entrou em pânico.

Pensou em sua mãe, em como ela odiaria vê-lo indo em um baile formal, o seu primeiro, com um homem. Como ela veria aquilo como uma brincadeira de mau gosto dele. Como poderia fazer comentários horríveis que o fariam se sentir mal consigo mesmo por ser diferente dos irmãos e gostar do tipo de pessoa que gostava.

Como várias pessoas fariam comentários para ele durante todo o ano, como os jornais o destruiriam e tornariam toda a experiência de ir com um amigo, com Harrison, péssima o forçando a uma espécie de saída do armário onde mesmo sem se assumir, todos assumiriam sua sexualidade por ele e tudo se tornaria um inferno.

Ir com Harry Potter era a pior coisa que podia fazer e o apavorava.

....

— Na verdade, não foi brincadeira, se quiser ir comigo, eu me sentiria honrado em ser o felizardo que terá sua mão para dançar, alteza – admitiu.

O coração na boca.

Pânico total. Ele estava em pânico.

....

Queria ir com Harrison.

Queria ir com um menino e com alguém que pudesse se divertir. Era a melhor chance que tinha. Ele pensou no momento divertido e confortável na cozinha e como George se sentiu ele mesmo e confortável mesmo sem seu irmão, o que nem sempre acontecia. Como se sem Fred algo sempre faltasse, mas Harrison conseguiu o fazer se sentir completo sem nem tentar.

...

Harry respondeu:

— Eu quero.

Aquelas palavras fizeram George soltar o ar que vinha prendendo e agora apenas sorriu, apesar de querer gritar de felicidade. Não sabia como a ideia de que tinha recebido um sim poderia deixá-lo tão em choque, mas deixou.

....

— Nos encontramos na entrada de Hogwarts? – surpreendente sua voz não falhou.

— Claro.

— Perfeito então ...  Eu e Fred estamos indo, nos vemos mais tarde.

Fred teve a decência de não forçar o irmão a ter um ataque de pânico na frente de todos e se levantou animado, puxando o irmão pelo braço e se despedindo:

— Bom café a todos, eu desejaria boa sorte com o coração partido, mas parece que já superou alteza – e saiu, arrastando George para tentar manter o irmão o menos aparentemente tremendo que conseguiu.

...

Na mesa, houve um breve instante de silêncio chocado enquanto os gêmeos se afastavam, onde todos olharam para Harrison, que estava parado olhando para nenhum ponto específico, parecendo de repente tão alheio quanto Luna.

Quando ele se recuperou, estava olhando para a amiga:

— Eu tenho um par?

— Tem – ela concordou sorrindo.

— Você não pode ir com um homem! – escandalizou-se Draco Malfoy, o único que teve a coragem de dizer algo que muitos dos sonserinos pensavam.

...

— O lorde Black, meu padrinho, vai com um homem. O que me impede de ir também?

[...]

-x-x-x-

George queria dar a Harrison o seu eu verdadeiro e fazê-lo se divertir com ele. Isso o faria feliz, faria George sentir-se completo de uma forma que só podia mostrar para o irmão até então, mas Harrison mostrou todas as fraquezas para eles, lhes confiou suas dores e fragilidades, George não podia perder para as suas.

Harrison, como era costume, cuidaria dele de volta.

Um dragão que adota o mundo.

Mas gostaria de mostra-lhe um mundo onde poderia sair de sua caverna e voar despreocupado pelo céu.

Ele faria isso.

Sua mãe teria que aceitar George assim.

Se Harrison, um amigo podia, porque não a mulher que lhe deu a vida?

O grifinório se levantou do sofá com essa motivação:

— Vou mandar uma carta para ela.

— Como? – perguntou Fred.

— Mamãe vai saber por mim, não pela maldita Rita Skeeter.

— O que você pretende dizer a ela?

— Tudo.

[...]

-x-x-x-

Lakroff estava tocando violino intensamente quando Tom Riddle entrou na sua sala pela madrugada.

....

— Você está arriscando demais – observou, sem nem responder ao cumprimento.

Lakroff, com aquela frase, já sabia exatamente a que a horcrux se referia e apenas suspirou, colocando seu violino na caixa:

— Eu sou um homem de riscos, criança.

— Não deveria, não agora.

— Você ouviu o que Harrison disse. Você é dele agora, não de Voldemort. E eu, como alguém que jurou protegê-lo, vou proteger também suas coisas.

— Não me chame de coisa.

Não se preocupe querido, você é a mais bela e complicada delas.

....

— Você me traiu.

— Sim. Contei a Harrison o que você queria.

— Eu te odeio.

— Não sempre, mas decididamente deve estar com ódio agora.

[...]

— Não sei porque eu achei que poderia confiar em você! De todas as pessoas! Você vai nos afundar como já fez antes com seu último grande plano! Parabéns! Tomou todas as decisões erradas! De novo! E não reconhece seus erros, você é tão idiota! É exatamente igual a Gellert!

[...]

— Eu? Igual a Gellert?

Tom não recuou:

— Pior, porque continua cometendo as mesmas falhas como um tolo.

— Gellert desistiu de uma guerra e um exército por amor.

— E você desistiu de matar um único homem e por quê?

— Eu decidi matar outras centenas.

Aquela frase surpreendeu Tom, que não soube o que responder. Principalmente quando o homem continuou:

— Não sou como Gellert, Riddle – Tom não tremeu, ele se recusava a tremer, mesmo diante de seu nome na boca daquele homem. – Eu sou muito pior. Acha que eu falhei em te matar? – ele se aproximou e agarrou o rosto de Tom.

[...]

— Você falhou – apertou Tom.

— Eu escolhi quanto você valia. Quanto valia a vida de um lorde das trevas idiota.

— Você não tinha esse poder.

— Mas fiz. E sabe quanto vale, Tom?

— Você – mas o mais novo foi interrompido.

Lakroff lhe entregou com força um caderno de capa de couro. Marvolo olhou para a coisa confuso e soltou sua vítima, seus próprios olhos deviam estar vermelhos, ele abriu a agenda e viu várias palavras escritas na caligrafia do outro:

— Que é isso?

[...]

— Minhas visões. Todas elas – concedeu Lakroff, respirando fundo para diminuir sua raiva [...] Todos que vão morrer, os massacres que Voldemort causará por estar vivo. Tudo que escolhi que aconteceria para te manter vivo [...] — Não sou como Gellert – repetiu, talvez mais para si mesmo, porque precisava dizer alguma coisa, precisava soltar aquela fúria de alguma forma que não fosse contra a pessoa à sua frente.

[...]

— Acho – Tom sussurrou, porque talvez se falasse aquilo em voz alta ficaria ainda mais feliz e tinha plena ciência do quão doentio era aquilo – que essa é a melhor declaração que já recebi de alguém.

— Como é? Declaração? – questionou Lakroff.

— Olha que muitos tolos ousaram declarar intenções para mim.

— Eu não fiz isso.

— Fez.

[...]

Tudo que Lakroff Mitrica menos poderia desejar no seu dia era encontrar Aberforth Dumbledore.

Decididamente não conseguia pensar em outras formas mais eficazes de estragar seu dia.

Que merda.

A vida o odiava.

— Gellert – a palavra odiosa escorreu como um insulto pela boca do Dumbledore, que conseguia ser ainda mais alto que Lakroff.

E na sua opinião, era mesmo um insulto.

— Lakroff – corrigiu tenso, pronto para uma batalha.

Aberforth o atacaria, ele não tinha os escrúpulos ou as testemunhas que importariam para Albus e que o impediam de atacá-lo exatamente como se fosse Gellert.

Se levantasse as mãos e se rendesse, será que contaria no julgamento?

Haveria um julgamento. Provavelmente. Ao menos espalharia por aí a existência do irmão de Albus e faria o dia de Rita mais feliz.

E os próximos meses de vida de Aberforth, com sorte, mais infelizes.

Nada contra ele, mas foi o homem que o atacou primeiro.

Estava pronto, mas sua cabeça chiava.

Aberforth ajeitou a postura, ficando ainda maior e resmungou:

— Lakroff? Você? Está brincando, não é? Quer que eu acredite nisso?

— A anta do seu irmão não entende a diferença, quem é você para fazê-lo, não é mesmo?

Capítulo 5 — Encontro indesejado e dois homens mortos

"Apocalipse 12:7-9: Então houve guerra no céu: Miguel e os seus anjos batalhavam contra o dragão. E o dragão e os seus anjos batalhavam, mas não prevaleceram, nem mais o seu lugar se achou no céu.

E foi precipitado o grande dragão, a antiga serpente, que se chama o Diabo e Satanás, que engana todo o mundo; foi precipitado na terra, e os seus anjos foram precipitados com ele".

Tudo começou uma hora antes.

Ou melhor, um dia antes.

Na segunda sexta-feira de dezembro, Lakroff foi pego de surpresa pela pergunta de Katharina Wakrot na mesa do café da manhã:

— Então, lorde Mitrica, quem será seu par no baile?

E o homem percebeu que nem por um segundo pensou em um par.

Imediatamente, ele se lembrou de Tom, de como ele não poderia ser seu par, mesmo que fosse a única pessoa que quisesse levar, então apenas fez um gesto com a mão, dispensando a ideia:

— Não tenho um.

— Quer ir comigo?

"Não" foi a resposta imediata que pensou.

Não que a professora de oclumência fosse uma opção ruim, mas de repente estava muito ciente de uma certa horcrux não iria querer aquilo.

Que Lakroff aceitasse um convite para o baile.

"Quero que diga que é meu".

A frase retornou a ele num sussurro gélido em seus ouvidos e quase o fez se arrepiar.

Fazia uma semana desde aquilo e ainda reagia tão mal...

"Não querida, não posso ir ao baile com você porque já tenho dono" foi quase a segunda resposta que lhe veio, mas também não podia dizer aquilo.

No lugar, sorriu e inclinou a cabeça:

— Agradeço o convite, é realmente muito gentil e encantador, mas terei de declinar. Sorte que não acredito estar decepcionando nenhum sentimento seu por mim, imagino...

— Não, de forma alguma – acrescentou de imediato a mulher. – Que isso, não – e riu, como se gostar de Lakroff para ela fosse uma piada engraçada. Ele quase se sentiu ofendido. – Apenas todos já encontraram um par.

Lakroff se empertigou:

— Eu fui a última opção?

Os outros professores da Durmstrang, aquelas pestes, riram de si. Katharina inclusa:

— Não, querido. Foi o primeiro que convidei. Entretanto, percebi, conversando aqui com Jaminke e Sinistra, que todos os nossos colegas já estavam se adiantando e tinham pares. Eu quis confirmar com o senhor se era um dos que já estava comprometido e se era alguma obrigação para nós, professores, encontrarmos um.

— E teve a ideia de me chamar quando viu que eu estava disponível?

— Exatamente.

— Mas eu lhe disse que não tenho – murmurou o professor de magia marcial parecendo bem indignado que a colega simplesmente ignorara esse fato e preferia Lakroff.

Katharina negou com a cabeça:

— Você não conta, Jaminke.

Os colegas, agora Lakroff incluso, riram.

— Oh, não, os professores não têm qualquer obrigação de levarem um par – supôs Sinistra, olhando para o professor Dumbledore. – Certo, Albus?

— Não, suponho que não. Apenas estarão perdendo a oportunidade de dançar.

— Basta convidar alguém no dia para tal – resmungou Severos. – Nossa função não é ficar rodopiando por aí com os alunos, mas vigiá-los para que não façam nada de errado durante o clima de festa.

Minerva acenou:

— Eu concordo.

Pomona negou com a cabeça:

— Mas daí perder a oportunidade de um baile? Poderíamos nos revezar para fazer vigílias e ainda aproveitar a noite – sugeriu.

Lakroff assentiu:

— Eu concordo com a senhorita Sprout.

A mulher gordinha deu uma risadinha pelo uso de "senhorita" para se referir a ela.

Tinha de ser o lorde Mitrica, sempre tão charmoso.

Albus se segurou para não revirar os olhos ou bufar, no lugar colocou seu bom e velho sorriso no rosto:

— Exatamente o que pensei, senhores, senhoras. Acredito que podemos nos juntar ainda hoje para decidir os períodos de vigília, mas com certeza acredito que todos devem ter a oportunidade de ao menos duas horas no salão de dança com seu acompanhante.

— É opcional, eu imagino – Snape resmungou e Sirius riu.

— Você pode levar seu caldeirão se quiser, Severus.

— E você trate de segurar bem a guia da coleira de seu noivo.

— Não comecem os dois – ameaçou Minerva.

Sirius riu de novo, mas se calou.

— Pois eu acho muito adequado que façamos assim – disse madame Maxime, muito elegantemente.

— Esta noite podemos fazer a reunião na minha sala, então? Às dez? – chamou Albus.

Todos concordaram.

— Nossos pares podem não ser professores? – perguntou Igor e todos o encararam em choque.

Lakroff faltou bater-lhe:

— Você está pretendendo chamar um aluno?!

— Não! – indignou-se. – Claro que não, vocês acharam que eu me referia a isso?

— Que alívio, por um segundo achei que ele tinha decidido ir mais fundo em formas de ser um escroto – murmurou Margriet.

Igor franziu o cenho em sua direção:

— Como foi, professora?

— Nada, diretor.

Lakroff, entretanto, ainda não estava completamente tranquilo com a pergunta:

— Em que buraco pútrido do inferno pretende tirar alguém disposto a ir com você? – a pergunta saiu neste nível de grosseria antes que pudesse se conter, seus colegas (e até alguns em Hogwarts) arfaram de surpresa ou seguraram-se quase engasgando para não rir.

Igor, entretanto, já estava acostumado com Lakroff e não se importou com a pergunta:

— Achei que poderia chamar uma velha amiga.

"Você tem amigos?" Lakroff quis muito perguntar, mas era melhor segurar enquanto estivesse em público, já tinha cometido um deslize flagrante.

Madame Maxime estava olhando para ele horrorizada pela falta de modos com um "superior".

Manter Igor Karkaroff como diretor a cada dia era um suplício maior.

— Não tem problema convidar alguém de fora, certo, Albus? – o homem quis confirmar.

— Não, de forma alguma, nosso Sirius chamará Remus, você, é claro, tem o mesmo direito.

Alguns, inclusive Severus, não perderam a forma como Sirius Black pareceu perdido e meio abatido por um segundo antes de enfiar uma boa quantidade de pão na boca.

A conversa seguiu por aquele rumo e alguns professores começaram a mencionar entre seus próprios grupos possíveis pares para o baile, seja colegas ou pessoas de fora.

Lakroff se inclinou para mais perto de Karkaroff e conseguiu perguntar quem raios aquele homem pretendia convidar.

Samanta Xatwin.

— Mas de jeito nenhum! – resmungou Lakroff quando saíram do café da manhã e ele pôde enfim arrastar o diretor para uma sala vazia.

Ele sentia sua têmpora arder de dor e raiva desde que ouvira aquele absurdo e se segurar à mesa para não matar seu servo idiota foi complicado, para dizer o mínimo.

Igor, burramente, teve que perguntar:

— Por que não?

— Você pretende chamar a viúva negra?! Seu objetivo de vida é morrer?! Então por que me fez concordar em ajudar a salvar esse traseiro flácido?!

— Você acabou de falar que eu tenho bunda flácida?

— Você mal tem nádegas, não há nada para olhar aí, lhe garanto, estou mais incomodado com onde você está querendo enfiar ela.

— Samanta é uma velha amiga.

— É a viúva negra! – repetiu como se fosse óbvio.

E que infernos, não era óbvio?

— E eu sou pobre – rebateu Karkaroff, no mesmo tom de obviedade.

— Você é um rato traidor e ela serve ao mestre que você desonrou!

— Samanta não encontrará vantagem alguma em me envenenar.

— Eu posso encontrar uma.

— É um bom meio de coletar informações também.

Lakroff fechou os olhos e inspirou fundo, contou até cinco, depois até quinze.

— Que quer dizer com isso? – conseguiu perguntar além da raiva.

— Samanta sempre sabia de tudo, ela era um meio de informações do lorde das trevas.

— E você – "um burro sem precedentes" acrescentou mentalmente. –, acha que vai conseguir tirar informações dela? Depois de tudo?

— Samanta é como eu, ela denunciaria quantos fossem, derrubaria todos em prol de sair bem viva e rica no final da história, ela não julga meus métodos se houve resultados.

— Ela é casada.

— Posso convidá-la, acredite, funciona assim com Samanta.

— É indecoroso aceitar o convite de outro homem quando se está comprometida.

— Não se o marido estiver doente.

— O marido dela está doente?

— A este ponto? Se já não estiver, vai começar a ficar.

— Essa mulher deve ter o melhor sexo do mundo, porque nada além da mente simplória de um homem hétero me faz entender como ainda arruma pretendentes – murmurou, revirando os olhos.

Certo. Podia pensar sobre isso.

Karkaroff provavelmente receberia um não de toda forma, a menos que Samanta estivesse interessada em buscar informações para Voldemort.

Ou não estivesse mais entre seus homens (e mulheres) de confiança, e quisesse se aproximar de alguém para conseguir ela mesma algum norte. Um idiota como Karkaroff saberia pouco, mas falaria tudo, ela aceitaria o convite por isso.

Não tinha nenhuma visão sangrenta com o baile de Hogwarts, podia chamar a mãe de um dos alunos para dentro da escola sem que aquilo causasse um enorme problema e Lakroff poderia puxar conversa com a mulher e conseguir ele mesmo alguma coisa.

Talvez.

Ela viria de luvas? Era marcada? Provavelmente não, não se lembrava dela em nenhum julgamento que tenha lido, saiu ilesa. Uma peça interessante.

Perguntaria a Riddle primeiro, depois daria sua autorização ou não a Karkaroff:

— Me dê dois dias e direi se pode convidá-la ou não.

Igor ainda acrescentou alguns detalhes de como conseguiria reunir informações de Samanta, mas suas ideias de como manipular uma conversa eram tão ineptas que Lakroff apenas faria ele mesmo um plano de ação e daria a Igor para obedecer, se fosse mesmo o caso de convidar aquela mulher.

O próximo evento em cadeia que desencadeou o encontro de Lakroff no dia seguinte com Aberforth Dumbledore foi Sirius Black.

— Eu não entendo, por que ele "não pretende ficar para o baile"? – reclamou em seu escritório à noite.

Lakroff tomou um gole do vinho.

— Eu tenho uma pergunta.

— Diga.

