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Capítulo 1 - Dois lordes das trevas e um homem morto


Harrison esperou que os guardas terminassem de revistar seus pertences enquanto sentava-se magicamente preso a uma cadeira, no centro de uma enorme sala oval, por onde circulavam cerca de vinte pessoas apressadamente.

Sem contar os seguranças prostrados em formação em diversos pontos estratégicos.

Com estes, seriam ao menos cinquenta bruxos mal encarados. Talvez um pouco mais.

— Você disse que sua varinha era do que mesmo? — perguntou o homem sentado na mesa grande de ferro à sua frente.

Haviam outros dois com ele, em pé, a esquerda e a direita.

Harrison sabia quem eram, mesmo que não devesse dizer isso em voz alta.

Uravat Zunatta, chefe de toda a sessão de guarda, segurança e encarceramento mágico da Alemanha em Nurmengard estava à direita. Do lado esquerdo o alemão, Ranulf Langkau, segundo no comando, filho e herdeiro do Lorde Langkau chefe da seção de Execução das leis da magia do principal ministério germânico.

Um homem jurado e leal à família Grindelwald.

Aquele na mesa era Wolfric Spazova, guarda administrativo e responsável pela documentação da fortaleza.

Sabia de tudo isso e muito mais, como se Nurmengard ainda fosse parte das propriedades dos Grindelwald, não a cela de um deles.

O que, de certa forma, ainda era.

Se pensasse em quantos daqueles homens trairiam imediatamente seu país pelos membros daquela família.

Olhou para o secretário administrativo ao responder:

— Pena de fênix, senhor.

— E você possui duas registradas?

— Sim, senhor.

— Núcleo de pelo da cauda de testrálio, senhor. Banhada em sangue de basilisco.

O guarda levantou a sobrancelha espantado e curioso, apesar da cara manter-se séria:

— Um pouco diferentes as duas, não?

— Sim, senhor.

— Por que possuir duas?

— Alguns detalhes na minha varinha são proibidos na Grã-Bretanha e estou participando de uma competição por lá.

— Eu vejo. Está no sexto ano nesta idade?

— Sim senhor. Estou avançado nos estudos.

— Sim. Sim... — e continuou anotando coisas em uma ficha.

Harry aguardou pacientemente. Não tinha muita escolha. A segurança de Nurmengard havia se tornado ridiculamente intensa desde a fuga de Gellert seis anos atrás. Os guardas estavam tão preparados que mesmo naquela sala podia jurar que nem mesmo uma mosca entraria sem que a petrificassem no exato momento que tentasse passar.

Um dos guardas tossiu lá em cima e o som ecoou como que se estivessem em uma caverna, apenas o barulho de teclas abafava qualquer ruído agora, haviam máquinas de escrever em mesas nas bordas, onde digitadores rápidos e experientes transcreviam relatórios apressados, guardas em formação ao lado de cada escrivão acompanhavam e faziam seus olhos enquanto estavam ocupados, papéis por todos os lados, pilhas deles. Era impressionante que tivessem tanta papelada.

Por um único preso.

"Um lorde das trevas e o mundo se move" pensou Harrison, olhando para cima distraidamente.

Cerca de sete andares se estendiam ao alcance de sua vista, diversas janelas com vitrais coloridos e complexos deixavam a iluminação natural da montanha passar e brilhar pelo lugar gélido, trancadas, com segurança em ambos os lados. Esperando.

Observando.

Um pouco intimidante, se Harrison fosse do tipo que se afeta com algo assim.

Diego, por outro lado, estava se sentindo muitíssimo intimidado, obrigado.

Perguntava-se mentalmente porque foi se meter naquela situação e não deixou que outro dos seus irmãos tomasse seu lugar. Claro, Hazz pediu a ele. Uma ligação pessoal, mas podia ter declinado. Heris era bem mais "desocupado" e Alice estaria botando medo nos guardas, não o contrário.

Maldita curiosidade... o levou muitos anos atrás, até Harrison.

O trazia aqui hoje.

Gastou dois dias de suas férias do exército, um pedido pessoal ao comandante.

Quando ia aprender que a curiosidade matou o gato?

Estava de pé, tendo o corpo apalpado em busca de qualquer coisa, enquanto outro bruxo apontava uma varinha para suas costas, averiguando "qualquer possibilidade de núcleo mágico".

Engraçado, seu irmão e ele interagiam constantemente com armas, de gatilhos talvez mais rápidos do que uma varinha podia oferecer, mas Diego se sentiria bem menos impotente se fosse um rifle atrás de si. Qualquer arma trouxa. A magia estava tão inalcançável para ele, que era opressora por si própria.

Imprevisível, inconstante. Podia fazer demais, com esforço de menos. Alcançar o que trouxas nunca poderiam. Vencê-lo com o impossível se tornando realidade, porque era mágica e tudo nela era possível.

