Capítulo 3 - Nem tudo é tão ruim e algumas escolhas erradas
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Pessoal vocês vão na bienal de São Pulo esse ano? Já foram alguma vez? To meio ansiosa já.
Sobre o capítulo, para as perguntas que vocês não tiverem resposta provavelmente ela té nos próximos capítulos então paciência.
Não se esqueçam de comentar ao máximo para engajar a nova fanfic e espero que gostem!
Lakroff Mitrica era um idiota.
Ao aparatar, teve que constatar aquele fato.
Sempre foi e não tinha mudado em nada mesmo com todos aqueles anos tentando.
Mesmo na escuridão de seu quarto na mansão Mitrica, no silêncio do vazio que o lugar ficava sem seus filhos, os elfos longe porque sabiam que preferia assim a menos que fossem chamados, Lakroff via.
Voldemort acenando, cruzando as pernas e levando a xícara aos malditos carnudos lábios que deviam pertencer a Tom.
Não ele.
Soprando. Tomando a bebida com calma, ignorando como Lakroff estava por dentro.
Ah, esse não tinha ideia.
Esse Tom. Esse deveria ser falso. Não o seu. Esse Tom não sabia ler Lakroff, ver por trás das mentiras.
— Respondeu-me uma pergunta. Faça a sua agora – ele tinha oferecido.
Lakroff era um idiota.
Tom estava certo. É claro que estava. Aquela ninfa maligna tinha que estar mais certo que o emocional de um Grindelwald.
Mesmo assim, ele ignorou a voz da razão e teve esperança.
— Você sabe meu nome? – perguntou.
Voldemort, não Tom. Nunca Tom, porque Tom era uma horcrux.
Porque Tom não existia.
Era apenas fruto da magia de Harrison com a alma de um bruxo horrível que o criou, mas não era metade do homem que Tom era.
Aquela coisa que usava o rosto de Tom tomou mais um gole da bebida.
Lakroff o observou pacientemente, porém tão nervoso e ansioso com a resposta que poderia explodir.
Não eram a mesma pessoa. Tom e Voldemort.
Mas...
Ele absorveu a horcrux.
Absorveu parte de Tom.
E ele era um tolo com esperança.
Que pegou um peso de papel de cima de sua escrivaninha e arremessou contra as enormes janelas de seu quarto.
O impacto reduziu o vidro em centenas de estilhaços que caíram e se espalharam pelo jardim.
— Reparo! – gritou, porque ver como o mundo obedeceu a sua ordem lhe dava prazer.
Sem varinha, apenas com sua magia bruta, cada pedaço minúsculo se juntou a outro maior, formando aos poucos uma única coisa novamente, presa a sua forma original, como se nada tivesse acontecido.
Como se o fruto de seu ódio não tivesse atingido diretamente.
Reparado.
Isso podia ser reparado.
O que Lakroff fez. A aposta com a qual jogou e se arriscou, não.
Esta ficaria quebrada.
Lakroff tinha deliberadamente perdido Tom para aquele homem. Perdido os momentos sozinhos, onde podia segurá-lo, vê-lo, apertar-lhe a mão e puxar para uma dança, isso não existiria mais sem o diadema.
Ele sacrificou uma parte de seu Tom para aquele homem que lhe roubou a vida.
Se havia algo naquela caixa.
Se a esperança era a última coisa na caixa de Pandora, então havia uma chance. Por menor e mais ridícula que fosse. Aquele homem podia não ter matado a parcela do Tom que conhecia. Eles poderiam coexistir, como a horcrux em Harrison e todas que colocou as mãos depois.
Compartilhar.
Se aumentar.
Não diminuir. Sumir para qual fosse mais forte.
"Qual o meu nome" pensou segurando a respiração.
Porque Tom sabia a verdade. Sabia o nome de batismo de Lakroff, quem ele era.
Se a resposta estivesse certa...
Voldemort depositou a xícara em cima do pires de porcelana:
— Albert Grindelwald – respondeu a poucos minutos atrás.
Parecia, entretanto, uma eternidade à Lakroff.
Uma eternidade de raiva e pesar.
Maldita resposta errada.
Lakroff era um idiota!
Sabia disso, mesmo assim atestar de novo e de novo, repetidamente não tornava essa realidade menos alucinante.
Como podia ser tão idiota?
Tinha sacrificado Tom, para salvá-lo eventualmente, mas ainda um sacrifício e para que?
Riddle errou a resposta!
Havia o chamado de Albert!
Aquele maldito nome!
Tinha dado a resposta que os estúpidos de seus comensais devem ter se deparado. Albert Grindelwald II. Filho de Gellert Grindelwald, batizado em homenagem ao avô, o antigo lorde Albert Grindelwald.
Para a merda com isso. Odiava Albert, aquele maldito velho! Colocou esse nome falso em seus registros antigos porque sabia que reagiria a ele no instante que ouvisse. Se precisasse dele, ao menos uma vez em sua existência Albert podia ser útil à Lakroff para algo diferente de lhe dar alguns traumas ou criar um monstro como filho.
Gellert e Albert. Dois malditos babacas que arruinaram com a vida de Lakroff.
Mas que vida, não é mesmo?
O que estava fazendo dela?
Tomando todas as decisões erradas igual a eles. Não era melhor que nenhum dos dois.
Um idiota. Um enorme idiota.
Que realmente acreditou na possibilidade ridícula de que o diadema, um simples pedaço de alma, podia guardar memórias e fazer algo com isso. Convencer Riddle. Tomá-lo, assim como o pedaço irrisório na testa de Harrison fez com o diadema e o medalhão.
Absorvendo-os, tomando o controle, tornando tudo Tom.
Poderia...
O que?
O que pretendia?
Que o poder do amor sobressair-se-ia e conquistaria a mente de Voldemort?! Supôs que, assim como tinha sido com o medalhão e o diadema na mão de Harrison, as memórias de Tom, a vinha, permitiriam que Voldemort repensasse?
O diadema não era capaz disso! Nem a vinha seria se não tivesse a alma de Harrison para usar!
Provavelmente quem tinha memórias era Harrison, que aceitava de bom grado dividi-las junto de sua alma, essência e magia com a vinha, que conscientemente conseguiu utilizar outras partes de si mesmo.
"Mas elas lutaram contra ele..." sua mente traiçoeira voltou a levantar pontos.
Mas que deviam ser ignorados depois daquele dia.
Claro que as horcruxes lutaram contra Tom! Ele estava tentando prejudicá-las!
Uma horcrux não é nada. É uma maldita coisa! Um objeto sangrento com o objetivo de sobreviver. Com o desejo, a emoção intensa de manter-se vivo, é apenas um feitiço de artes das trevas. Tom com suas intenções suicidas seria repelido naturalmente, não de forma consciente. Horcrux não tinham consciência, não faziam nada se não obedecer ao seu papel.
Uma ilusão de vida para guardar a alma de quem realmente vivia.
Foi instinto.
Era um objeto com um pedaço de Voldemort. Só.
Tom não existia.
Era uma coisa única criada por Harrison na ausência de companhia na infância. Sua magia tornou ele alguma coisa.
Do contrário não era nada.
Lakroff sentou no chão e deu um soco forte o bastante para fazer um eco pelo quarto, estranhou o som e a própria ação explosiva. Estava pior do que pensava.
Uma horcrux tinha, no cenário mais esperançoso, a mesma capacidade cognitiva que um animal, nada mais. O instinto de sobrevivência de seu mestre embutido em cada palavra do ritual. Errou ao considerar seriamente uma horcrux como algo além de um recurso.
Elas não guardavam memórias.
Elas não existiam.
Idiota, como atestado anteriormente. Acreditar que uma horcrux podia ser algo próprio? Ter vida? Quando foi feito na morte...
Não podia se considerar um ser. Era menos até que um poltergeist. Não tinha vontades.
Não era.
Uma horcrux será sempre apenas horcrux.
Nada.
Um pedaço descartado da verdadeira pessoa.
Teve que se lembrar disso. Voldemort o lembrou. Tudo que Lakroff e Tom viveram não era nada. Não existia. Não diante da alma verdadeira que o fez.
Ele riu. Uma risada vazia, ou não, porque durou. Talvez estivesse rindo de si mesmo. Merecia isso. Esse escárnio. Era uma piada de mal gosto. Estava tão frustrado, tão derrotado.
Tão...
Decepcionado.
"Saia desse chão, ao menos finja não ser tão ridículo quanto é" não sabia se era sua consciência ou se, naquele ponto, era Gellert lhe falando.
Lembrando-o para se recompor.
Não ser algo ridículo e decepcionante para seu pai.
Mais do que já era.
Ele aparatou para seu quarto na mansão primeiro, porque precisava de um tempo sozinho. Precisava pensar com que rosto iria até Harrison, quanto ódio podia lidar de si mesmo agora.
Era uma alma miserável.
Lakroff Mitrica, o tolo esperançoso.
Como se odiava.
Como odiava sua esperança ridícula de que tinha alguma chance.
Ele sentiu algo estranho e tremeu, levando a mão para o rosto. Estava seco. Averiguou a outra bochecha.
Uma lágrima.
"Ótimo. Chore, você é tão fraco que não surpreende mais" a voz decididamente era de seu pai agora.
Lakroff não deu tanta atenção a voz como a realidade espantosa que o atingiu: fazia tanto tempo.
A quantos anos não chorava? Como podia ter passado tanto tempo para que sequer lembrasse como era chorar? A ação parecia realmente fora de lugar, como se seu corpo estivesse quebrado e soltando líquido por onde não devia. Ele esfregou a bochecha, sumindo com aquela coisa e se levantou indo até um espelho, em tempo de ver uma segunda escapar pelo mesmo local onde a primeira devia ter escorrido.
Olhou confuso para seu próprio reflexo.
Era assim que devia parecer? Estava uma bagunça. A lágrima seguiu desta vez e ele a observou enquanto perdia força e parava ainda bochecha, sendo absorvida aos poucos pela pele.
Elas não deviam cair?
Tinha quase certeza de ler descrições em livros onde lágrimas caiam.
A sua sumiu antes que pudesse manchar o mundo. Era normal?
Se não fosse, que novidade isso apresentaria? Lakroff sempre foi um anormal.
Ele aguardou. Não lembrava como fazer. O que fazer. Chorar não era algo em sua lista de coisas comuns do dia a dia.
Lilian.
Sua morte e de James foram a última coisa que lhe fez chorar de verdade. Agora não parecia real. Quando sentiu uma parte de si morrer com eles foi o bastante para que lágrimas sem dúvida caíssem, lembrava-se da dor, de gritar como se isso pudesse preencher o vazio na sala. Sentiu como a coisa apaziguou-o. Consolou.
Agora era diferente. As lágrimas pareciam deslocadas. Desnecessárias.
"Então pare com isso e se recomponha" disse a voz de seu pai.
— Cale a boca, velho infeliz – resmungou, enxugando a terceira e última lágrima.
Ao menos o que o motivou a ter aquela reação ainda era a mesma de quando seus parentes morreram: Ele não foi o bastante. De novo.
Se antes não tinha sido, como haveria de ser agora? Quando sentia que era menos? Sentia-se apenas...
"Um idiota?"
— Um dos grandes – resmungou, saindo de frente do espelho.
Olhar para sua própria cara o estava irritando.
Pegou um pente para ajeitar os cabelos enquanto pensava.
De forma racional agora.
Nem percebeu o quão absurdo era sua alteração de humor, como foi fácil ignorar suas emoções, que tinham vindo explosivas, mas foram reprimidas em uma velocidade tão ridícula que poderia causar pena em uma pessoa mais empática. Lakroff, a arma. Muito bem treinada, obrigada.
Ao menos... Fez o que tinha que ser feito.
Um único soluço sôfrego lhe escapou traiçoeiramente, mas foi o máximo que suas emoções mais humanas lhe permitiram instintivamente antes que toda a racionalidade o fizesse voltar ao normal.
Lakroff não era humano para ter emoções.
Simples assim. "Não sinta", "não se importe", "não deixe te afetar" ou, se não conseguisse nenhum dos outros "finja". Se tornou tão bom com os anos em fingir emoções diferentes das que sentia ou aceitar uma ausência completa delas, que agora era mais natural do que deixar fazer o que queriam de sua cabeça.
Ele era um Grindelwald. Não servia se deixava-se abalar.
Deveria perseguir seus sonhos e olhar para frente, não importa o que tentasse perturbá-lo. Uma mariposa em busca da luz. Não se segure, não desista, não se importe em se queimar, é sua natureza. Suas emoções só atrapalharam de pensar com clareza, era um fraco se não soubesse usá-las apenas para magia.
Sempre foi um filho fraco.
Um bruxo ridículo.
"Prove o contrário e não precisará mais ser punido" aquele homem nojento o ensinou.
Uma pedra lapidada pela força.
Terminou de pentear os cabelos e sentiu o cheiro de suas roupas. Não estava em seu melhor estado. Talvez um banho? Era uma boa ideia. Foi até o cômodo adjacente e se despiu.
Nenhuma alteração, nem mesmo em sua respiração ou mente. Há anos suas emoções eram desassociadas com facilidade. Podia quebrar quantas vezes fosse, pois conseguiria andar quebrado normalmente. Iria ignorar aquilo. Eventualmente concerta.
Ou não.
Mas não importava.
Não notaria mesmo. Quebrado ou inteiro teria que continuar andando, então se adaptaria ao que fosse.
Tomou seu banho enquanto se permitia analisar os próximos passos. Deu apenas meia atenção a toda aquela cena no quarto para ter certeza de que não se repetiria, ainda mais na frente dos filhos ou do neto.
Havia chorado por que motivo afinal?
Ah, sim.
Porque era um idiota.
Odiava ser um idiota.
Sacudiu os ombros. O pai sempre o lembrou daquele fato, de como era patético, não deveria incomodar mais. A cada novo lorde que evitava apresentar Lakroff, como se fosse algo que preferia fingir que não existia. Um filho que não tinha.
"E seu herdeiro, milorde?" De certo lhe perguntavam, mas Lakroff não merecia ser mencionado, pois podia envergonhá-lo, por isso era mantido longe.
Que tipo de resposta será que o homem dava?
"Está em seus estudos, mas em um futuro próximo sei que poderão se encontrar". Algo assim?
"Com sua mãe, prefiro distância dos dois" talvez fosse a resposta mais sincera, mas quando é que seu pai era sincero?
Outra coisa que Lakroff tinha aprendido com ele.
Com Gellert.
Era um homem miserável, mas sempre foi. Desde o maldito nascimento se forjou nisso. Desde a guerra, com suas decisões idiotas, foi um ser miserável. Nagini tinha razão em odiá-lo. Credence em abandoná-los.
Se enxugou e foi atrás de vestes adequadas.
O melhor que tinha a oferecer era não ser tão miserável para seu sobrinho-neto e seus filhos.
Não os deixar lembrar de que Lakroff era assim.
Fingir um pouco mais.
Harrison podia enxergar, mas talvez conseguisse com suas palavras fazê-lo se esquecer e mudar sua atenção o bastante para que parasse de olhar aquilo. O vazio em Lakroff. Como normalmente se sentia, principalmente nesses momentos.
Saiu pela mansão, até uma lareira que o coubesse dentro, a mais próxima era a da biblioteca e tentou não resmungar quando viu Gellert acordado.
— O que faz aqui? – o quadro perguntou.
— Não é da sua conta, velho.
— Petulante.
— Inútil.
— Eu te criei!
— Fez um péssimo trabalho – e sorriu, com acidez. – Assim como o papai com você. Imbecil.
Gellert bufou diante da menção ao pai odioso deles. Ou seja lá o que poderia dizer para descrever as ações de uma pintura animada.
Lakroff lhe mostrou o dedo do meio de forma infantil e ficou feliz em constatar, mais uma vez, que não era nem um pouco parecido com Gellert quando ele resmungou da mesma maneira que o quadro de Albert faria, na outra biblioteca.
Gellert era igual ao pai.
Lakroff era ele mesmo, na medida do possível.
Pegou um punhado de pó verde em cima da lareira e jogou no chão, chamando pelo seu quarto no barco da Durmstrang.
Estava pronto para lidar com a realidade, lidar com Harrison e a perspectiva de que tinha tomado as decisões erradas no instante em que o verde de chamas altas o cobriu e o deslizou por lareiras até seu destino.
Uma viagem um tanto longa pela distância de países.
Quando enfim seus pés bateram contra o chão e cinzas levantaram-se para sujar suas roupas, usou um feitiço simples para tirar a fuligem enquanto saia elegantemente da coisa. Além do quarto do qual já estava acostumado, viu Nagini, ou uma parte de sua cauda saindo por trás do sofá, e escutou Harrison falando a língua das cobras. Ia cumprimentá-los, mas sua mente gritou.
Quando uma terceira voz se fez presente.
Suas pernas ganharam uma força anormal e reagiram tão rápido quanto seus reflexos sempre permitiam, correu até a beirada do sofá e arregalou os olhos de espanto quando viu sentados no chão, Harrison, Nagini.
E Tom.
Harrison bocejou, a imagem da horcrux ficou um pouco translúcida, estava mais fraco que antes, mas logo recuperou a cor de um homem um pouco pálido demais, mas bem presente, iluminado pelas velas que colocaram em uma lâmpada grande na mesa a frente do sofá.
Riddle, a mente de Lakroff estava em branco, embalava o garoto em seus braços, as pernas abertas para os lados para que pudesse recebê-lo ali, como uma criança confortável no colo de um parente querido. O mais velho ainda colocara a cabeça por cima do adolescente, encostando o queixo em seus cabelos escuros, claramente físico, pois os fios se bagunçaram em contato com a horcrux.
Os três levantaram suas cabeças ao ouvir a presença de Lakroff, que foi invadido pelos olhos castanhos perfeitos de Riddle, um olhar intenso e penetrante que não vira em Voldemort nem um segundo.
Pois pertencia apenas a Tom:
— Eu te odeio — foram as palavras de Riddle.
O sorriso de Lakroff foi tão grande que lhe doeu as bochechas, ele meramente registrou a penseira que tinha preparado para contar a Harrison seu plano e o de Riddle bem a frente deles.
— Não, você não odeia – respondeu.
Capítulo 3 — Nem tudo é tão ruim e algumas escolhas erradas
"O caos, se não outra palavra melhor, é belo em essência tanto quanto assustador. Tão belo quanto uma borboleta, tão inconstante quanto seu voo. Eventos aparentemente não relacionados, com uma simples ou pequena mudança em algum ponto da trajetória, podem levar a consequências significativas.
O efeito borboleta é uma teoria trouxa, mas para um vidente, é um fato mágico tenebroso. Caótico. Sensível como a asa de uma borboleta".
Os raios solares entravam por entre as janelas da torre fazendo o que podiam para aquecer a pele dos pés descobertos de Luna naquela manhã nevada.
Era dezembro.
O castelo de Hogwarts era magicamente aquecido, mas nem isso impedia o vento frio do inverno de fazê-la tremer por um instante na torre alta.
Fazia um tempo desde que a corvina percebeu que seu pai havia mentido para si. Nargles não existiam e, na verdade, quem roubava seus sapatos eram pessoas. Desde que conheceu sua alteza, para ser mais precisa, teve essa certeza desse fato.
Luna não se ressentia de Xeno, achava a atitude muito gentil. Uma forma de um pai cuidar dos sentimentos da filha que se sentia sozinha e sem amigos.
Luna não estava mais sozinha, mesmo que nunca estivesse totalmente.
A vozes sempre estavam com ela.
As certezas.
"O barco deve estar muito gelado agora, as madeiras estão rangendo".
Nargles ganharam esse novo significado dali em diante. Era aquela coisa nas pessoas, a voz em suas cabeças, assim como os sussurros na mente de Luna, que os influenciava para coisas não necessariamente boas e, para ela, lhe davam aquele tipo de informação.
Foi até a janela mais próxima e conseguiu ver apenas um pouco do lago, que parecia com uma camada fina de gelo por cima. Não conseguia ver o barco de sua alteza.
Muito menos podia ouvi-lo daquela distância. Mesmo assim escutava claramente sons de madeira rangendo pela tensão do frio. O vento contra as velas baixas.
Os seus Nargles não influenciavam Luna. Apenas lhe contavam coisas. Informações que os outros nem sempre tinham tempo em sua pressa de viver para notar.
Como hoje, que lhe contaram para não usar seus sapatos e ela até que gostou de poder caminhar descalça um pouco de novo. Sentir o estofado do carpete da comunal da Corvinal por entre os dedos. Também fazia um tempo desde a última vez que precisou fazer isso.
Desde que conheceu sua alteza.
Ele prometera, não é mesmo? Que nada mais lhe aconteceria.
Ninguém roubava mais seus sapatos.
Talvez por isso seus Nargles não sabiam o que dizer sobre o menino. Mesmo que fossem bem enfáticos sobre os perigos que o cercavam, não se decidiam que tipo de pessoa ele era.
"Mas eu posso confiar nele, não é?" ela pensou, ainda olhando a vista.
Logo as vozes começaram a responder:
"Isso depende" diziam "Você poderá aceitar o que ele é?"
Luna sentia que sim.
Ela podia aceitar qualquer coisa que Harrison fosse. No passado, presente ou futuro.
"O futuro dele é sombrio" disse uma das vozes.
"Seu passado também é" outra rebateu.
"Não tanto. Será muito pior daqui para frente".
"Não..." lamentou Luna.
Harrison merecia um pouco de paz. Ele andava muito estressado, principalmente depois do que Lakroff tinha feito. Voldemort estava quieto, ninguém sabia qual seria seu próximo movimento. Desde que a cicatriz do amigo havia ardido ao ponto de ele gritar devido a raiva do lorde das trevas, provavelmente após descobrir a armadilha que o lorde Mitrica o colocou, não havia mais nada. Era um oco, um silêncio, nem os pesadelos estava tendo mais.
"Ele notou a ligação. Não permitirá que exista" contou o Nargle.
"Ele não notou, ele apenas sabe que precisa se proteger e ergueu barreiras, elas podem cair, quando ele se distrair" outro corrigiu.