— Você não se preocupa em ser visto entrando tantas vezes no barco da Durmstrang?

— Eu conheço várias passagens interessantes e você fez o favor de escolher parar o barco perfeitamente em um ponto cego da torre do diretor.

— Quem disse o absurdo de que isso foi intencional?

Mas o sorriso de Lakroff já entregava tudo.

— De toda forma – Sirius cruzou os braços. – Está incomodado com minhas visitas?

— De forma alguma, foi uma questão que me veio à mente. Voltando a Remus, ele não disse que estaria ocupado com um ritual e precisava seguir a fase da lua?

— Mas é uma noite só! – reclamou choroso. – Seria nosso primeiro baile juntos! Será que o presente não foi o suficiente? Eu não devia ter dado a pena, tinha que ter sido algo envolvendo o baile, como você tinha dito, eu sou um idiota.

— Acalme-se, tenho certeza de que o presente não influenciou em nada isso.

Sirius, entretanto, parecia certo de que ele tinha causado o problema e começou um discurso sobre como fazia as coisas errado e que ele tinha que arrumar um presente perfeito para aquele fim de semana.

Lakroff tomou duas taças durante aquela ladainha antes de ouvirem a porta bater.

— Entre – gritou Lakroff para a porta.

Qual foi seu espanto ao ver Riddle entrando. Mal conseguiu conter um sorriso besta, mas o matou assim que o notou.

— Black está aqui de novo? – perguntou Tom. – Não será muito revelador se virem você entrando no barco da Durmstrang com tanta frequência? – e mudando sua atenção para Lakroff perguntou: – Tem cigarros?

— Tenho alguns no armário – respondeu, se levantando.

Sirius voltou a explicar que estava tomando os devidos cuidados para não ser visto e Riddle, é claro, não se deu por convencido e fez um interrogatório completo das medidas tomadas por Sirius antes de, por fim, dar um aceno muito revelador com a cabeça.

Aquilo pareceu um enorme elogio para Sirius, como se soubesse que ganhar um aceno aprovador de Thomas Harris fosse um feito e tanto, por isso não escondeu o sorrisinho satisfeito que conseguiu depois de se aprumar como um pássaro.

Lakroff pensou em pelo menos dez piadas diferentes para fazer sobre isso, mas apenas levitou sua cadeira para próximo das duas poltronas no fim da sala e um cinzeiro que tinha comprado para Tom na mesinha. Por fim, decidiu ir direto ao ponto com sua conversa com o Black:

— Sirius, vou falar com Remus, está bem? É seu primeiro ritual como professor em um instituto de artes das trevas, ele só quer fazer tudo direito, mas tenho certeza que pode tirar algumas horas para vir, ao menos para dançar um pouco. Não posso convencê-lo pela noite inteira, isso você terá que respeitar, mas algumas danças você terá com seu noivo.

— Isso é perfeito. Obrigado, Lakroff. E o presente?

— Presente?

— Será que você não consegue com aqueles seus contatos de novo? Por favor, por favor, eu pago o dobro – e juntou as mãos em frente ao rosto, pedindo com os olhos pidões de cachorro.

— Você estará no beco diagonal amanhã para seu encontro e quer que eu consiga?

— Eu não vou conseguir que façam tão rápido, mas você tem o Yiakin e vai ter tempo, eu estarei cortejando Remus e...

— E quem disse que eu terei tempo?

— Por favor, por favor, eu fico te devendo essa.

Lakroff levantou uma sobrancelha inquisitória.

— Quem disse que eu terei tempo?

— Por favor – repetiu Sirius. – Eu faço o que você quiser.

Tom riu:

— Isso é a última coisa que se deve dizer a qualquer homem ou mulher no mundo, Black. "Eu faço o que for, o que você quiser" – e tragou seu cigarro. – É um risco tremendo e apenas um grifinório impulsivo seria tolo ao ponto de não perceber o perigo implícito em uma promessa como essa – então apontou o cigarro para o animago. – Oferece muito poder ao outro sobre você. Poder que não deve querer ninguém tendo.

— É Lakroff – dispensou Sirius.

Tom tornou a dar uma risada sarcástica e venenosa:

— Por isso mesmo. Não venda sua alma para o diabo só porque ele tem uma carinha de bonzinho. Lúcifer era o mais bonito dos anjos.

— Que galanteador – murmurou Lakroff, sorrindo para Tom. – Mas nós dois sabemos que se alguém fosse Lúcifer, seria você, querido. Eu sou apenas um dos anjos que foi enganado por suas palavras e traiu o céu em prol de fazer suas vontades.

— Você não foi enganado, sempre foi podre. Só quis uma desculpa e alguém em quem colocar a culpa para não sair como o monstro que sempre foi.

— Somos uma dupla perfeita então.

— Sem querer interromper o flerte de vocês – murmurou Sirius. – Mas já interrompendo, eu nem sei direito do que estão falando.

Tom negou, com a cabeça resignado. Esqueceu por um instante que mesmo sendo um traidor de sangue, Sirius ainda era um maldito sangue puro:

— Religião trouxa – esclareceu.

Lakroff sorriu:

— Já eu estou chamando Tom de mais belo, talentoso e próximo da divindade anjo já feito.

Sirius revirou os olhos. Aqueles dois precisavam urgentemente aceitar o que sentiam um pelo outro.

Era assim que James se sentia vendo Sirius e Remus em Hogwarts?

Talvez estivesse devendo uma visita ao túmulo do amigo para admitir que estava certo.

Era frustrante.

Tom, por sua vez, apenas soprou fumaça na direção de Lakroff antes de dizer:

— Também me chamou de Satanás. O pai da mentira, da competitividade e da ambição desenfreada.

Lakroff riu:

— Melhor definição para você impossível, não acha, querido?

— O mentiroso aqui é você, nota de centavos.

— Mas eu não sou tão bonito para ser Lúcifer.

Tom olhou Lakroff dos pés à cabeça com um sorriso muito convencido:

— Se eu não estivesse na competição, você até dava para o gasto – e até Sirius riu disso. – Mas tem o talento musical, se te serve o consolo.

— Ah sim, o maior músico do céu. Mas a arrogância é toda sua, não é mesmo? "...Eu subirei ao céu; acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono; e no monte da congregação me assentarei, nas extremidades do norte; subirei acima das alturas das nuvens, e serei semelhante ao Altíssimo" Isaías 14:13-14.

Tom inclinou-se na poltrona e fumou, fazendo o ar sair dos pulmões em uma nuvem redonda perfeita:

"Contudo, serás precipitado para o reino dos mortos, no mais profundo do abismo" – recitou, perfeitamente ciente de tudo que era dito sobre os anjos pecadores naquele livro odioso.

Foi lido para ele em exorcismos vezes o bastante.

Em sua vida e, infelizmente, na de Harry.

A passagem era ridiculamente adequada para Tom Riddle, entretanto. Quase que feita diretamente para si. O lorde das trevas que ousou querer um posto acima das limitações da própria magia e da ordem natural, próximo ao divino, abandonou a mortalidade, sendo jogado ao mais profundo abismo em um reino de morto-vivo.

É, se não fosse por seu próprio anjo de luz em forma de criança para iluminar o caminho, o quão escuro teria sido o abismo?

O anjo que se tornou insano apesar de toda a sabedoria, beleza e talento que Deus lhe deu e que perdeu tudo, ao desejar demais.

Era a mesma maldita história, chegava a ser profético.

Tom suspirou e voltou a tragar seu tabaco:

— Posso ser Lúcifer, mas Lakroff não é um santo, Black. Apenas tome cuidado com o que promete a ele ou tomará sua alma. Você nunca sabe, entre as pessoas, qual é um anjo caído.

Lakroff sorriu:

— Sirius, pode confiar sua alma a mim, eu não lhe faria mal.

Sirius negou com a cabeça:

— Obrigado, mas a minha já tem dono.

— Ah, os jovens apaixonados.

— Não – e riu. – Não me referia a Remus. Minha alma ficará para o nosso pequeno lorde das trevas, quando ele assumir o posto, é claro.

As risadas de Tom e Lakroff foram imediatas. Eles praticamente podiam ouvir Harrison ali gritando que não era um lorde das trevas, com aquela voz irritada tão fofa em um garotinho.

Quando Lakroff se recompôs, ele foi atrás de mais vinho enquanto falava:

— Está bem, eu faço uma visita ao beco diagonal amanhã, Sirius, e te entrego seu presente. Onde você e Remus vão se encontrar?

— Vamos almoçar no Grelha do Duende.

Tom conseguiu segurar sua pergunta sobre o que raios era aquilo, não existia na sua época e não tinha nome de um lugar decente para se cortejar alguém, nem tinha visto na visita de Harrison ao beco, mas falar algo do qual não sabia poderia ser suspeito.

Por sorte, Lakroff também não reconheceu:

— O que é isso?

— Uma churrascaria de carnes mágicas, é bem famosa, pergunte e vão indicar. O dono, dizem que é um duende, e os pratos vêm acompanhados de molhos encantados que aumentam ou diminuem de intensidade conforme o gosto do cliente. Além de que, se você pagar e souber a quem pedir, eles servem alguns pratos com criaturas mágicas. Não sei se isso é verdade, mas achei que na semana depois da lua cheia Remus ia ficar bem feliz em pôr os dentes em alguma carne diferenciada, mesmo que não admita. Como é uma churrascaria, ele não vai se sentir tão desconfortável como num restaurante chique e podemos passear pelo beco depois. Quero ficar lá até a noite por lá e levá-lo ao Caipirinha de Caldeirão, se o presente demorar para ficar pronto, estaremos por lá ainda.

— Certo, esse eu também não conheço, é um bar?

"Bendita seja a boca direta de um Mitrica" pensou Tom.

— Um café-bar que serve bebidas alcoólicas e não alcoólicas com uma pegada mística – Sirius riu. – É o que diz o prospecto. O cardápio tem algumas coisas interessantes, como a "Poção da Lua", um café que reflete as fases da lua, mas também a famosa "Caipirinha de Caldeirão", uma versão mágica de uma bebida brasileira, servida em pequenos caldeirões que brilham. Leandro que recomendou, para falar a verdade.

Lakroff estreitou os olhos:

— Leandro recomendou? Quando isso? Antes ou depois de vocês pregarem aquela maldita pegadinha nele?

Tom espantou-se:

— Pegadinha?

— Esqueci de mencionar essa. Eles deram Wolfsbaner para o Leandro na semana da lua cheia e roubaram suas roupas. Todas. E trocaram a varinha dele por uma de açúcar.

Houve um breve momento de silêncio espantado, onde Riddle apenas encarou Lakroff, a troca de olhares foi o suficiente, os dois sabiam que o casal Black estava acabado.

Só eles não sabiam ainda.

O brasileiro viria com tudo.

Tom revirou os olhos:

— Pelas mamas flácidas de Morgana Lefay, vocês são idiotas por acaso? Esqueça, já sei a resposta. É sim.

Sirius engasgou com sua bebida, que saiu pelo nariz, o forçando a enxugar na própria manga. Lakroff correu ajudá-lo com um lenço e usou alguns feitiços de limpeza para ajeitar a bagunça que o Black tinha feito. Quando tudo estava no lugar e Sirius respirando normalmente de novo, a primeira coisa que conseguiu dizer foi:

— Você acabou de falar da teta caída de Morgana?

— Você invocou a fúria de Leandro Spinosa, essa deveria ser sua preocupação, não o que eu digo.

Lakroff levantou a mão, como um aluno querendo falar em aula:

— Eu tirei uma foto deles quando fizeram a coisa, agora é esperar a retaliação.

— Vocês estão exagerando – murmurou Sirius. – Leandro levou numa boa, ele está até na foto.

— Como assim?

— Ele pediu para Lakroff tirar uma foto dele com o roupão que roubou de um dos professores e a gente. Disse que era para lembrarmos do dia que ganhamos o respeito dele, pela – fez aspas com as mãos – "ousadia" – e riu. – Ninguém conseguia emprestar roupas para ele porque o Leandro é muito grande para caber em qualquer uma, e você sabe, não é todo mundo que conhece feitiços de expansão de roupa, ele teve que ficar no quarto de roupão o resto do dia até o marido chegar para lhe dar algumas.

"Pobres coitados" pensou Tom, mas preferiu não falar nada.

— Eles enterraram as roupas, Leandro teve que ficar como lobo e cavar no dia seguinte para recuperar – contou Lakroff.

Tom apenas cruzou as pernas e pegou um segundo cigarro:

— Você vai registrar tudo, não é?

— Leandro não pediria a foto se quisesse diferente.

— Perfeito.

Sirius inclinou a cabeça curioso:

— Não achei que fosse do tipo que se importa com guerras de pegadinhas, Thomas.

Tom apenas cantarolou e focou-se em acender seu cigarro.

Ele não se importava com guerras de pegadinhas ou frivolidades do tipo.

Até habitar o corpo de uma criança por anos.

Dividir sua alma e por vezes sua maturidade.

A vingança do brasileiro, sem dúvidas, seria divertidíssima de assistir. Era quase lamentável que pudesse perder a coisa ao vivo, então é claro que queria os registros. Black só não sabia o tipo de coisa que tinha atiçado em sua direção e o atropelaria como um cachorro perdido na estrada, pego por um caminhão.

— Está bem, de toda forma isso é problema para depois, se for um problema – murmurou Sirius. – Como Lakroff disse que vai me ajudar com o presente amanhã – se levantou e bateu nas pernas. – Vou me retirar para deixar os dois sozinhos, já que eu sou um bom amigo – encarou acusadoramente Lakroff. – Diferente de alguns!

— Eu disse, você já tinha me interrompido uma vez, foi apenas retaliação.

— Foi sem querer e eu saí assim que pude.

— Eu também saí assim que vocês começaram a planejar aquela pegadinha.

— Mas daí o clima já tinha acabado.

— Olha só, entendeu agora?

— Mas o clima de vocês nunca acaba, que caramba, vocês estão sempre se paquerando!

Tom sentiu-se ofendido:

— Ele está sempre se oferecendo, é diferente!

— E você nem sempre recusa – piscou Lakroff.

Tom revirou os olhos.

Sirius achou melhor nem argumentar:

— Tchau para os dois – e saiu, sem esperar uma resposta.

Tom se acomodou mais no assento e deixou para trás o cigarro, apagando-o no cinzeiro:

— E então? Harrison disse que queria falar comigo.

— Samanta Xatwin, Igor quer convidá-la para o baile. O que acha?

Tom pensou um pouco sobre aquilo, nem demonstrando surpresa. Lakroff notou que provavelmente era verdade, então, que de alguma forma Karkaroff havia conseguido fazer amizade com a mulher, algo que Voldemort tinha ciência quando estavam em seus círculos de ação.

Após quase um minuto inteiro, Tom enfim respondeu:

— Acho adequado, pode ser útil se soubermos jogar. Samanta é muito astuta e está acostumada com Karkaroff, ele não poderá sair muito do papel, mas deve ser direcionado.

— Vale o risco?

— Pelas informações de Samanta? Sim. Ela é uma perfeita socialite, se há algo interessante acontecendo entre as famílias antigas, ela saberá.

— Como um baile.

— Como um baile – concordou, lembrando-se das anotações de Lakroff. O caderno de suas visões que Tom lera no dia seguinte que recebeu.

E depois queimou.

Aquelas informações jamais deveriam ser de ninguém, Harrison o perdoaria, mas era um presente seu que manteria guardado para si o quanto pudesse.

Seu.

Como o homem à sua frente.

Tom estreitou os olhos e perguntou:

— Com quem está pensando em ir ao baile?

— Você.

— Impossível, agora fale o que está pensando realmente.

— Pensei em Augusta Longbottom, mas é muito suspeito, então talvez pergunte à minha filha se quer o convite para ter sua chance de gritar com Harrison cara a cara na frente dos amigos dele, ou algo assim.

Isso tirou uma risadinha divertida de Riddle.

O que, em consequência, fez Lakroff sorrir. Adorava quando conseguia tirar uma reação sincera daquelas do homem.

— Os professores fizeram turnos para ficar de olho nos alunos e eu também recebi duas horas de pausa, pensei que no máximo dançarei com alguma de minhas colegas uma ou duas danças, isso se o fizer, apenas se for indelicado não as convidar.

Tom lambeu os lábios lentamente, a expressão intensa na direção do Mitrica, mas não disse nada. Lakroff era um homem assumida e decididamente gay e não conseguia achar uma justificativa boa o bastante para que ele não educadamente fizesse o que era decoroso em um baile e chamar uma dama para dançar, ainda mais uma de seu corpo docente. Era politicagem, garantir sua imagem de professor sempre acessível e simpático.

Mesmo assim...

Só de lembrar como o homem falava com as mulheres, como iria oferecer a elas gracejos e mostrar-lhes seus dons em uma pista de dança.

Tom odiou a ideia.

Seu orgulho não o permitia dizer algo de toda forma, então apenas estreitou os lábios e decidiu que não ligaria. Ele era mais forte do que sua irracionalidade possessiva.

E Lakroff ainda era seu.

Isso não mudaria o fato.

Elas sequer teriam o verdadeiro Lakroff para dançar. Que ficassem com a farsa por dois minutos de música e se encantassem. Nem a farsa lhes daria mais do que uma educada atenção antes de dispensá-las à sua insignificância.

O Mitrica, por sua vez, apenas mordeu o interior da boca para conter o sorrisinho que tentava lhe escapar.

Tom estava com uma expressão tão azeda que era delicioso de se assistir.

Talvez ele fizesse questão de dançar cada maldito minuto de suas horas de pausa só para vê-la pior ainda depois do baile.

— Podemos dançar ao fim da noite – sugeriu, conseguindo controlar a diversão na voz. — Aqui. Só nós dois – e se levantou, indo até Tom e se abaixando diante dele.

Um joelho no chão, outro levantado onde apoiou seu braço, olhos encarando diretamente aqueles castanhos belíssimos:

— Será que você, Tom Marvolo Riddle, me daria a imensa honra de ser meu par para o baile de inverno?

Tom sorriu, um sorriso ardiloso, de cobra, de quem tinha um homem ajoelhado à sua frente que ele poderia olhar de cima com toda sua superioridade arrogante.

Ele se inclinou levemente, apenas para ficar mais próximo de Lakroff e sussurrou com aquela voz sedosa, mas escorregadia:

— Normalmente, se oferece um presente junto do convite.

Lakroff sorriu:

— Quer mais, milorde?