Intimidador...

Wolfric, na mesa, voltou a falar com Harry:

— O senhor é o que daquele trouxa?

— Ele foi adotado pelo lorde Mitrica, senhor.

— Não há registro de adoção de Lakroff Mitrica para outra pessoa que não sua filha, a senhorita Alice Pandora Mitrica.

— Por Diego ser trouxa e Lakroff ser filho de quem é, o pedido de adoção oficial foi arquivado, mas tudo ocorre de acordo com os conformes nos registros trouxas britânicos, que é de onde Diego veio. Um orfanato na região de Londres, toda a documentação está em dia e diante do senhor, nas cópias que trouxemos.

— Está me dizendo que o herdeiro Grindelwald adotou, de forma trouxa, não apenas um aborto, o que é uma coincidência e tanto, mas também levou dois trouxas de brinde em um orfanato na Grã-Bretanha? Isso enquanto morava na União Soviética?

Hazz tentou não se incomodar com a forma que o guarda diminuiu seus irmãos a apenas uma "coisa". Trouxa. Algo que se leva e não se paga. Um brinde...

— Sim, senhor. Foi o que aconteceu.

— Por quê e como?

— Eu vivi no mesmo orfanato, senhor. Eles eram meus amigos e foram adotados junto comigo, quando Lakroff Mitrica veio me buscar para recuperar minha guarda.

— Não há registro seu em um orfanato.

— Foi queimado em um incêndio, senhor. Minha culpa. Foi um caso de magia acidental, mas pode atestar com meus tios trouxas, eles devem ter o arquivo de quando me levaram para o orfanato e acredito que o ministério britânico tenha investigado algo. Tudo que tenho de oficial foi dado ao senhor.

— Onde estão seus tios? Eles tinham sua guarda, correto?

— Não tenho essa informação, pois perdi o contato, senhor. Não me queriam em sua vida, por isso o orfanato.

— Eu vejo...

E houve um breve "silêncio" entre eles enquanto alguém atrás murmurava: "limpo" antes de oferecer uma nova ordem a Diego. "Vire-se" dizia o homem com a varinha.

O homem negro, já bem incomodado com a quantidade de bruxos por metro quadrado e pela forma com que olhavam para ele (e olha que racismo estava em sua vida desde que nasceu), bufou frustrado:

— Não existe uma forma mais fácil de atestarem que sou um trouxa e que sou incapaz de fazer mal aqui?

Que merda, e ele nem podia ficar armado também. Já estava começando a parecer com Heris nisso, mas quando lhe tiraram a sua foi como estar nú.

O guarda pareceu ler seus pensamentos e o encarou irritado:

— O senhor trouxe uma arma para uma visita à cadeia! Não pode nos julgar por investigá-lo.

— Sou militar – repetiu, porque já tinha dado essa explicação. – Na minha patente, que é a palavra para hierarquia trouxa no exército, nós devemos andar sempre armados. São regras, eu só me esqueci que vocês não sabem desses detalhes da vida dos não mágicos. Estou acostumado a apresentar minha carteira de identidade e ser liberado. Além disso, e me desculpe por dizer, senhor, mas do ponto de vista dos trouxas, todo bruxo anda armado desde os onze anos.

— Varinhas não são armas. Não é a mesma coisa.

— São se vocês as usam para atacar! Vocês têm porte de arma desde a infância e nem precisam provar ter capacidade psicológica para carregar um troço desses. Nós, pelo menos, precisamos provar para um médico primeiro que não vamos fazer nada de errado com as nossas. E temos que ser adultos!

— Diego — Harry chamou, tossindo para conter a risada.

Seu irmão estava tão incomodado que já estava deixando as palavras falarem antes que o cérebro terminasse de processar.

Harrison também ficaria nesse estado em uma sala cheia de pessoas com armas de fogo. Entendia o apelo.

O guarda talvez não:

— O senhor está querendo me provocar?

Diego gemeu de frustração:

— Se fosse o caso, como trouxa, o que eu ganharia com isso? Os senhores são completamente intocáveis para mim. Só estou me sentindo completamente pressionado e ameaçado. De novo, sou militar, essa sensação não é necessariamente comum. Geralmente sou a pessoa do outro lado de uma revista.

O homem suspirou:

— Procedimento padrão.

Diego notou que aquilo foi um tipo de pedido de desculpas, aparentemente aquele bruxo não queria que estivesse em uma situação daquelas, nem o odiava por ser quem era, então conseguiu relaxar um pouco.

Não podia dizer o mesmo de todos ali, considerando as expressões de nojo de alguns ainda lhe lançavam.

Um absurdo. Receber um trouxa!

Deviam estar pensando algo assim, ou pior.

Estavam irritados de haver um trouxa na linhagem Grindelwald. Mesmo que adotado.