"Quando eles dormirem..."
"São bruxos poderosos o bastante para manterem as barreiras enquanto dormem, será pior acordados, quando a vida os distrai".
"Eles perderão o laço, tudo será pior".
"O mundo está rasgando em possibilidades".
"A guerra está chegando".
Luna abraçou seus próprios braços e tremeu com o frio que vinha do lado de fora, mesmo que as janelas estivessem fechadas e a comunal da Corvinal fosse completamente agradável. Quantos estavam falaando com ela agora? Não conseguia contar, nem nunca tentou contar. Parecia sempre que eram vozes diferentes. Nunca completamente iguais.
"Não há caminho certo mais. Todos são terríveis" avisou um.
"Haverá sangue. O vidente do apocalipse escolheu o destino vermelho".
"O que o amor não faz?"
Luna inspirou fundo, sentindo cheiro de orvalhos mesmo que qualquer um dos outros alunos ali só sentisse o cheiro da madeira queimando na lareira e o aroma natural da sala que era deixado após a limpeza noturna dos elfos.
Lakroff então estava amando? Era fofo. Ele merecia alguém.
"Monstros como ele não merecem nada, eles jogam tudo fora!"
"Vidas se perderão por culpa de seus sentimentos tolos".
A loira fez uma careta emburrada. Não gostou de como os Nargles chamaram Lakroff. Ele era uma pessoa gentil, apesar de ser uma alma bem má.
"Ele decidiu ser tão ruim quanto as coisas que vê".
"A tempestade se aproxima".
Luna tinha algo que sabia: seu príncipe estava no meio dela. Da guerra que se aproximava.
Houve alguns segundos de preocupação onde ela andou até uma das poltronas vazias. A comunal da corvinal estava com quase nada de ocupação, tinha acordado muito cedo porque os Nargles a fizeram levantar dos sonhos. Mas era sexta-feira de manhã, logo isso mudaria.
"Ele está correndo com os outros".
Esperava que sua alteza estivesse bem agasalhado, correr naquele frio poderia afetar sua saúde.
"Ele não precisa se preocupar com isso".
Era bem verdade. Sua alteza era muito forte. Não pegaria um resfriado. Bruxos não pegavam resfriados, raramente ficavam doentes. Começou-se certo barulho pela torre, os corvinos que acordavam cedo para se preparar para as aulas, agora andavam por seus quartos. Mesmo assim, ao menos metade da casa eram criaturas noturnas que acordariam no último minuto, do qual já haviam calculado há semanas que era o adequado para conseguir se levantar, se arrumar, correr, comer e chegar a tempo.
Pessoas diferentes, mesma casa. Luna gostava disso, mas não deu mais que uma olhada rápida pela comunal antes de se perder, o olhar desfocado, abraçando as próprias pernas para se aquecer na poltrona.
Estava com uma sensação muito ruim.
"É culpa daquele vidente".
Luna negou com a cabeça. A guerra aconteceria de qualquer jeito. Pessoas morrem em todos os destinos. Lakroff apenas estava tentando proteger Tom que merecia sua redenção.
"É possível ter uma redenção quando se continua pecando?"
Talvez a Lovegood tivesse mudado muito naquele pouco tempo. Ela não conseguia julgar as decisões de Lakroff, apesar de tudo. Talvez, ela percebeu, porque também faria de tudo para proteger e salvar alguém de que gostava.
Seu pai também faria e era uma pessoa incrível.
Por aqueles que nos importamos, o quão longe vamos?
Sabendo disso e decidida a ignorar as dores de uma possível culpa pelo que se seguiria, focou-se no presente: Como ela poderia ajudar?
Como ela poderia fazer de tudo por quem se importava?
Harrison.
Como ele lidaria com aquela tempestade?
"Você não pode ajudá-lo, é inútil"
Um alívio grande lhe acertou ao notar. Por pior que fosse a tempestade que a guerra tinha a oferecer, Harrison era pior. Uma tormenta muito mais forte. Luna era inútil quanto a isso, ele saberia como lidar.
Nada seria maior que ele.
Só precisava dessa certeza. O caminho seria tortuoso e doloroso, então ali ela poderia dar algum auxílio, impedir que fosse levado para longe ou estar com ele, mesmo que fosse atingido pelos piores raios.
"Você pretende se juntar a isso mesmo?"
"Ele a contaminou".
— Ele não me contaminou.
Estava bem indignada. Harrison não era uma doença para contaminá-la. Era uma pessoa com um coração muito maior do que seu corpo e que tinha sido ferido milhares de vezes. Ele merecia um amigo.
Ele foi o melhor amigo que Luna poderia pedir e nunca quis nada em troca além de vê-la feliz.
Se os ventos soprassem a tempestade para o pior ela o seguiria, porque gostava de sua companhia. Gostava de seus Shinisus, de observá-los, de protegê-los contra seu pior.
"Você não vai conseguir protegê-lo".
Então Luna faria companhia. Era simples.
Lembrou-se do sorriso que sua alteza dava quando estava um pouco mais perto de sua sinceridade quase insana, mas isso só a fez sorrir também. Um risinho de fada, como dóceis sininhos.
Ela o acompanharia, não importa quão escuro fosse o caminho, ela podia ser uma luz no meio da escuridão, para lembrá-lo de como era.
"Ele vai precisar ser lembrado".
Então! Luna constatou, era perfeito assim.
Com o peito mais leve ao perceber que não se importava com o caos, desde que estivesse do lado de sua alteza para abraça-lo quando precisasse, ela apenas observou as pessoas aos poucos descendo as escadas e ocupando lugares aqui e ali, ou saindo pela passagem para se adiantar para o café, sem realmente registrar nada.
Uma das estátuas na sala estava com um gorro de natal.
"O Yule se aproxima".
"Época do renascimento do sol".
"E das estrelas".
"Estrelas vão se colidir e formar algo maior. Tudo começa com Voldemort"
"O lorde das trevas pode tirar muita coisa do príncipe antes disso".
"Mas ele não é o único, não é?"
"O príncipe até encontrou aquela coisa".
Luna sorriu para a conversa que apenas ela podia ouvir:
"Aritusa é majestosa, não?"
"Uma criatura mortal!"
"Majestosa, sem dúvidas"
"Ela fará mal".
"Já fez. Duas vítimas. Fará mais"
"Harrison não permitiria" Luna negou com a cabeça. "Aritusa está segura com ele".
"Harrison não está seguro enquanto qualquer resto daquela coisa existir" outra voz avisou. "Ela pode destruir o que lhe é mais importante".
Luna remexeu os pés por cima um do outro.
Então Tom estava em perigo.
"Aquela coisa pode matá-lo, tem poder para tal".
— Mas ninguém sabe.
"Podem descobrir. Ela está no castelo dele. No território do homem que deseja sua destruição completa".
"A espada tem seu sangue!".
— O que ninguém sabe, Luna?
A menina loira se virou para o lado, observando os longos e lisos cabelos de Cho Chang, e sorriu para a colega:
— Os Nargles. Estava falando com eles.
— Entendo – a menina não entendia e Luna sabia.
"Ela gosta dele" um Nargle disse.
"E quem não gosta de sua alteza?" Luna rebateu.
"Muitos" responderam.
"Inveja" pontuaram "Medo, rancor, raiva" Luna parou de dar atenção daquele adjetivo em diante porque Cho tinha voltado a falar:
— Porque está descalça? Roubaram seus sapatos de novo?
Havia um toque de preocupação na voz da menina que fazia Luna gostar dela:
— Não. Eles apenas me disseram para caminhar um pouco sem.
— Eles?
— Os Nargles.
— Entendo – repetiu, ainda sem entender.
Harrison teria entendido.
Teria tirado os próprios e caminhado junto.
Ele tinha seus Shinisus para acompanhar os Nargles de Luna.
Eles se entendiam.
"Ele é perigoso" reclamou uma das vozes. "Estar com ele é perigoso. Ele pode te machucar junto quando se sentir ferido".
Luna negou com a cabeça com veemência.
Nunca.
Harrison nunca a machucaria. Ele morre antes de deixar que sua dor atinja um amigo.
"Ele é perigoso" Luna concordou. "Mas sabe medir quando e para que usar esse perigo".
"É verdade" concordaram.
"Mas por quanto tempo?"
"As custas de que?"
Ainda insistiram que ela tinha que tomar cuidado. Não por ela. "Por ele".
Sua alteza precisava ser cuidada, ela sabia disso. Os gêmeos já estavam fazendo uma parte. Neville estava fazendo outra.
"Eu não confiaria nele" disse um Nargle.
"Eu sim" disse outro.
Geralmente eles concordavam, porém Neville era muito inconstante para que tivessem uma opinião fixa. Acompanhavam sua volatilidade.
Mas Luna confiava em Neville. Assim como confiava em Harrison. Os Nargles podiam dizer o que quisessem sobre isso. Eles eram gentis com ela.
Era mais do que podia dizer de muitas pessoas.
E Hazz merecia amigos. Vários deles. Ele disse que queria ser amigo de Luna e amava Neville como um amigo tão precioso como Tom.
Os quatro tinham que se dar bem, sua alteza ficaria mais feliz assim.
"Neville não pode se dar bem com aquela coisa. Neville é luz, aquilo é apenas trevas"
"Ele está diferente"
"Ele serve para um propósito e logo veremos as consequências de sua existência e de seus iguais".
"Aquele garoto devia medir melhor suas amizades".
Luna negou com a cabeça. Hazz tinha muitos amigos e todos eram ótimos, apenas diferentes.
Ele tinha medo de que os amigos não conseguissem aceitá-lo e fingia muito. Luna sabia como era ser diferente então, mesmo que os Nargles tivessem medo dele, ela não queria ter. E gostava de Tom também.
Tom não tinha medo de Hazz.
"Claro que não, ele ainda é o pior".
Cho parou de encarar os pés da colega e murmurou:
— Porque está negando? Você foi ou não alvo daquelas brincadeiras maldosas?
— Estou ótima, Cho – garantiu. – As maldades pararam. Eu disse que as pessoas haveriam de se acostumar com os Nargles – contou sorrindo.
A asiática fez uma careta e precisou se segurar para não bufar, essa coisa de Nargles a incomodava, na maior parte do tempo a forma de Luna se expressar não era exatamente ideal e não entendia como uma menina tão esperta via de tão difícil em falar de uma forma que todos entendessem. Nem por isso a tratava mal, muito menos aprovava o bullying que às vezes sofria e tentava ao máximo ajudar.
Mas Luna também nunca contava quem foi, mesmo quando sabia.
Era uma menina boa demais para o próprio bem, mesmo que estranha e o Cho nunca soube como ajudar:
— As pessoas se acostumaram com os Nargles ou você arrumou amigos que te ajudaram com isso? – questionou certeira. Luna abriu um sorriso ainda mais largo do que o que já estampava em seu rosto antes, quando estava distraída sozinha. Ela pareceu brilhar e crescer, em um tom ainda mais belo. – Harry Potter é um bom amigo para você?
— Ele é ótimo! – concordou a loira dando palminhas. – Você ia gostar dele se conhecesse.
— Você poderia me apresentar – ofereceu levemente corada com a ideia de conhecer o tão famoso menino que sobreviveu e o presidente do conselho da Durmstrang, era alguém suficientemente impressionante de se ver de longe, conversar com ele deveria ser tão...
— Talvez vocês venham a se encontrar mesmo, há Diggori.
— Cedric? O que tem ele?
— Os Nargles disseram que tem algum papel nisso tudo, mas não sei te dizer. Ei, quer jantar comigo?
— Você vai sentar na Corvinal hoje? – perguntou preferindo ignorar, como sempre fazia, o comentário que não entendera e que Luna também não teve a disposição de explicar.
— Não, Pansy ficaria chateada. Mas pode se juntar na Sonserina.
— Prefiro não.
"E por isso talvez você não tenha um papel" pensou Luna, mas apenas sorriu.
— Se qualquer coisa acontecer, sei que posso te dizer, Cho, então não se preocupe. Tenho bons amigos agora.
A apanhadora sorriu com carinho:
— Fico feliz – e isso era verdade.
Ela era monitora da Corvinal, afinal, estava preocupada com o que os alunos da Durmstrang podiam ser para a pequena águia depois do que seus próprios colegas foram. Era muito bom que tivesse achado um lugar, mesmo entre as cobras e que confiasse em Cho para avisar no pior dos casos.
Assim esperava.
Luna assentiu.
"Deixe-a, tem outra coisa que você precisa fazer".
"As corujas já comeram hoje?"
— Obrigada, estou indo agora, Cho. Preciso passar no corujal antes das aulas.
— Não vai calçar os sapatos?
— Não.
— Ao menos quer companhia até o corujal? Está tarde e frio, as escadas podem estar congeladas e...
— Estou bem, vou achar um amigo no caminho. Eu acho que seja um amigo, pelo menos.
— Vocês combinaram de se encontrar lá?
— Não. Vai ser por acaso.
Pela terceira vez, Chang murmurou que entendia, pela terceira vez sem o fazer, então assistiu a mais nova sair aos pulinhos.
Mal passou pela porta e algumas meninas já começaram a dar risinhos e apontar os dedos, reclamando sobre "o que Potter viu na lunática?". Isso irritou Chang que decidiu sair também.
Talvez Cedric já estivesse livre? Será que ela deveria sentar na Lufa-lufa? Se a Sonserina não se importava com visitas, poderia fazer isso ao menos um dia, para estar com ele. Não é?
Mas Cedric não a convidou e sequer... eram namorados ainda.
Deixaria para lá.
Enquanto isso, Luna não se incomodava com o chão gelado de Hogwarts, uma vez que já tinha se acostumado de tempos anteriores, então foi uma surpresa quando depois de um tempo caminhando na direção do corujal sentir os pés quentes como se uma magia os tivesse cobrindo.
"O menino adulto".
— Olá Ivan – ela cumprimentou.
Ivan apareceu em seu raio de visão, usava uma capa grossa, porém não tanto e imediatamente ele a tirou e jogou por cima de seus ombros.
— Para que isso?
— Você está descalça e essas roupas são muito finas. Está fresco, mas o meu fresco geralmente é dia de resfriado para meus amigos.
— Isso quer dizer que somos amigos?
— Luna – ele suspirou. – Minha querida chanceler, já achei que tinha deixado claro.
"Ele evita seus olhos. Está com medo de nos ouvir. Diga a ele que não pode nos ouvir, um dom apenas encontra outro, não se acrescenta".
— É que você evita meus olhos, achei que não gostasse tanto de mim.
— Me desculpe, não leve para o lado pessoal.
— Eu sei. Os Nargles me falaram, mas está tudo bem, você não vai ouvir nada demais na minha cabeça.
— Engraçado, eu acho que se for olhar aí vou ouvir até demais.
— Os Nargles não conversam com você.
— Os pensamentos sim – comentou com pesar.
— Posso pensar mais baixo.
Ele riu, uma risada dolorida, porém calorosa:
— Tenho certeza de que você faria essa gentileza, mas não precisa se incomodar, querida.
— Então não se incomode em fugir de mim.
— Apenas estou te dando privacidade.
— Eu sou um livro aberto, às vezes até falo demais. Os Nargles acham que eu devia ficar mais quieta, assim as pessoas seriam menos rudes, meu pai acha que eu deveria falar o que quero, que aprendemos a falar por um motivo, acho interessante que meus pensamentos falem e se somos amigos, meus pensamentos podem ser seus também, eles devem estar solitários na minha cabeça, isso se ficarem nela, sabe? Normalmente eles fogem e correm por aí. Isso é a mesma coisa que andar com a braguilha aberta? Acho que eu não deveria fazer isso então, se eu sou parte da corte então sou uma dama, deveria andar de forma mais respeitosa. Tudo bem, vou manter meus pensamentos para mim, mas você também pode ficar com eles, se não forem te incomodar, somos amigos e – ela parou para respirar.
Enquanto isso aproveitou o som da risada de Ivan, está muito mais agradável.
— Você é uma graça, pequena Lua.
— Mesmo?
"Ele não está mais com tanto receio" disseram os Nargles.
Luna concordou. Ivan estava olhando em seus olhos agora.
"Ele quer que você sinta que são amigos, ele percebeu que você tinha receio de ser evitada propositalmente. É uma pessoa muito empática".
"Legilimentes geralmente são".
"Pobres almas sofridas".
— Não precisa olhar se não quiser, realmente – ela garantiu. Afinal, se Ivan não queria estar na mente de alguém, ele também tinha direito de evitar.
— Está tudo bem, você é minha amiga, não é? Se disse que posso ouvir seus pensamentos, basta me avisar quando não me quiser.
Ele estava com o artefato que Lakroff lhe dera também, o que o ajudava a não ser invasivo.
Luna acenou e sorriu:
— Sabe, eu prefiro que você os veja. Às vezes é solitário aqui dentro, mesmo com todo o barulho.
— Eu sei.
"Ele sabe. Ele vê. Ele entende".
— Você escuta?
— Apenas você. Queria que eu escutasse mais alguma coisa?
— Não. Mas é bom saber que você entende.
— Um pouco. Comigo nunca é solitário, mas é ao mesmo tempo.
— Eu sei.
Os dois sorriram, Ivan teve uma ideia naquele momento e seus lábios já falavam antes que percebesse:
— Luna, você não quer ir ao baile comigo?
Foi como se um desconhecido dissesse aquilo, mas depois de pensar por meio segundo, percebeu que não retiraria.
Gostava das conversas que tinham. Gostou do dia que esbarrou com ela nos jardins e ficaram ao menos uma hora olhando as nuvens sem dizer nada.
Silêncio.
Aquilo era raro para ele.
Ela tinha pulado animada depois daquilo e dito como amou passar aquele tempo juntos, como se também tivesse apreciado aquela pausa momentânea do mundo.
Também foi agradável as vezes em que conversaram sobre as coisas mais tolas, porque verdade seja dita, Luna não mentiu quando disse que falava o que pensava. Ivan não precisava se sentir mal por muito tempo de ter lido alguma coisa, pois ela falaria no mesmo instante, como se não tivesse o filtro que a maioria tinha. Se foi pensado, podia ser dito.
Precisava ser uma pessoa muito pura para levar a vida assim.
Talvez fosse divertido ir com ela ao baile e a menina era mais nova do que a idade exigida, se ninguém a convidasse não poderia participar.
Ele poderia se distrair de Axek e seu namoro ridículo quase oficial dançando com a chanceler e talvez não precisaria se preocupar em incomodar seu par com seu dom.
— Você nunca me incomodaria com isso – ela garantiu, como se fosse Luna a legilimente.
Não Ivan.
Isso tornava as coisas mais fáceis com ela.
Que estava, inclusive, radiante. Tremendo até, aqueles seus olhos saltados virados para ele, surpresa como se só agora entendesse o que ele tinha sugerido:
— O baile de inverno? Com você?
— Sim. Preciso de um par e você também, se quiser ir à festa, então achei que você talvez...
Ele queria deixar suas intenções perfeitamente claras para a menina, para que não parecesse um estranho de dezessete anos convidando uma garotinha de treze para um encontro.
Por todos os bruxos soviéticos, aquilo parecia tão errado agora que pensava sobre isso:
— Quero dizer, como amigos. Eu juro!
Nossa, agora ele realmente estava envergonhado de seu pedido.
Com seu histórico, todos acreditariam que ele estava...
Credo.
Ela tinha treze!
Ivan ficou tão vermelho e isso só piorava sua situação. Botou as mãos na cabeça, em pânico.
— Mas se você não quiser...
Ele já estava desejando muito que ela não quisesse.
— Ah, não, adoraria ir com você como amiga! – respondeu Luna, sorrindo como ele jamais a vira fazer. – Ninguém nunca me convidou para uma festa antes, como amiga!
Aquilo foi tão triste que imediatamente calou todas as vozes cruéis de pensamentos nojentos que Ivan sabia que ouviria na festa.
Que se dane o que estavam pensando, Ivan não era um maldito tarado e podia querer ir com uma amiga a um maldito baile que nem achava que iria se divertir, para começo de conversa.
Ele mal se via como adulto. Ainda era um adolescente em sua própria cabeça e Luna também, os dois podiam ser amigos e não tinha nada de errado nisso. As pessoas podiam comentar e, sinceramente, Ivan as entendia. Seria por preocupação àquela menininha pura, mas ela estaria segura com ele e poderiam se divertir mesmo.
Se aquela era a primeira festa de Luna, então Ivan ia usar todo o caos que ele sabia causar para tornar a melhor!
— Então, encontro você no saguão de entrada às oito horas.
— AH-AH! – berrou uma voz do alto, e eles se sobressaltaram; sem perceber, tinham passado bem embaixo de Pirraça, que estava pendurado de cabeça para baixo em um lustre e sorria maliciosamente para os dois.
— O russo esquisito convidou Luna para ir à festa! Isso é muito errado, ela ainda é uma criança seu tarado! O tarado ama Di-lua! Tarado aaaaama Diluuuuuua!
E afastou-se, veloz, gargalhando e gritando: "Tarado ama Di-lua!"
É, os comentários começariam antes do que Ivan previa.
Axek ia querer matá-lo.
Luna baixou a cabeça:
— Se quiser pode retirar o convite.
— Você tem algum problema com as pessoas falarem sobre isso?
— Não. Eu quero ir como sua amiga. Não vejo problema nisso – e apertou mais a capa de Ivan, que realmente estava muito quentinha.
— Nem eu. Às oito então. Agora que tal falar dos seus sapatos?
-x-x-x-
Pirraça cuidou para que em pouco tempo a escola inteira soubesse que Ivan Tshkows, o último ano da Haus Feuer na Durmstrang, ia levar Luna Lovegood ao baile de inverno.
Isso causou vários tipos de comoções e Harrison percebeu que boa parte também era inveja. Muitas garotas queriam ser convidadas por Ivan na Durmstrang e, apesar de tudo, parece que Luna era tão... Luna (?) que as pessoas não conseguiam considerá-la um par sério, ficou praticamente certo que a menina estava sendo levada como uma espécie irmã mais nova.