Como se ele já não tivesse dado tudo que era a Riddle na semana anterior. Quase como se soubesse, e talvez fosse o caso, o sorriso de Tom ficou ainda maior enquanto ele inclinava a cabeça de um lado para o outro, pensativo, observando como uma serpente.

Venenosa, mortal.

Deslumbrante.

Uma mamba-negra. Um basilisco. Em todo seu esplendor.

Ele falou, como o silvo de uma criatura divina e serpentina:

— Eu seria o diabo se não quisesse tudo e depois, algo além disso? Além das estrelas?

— A ti darei até as estrelas se assim desejar, milorde.

Tom sorriu, os dentes brancos enfim à mostra, mais traiçoeiro do próprio satã:

— Eu aceito ser seu par no baile.

E Lakroff teria que lhe dar o melhor presente de todos.

Foi com essa missão absurda e enervante que se viu no sábado, aparatando para o beco diagonal, ansioso para resolver a coisa de Sirius para que pudesse pensar logo no que raios daria para o homem mais inalcançável que já conhecera.

Talvez se ele usasse logo de uma vez um feitiço para dar seu coração em um jarro de vidro, Tom ficaria minimamente satisfeito.

"Credo" pensou, negando com a cabeça. Não era hora de pensar em uma coisa ridícula daquelas.

Era hora de completar uma missão.

Ele tinha o beco diagonal, que era mais significativo para o próprio Tom, com toda a história de órfão conhecendo o mundo mágico pela primeira vez, ou – no caso de não achar nada que valesse ali – Baba Yaga, sua cidade. E precisava de ideias. Com certeza, muitas.

Seu cérebro estava fritando e quase não conseguia ver direito o caminho à sua frente quando sua barriga roncou por volta das três da tarde.

E ele estava ali desde as sete.

Like a bat out of hell, ou como era conhecida, Bat Hell, é uma rede de fastfood bruxa, como Lakroff e seus filhos se referiam. Um restaurante onde os pratos são preparados magicamente em segundos que oferece sanduíches de Nogtail (Rabicurto) grelhado, saladas de ervas encantadas e "Batatas Enfeitiçadas", que eram basicamente batatas fritas comuns, mas que mudam de formato no prato. Era ideal para bruxos com pouco tempo, como Lakroff, por isso ele entrou.

[N/A: A expressão " Like a bat out of hell" ou "como um morcego saindo do inferno" provavelmente se originou da associação dos morcegos com a escuridão e seus padrões de voo rápidos e imprevisíveis. Os morcegos são conhecidos por seu voo rápido e ágil, e a frase transmite a ideia de algo ou alguém se movendo com velocidade, urgência ou pressa extraordinária, como se estivessem escapando de uma situação perigosa ou caótica, ou um lugar provavelmente cheio de luz como o inferno. Esta expressão idiomática é usada para descrever algo ou alguém que se move com extrema rapidez, muitas vezes com um sentido de urgência ou imprudência. Enfatiza a alta velocidade e a falta de contenção.

E para aqueles que não têm familiaridade com animais do mundo de Harry Potter, o Nogtail, ou Rabicurto é um demônio encontrado nas áreas rurais de países do norte, que lembra um porco anão com pernas longas de olhos pretos e miúdos. Rabicurtos esgueiram-se em chiqueiros e mamam em uma porca normal ao lado dos seus filhotes. Quanto mais tempo ele é deixado em liberdade e quanto maior se torna, maior será a destruição e a praga na propriedade em que penetrou.

Ele é muito rápido e difícil de pegar, a única maneira de garantir que o não volte é afugentá-lo com um cão branco puro. O Escritório de Orientação Sobre Pragas do Departamento para Regulamentação e Controle das Criaturas Mágicas do Ministério da Magia mantém um bando de sabujos albinos especificamente para esse propósito. Eles também são usados para recreação e, estabelecido nessa fic, como alimentação].

Lakroff nunca teve problemas com aquela rede e tinha um igual em Baba Yaga, do qual já fez pedidos para ele e os filhos que estavam curiosos com comida bruxa.

Por mais que ele dissesse que aquele era o pior exemplo da culinária do mundo mágico, eles não ligaram. Se fosse como um lanche em um McDonald's, onde você come, é gostoso o bastante, mas não era um exemplo de culinária em ação, acharam que era o melhor exemplo possível e gostaram muito da ideia de comer um demônio.

Lakroff ainda fazia exames constantes para ter certeza que aquilo não afetaria o estômago de trouxas, mesmo que já fosse registrado fazendeiros matando Rabicurtos em suas fazendas e se alimentando, acabando com a praga sozinhos antes de autoridades chegarem.

Claro que eles não associavam uma coisa à outra, mas enfim, não parecia ser um problema e tinha um sabor diferente da carne de porco comum, apesar de ser parecida.

Lakroff pediu apenas um lanche e estava saindo com sua sacola do restaurante quando se deparou com Aberforth Dumbledore entrando.

Eles se reconheceram imediatamente, mesmo que Lakroff não pudesse dizer que ele próprio já tivesse estado diante do homem.

E vice-versa.

Mas houve o reconhecimento. Eles eram, no fim, muito parecidos com as sombras de outros homens.

Lakroff pensou em apenas correr, mas de repente Aberforth segurava seu pulso com uma força absurda e o encarava com olhos arregalados, atrapalhando a passagem das pessoas para dentro do fastfood e atraindo uma pequena plateia.

— Gellert – a palavra odiosa escorregou como um insulto pela boca do homem que conseguia ser ainda mais alto que Lakroff.

E na sua opinião, era mesmo um insulto.

— Lakroff – corrigiu, muitíssimo tenso, pronto para uma batalha.

Aberforth ajeitou a postura, ficando ainda maior e resmungou:

— Lakroff? Você? Está brincando, não é? Quer que eu acredite nisso?

— A anta do seu irmão não entende a diferença, quem é você para fazê-lo, não é mesmo? – respondeu no ato.

-x-x-x-

Um par.

Agora os outros professores pareciam com seus alunos, pensou Minerva ao jantar de sexta, conforme as conversas iam de um para o outro anunciando que combinaram de ir juntos, ou situações como Hagrid comentando em sussurros nem tão discretos com Flitwick que queria convidar Maxime e não sabia como, ou como Sprout que estava lhe perguntando que, se Sirius levaria Remus, ela poderia convidar Poppy Pomfrey, certo?

"Eu imagino que sim" respondeu lentamente.

Ao menos, a ideia das duas amigas tomando coragem para dançar juntas graças a Sirius a animava.

Ademais, sentia-se bastante cansada com um alvoroço daqueles.

O que tinha de mais em um baile, afinal?

Ela não iria com ninguém decerto.

Durante a reunião mais tarde naquela mesma noite, Albus chegou a se inclinar e sussurrar que a chamaria para a primeira dança, se ela não se importasse.

"Claro Albus".

Mas de alguma forma ela acabou em pleno sábado de manhã na casa de Aberforth e por um motivo ainda mais desconhecido, esse foi o primeiro assunto em que ela tocou:

— Você vai ao baile de Inverno?

Era uma pergunta tão ridícula.

E, pelas barbas de Merlin, parecia um convite.

Era um convite.

Ou não era? Por que ela estava convidando Aberforth? Minerva só teria duas horas de pausa, além disso, estaria cuidando dos alunos, era ridículo convidá-lo para tão pouco.

— Não sou bom dançarino – ele resmungou.

Ótimo, ela poderia dizer agora que já imaginava e depois tentar entender de onde raios tinha vindo sua pergunta. Afinal, era óbvio que Aberforth nunca pisaria em um baile e agora ele devia estar achando algo estranho dela.

Como se ela estivesse interessada. Como se o tivesse convidando.

— Não teria que dançar muito – comentou, tentando fazer um gracejo. – Eu mesma só vou ter duas horas para aproveitar o baile, isso se o fizer. Estou pensando em patrulhar a noite toda.

Ótimo, assim não parecia tão estranho, certo?

— Então eu vou ter que ir – ele disse no mesmo instante.

O cérebro de Minerva, de alguma forma lunática, pifou e deixou de pensar.

As palavras apenas saíam sem qualquer ideia do que formariam antes de já estarem flutuando para fora de seus lábios:

— Por quê?

Ela não sabia, mas Aberforth se encontrava no mesmo estado.

— Porque ninguém vai estar lá para te impedir de trabalhar a noite inteira, então eu vou.

— Ah.

— Sim.

Silêncio. O silêncio era ruim.

— Entendo – disse Minerva em desespero.

— Quer ir ao Beco Diagonal comprar uma roupa? – convidou Aberforth em pânico.

— Beco diagonal?

— Se vai dançar, o que não pretendia antes, talvez queira conseguir roupas adequadas, eu também estou indo para lá.

— Por isso estava acordado a essa hora?

— Sim, preciso de algumas bebidas que meu fornecedor doente não conseguiu mandar por coruja, por ser álcool e tudo, tem umas regras no correio, enfim. Ele não consegue trazer, então vou direto à loja. E agora preciso de um terno.

Mas porquê ele estava convidando Minerva para ir junto, só os deuses podiam saber.

— É uma boa ideia, vamos agora?

Porque Minerva aceitou aquele passeio, com tanto trabalho para fazer a esperando em sua sala, era outro conhecimento reservado apenas a eles.

E aos sentimentos de ambos, mas esta parte eles estavam incapacitados mentalmente de perceber diante de seu espanto e pânico delirante.

— Claro, vou só pegar a minha chave do Gringotts – respondeu Aberforth se levantando e quase derrubando uma caneca que ele conseguiu desajeitadamente segurar no ar com magia.

Minerva assistiu o uso de magia sem varinha e sem palavras maravilhada, mas o Dumbledore não notou, correndo para sair dali o mais rápido que pôde.

Poucos minutos depois, eles estavam aparatando do lado de fora do caldeirão furado e entrando no Pub juntos, ainda em choque, porém mais controlados de seus corações acelerados e mentes em parafuso.

Eles cumprimentaram Tom e entraram pela passagem nos fundos para o beco. De alguma forma, Aberforth conseguiu puxar conversa e Minerva, agradecidamente, recuperou suas faculdades mentais para ter um diálogo eloquente e divertido com seu velho amigo. Eles passaram no banco, pegaram algum dinheiro, que acharam ser suficiente, então foram juntos para a loja de roupas.

Apesar de Minerva ter ficado muito surpresa que Aberforth entrou na Talhejusto & Janota, uma loja de vestes chiques, ao invés da boa e velha Madame Malkin - Roupas Para Todas as Ocasiões, que com certeza teria... bem, uma veste para aquela ocasião.

Não reclamou, entretanto, tinha dinheiro para pagar uma vestimenta adequada ali, mesmo que os valores fossem expansivos.

Sabia, também, que aquela loja ofereceria um vestido com certeza mais chique e, apesar de isso geralmente não importar para ela, de repente ficou óbvio que, se Aberforth iria com vestes formais de nível alto, Minerva também deveria.

Não que eles fossem um par.

Não que ela precisasse estar combinando com ele.

Mas enfim, ela se escondeu no fundo da loja, estava precisando de mais ar de novo.

Aberforth foi deixado sozinho e começou a conversar com o balconista, conseguindo segurar o palavrão que quis soltar quando soube a média de preço dos trajes a rigor, mas ficou decidido a comprar ali mesmo só porque aquele projeto de mauricinho insinuou que "talvez não fosse de seu alcance".

Ele pegaria o mais caro e Albus que se explodisse, tiraria do cofre da família. Para o inferno com esse jovem arrogante:

— Onde estão seus melhores? – perguntou com prepotência e viu quando um homem mais ao fundo de repente o olhou e pareceu querer se aproximar.

— Os melhores, senhor? – perguntou o balconista com um sorrisinho de quem sabia mais. – São os sob medida.

— E eu não esperava diferente, é claro – respondeu mantendo a pose, até aumentando-a, ao levantar mais a postura.

Estava tão maior que aquele pestinha agora que ele precisava levantar a cabeça o máximo que o pescoço permitia sem ficar desconfortável para olhá-lo nos olhos.

O homem que tinha notado mais ao lado enfim se aproximou:

— Senhor, me chamo John, posso acompanhá-lo e tirar suas medidas para a confecção de suas vestes, por favor me siga, senhor... – e deixou a frase no ar.

Aberforth era um brutamontes, mas não era burro, aquele homem estava fazendo o teste de terreno, sabendo em que família estava pisando, porque decerto era preciso família para arcar com os custos de uma roupa sob medida em um lugar como aquele. Ele não hesitou:

— Dumbledore. Aberforth Dumbledore.

Sua família não era nenhum sagrado vinte e oito, mas por Merlin, seu irmão era a porra do Merlin moderno. Diretor de Hogwarts, chefe da Suprema corte bruxa, supremo cacique do seja lá o que diziam quando começavam a falar todos os seus títulos ridiculamente expansivos.

Se ia ser tratado por seu nome, então que usasse finalmente alguma vantagem em ter aquele babaca como irmão.

Ele podia comprar as vestes.

Ele podia comprar as dele e as de Minerva.

— A senhorita que entrou comigo, quero que alguém a atenda pessoalmente também e encontrem o vestido de que ela mais gostar, ficará sob minha conta, não importa o que ela diga. Ela é bem insistente, mas tenho certeza de que podem garantir isso se ela levar um de seus melhores e mais caros. Estou correto?

Ele estava. John, ou fosse o que fosse, imediatamente chamou uma assistente e a mandou direcionar a lady ao fundo.

E Aberforth, deuses o tenham, começou a ser chamado de lorde.

Lorde Aberforth, afinal, o lorde da casa Dumbledore era seu irmão, mas quem se importa, estava sendo bajulado.

E irritaria os nervos de Albus de brinde, era um ótimo dia.

A vida às vezes gostava de Aberforth.

Foi com esse humor que ele aceitou ser medido dos pés à cabeça, aceitou a dica sobre qual cabeleireiro ir para fazer um penteado perfeito que se ajustaria a suas vestes, ouviu sobre vários tipos de tecido "escolha aquele que achar melhor, quero conforto, entretanto, sem perder o requinte adequado, é claro, o preço não importa" ele respondia, mantendo o lado positivo de tudo aquilo em mente.

Presentear Minerva.

Irritar Albus com um rombo no cofre que ele tolamente deu as chaves reservas para Aberforth achando que nunca usaria.

Quando terminou de ser medido, desceu do palanque e começou a ouvir sobre como a data era apertada e como teria que ir ali para fazer as provas para que tudo ficasse pronto a tempo. Aberforth apenas pediu para que o homem parasse de gracejos e falasse o orçamento logo que ele passaria no Gringotts e já deixaria acertado com os goblins.

Sem o vestido, que ainda não tinha sido escolhido, ficaria em mil e quinhentos galeões. Faltava escolher as botas, luvas, chapéu (se quisesse) e qual o acessório de lapela, também opcional.

— Lhe darei três mil – e conseguiu não mostrar o absurdo que aquilo lhe parecia na voz, porque era o referente ao que ganhava em dois meses no bar, às vezes mais. – E se faltar alguma coisa, acertamos na entrega, o que acha?

— Muito adequado, Lorde Aberforth. Quer escolher o modelo na loja?

Ele não tinha a menor ideia de qual seria o melhor modelo para si, por isso tentou uma outra jogada:

— Quero algo para me adequar à minha parceira, então descubra o que ela escolheu e faça a partir disso, será que consegue? – desafiou, levantando uma sobrancelha.

John mordeu a isca e levou para o lado pessoal, trocando mais algumas palavras e indo falar com a assistente.

Aquele teatro todo deu dor de barriga no Dumbledore mais novo, ou talvez fosse fome, mas ele decidiu que comeria alguma coisa agora que tinha que voltar ao Gringotts e usar sua outra chave (que, por sorte, sempre carregava consigo), mas antes seguiu até Minerva.

Ela o olhou ameaçadoramente assim que o viu:

— Você não vai pagar meu vestido – ordenou, apontando-lhe o dedo.

Aberforth podia jurar que sequer ouviu suas palavras, estava distraído demais.

Ela estava divina.

Usava um vestido vermelho como a bandeira da Grifinória que lhe encaixava perfeitamente em todas as curvas, seu cabelo preso dava uma visão clara do colo e dos ombros, era tanta pele que Aberforth quase encarou demais, por sorte conseguiu disfarçar olhando para baixo e depois subindo de novo, como se tivesse observado apenas o vestido nela.

Por fim, tomou uma decisão.

Talvez duas.

Minerva era a mulher mais linda que conhecia, ela apenas não sabia e não exibia isso.

Segundo: vermelho ficava divino nela, mas ainda não era sua cor.

Ele sabia bem qual era a cor dela.

Falaria com John antes de sair.

— Minerva... – ele começou, mas a mulher não o deixou terminar, enfurecida.

Oh, deuses, ele pensou perdendo as forças nas pernas brevemente.

Havia uma fenda no vestido, uma maldita fenda.

Ele viu parte de suas pernas.

Morreria se ela fosse com um vestido daqueles. Aberforth pagaria por sua própria sentença de morte.

— Ficou bom – conseguiu dizer sem gaguejar. – Mas acho que não é seu estilo.

— Não é, eu experimentei porque era um modelo simples.

— Não precisa escolher um modelo simples só porque estou pagando.

— Você não vai pagar! – ela insistiu, decisiva.

Aberforth apenas sorriu e estendeu sua mão. Minerva o olhou confusa e os flancos entre suas sobrancelhas ainda estavam lá quando lentamente ela ofereceu sua própria a ele.

O barman se permitiu a ousadia de beijar aquela pele macia e com cheiro suave, mas não totalmente delicado, não era um perfume floral, mas algo como uma rosa, linda e espinhosa. Depois de conseguir não se perder na sensação de tudo aquilo, a mão de Minerva na sua, seu cheiro, sua pele em seus lábios, ele se afastou e sabia que sua voz estava mais grave do que queria quando disse:

— Permita-me a honra de lhe pedir formalmente para ser minha acompanhante no baile de Inverno, Minerva McGonagall, e pagar este vestido como meu presente que representa sua resposta para esse convite.

Minerva corou.

Aberforth achava que nunca tinha visto isso antes.

Suas bochechas ganharam um tom rosado, assim como parte de seu pescoço, evidenciando algumas sardinhas lindas que mal podia notar normalmente sem um vestido que mostrava tanto aquela região.

Era tão linda...

A bruxa era uma confusão de pensamentos internos e não confiava em sua própria força se não estivesse em público, e ela não iria fraquejar. De forma alguma.