"Sujeira".

"Espero que durmam com dor de garganta tentando engolir essa, idiotas" pensou, mas se lembrou que bruxos podiam ler mentes e baixou o olhar para os próprios pés apressadamente, seu medo aumentando.

O homem na mesa de ferro olhou para Diego e gritou de onde estava:

— Sua idade, trouxa?

"É Diego!" Harrison teve que morder a língua para não corrigir imediatamente.

— Vinte e três, senhor.

— Mora com o herdeiro Grindelwald?

— Não senhor. Moro nas cidades onde sou designado pelo exército Russo, mas sempre estou visitando a casa da família Mitrica-Grindelwald em Baba Yaga. Quando tenho folgas.

— Por que você veio acompanhar o garoto?

— Meu pai, senhor, está ocupado. Ele é professor na Durmstrang.

— Disso eu sei. Mas você não tem magia, o que faria de útil aqui?

"Qual seu chute, preconceito com trouxas em geral ou só não percebeu quão escroto pareceu?" Harry perguntou em sua mente para sua horcrux.

Infelizmente, sabia que não teria resposta.

Lakroff teve que ficar com o medalhão no barco, afinal é óbvio que acabariam confiscando isso se estivesse com ele em Nurmengard. O diadema já era responsabilidade do tio-avô muito antes disso, estava quase sempre em seu dedo, ao menos desde que Tom o colocara lá, em uma noite que Hazz dormia.

Uma daquelas histórias das quais não tinha os detalhes e nem queria saber.

Tom, graças a isso, voltou a ser apenas como uma sensação, um sussurro no fundo da mente. A vinha negra.

Conversando com Harry apenas nos sonhos. Protegendo-o e presente, mas ainda distante.

Queria seu medalhão de volta logo.

Uma sensação ruim lhe apertou o coração, apenas com a possibilidade de passar tanto tempo longe da voz e da presença do homem que já havia se acostumado, mas agora não tinha que pensar nisso.

Lakroff estava fazendo algo importante e era sua melhor chance de ver Gellert sem ser impedido, mesmo que tivesse de matar as aulas do dia para isso.

"Amanhã ele vai ter tempo de me dar quantas broncas quiser" pensou também recordando-se que avisou o Mitrica mais velho de que iria sair naquele dia para a "velha casa", averiguar algumas coisas e tudo o mais. O platinado estava tão distraído com seja lá o que mantinha seus pensamentos, que nem deu atenção a quão vago o neto fora.

Ele sabia que estava escondendo algo, mas apenas confiou na jura de que se fosse importante estaria contando eventualmente.

Harry contou, só escondeu a maior parte.

E tratou Nurmengard como uma velha casa.

Como já foi a casa de Gellert, não era uma mentira. Se fosse um dia normal e Lakroff estivesse atento, teria notado, a culpa não era de Harrison pelo descuido alheio.

Diego, por sua vez, era bem menos distraído que seus parentes e estava conversando com os guardas diretamente:

— No que ser trouxa me atrapalha nessa situação, senhor? Não entendi sua pergunta, sinto muito.

Wolfric resmungou, anotando alguma coisa e falou sem olhar para o outro:

— Você não oferece proteção à criança. É o mesmo que tivesse vindo sozinho. O que faria se ele precisasse de ajuda? Ligaria para a polícia?

Alguns guardas tiveram a ousadia de rir.

Harrison quis amaldiçoá-los.

Um dia talvez pudesse.

"Faça" aquilo sussurrou no fundo de seu subconsciente e realmente sentiu-se tentado a isso. Porque era Tom dizendo, porque seus nervos não tinham melhorado muito em uma semana.

Inferno, estavam agitados de novo.

Agora tinha a merda de um baile para se preocupar e no dia anterior um de seus professores teve a brilhante ideia de brincar sobre quem sua alteza levaria.

O ponto é que ninguém sabia que os campeões eram obrigados a ter um par, que deveriam abrir o baile com a primeira dança.

Agora sabiam.

Hazz teria que achar um par!

Aquilo caiu como uma bomba direto no seu estômago.

Achou que poderia ir sozinho, fazer algo com a corte, dançar com Natasha, com Luna, assim por diante. Provavelmente receber uma ou duas cantadas de Ivan até ele se distrair demais com a missão de monopolizar Axek, tentando perturbá-lo para que não ficasse com nenhuma garota mais do que ficaria gritando consigo.

Algo despretensioso. Talvez até divertido!

Mas não, sua vida nunca seria simples.

Agora aquela coisa toda parecia bem mais.... definitiva.

Um par.

"Preocupação para depois!" se lembrou, respirando fundo e olhando para seu irmão.