"Por que ela?" perguntou Axek a mesa no café, parecendo bem indignado.
"Por que não?" Hazz foi quem respondeu.
"Achei que Ivan iria preferir aproveitar o baile de um jeito bem mais promís..." ele se interrompeu, tossindo, mas Hazz sabia que ele ia dizer promíscuo. Ele achava que Ivan escolheria alguém para levar para a cama depois. " Que dizer preocupante, vossa alteza. Não pensei que ele chamaria uma amiga".
E era assim.
Ninguém realmente pensava que Ivan pudesse se sentir atraído por Luna Lovegood. Se existia tal pensamento, não foi difundido o bastante.
Harrison e Ivan não sabiam se ficavam incomodados, irritados ou aliviados que aquele fosse o consenso geral.
"Ele a convidou por pena, ninguém nunca a chamaria se não fosse assim" Potter tinha escutado de uma corvina em uma aula e teve que se segurar para não a olhar com raiva.
Por mais de um minuto.
Apenas alguns segundos que fizeram a garota baixar a cabeça envergonhada.
No fim, ele também estava com inveja. Tinha contado com Ivan para ser a única pessoa que o convidaria. Como sempre.
Hazz recusaria, porque duvidava que seria distração o bastante para o amigo em sua missão: Axek me dê atenção. Mas se alguém podia lidar com aquilo, Hazz confiava que era Luna. Então estava feliz pelos amigos. Mesmo que frustrado.
Ele também pretendia convidar Luna.
Então seus planos foram por água abaixo rápido.
Tudo estava estranho e não era só o baile.
Tinha o professor de defesa contra as artes das trevas, ou melhor, a ausência de um. Para a tristeza da maioria dos alunos de Hogwarts e Durmstrang.
Dando os devidos créditos a Bartolomeu Crouch Jr, ele era um professor realmente interessante e sua ausência estava fazendo falta.
"Moody" havia desaparecido há uma semana e ainda não voltara. Espalhou-se uma desculpa de que o homem estava doente e, como o bom paranoico que era, não quis estar próximo de nada que podia atacá-lo enquanto estivesse fraco, por isso havia voltado para casa e se isolado. Claro que não era verdade e, sinceramente, estavam em Hogwarts, havia todo tipo de boatos a esse ponto.
Harrison sabia apenas que Voldemort mandou Bartolomeu recuar. O que era ótimo, um comensal a menos perto de seus amigos, um alívio realmente.
Entretanto agora não tinha a menor noção do que o lorde das trevas estava fazendo. Péssimo.
Ganha-se em um, perde-se em outros.
Estava curioso com o que seu tão querido primo tinha feito com o servo, que de certa forma, havia o traído (mesmo que sob tortura e persuasão mágica). Bartolomeu não matou os pais de Neville, ele os torturou até a loucura, por isso não merecia o doce e fácil descanso da morte. Era piedoso demais e Harrison estava torcendo para que Voldemort tivesse poupado a alma do pobre Barty, assim poderia lidar com ele num futuro.
Não tinha a menor ideia de quem ou se por acaso haveria uma nova alma para preencher o corpo do auror caolho. Por hora, os professores de Hogwarts estavam se revezando para substituir suas aulas. Lakroff disse que era improvável que Voldemort mantivesse algum comensal depois do que haviam feito ao último e que ele já tinha poucas opções, que dirá para arriscar daquela forma.
Voldemort provavelmente desconfiaria de seus comensais por um tempo também, então qual tinha tamanha segurança para substituir a missão de alguém como Barty e que não teria seu sumiço imediatamente notado ou coisa parecida?
A chance maior, na opinião do grupo, foi de que encontrariam Alastor Moody morto em breve.
É claro que essa nova situação, não saber mais dos movimentos de Voldemort através de seu informante, o estava deixando ansioso. Queria lhe mandar uma carta, mas sabia que era ridículo, Lakroff garantiu as coisas e se sobrepôs a todos os planos de Harrison, mas de um modo que o menino não podia reclamar.
Voldemort agora odiaria os Mitrica. Odiaria Lakroff e Harry. Odiaria que o meio sangue ao qual pensou ser seu inimigo sempre foi Lilian Potter, que o derrotou em seu próprio jogo com a linhagem sombria que herdou. Grindelwald vencendo Slytherin. Um herdeiro contra outro. Hazz era apenas seu filho, seu inimigo jurado e agora teria que gastar todas as suas energias em garantir que o menino fosse derrotado de alguma forma, mas sem ativar o pacto de sangue e isso seria um desafio.
Ele nunca mais pensaria em Neville.
Não tinha tempo, seu inimigo claramente era outro e estava agindo.
Tudo isso e ainda mantinha Tom seguro, não precisaria sacrificar sua horcrux por enquanto. Afinal, ele era uma criança, não deveria ser quem decide uma guerra, Voldemort ainda podia ser morto por outros e Lakroff estava disposto a ter qualquer sangue nas mãos.
"As minhas já são tão vermelhas que nem fará diferença, por isso ando de luvas as vezes" ele brincou.
Dumbledore podia cuidar de Voldemort, o ministério poderia, qualquer um e se pensassem em prendê-lo ao invés de matá-lo teriam mais sucesso.
Se fossem mais radicais, só então Hazz precisaria se preocupar com suas horcruxes, até lá podia manter as suas, pois não faziam diferença no jogo maior das coisas.
Seus amigos, deuses o perdoassem, estavam seguros em Hogwarts, se Voldemort continuasse de alguma forma com medo de Dumbledore, coisa que Tom a contragosto confirmou.
"O velho é muito mais experiente, eu não arriscaria um plano tolo ou a mim mesmo se não fosse necessário, mas em seu território? Não vale a pena".
Por pior que fosse confiar em Albus, de todas as pessoas, ele podia ser útil agora, então Harry não reclamaria, tinha coisas demais para lidar.
Na Durmstrang a maioria ainda tinha a vantagem de pertencer a uma família sombria e Voldemort não iria atacá-los com a possibilidade de conquistar a raiva de famílias antigas pela Europa, isso apenas para atingir Harrison ou Lakroff, parecia uma jogada um tanto imprudente e considerando que estava absorvendo sua alma, não era mais um tolo que faria algo do gênero.
Tom também garantiu que envolver crianças nunca foi algo de que gostasse. Que no máximo recrutava os recém formados por lealdade anterior da família do que realmente querer arriscar a vida de novas gerações.
Isso também chamava muita atenção para seu lado em um momento que estava fraco e podia receber retaliação direta de vários ministérios.
Para todos os efeitos, Harrison não tinha motivos para acreditar que sua corte estivesse em risco imediato. Definitivamente tão seguros quanto estariam com uma guerra iminente.
Mas agora Harrison e Voldemort estavam em uma tensa e invisível corda de guerra fria.
Atacar Harrison ou lhe fazer mal era difícil, tendo adotado o nome Mitrica estava quase livre. Não era impossível, entretanto, não para um bom estrategista. O que Voldemort ainda era.
Mesmo assim sabia que se agisse, Hazz poderia fazer o mesmo.
E não havia pacto algum impedindo-o.
Ainda era uma criança contra um homem muito mais experiente. Ambos tinham que ser cuidadosos e saber onde agir. Harry estava com a vantagem, claro. Mesmo com a condição imposta por Riddle.
Alguém com medo de morrer como Tom, Lakroff não se espantou quando tentou acrescentar em um pacto a condição de que a coisa deveria ser quebrada no caso da vida deles depender disso.
Se Lakroff ou Tom estivessem em risco de vida, poderiam se proteger.
Ainda não podiam matar, mas desarmar, desabilitar e causar mal em uma situação de vida ou morte iminente, isso estava liberado. Eles não podiam apenas pensar que estavam em risco, a situação tinha que estar diante deles como uma ameaça atuante, um duelo declarado ao qual não iniciaram, mas eram vítimas do ataque que tinha intenção mortal.
Em suma, um herdeiro Slytherin só podia enfrentar um Mitrica se claramente sua vida dependesse disso, mas eles próprios não deviam ter a intenção de matar.
Um Slytherin.
Outra parte do que estava deixando Harrison inquieto.
Voldemort tinha incluído Harry no pacto propositalmente. Tinha decidido que Lakroff, um homem capaz de derrotá-lo, não pudesse causar mal a Tom, um herdeiro. Ele teve a chance de usar o nome Riddle, nada o impedia diferente da jura entre lordes que precisava de um nome de casa para ser validado.
Ele tinha Riddle.
Mas escolheu usar Slytherin.
Hazz era o lorde da casa, então por quê?
Que inferno, o fez decidir usar o nome da Sonserina no lugar de Riddle, sabendo que isso garantiria não apenas a sua proteção, mas a de Harrison?
O que Voldemort queria com isso? Manter seu orgulho? Se recusava a ligar um nome de casa como Mitrica, a um simples nome trouxa? Ele era apenas um preconceituoso sem salvação?
Ou pretendia proteger Harry?
Proteger porque era seu inimigo e apenas seu. Ninguém mais deveria tocá-lo, por exemplo.
O pior é que Lakroff não parecia achar que esse detalhe tinha tanta importância, mas Hazz sentia que sim e Tom também não estava ajudando.
"Deixe disso, Voldemort só não gosta de usar o nome Riddle para um pacto mágico com um Grindelwald".
Mas aquilo era estranho e os dois sabiam disso. Hazz estava sendo deixado de fora de algo importante.
De novo.
"Seus amigos estão seguros" garantiu a horcrux "Isso que importa, não? Se Voldemort atacar um deles, ele sabe que você pode fazer o mesmo. Pior, você está protegido contra tudo, enquanto ele não pode fazer nada com você diretamente. Além disso, tem Lakroff, que já se provou para o lorde das trevas em pessoa. Um soldado que pode atacar seus comensais se os seus forem".
"Meus amigos não são meus comensais".
"Servinhos, como diria Nagini. De toda forma seu avô não escolheria um caminho onde um de seus amigos morre e ele teria visto isso".
O menino bufou.
Voldemort provavelmente não se importava com os comensais como Hazz fazia com os amigos, mas ele precisava de aliados agora que estava tão fraco e desprotegido contra um possível ataque de seu inimigo jurado, mas tudo estava tão confuso.
"Por que você quis me incluir?" se perguntava durante as aulas, bem mais distraído do que era seu costume.
-x-x-x-
"Acidente na sessão de mistérios faz com que alas inteiras sejam temporariamente evacuadas".
Hermione leu a manchete em voz alta, então se voltou para os meninos:
— Isso não é estranho?
Ron acenou com a cabeça:
— Rita trazendo uma matéria que não seja sobre Harry Potter essa semana? Sim. Acho que finalmente virou notícia velha, sorte de Harry, eu já estaria enlouquecendo.
Desde a primeira tarefa, na terça, dia vinte e quatro de novembro, até aquela sexta, quatro de dezembro, Rita Skeeter tinha esgotado sua pena com informações das mais diversas que pescara sobre Harry Potter. Nos primeiros dias sobre seu desempenho, o que pessoas entrevistadas achavam de sua demonstração de poder avançado, nos dias mais fracos uma recapitulação do que tinha acontecido com os Potter em Godric's Hollow em 1981, o desaparecimento noticiado em 1988, a opinião geral do que estava sendo publicado em outros jornais pelo mundo sobre Harrison.
Tudo bem sensacionalista e irritantemente constante.
Havia uma edição que falava sobre o possível romance dele com Luna Lovegood e como os dois haviam se aproximado rápido, com entrevistas entre vários alunos que insistiam que aquilo era apenas teoria e que ambos eram apenas amigos, mas Rita tinha uma foto de Luna aparentemente tendo invadido a barraca dos campeões antes da primeira tarefa para abraçar e desejar sorte à Harrison e havia tanto carinho no olhar dos dois que Ron até considerou a possibilidade.
Neville fez com que os amigos lembrassem que Rita foi quem tirou a foto.
Ele pessoalmente estava feliz que a mulher não havia tirado nenhuma de seu amigo chorando em seus braços depois do evento. Se aquela megera inventasse que Hazz era fraco por causa de seu momento depois da tarefa, ele ficaria louco com aquela barata nojenta.
Por sorte, Rita não dizia nada diferente de Harrison "o salvador do mundo mágico" ser um bruxo excepcional. Era sensacionalista ao extremo, mas Hazz aparentemente estava jogando em seu bom lado já que foi poucas vezes insultado.
Poucas.
Para alguém que sempre evitou a mídia, entretanto, devia estar sendo especialmente chato.
Nev tentava ao máximo estar com o amigo e garantir que não se estressasse demais. Quase todos os seus cafés da manhã foram na mesa da Sonserina, para que pudesse pessoalmente rasgar qualquer edição que deixasse o amigo minimamente irritado.
Mesmo assim, no geral, Hazz pareceu bem indiferente e até debochado em relação ao jornal.
O que aconteceu de mais impressionante envolvendo ele e a mídia, foi na verdade uma onda interessante de adaptação da mesa das cobras ao "O Pasquim", a revista do pai de Luna.
Começou com a entrevista, antes mesmo da primeira tarefa. Enquanto Rita publicava em uma sexta aquela sua edição sobre as sensibilidades de Hazz e ignorava os outros competidores do torneio, no sábado Luna apareceu com uma edição d'O Pasquim com uma entrevista exclusiva com todos os participantes, uma ficha técnica e detalhada sobre cada um.
Hazz, é claro, disse em voz alta como queria ler e os colegas na Sonserina ficaram curiosos, pedindo para Luna algumas várias edições.
Foi proposital, Hazz contara a Neville depois que se acertaram, ele fez tanto a entrevista como demonstrar todo aquele interesse por ela, para ajudar a amiga. Os alunos da Durmstrang ficaram em polvorosa para descobrir o que o presidente tinha falado, além dos outros participantes, porque isso "poderia ajudar com suas apostas no torneio" e, é claro, o interesse dos estrangeiros também atiçou a curiosidade dos alunos em Hogwarts.
Naquele dia a loira vendeu cerca de 30 edições da revista para sonserinos, além de mais 30 para Corvinos e Lufanos que ficaram curiosos, isso pelo que Nev sabia.
Depois disso a coisa foi natural, Luna teve que recolher várias assinaturas pela escola de alunos interessados nas próximas edições da revista.
Todos ficaram impressionados como Xeno tinha uma escrita empolgante para um jornal, além de que tinha muitos detalhes mais interessantes sobre o torneio e o que o circulava.
Detalhes relevantes na edição pós primeira prova falavam sobre os dragões com detalhes, as histórias mais interessantes que se tinha conhecimento sobre cada um, os maiores desafios que o ministério já encontrou para controlar cada um, como era a vida de um cuidador de dragões, salário, tempo de trabalho, o que era preciso para se formar. A revista era preenchida por curiosidades. Sobre os feitiços que cada aluno usou, descrições detalhadas sobre o que foi feito, muitas fotos, bem mais que um jornal teria, por exemplo, e até entrevista com alguns dos jurados.
"Ah sim" disse Ludo Bagman sobre o desempenho de Harrison Peverell-Potter "Acredito que Crouch tirou um ponto do garoto pelo uso de um feitiço que, se desse errado, poderia matá-lo, estamos prezando pela segurança nesta edição, por mais que não desejemos que seja parada" e riu para nosso entrevistador. Dizia a revista.
Ron gostou especialmente de um artigo inteiro sobre as edições anteriores do Torneio Tribruxo, um memorial aos alunos que morreram participando e um hall sobre os vencedores e como foram suas vitórias.
Saber que tipo de desafios já apareceram naquele torneio foi muito interessante para o Weasley, que comentou sem parar com Neville como Harry tinha sido impressionante e que, apesar daquela edição ser dita como uma nova e mais segura, dragões ainda eram uma das coisas mais impressionantes que o torneio já teve.
Neville agora era um dos vários novos assinantes e ficou feliz quando viu no Profeta Diário uma das matérias do Pasquim colocada em destaque. Luna parecia radiante que mais pessoas conhecessem o trabalho de seu pai e o menino achava que era merecido. Apesar das loucuras que soube que haviam em edições anteriores, tudo que leu na revista até então foi muito bom e coerente.
Tanto que Neville se deu ao trabalho de ler a revista toda.
Até Hermione estava ansiosa com a publicação que sairia no dia seguinte, mas era sexta e diferente do profeta, a revista tinha uma frequência de publicação aos sábados, com a "edição reduzida", como Luna havia explicado, depois uma versão mensal com todas os folhetins do mês, da qual sempre havia alguma coisa nova especial bônus. Não tinham muito o que fazer além de aguardar quais novas informações Xeno Lovegood traria. Enquanto isso, Rita era sua fonte de atualizações do mundo mágico.
Hermione olhou feio para o ruivo:
— Ronald!
— O que eu fiz?
— Estou falando sério aqui.
— Eu não estava brincando, realmente acha normal essa quantidade de exposição a Rita Skeeter que Harry vem passando?
Principalmente com o fato de que Rita estava parecendo cada dia mais confiante.
Não só invadindo aulas, como trato das criaturas mágicas naquela semana, onde quase marcou uma entrevista com Hagrid se não fosse Sirius para interromper e mandá-la sair antes que chamasse Dumbledore, além de que vinha cada dia mais insinuando coisas ou provocando Harrison, como se seja lá o que a motivou a não ser especialmente horrorosa no começo, estivesse esfriando e sendo perdido para sua necessidade de fofocar.
Quer dizer, pensou Ron, ela fez uma matéria inteira sobre Gellert Grindelwald para comparar o desempenho de um lorde das trevas à Harrison.
Mesmo que tivesse dito na matéria como era bom que o salvador soubesse exatamente as armas dos inimigos para usar contra eles, ainda foi absurdo comparar as NOTAS DELES na Durmstrang e lembrar que Grindelwald fora expulso e Hazz estava para se formar.
Ainda estava indignado e curioso com como ela conseguira aquelas informações.
Enquanto isso Xeno tinha sido imparcial e objetivo ao comentar o desempenho e os feitiços de Harrison e até mesmo feito uma lista de publicações permitidas pelo ministério que falavam sobre artes das trevas e como os feitiços usados por Potter funcionavam, para "os mais curiosos e necessitados de fontes", dissera a matéria.
Hermione tinha ficado horrorizada na mesma proporção que empolgada ao descobrir que a maioria daqueles livros estavam em Hogwarts na sessão restrita e alguns até nas sessões comuns.
Estava se segurando desde então para pedir que lhe dessem uma autorização especial a fim de pegar algum em mãos, já que aqueles liberados tinham sumido da biblioteca antes que ela tivesse chance de alcançar um que fosse.
A menina suspirou:
— Bem, concordo que essa semana deve ter sido estressante para Harrison. Decididamente dá razão ao seu tutor em ter evitado a mídia todos esses anos. O que acha Neville?
O menino sorriu:
— Hazz a ignora a maior parte do tempo. Bate o olho e dispensa o jornal como se não fosse com ele.
— Isso é bom. E, a propósito... – os olhos dela brilharam de um jeito que Neville não gostou.
Ron muito menos, já que bufou:
— E lá vamos nós.
— Ronald!
— O que é?!
— Neville me prometeu!
— Hermione, nem por isso você não está sendo irritantemente chata com essa coisa de elfos livres.
Neville tentou apaziguar antes que os dois começassem uma briga:
— Eu já disse que vou falar com o Hazz.
— Quatro elfos! Quatro escravos! – ela esganiçava. – Isso é um absurdo!
— Não são escravos, já te expliquei...
Neville tentou se explicar, mas a amiga, completamente fissurada em sua missão de elfos livres não lhe deu muita atenção:
— Só porque ele e a sociedade onde vocês cresceram querem te fazer acreditar que está tudo bem com isso, que um salário indigno de qualquer criatura é o bastante para compensar o abuso psicológico que esses seres estão passando, não quer dizer que vou ficar menos incomodada com uma casa acumulando quatro deles.
— Queria eu ser rico a esse ponto – murmurou Ron baixinho para que a amiga não escutasse.
Ele não foi bem sucedido já que levou uma livrada na cabeça.
Neville pegou o jornal abandonado na mesa de Hermione enquanto isso:
"Em meio aos olhos do público internacional, o ministério gasta suas energias para não nos envergonhar e falha miseravelmente até em uma das alas mais protegidas e vigiadas.
O departamento de mistérios foi evacuado nesta quinta-feira após acontecimentos ainda mantidos sobre sigilo do público, mas ligados a um aparente acidente em uma das divisões que gerou uma névoa cegante, não dissipável por qualquer feitiço testado, que preencheu os corredores e impedindo os trabalhadores de continuar no local..."
— O que tem demais no ministério evacuando a sessão de mistérios? – Ron foi quem perguntou, espiando por cima do ombro de Neville. – A propósito, não acredito que você começou a assinar essa coisa, Hermione.
— Eu sou nascida trouxa, Ronald, às vezes é minha única forma de saber o que acontece por aqui. E Rita não é a única redatora do jornal.
— Aposto que são todos uns merdinhas.
— Ronald!
— Você está começando a soar como minha mãe – o menino reclamou e Neville riu da expressão irritada e indignada da amiga.
— Não apoie ele.
— Não estou – garantiu levantando os braços.
Gina apareceu naquele momento e sentou à frente dos meninos, juntos de Hermione:
— Do que estamos falando?
— O incidente no ministério.
— Chegou atrasada – reparou Ron. – O que estava fazendo?
A ruiva deu de ombros e ignorou o mais velho descaradamente:
— O que tem demais? Provavelmente alguma divisão estava fazendo testes com poções ou coisas perigosas e acabou causando essa confusão. Papai sempre diz que o departamento de Mistérios é uma confusão que só finge ter alguma ordem.
Hermione olhou para os lados e fez um gesto para que o grupo se aproximasse dela, eles se inclinaram para o centro da mesa, onde ela sussurrou:
— O departamento de mistérios guarda muitas coisas importantes e de repente ninguém consegue enxergar um palmo à sua frente por causa de um acidente? Isso não faz sentido. Outra que a maioria das coisas que acontecem lá, ninguém fica sabendo. Para a notícia ter chegado até Rita e ela achado interessante o bastante para falar sobre, é óbvio que a coisa está estranha.