Ela negou com a cabeça e tentou pensar naquilo, mas imediatamente percebeu que negar poderia ser interpretado errado e se ouviu dizendo:

— É apenas injusto que você coloque como condição para aceitar seu convite, ter de aceitar o vestido também.

— É injusto, mas é o que farei. Estou indo ao Gringotts, preciso pegar dinheiro – Minerva se conteve em perguntar se o homem teria toda aquela quantia e não parecia certo, mas ele agarrou mais sua mão, como se soubesse o que estava pensando, e beijou.

De novo.

Ela odiou-se por corar mais.

Era uma maldita adolescente agora?

Talvez fosse o vestido, ele era muito revelador, mesmo que não tivesse decote, ainda era mais baixo do que estava acostumada e ela se sentia nua sem mangas, estava detestando aquilo e a respiração quente de Aberforth contra sua pele gelada pelo inverno do lado de fora, tudo era uma combinação tenebrosa.

— Estarei de volta em breve – continuou o Dumbledore, apesar de tudo aquilo. – E quero encontrá-la com sua resposta, que espero ser positiva. Ache o vestido de que goste mais, não o que acha ser mais barato. Eu estaria disposto a pagar o mais caro dessa loja para lhe ver feliz.

— Eu não preciso de tudo isso para ficar feliz.

— Mas eu preciso lhe oferecer para sentir que sou um acompanhante digno de alguém como você.

O cérebro de Minerva pifou pela segunda vez.

— Digno, Aberforth isso não é...

— Digno de mente tão brilhante e de bruxa tão formidável, eu insisto.

Ela não tinha uma boa resposta para aquilo.

Nem precisou, graças aos cabelos de Godric Gryffindor, o homem fez uma reverência, disse rapidamente que logo estaria de volta e se retirou.

Minerva ficou para trás, completamente paralisada e sem capacidade de fazer suas sinapses cerebrais exercerem qualquer trabalho.

— Podemos olhar os outros? – perguntou a mocinha ao seu lado com um sorriso.

Aberforth não conseguia tirar a imagem daquele vestido odioso de sua cabeça, ele sonharia com aquilo e, que inferno, sabia que sonharia em tirar aquele vestido e ele não podia.

De jeito nenhum.

Não ia fantasiar com Minerva, ela não merecia os pensamentos impuros de Aberforth. Ele manteve o máximo que conseguiu de foco no caminho que tinha de fazer e seguiu até o banco, depois estava voltando para a loja quando viu a fachada do Bat Hell e pensou que poderia muito bem comer um lanche rápido (com ele eram três mordidas para sumir com um simples do cardápio) e aquela dor de barriga passaria.

Estava decidido a entrar quando ele saiu.

Gellert Grindelwald em carne e osso, saindo do lugar.

Os olhos dos dois se encontraram e houve reconhecimento. Claro que houve. A vista de Aberforth ficou vermelha de fúria e ele agarrou o braço do homem antes que tivesse a chance de escapar.

Ele não tentou, Gellert ficou parado e olhou para Aberforth, o que o permitiu perceber, mesmo louco de raiva, que os olhos eram diferentes.

Ou melhor, iguais.

Gellert tinha um olho de cada cor na adolescência, mas agora os dois estavam azuis.

Ele não sabia o que dizer, o que fazer, haviam pessoas demais ali, Minerva estava a poucas lojas de distância e Grindelwald era um perigo. Aberforth ficou muito consciente de onde estava sua varinha e das pessoas em volta que tiveram de parar porque os dois estavam na entrada.

— Gellert – o nome escorregou com nojo, um insulto para aquele baixinho filho da puta.

Mas ele respondeu e a voz, que merda, a voz era praticamente a mesma de quando eram mais jovens, nada mudou, nem sua maldita cara, não envelheceu um único dia.

— Lakroff – corrigiu tenso.

Aberforth sabia que ele também devia estar se preparando para pegar sua varinha.

Demorou dez segundos inteiros e um olhar do homem para as pessoas, não Aberforth, para que o nome enfim fosse registrado em sua cabeça.

Lakroff.

Lakroff Mitrica.

Lakroff, o maldito filho?!

Aberforth ajeitou a postura, ficando ainda maior e resmungou:

— Lakroff? Você? Está brincando, não é? Quer que eu acredite nisso?

Não podia ser.

Um filho não podia ser tão parecido com o pai, aquilo era ridículo! O homem era um maldito clone exato de Gellert.

Quase.

Tinham os olhos, não havia barba ou bigode, o cabelo era loiro como quando Gellert era jovem, mas cumprido o bastante para chegar até os ombros, preso por uma trança lateral e com uma franja que quase cobria os olhos.

Era Gellert, a merda de uma versão jovem de trinta anos no máximo, mas distorcida, diferente de quem o próprio Gellert era aos trinta, mas ainda tão próxima que era impossível não reconhecer a mesma pessoa ali.

A mesma altura, azul no olho.

Mas não o mesmo olhar.

Aquele ali o encarou com desafio e tédio:

— A anta do seu irmão não entende a diferença, quem é você para fazê-lo, não é mesmo?

Aberforth piscou e apertou mais o braço do homem:

— Como é?

— Eu disse que seu irmão é burro demais para notar a diferença entre pai e filho, então já esperaria de alguém da mesma linhada de símio encontrar essa dificuldade.

Era impressão de Aberforth ou símio era um tipo de macaco?

Ele foi chamado de macaco? Linhagem de macacos?

Pelo Gellert mirim?

Ah, ele ia dar um soco naquele garoto.

— Libera a porta! – alguém gritou atrás deles e Aberforth conseguiu juntar forças para virar para o lado e arrastar consigo Gellert, que foi surpreendentemente sem resistência.

Apenas alguns passos para o lado, apenas para liberar a entrada e saída das pessoas. Não o suficiente para afastar aqueles que ouviram a forma como Lakroff tinha respondido ao homem que o segurava para não pressentir uma possível briga.

Os mais interessados na fofoca apenas deram passos para o lado e fingiam estar procurando alguma coisa, como suas carteiras, enquanto a dupla se encarava intensamente.

— Você é o Lakroff Mitrica? – perguntou Aberforth porque era tão ridículo que Gellert fizesse um disfarce tão ruim que ele quis confirmar.

— Sou. O que tem?

— Qual o nome do capitão que tenta matar Moby Dick?

— Capitão Ahab – respondeu, franzindo o cenho.

Aquela foi a primeira pergunta que conseguiu pensar para confirmar. Aurelius tinha falado sobre Lakroff. Aquele que não era um homem, então, olhando agora para aquela versão jovem, podia ser uma criança.

Entretanto... Uma criança que lia Moby Dick?

Improvável, mas...

Nunca saía da biblioteca, não falava com ninguém além de Aurelius, foi levado para outro lugar com o tempo e não pôde mais visitar Credence, como se não tivesse escolha, como se não pudesse.

Alguém que lia literatura trouxa junto com o Dumbledore, ainda praticamente adolescente, e fazia seus dias com o monstro Gellert um pouco melhores.

Mas uma criança que lê Moby Dick?

Quantos anos teria que ter na época para ser essa pessoa à sua frente? Mesmo que pensasse no último dia de Aurelius com Gellert, isso ainda era a sessenta e quatro anos atrás. Não tinha como ser uma criança.

Então por que não era um homem?

Ele apertou mais, aquela coisa não reclamou, apenas olhou para Aberforth como se esperasse que ele tomasse a decisão do que viria a seguir e um frio horrível passou por sua espinha.

Um frio de morte.

Uma sensação tenebrosa na boca, uma vontade de vomitar.

Aberforth pensou em uma resposta para aquilo.

E não gostou nada do que pensou.

— O que se consegue misturando uma fusão de ósmio derretido a um caldeirão de neônio difuso?

O arregalar de olhos do homem foi fraco, ridiculamente rápido, mas esconder a reação não servia de nada.

Ele sabia.

Ele conhecia um dos processos para fazer uma pedra filosofal.

Aberforth só conhecia aquela e possivelmente poderia até ter falado asneira, mas uma pessoa comum franziria o cenho, ficaria confusa, qualquer coisa que não se surpreender.

Não, aquele homem revelou muito sem dizer nada.

Estava terrivelmente próximo da teoria de Aberforth.

— Você conhecia Credence?

— Quem é...

— Não minta, não vai adiantar. Ele me falou tudo sobre você.

Mentira, mas que se ferrasse. O mini Gellert arregalou os olhos de novo e pela primeira vez, tentou recuar, mas Aberforth ainda tinha o aperto firme em seu braço.

— Você está me machucando.

— Responda à minha pergunta – exigiu o Dumbledore.

— Sim, eu conhecia Credence, o que tem?

— Onde vocês se conheceram? – aquela era a última pergunta que conseguia pensar.

— Na biblioteca – respondeu o homem.

— Por quanto tempo?

— Não muito. Gellert me mandou para a mansão Mitrica.

Isso nem ele conhecia. Aurelius se recusou e fez Aberforth jurar que não falariam sobre a outra casa de Gellert.

A mansão Mitrica então. Fazia sentido.

Mitrica. Outro nome, o nome que deu a Lakroff, mas por que nomear seu filho assim?

Para fugir da guerra?

Mas... será que aquele à sua frente era seu filho mesmo?

Se não era homem, como Aurelius disse, podia não ser uma pessoa?

Talvez outra coisa.

Pior: Uma coisa que apenas a pedra filosofal podia fazer.

— Quando você nasceu?

— Eu – mas Lakroff não respondeu.

Lakroff estava em um impasse.

A maioria das datas que falasse, Aberforth perceberia a mentira no mesmo momento porque não teria como bater com um encontro na biblioteca entre ele e Credence Barebone. Confirmar que conhecia o garoto foi um tiro no próprio pé, mas se Aurelius tinha falado o nome Lakroff Mitrica para Aberforth, ele já estava em uma saia justa daquelas.

Esperou o ataque, com certeza viria agora.

Mas não veio.

Aberforth soltou Lakroff como se ele fosse portador de uma praga e o encarou horrorizado, dois passos para trás.

Lakroff piscou para o homem, completamente confuso, antes de juntar as coisas.

"Ah" pensou Lakroff de repente.

O irmãozinho de Albus entendeu tudo errado.

Aberforth tinha chegado a uma conclusão, passando por todos os meios errados.

Uma conclusão perigosa.

Lakroff tentou acalmá-lo:

— Escute, vamos conversar onde é mais reservado, eu...

Mas Aberforth não quis ouvir, ele deu mais um passo para longe de Lakroff, depois olhou para o lado e correu.

Correu!

Pálido como se todo o sangue tivesse fugido de seu rosto.

Lakroff ficou lá, sozinho com suas batatas fritas mágicas, e pensando: que ótimo. O dia tinha se tornado um desastre sem precedentes.

Maldita reação à pedra. Podia ter se saído melhor que aquilo, era um mentiroso mais habilidoso na maior parte do tempo, não? Mas caramba, não esperava Aberforth Dumbledore saber como uma pedra filosofal era feita. Nem Lakroff tinha a receita perfeita daquela maldita coisa.

Sua versão servia para pouca coisa além de garantir sua aparência jovem e mesmo assim ele envelhecia, só era bem mais lentamente que os outros e sendo um bruxo, isso lhe dava décadas de vantagem em relação aos outros.

Sua trapaça, como Augusta sempre dizia.

Exigia outras poções e muito cuidado pessoal para ter aquele efeito ideal, seus cuidados com a saúde e a pele iam perfeitamente bem, muito obrigada.

Não o tornava imortal como a coisa de Nicolau Flamel, nem curava todas as doenças – Harrison que o diga, não teria aquelas cicatrizes odiosas se fosse o caso – não transformava metais em ouro e toda aquela baboseira de uma pedra de verdade. Realmente Lakroff morreria quando chegasse na idade, apenas estendeu um pouco mais o que os bruxos já tinham de vida cumprida, se curando para que as células não envelhecessem tão rápido como elas fariam normalmente.

Mas... até que era interessante tudo isso. Ele imaginava que Aberforth não sabia nada sobre o que Albus fizera com a pedra. Agora descobrir e ainda perdoar o irmão?

Lakroff, que era quem era, nunca perdoaria alguém que fosse tão longe como o que Albus foi capaz de fazer com outra pessoa. Com Nicolau Flamel.

Então, por que infernos Aberforth tinha que supor aquilo de Lakroff? Era quase tão irritante quanto supor que ele era Gellert.

As pessoas sempre o acusavam das piores coisas por causa daquele velho.

Ele só era um homem simples que não podia envelhecer e morrer ainda. Afinal, tinha coisas para fazer. E agora, infelizmente, uma delas teria que ser resolver esse problema.

Lakroff teria de visitar o irmão de Albus Dumbledore em seu maldito bar decadente.

-x-x-x-

— Aberforth? – perguntou Minerva, preocupada quando o homem apareceu como se tivesse visto um sinistro.

— Oi – ele respondeu meio apático.

— Você está bem?

— Eu... – Aberforth pensou no que dizer. – Acabei de trombar com o filho do Gellert.

A mulher arregalou os olhos e saiu de cima do pequeno palquinho que estava, o que fez a assistente que a atendia reclamar, pois estava tomando suas medidas para achar um vestido que lhe encaixasse melhor que o preto que estava em seu corpo agora.

Aberforth gostou e odiou esse nas mesmas proporções, era muito simples e cobria Minerva demais, com mangas compridas e gola alta. O fazia conseguir se concentrar mais e o tornaria menos idiota no dia, mas... ela tinha tanto potencial para desperdiçar com algo como aquilo.

Pensar nessa coisa frívola o acalmou um pouco.

Minerva, entretanto, estava em choque:

— Por favor, diga que nada de mais aconteceu!

— Eu o agarrei e talvez o tenha ameaçado, não sei, tudo foi um borrão.

— Aberforth! – repreendeu com voz esganiçada.

— Não se preocupe, não foi tão ruim, eu só achei que ele fosse Gellert no começo.

"E agora acho que possa ser uma maldita coisa saída de uma pedra filosofal, uma coisa nojenta", acrescentou mentalmente. "Um maldito obscurial como Aurelius. Quer dizer, existe adoção de sangue e obscuriais assumem a forma que se veem quando conseguem controlar sua forma".

Mas qual era a chance?

"Ele não era um homem" essa era a frase que Aurelius tinha lhe dito anos atrás, ao menos a que se lembrava. "Não exatamente um homem. Era apenas uma ..."

Uma o quê?

Seja lá o que ele quis dizer, sentia que isso era importante.

Importante para não pensar no pior.

A maldita pedra...

— Oh Merlin – arfou Minerva, alheia aos pensamentos do Dumbledore. – Você achou que ele fosse Gellert? Abbie, por favor, não me diga...

— Está tudo bem – garantiu. – Não fiz nada demais. Ele até me chamou para conversar, foi bem compreensivo com a confusão. É realmente... a cara do pai – conseguiu se forçar a dizer.

Que merda, ele não tinha a menor sensação de que aquele homem fosse filho de Gellert.

Geralmente, seus instintos eram bons.

Gellert tentou replicar a pedra por causa de Credence, Aberfroth tinha quase certeza disso.

Um obscurial não vive muitos anos. O que durou mais foi Aurelius, foi até 1932. Trinta e dois anos.

Então, sua magia terminou de consumir sua carne, tornando-se apenas uma criatura fraca que já havia perdido muito de si, então consumiu sua própria energia até desaparecer desta Terra.

A pior e mais triste morte que Aberforth conseguia pensar.

Gellert jurou achar a cura, mas Aurelius desistiu daquilo, se deixou morrer, pois não aguentava mais a dor, o ódio de sua própria magia, a perda de sua alma sendo consumida por algo dentro dele próprio. Era horrível demais segurar aquela fome, aquela ira dentro de si mesmo e esperar que ela só não fosse mais forte que sua vontade de viver.

Era doloroso e deprimente, ele desistiu. Deixou partir o mais em paz que aquilo permitiria.

Gellert não podia ter achado a cura, não poderia dar a outro obscurial depois que Credence desistiu, mas se ele tivesse conseguido replicar a pedra o que teria feito com ela?

Lakroff Mitrica...

Se não era um homem, o que era?

Não exatamente um homem, mas uma criança. Que poderia ler Moby Dick e pensar filosoficamente sobre a história de forma complexa? Não. Que tipo de gênio estaria falando nesse caso?

Uma pintura de um ancestral? Esse já foi seu chute. Tinha pensado nisso por anos, fazia sentido ser levado como um objeto para outra casa, mas agora estava na dúvida porque Lakroff, uma pessoa, havia respondido como se fosse ele o homem que Credence conheceu naquela época.

Uma o quê?

A pedra poderia dar outra solução.

Gellert sempre foi tão podre quanto Albus.

— Minie – chamou.

A mulher ainda estava preocupada:

— Oi.

— Eu acho que quero te contar uma coisa, mas não sei se você não vai embora depois disso – admitiu, porque ela era a única que conseguiria aplacar o enjoo que estava sentindo.

— Abbie, claro que pode me contar o que for.

Mas ele não tinha coragem.

Ele jurou nunca mais falar sobre aquilo.

Nunca mais falar sobre seu filho.

Falar sobre o nascimento de Aurelius.

Aberforth teria que confrontar Albus. Não tinha outro modo de lidar com aquilo.

Ele mataria o irmão ou morreria com esse assunto.

-x-x-x-

Existe uma verdade universal de que, se você quer um trabalho bem feito, tem que fazer por si mesmo, pensou.

Harry caminhou pelo ministério com a cabeça erguida, como se fosse dono do lugar e ninguém devesse questioná-lo, pegou o elevador e foi até o oitavo andar.

O departamento de mistérios era uma promessa interessante, de encantamentos, magias, rituais e pesquisas únicas e ainda não divulgadas, era um parque para um entusiasta da magia, mas um fechado e exclusivo, quase inacessível.

Quase.

Sem dúvidas para tolos como Lucius Malfoy e, Morgana o perdoasse, até mesmo Theomore Nott. Os dois haviam executado parte de seu plano de forma adequada, mas não conseguiram recuperar a profecia.

Aparentemente, apenas aquele a quem ela se dirigia podia fazê-lo, pelo que Nott informou, mas aquilo era tolo e contraproducente. Se o Departamento de Mistérios tinha um Salão das Profecias, era porque eles pesquisavam sobre elas e para isso precisavam pegá-las, não é mesmo? Se um Indizível era capaz disso, um dos seus comensais também deveria.