Gina olhou para a amiga:
— O que está sugerindo?
— Que ninguém sabe como começou. Que pode não ser um acidente. Que o ministério está falando sobre isso por todo lado, provavelmente tentando descobrir o que aconteceu e Rita viu que estavam tentando esconder e por isso achou interessante.
— Eles podem estar querendo esconder um erro próprio.
— Eu também pensaria isso se tivesse ficado só no departamento de mistérios, mas pelo que o pai de vocês me contou, eles sempre resolvem suas coisas entre si e evitam ao máximo os outros departamentos. Falei com ele sobre o ministério nessas férias e mandei algumas cartas, para entender por onde teria que começar para levar para frente meu projeto.
Ron gemeu:
— Por Merlin.
— Ele não reclamou, Ronald.
— Você soou como minha mãe, agora – comentou Gina rindo.
Hermione não gostou, o que só fez Gina e Neville rirem mais.
— Eu só estou dizendo – Hermione tentou continuar. – Ah meu Merlin, o que aconteceu com o professor Dumbledore?
Os outros três imediatamente olharam para a direção que Granger encarava horrorizada e os dois meninos escancararam suas bocas em choque ao ver o diretor.
Albus Dumbledore estava, pela primeira vez desde que o conheceram, de cabelo e barba curtos, o que já seria uma surpresa e tanto, mas o que deixava o salão todo barulhento com a fofoca era que cabelo, barba e sobrancelhas, além de seu rosto, estavam pintado em alguma proporção de preto.
Como se uma bomba de carvão explodisse em seu rosto.
Aquilo era tão absurdo que até Minerva deu um gritinho ao ver o amigo.
Dali, o grupo não conseguia ouvir o que os professores falavam, mas Ron imediatamente olhou para seus irmãos gêmeos, esperando que encontrasse algo. Ficou surpreso quando eles pareciam tão em choque quanto qualquer um.
Foi quando olhou para Gina.
No último segundo, quase perdera seu sorriso e olhar de vitória.
Desviou o olhar para sua comida, engolindo um bom pedaço de uma linguiça para tentar fingir que não vira nada.
— O que será que aconteceu? – perguntava Hermione escandalizada.
-x-x-x-
— Dumbledore, acho que tem uma coisinha na sua barba – disse Igor Karkaroff e Lakroff quase engasgou.
Na verdade, ele ficou tão vermelho segurando suas reações que parecia em chamas.
O diretor pareceu satisfeito que tivesse causado aquela reação ao seu senhor e sorriu em vitória:
— O que aconteceu? Perdeu uma briga com sua fênix?
Lakroff soltou um barulhinho grasnado por trás de sua taça e fechou os olhos, incapaz de encarar aquela cena e ouvir os comentários de Igor ao mesmo tempo e não cair na gargalhada.
— Albus! – guinchava Minerva. – Não me diga que foi aquele fogo com vida em sua sala!
— Fogo com vida? – perguntou Fílio Flitwick ao lado de Sibila, que também parecia se segurar para não rir.
— Avisei para ficar vigilante, Albus. Podia ter pedido minha ajuda para lidar com essa questão.
— Eu já resolvi a questão – garantiu o diretor de Hogwarts e todos o encaram desacreditando.
Ele suspirou e riu, como se também achasse graça em sua situação.
Minerva sabia que era uma risada falsa.
— Na verdade, eu decidi que estava cansado da companhia do foguinho essa manhã e decidi me livrar dele. O problema é que o feitiço que usei causou uma pequena explosão de carvão, olhe só. E não importa o quanto eu esfregasse meu rosto, essa pigmentação não saia.
— Por isso faltou ao café hoje? – Karkaroff perguntou.
— Sim.
— E teve que cortar a barba e o cabelo?
— Não consegui tirar as cinzas deles de outro modo.
— Desculpe, mas você não conseguiu de jeito algum, ainda estão cheias dessa coisa preta.
— Estava pior – garantiu Albus.
— Isso é ridículo – Snape reclamou, crispando os lábios. – Temos que achar os responsáveis por isso – e olhou descaradamente para a mesa da Grifinória ao dizer aquilo.
— Severus – avisou Minerva.
— Só conheço dois alunos que seriam capazes de criar algo assim.
— Não acuse alunos sem provas – ela praticamente implorou, afinal estavam sendo observados com muito julgamento pelos professores da Durmstrang.
A mulher estava muito envergonhada com a impressão que aqueles professores estavam tendo de sua escola com tudo aquilo.
— Eu concordu cum seu pofessorr, Albus — murmurou Madame Maxime. — É peciso fazer algu a respeitu, já há muita fofoca sobre o supostu incidente envolvendu um alune jogando coisas em sua cabeça, agora istu?
Claro, fofoca.
Minerva não esperava que fossem conseguir controlar aquela história com tanta facilidade, no fim ninguém conseguia acreditar mesmo que Longbottom arremessaria algo perigoso e feito de cristal contra o professor Dumbledore. O dócil e gentil Neville Longbottom? Pirraça estava mesmo inventando coisas e havia novas fofocas para se falar. O baile. Adolescentes, pensava Minerva, é claro que um baile ocuparia suas mentes como um tsunami. O que aconteceu também com a história de terem colocado fogo na sala de Dumbledore, coisa que Pirraça também contara, mas que foi prontamente dissipado no ar, como se nem existisse mais espaço na mente dos alunos para isso.
Não sabia mais se seria o caso depois daquela situação com Albus.
— Porque não ficou nos seus aposentos até resolver isso, Albus? – Minerva questionou-o ao fim do almoço, antes de precisar ir para sua próxima aula, puxando-o para outra sala.
— Minerva, porque precisava sair daquela sala. O cheiro de queimado estava me deixando louco.
A mulher não esperava aquela resposta, nem a forma pesarosa que foi dada, como se o homem estivesse muito cansado.
— Albus, você conseguiu mesmo tirar aquela coisa da sala?
— Não. Ela só explodiu hoje pela manhã quando tentei e saiu rolando para fora. Não consegui alcançá-la para lançar alguns feitiços e descobrir sua origem de uma vez por todas, e alguns alunos me viram. A fofoca já iria se espalhar, achei melhor enfrentar de frente e ter ao menos um pouco de tempo longe disso.
— Aquela coisa está em algum lugar de Hogwarts agora?
— Não acho que queira fazer mais nada. Ela escapou para um banheiro e se afogou no vaso.
— O que era aquela coisa?
— Queria eu saber – suspirou pesadamente.
Se soubesse, teria conseguido pegá-la com um simples Accio, ao invés de correr como uma criança pelos corredores.
Devia ter continuado ignorando a coisa. Quando a deixou em paz ela incomodou menos, mesmo que tivesse colocando fogo nas coisas, era só ficar na sala que não fazia nada. Só se acendia quando estava sozinha.
— Albus, o que você fará com isso? – perguntou preocupada com os gêmeos, mas até ela já achava que tinham ido muito longe.
Vingança nunca era certo.
— Sinceramente, Minerva? Ainda não sei. Vou conversar com os meninos, eu acho, mas não se preocupe, não vou acusá-los, apenas perguntar.
— Quero estar presente.
— Como desejar – Albus estava cansado demais para pensar nas implicações do pedido da amiga. – Tem alguma aula com eles?
— Eu tinha pela manhã, já foi.
— Chame-os no fim do período, sem causar alarde.
-x-x-x-
Neville, durante o restante de seu dia, não conseguia deixar de pensar no que podia ter acontecido ao diretor.
Um sentimento de culpa estranho começou a borbulhar em sua barriga, como o caldeirão de uma poção que espalhava fumaça por todo lugar até seus pulmões, sua boca, sua cabeça.
Não tinha nada a ver com o caso, mas sua cabeça o fazia pensar o contrário. Como se o que aquilo que tinha feito à Dumbledore tivesse permitido que outros alunos também agissem contra o diretor pensando que sairiam impunes.
Ron tentou animá-lo e dizer para pensar em outra coisa, mas no fim isso só o fez querer ficar um pouco longe dos amigos.
Quando as aulas infernalmente difíceis de lidar em Poções acabaram, o menino arrumou uma desculpa qualquer e despistou Ron e Mione, seguindo para qualquer canto de Hogwarts onde pudesse respirar ar fresco e pensar.
Acabou próximo ao campo de quadribol.
Ron comentou sobre tentar entrar para a equipe e queria que Neville o acompanhasse, para dar apoio moral ou ter alguém pior que ele tentando, não sabia ao certo, mas ficaria para o ano que vem. Neste ainda não odiava aqueles aros altos, a grama em contato com a areia e as arquibancadas.
Sentou-se no gramado, que estava molhado por causa da neve fraca que teve pela manhã, poucos centímetros antes da terra do campo, e se distraiu com as coisas mais pequenas, como os grãos sendo empurrados pelo vento.
Não foi necessariamente uma surpresa que Harrison o encontrasse depois de um tempo. Ao menos, ouviu-o se aproximando desta vez. Ele se sentou ao seu lado e, como apenas Hazz sempre era capaz, soube exatamente o que fazer. Nada. Ficou quieto, não perguntou sobre seu estado de humor, apenas escolheu seu lugar no gramado e ficou observando as mesmas amenidades.
Um silêncio confortável recaiu sobre eles enquanto o sol se punha no horizonte e os ventos gelados batiam contra sua pele, mas Neville não se incomodou. Pelo contrário, sentiu-se bem confortável pela primeira vez desde que tudo acontecera.
Como se a presença de Hazz tornasse suas inseguranças irrelevantes até o desaparecimento.
Demorou um longo tempo e ventos bem fortes para enfim perceber que não estava apenas mais relaxado com Harrison ao lado, mas seu amigo tinha usado um feitiço de aquecimento em suas roupas, tornando ativamente mais confortável estar com ele.
Isso o fez rir e se aproximar um pouco mais, para que seus joelhos pudessem se tocar:
— Obrigado.
— Pelo que?
— Por ser você.
— Isso é bem vago – Harry levantou uma sobrancelha, mas depois sorriu e deu um leve empurrão com seu ombro no amigo. – De nada.
— Você não tem um monte de coisas para fazer na Durmstrang?
— Diminui a carga recentemente, estava precisando.
— Que milagre você notando isso!
Harrison riu:
— Na verdade, fiz porque entrei em outro projeto que está usando bastante do meu tempo.
— Então você só trocou chá de camomila por erva doce – resmungou revirando os olhos.
— Algo assim.
— Você não tem jeito.
Houve uma pausa. Outro momento onde eles apenas aproveitavam o vento de inverno e os sons distantes da escola, interrompido por uma pergunta sutil em forma de nome:
— Neville?
— O que foi, Hazz?
— Você quer ir no baile comigo?
— Não. É claro que não!
A resposta foi tão imediata e sincera que tirou outra risada de Harrison, essa que dificultou o drama que tentou fazer em seguida:
— Um simples "não" bastava! Precisa parecer tão incomodado com a ideia?
Neville revirou os olhos:
— Por que não vai convidar minha avó?
— Boa ideia, vou com Augusta. Você vai com Lakroff.
— Arrume o que fazer Harrison Potter!
— Assim me machuca, sabia? Meu amigo me acha repulsivo!
— Você é uma maldita rainha do drama. Sabe bem porque eu disse o que disse.
— Na verdade, além de seu claro desprezo pela minha pessoa, não.
Neville tornou a girar os olhos para cima e soltou as pernas deixando-as espalhar-se pelo gramado e perdendo assim o contato anterior que tinham estabelecido.
Não por muito tempo, já que Harry imitou o gesto para que pudesse encostar as pontas dos pés.
Os dois sorriam para aquilo, como se fosse grande coisa.
Talvez fosse.
— Somos homens – Neville esclareceu.
— Sim, somos – Hazz afirmou com convicção. – Ao menos eu me vejo como homem e, até onde me consta, você também.
— Sim, é claro.
— Então ainda não entendi.
— Você tem que levar uma garota para o baile.
— Por quê?
— Porque você vai abrir a primeira dança – falou pausadamente, achando que tinha de lembrar o amigo de algo tão importante, mas que o ocupado ao extremo Potter tinha dado conta de esquecer.
Não podiam simplesmente ignorar tudo e apenas ir se divertir juntos, apesar de que seria provavelmente melhor assim, ainda precisavam de acompanhantes. Aquele era um baile formal. Ir com os pessoal da Durmstrang, ou com Ron e Mione, para conversar e esperar a noite passar como qualquer outra não era uma opção.
Houve uma pausa onde ele supôs que Harrison devia ter percebido como estava distraído, Potter apenas fez uma careta e Neville achou melhor ressaltar:
— Você vai aparecer nos jornais com seu par, muito provavelmente, então lembre-se de escolher uma menina que esteja disposta a isso.
A cara aumentou:
— E por que não posso escolher um homem disposto a isso? Você já apareceu nos jornais. Não vai ser tão ruim de novo, vai?
— Merlin, prefiro ter um encontro com o professor Snape do que acabar nas manchetes de novo.
— Que específico, Neville, tem algo no professor Snape que te atraí?
Hazz levou um tapa no braço e riu da cara completamente horrorizada e enojada do amigo.
— Por que você não chama o seu diretor depois dessa? Igor Karkaroff e aqueles dentes amarelos indo te beijar, imagine só.
— Que horror!
A careta de Harrison talvez tenha sido ainda pior naquele instante. Acrescentou sons de vômito e gestos completamente enjoados, enquanto Neville ria se sentindo vingado.
— Nunca mais me dê uma imagem mental dessas.
— Digo o mesmo.
— Maldita Skeeter.
— Ela é uma chata mesmo.
— Que eufemismo. Praga talvez seja mais adequado. E agora vem e arruina minhas chances com o amor da minha vida – acrescentou a última parte pegando a mão de Neville e beijando, como fazia com as garotas que tentava encantar com seu charme.
Neville corou, mas mordeu o interior da boca para ignorar a vergonha:
— Hazz?
— O que, Nev?
— Estou começando a ter saudades de quando você vivia ocupado, tem certeza que não tem nada na Durmstrang?
Mais uma risada, ele soltou a mão do amigo e decidiu deitar na grama:
— Queria poder chamar Viktor.
— Você tem muitas amigas mulheres, porque insiste nos homens que não pode levar?
— Porque você insiste nas mulheres? – retrucou.
— Por quê? – repetiu, virando-se para o moreno.
— Sim.
— Porque não! Hazz... você sabe como essas coisas funcionam.
Potter levantou uma única sobrancelha questionadora e o Longbottom bufou:
— Hazz!
— Nev!
Os cabelos escuros contra a grama ficavam ainda mais pretos, diferente de quando a luz do pôr do sol os tocava e pintava de vermelho nas pontas. Agora só havia escuridão contra o verde. Neville tirou uma folha que voou para eles enquanto percebia que, apesar das brincadeiras, Hazz parecia bem sério.
Isso o confundiu um pouco:
— A primeira dança com certeza será uma valsa, pelo que Minerva explicou de como estão organizando o baile. É um evento formal, mesmo que seja na escola.
— Eu sei disso. O que tem, Neville?
— Isso quer dizer que você precisa de uma dama. Você sabe. Para valsar – explicou calmamente, apesar de se sentir ridículo por ressaltar o óbvio.
— Não preciso de uma dama, Lakroff me ensinou a dançar perfeitamente com um parceiro a anos. Mesmo que meus pares fossem meus irmãos, ainda conta como aula dada e aprendida, está bem? – sorriu. – E o vice-diretor vai dar aulas extras na Durmstrang, aposto que até o mais tolo dos meus colegas vai saber valsar a tempo do baile.
Só então o grifinório percebeu onde estava o problema de comunicação entre eles desde o começo daquela conversa.
É claro, pensou. Como deixou aquilo passar?
Neville foi criado com uma ideia dos modos e atitudes que deveria tomar enquanto um lorde, o que era de esperar dele e como agir em uma situação igual a um baile de gala.
Hazz não tinha a mesma ideia fixada na cabeça desde a infância.
Na verdade, poderia ter se formado com pensamentos completamente diferentes.
Lakroff era gay.
Completa e abertamente.
Apesar de como tratava as mulheres, cheio de insinuações e gracejos, geralmente era apenas algo que fazia como parte de sua personalidade. Augusta, que era sua melhor amiga, ainda recebia piadas do tipo, assim como Hazz fazia com Neville. No fim, o lorde Mitrica não queria cortejar nenhuma mulher. Ele queria, assim como Sirius fazia agora, cortejar um homem!
Lakroff saberia dançar com um parceiro e ensinaria isso aos filhos, porque pensaria na possibilidade de algum ser como ele.
Hazz não via necessidade de uma dama.
Não como Neville.
Além de tudo, Lakroff pode tê-lo ensinado a normalizar pares diferentes do convencional ao ponto de que Harrison Potter não via como um disparate ou algo totalmente chocante para a alta sociedade abrir um baile nos braços de outro homem. Os jornais o destruiriam, mas Hazz nem pensava em como aquilo era dar um presente para Skeeter e todos os jornais que estariam tirando fotos e falando sobre sua atitude.
Nem era um empecilho para ele, que saberia como valsar. Uma valsa que Neville, por sua vez, nem conseguia imaginar como fazer da forma certa.
Quem conduz? Como se decidia isso? Alguém precisava conduzir?
Quase se bateu por demorar tanto para perceber. Estava mesmo com a cabeça nas nuvens e tinha acusado erroneamente Hazz de encontrar-se em estado parecido.
— Desculpe. Estou distraído, eu entendi errado uma boa parte do que você falou.
— Tudo bem... – murmurou o amigo claramente ainda confuso.
Será que Lakroff ensinaria os alunos da Durmstrang a dançar com pessoas do mesmo gênero? Os pais conservadores não acabariam criando algum problema com ele se incentivassem isso na escola?
Haviam tantas perguntas.
Mas primeiro, esclarecer:
— Hazz. A alta sociedade britânica não está acostumada a ver dois homens valsando. É apenas uma sugestão, é claro, mas talvez seja mais adequado encontrar uma lady como parceira. Seus amigos na sonserina são herdeiros de casas antigas, criados em normas que podem acabar colocando expectativas em você por ser um lorde. É melhor para sua imagem de herdeiro Black, se algum dia você realmente tiver a intenção de levar esse nome adiante e cuidar da propriedade de Sirius aqui na Grã-Bretanha, atender algumas expectativas. Mesmo que Sirius esteja cortejando Remus, a alta sociedade ainda não está acostumada com isso e Sirius já foi excluído dela a tempos, se pretende ter qualquer relação com os antigos lordes e não ser julgado por aquele bando de mauricinhos, ser diferente e subversivo como Sirius não é a melhor escolha. Mas eu também não faria questão de estar no dia bom de nenhum deles, então faça como quiser.
Neville conseguiu assistir de forma muito cômica alguma emoção forte cruzar o rosto de Harrison, algo como surpresa ou confusão e, vindo do amigo, foi o bastante para lhe tirar outra risada.
Harrison estava, na verdade, bem impressionado que Neville não só se atentasse àquele tipo de coisa como o avisasse,
Não esperava uma resposta daquelas de Neville.
O amigo estava preocupado com a imagem de lorde de Harrison?
Queria ajudá-lo a se encaixar entre os herdeiros?
Bem, não é que Neville não era tão alheio àquelas coisas quanto pensava. Realmente Augusta o ensinou bem.
— Você vai ser um bom lorde Longbottom.
Neville fez uma careta:
— O que isso agora?
— Só constatando. De toda forma, não me preocupo tanto com a minha imagem para deixar de convidar alguém que eu queira em prol dela.
— Ótimo, então chame quem quiser.
— Quem eu quero me recusou – lembrou com um sorrisinho ladino.
— Você não quer ir comigo. Está evitando procurar um par sério e quer um amigo que não vai levar isso como um encontro porque acha que a situação pode rapidamente parecer com um. Por isso não vai chamar Viktor, porque você sabe e só finge não perceber que ele gosta de você.
— Perspicaz e certeiro.
— Devia ter sido mais rápido que Ivan e chamado Luna.
— Eu sei – murmurou com claro incômodo. – Quando vi ele já tinha feito antes.
— Quem mandou ser lerdo.
— Você já tem um par?
— Não.
— Porque não posso ir com você, então?
— Com todo o respeito, eu te amo, mas vou com uma dama.
— Se você disser que sua avó preferiria assim eu te bato.
— Ela ia preferir – concordou.
Hazz deu um tapa no ombro do outro, Neville riu de tão fraco que foi o golpe:
— Fracote.
— Piedoso – corrigiu.
— Se te faz dormir à noite. De toda forma eu já tenho um par em mente e você não vai me usar para fugir das suas responsabilidades. Não quero ter que abrir um baile, por Merlin, nunca!
— Você é um chato. Quem é a menina?
— Isso foi uma troca de assunto?
— Troca de assunto é debater a força com que te bati e não o baile. Quem?
— Você vai amaldiçoar ela?
— Eu nunca faria isso — respondeu, nem um pouco sincero.
— Hazz!
— Brincadeira – levantou as mãos em rendição. – Me diga, vou amaldiçoar apenas se eu não gostar.
Neville estreitou os olhos e apontou para o peito do amigo:
— Vou acreditar que você não é louco de fazer alguma coisa dessas realmente e que são apenas piadinhas – então se afastou, voltando a olhar para o céu. – Ginny, eu acho.
— Weasley?
— Sim. Tem algo contra ela? – sorriu provocativo. – Ou devo avisá-la para te evitar?
Ele sabia que Hazz não teria nada contra a irmã de seus amigos.
— Ela parece legal. Luna gosta dela.
— O que tem?
Hazz levantou os ombros:
— Deve ser uma boa escolha.
— Então basta Luna gostar de alguém e se torna automaticamente uma boa escolha para você?
— Algo assim.
Neville o queimou com os olhos parecendo bem irritado. E enciumado.
Harrison teve que rir de sua reação:
— Não se preocupe, uso você da mesma forma como bússola de julgamento.