Mas não foram. Dois inúteis, Harry concluiu de mal gosto.

O Ministério, entretanto, parecia cercado de bruxos incompetentes na mesma proporção, a névoa que colocou já estava ali há uma semana e não conseguiram dispersa-la.

Mas, em defesa deles, era óbvio que não conseguiriam, ele próprio havia feito a poção que causava aqueles efeitos, somente ele poderia desfazer.

Assim que chegou ao andar, encontrou vários aurores conversando nervosamente, seus olhos passaram por eles para que pudesse reconhecer cada um e depois seguiu para Canupus Avery, "o rosto".

Os Indizíveis trabalhavam no ministério sem dar a ninguém seus verdadeiros nomes ou mostrar quem eram de verdade, usavam máscaras, cobriam o corpo, faziam pesquisas secretas que não necessariamente precisavam relatar a ninguém acima deles.

Mas eles tinham um rosto.

Uma única pessoa que se colocava à frente e assumia ser um Indizível, sua função era fazer os relatórios e se dirigir aos demais departamentos. Ele não participava das pesquisas e talvez soubesse tão pouco quanto qualquer outro do ministério, mas podia ficar por lá e sabia como andar pelo lugar, mas tinha um juramento de nunca passar essa informação.

Não que Harry precisasse, uma semana foi o bastante para mandar comensais ali e descobrir o padrão pela qual as salas se moviam.

Claro que foi ele que traduziu os relatórios e conseguiu criar tal mapa, os comensais não eram espertos o bastante para tal feito sozinhos.

O lugar não era totalmente aleatório como queria parecer, mas ainda seria complicado executar seu plano, a começar para convencer seus "colegas" a entrar na névoa.

— Charles? – chamou um auror e Harry se virou para ela.

Nymphadora Tonks, se não estivesse enganado (normalmente não estava).

— Tarde, Tonks.

— Tarde. Você está bem? Não apareceu ontem, não deu qualquer sinal. Strange está furioso com você e Rufo Scrimgeour disse que é bom você tem uma ótima desculpa.

— Até onde me consta – respondeu Harry – meu único chefe é Scrimgeour, então mande Strange ir encher a paciência de outro, eu tive um problema sério. Fui atacado.

— Como é?

— Longa história, não se preocupe, farei o relatório. Como vamos com a névoa?

— Não vamos – respondeu a garota com um suspiro. – A mesma merda.

— Estarei entrando.

— Boa sorte.

Harry não precisaria de sorte, mas agradeceu mesmo assim. Nymphadora não tinha como saber que Charlees Smiths, seu colega de trabalho, não tinha sido designado para aquela tarefa naquele dia, que tinha passado reto por todos e ido direto para lá. Não tinha como saber de nada.

Nem que o homem estava bem longe dali em sua mansão, esperando que o lorde das trevas terminasse o que tinha para fazer com sua aparência e pudesse se livrar dele, mas ela não era a única.

Pelos relatórios que conseguiu extrair da cabeça de Smiths, os aurores vinham entrando e saindo da névoa para tentar achar sua origem e conter, coisa que estava deixando os Indizíveis furiosos, mas eles foram orientados a não participar se não tinham ideia ou vontade de dizer qual era o problema que tinha causado aquilo.

Eles não sabiam e não queriam os dedos de outros departamentos em suas pesquisas.

No fim, a falta de comunicação e a animosidade entre os envolvidos ajudavam Harry a continuar com seu plano.

Ele seguiu para dentro da névoa e foi como entrar debaixo d'água, seus ouvidos chiaram com a pressão, mas foi tudo. Sua magia sabia perfeitamente se mover pela névoa, ela o reconhecia como seu criador e o acolhia em segurança.

Ver através dela também não era tão difícil, para ele. Não era tão densa. A maior dificuldade era conter a curiosidade em invadir outras salas, mas não tinha tempo, teria que pegar a profecia e sair dali quanto antes. Assim que soubessem que Chales Smiths havia voltado, começariam a questionar e por mais que ele calculasse respostas boas para a situação, o melhor seria sair dali assim que tivesse o que veio buscar em mãos.

Entrou no que devia ser a Sala Circular e viu algumas portas, com um piso de mármore negro que parece quase como água parada, velas emitindo uma luz azul fria que mal era perceptível com a neblina.

Harry sabia que haviam doze portas sem puxadores. Sempre que uma porta se fecha, as paredes girariam, tornando impossível determinar qual porta é qual.

Impossível se não entendesse o padrão, é claro.

Seguiu até a primeira delas e abriu. Era a Câmara da Morte, podia ver ao fundo o arco de pedra do véu. Interessante, mas nada do que veio buscar, fechou a porta, esperou a sala mudar de lugar, então girou ele mesmo uma volta inteira e parou na terceira porta.

A certa, desta vez.

De repente, estava em uma enorme sala, da altura de uma catedral, contendo apenas estantes elevadas e cobertas de pequenas esferas de vidro cheias de pó. Elas bruxuleavam fracamente à luz dos candelabros presos a intervalos ao longo das estantes. Como os da sala circular que havia deixado para trás, suas chamas eram azuis e enfraquecidas pela névoa que ainda existia por ali, apesar de ainda mais fraca.

Harry pediu para que os comensais estourassem a poção na sala circular, a névoa se espalhar até outros lugares era consequência da demora em contê-la, mas assim que conseguisse o que queria, já estaria em tempo da poção perder o efeito e tudo se dissiparia, permitindo que as pessoas entrassem novamente por mais do que alguns segundos.

Levando em conta que já devia ter passado um minuto, Charles Smiths deveria sair tossindo e atordoado logo. O relógio estava correndo, não poderia ficar demais.

Correu.

A sala era muito fria e o corredor noventa e sete estava longe, um candelabro de chamas azuis, que se destacava de uma das prateleiras, indicava o número cinquenta e três em prata quando chegou.

Enquanto percorria os longos espaços entre estantes, cuja parte final estava imersa em quase total escuridão, via de relance as minúsculas etiquetas amareladas coladas sob cada esfera de vidro nas prateleiras. Algumas possuíam um estranho brilho líquido; outras eram opacas e escuras por dentro como lâmpadas queimadas.

Seguiu entre as estantes muito altas com as esferas de vidro, algumas das quais refulgiam suavemente quando ele passava e parou quando estava diante de uma esfera de vidro que brilhava com uma fraca luz interior, embora estivesse muito empoeirada e não parecesse ser tocada há muitos anos.

Na etiqueta amarela afixada na prateleira logo abaixo da esfera coberta de pó, em letra garranchosa, havia escrita uma data de quatorze anos, e embaixo:

S.P.T. para A.P.W.B.D.

Lorde das Trevas

e (?) Harry Potter

Ah, Harry lembrava bem daquela data odiosa e sabia reconhecer todos os envolvidos. Pegou a coisa esperando que fosse fria, mas não. Parecia que estivera no sol durante horas, como se o seu fulgor interno a aquecesse. Aguardando que alguma coisa dramática pudesse acontecer para justificar sua longa e perigosa viagem e todo o problema que fora para seus comensais tomá-la, Harry tirou a esfera da prateleira e examinou-a.

Nada aconteceu.

"Realmente. Inúteis, todos".

Guardou em seu bolso expansivo no interior do casaco de auror então correu de volta para a saída.

Fingir que estava passando especialmente mal por causa do tempo prolongado dentro da névoa não foi difícil e arrumar uma desculpa para se afastar mais da coisa também não. Todas as pessoas no mundo eram idiotas, era essa sua suspeita.

Saiu do Ministério com a mesma facilidade com que entrou, apesar da confusão no rosto da mulher que havia verificado seu crachá quando entrou por vê-lo para fora tão cedo. Não que ela questionasse, era um auror, poderia ter sido designado para uma missão.

E não estaria errada, tinha uma missão, a começar matando o verdadeiro Charles Smiths agora que não precisava mais dele.

-x-x-x-

Quando Harry acordou daquele estranho pesadelo, ele praticamente esperava ver no jornal de sábado o anúncio de que alguma coisa tinha sido roubada do ministério ou que a névoa estranha tinha se dissipado. Afinal, a poção estava no fim de seu efeito, ele sabia disso. No mínimo, esperou pela menção ao desaparecimento de um auror.

Mas não viu nada disso.

Era como se tudo não passasse de um sonho mesmo, mas... não era.

Ele sabia que não.

Sonhar que era Voldemort de forma tão vívida, ver coisas das quais nunca viu e sentir coisas que não sentia, Hazz não tinha certeza, mas era uma sensação muito parecida com quando Tom o possuia. Ou quando a ligação deles estava muito mais intensa, com suas emoções sendo divididas como se fossem um do outro.

Só que dessa vez não era Tom, era Voldemort.

Não era impossível, Harry não mantinha barreiras oclumentes para Tom, era como impedi-lo de acessar a própria mente, mas agora, é claro, tinha Voldemort e sua ligação de alma perigosa.

Só não esperava acessar outro pedaço de alma que não o seu.

Não tinha acontecido naquela proporção nenhuma vez... ou tinha? Talvez a grande diferença agora fosse a quantidade de alma que Voldemort havia adquirido, o quão real a ligação se tornou, como estar em sua cabeça parecia ser natural, não uma invasão.

Harry era apenas Voldemort de repente, não um observador externo.

Era possível ser tão natural para os dois lados? Não queria ter que bloquear Tom, mas como conseguiria diferenciar Voldemort ou Tom vendo seu dia a dia?

Aquela situação o deixou louco durante boa parte do dia, por mais que tentasse focar nos amigos ou nas conversas, era quase impossível uma vez que sua mente voltava à possibilidade de... bem... ter um passageiro sombrio novo em sua mente. Um não bem-vindo.

Nem os comentários sarcásticos de Tom puderam salvar seu dia, uma vez que ele também estava preocupado com o poder que a mente aberta de Harrison representava.

Uma ligação implicava em uma via de mão dupla, não havia o que fazer.

Como disse?

Harrison ouviu uma voz firme perguntar e estava praticamente entrando no salão principal de Hogwarts quando notou Luna. Estranhamente, ela estava com o grupo de Félix Rosier e Gemma Farley, olhando diretamente para o monitor da sonserina com aquela expressão etérea no rosto com a qual Harrison já havia se acostumado, não aquelas pessoas, completamente alheia ou ignorando a raiva que Félix parecia estar de algo que provavelmente disse.

O menino se aproximou a tempo de ouvi-la:

— Pergunte ao seu pai sobre a marca em seu braço e se este é o destino que quer para o filho ao entregar-lhe o anel de lorde agora.

— O que você pensa que...

— Boa tarde – cumprimentou Harrison, interrompendo seja lá qual seria o rumo daquela conversa.

Ele agarrou o braço de Luna e ela retribuiu o gesto, parecendo só agora realmente ver as pessoas à sua frente, por isso fez questão de cumprimentar de novo:

— Boa tarde, minha Lua.

Ela sorriu:

— Alteza.

— O que estava fazendo, travesso corpo celeste? Conversando com o herdeiro Rosier? – e só então se virou para o sonserino.

Gemma cutucou o colega:

— Félix?

— Podem ir na frente – o Rosier aconselhou.

Seus amigos hesitaram antes de fazer o que ele pediu. Hazz sorriu para todos enquanto se afastavam antes de voltar-se ao mais velho, que ofereceu um sorriso político padrão. Cordial e feito para ocultar qualquer coisa que estivesse pensando:

— Peverell-Potter – cumprimentou, fazendo questão de usar o sobrenome completo.

Estava tenso. Seu olhar vagava de soslaio para Luna e não parecia agradável. Harrison ofereceu o mesmo tipo de sorriso polido, mas o seu era mais convincente, mais encantador:

— Olá, Rosier, prazer encontrá-lo hoje. Você e minha amiga estavam tendo uma conversa interessante?

O uso da palavra amiga era um aviso. Félix sabia bem o que significava: protegida. Independente do que Lovegood pudesse ter dito que pudesse tê-lo irritado, a menos que quisesse antagonizar um Black Peverell, deveria deixar para lá.

Entendeu bem o recado. Com um sorriso inabalável no rosto, respondeu:

— Ela disse coisas interessantes, mas nada de mais.

— Dei um conselho – contou Luna sorrindo para Harrison. – Os Nargles acharam melhor avisar.

— Entendo – disse Harrison, então se voltou novamente para o Sonserino. – Não sei o que ela disse, Rosier, mas também vou lhe estender um conselho, na verdade vou dizer o que você deve fazer: escute o que Luna disse. Tem um bom motivo para ela ser minha amiga e você não deveria desperdiçar o que ela possa ter tido com a intenção de te informar. Conhecimento é sempre útil, não?

— Eu imagino.

Harrison acenou e puxou levemente Luna que o seguiu com um gesto de tchau com a mão livre para Félix. Quando os dois já haviam se afastado o bastante, o menino teve que perguntar:

— Meu caro primo está interessado nos Rosier?

— Os Nargles disseram que os Rosier estarão mais seguros com as mariposas do que com a serpente.

Ótimo, mais uma coisa para se pensar então? Harrison sentiu a mão de Luna preencher a sua com firmeza o impedindo de ir mais fundo com aquelas preocupações:

— Eles tomarão as decisões certas, não é sua função decidir por eles.

— Eu nunca decido por ninguém.

Não assim.

Não porque alguém era obrigado a tomar aquela decisão.

— As pessoas colhem os frutos de suas próprias escolhas, eles foram encaminhados, basta ouvirem.

— Esperamos que sejam bons ouvintes, então?

— Sim, esperamos.

Eles tomaram um lugar à mesa, mas nem essa pequena distração foi o bastante para calar as preocupações de Harrison, que se sentiu quase que submerso e distante de tudo e todos conforme conversavam.

Foi quando George Weasley apareceu.

-x-x-x-

Pansy, Draco, Theo e Blaise estavam juntos na comunal da Sonserina, assim como muitos alunos naquele domingo letárgico, fugindo do frio do lado de fora para as tochas e lareiras encantadas que aqueciam o lugar mesmo em contato com a água gélida do lago negro.

Zabini estava sentado no chão, um tabuleiro de xadrez de bruxo à frente enquanto jogava contra Theodore, Pansy mantinha as pernas em cima de Draco, sentados no sofá ao lado dos meninos.

Havia um feitiço na conversa deles que Nott colocara para dar alguma privacidade, assim como muitos alunos da casa faziam a partir da idade em que aprendiam magias do tipo.

Harry Potter era o assunto da vez.

Como tinha sido desde que chegou em Hogwarts, não é mesmo?

Ele iria com um homem.

Com um Weasley.

Draco estava com os amigos no salão principal quando um dos gêmeos apareceu e deixou toda a mesa da Sonserina tensa e atenta ao tirar uma caixa de trás das costas.

Ele, um Weasley, então cumpriu com todas as normas da tradição bruxa, se curvou para quem estava convidando, disse as palavras certas, que estava presenteando Harrison e esperava que aceitasse o presente como confirmação de que concordava em ser seu par para a gala.

E, infernos, era muito adequado seu presente. Algo que Harrison poderia usar no baile, abotoaduras e um broche de lapela com uma corrente de ouro.

Ouro! Um maldito Weasley!

E com pedras verdes, que Draco teria um ataque cardíaco se aquilo fossem esmeraldas, mas provavelmente eram jades, por mais que isso já o enervasse.

Todo aquele cuidado com o presente e as tradições o deixava louco. As abotoaduras de pedras eram seguradas por uma borda sutil (de ouro) que deixava o verde-escuro mais vívido e lembrava os olhos de Harrison, além de que o broche tinha um dragão muito bonito agarrando uma pedra verde com suas enormes garras.

O sorriso de Harrison era praticamente cegante quando aceitou a coisa e a forma como suas bochechas ficaram rosa quando Luna e Pansy começaram a falar o quão lindo era o broche, olhando para a caixinha assim que o Weasley saiu e voltou para sua mesa na Grifinória, tudo foi uma combinação terrível para os nervos de Malfoy.

Quando foram para a comunal da Sonserina mais tarde naquele sábado, ele parecia irado, mesmo que tentasse disfarçar.

Para sua sorte, Nott também parecia e já estava começando a suspeitar que Theodore estava a semana frustrado por não ter tido ele mesmo a ideia de convidar Potter.

O que era uma questão à parte, por que Theo iria querer ir com Hazz? O que estava planejando com aquela mente traiçoeira de herdeiro Nott? O que pretendia tirar de Hazz, que claramente não estava conseguindo?

Ao menos, pensava Draco, Harrison não era um tolo para cair nas artimanhas dos Nott.

Mas que inferno, um Weasley?!

Cumprindo com todas as tradições? Tendo dinheiro para fazer?!

— Ele tecnicamente está melhor que o padrinho, já pensaram nisso? – murmurou Pansy, cutucando suas unhas nervosamente. – O professor Black escolheu um sangue ruim e Harrison está levando um sangue puro.

— Traidores de sangue – murmurou Nott.

— Não faz diferença se ainda são sangue puro, não há um nascido entre trouxas na família Weasley ou mesmo um simples mestiço. Todos bruxos puros.

— Não é um encontro – insistiu Draco, porque era o máximo que conseguia pensar naquele ponto.

Seu coração estava irritantemente acelerando e parando de tempos em tempos desde que George Weasley tinha feito aquele pedido escabroso no domingo passado e o fato lhe era relembrado..

Nott fez uma careta:

— Aquele Weasley não leva nada a sério, com certeza só quer ir com um grupo de amigos e arrastou Harrison para isso.

Blaise riu:

— O presente e todo o cortejo padrão foi por que então?

— Um Weasley nem sabe dizer para que servem as tradições! – dispensou.

— Mas ele parece conhecê-las o bastante para saber que precisam ser usadas e como, não vejo isso como uma brincadeira e duvido que Harrison veja. Potter não é tolo, ele sabe bem o que implica tudo isso e parecia bem sério para mim.

— Não foi – disseram Draco e Theo.

Blaise tornou a rir.

Pansy fechou os olhos:

— Se os Weasley voltarem a seguir as tradições, eles são parte dos sagrados vinte e oito e têm uma quantidade ridícula de herdeiros para incluir no mercado casamenteiro. O futuro Lorde Weasley ainda é solteiro, não?

Draco apertou o pé da amiga, um pedido para se calar.

Weasleys de volta na alta sociedade bruxa? Aquilo lhe causaria urticária de gnol.