— Se fosse assim, você detestaria Malfoy. Eu o detesto e já disse isso nas minhas cartas.
— Você nunca deu detalhes do que o faz detestá-lo além de, se não estiver enganado, quando ele te desafiou para um duelo mas não foi e te entregou para a professora e isso foi a três anos.
— Posso dar agora alguns mais recentes se desejar – respondeu de forma ácida lembrando da última do insuportável e seus amiguinhos.
Hazz encarou-o com intensidade, antes de suspirar:
— Você realmente parece ter motivos. Me conte. Mas! – e levantou os braços, novamente como se estivesse rendido. – Eu já me desculpo de antemão. Draco... – tossiu. – Malfoy foi o primeiro em Hogwarts a correr para conseguir informações privilegiadas da primeira prova do torneio só para me ajudar, lembra-se? Ele engoliu seu orgulho e foi pedir ajuda para você e Ronald, por mim, um desconhecido ainda sem nome na época, e mesmo depois de toda a rivalidade de vocês, fez isso apenas porque parecia verdadeiramente preocupado comigo. Então eu só achei que ele merecia uma chance.
Uma chave virou dentro da cabeça do Longbottom.
Era verdade.
Draco Malfoy devia ser bem diferente aos olhos de Hazz do que era para Neville, que o conheceu zombando dos Weasley no trem para Hogwarts. Mas não apenas diferente.
Na visão de Harrison, era uma pessoa. Com falhas provavelmente, mas um menino que lhe ofereceu amizade logo no primeiro minuto em Hogwarts e uma verdadeira ao ponto de realmente tentar ajudá-lo usando suas informações privilegiadas para descobrir a primeira tarefa com semanas de antecedência, ajudando Hazz com seu maior medo. Quando ele poderia ter surtado de forma ainda mais intensa se descobrisse dos dragões apenas alguns dias antes, como poderia ter sido caso contrário.
Pior, pensou Nev, Charlie talvez não tivesse motivação alguma para contar a Ron sobre os dragões e ninguém ficaria sabendo até ser o dia da primeira tarefa.
Harrison teria morrido por dentro antes de pensar em uma solução que o salvasse.
O pânico o tomando quando visse a criatura e todo aquele fogo que já o destruiu mesmo que Malfoy o tivesse avisado. Só de pensar nesse cenário, Neville se apavorou e tremeu de novo.
Hazz se preocupou ao ver o amigo ficar pálido como um fantasma de repente:
— O que foi?
O grifinório bufou, cruzando os braços:
— Esqueça o que eu disse, pode ser amigo do Malfoy.
— O que? Por quê?
— Apenas aceite. Não quer dizer que ele seja menos insuportável.
— Mas? – a risada confusa, mas divertida de Harrison diante da expressão azeda do amigo foi clara.
— Mas vou aceitar que você tem motivos válidos o bastante para suportá-lo. Você é grandinho também, sabe decidir sozinho suas amizades.
Hazz revirou os olhos:
— Ah, obrigado!
— Apenas me avise se ele se mostrar um merdinha convencido para você também, aí posso começar a falar mal dele.
— Antes disso não?
— Não. Ele foi bom para você e... – suspirou.
Neville estava decidido a não contar as coisas que Malfoy já tinha dito à Ron, principalmente Mione. Hazz ficaria mortalmente furioso com Malfoy e não perdoaria fácil. Talvez nem o fizesse.
E nem queria saber qual seria sua reação se falasse como Nott tentou ser legal a troco de alguma coisa.
A questão é que ele tinha razão. Na visão geral das coisas, Malfoy tinha sido um ótimo amigo para Harrison e viu várias vezes na mesa como o menino podia mudar na presença do Potter. Era errado ser uma pessoa tão diferente na frente de outra, mas Malfoy merecia uma chance como todos, não?
Bem.
Seria hipócrita de sua parte, considerando que mesmo com todo seu passado, Hazz podia respeitar a proximidade de Nev com Dumbledore.
Proximidade essa que havia esfriado a graus negativos desde a última vez.
Neville sentia-se muito culpado, ao mesmo tempo que... Não.
Dumbledore estava errado e Hazz precisava ser defendido. Talvez o Longbottom poderia apenas ter escolhido uma forma menos agressiva de lidar com a situação.
Mesmo assim, não tinha mais como voltar atrás.
Além de que, vendo Hazz sorridente ao seu lado, colado a ele como sempre fazia, não conseguia pensar que tomaria outra decisão se pudesse.
De repente outra coisa, muito mais perturbadora, veio à mente do garoto. Como um raio que ilumina a escuridão, mas não de uma forma positiva.
— Pelo amor de Merlin! – e agarrou os braços de Harrison para ter certeza de que sua mensagem seria clara – Não convide o Malfoy!
— Faço questão de aceitar caso ele me convide, só por essa sua reação.
— Hazz!
— Nev – sorriu.
Bufo:
— Você é insuportável.
Harrison corrigiu:
— Adorável.
— Chame uma garota.
— Não quero.
— Natasha?
— Agora é pessoal, quero um homem.
— Só para me contrariar?
— Sim.
— Insuportável.
— Insubstituível. Viu? Eu conheço outros adjetivos.
— Irritante, pronto, outro para você – sorriu forçado, mostrando todos os dentes.
— Que amor.
Neville se afastou, derrotado.
— Posso assistir, pelo menos?
Hazz franziu o cenho, confuso:
— Assistir?
— Você convidando Malfoy. Vai ser hilário ver a reação dele. Acho que aquele oxigenado quebra.
— Eu não disse que ia convidá-lo, disse que ia aceitar se ele me convidasse.
Neville soltou um risinho que Hazz estranhou. Ele aguardou que o amigo explicasse o motivo daquela reação, mas quando o loiro apenas riu mais um pouco, teve que perguntar:
— O que foi?
— Nada, achei que você fosse do tipo que ataca, só isso.
— Do tipo que ataca? – repetiu sem entender.
Neville agiu como se nem o tivesse escutado, falando consigo mesmo:
— Mas pensando agora em voz alta você sempre foi lentinho.
— Estou me sentindo ofendido e nem sei os motivos.
Mesmo assim, Harry não parecia diferente de divertido com a situação. Não tanto quanto Neville, de toda forma.
— Se — comentou encarando o Grifinório, que parecia estar rindo mais ainda de algo em seus próprios pensamentos. — Se você estiver falando sobre acreditar que eu tomaria a iniciativa para fazer o convite...
— Algo relacionado a isso, porém maior.
Hazz ignorou a interrupção:
— Draco poderia se sentir, não sei, como você, por exemplo?
— Como eu?
— Acreditar que o adequado seria ir com uma mulher.
— O não você já tem.
— Por que não ir atrás da humilhação, não é mesmo?
Neville riu.
Hazz acenou com a cabeça, pensativamente:
— Se você, que é meu melhor amigo desde sempre, teve essa reação divina, nem quero ver a de Draco. Acho que poderia esperar um "credo" ou pior.
Neville corou, mas ria ao mesmo tempo:
— Desculpe, não achei que você estava me convidando a sério.
— Daí essa reação, seu vacilão – e empurrou o amigo.
— Posso pensar no seu caso – comentou depois que superou a crise de risos, mas estava bem corado ao dizer aquilo e se recolheu de novo, abraçando suas pernas como se pudesse virar uma bolinha. — Eu só não consigo pensar em ser aquele que vai parar na capa do profeta diário. Imagino os absurdos que Rita escreveria sobre isso e me dá arrepios – e ele realmente tremeu. — Mas se você realmente quiser...
— Credo, prefiro o Draco.
— Filho da mãe! – Neville o empurrou com tanta força que Harry quase caiu para o lado, mas só conseguia dar risada. — Cria das trevas insuportável.
— Desculpe, mas não tem nem dois minutos que você agradeceu por eu ser quem sou.
— Eu retiro isso.
— Não pode.
— Eu posso. Vai lá com o Malfoy, já que você gosta mais dele.
— Prefiro encher seu saco hoje, obrigado, já irritei Draco ontem.
— Ao menos ele sofre tanto quanto eu.
Os dois começaram uma espécie de duelo de se empurrar batendo com os ombros e ficaram assim por um tempo, antes de pararem quando Harrison abraçou o amigo, deixando Neville corado, mas resignado, fazendo o mesmo, colocando um de seus braços na cintura alheia.
Estava quase escuro agora, logo os dois teriam que voltar para o castelo:
— Você ficaria chateado? – Neville quis saber. – Se convidasse Malfoy e ele negasse?
O grifinório quase se arrependeu de perguntar quando viu Hazz corar pelo canto dos olhos e baixar a cabeça e preferiu não comentar.
Harry se sentiu um pouco nervoso com aquela pergunta, se lembrando dos momentos com Draco, de como no corredor mesmo que o menino o tocasse, tocasse suas cicatrizes, não se sentira incomodado e havia se distraído com...
Ele.
Draco para todos os lados e apenas isso até serem interrompidos.
Ainda se pegava pensando sobre aquilo em momentos aleatórios e tinha que se esforçar para jogar a memória para um canto aleatório onde nem ele, nem Tom tinham que vê-la.
Não convidaria Draco.
Nem sabia se conseguiria.
E mesmo que ele aceitasse, coisa que duvidava muito já que um Malfoy com certeza preferia levar uma Lady, tinha o problema em pensar se Draco sentir-se-ia coagido.
Harry era um lorde em evidência, recusar um convite poderia ser visto como indelicado.
Ou pior.
Lucius poderia insinuar que o filho deveria aceitar o convite de Harry em prol de vigiá-lo para Voldemort.
Não que Tom fosse recorrer a algo tão tolo, mas seus comensais acostumados com jogos políticos mais simples? Esses veriam como uma vantagem expor a opinião do lorde Peverell como favorável a família que o levasse.
Havia tanta coisa pequena, mas importante para aquele mundo de jogos de poder, que qualquer decisão de Malfoy ou outros da Sonserina provavelmente vinha com vários pormenores.
Objetivos e ambições por trás de um sim para o convite de Harrison Peverell-Potter.
Ele seria um meio para um fim, não um acompanhante para se divertir em uma festa e Hazz não queria isso.
Já fora a poucos bailes na vida, aniversários da corte e eventos que suas famílias faziam vez ou outra. Um total de sete ocasiões de gala como aquela. Dos quais se lembrava de ter se divertido muito com os amigos.
Queria poder repetir a dose.
Ter a possibilidade de aproveitar ao menos uma coisa que aquele torneio trouxe. Ir com Neville era parte disso, já que uma das maiores vantagens do evento era estar com o amigo em Hogwarts.
Mas ele não queria.
E Hazz provavelmente não receberia convites.
Alguns de seus amigos ou estavam interessados demais nele, para que Harrison se permitisse aceitar o convite, ou eram pessoas que esperariam que ele fizesse o pedido se fosse de sua vontade. Ele era o lorde, afinal.
Natasha, por exemplo, com certeza iria se fosse convidada, mas não esperaria.
Não haveria um garoto para convidá-lo. Não haveria chance de não pensar muito no assunto e apenas se divertir, teria que aceitar onde haviam jogos políticos, de interesse ou românticos e fazer um convite absolutamente bem pensado.
Estava cansado só de constatar isso.
Ele suspirou.
Neville entendeu o gesto de forma errônea:
— Hazz, Malfoy não é a melhor pessoa do mundo, mas... Eu vi como ele parece se importar com você. Não precisa ter vergonha dos seus sentimentos.
— Como é?
— Se ele realmente agir muito mal com você apenas por querer ir com ele; se te fizer, não sei, se sentir mal ou se disser algo cruel sobre sua iniciativa de ir com outro garoto, eu posso bater nele por você.
A forma séria e intensa com que Neville o encarou para dizer aquelas palavras fez Hazz quase se sentir mal pelo amigo e por deixá-lo preocupado sem motivo.
— Primeiramente, você realmente é uma pessoa bem agressiva, sabia?
— Não me importo.
— Claro que não, "arremessa coisas, Longbottom".
— Não use as palavras de Pirraça contra mim!
— Estou usando suas ações contra você;
Neville o empurrou de novo. Harrison apenas voltou para o lugar:
— Além disso, eu realmente não pretendo convidá-lo.
— Convidar quem para o quê? – perguntou outra voz e os dois meninos olharam para trás.
Neville estava distraído demais e se surpreendeu ao ver Ron ali, Harrison já tinha sentido sua aproximação há tempos.
— Olá Ron – cumprimentou.
— Oi Harry, Nev – ele observou como os dois meninos estavam próximos, mas deu de ombros, já começando a se acostumar, sentando-se ao lado de Neville para acompanhá-los. – Do que estão conversando?
— O baile.
Neville teve outra ideia perturbadora e arregalou os olhos:
— Hazz, não.
Harry teve que rir da reação do amigo. Ron ficou confuso:
— Não o que?
— Eu... – O Potter começou, mas Neville o interrompeu.
— Por favor, Hazz não!
— Por quê? Está com medo de me perder pro seu outro melhor amigo? – brincou.
Ron olhou de um para o outro e aguardou que alguém lhe desse explicações, antes que ambos sumissem no próprio mundinho de trocas, lembrou:
— Estou perdido.
Harry olhou para o ruivo com um enorme sorriso:
— Ele não quer que eu te convide para o baile de inverno.
Neville choramingou:
— Hazz!
Ron franziu o cenho:
— Por que você me convidaria?
— Eu posso não ter brincado quando disse ter uma queda por ruivos de sarda – e piscou para Ron que ficou muito corado.
Ótimo, era isso que Neville queria evitar. Um Ron muito gaguejante tentando criar uma frase coerente:
— Eu, eu... – ele repetia aos tropeços.
— Você podia ser menos atirado? Ou melhor, por que não se atira em quem quer?
— Não se preocupe Ronald, se a ideia te deixa envergonhado basta dizer um não curto e ríspido assim como Neville fez, vai partir meu coração, mas eu aguento.
— Pare de drama – resmungou o Longbottom agarrando a cintura do amigo de forma possessiva. – Ron só ignore ele.
— Não mande os outros ignorarem meus convites.
— Então convide alguém de verdade.
— Mas eu...
— Hazz!
— Se não queria que eu convidasse outras pessoas, bastava ter aceitado meu convite.
— Já disse que vou com você se realmente quiser.
— Você vai?! – esganiçou o Weasley e os outros dois riram de sua reação.
— Como amigos.
— É, como amigos, Neville não faz meu tipo, você que faz – piscou.
— Hazz! – o grito do Longbottom veio acompanhado de um beliscão, mas Harrison estava muito entretido com quão vermelho Ron Weasley conseguia ficar para se importar.
— Acho que nunca vou me acostumar com essas suas brincadeiras – o Weasley murmurou, tentando se acalmar.
— Nev ainda não conseguiu e nos conhecemos a anos, não se julgue por isso.
— Você – acusou Neville. – Que deveria parar de fazer brincadeiras como essa.
— Está bem, sem brincar que gosto do Ron. Na verdade eu só estou magoado porque fui dispensado por você, que é o amor da minha vida, e estou usando-o para me consolar.
— Eu te odeio – Longbottom resmungou.
Hazz imediatamente se lembrou de Lakroff e Tom, o que lhe causou um acesso de risos, principalmente porque Tom não gostou nem um pouco.
Neville se virou para Ron:
— Pode ignorar ele. É um idiota.
— Mas você vai com ele ou não?
— Talvez.
— Não – corrigiu Harry.
Os grifinórios olharam confusos para o aluno estrangeiro que negou com a cabeça, convicto:
— Pode ir com Gina, Nev, vou achar outra pessoa que não seja você ou Ron.
— Você quer ir com a minha irmã? – Ron não parecia nem um pouco satisfeito com aquilo.
Harry riu de como Neville ficou vermelho de forma instantânea:
— Ela não poderá ir se ninguém a convidar e pensei que você poderia ir com Mione e nos divertirmos juntos.
— Eu com Hermione?! – a voz do Weasley ficou muito esganiçada.
Potter estava achando aquilo muito divertido.
— Por que não? – Longbottom quis saber.
— Claro que não!
— Por que não? – disseram Hazz e Nev juntos.
— Eu... Ela não... Eu...
Harry acenou:
— Muito eloquente.
— Calado – mandou apontando o dedo. – Você vai tornar isso pior – e levou a mão à cabeça, massageando, antes de suspirar. – Até que não é uma ideia ruim, eu não estava pensando em chamar ninguém.
— Ótimo. Você chama Mione, eu Gina e seremos nós quatro, como sempre. Ah, e claro, Harry e Malfoy.
Ronald tremeu:
— Draco?! Por todos os infernos, porque o Malfoy?
— Já disse que não vou chamar Draco – defendeu-se Hazz.
— Que outro menino você vai chamar? – Neville provocou.
Ron se inclinou para ver melhor Harrison:
— Porque um menino?
— Por que não? – respondeu com um sorriso.
"Chame meu irmão então. Muito melhor que Malfoy" Ron pensou em responder, mas por um milagre conseguiu conter a língua. George provavelmente não gostaria que Ron sugerisse algo assim, de certa forma era falar sobre seu segredo também, mas...
Aquilo realmente era uma ideia, não?
George gostava de homens, seria divertido para ele ter a chance de ir com outro e não se ver forçado a chamar uma garota porque não via alternativa.
Se Harry Potter estava disposto... bem... ele parecia uma opção muito agradável.
— Porque Malfoy? – perguntou no lugar.
— Neville enfiou isso na cabeça só porque eu e Draco somos amigos, mas eu nunca disse nada.
— Disse que aceitaria se ele chamasse!
— Para te provocar, você mesmo percebeu, espertalhão!
Ron não se importou com as brincadeiras deles:
— Então você não está realmente interessado no Malfoy? Foi só outra brincadeira?
Hazz não queria dar a resposta para aquelas perguntas, no lugar provocou:
— Por quê? Está você interessado?
— Vou com Hermione.
Harry riu:
— Você ainda não a convidou e já acha que ela vai aceitar.
— Ela não tem mais ninguém para ir, uma coisa é homens irem sozinhos, uma garota é triste.
O presidente do conselho pareceu bem inquieto com aquela resposta, encarando Ron com julgamento e algo como... pena.
— Sabe – comentou. – Meus colegas de quarto estavam comentando hoje sobre como um deles chamou Granger para o baile e ela disse que iria pensar.
Aquilo pareceu um choque para Ron:
— Quem?!
— Heinz, aquele que está sempre com Viktor Krum, já reparou?
— E ela disse que iria pensar?! – esganiçou novamente.
Hazz percebeu que Ron tinha uma capacidade de deixar a voz decibéis mais aguda de forma impressionante.
— Sim.
Houve uma pausa, onde o ruivo pareceu estático. Quando Neville e Harrison já estavam achando que tinha algo de errado com o menino, o ruivo se levantou de uma vez e saiu correndo, deixando os amigos de infância para trás, confusos.
— Será que ele foi convidá-la? – perguntou Hazz observando-o sair.
— Acho que foi brigar com ela.
— Brigar? Por quê?
— Porque ela foi convidada. E não disse que não.
— Isso não faz sentido.
Neville deu de ombros:
— Ron não é bom com os próprios sentimentos.
— Eu vejo.
-x-x-x-
— Não fomos nós – disse George, quase rindo.
Não parecia estar mentindo, mas também não foi convincente.
— Queria que fosse, mas não fomos – continuou. – Maldito gênio do mal, Gred estamos perdendo para alguém.
— Eu vi, Forge, isso é impensável, teremos que fazer algo para compensar.
— Nem pensem nisso! – exclamou Minerva indignada.
— Meninos – Albus tentou de novo, cansado de estar em sua própria sala com aquele cheiro de queimado irritante.
Estava lhe dando dores de cabeça.
— Não fomos – insistiu Fred. – Chamem o professor Snape, podem pedir para que nos dê a poção da verdade.
— Não vou fazer isso – resmungou o diretor.
— Você leu a mente de Neville, para o próximo não é grande coisa – George provocou e ouviu os arfares de Albus e Minerva. – Apesar do que disse agora, não fui eu que queimei sua sala.
— Isso tem a cara de uma de suas invenções.
— Agradecemos o elogio – disse um dos meninos.
— Mas não podemos aceitá-lo – terminou o outro.
Minerva revirou os olhos. Não chegariam a lugar nenhum assim:
— Meninos, podemos fazer um acordo. A punição será menor se admitirem e disserem como tirar as cinzas do rosto do diretor.
— E se não formos nós, como convencemos vocês disso?
— Vocês são engenhosos, não tem uma ideia de como foi feito? – tentou Albus.
Os dois meninos se entreolharam e acenaram com a cabeça após uma breve troca de olhares:
— Não temos ideia.
Eles tinham. Aquele fogo vivo era um dos projetos de pegadinhas que tinham feito, mas que nem começaram a tirar do papel. Alguém, uma pessoa que os conhecia, tinha mexido em suas coisas sem que percebessem (o que era alguma coisa, já que estavam protegendo-as mais que o normal), visto e terminado o projeto.
Além de que tinha o deixado absurdamente pior.
O fogo não deveria queimar de verdade. Nem emitir cheiro ou qualquer coisa assim. Era para assustar. Corria por aí quando estava sozinho, deveria criar uma ilusão de fogo azul falso que assustaria quando alguém chegasse e quando fosse atingido por qualquer feitiço paralisante, reagia e explodia em cinzas que mancharam a pele. Isso fazia parte de suas pegadinhas, realmente. Correr para uma privada e fugir para nunca ser rastreado? Não, isso era de uma mente mais maquiavélica que a deles.
O que era um disparate!
Realmente não queriam denunciar o travesso que, com certeza, era da grifinória para ter acesso ao baú deles, até porque Dumbledore merecia.
Nem por isso não queriam achar quem foi.
Para desafiá-lo.
Sentiam-se roubados e ludibriados!
E ainda estavam sendo culpados!
Uma vergonha sem tamanho.
Albus suspirou, vendo que não teria modo de convencê-los:
— Teremos que tirar pontos da grifinória, então.
— Com que prova?! – gritaram os dois indignados.