Blaise, por outro lado, se juntou aquele assunto perverso:

— Eles têm atualmente três cadeiras, não? Uma Prewett e duas Weasley? Potter seria mais esperto se fosse atrás do tal William. Seriam doze cadeiras para ele e seu consorte, se conseguisse o primogênito para esse papel.

Theo dispensou:

— É claramente uma brincadeira que foi longe demais, Potter não está almejando casar-se com um Weasley.

Doze cadeiras.

Se Peverell-Potter casasse com um homem, era certeza de que seria o futuro Presidente da Suprema Corte dos Bruxos.

Ele só precisava de um Weasley para isso.

Podia ser uma família da luz, mais uma geração de liderança no Wizengamot.

As coisas estavam uma confusão, pensou Nott e estava para fazer outro movimento no xadrez quando Félix Rosier apareceu.

Imediatamente, a careta de Draco surgiu e Pansy agarrou o braço do amigo, para controlar seu temperamento. Haviam vários sonserinos olhando e estavam no ninho, não era um bom momento para ser menos que um futuro príncipe. Nott segurou um sorriso satisfeito: ao menos teria um pouco de entretenimento!

Draco acenou e sorriu sem qualquer emoção:

— Rosier.

Félix retribuiu com o mesmo sorriso vazio:

— Malfoy.

— O que deseja, monitor? – seu tom e escolha de palavras indicavam uma mensagem: ele não via Rosier mais que um simples monitor, não o reconhecia como príncipe, apenas um líder por idade e escolha dos professores, não da casa.

Félix não caiu na provocação:

— De você? Absolutamente nada – então olhou para baixo. – Nott, se importa?

Theodore piscou, os olhos em uma falsa expressão inocente:

— Eu? O que poderia querer comigo?

Blaise o encarou de soslaio enquanto Draco cruzava os braços e encarava o Rosier com uma sobrancelha levantada:

— O que quer com Theodore?

Rodier aumentou seu sorriso simpático:

— Isso não é da sua conta, não acha?

Theo riu baixinho, Blaise lhe jogou um pedaço de uma de suas peças destruídas. Draco suspirou e ajeitou a postura:

— É da minha conta, ele é meu amigo e está sob minha proteção – respondeu firme e Nott se segurou muito para não cair na gargalhada.

"Sua proteção, Draquinho? Quem teve que pegar aquele 'monstro aracnídeo filhote de acromântula' do seu quarto há duas noites atrás? Blaise que não foi".

Zabini o encarou mortalmente, como se pudesse ler a mente de Theo, mas ele conseguiu fazer valer os treinos de controle das expressões faciais de seu pai. Ah, seu deboche em relação aquilo ficou muito bem contido nos olhos.

Por algum motivo que espantou o grupo, Rosier foi o primeiro a ceder:

— É uma conversa rápida, herdeiro Malfoy, não vou roubar um dos seus – mas logo acrescentou, para continuar por cima: – A menos que você não seja tão bom e ele queira sair por si mesmo.

Claro que funcionou, Draco estreitou os olhos e se virou para Theo muito emburrado:

— Você quer falar com ele?

— Não me importo.

— Está certo, então. Vá.

Theodore decidiu ignorar como Draco agiu como se pudesse mandar nele, só dessa vez deixaria, se levantou e viu como Pansy e Blaise o olharam com ameaças silenciosas.

O garoto apenas sorriu e acenou para seu grupo antes de seguir Rosier até o lado de fora da comunal.

Algum tempo depois, tinha uma missão.

Rosier tinha solicitado os serviços conhecidos dos Nott, também chamados de xeretagem. Nada de estanho sob o sol. Os Nott sempre sabem e você poderia pedir conselhos, algumas informações em troca de outras. Politicagem básica da qual se sustentaram ao longo dos anos para enriquecer e prevalecer.

Evan Rosier, pobre bruxo, perdera uma perna na guerra, assim como Alastor biruta Moody, ele tinha de usar uma prótese, mas diferente do auror enlouquecido, o advogado e lorde da casa Rosier sentia-se incomodado com sua condição e evitava a maioria dos eventos sociais desde então. Nas próprias palavras do filho Félix:

"Meu pai sempre negou os convites dos Malfoy, porque se tivesse que ir em algum baile não ia querer ficar sentado, porque sabe que as pessoas viriam conversar por educação e dançar está fora de questão, a perna não é boa o bastante para isso. Ele só participa de noites de jogos ou coisa parecida. Lucius Malfoy sabe que seria vergonhoso para meu pai comparecer. Ter um convite pronto para o lorde Rosier é apenas uma questão de educação".

Mesmo assim, desta vez ele havia aceitado o convite de Lucius Malfoy para o baile de Ano Novo. Um baile de máscaras para a madrugada do dia trinta e um de dezembro para o dia primeiro de janeiro. Fim do período de Yule.

Alguns alunos da Sonserina, Pansy, por exemplo, estavam decepcionados que não pudessem comparecer ao baile de máscaras, "algo tão empolgante", como tinha dito, primeiro porque teriam que ficar para o feriado de natal e o período de ano novo em Hogwarts se tinham pretensão de participar do baile de inverno, segundo que os convites pareciam bem seletos e não incluíam os herdeiros, apenas os lordes.

"É claro" tinha dito Theodore para ela em algum dia naquela semana. "Os adultos não querem ter que lidar com seus filhos em um maldito baile de máscaras, Pansy".

"Seu pai deve estar nas nuvens", comentou Blaise. "Bailes de máscaras são pratos cheios para as pessoas acabarem fazendo algo comprometedor".

Dito isso, Félix Rosier confidenciou-lhe como recompensa por seu pedido (informação em troca de informação, como servia aos Nott) que ganhou uma vantagem sob seus colegas. Seu pai estava pensando em pedir uma licença especial para tirar seu filho no dia e anunciá-lo como novo Lorde da casa naquele evento.

Um pouco cedo, mas não inesperado para um lorde que, por mais eficiente que fosse em seu trabalho, não conseguia manter a casa com a mesma glória, principalmente quando sempre recebia olhares de pena dos outros.

Theodore esperava muita coisa de Rosier quando ele tocou naquele assunto. Que Nott conseguisse a lista de convidados com Malfoy para se preparar a todos que teria de se apresentar, talvez algo específico sobre algumas famílias que lhe pudesse ser útil.

O nome de Luna Lovegood não foi algo que esperava.

Nem que o pedido fosse para, veja que curioso, investigá-la.

"Ela sabe do baile" curioso, os Lovegood decerto não haviam sido convidados. "E me disse algo estranho, quero saber o quanto vale ouvir".

"Algo estranho?"

"Que eu não estou preparado para o baile. Que, se fosse eu, faria de tudo para não ir".

"Bem insultuoso", debochou Theo. "E você deixou passar?"

Félix pareceu pensar em alguma coisa que decididamente não parecia com vontade de dizer a Theodore, mas contou:

"Potter chegou na mesma hora".

"Você está bravo com ela e quer que eu a investigue, sabendo que isso pode me complicar com o Peverell-Potter? Deixe isso para lá, ela fala coisas estranhas às vezes".

"O problema é que, por algum motivo, eu estou tentado a ouvi-la, desta vez".

Theo evitou o comentário mordaz que quis fazer de que a motivação de Rosier para isso era provavelmente insegurança em suas próprias capacidades para assumir um título de lorde tão cedo, mas se ele queria se esconder atrás do conselho de uma garota avoada e meio estranha, que assim fosse.

Theo concordou em tentar descobrir alguma coisa sobre Lovegood, contanto que Félix ficasse devendo aquele favor.

Um favor por outro, essa era outra tática comum dos Nott.

A questão principal é que Luna já estava no radar de Theodore há tempos. Desde que as coisas esquisitas que a menina dizia às vezes faziam sentido e pareciam quase proféticas. Desde que alguém como Potter parecia nutrir um interesse bizarro na menina.

E, principalmente, desde que Theo precisava de um jeito de se aproximar de Potter e Lovegood parecia ter a fórmula mágica.

Qual o problema seria ela dividir isso consigo, não é mesmo?

Foi com esse pensamento em mente que Theo decidiu que já era hora de tentar fazer uma "amizade verdadeira" com Luna. Primeiro, precisava achá-la.

Era domingo, não seria fácil, ainda mais se fosse tentar parecer casual, mas tentou. Primeiro, é claro, próximo à comunal da Corvinal. Ele tinha uma noção da torre onde as águias ficavam e foi a caminho do local pensando em uma desculpa que pudesse dar para estar vagando em pleno domingo invernal por lá.

Não precisou.

Qual foi sua surpresa quando, ainda na metade do caminho, a menina não apareceu diante dele e disse:

— Você está aí.

Theo piscou:

— Olá para você também – murmurou com um sorriso que esperava ser simpático. – Ajudo com algo?

— Preciso ir até o corujal – aquilo explicava as roupas mais quentes, touca, luvas e cachecol. – Os degraus estão escorregadios, pode vir comigo?

Theo estalou a língua e aumentou seu sorriso:

— Claro, para que servem os amigos?

A menina, que já estava a meio passo de começar a andar, parou no mesmo instante:

— Amigos?

— Eu imagino que sim – disse de forma gentil. – Você está muito próxima de minha melhor amiga, pelo menos, e amiga da Pansy é amiga minha. Isso se – e tentou parecer mais tímido, baixando a cabeça – se desejar ser minha amiga.

Houve uma breve pausa, onde a garota encarou Theodore intensamente. Foi um olhar profundo, algo que dificilmente via a garota fazer, geralmente parecia tão aérea, mas agora cada parte de Nott parecia estar sendo analisada. Ela inclinou a cabeça para o lado, como um tipo de gato, então riu.

O som foi repentino, mas era interessante. A risada de Luna tinha uma sincronia perfeita entre gentil, sincera, inocente e amigável, além de bela e melodiosa. Era um som agradável que Theo facilmente associaria a uma fada, a forma como ela brilhava ao emitir aquele som também.

Ele sorriu de volta, torcendo para que aquele gesto fosse um bom sinal.

— Claro, Theodore, somos amigos – disse por fim. – Gosto de fazer amizades.

— Theo.

Ela acenou:

— Theo.

— Posso chamá-la de Luna então? Ou deveria chamá-la de Chanceler?

Ela riu mais um pouco:

— Como quiser chamar. Vamos! – e de repente estava puxando o braço do garoto com rapidez para outra direção do castelo.

Quando conseguiu se equilibrar em seus próprios pés sem cair, Theo a acompanhou em uma caminhada rápida, quase uma corrida, até o corujal e decidiu aproveitar o momento para puxar conversa.

Luna, entretanto, foi mais rápida:

— Você sabe o que são Nargles, Theo?

Ele realmente pensou naquilo antes de responder:

— Não tenho certeza. Talvez um código que você e Potter usam?

— Algo assim. Ele tem Shinisus e eu, Nargles.

— Entendo.

— Não entende. Mas tudo bem, a maioria não faz.

— Não é justamente a intenção de um código?

— De certa forma.

— Imagino, então, que não me contaria o que o código significa? – tentou de forma leviana, como se não estivesse tão curioso como estava.

A resposta o pegou desprevenido:

— Significa que você deveria ter medo de Harrison Potter.

O pior nem era o aviso velado, talvez uma prova de que a menina, assim como Ronald Weasley quando Theo tentou se aproximar de Neville, sabia exatamente o que ele estava fazendo. O pior era seu tom de voz.

Havia simplesmente perdido aquela delicadeza de fada, foi substituído por um tom seco. Não havia nada de mais nele, mas era tão vazio em comparação com tudo que já vira na garota até então que ficou pouco humano. Objetivo e sério.

Frio.

Ele piscou e tentou parar, mas o puxão de Luna o arrastou para continuar andando.

— Luna?

— Não precisa se preocupar. Não estou ofendida. Você é amigo de Pansy, realmente seria interessante ser seu amigo também. O que te motiva não é da minha conta – dispensou, mas o tom seco ainda estava lá.

Theodore não soube o que dizer a princípio, ficou calado e seguiu a menina para fora. Foi só quando eles pararam diante dos degraus quase congelados e o vento gélido que ia para a torre do corujal, que conseguiu pensar em algo que valia a pena ser dito:

— Acho que é a sina de um chanceler.

— Sina?

— Todos vão querer se aproximar de você para ter autorização de conversar com o príncipe.

— O chanceler é o guardião do selo real. Precisa de autorização para alguma lei, Theodore?

— Um chanceler também pode ser o responsável pelas relações exteriores. Posso não querer muito além de uma audiência.

Luna inclinou a cabeça:

— Também pode ser aquele que elege membros para o governo que serão indicados pelo líder do estado. É isso que você quer, não? Você é ambicioso, não quer uma audiência quando pode ter uma posição em tudo isso.

— Quem sabe – ele murmurou, pegando sua varinha e apontando para os degraus congelados e provavelmente escorregadios. – Mas acho que não fui tão ofensivo assim indo atrás de você.

Era uma jogada arriscada aquela, na verdade, mas a este ponto era pouco provável que Lovegood acreditasse em suas boas vontades. Ela sabia.

Assim como quando ele e Blaise apostaram sobre Harrison e ela os olhou como se soubesse.

A menina tinha bons instintos, não podia tratá-la diferente disso sem ser ignorante aos vários sinais que ela já tinha dado.

— E – acrescentou – Não menti. Você realmente é amiga da minha amiga mais próxima.

— Você considera mesmo Pansy sua melhor amiga?

Incendio — sussurrou Theo com um floreio da varinha e chamas saíram direto para os degraus, derretendo o gelo. – Assim é mais seguro, eu vou na frente – e seguiu para o próximo degrau.

Luna ficou exatamente um atrás dele, aguardando, um passo de cada vez.

— Sim. Pansy é minha melhor amiga – admitiu quando chegaram ao terceiro. – Eu sou péssimo demonstrando aos meus amigos que gosto deles, mas gosto.

— Conheço alguém que também já foi bem ruim nisso.

— Então você entende – ele deu de ombros.

— De certa forma. Você não negou suas ambições.

— Seria tolice, a este ponto todo sonserino pode dizer que gostaria de um lugar no círculo íntimo de Peverell-Potter.

— O problema é que você quer mais. Ou vai querer.

Theo sorriu e olhou para trás, estendendo a mão para ajudá-la a subir mais um degrau:

— Dizem que os Nott sempre querem mais.

— Por isso os Nargles não se decidiram sobre você.

— Como posso fazer para ajudá-los a alcançar a resposta?

Luna ficou um tempo em silêncio, eles seguiram aquela caminhada cautelosa até o corujal e foram recepcionados pela torre alta cheia de poleiros e aves aguardando uma missão, sentadas nas tábuas de madeira encolhidas para se aquecer, apesar de ali estar mais quente que do lado de fora, provavelmente o castelo encantado procurando um ambiente que fosse agradável para todas, apesar das diferentes espécies ali.

A menina loira cantarolou uma musiquinha e uma coruja branca muito bonita se aproximou e recebeu um carinho sutil entre as penas:

— Theo, conheça Edwiges. Edwiges, esse é Theo, ele acha que pode beijar Harrison.

O garoto riu, porque a este ponto, o que mais podia fazer? Ela sabia da aposta. Talvez Pansy tivesse dado muita bandeira, talvez Blaise. Ou quem sabe fosse uma situação como quando Luna disse no almoço que Harrison não jantaria e na mesma noite, lá estava, seu tutor em Hogwarts para chamá-lo e interromper seu jantar.

Ela tinha alguma forma de saber das coisas e isso não assustava Theo mais do que o interessava. Queria ter esse tipo de informação privilegiada também.

Se ela achava que seus motivos não importam, então estavam de acordo: Theodore tinha mais motivação ainda para se aproximar de Luna Lovegood.

Ele sorriu para a menina:

— Acha que eu não tenho chance?

— Quem sabe?

— Você parece ser do tipo que saberia. O que os Nargles dizem?

Aquilo, ao menos, tirou uma risada da menina:

— É sobre isso, entende? Você não faz as perguntas erradas ou foca no que não é totalmente necessário. A maioria das pessoas manteria sua mente no que não sabe, querem muito mais do que os outros estão dispostos a oferecer logo no começo e fingem entender o que está longe de seu alcance. Você não tem pressa e faz suposições espertas, e busca formas e autorização para descobrir por si próprio. Não importa como eu sei das coisas, importa como eu reagirei e se permitirei que se aproxime. Não interessa a informação toda, porque eu tenho esse poder, porque estou te confrontando com ele, mas como você pode chegar nos fatos eventualmente, como abrir espaço independente do tempo que leve para isso. Eu, portanto, tornei-me uma porta.

Theo encarou a menina, que continuava olhando para a coruja a sua frente com aquele ar etéreo.

Astúcia.

As palavras dela estavam cheias disso. Luna não era uma garota tola que talvez um dia tivesse pensado, ao mesmo tempo, não havia sequer um brilho disso em seus olhos.

O disfarce perfeito, se fosse um...

— Pela forma como disse essas coisas, me parece que meu saldo é positivo? – ele fez soar como uma pergunta.

Luna tirou uma caixinha de dentro do casaco e Theodore sentiu-se com mais frio do que vinha sentindo enquanto usava a magia de fogo, abraçando a si mesmo para conter algum calor.

A caixa foi dada à coruja, que se agarrou a ela e saiu, sem precisar de nenhuma indicação, como se já soubesse exatamente para onde ir.

Theo a observou partir enquanto dizia:

— É o pagamento pelas revistas dessa semana?

— Viu? Suposições espertas. Alguns ainda pegam edições comigo.

— Bem, esta não foi tão difícil – sorriu. – E então? Não respondeu minha pergunta. Acha que não tenho chance de ganhar minha aposta? Você vai contar para Harrison?

— Contar a ele? Não preciso, ele pode acabar descobrindo sozinho.

— Os Shinisus vão contar?

— Ou ele percebe pelos fatos. Para conseguir beijá-lo, você precisa se aproximar, pode acabar sendo óbvio demais.

— Estou sendo bem discreto até agora.

— Dito isso, eu já percebi. E não fui a única a ver que está tentando alguma coisa, não é mesmo? Ronald Weasley notou.

Theodore fez uma careta:

— Ele te disse alguma coisa?

— Nós nos falamos muito pouco. Mas se quer uma resposta, aqui vai: eu não acho que esse seja um objetivo que conseguirá alcançar.

— Por que não?

— Agora você está focando na coisa errada, mas tudo bem, uma cobra só desiste de um objetivo depois que ele já se tornou impossível, não é mesmo?

— Nada é impossível, só se acreditar que é.

Luna acenou:

— Boa sorte então – e sorriu, estendendo o braço.

Theodore ofereceu o seu e os dois desceram a torre.

Depois de pouco tempo em silêncio, ouvindo o vento selvagem de inverno, Luna começou a falar.

Parecia falar consigo mesma, ou com a neve, não com Theodore, ela estendeu a mão e pegou alguns flocos que caíam em sua direção com um olhar fascinado. Como se um floco de neve fosse precioso como a mais cara pedra:

— Eles não sabem ainda. Os Nargles.

Theodore perguntou, mesmo que tivesse quase certeza de que a menina não o escutaria:

— O que eles não sabem?

Ela, entretanto, pareceu responder:

— Não sabem quem conseguirá chamar a atenção de sua alteza e torná-lo seu de verdade. Ou se alguém é capaz de reivindicá-lo um dia. Ele muitas vezes acha que pode fazer tudo sozinho e pode preferir seguir esse tipo de caminho só. O que ele conseguiria, sem o tornar menor, mas seria triste.

Theodore deu de ombros:

— Algumas pessoas são melhores sozinhas. Isso não é triste.

Luna então olhou para ele. Aquele olhar profundo, como se o visse pela primeira vez, então cantarolou:

— Algumas pessoas têm medo de nunca encontrar alguém que as torne melhor em par do que sozinhas. Outras só não querem, é verdade, mas como distinguir o medo e o momento errado de uma certeza?

— Está falando de mim ou dele?

— Talvez dos dois. Vocês são parecidos e esse é o problema. É o que fará você o desejar um dia.

Que bom que Theodore não tinha nada na boca ou teria engasgado, decerto ele teve que engasgar uma risada e Luna sorriu com conhecimento de causa:

— Muito parecidos. Ambos debocham do casamento. Da união. Isso pode se virar contra vocês um dia.

Theodore não tinha muito como responder aquilo e optou pelo silêncio.

Luna olhou para cima, para o céu e as nuvens carregadas. Ela abriu a boca e aguardou, aparentemente para pegar agora alguns flocos com a língua. Theo foi paciente e assistiu a garota, que mais parecia uma simples criança agora, com uma curiosidade renovada.

Quem via assim, não imaginava uma águia astuta.

Talvez assim ela conseguisse dar o bote.

Ele tremeu, porque estava frio e ela pareceu notar, puxando-o de volta para dentro do castelo.

Lá, o menino pôde enfim sentir que as pontas dos dedos de seus pés não estavam mais congelando e pensar mais claramente. Tinha que tentar continuar com a garota. Puxar assunto, ter certeza de que a oportunidade não lhe escaparia.

De descobrir mais sobre os dois.

Harrison e Luna Lovegood.

Ele perguntou, esfregando as mãos para aquecê-las:

— Se somos tão parecidos, então eu tenho alguma chance.

— Não... – murmurou distraidamente e retirou seu cachecol e enrolando no pescoço do menino.

Ele agradeceu o gesto, poderia esfregar aquilo na cara de Pansy também para irritá-la.

— Por quê? – perguntou. – Não sou o tipo dele? Não sou ruivo nem loiro – brincou, lembrando-se do que Harrison havia dito na semana anterior.

Luna pareceu avaliá-lo antes de suspirar e olhar para o corredor vazio por um tempo. Por fim, ela pareceu perder novamente o foco no olhar, como se estivesse encantada, sua voz parecia distante enquanto falava:

— Eles acham que falta descobrir muito, você só seria uma escolha se sua alteza não aprendesse. Se ignorasse os sinais e o que o mundo quer lhe ensinar. Há muito a aprender ainda, tanto da parte dele, quanto das pessoas. Alguns Nargles até sentem que a linha vermelha do destino já foi traçada, presa a alguém que aguarda por ele, mas está amarrada em seus dedos frouxamente. Um simples puxão, gerado por medo e uma incerteza perante o mundo e o julgamento, mesmo diante do amor verdadeiro, os farão desistir e Harrison acabará só. E de novo, não é que ele fique triste sozinho, ele nunca mais estará totalmente sozinho, mas é triste que exista alguém ideal para ele, ligado pelo destino, mas que as circunstâncias haverão de afastá-los, simplesmente porque o mundo é o que é e as pessoas não veem esse tipo de união com os melhores olhos. A dor pode não compensar em suas mentes. E parece que o destino já escolheu um favorito, mas é inalcançável. Ainda. Falta... viver mais. Eles precisam de mais tempo. Juntos e separados, para aprender.

Durante um tempo, os dois ficaram em silêncio, apenas o som do vento e o piado distante de alguma coruja.

Theodore pensou com cuidado em cada palavra dita, nas possíveis entrelinhas e se arriscou a fazer uma de suas suposições espertas. Uma ideia lhe veio e ele estreitou os olhos, frustrado:

— Desculpe se estou enganado, mas parece que você está falando de Draco.

— Como? – questionou a menina distraída.

— O fio vermelho do destino pode se partir se for puxado, por medo, incerteza, insegurança perante a opinião das outras pessoas. As circunstâncias haverão de afastá-los, a dor pode não compensar... Falta viver também, ele ainda não é o bastante. É realmente um mimadinho que mal saiu das fraldas e não sabe como ou o que fazer para deixar alguma marca significativa no mundo. Acha que Draco é o tipo perfeito para Potter? Por isso eu não tenho chance de ganhar a aposta?

Luna murmurou algo inaudível e continuou olhando para o fim do corredor. Levou quase um minuto inteiro para que sussurrasse:

— Parece Draco, não é?

— Não era para ser sobre ele?

— Não tenho ideia – disse, enfim recuperando o foco no olhar e se virando para Theodore. – Acho que se encaixa em muitas pessoas. Tantos outros estão com medo de assumir quem são, ou talvez não seja medo, mas uma dificuldade em saber quem é, o lugar a que pertence nesse mundo e o que quer para sua vida. Uma falta de auto reconhecimento. Uma pressão de se tornar algo específico para os amigos e a família, não decepcionar, então achar que é errado sentir o que sente, até o tempo é um fator e acabaria por puxar aquele fio tão delicado. Falta viver mais, sem dúvidas, mas se esperar demais também será tarde.

— Você não tem ideia, mas sabe que eu não me encaixo, é isso?

— Exato.

— O gêmeo Weasley se encaixa?

— Não é o favorito, ainda não, mas é o que está avançando mais rápido e pode tomar esse lugar, não é?

— E quem é o favorito?

Luna riu, aquela risada de fada, e voltou a se agarrar ao braço de Theo, puxando-o para outro canto do castelo do qual ele não tinha a menor ideia.

— Não sei, acho que não conversamos o bastante ainda.

-x-x-x-

Gellert sempre dizia que para um vidente não existiam coincidências ou acaso. Existiam fatos que eles escolheram ou não enxergar.

Albus estava enxergando muitas coincidências nos últimos tempos e queria ter certeza dos fatos.

Mas os guardas em Nurmengard, infelizmente, não concordavam consigo e estavam impedindo-o:

— Sem condições! – disse Langkau incisivamente.

Outro guarda, mais ao lado, resmungou:

— Estão achando que esse lugar é para passeio agora?

Albus estreitou os olhos:

— Estão? Plural?

Ele não tinha sido o único a ver Gellert recentemente?

Langkau fechou mais a cara e olhou para o colega com uma expressão mortal que também direcionou a Albus em seguida, com um bufo de homem cansado:

— Sua última visitinha aqui fez com que um dos netos de Gellert achasse que tinha direito de vir dar olá. Você não vai entrar e me dar mais dor de cabeça e papelada, está fora de condições.

— Vocês deixaram um membro da família entrar? – surpreendeu-se e pensou em Lakroff, no dia em que ele sumira.

Estaria envolvido?

Ranulf Langkau pareceu que poderia estrangular alguém agora, ele até fez um gesto firme com as mãos como se estivesse se contendo para não voar no alvo mais próximo:

— Não tivemos escolha. Você, uma pessoa qualquer, fazendo uma visita e toda aquela merda de direitos humanos que a nova geração está levando em consideração – revirou os olhos, cruzando os braços. – De repente, eu estava tendo que lidar com dois espécimes de Grindelwald esperando para ter uma chance de cutucar o tigre com vara curta. Escute Albus, Gellert tem que ficar quieto, mas se você entrar de novo, não sei o que vai ser. Por que não voltamos aos velhos tempos e deixamos um neto entrar toda semana até ele simplesmente fugir com a nossa guarda baixa? Volta para a Inglaterra, de verdade, não tem nada aqui para você.

— Será rápido, um de vocês pode entrar comigo.

— Não.

— Eu preciso verificar um dos feitiços.

— Estão todos em dia.

— E se não estiverem? Gellert pode estar armando uma coisa.

— Deixe de ser paranoico e me irritar, estamos fazendo nosso trabalho muito bem, obrigado. Agora saia.

— Senhor Langkau, nunca duvidei de que os senhores estivessem fazendo o possível para manter Gellert aqui, mas há coisas que nunca podemos descartar vindo de um estrategista poderoso como ele.

— Pode ter certeza de que não descartamos nada.

— E Lakroff Mitrica?

O nome fez alguns guardas pararem com sua digitação frenética e olharem para Albus. Foi como soltar uma bomba fedorenta de um dos gêmeos Weasley. Um efeito bem interessante, se quiser saber.

Langkau lambeu os dentes como se estivesse pensando em arrancar com eles um pedaço do pescoço de Dumbledore:

— O que tem esse homem?

— Vocês acham mesmo que ele é filho de Gellert?

— Que merda ­– e começou a xingar em alemão, se afastando de Dumbledore. – Você viu a cara dele? Acha que é o quê? Filho seu? É uma maldita cópia do pai!

— Acho que Lakroff Mitrica é o verdadeiro Gellert Grindelwald e o homem aqui é um impostor.

Ou pior, completou mentalmente.

Se o que Aberforth disse era verdade e "Lakroff Mitrica" sabia a receita para a pedra filosofal, aquele que Albus viu quando fez a última visita, o homem que achou que era Gellert podia ser uma coisa muito pior.

Algo que Gellert preparou especialmente para Albus.

Para enganá-lo e para que nunca pudesse dizer em voz alta sem revelar seus próprios crimes.

Mas como teria feito?

Credence? Foi por isso que usou o menino? Era muita covardia... Baixo até para Gellert. Mas isso Albus se perguntaria depois, assim que tivesse sua confirmação.

Langkau, por outro lado, não parecia nada interessado em ouvir a teoria de Albus:

— Você está brincando com a minha cara, é pegadinha? Espero que seja porque, pelos Blocksberg, Albus, eu estou a dois passos de mandar você para o inferno!

— Escute...

— Você está sugerindo que prendemos o homem errado?! Você mesmo o viu há um mês atrás, seu infeliz!

— Eu sei, mas talvez todos tenhamos sido enganados por um tipo de magia muito específico.

— Não existe magia para enganar todos os feitiços, runas e rituais de contenção aqui, Albus! Usamos o sangue dele, marcamos em sua pele, aquele homem não pode ser outro que não Gellert! O que pode te fazer acreditar no contrário?

— Não acha mesmo suspeito que Gellert tivesse um filho que ninguém nunca ouviu falar antes?

— Não, não acho! Ele tem a merda de uma família inteira que está se multiplicando e da qual nunca tivemos nem ideia e espero continuar não sabendo. A menos que tenha uma pista verdadeira que não seja suspeitar do filho, o qual, por todos os bruxos das trevas, é claro que investigamos quando o encontramos, não vou concordar com suas loucuras!

— Investigaram mesmo? Lakroff passou por todos os feitiços possíveis?

— Gellert passou. Você viu a cara do Mitrica! A primeira coisa que pensamos foi na poção polissuco e toda uma bateria de exames foram feitos. Lakroff Mitrica teve a paciência e o discernimento de entender nossa surpresa e forneceu todos os documentos para comprovar sua história...

— Mas e os feitiços que fizeram nele?

Langkau pareceu bem incomodado por ter sido interrompido, mas respirou fundo e respondeu:

— Ele é um civil. Filho ou não de Gellert, não tínhamos um motivo válido para sujeitá-lo a coisas do tipo, mas Gellert foi testado até o último dedão do pé e podemos provar que ele é quem achamos que é.

— Posso ver os arquivos disso?

— Já chega, não dá para mim, alguém o tire à força.

Alguns guardas realmente se aproximaram para fazer o que foi mandado. Albus procurou Zunata com o olhar, sem o achar, decidiu chamar por ele:

— Quero falar com o General Zunata.

Os guardas à volta pareceram bem irritados e ofendidos com aquilo e estavam agora mais motivados a arrancar Albus dali.

— Vamos, saia – disse o mais próximo, levantando sua varinha.

Albus encarou-o:

— Não levante sua varinha para mim, criança. Vocês não podem me impedir de falar com o chefe.

Langkau cruzou os braços para Albus:

— Só porque você foi quem o derrotou antes, não quer dizer que tem direito de dar ordens aqui!

— Eu o derrotei, sei o quão difícil é, não podem realmente acreditar que Lakroff Mitrica conseguiria. Estou dizendo que tem algo errado.

— Ele está velho! – o guarda reclamou. – Não usava magia há anos e era seu próprio filho, onde raios você vê a dificuldade?

— Todos os guardas mortos e você não conseguiram.

Aquela foi a resposta errada. Mencionar o massacre terminou de pregar o último parafuso no caixão de Albus.

Ele foi arrancado por guardas furiosos e que gritaram para que nunca mais voltasse.

Mas ele voltaria. Não ia continuar com aquela dúvida.

Ele podia mandar uma carta para Uravat Zunata pedindo pela entrada, mas isso só acabaria enfurecendo irreversivelmente os demais soldados, além de que demoraria e até mesmo poderiam queimar a mensagem antes de chegar ao chefe da fortaleza, se ela precisasse ser averiguada antes de entrar em sua sala.

Não funcionaria.

Estava frio e Albus precisou refazer feitiços de aquecimento, mal conseguia enxergar dois palmos à sua frente na nevasca e naquele clima terrível só conseguia pensar em Aberforth, chamando-o pela lareira naquela tarde.

"Minha casa, agora".

Era estranho que Aberforth fosse tão incisivo, ele normalmente ignorava Albus e o tolerava em uma indiferença tensa que fingia ser pacífica o bastante para conviverem.

Isso moveu Albus diretamente para o cabeça de Javali, mas não esperava, mesmo que pensasse nos piores cenários, o que aconteceu.

Aberforth encontrou Lakroff Mitrica.

E assim como Albus, achava que tinha algo errado naquela história.

"O pior", tinha dito Aberforth, "É que se eu estiver certo, a culpa é sua. Foi você que causou toda essa merda, você que foi mexer com Nicolau Flamel e é claro que Gellert descobriu seu maldito plano nojento! A culpa é sua e dessa sua necessidade de agir como um maldito Deus que sabe mais do que todos!"

Albus sabia que Aberforth estava ciente de sua maior vergonha, de cada uma delas, mesmo assim eles nunca tocavam no assunto, assim como nunca falavam de Ariana.

Tinha um motivo.

Aberforth conseguia parecer bem assustador quando estava furioso.

Além de que doía em Albus saber que ele foi o causador daquele olhar de desprezo que seu próprio irmão lhe dirigia.

De todos os olhares que Dumbledore já recebeu, o de sua família era o que machucava mais. O que guardava mais nojo. Que o fazia se sentir mais culpado de cada falha.

E haviam muitas para se arrepender.

Albus não podia deixar as coisas como estavam.

Voldemort estava se mexendo e não podia suportar a ideia de que Gellert estava aprontando alguma coisa simultaneamente.

Não poderia ir para a guerra e deixar aquilo como estava.

Não poderia olhar para Aberforth e dizer que conseguiu nada, mas se tentasse de outra forma...

Foram algumas horas depois, observando a fortaleza, que Albus usou tudo que conhecia e decorara sobre o lugar para invadi-lo.

Uma parte dele sentia-se muito culpado por usar aquele conhecimento, dos turnos dos guardas, dos pontos mais protegidos, dos feitiços usados, para simplesmente invadir e, mesmo com tudo que tinha na mente, foi absurdamente difícil passar sem ser percebido. Quando enfim entrou na cela de Gellert, estava realmente exausto.

Exausto demais para lidar com a risada que o lorde das trevas ofereceu.

— O que foi? – questionou irritado.

Gellert riu mais, aquele olhar leitoso na cara, como se estivesse ficando cego. Aquela farsa que Albus também não estava com paciência para lidar.

— Sabia – comentou Grindelwald, se movendo no canto da sala em que estava apoiado, sentado e encolhido, as correntes o cercando como serpentes. – Que depois da sua visita acrescentaram feitiços e runas novas em mim?

— Eu pedi para fazerem isso.

— Imaginei. Muito cruel, Al. E eu achando que éramos velhos amigos.

A cela escura de repente brilhou com uma luz vermelha incandescente e Gellert gemeu de dor quando começou a sentir as correntes queimando-o. Albus se lembrou de que elas deveriam perfurá-lo e puní-lo ao sinal de qualquer magia e Gellert devia estar tendo uma visão.

Ou tinha tentado usar magia, Albus não estava com vontade de sentir piedade do homem hoje.

Por mais que pudesse doer ver o tratamento inumano que davam a alguém, aquele alguém era Gellert, tinha de se lembrar disso.

Ou pior: podia nem ser o homem.

Ele se aproximou.

— Você me obrigou com esses seus truques.

Gellert praticamente cuspiu a palavra:

— Truques. Hipocrisia dizer isso quando se está invadindo.

Albus soltou um sorriso ácido enquanto se ajoelhava para ficar de frente para o homem:

— E quem é você para me julgar?

— O que está fazendo?

— Pegando um pouco do seu sangue, espero que não se importe.

— Eu juro que, se estiver pensando em fazer algo macabro com isso, assim que estas runas terminarem de me matar, eu volto para te assombrar.

— Só quero confirmar uma coisa.

— Eu posso chamar os guardas.

Albus encarou diretamente aqueles olhos cinzentos e esperou que Gellert tirasse aquela ilusão. Parece que ele não estava conseguindo, se é que tentou, mesmo assim Grindelwald olhava em sua direção, então mesmo que visse um borrão, sabia onde Dumbledore estava e aquilo bastava.

— Você vai chamá-los? – perguntou Albus.

Silêncio. Gellert ficou quieto por um tempo e Albus tomou aquilo como um não.

Talvez, infelizmente, eles fossem velhos amigos, mesmo com tudo.