— Senhor Weasley, apenas você e Neville Longbottom sabiam que eu realmente tinha perdido minhas balinhas e precisaria comprar mais, apenas vocês sabem de alguns dos túneis secretos de Hogwarts e sim, eu sei que vocês usam os túneis, então apenas vocês teriam oportunidade para colocar entre minhas novas balinhas aquela que tinha o fogo.
— Espere, era do tamanho de uma bala? – interrompeu George indignado. O projeto deles era quase do tamanho de um balaço, para comportar todos os feitiços sem se desfazer. – Aquele desgraçado – murmurou.
Eles realmente foram superados.
— Se vocês sabem de alguma coisa, está na hora de admitir ou vamos ter que punir vocês, nem que seja por usarem túneis não autorizados para os alunos.
— Não há uma regra para não usá-los!
— Mas há para não sair de Hogwarts e um deles leva, conseguem provar que nunca usaram para esse fim?
Os dois irritaram-se.
George foi quem percebeu primeiro, apesar da raiva:
— Que dia esse fogo apareceu na sua sala?
— Sexta-feira à noite.
— Sexta-feira passada? Que horas exatamente o senhor foi comprar seus doces?
— Um pouco antes do jantar.
— Temos um álibi.
— Mesmo?
— Pedimos para usar o laboratório e ajuda com uma poção específica para o professor Snape, que liberou no nosso período livre antes do jantar. Fomos com ele para o grande salão e voltamos direto para o laboratório com Félix Rosier, o monitor da Sonserina, nos vigiando. Não se passaram vinte minutos, o professor Snape voltou porque aparentemente não teria mais sua reunião para ir, então ficou conosco até bem tarde da noite fazendo uma variante da Wiggenweld. Dito isso, imagino que o professor tenha cancelado a reunião porque sua sala estava pegando fogo. Então temos álibi na hora do crime e durante o jantar todos podem confirmar nossa presença na mesa. O professor Snape como um todo pode confirmar que não tínhamos tempo hábil para ter feito qualquer coisa.
Além de, claro, um grupo de amigos bem grande, já que os gêmeos disseram para todos que fariam aquela poção durante o dia em questão.
Seja lá quem fez a pegadinha com Dumbledore, sabia que os primeiros a serem acusados, os gêmeos, teriam como comprovar a inocência.
Isso reduzia a busca significativamente.
Podia ser coincidência, mas sinceramente? Não parecia. George já estava pensando em alguém, mas... será que a pessoa teria a capacidade para tal?
Era uma enxerida que, com certeza, poderia ter mexido em suas coisas e tinha perguntado para os meninos vários dias naquela semana se estavam ocupados pelos motivos mais idiotas.
Sua irmãzinha também tinha motivação.
Mas havia a capacidade para terminar o projeto?
No fim, a reunião terminou quando o professor Snape foi chamado e confirmou que os meninos estiveram sob sua tutela. Albus claramente ainda estava desconfiado de que soubessem de algo, mas dispensou-os quando George insinuou que ele só conseguiria alguma coisa se decidisse violar mais um aluno.
Eles perderam cinco pontos para a grifinória por algum insulto no meio do processo, mas considerando que foi Snape a dar a punição e foram míseros cinco pontos, estavam no lucro.
-x-x-x-
Sirius estava um pouco nervoso para sua primeira visita à Durmstrang.
Apesar de que "pouco" era eufemismo.
— Eu vou estragar tudo – esfregando o rosto com as mãos de frustração, ele apenas viu Lakroff colocar uma xícara de chá na mesinha ao lado.
— Você vai gostar, eu garanto.
— Não vou – e pegou a bebida, dando um gole que queimou sua língua.
Aquilo deveria ser sinal de má sorte.
Ele queimaria a escola ou algo assim, mas diferente de Harrison não viraria príncipe ou coisa do tipo. Eles só o veriam como o idiota que era.
Lakroff tentava tranquilizá-lo, uma vez que Sirius foi até sua sala chorar seu problema, mas o homem parecia pessoalmente mais distraído que seu normal, então não era como se tivesse tempo para entender o nervosismo do Black.
Sirius passou sua adolescência lutando contra as trevas, sendo o filho desordeiro, transgressor às normas, acreditando que seja lá o que as trevas tinham a oferecer, não compensam pela dor de cabeça que a névoa viciante e atordoadora causava ao bruxo. Sua mãe o fez odiar qualquer bruxo das trevas. Seu pai fez odiar o que as linhagens sombrias deviam defender. Sua família o fez se odiar.
Sirius desistiu e lutou contra ser um bruxo das trevas.
Ele era um anarquista até pouco tempo.
Mas agora, com Harrison e tudo, tinha se tornado o lorde da antiga e muito nobre casa dos Black e seu noivo, professor do Instituto de Artes Sombrias da Europa.
Era como voltar para o mundo de sua infância antes de ter força para se levantar contra as figuras de autoridade que conhecia e todas as tradições de seus pais.
Ele tinha que voltar para seu velho e sombrio mundo.
Jurou para Remus que usaria o poder que seu nome tinha, que tentaria fazer uma mudança real, não podia achar que conseguiria isso sendo apenas o bom e velho Sirius grifinório.
Ele teria que entrar no jogo de novo, tão bem como se nunca tivesse saído.
Então tinha a Durmstrang. Sentia que a escola onde bruxos das trevas eram formados tinha uma importância nisso tudo. Se não pudesse convencer os mais jovens de quem era, não convenceria ninguém na suprema corte bruxa. Em Hogwarts podia usar roupas trouxas e falar besteira, na Durmstrang teria que mostrar porque tinha aquele maldito sangue escuro e o que faria com ele.
E tinha um encontro.
Pelos deuses, ele estava cortejando seu noivo, precisava fazer direito, seu primeiro encontro foi bom, mas foi em par. Agora seriam só os dois e estavam em época de lua cheia. Sirius seria apresentado aos possíveis futuros colegas de trabalho do noivo, tinha que garantir não estragar todas as chances de Remus de conseguir o emprego que (pelas cartas) estava muito empolgado e, por fim, garantir-lhes um bom encontro a dois na neve opressora dos alpes da Suécia ou Noruega.
Seja lá onde ficava a escola, ninguém lhe contou.
— Eu não sei que roupa usar!
Lakroff o encarou com os olhos completamente desfocados, claramente em outro universo que não ali:
— Qualquer uma serve. Eu usava pijamas às vezes por baixo da capa, ninguém vai se importar muito.
Sirius bufou sentindo-se muito tentado a sacudir o amigo mais velho até aquele planeta:
— Sirius para Lakroff, está me ouvindo?! Te perdemos para sua cabecinha ou ainda tem volta?
Aquilo pareceu funcionar apenas um pouco. O loiro (porque chamá-lo de platinado agora que seus cabelos haviam crescido tanto e apenas as pontas se mantinham albinas, era estranho) piscou os olhos com força e conseguiu parecer com algo diferente de um bruxo acertado por uma maldição Imperio, pelo menos:
— O que foi?
— Eu que pergunto! Você está em outro lugar essa semana.
— Nessa semana? – piscou calmamente.
— Inteira – confirmou.
— Pensei que fosse a vida inteira, já estou melhor que a proposta.
A brincadeira tirou uma risada confortável de Sirius:
— Esse é o Lakroff que conheço. Aconteceu alguma coisa que está te deixando assim?
— Nada demais.
— Claro, nada demais que mesmo um lorde das trevas não consegue terminar uma conversa antes de sumir para a lua.
Lakroff estreitou os olhos, um pouco mais acordado:
— Lorde das trevas? Você ainda está me enchendo com essa história do meu pai?
— Enquanto você fizer essa cara azeda, eu vou continuar te enchendo com isso – e diante de uma careta ainda maior de Lakroff, Sirius teve que acrescentar com firmeza. – Não acha, Gellert?
— Vá à merda Orion!
— E agora consegui toda sua atenção – constatou rindo, completamente indiferente a ser chamado pelo nome do pai.
Também era seu nome do meio, então...
O importante era que a fúria nos olhos do mais velho indicava que enfim estava completamente presente. Isso permitiu a Sirius tentar de novo:
— Eu estava falando sobre como posso estragar tudo na Durmstrang.
— Eu sei, eu estava lá – respondeu de mau humor.
— Não parecia, por isso que tal me dizer o seu problema primeiro e depois passamos para o meu? Dez galeões por seus pensamentos.
— Precisa oferecer mais que isso para me atrair, lorde Black.
— Ou você poderia me oferecer de graça já que somos amigos.
— Você disse que não sabia que roupa queria usar?
— E agora está mudando de assunto.
— Não estou, foi o que você disse antes.
Sirius suspirou, recostando-se mais na poltrona do gabinete do Mitrica.
Era um escritório bem grande e chique, mas talvez fosse de se esperar por se tratar do vice-diretor.
Não que Minerva tivesse um espaço com um ar tão forte de requinte, mas talvez fosse escolha pessoal dela para decoração. Aquele cômodo dizia muito sobre Lakroff e o tipo de professor que era.
Mesa de madeira nobre grande e pesada quase ao lado da porta, mais ao centro da sala e com uma pilha muito bem organizada de papelada além de um único tinteiro e uma pena arrumados em fileira e sem "sujar" o espaço. Uma parede de quadros atrás de onde sentaria o professor, com lugares espalhados pelo mundo onde as pinturas se moviam com o vento, com animais que às vezes voavam de uma tela para outra, todos os pontos sendo importantes localizações históricas. Pirâmides no Egito, Estátua de Zeus em Olímpia, os Jardins Suspensos da Babilônia. Muitas das maravilhas perdidas do mundo antigo. O tipo de coisa que se esperaria de um professor de história bruxa. Havia um armário de arquivo baixo, porém largo de várias portas corrediças onde Sirius sabia que eram guardadas fichas de alunos.
Na frente do professor, duas cadeiras muito confortáveis e da mesma altura que a dele, um enorme tapete terracota. Havia outra parede, àquela da porta, com mais alguns quadros, mas desta vez com teorias de feitiços, pelo que percebia.
Então a parede paralela a esta, repleta de livros e artefatos diversos curiosos, como estátuas ou miniaturas de criaturas, como a personificação do dragão que Harrison enfrentou na primeira tarefa, dada por ele após a competição. Uma porta que levava para seu quarto mais ao fundo. Antes dela, duas poltronas viradas de frente uma para outra com uma mesinha entre elas, facilmente um lugar para ter conversas mais longas. Havia também um móvel grande do mesmo material da escrivaninha, que formava uma espécie de cristaleira onde eram expostas bebidas como chás e café, canecas e taças grandes, também algumas poções e, Sirius sabia, na parte onde portas de madeira, não de vidro, escondiam em seu interior vinhos e bebidas alcoólicas.
A última coisa era um aparador, com uma planta que se movia e deixava um cheiro cítrico agradável.
Era o tipo de sala onde seu professor te chamaria para dar conselhos, onde você iria para pedir ajuda e seria recebido com um chá, convidado para a poltrona e poderia passar horas desabafando sobre a vida se esquecendo que aquele era um professor, mas que quando era preciso lembrar, todo o lado lhe diria como ele levava o trabalho a sério e com cuidado aos detalhes.
— Você tem outra sala na Durmstrang? – ficou curioso.
— Na verdade não. Meu escritório e quarto ficam no barco. O diretor fica no castelo junto com os alunos e professores. Também temos o zelador, que fica em uma construção à parte mais além na montanha.
— Tem um lago, um castelo e uma montanha cheia de neve, não consigo entender bem como é a Durmstrang.
— E eu não vou te falar. Você descobre quando chegar lá.
Ele pegou sua própria xícara de chá e Sirius não viu fumaça saindo dela como na sua. Ficou na dúvida se Lakroff tomava chá gelado ou se tinha colocado outro tipo de bebida na xícara.
Uma mais escura e com gosto de uvas, por exemplo.
— Bem, isso se chegar, é claro.
Aquilo fez Sirius balançar a cabeça focado e alarmado de repente:
— Como assim "se"?
— Nunca podemos descartar a possibilidade de tudo der errado na entrada e a escola te dispensar.
— Que merda você quer dizer com a escola me dispensar?
Os nervos ansiosos de Sirius deram um pulo.
Lakroff sorriu por trás de sua xícara dando um gole lento e despreocupado, esperando que o outro atingisse o pico da confusão antes de esclarecer:
— Esqueceu-se? Os terrenos da Durmstrang são um mistério para todos, sua localização e como chegar lá só são conhecidos por quem e no momento em que a escola deseja. Você está tão preocupado com sua corte à Remus que esqueceu que deve agradar a escola também?
— Você vai me levar! Você sabe o lugar!
— Vou te levar porque instintivamente minha magia sabe o caminho e a magia do castelo vai me permitir aparatar até lá, mas se não permitir que você entre, não tem o que fazer, você só não entra.
Sirius piscou.
Então piscou de novo.
Houve um longo tempo de silêncio antes que ele gritasse:
— Ainda tem essa?!
Lakroff recuou com o berro, mas sorria com diversão.
Sirius estava em pânico:
— A escola pode só não me querer lá?! Nem você pode fazer nada?
— Não. É magia muito antiga, mais até do que eu – brincou, parecendo muito divertido com a possibilidade real de Sirius Black colapsar a sua frente.
Porque era o que estava acontecendo.
Ele resmungava, se levantando nervosamente e andando em círculos pelo espaço entre a escrivaninha e a área das poltronas, seu chá abandonado na mesinha entre eles.
— Que merda, eu devo mandar flores para a escola antes de mandar para Remus?
Lakroff calculou que ele estava transformando seu medo em raiva a este ponto com aquele comentário sarcástico e azedo.
— Não funcionaria bajulá-la. Não se preocupe, até hoje eu só vi um aluno ser arremessado para fora do barco quando a comitiva de início das aulas estava a caminho do lago do castelo.
— Eu vou ser cuspido por uma escola! – as notas de pânico haviam voltado.
Lakroff deu outro gole demorado, considerando o primeiro, era quase certo de que não tinha mais nada em sua xícara e ele apenas estava fazendo aquilo para irritar Sirius.
— Cuspir não é a palavra certa, seria algo como dispensado. Já que você mencionou mandar flores, é algo como quando vamos chamar uma pessoa para sair e ela nega o convite. Falando nisso, já fez um convite formal para Remus vir no baile de inverno?
— Convite formal?
— Claro. Você não assumiu que ele apenas viria por ser seu noivo, certo? Não é assim que funciona. O mais adequado é um convite e acho que seria o momento certo de dar o segundo presente de cotejamento.
Sirius deu um grito esquisito meio apavorado, meio estrangulado e ondulante, como se ele estivesse tentando decidir na hora que intensidade tinha seu pânico:
— Eu já estraguei tudo!
— Podemos comprar o presente, dá tempo.
Era sexta-feira, afinal, e Sirius só iria para Durmstrang no sábado.
— Além de que eu dificilmente conseguiria um presente ideal para ser o segundo do processo de corte em tão pouco tempo, ainda existe a possibilidade de que eu nem possa entregá-lo porque sua escola maluca é seletiva quanto a suas visitas!
— Você está no barco da escola maluca, tem certeza que quer ofendê-la onde sua magia pode ouvir?
Houve outro grito e um pulo que quase quebrou Lakroff aos risos de vez, mas ele se manteve forte:
— Além disso, desculpe-me, mas que escola de magia não é maluca? A minha tinha os piores tipos de fundadores possíveis e pelo menos nenhum deixou uma forma de matar alunos dentro do encanamento.
— Como eu faço para a escola gostar de mim?
— Sirius, a escola vai gostar de você, não se preocupe com isso.
Havia pânico tanto no rosto quanto na voz de Black quando ele encarou Lakroff se aproximando tanto que o homem teve que se enfiar mais na própria poltrona.
— Como você pode ter certeza?
— Ela só não gosta de quem vai fazer mal a ela e aos alunos. E de toda forma só pode impedir que aparatemos. A magia não é definitiva, tem formas de invadir. Claro, você precisaria saber sua localização e isso é um problema, já que ninguém sabe como ir, mas tem como ir atrás das pistas e ser o primeiro a descobrir, quem sabe?
— Eu não quero invadir!
— Já ouviu falar de Östersund? – Lakroff continuou, como se nem ouvisse Sirius. – É uma cidade muito graciosa na Suécia, é do porto do lago Storsjön que sai nosso barco, mas a viagem leva quase um dia inteiro mesmo com magia, e sei... acho... é, acho que passamos pela fronteira com a Noruega, mas Ostersund sequer é tão próxima assim da fronteira então não coloco minha mão no fogo por isso. Também não sou muito útil em dizer a direção do rio que corremos. Quando tentei contar a quantidade de lagos que passamos pelo caminho fiquei com dor de cabeça, mas pegue um mapa, talvez possa te iluminar.
— Além de tudo é ridiculamente difícil tentar invadir! O que vocês têm na cabeça? Hogwarts é só passar por uma maldita parede na estação mais movimentada do país!
— E Hogwarts já foi invadida quantas vezes mesmo? Só por Voldemort?
— Calado, não está ajudando!
— Estou sim. Você não pretende invadir, isso já conta para a escola.
— Fiquei com dor de cabeça só com sua explicação de merda, imagina se tentasse mesmo.
— Talvez seja a magia do castelo agindo em nós. Como disse, você ainda está no barco encantado que faz parte da escola, ele pode estar tornando minha explicação mais confusa porque já decidiu que não te quer lá.
Sirius arregalou os olhos e tremeu de forma tão intensa que Lakroff, enfim, não se aguentou e caiu na gargalhada. Naquele momento o maroto soube que o mais velho estava mentindo descaradamente sobre uma boa parte da coisa. No mínimo não era tão ruim quanto ele fez parecer. Isso o deixou ainda mais frustrado e agora com uma sensação de traição:
— Você não presta. É feio mentir para o amiguinho em pânico.
Lakroff levantou uma sobrancelha com um olhar irônico:
— Eu minto no meu dia mais tranquilo, como se eu não fosse fazer isso quando você torna a oportunidade tão deliciosa. E foi você que mereceu por me chamar de Gellert – encerrou cruzando os braços e afastando com um gesto de mão o Black que ainda estava próximo demais. — Se acalme, está bem? Vai ficar tudo bem.
— E o presente?
— Eu te ajudo com isso, tenho muitos contatos que podem dar um jeitinho. Apenas diga o que gostaria de dar a Remus.
— Uma pena de repetição rápida.
Lakroff fez uma careta muito indignada:
— Você é bem ruim nisso de presentear.
— Eu estava pensando, na verdade, em uma daquelas canetas elaboradas bonitas que você disse conseguir no mundo trouxa. Um tinteiro, bem trabalhado com entalhes em prata. Prata em pó serve para selar a mordida de um lobisomem, então tem significado para ele, quero uma lua e uma estrela entalhados, talvez um lobo, um anel de ouro nela, como uma aliança, e só. Então encantamos com o feitiço de repetição rápida e lhe damos um diário bonito de couro junto. Assim ele pode dar suas aulas e a pena escrever o que foi dito. Remus é o tipo de pessoa que gostaria de revisar suas próprias aulas para ver onde acertou, errou e onde melhorar. Isso dá a ele uma forma de registrar mais prática do que ficar tirando as próprias memórias e revisitando. Assim pode manter registros claros de estudo das aulas. Esse era o presente que pensei... mas talvez seria melhor algo para o baile?
Lakroff negou com a cabeça:
— Não. Esse é um bom presente. Retiro o que tinha dito antes.
Na verdade estava impressionado positivamente pela forma como aqueles dois levavam seu relacionamento. Nos detalhes. Com coisas simples como uma pena, mas cheia de significados para os dois, pensando em cada detalhe de porque algo serviria a eles.
Não uma aliança, que servia para todos, um brinco que poderiam ver sempre que se olhassem no espelho e que se completavam, como se seu reflexo estivesse incompleto sem o outro do lado, mas o brinco pudesse lembrá-los do que faltava.
Eram um casal muito bonito de se assistir, Lakroff tinha que admitir mesmo com seu coração mais...
Incomum.
— Bem – comentou. – A maioria escolheria um presente mais ligado ao baile de acordo com as normas mais sociais de um pedido desses, mas isso você pode dar próximo do baile em si. Lhe enviar vestes que combinem com a sua que ele possa usar.
— Certo. Isso é bom – com um aceno ele se jogou de volta na poltrona. – E sobre a escola?
Lakroff suspirou.
Belo sim, mas ainda era difícil lidar com jovens apaixonados.
Ele se levantou e foi atrás de mais vinho.
— Garanto que você vai entrar, Sirius.
— Como pode garantir?
— Eu só sei. Não tem porque a escola te expulsar.
— Mas...
— Sirius! – e com um pouco menos de firmeza acrescentou. — Eu garanto. E vou conseguir sua caneta a tempo, será tudo perfeito.
— Certo – e inspirou fundo tentando se acalmar, vendo o homem abaixar-se para pegar uma bebida na parte de baixo de seu armário.
Sabia que não era chá.
Chá era coisa de britânico.
Ele se lembrou do próprio esquecido e terminou de tomá-lo, também recordando-se de outra coisa:
— E você? Qual seu problema?
— Ainda não vimos o que você vai vestir.
— Pare de mudar de assunto.
— Você que está.
— Eu pensei que você estaria mais feliz depois da minha travessura com Dumbledore.
— Sua travessura? – espantou-se e Sirius ficou feliz de causar aquela reação.
— Bem, não totalmente minha. Gina Weasley estava trabalhando nisso quando a peguei. Ajudei a aperfeiçoar.
Lakroff riu:
— Não posso dizer que não foi um deleite.
— Fogo para vingar fogo, achei poético, mesmo que ela tenha pensado nisso sem querer.
— Eu nunca pensaria que fosse você. Pensei que poderiam ser os meninos Weasley, mas a garota?
— Eu diria – comentou Sirius, olhando para cima pensativo – que todos os Weasleys são muitíssimo criativos em suas vinganças, mas os gêmeos são os que materializam essa criatividade, junto com seu pai, gostam de tornar física a vontade deles de mudar e aperfeiçoar o mundo. Ginevra, pelo que vi, não quer fazer os outros rirem com suas brincadeiras, ela quer passar uma mensagem ou retaliar. Ela não queria apenas brincar com Albus, mas tornar sua vida momentaneamente tão difícil quanto achava que ele merecia. É uma garota assustadora.
— Mas muito nova ainda.
Black riu:
— Sim, ela não conseguiria chegar a lugar nenhum completamente sozinha, mesmo com o projeto dos irmãos, era muito complexo e seria pega facilmente, mas ela preferia ser pega do que deixar os irmãos levarem a culpa ou se envolverem porque todos pensariam neles primeiro. Tinham motivo e conhecimento, não é mesmo?
— Sim – e riu de novo.
Estava realmente gostando daquela família.
De todos.
Começando a pensar neles e Harrison também.
Isso era preocupante para os Weasley.
O interesse de um Grindelwald.
— Então – continuava Sirius. – Ginevra queria algo diferente do que tinham planejado e arrumar um bom álibi para os gêmeos. Foi muito astuta.
Lakroff acenou satisfeito:
— Se não temos um dragão em Hogwarts.
— Como assim?
— Leal, coração grande, mas vingativa, cheia de ira e pronta para retaliar com fogo quem acha que merece. Uma verdadeira Haus Feuer.
— Eu diria que ainda muito grifinória, mas entendo seu ponto.
— E você deu o apoio que ela precisava? Sem nem mesmo eu perceber.
— Achei melhor não contar a ninguém e fazer o melhor para me afastar, se nem você descobriu, então fizemos direitinho. Ela só precisava de um pouco mais de conhecimento de um Maroto para tornar tudo real.
— Então essa é uma amostra dos tão famosos marotos?
Sirius retribuiu o sorriso ladino de Lakroff:
— Da força de apenas um. Devia nos ver nos tempos de ouro. Mas Gina tem potencial, como os irmãos. Ela me lembrou a força de James.
— Outro dragão disfarçado de leão.
— Deixe disso, nós leões somos ótimos, não vá pensando que todos os nossos melhores são dragões seus. Lembre-se que a grande maioria dos Feuer acabou na Sonserina, não na grifinória.
O loiro riu e dispensou com a mão:
— Tudo bem, vou dar o devido crédito a sua casa.
— Mas estamos mudando de assunto. O foco agora é você.
— Que péssimo rumo para uma conversa, posso encontrar outro melhor.
— E eu posso te ajudar com o seu problema assim como você ajuda com os meus.
— Fazendo piada dele?
— Provavelmente sim, mas ainda ajudo no final.
— Agradeço a boa vontade, Sirius, mas é complicado.
— Se me disser, posso eu mesmo perceber a complicação e prometo que não vou nem dar um daqueles conselhos podres e genéricos, só vou voltar para o meu assunto egoísta e simples.
— Seu assunto não é completamente simples, entendo seu nervosismo. Quando eu era mais jovem ficava nervoso também com essas coisas.
— Você fala da sua juventude como se fosse a cem anos atrás.
Lakroff riu, mas não disse nada. Tomou todo o conteúdo que tinha acabado de abastecer de sua xícara em um gole e trocou a coisa por uma taça grande logo de uma vez.
O recipiente foi preenchido por um conteúdo transparente ao qual ainda convocou uma pedra de gelo grande para ajudá-lo antes de voltar a sentar.
Sirius preferiu não perguntar o que era.
— Me conta qual o seu problema.
— Prefiro não.
— Por favor.
— Sirius...
— Eu posso ser bem irritante, é melhor dizer antes que eu o perturbe.
— Sou um homem bem paciente.
— Por favor, por favor, por favor, por favor – e ele continuou pedindo.
Lakroff quis ver até onde aquilo ia e apenas assistiu o mais novo repetir as palavras por favor repetidamente enquanto tomava calmamente cada gota de conteúdo alcoólico de seu copo.
Ficou um tanto impressionado, se fosse bem sincero, sobre como aquilo durou, outros teriam desistido bem antes diante da completa indiferença do Mitrica que, por fim, suspirou e decidiu que não havia nada de mal em acabar com a curiosidade do animago:
— Eu e Thomas tivemos uma briga.
— Eu devia ter imaginado que tinha algo a ver com ele.
— O que quer dizer com isso?
— Você sabe exatamente o que eu quis dizer. Que tipo de briga foi?
— Das ruins. Acho que ele nunca ficou tão bravo. Pelo que Harrison disse – bebeu o último gole –, a coisa foi feia.
— Ele não ficou bravo na sua frente?
— Não. Totalmente. Houve troca de feitiços, Sirius.
— Bem, isso é impressionante, Thomas não parece ser do tipo que se descontrola para usar magia em uma discussão.
— Esse é parte do problema. Eu comecei. O provoquei além da conta.
— Descobrimos seu limite.
"Anunciar que vou matá-lo? Sem dúvida, mas depende de qual Tom estamos falando".
— Mas o principal é que eu o enganei para conseguir uma coisa, quando ele descobriu, eu já estava longe.
— Por que você fez isso? Enganar a pessoa que você gosta?
Lakroff suspirou, deixando de lado as bebidas. Tinha atingido seu limite para consumo.
Em dia de semana.
— Lembra de quando você falou dos planos que nós obviamente temos e só não te incluímos?
— Sim.
— Thomas não podia ser incluído nesse e ficou bem bravo. Ele tem razão em estar, mas eu tive meus motivos para fazer. Minha prioridade sempre será Harrison e meus filhos, ele sabe disso, sempre disse isso.
— Tá aí o problema, ele quer ser uma das suas prioridades também.
Lakroff fez uma careta que distorceu todo seu rosto. Sirius riu:
— O que foi? É verdade. Thomas é do tipo arrogante sonserino. Eles odeiam estar em segundo plano. Gostam de ter as pessoas se curvando para eles. De estar no topo.
— Mas ele não está. Nem por isso está tão abaixo. Eu fiz um esforço imenso por ele também!
— Mas enganou ele.
— Enganei.
"Os dois" pensou Lakroff.
— Ele claramente não ia gostar disso. Cobras gostam de se orgulhar de sua astúcia. Quando ela é testada e perde para alguém é complicado.
— Eu disse que era.
Sirius acenou e cruzou os braços pensativamente, mas Lakroff negou com a cabeça:
— De toda forma, não quero falar sobre isso, Sirius.
— Já pensou em dar alguma coisa a ele?
— Eu não vou presentear o Thomas só porque ele ficou bravo, não funciona assim, ele vai querer queimar a coisa e me matar com as cinzas.
— Não se for alguma coisa da biblioteca Grindelwald que só você tem.
Isso pareceu chamar atenção de Lakroff cujo rosto congelou em alguma confusão muda por um tempo. Sirius sorriu satisfeito:
— Normalmente bajulação seria o melhor para o tipo, mas não parece servir para aplacar a raiva de alguém como Thomas. Não, ele precisa ser bajulado de outra forma. Sem insultar sua inteligência, mas exaltá-la. Você se lembra como ele ficou animado na mansão Black em ir para a biblioteca? Orion não o deixava entrar por ser "sangue ruim" – e fez aspas com as mãos. — Ele gosta de magia e pegou uns livros emprestados até. Considerando que vocês se conhecem há bastante tempo, talvez ele já tenha lido tudo na sua biblioteca, mas se tiver uma coisa que seja, algo que você por algum motivo queria guardar só para os Grindelwald, talvez dar a ele seja um bom começo para mostrar que está pensando nele.
Lakroff se levantou tão rápido que assustou Sirius ao ponto de dar um pulo em seu assento. Ele ficou lá, em pé, parado encarando sua prateleira de livros, então Sirius e, por fim, resmungou:
— Acha que se eu conseguir uma coisa que ele quer funcionaria?
— Pode ser também, mas é menos pessoal.
Lakroff pensou sobre aquelas palavras e acenou:
— Já sei o que fazer.
E ele sabia.
Em relação aos dois Riddle.
Sirius ficou satisfeito que, mesmo contra as expectativas de Lakroff, ele aparentemente tinha ajudado. Na mesa entre suas louças de bebida vazias, repousava o profeta diário, a manchete na capa falava sobre o recente incidente dentro do ministério da magia.
-x-x-x-
-x-x-x-
— Briga! Briga! Briga!
— Acerta na cabeça!
— Eu não deixava!
Essas foram as primeiras palavras que Sirius Black ouviu ao pisar no Instituto de aprendizagens mágicas Durmstrang.
Ele imediatamente olhou para Lakroff, esperando qualquer reação que não o sacudir dos ombros com uma indiferença impressionante:
— É, bem vindo à nossa escola.
— Diretor Mitrica!
Alguém chamou por trás dos dois, descendo uma enorme escadaria que faria Sirius derrubar o queixo se Hogwarts não tivesse ao menos duas de nível semelhante, porém ainda sim era impressionante e levava em espiral para uma torre imensa aparentemente sem perder sua largura opressora, o que tornava a imagem de olhar para cima vertiginosa e arrebatadora.
A pessoa que vinha era um homem de meia idade, óculos quadrados e vestes bruxas estufadas de peles, tinha uma barba escura e cheia, além de um sorriso gentil.
Alguns alunos passavam por ele correndo e cumprimentavam ambos os professores com acenos:
"Professor Galena, Professor Mitrica".
Os professores em questão apenas acenavam de volta e deixavam que os jovens abrissem as portas para se juntar a um aglomerado de adolescentes do lado de fora que erguiam os braços e espichavam os corpos para ver melhor enquanto o coro continuava:
"Briga! Briga! Briga!"
Este segundo professor, Galena pelo jeito, também não estava dando muita atenção para seja lá o que acontecia do lado de fora:
— Diretor, bom dia. Que sábado esplêndido, não? É bom tê-lo em casa.
— Professor – corrigiu Lakroff.
Galena deu de ombros:
— O que o faz se sentir melhor. Então esse é o tão famoso lorde Black? Padrinho de sua alteza?
"Briga! Briga! Briga"
"Falou que a mãe não sabe nem quicar!"
Sirius olhou espantado para trás, imaginando se o feitiço de tradução simultânea que tinha usado em si mesmo tinha dado errado.
Geralmente dava, aquele feitiço era uma porcaria, por isso os bruxos não usavam. Alguns achavam até mais desrespeitoso ao ponto de que preferiam se comunicar por gestos.
Lakroff insistiu que era melhor Sirius ter aquela garantia, já que haviam muitas línguas germânicas e eslavas naquela escola e que ele ficaria muito confuso na maior parte do tempo. Agora mesmo Lakroff estava falando em alemão, mas Sirius sabia que a língua oficial da escola era o búlgaro.
Por algum motivo.
Sendo que a escola ficava na Noruega. Ou Suécia.
Todas aquelas informações ao mesmo tempo estavam fazendo Sirius perder parte da conversa e ele se forçou a prestar atenção.
— Entendo – dizia Galena, acenando para Lakroff.
— Sirius, esse é Nikolai Galena, professor de feitiços. Nikolai, Sirius Black também é professor.
— Ah sim, o jovem Remus me contou, Trato das criaturas mágicas, certo?
"Jovem Remus?" pensou Sirius, tomando aquilo para supor que o homem devia estar acima dos cinquenta ou sessenta anos.
Mas depois de Thomas Harris nem podia ter certeza de nada.
— Sim, senhor. É um prazer – cumprimentou aceitando a mão que lhe foi estendida e levando um susto com a força que foi apertada.
Apertou de volta, olhando com desconfiança, mas firme para o homem. Levou um bom tempo onde ambos se encararam de forma intensa antes que o professor enfim soltasse Sirius e sorrisse:
— Ele parece bom para um lobisomem, não é um fracote.
Ele não falou com Sirius, mas diretamente com Lakroff que riu:
— Sirius é um bruxo talentoso.
— Adianta se não passar de uma casca de vidro?
— Imagino que não.
Sirius tentou dar atenção aos dois e a forma como aparentemente estava sendo avaliado, mas metade de sua atenção estava do lado externo e era atraída sempre que alguém abria de novo as portas para a neve e o lado externo.
Lakroff percebeu, assim como seu colega e ambos riram. Nikolai, entretanto, entendeu errado os motivos de Padfoot:
— Lakroff, preciso de seu parecer em um assunto, porque não deixamos o Lorde Black se encontrar com seu noivo e depois tenho certeza que Remus fará as apresentações adequadamente, sim?
— Claro – concordou e se virou para Sirius a voz em inglês. – Vá ver o que está acontecendo, depois nos encontramos.
O grifinório poderia ter questionado muita coisa. A começar porque ele teria que ir ver, porque nenhum daqueles professores parecia preocupado com seja lá o que estava acontecendo, ou onde Lakroff iria, mas não teve atenção na cabeça o suficiente para nada além de concordar e esperar como um tonto ambos se afastarem antes de entender que tinha que sair.
O lado de fora estava, surpreendentemente, ainda mais gélido que no castelo. Era como se tivesse saído de um cubo de gelo para uma nevasca e percebeu naquele momento que o frio que sentia ainda era brando e magicamente impedido. O lado de fora, onde o castelo não o protegia com seus feitiços, fez Sirius tremer e se agarrar ao casaco grosso que Lakroff, abençoado seja, o forçou a usar como uma mãe cuidadosa e insistente: "Vai estar frio!"
Pegou sua varinha e ainda acrescentou um feitiço de aquecimento que conhecia, mesmo assim era como se aquela neve toda e aquele vento forte entrasse por cada camada de roupa e congelasse seus ossos. Mesmo pulando por caminhos de pedra que que ainda eram visíveis apesar da neve por causa do movimento dos alunos, não deixava de ser difícil andar. Seja pela branquitude no chão, as rajadas de ar da montanha ou o peso das roupas, tudo deixava-o lento.
Alcançar o amontoado de alunos foi uma tarefa, assim como tentar enxergar por cima de vários que pareciam armários gigantes.
"Então não é só a corte" pensou rindo.
Bem, claro que não seriam apenas os alunos da corte de seu afilhado a atingirem àquela altura, aparentemente era algo da região, mesmo assim lembrar que ali só tinham alunos até o quarto ano tornava alguns postes ainda mais impressionantes. De toda forma eram poucos que podiam impedir a vista de Sirius do absurdo que se deparou.
Haviam duas pessoas brigando e, enfim, entendeu porque os professores não deram atenção até então.
A briga era entre professores.
Eles que se resolvessem, aparentemente.
Um deles era Remus.
E ele tinha uma barra de ferro nas mãos.
— Vai professor Lupin! – alguém torceu quando Remus avançou e tentou acertar a barra bem na cabeça do colega.
Errou por pouco e teve que desviar de uma tentativa de soco nas costelas, que ele barrou com a própria arma, acertando a mão do adversário, dando um giro então mirando de novo. A mão de Leandro aparentemente não estava machucada do golpe anterior, já que ele agarrou a barra e ambos os lobisomens se encararam lutando por força e pelo controle do ferro.
Após alguns segundos onde os dois tremeram, Leandro fez uma careta e soltou a barra, pulando para trás enquanto suas mãos soltavam fumaça.
— Trapaceiro.
— Fracote – rebateu Remus.
O ferro em suas mãos estava ficando vermelho de tão quente pelo aparente feitiço – sem varinha ou palavras, Sirius tinha que ressaltar completamente impressionado – que esquentara a coisa para afastar o inimigo.
Leandro abriu os braços e riu:
— Só usa magia quem não se garante no soco, pinscher.
— Só usa os punhos o lobisomem que não aprendeu a usar feitiços direito. Não permitiam cachorro nas escolas do Brasil?
— Ta tremendo e latindo, mas até agora não vi me dar dano. Porque não me mostra um feitiço que funcione melhor, queridinho? Ou Hogwarts só ensinou isso aí para a mascote deles?
Remus saltou, Leandro foi para a direita tentando agarrar o inimigo pelo pescoço quando passou por ele, o grifinório abaixou-se a tempo e acertou a barra de ferro na perna do inimigo.
Não pareceu ter muito efeito já que antes que pudesse levantar, Leandro acertou-lhe um chute que acertou a barriga e o empurrou para trás:
— Essa é toda a força que você tem em plena lua cheia, seu beta?
— Vai a merda!
— Me empurra pra lá se tiver bolas o bastante!
Os alunos urraram empolgados, erguendo os braços como se o time preferido tivesse marcado um gol.
Sirius estava em choque.
Espantado demais para fazer qualquer coisa além de assistir seu noivo, sempre muito bem controlado, mostrando os dentes, rosnando e atacando com o que podia muito bem ser um pé de cabra um colega de serviço.
E ele preocupado em arruinar as chances de Remus ser contratado por não ser adequado o bastante.
Os próximos golpes foram rápidos e precisos. Aluado gritou um feitiço que fez a neve nos pés de Leandro congelar enquanto correu em sua direção, o lobisomem puro-sangue abriu os braços esperando pelo ataque, outro feitiço, bombarda bem aos seus pés, levantou uma nuvem de neve que quase cobria aquele homem imenso que era Leandro, Remus balançou a barra e um barulho alto indicava que tinha acertado algo, os alunos arfaram, mas então todos conseguiram ver quando a coisa foi puxada com força e Lupin perdeu o equilíbrio, sendo puxado.
— Vai Professor Spinosa! – alguém gritou.
Bem na hora Leandro arrancou com um único movimento seu pé direito do gelo e usou-o junto dos braços para dar um golpe em Remus que o fez girar.
O movimento tão bem feito que evidenciava um fato, o homem praticava algum tipo de luta, não derrubou o inimigo, como o imobilizou, agarrando seus braços presos às costas. A barra caiu no chão enquanto o mais alto retirava o outro pé do gelo, Remus Lupin preso completamente irado, tentava se soltar do aperto alheio de forma inútil.
Os alunos novamente fizeram barulho, Leandro arfava, mas sorria vitorioso:
— Ok seus desocupados, podem ir andando, não há mais nada para se ver aqui. Eu já peguei esse.
— Eu te mato.
— Tenta a noite queridinho, agora eu ainda sou o mais forte. Quer dizer, não que a noite suas chances mudem, seu nanico.
Remus rosnou. Ele rosnou. Sua boca abriu e saiu um barulho tão raivoso e animalesco de sua boca que Sirius duvidava que um ser humano conseguisse emitir som parecido.
Aquilo era o som de um lobisomem.
Em plena luz do sol.
Mas Remus conseguiu fazer aquilo como se fosse parte dele e fez o lorde Black se sentir um idiota pela forma com que tremeu e se arrepiou por seu noivo. Seu corpo vergonhosamente quente de repente.
— Calma, totó, não quer correr o risco de morder alguém né? Ta todo atiçado, mas esqueceu que seu noivo veio te visitar?
Isso pareceu trazer Remus a realidade, pois enfim ele parou de tentar soltar seus braços e apenas bufou.
Os alunos começaram a se dispersar, alguns parabenizando Remus por conseguir dar trabalho para o professor Spinosa, a maioria sorrindo ou rindo do show enquanto voltavam para o castelo e seu calor mais confortável.
Seu noivo enfim o viu e Sirius sorriu, tentando parecer apaziguador diante de como ele ficou extremamente corado.
— Fala aí – cumprimentou Leandro, em português. – Não é que esse esquentadinho arrumou um bonito – e olhou para Sirius de cima a baixo, dando de ombros no final. – O meu é melhor, mas olha... – concordou com a cabeça, enfim soltando Remus, mas sempre com seu olhar no lorde Black. – Eu fazia.
— Late na nossa língua, vira-lata. Não entendi uma merda do que você falou – Remus resmungou em búlgaro.
Sirius entendeu naquele momento porque as pessoas odiavam feitiços de tradução.
A voz de seu noivo foi quase completamente abafada por uma outra soando por cima tentando lhe dizer quais foram suas palavras. Isso foi a única coisa que impediu Sirius de gemer com o uso da língua estrangeira em seus lábios.
Ele imediatamente tirou o feitiço, sem se importar com as consequências, Remus estava falando mais alguma coisa, e estava tão excitante ouvi-lo em outro idioma, com a grosseria que a língua búlgara parecia oferecer em comparação com o inglês, que ele se sentia envergonhado, mas estava realmente quente.
Leandro também falava búlgaro agora e ambos discutiram alguma coisa por um tempo, o suficiente para não ter mais alunos em volta quando voltaram-se para Sirius, que só notou que estavam falando com ele quando Spinosa lhe estendeu a mão e gentilmente voltou-se para o inglês:
— Prazer conhecê-lo, Black. Spinosa, Leandro Spinosa.
Remus cruzou os braços enquanto se cumprimentavam:
— Esqueceu do Abraão, é o mais importante.
— Esquece essa merda de Abraão – resmungou o brasileiro, revirando os olhos. – Como pode ver também sou aquele que garante agitar a vida de seu noivo por aqui.
— Não sei se gosto de como isso soa – brincou Sirius. – Só eu deveria agitar a vida dele. Devo ficar com ciúmes?
Leandro riu, Remus pareceu tão indignado que o bufo que soltou também parecia um palavrão.
— Bem, eu definitivamente ocupo um espaço na mente do seu noivo agora.
— Um de ódio.
— Você não me odeia, totó.
— Para com essa coisa de Totó!
— Certo, algo que combine mais com essa sua personalidade raivosa e estourada então? Que tal...
— Que tal usar meu nome? Ou melhor, me ignorar?
— Eu não consigo, você é minha responsabilidade beta, como alpha qualquer irritadinho no meu território é minha responsabilidade.
— Esse não é seu território.
— É de sua alteza, você tem razão, mas ele me pôs aqui, então eu faço meu trabalho.
— Sua alteza? – perguntou Sirius. – Lakroff é chamado assim aqui?
— Não, Harrison.
— Mas quem contratou você foi Lakroff.
— Você vai aprender, Black – e colocou a mão no ombro do mais baixo. – Que por aqui sempre devemos assumir que se uma coisa foi feita direito, então de alguma forma é coisa de sua alteza, não importa quem pareça ter levado o crédito, mas não se preocupe, com o tempo você entende.