Ele estendeu a mão com o fraco que tinha trago e observou de onde poderia tirar o que precisava.

Gellert falou:

— É por causa do meu filho, não é?

Aquilo fez Albus parar e voltar a encarar o vidente. Novamente, uma luz incandescente iluminou o local, principalmente as feições doloridas e cansadas de Gellert.

Assim, tão de perto, Albus não conseguia sentir raiva dele. Não quando ele parecia tão doente. Não quando as visões que ele sempre odiou agora o feriam fisicamente contra a sua vontade. Era castigo demais.

Dumbledore agarrou a mão do antigo amante, como se pudesse ajudá-lo com a dor que sentia e Gellert retribuiu o gesto, segurando com força enquanto as correntes ainda o perfuravam. Albus não precisava pensar muito mais, havia sangue pingando agora.

Ele, entretanto, não teve coragem de se aproveitar disso.

— Vamos – disse Gill com uma voz rouca e fraca. – É o que veio pegar, não?

Ele tentou soltar a mão de Albus, mas o grifinório não soltou e os dois ficaram ali, de mãos dadas, em silêncio, como se esperando que algo acontecesse.

Gellert foi o primeiro a quebrar o silêncio:

— Se demorar demais, eles podem te pegar.

— E você se importa?

— Eu sempre me importei, você que não entendia isso. Você escolheu me deixar primeiro.

— Eu não tinha escolha, Gill. Não quando você decidiu traçar aquele caminho e não desistir dele.

— Mesmo assim, eu não desisti de você até o último minuto.

— Nós dois desistimos, ou o pacto não teria se quebrado.

Gellert negou com a cabeça:

— Não. Ele se quebrou porque eu senti que só te machucando poderia ir mais longe, que só haveria dor no nosso caminho porque você não mudaria de ideia, não me escolheria mais. Albus, você preferia sua causa à mim. Mas eu ainda te amava.

Albus conseguiu conter sua própria boca, apesar de não ter o mesmo sucesso com seus pensamentos:

"E eu ainda amo".

— Você teve mesmo um filho, Gellert?

— Tive.

— Não minta para mim.

— Não estou mentindo, você acreditando em mim ou não, é um fato. Eu poderia jurar por minha vida e magia e continuar nessa cela escura. Tive um filho, Albus. Mas... meu filho não teve seu pai – havia tanto pesar na voz do homem naquelas últimas palavras que, por um segundo, Albus acreditou.

Ele realmente acreditou que Gellert não estava mentindo dessa vez.

Lembrou-se das coisas que Lakroff Mitrica dissera em sua sala, da amargura que parecia nutrir por Gellert e as coisas pareciam fazer sentido. Mesmo assim... Olhou para o pouco de sangue que tinha nos braços do homem e pegou um frasco em seu bolso, passando por onde os braceletes deixavam o vermelho escorrer, pegando o que conseguia, acariciando em seguida, como se isso pudesse aliviar um pouco daquele sofrimento sem fim.

— Essas são as consequências das suas atitudes, Gill, eu sinto muito, mas não posso mais te ajudar.

— Eu não pedi sua ajuda. Nem nunca disse que não eram consequências. Eu sei bem o que fiz e sei pelo que estou pagando – e, isso ainda machucava Albus, ele não parecia arrependido.

Pelo contrário, disse aquilo com orgulho, uma vivacidade brilhando no olhar.

Albus suspirtou.

— Se Lakroff Mitrica é mesmo seu filho, por que você foi até ele? Por que quando fugiu, foi até aquela casa? Qual era seu plano?

Gellert inclinou a cabeça e fechou os olhos com força quando outra vez as correntes e os braceletes de ferro rúnico que as prendiam se iluminaram. Ele aguentou a dor enquanto pôde, até evitou gritar, Albus notou isso. Se gritasse, um dos guardas poderia aparecer, Gellert o estava defendendo.

Por algum motivo.

Aquilo só doeu mais em Albus, que assistiu impotente voltando a se agarrar à mão do mais novo, torcendo para que aquilo acabasse logo, mas não acabou. Aquela parecia ter sido a visão mais duradoura porque eles devem ter ficado uns bons três minutos ou mais naquela situação. Gellert, quando enfim tudo se apagou, estava tremendo e chegou a babar, a boca aberta para conseguir algum ar.

— É todo dia assim? – perguntou Albus.

— Você sabe como elas são – respondeu fracamente, o peito subindo e descendo descompassado. – Eu te contei, você me via quando as tinha. Nunca mudou.

Mais silêncio. Dumbledore esperou que Grindelwald pudesse se acalmar, tomar alguma força de algum lugar. Porque um bruxo sendo machucado como ele estava e com runas que prendiam a magia em seu próprio corpo era perturbador. Mas ferirem ele era o que estava estendendo a tortura, pois sua magia não podia sair, então a única coisa que devia estar fazendo naqueles anos era gastar tempo tentando curar a si mesmo de cada novo ataque. Um ciclo vicioso de crueldade. Ele tem uma visão, é machucado, sua magia o cura, e por isso não implode, não o mata, porque boa parte é drenada nessa tarefa, então ele vive mais um dia, mais dois, a cura cada dia mais forte, tolerando mais, ele tendo de tolerar mais dor porque suporta agora, mais tempo acordado, mais tempo sofrendo.

Como será que foi para o neto que o visitou vê-lo assim?

— Soube que você teve uma visita.

Gellert inspirou fundo e sua voz saiu muito baixa quando respondeu:

— Obrigada por isso, fazia tempo que não via minha família. Pude conhecer o mais novo.

— Você se importa com eles – não era uma pergunta, mas havia um toque de surpresa que incomodou o mais novo.

Gellert levantou uma sobrancelha:

— É claro.

— Podia ter desistido da guerra por eles. Decerto os viu em suas visões.

— Eu fiz a guerra por eles. Mas você não entenderia, não agora, se esqueceu do bem maior em que acreditávamos, escolheu o oposto.

— Não existia bem maior em subjugar uma espécie, em se achar superior.

A risada que Gellert deu foi esquisita e Albus se remexeu nervosamente:

— O que é?

— Achei hipócrita.

— Eu mudei.

O sorriso de Gellert se estendeu, ficou mais proeminente, escondia mais coisas quando ele negou com a cabeça:

— Será mesmo que foi o caso?

Uma longa pausa. Albus ouvia as respirações dolorosas de Grindelwald e tentava não se deixar afetar pelo homem.

Ele não ia mexer com sua cabeça, não daria esse poder a Gellert e sua capacidade de manipulação. Ele era encantador, por isso juntou tantos para lutar aquela guerra, Albus estava velho demais para se deixar levar.

— Você não respondeu minha pergunta. Por que fugiu e foi ver seu filho?

— Lakroff precisava de mim e eu precisava dele, mesmo que ele me odeie por quem sou. Queria pedir algo a ele.

— Pedir algo?

— Para não ser como eu. Para cuidar da nossa família. Para viver... soube que ele não estava fazendo muito disso.

Albus franziu o cenho, incrédulo e confuso.

Gellert não se arrependia, mas não queria que o filho seguisse os mesmos passos?

— Não entendo. Você fugiu apenas para isso?

— Eu fugi porque quis. Porque estava cansado de não fazer nada. Mas no fim, eu perdi, percebi que não tinha mais vida para mim, então era melhor que minha família tivesse. Eu me entreguei.

— Disseram que Lakroff te derrotou.

— Ah, ele me acertou uns bons feitiços e maldições, não teve piedade nenhuma, com certeza, mas não foi uma luta. Eu não tentei brigar. Saí um pouco, tomei um ar, já bastou para mim.

Albus finalmente teve forças para soltar a mão de Gellert e fez como se tivesse uma praga:

— Você matou dezenas de pessoas para tomar um ar?!

— Eu disse que estava cansado daqui – cantarolou.

— Você é louco!

Gellert soltou um sorriso, um sorriso insano e desconfortável. Mesmo com aqueles olhos leitosos, ele pareceu encarar diretamente a alma de Albus e além quando disse:

— Nós dois somos. Eu sou apenas o que está na camisa de força. Quanto tempo vai levar para você ganhar uma também?

— Eu aprendi a não deixar essa loucura prejudicar as pessoas.

Gellert gargalhou. Foi instantâneo e tão forte que balançou todo o seu corpo. Albus se levantou, pronto para ir embora enquanto o outro continuava a rir:

— Boa sorte com o sangue que você roubou de um necromante em uma fortaleza ilegalmente.

Albus saiu daquela cela sem trocar mais nenhuma palavra.

Quando voltou para Hogwarts e para sua sala, estava tão fraco que caiu no chão antes de alcançar o quarto, afinal entrar foi ainda mais fácil do que sair de Nurmengard e o primeiro já tinha sido um suplício.

Como se conversar com Gellert também não lhe tirasse as forças.

Ele ouviu os quadros falando consigo e fechou os olhos, tentando não cochilar ali mesmo, e quase xingou, por mais incomum que fosse vindo dele, quando ouviu alguém bater à porta.

Ele tentou se levantar, mas não conseguiu, acabou fazendo barulho demais ao cair e a pessoa do outro lado agora saberia que estava ali, não adiantava fingir que não (o que foi uma ideia, mas enfim), ele tomou três lufadas de ar e tentou de novo.

Fracassou outra vez.

Maldita fortaleza, Gellert tinha que tê-la feito tão bem?

De novo, Albus conhecia aquela coisa, ajudou a aperfeiçoar, não devia ser uma missão tão impossível e mesmo assim mal conseguia sentir a própria magia, como se toda ela fosse drenada por aquela situação toda.

— Dumbledore?

Ele ouviu a voz do outro lado da porta e se perguntou por que Severo Snape estaria querendo lhe falar aquela hora, mas não importou tanto quanto a vantagem de ter o homem por ali.

— Entre – pediu.

Snape puxou a maçaneta e, para seu crédito, apenas teve uma leve abertura de seus olhos quando encontrou o diretor no chão, mas já se recompôs e entrou apressadamente, fechando a porta atrás de si.

Sua voz estava normalmente controlada quando perguntou:

— Precisa de uma poção?

— Acho que sim, Severus. Algo para repor minhas energias.

— Posso ir buscar agora mesmo.

— Se puder fazer a gentileza de me ajudar a chegar até minha mesa primeiro, eu seria grato.

Severus se abaixou e ajudou Albus a colocar o braço em torno de seu ombro, caminhando apoiando seu peso até que chegassem à escrivaninha. Fawkes não estava à vista, considerando sua idade, provavelmente tinha acabado de queimar e se tornado um filhotinho. A suspeita foi confirmada quando ouviu alguns piados baixinhos e ficou aliviado. Não queria preocupar a ave e era melhor que estivesse pequena demais para sentir o que seu mestre estava passando.

— Posso saber o que aconteceu? – perguntou Snape quando o diretor estava devidamente alocado em sua cadeira. – Para saber quais poções trago?

— Exaustão mágica, Severus, passei por muita coisa. Nada demais, entretanto. Nenhum ferimento físico. Preciso, na verdade, de uma poção muito específica sua que não sei se teria.

— Qual seria?

— Preciso testar uma amostra de sangue – das vestes, retirou e mostrou a Severus o frasco que havia ampliado e guardado as gotas que conseguiu coletar do sangue de Gellert – Preciso fazer um teste para averiguar a origem do bruxo. Ter certeza de quem é.

Goblins tinham uma magia bem melhor para isso, se eles aceitassem ajudar Albus, poderia conseguir a árvore genealógica de Gellert com aquilo, mas convencê-los a fazer tal coisa com sangue coletado seria muito difícil.

E havia outro jeito.

O modo bruxo.

Com um pedaço de unha, cabelo. Sangue seria muito potente.

Os Aurores normalmente usavam a técnica para suas investigações. Se Severus não tivesse, os contatos de Albus no ministério deveriam ter ao menos o suficiente.

Snape, entretanto, estava preparado:

— Alguns ingredientes estavam faltando. Acho que alguém andou roubando do meu armário, mas tenho uma amostra para uma transformação, posso preparar mais.

Só que levaria ao menos um mês. Além de que, pensou Albus, se a Descurainia de Severus estivesse em falta, teriam que esperar a próxima lua cheia para colher mais, então seriam em média dois meses para ter a poção.

Dois meses.

Para coletar uma amostra de DNA de Lakroff Mitrica.

— Posso esperar, enquanto isso se puder me oferecer aquelas poções para exaustão.

As poções não fizeram muito mais do que regularizar os batimentos cardíacos de Albus e aplacar a dor que sentia nos músculos. Seus pulmões não ardiam mais e ele sentia um sono relaxante, apesar de ainda não querer dormir.

Snape lhe entregou uma mistura que parecia lama espessa e escura que borbulhava muito lentamente, provavelmente por ser velha.

— Quando foi feita? Ainda está em bom estado?

Severus revirou os olhos, como se Albus perguntar fosse um insulto às suas capacidades como mestre de poções:

— Meus alunos do sétimo prepararam como prova para o fim do primeiro trimestre, essa foi a amostra que tirou a melhor nota. Tem sorte de que não joguei fora ainda. Você sabe que o descarte de poções deve ser feito com cuidado, esta é a última que sobrou.

— Eu vejo. Obrigada então, Severus, saúde.

Albus pegou o frasco nojento e adicionou ali duas gotas de sangue.

A poção voltou a borbulhar de forma intensa e soltou um cheiro incomum que Dumbledore não conseguiu identificar. Ele esperou que a coisa assumisse uma cor escura, para combinar com o lorde das trevas, mas no lugar a mistura começou a clarear até ficar branca como leite e quente, haviam pintinhas azuis e roxas aqui e ali e quando provou, parecia que estava experimentando algum tipo de geleia de Blueberry.

Foi um incômodo à parte que a poção de Gellert assumisse aquele sabor doce e intenso.

Ele aguardou alguns segundos até que sua barriga começasse a doer, então revirou-se como se ele tivesse acabado de engolir duas cobras, ele se segurou para não vomitar quando uma sensação de queimação se espalhou rapidamente da barriga até as pontinhas dos dedos dos pés e das mãos, segurou-se na mesa para conter a forma como a cabeça rodopiou e a pele queimou borbulhante como cera quente. Levou um minuto inteiro para a transformação completa, mas quando acabou e o deixou ofegante, a voz de Severus acalmou uma parte de si:

— Gellert Grindelwald, senhor?

Albus tomou mais um tempo para respirar e transfigurou um espelho para que pudesse olhar em detalhes.

A Poção Polissuco era muito efetiva para averiguar uma amostra de DNA.

Embora possa ser usada para modificar idade e sexo, não pode ser usada para um ser humano tomar uma forma animal, nem pode ser usado em não-humanos ou meio-humanos. Usando o sangue de alguém, Albus só poderia se transformar em Gellert se fosse ele naquela cela. Qualquer cópia, mágica ou não, substituição ou um impostor seriam notados pela poção que não teria o efeito desejado.

E Albus agora era exatamente a figura do homem que vira na cela.

Com olhos perfeitamente bons.

Dumbledore bufou:

— Típico.

Não havia uma coisa verdadeira naquele homem e Albus tinha que encontrar uma forma de contar aos guardas que Gellert estava fingindo estar perdendo a visão, sem contar como conseguiu aquela informação.

Como faria isso era outra questão.

Sua maior preocupação agora era que Gellert não podia ter colocado ninguém em seu lugar naquela cela. Não com aquela prova. O homem diante do espelho, que assumia a forma, era Gill, sem dúvidas alguma.

Faltava testar o sangue de Lakroff.

E descobrir no que se transformaria.

— Pode começar a preparar mais uma dessas assim que possível, Severus.

Dois meses.

Albus tinha esse tempo para conseguir uma forma de roubar o sangue de Lakroff Mitrica e descobrir de uma vez por todas quem ele realmente era.

— Não preciso dizer para manter isso entre nós, imagino.

Claro que não precisava. Severus apenas resmungou como resposta. Sem mais perguntas. Ou ele havia entendido o objetivo de Albus e não tinha nada a comentar, ou simplesmente não pretendia fazer perguntas.

Um espião nunca perde velhos hábitos.

— Ótimo, já que temos isso resolvido, o que você poderia querer ao vir aqui Severus?

— Na verdade, vim passar um relatório que chegou mais cedo e o senhor não estava para receber.

— Relatório?

— A névoa do ministério está se dissipando. Quim Shacklebolt usou a lareira mais cedo para informar que entrou no Hall das Profecias como foi instruído e confirmou. A profecia do lorde das trevas está desaparecida.

Alguém escolheu aquele momento para bater à porta.

Não foi uma batida qualquer. Foram acertos firmes, socos repetidos e constantes de uma pessoa desesperada.

— Albus! Albus, acorde! Albus!

Dumbledore olhou para Snape e os dois decidiram que, seja lá o que McGonagall queria naquele horário, aquela agitação toda era motivo o bastante para deixarem a conversa sobre o ministério e a profecia para depois.

Albus teve que fazer um feitiço de glamour para esconder a aparência de Gellert e ficar o mais parecido possível com o rosto de Albus Dumbledore que sua magia cansada conseguia. Seus esforços foram um tanto ruins, aparentemente, pois Severus se aproximou apontando a varinha para seu rosto e fez ele mesmo a coisa.

— Pronto – disse, indo mais para o lado.

— Entre, Minerva! – chamou Albus.

A mulher escancarou a porta e nem deu tempo de qualquer um dos homens falar qualquer coisa.

— Acharam o corpo de Alastor. Albus, Alastor Moody está morto! – contou.

VOTEM NO CAPÍTULO!

Você fizeram Enem? Se estiverem muito tristes lembrem-se que é assim para todos e que uma prova nunca deveria definir uma vida acadêmica inteira. Vocês não podem ser definidos por uma nota.

Mas é isso pessoas, desculpem a demora, o próximo provavelemnte vem só mês que vem, porque já vou ter terminado o livro novo. Vou postar o prólogo aqui no Wattpad para vocês logo mais para decidirem se querem ou não comprar, mas eu agradeceria muito se me dessem uma chance. Se chegaram até aqui, é porque gostam da minha escrita e eu amaria ter vocês lendo algo original meu. Quero muito que conheçam Dante, Ellie e Vitor, meus novas chodozinhos juntos com o Lakroff.

A propósito, o que acharam do plano do Albus? Ansiosos para ver ele roubando DNA do Lakroff e vocês finalmente descobrirem como ele realmente se parece?

Espero que tenham gostado, me deem suas opiniões e tchau!

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