Remus estava inquieto e puxou Sirius para longe do outro lobisomem.
— Cuidado com ele – avisou Leandro. – A lua cheia comigo ainda por cima está deixando-o mais livre com seu lobo interior, e mais territorialista, para um beta ele age muito como Alpha. Não quer o cheiro de ninguém em você.
Aluado agarrou com mais força o braço de seu noivo, mas o animago notou que teve o cuidado de não machucar:
— Não quero o seu cheiro nele – corrigiu.
— Toda essa coisa de lua cheia está deixando-o furioso comigo, ele queria assumir a liderança do território, sabe? – cruzou os braços, rindo como se a situação lhe fosse muito divertida. – Isso que dá nunca ter pertencido a uma matilha, não sabe aceitar quando não tem força para ser o líder e como se submeter.
— Pare de agir como se eu fosse um cachorro.
— Lobo – corrigiu. – E você é, querendo ou não, betinha.
Os dois se encararam. Remus com uma raiva ardente no olhar mortal, Leandro com um sorriso e uma expressão de desafio que dizia claramente: "Se acredita que é mais forte, então me derrote".
Sirius podia sentir os nervos de seu noivo explodindo, mas mesmo assim não conseguia deixar de admirar aquilo.
Remus estava lindo.
Um terno sob medida provavelmente dado por Lakroff, a capa bruxa de pele, o rosto firme, olhar ameaçador, corpo muito menos magro do que estava acostumado, como se Aluado estivesse enfim, e depois de tantos anos, comendo o suficiente para deixar que seus músculos crescessem junto com sua estatura.
Que estava, Sirius de repente percebeu, diferente.
— Você cresceu?
A dupla enfim interrompeu a troca de olhares para dar atenção ao Black que encarava confuso seu noivo.
— O que foi Sirius?
— Você está mais alto – era pouca coisa, Sirius sabia disso, mas também sabia que havia uma diferença. Era obcecado por seu noivo, saberia dizer se ele ganhasse alguns centímetros a mais. – Está mais forte também – constatou apertando os braços do mais alto. – Como? Não faz tanto tempo que nos vimos...
— É a lua cheia – explicou Leandro.
— Não é não. Remus sai das luas cheias com mais cicatrizes e mais mirrado, não maior.
— Isso quando ele tomava veneno e tentava suprir seu lobo. Não quando ele deixa a transformação acontecer naturalmente, corre pelas montanhas, se exercita, caça comigo, está sobre a influência de um Alpha, não precisa passar o dia seguinte numa enfermaria, mas apenas repondo quilos de calorias para recuperar as energias e, é mesmo, tem o clima.
— Clima?
Leandro afirmou com a cabeça:
— A maioria não sabe muito sobre anatomia de lobos, mas é biologicamente natural que um lobo cresça de tamanho quanto mais frio for a região onde ele está. Isso é um processo evolutivo, é claro, que ocorre para suportar temperaturas muito agressivas de neve, mas Remus aqui é um lobo mágico que se transforma todos os dias de lua cheia, isso é, seu corpo se desfaz e refaz a cada dia neste período que está sendo estimulado ao crescimento aqui na Durmstrang, não a inibição. Com a transformação dele ficando maior e mais forte, isso se reflete nele como humano, já que não está mais tomando a Wolfsbane para conter a ligação da maldição de sangue com o portador.
— Foi uma explicação bem razoável para um idiota completo – Remus provocou quando Leandro se calou.
— Foi para idiotas como você entenderem.
As provocações que se seguiram foram um borrão para Sirius, assim como a despedida ou todo o caminho até o dormitório de Remus para que ele pudesse tomar um banho depois de ter se sujado na briga. Black só recuperou os sentidos quando estava agarrando as bordas da roupa de seu noivo e puxando-o para um beijo ardente.
Não durou muito já que Moony o afastou, Padfoot tentou se aproximar outra vez, mas o noivo insistiu:
— Pads, é lua cheia.
— São onze da manhã.
— Não importa, prefiro que fique longe da minha boca.
Sirius gemeu:
— E se eu usar apenas a minha boca em outro lugar?
— Pads!
Para o deleite de Sirius, Remus corou daquela forma lindíssima onde seu pescoço branco ressaltava todas as suas sardinhas, o moreno não se aguentou, mordendo aquela área como se pudesse engolir cada uma daquelas pintinhas. Para seu deleite, Moony gemeu aparentemente afetado pelas ações do noivo e deixou que Sirius devorasse como quisesse sua clavícula, seu pescoço, sua orelha.
Outro daqueles rosnados animalescos e dessa vez Sirius gemeu abertamente quando o noivo emitiu o som, e choramingou muito irritado quando Remus o empurrou e deu vários passos para trás, quase caindo ao tropeçar em um tapete de pele:
— Pode ir parando! – mandou, apontando o dedo para seu companheiro, o rosto vermelho, respiração descompensada.
Sirius sorriu em desafio, as pupilas de Remus estavam tão dilatadas que quase cobriam todo seu olho. Aquilo era absurdo.
E tão gostoso.
Ele só queria conseguir aproveitar cada pedaço daquele lobisomem e garantir que ele o devorasse de volta. Um dos dois tinha que sair mancando ou Sirius não estaria feliz.
Remus soltou um som sofrido preso na garganta e negou com a cabeça:
— Eu sei o que você está pensando, Sirius, e estou dizendo não!
— Eu digo sim.
— É lua cheia.
— Eu sei.
— Eu quero...
— Eu sei – Sirius conhecia seu noivo, não estaria insistindo se não soubesse.
— Mas não posso – continuou ainda se afastando.
— Pode.
— Sabe que eu não gosto disso. A chance de eu te machucar...
— Remus – gemeu, fazendo o nome soar quase como um pedido.
Ah.
Ele queria ser machucado, esse era o ponto.
E com certeza suas reações estavam mexendo com o lobisomem, que precisou fechar os olhos e estalar o pescoço antes que conseguisse dizer mais alguma coisa.
E sua voz estava grave.
Muito.
— Sirius, eu estou te implorando, pare com isso, seu cheiro está me deixando louco.
— Tem muita coisa que está me deixando louco, Remus, eu estou te implorando para me deixar fazer ao menos uma coisa para não enlouquecer.
— Não, eu não posso.
— Sim. Nós dois queremos.
— Não importa.
— Importa. Você querer é muito importante.
— Eu posso e vou te machucar, meus nervos não estão bons hoje.
— Ah sim, eu notei.
"Isso que deixa tudo melhor" pensou dando passos lentos até o noivo e assistindo aquele homem que era tão mais forte que Sirius literalmente fugir dele, colocando uma poltrona entre eles.
— Sirius, já chega, você viu o que eu estava fazendo até pouco tempo, não sou um exemplo de controle na lua cheia – e o homem corou ao lembrar que seu noivo o encontrou no meio de uma briga.
— Eu vi, você estava bem empenhado em acertar a cabeça de Spinoza.
— Eu estava querendo matar aquele cara, Sirius eu não estou bem, é lua cheia e Leandro está me deixando completamente louco, eu realmente não posso arriscar sua segurança fazendo isso.
— A gente te amarra e eu faço o trabalho todo.
— Eu quebro a cama.
Aquela não era a resposta certa. Não para o que Remus queria. Era, entretanto, para Sirius que soltou um gemido muito necessitado e correu para tentar alcançar o noivo. Aluado foi escorregadio, conseguiu desviar e correu para sua escrivaninha, pulando por cima dela e parando do outro lado.
— Se exibir para mim só vai piorar tudo, Remus.
— Eu não estava me exibindo, estou fugindo de você. Sirius, por favor – implorou, apesar da sua consciência dizer exatamente o porquê, seu corpo parecia querer dizer outra completamente diferente com aquelas palavras.
— Você vai ficar bravo se eu disser que podemos te colocar uma mordaça?
— Sirius!
— Isso é um sim ou um não?
— Pads, é um não! – principalmente porque seu corpo reagiu de forma bizarramente positiva a ideia, mas sua mente gritou que não. Provavelmente o lobo odiando a ideia de perder. – Eu estou passando o inferno aqui, não piore tudo!
— Não estou querendo piorar. Na verdade, estou querendo melhorar – e fez um sinal.
Como se estivesse com Remus.
Na boca.
— Pads! – gemeu sofridamente.
— Moony – e o som que saiu dele conseguia ser ainda mais lascivo.
Então alguém bateu na porta.
Foi um som tão comum, mas tão odioso para Sirius naquele momento que ele seria capaz de latir para a porta, por sua existência permitir que pessoas fizessem aquilo.
Remus apontou sua varinha para a porta e antes que seu noivo pudesse fazer algo para impedir, lançou um feitiço para destrancá-la e gritou:
— Entre!
Sirius só pode encarar o traidor com seu olhar mais mortal e torcer para que suas vestes estivessem escondendo o que tinha debaixo das calças.
Por sorte, a pessoa a entrar foi Lakroff, o que imediatamente fez o animago ter esperanças:
— Volte depois – pediu.
— Não, fique!
Lakroff encarou os dois com uma sobrancelha levantada antes de sorrir:
— Estou interrompendo algo...
— Sim.
— Não! – retrucou Remus.
— Lakroff, por favor, nos dê um tempo, depois você vem.
— Lakroff, por favor fique e impeça Sirius.
O loiro sorriu abertamente e entrou, fechando a porta atrás de si, seguindo até a mesa:
— Seria um prazer impedir.
Sirius arregalou os olhos e foi até o homem, como se fosse impedi-lo de dar mais um passo:
— Você sabe muito bem o que está acontecendo.
— Sei. Que pena – e abriu os braços, como se dissesse que não há nada a fazer.
Sirius gemeu descontente:
— Lakroff!
— Você me interrompe com Thomas, eu faço o mesmo com Remus. Ainda sequer é uma vingança válida, já que você está noivo e eu na seca.
— Eu estou na seca, de uma semana!
— Garoto, se isso é seca, você estaria morto na minha pele.
— Eu passei treze anos preso sem transar – tentou.
A risada do loiro indicava que aquele argumento não funcionaria:
— É, seria uma pena se eu não tivesse passado mais tempo do que isso.
— Preso ou na seca? – Remus achava que aquele ponto era importante.
Lakroff, entretanto, apenas deu de ombros e tomou um lugar para sentar em uma cadeira de frente com a escrivaninha:
— E então? Porque estava brigando com Leandro?
— Eu o desafiei para um duelo.
— Os alunos me disseram que você estava com um pé de cabra.
— Isso foi uma pedra que eu transfigurei.
— Duelo interessante esse. Lobisomens são fascinantes, não acha Sirius?
Black resmungou completamente desapontado:
— São.
Remus bufou e revirou os olhos. Tentou mover as calças sem ficar tão aparente o que estava escondido por lá endurecido, pois estava bem mais satisfeito com a interrupção do que deprimido.
Com certeza.
Não importa o que seu corpo dissesse.
— A lua cheia está me deixando menos paciente e Leandro ainda mais insuportável. Até o cheiro dele está me dando vontade de rasgar sua cara em pedacinhos.
Sirius fez bico:
— Você podia fazer uma demonstração disso com as minhas roupas.
— Sirius!
Lakroff riu:
— Jovens...
— De toda forma! – continuou Remus, aceitando o tarado do seu noivo extremamente lindo e gostoso que ele deveria ignorar. – Eu cansei das brincadeiras e da fuça de Spinosa e decidi desafiá-lo para um duelo.
— Brilhante – murmurou Lakroff com tão pouca ironia na voz que parecia estar sendo sincero.
Só parecia.
— Mas vocês não estavam duelando.
— Porque sua resposta foi, eu abro aspas! – pontuou com indignação. – "Topo, mas vou de mão limpa, troca franca sem perder a amizade, você escolhe como acha que consegue me vencer, beta". Aquele insuportável! – rosnou. – Ele vive me chamando de fraco e está me deixando louco! Eu queria mostrar para ele como sou fraco quando acertasse aquela cara estúpida!
Sirius pensava que não era o único louco e fraco ali, mas enfim, tinha claramente perdido aquela batalha.
Lakroff piscou calmamente diante da explosão do lobisomem:
— Ele está te incomodando com a história da coleira?
— História da coleira?
Remus bufou:
— Sim, temos que usar a coleira a partir de um horário durante as luas cheias, ele usa o dia inteiro por ser um Alpha, já que pode se transformar o tempo todo. Acontece que ele decidiu que todo o tempo que eu estou sem coleira é uma oportunidade incrível para me tirar do sério só para argumentar no final "viram? Cachorro sem coleira faz xixi no sofá" ou qualquer besteira do tipo. Ele está tornando o período da lua cheia, que já seria péssimo, em uma tortura sem tamanho!
Além disso, Remus já estava absurdamente tenso com a visita de Sirius e como conseguiria manter um segredo tão grande quanto o que estava preso em sua garganta. A responsabilidade e o medo que tinham sido jogados em seu colo com a revelação da condição de Regulus o estavam matando!
Leandro pegou possivelmente a pior semana possível em sua vida nos últimos tempos e a estava puxando como uma corda para ver até quando aguentaria sem arrebentar!
Mitrica, aquele que de alguma forma conseguira guardar aquela informação sem vacilar por todo o tempo que conhecia Sirius, apenas acenou com a cabeça como se soubesse. E talvez fosse o caso. Talvez ele soubesse todo o caos que estava se passando na cabeça de Lupin naquele momento.
— É realmente uma situação delicada, Remus. Infelizmente para você, acho que Leandro gostou de ter outro lobo para brincar.
— Eu preferia que ele não gostasse de mim então!
Sirius fez uma careta:
— Porque ele irritar Remus é um sinal de que gostou?
— Faz parte da personalidade de Abraão. Ser indiferente a quem ele não gosta, perturbar os que aprecia. Eu mesmo recebi uma cota grande de pegadinhas e brincadeiras inconvenientes.
A expressão de Remus mudou para esperançosa enquanto se inclinava na direção de Lakroff, como se ele tivesse a cura para todos os problemas do mundo:
— Como você fez para ele parar?
Novamente, uma risada do homem mais velho foi o bastante para acabar com as esperanças dos outros:
— Oh meu caro, ele nunca parou. Eu que me acostumei – sorriu consolador. – Ele é uma criança especialmente travessa, um cachorro animado com uma situação nova, quando se acostuma, perde a graça. Você só está tendo que aguentar tantas porque se afeta. Se ficasse indiferente, ele desistia. De toda forma nunca para totalmente, Leandro é hiperativo demais e estar constantemente próximo é sua forma de demonstrar afeto.
— Vou colocar calmante na comida dele – o lobisomem bufou, caindo derrotado em sua própria cadeira.
— Boa sorte, para funcionar em alguém daquele tamanho, a dose teria que ser cavalar. Na verdade, eu duvido que ache alguma poção que funcione. A licantropia o deixa resistente a venenos mágicos.
Aluado choramingou:
— Eu sei. Conheci a coisa mais irritante desta Terra: um maldito brasileiro motivado a te deixar louco!
Almofadinhas imediatamente pareceu superar a interrupção anterior ao brilhar em expectativa:
— Podemos pagar na mesma moeda.
— Como? Acertando algo na cabeça dele? Eu já tentei.
— Não! Uma pegadinha. Uma boa, para fazê-lo conhecer quem são os marotos e porque não deveria mexer com um de nós. Vamos deixar Leandro mais louco que você. Muito mais.
Lakroff soltou um barulho grasnado que mais parecia um ganso se afogando que fez os dois outros encararem-no com confusão. Ele tinha colocado o punho em frente a boca, como se para contar o sorrisinho que ainda escapava ao curvar-se vacilando pelos cantos dos lábios.
Sirius cruzou os braços incomodado com o que aquela reação deveria significar:
— O que foi?
— Nada.
— Não, pode falar. O que é tão engraçado?
— Eu não disse nada.
Os dois marotos tiveram que contestar ao mesmo tempo:
— Nem precisou.
— Certo, deixa eu confirmar uma coisa, Sirius – começou Lakroff. – Sua ideia brilhante é fazer uma pegadinha com Leandro?
— Ele está importunando Remus, só vamos devolver a ele com uma que não vai se esquecer.
— Sim, claro, e o que seria?
— Temos que pensar, obviamente.
— Aproveita e já deita em um caixão confortável enquanto faz isso, porque boa sorte para achar algo que funcione contra Leandro Spinosa.
Remus bufou, nem um pouco satisfeito:
— Ele é um idiota que se incomoda quando usam seu nome do meio, não vai ser grande coisa.
— Ele não vai deixar barato, você só vai piorar a coisa.
— Ou encerrar de uma vez por todas. Já dobramos homens maiores.
— Homens? Esse é o problema, não estamos falando de um homem.
— Para o inferno com essa história de Alpha sangue puro sei lá o que! – reclamou, abrindo os braços e rosnando. – Ele só é um convencido como qualquer bruxo sangue puro.
Lakroff cantarolou:
— Ele ter o dobro dos poderes que os outros lobisomens é detalhe bobo. O quádruplo do tamanho também.
O lobisomem não pareceu se importar. Pelo contrário, talvez fosse realmente o período da lua, ou como quanto seus nervos já estavam atiçados além do que sua consciência podia dizer, mas todos viram como ele se ergueu, sua postura mais firme. Uma fera diante de um desafio, diante de outra e na briga pelo território, por sua posição.
Talvez aquele fosse o pior momento, pensou Lakroff, para Sirius incentivar o que estava fazendo, como um maldito diabinho falando na orelha de uma besta a dois passos de assumir seus instintos mais incontroláveis.
Remus apenas bufou e aquele som era mais parecido com o que um animal produziria do que uma coisa humana. Seus olhos estavam mais claros que o normal, as bordas amareladas:
— Leandro não passa de um convencido.
Sirius se iluminou, o diabinho:
— Precisamos de algo para humilhá-lo um pouco. Tirá-lo desse pedestal onde ele acha que está.
— Perfeito – concordou o noivo com uma voz grave e decidida.
Lakroff revirou os olhos:
— Nenhum de vocês sabe com o que está lidando. Leandro pode parecer bonzinho, mas se o desafiarem ele vai levar para o lado pessoal.
— É aí que podemos pegar ele – Black sorriu, um sorriso péssimo.
Lupin sorriu de volta:
— Teve uma ideia?
— Uma péssima.
— Quão ruim?
— James ia amar.
Lakroff arfou, negando com a cabeça:
— Pelas pernas de uma baba Yaga, isso vai ser um desastre.
Remus, por sua vez, ganhou um brilho novo, junto da intensidade de um homem pronto para atacar, havia a expectativa de um pregador de pegadinhas correndo por seus membros agitados:
— Fala.
— Ele tem todo esse orgulho de ser um lobo alpha e tudo mais. Está te provocando justamente porque tem uma vantagem que você não. Vamos tirar isso dele.
— Como?
Sirius olhou para Lakroff:
— Você disse que ele é imune a venenos? Todos eles?
Aquela pergunta foi o bastante para que Mitrica entendesse onde Black queria chegar, o que o fez arregalar os olhos e se levantar:
— Você não está pensando em dar Wolfsbane para Leandro em plena lua cheia. Nem você é tão insano, Black!
Sirius o encarou como se perguntasse "Você acha?".
A pergunta que escapara por seus lábios denunciando a resposta:
— Vai matá-lo ou não?
— Não. Uma dose só, para um lobo saudável como ele? Vai tornar impossível para ele se transformar de dia e pode machucar a noite quando a lua cheia forçar a coisa. Provavelmente perde o efeito depois disso, o organismo dele pode até forçá-lo a vomitar a coisa logo de cara.
— Perfeito então.
— Sirius!
Remus cruzou os braços:
— Leandro vai se tornar um beta por um dia e aprender como funciona. Como ele está a apenas um passo de ser igual a mim.
Mitrica bufou:
— Você não pode estar achando essa ideia válida! Uma coisa é Sirius, mas você sabe como é Wolfsbane!
— Tomei a vida inteira e não me matou, que dirá ele.
— O ponto não é matar ou não.
Houve um som parecido com um rosnado, no fundo da garganta do lobisomem antes que falasse:
— Eu sei bem o que a poção faz e não vai machucar, nem ferir, sequer vai dar uma infecção em alguém como Leandro. Na dose certa consigo que ele nem tenha indigestão ou vomite, como você disse, mas uma gota no sangue dele e pronto, sabemos que ele não tem mais seu maior orgulho e trunfo.
— Querem saber? Existem coisas que só a vida ensina, se forem querer pregar uma pegadinha em Leandro, façam como quiserem, mas eu só vou dar um aviso.
— Fala.
— Se você acha que conheceu um brasileiro motivado, é porque você, um britânico, ainda não tentou ser mais malandro que ele. Isso não será apenas pessoal, vai ser uma questão de orgulho nacional ferido.
Sirius deu risada:
— Ele pode cair dentro. Marotos contra malandros – então se virou para Remus. – Que tal dar vida para todas as roupas dele para que tenha que prossegui-las por aí sem a possibilidade de usar sua preciosa forma de lobo para se esconder?
— Acho que ele tem mais calças e cuecas do que precisa. Nenhuma seria mais adequado.
Lakroff negou com a cabeça, olhando para aqueles dois cientes de que não conseguiria convencê-los a parar com o plano louco:
— Posso tirar uma foto?
— Da pegadinha?
— De vocês. Vou tirar outra quando quebrarem a cara, vai para o cartão de natal lá em casa. O antes e o depois da merda acontecer.
VOTEM!
Estou com uns capítulos adiantados, o que é bom, pois vou viajar para a bienal e estava querendo saber uma coisa de curiosa mesmo.
O que vocês mais queriam ou mais esperam ver no baile de inverno?
Não que isso vá me afetar, mas quem sabe, sua ideia pode me dar uma ideia e você pode ver algo que queria muito se concretizando, então me digam aí.
Além disso vamos começar as apostas porque o pedido já foi feito. Quem vocês achar que Harry vai levar ao baile de inverno? Comentem aqui, vamos ver quem acertou.
Do mais é isso, tchau!
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