Diego era um militar, sua postura não seria quebrada por tão pouco, tinha anos no exército Russo-Soviético para torná-lo alguém bem consciente de suas ações, mesmo assim ele tinha sido provocado. A mesma experiência lhe dizia que não se deve abaixar para uma atitude assim:

— Para que Harrison precisasse de ajuda, minha ou da polícia, então o senhor não estaria fazendo seu trabalho corretamente, não é mesmo?

— Como é?! – o guarda chegou a se levantar com a provocação.

Hazz o encarou, pronto para defender seu irmão se precisasse.

Diego não precisava:

— Achei que essa fortaleza fosse suficientemente segura para que Harrison não precisasse temer por sua segurança, ao ponto de apelar para trouxas como a polícia.

— Aqui é seguro – garantiu o guarda.

— Então? Qual o ponto? Acreditamos fielmente que meu irmão mais novo é capaz e que os guardas daqui são dignos de cumprirem com seu dever de garantir a segurança dos visitantes. Minha presença aqui ocorre apenas para que um menor de idade não saia pelo mundo sozinho, é mais uma questão de convenção social, mesmo assim meu irmão foi emancipado pelo estado mágico da Grã-Bretanha, então pode resolver quaisquer pormenores diretamente com o Lorde Peverell-Potter. Esta visita é familiar e eu faço parte da família, não acredito que vou interferir em vosso trabalho por estar aqui para ser tão questionado, mas posso aguardar em qualquer lugar, inclusive do lado de fora. O guarda responsável por acompanhar Harrison, foi o que me conduziu junto até esta fortaleza, eu estava esperando aguardá-lo e acompanhá-lo apenas como estrangeiro na Alemanha, não aqui.

— Não falamos assim.

— Como?

— Estado mágico. É ministério – corrigiu, o clima ainda tenso pairando no ar.

— Entendo. Desculpe, não estudei tanto quanto meus irmãos sobre a cultura bruxa, um erro meu, sem dúvidas. Meu foco foi a área em que atuo.

O homem enfim tornou a se sentar e Harrison notou como todos pareceram relaxar um pouco.

"Limpo" disse aquele com a varinha atrás de Diego:

— Tudo é totalmente não mágico, senhor. Até a pessoa.

Houve outro momento onde aquele sentado escolhia o silêncio enquanto anotava informações, movendo páginas para marcar coisas aqui e ali. Os guardas olharam de um para o outro, aguardando. Um pigarreio e Wulfric tornou a se dirigir à Diego:

— Não recebemos visitas. Muito menos de trouxas. Não é uma situação comum para nossa fortaleza e deve ser tratada com atenção justamente pela novidade.

Diego acenou com a cabeça:

— Entendo totalmente, senhor.

— O lorde das trevas não é o tipo de pessoa que as pessoas querem visitar, a menos que sejam jornalistas sem matérias novas. Entende quem é Gellert Grindelwald? Conhece o homem que está trazendo seu irmão mais novo para ver?

— Nossa família é incomum, mas é sincera. Se Harrison acha que precisa conhecer o senhor Gellert não nos oporíamos ao seu desejo, mesmo com tudo. Sei exatamente o que este homem defendia, mas sei que ele está justamente sendo punido por isto. Apenas não desejava que Harry viajasse para o exterior sozinho e, claro, de certa forma fiquei tão curioso quanto os senhores por esse desejo.

— Garoto? — o homem encarou Harry.

— Sim?

— Você e seu irmão ressaltam como se veem como família, há outros como ele, outros que Gellert prejudicou e incitou os bruxos por anos a odiar, mesmo assim você está aqui. Desonra o que oferecem a você e busca o que com isso?

Harrison se recostou mais na cadeira e retribuiu o olhar do homem, pensando na melhor forma de lidar com a situação:

— Como órfão é difícil explicar a necessidade de estar cara a cara com alguém que tem o mesmo sangue que você. Mesmo que consiga uma família, entender as partes que te fizeram não ter nenhuma por anos é algo valioso. Lakroff Mitrica me adotou, mas minha mãe ainda é uma herdeira Grindelwald enquanto passou sua história quase toda como uma nascida trouxa. Sou julgado pela mestiçagem, visto como louco pelos irmãos trouxas. Há muitos aspectos da minha vida que não fazem sentido para a maioria, mas há emoção. Como bruxo das trevas, isso ainda é parte do que me move. Eu quero conhecer esse homem. Um igual a ele tirou boa parte da minha família de mim. Quero entendê-lo, olhar no seu rosto uma vez. Ao menos uma.

— E nós temos que nos desenrolar para atender as necessidades de um adolescente?

— Sinto muito, mas enquanto eu tiver o mínimo direito de ver cada membro da minha família, eu tentarei.

Outro resmungo irritado, então ignorou Harry e voltou-se a Diego outra vez:

— Você vai entrar na cela com eles?

— Não pretendo, senhor. Se me for permitido, prefiro continuar com os senhores. Ou do lado de fora. Em qualquer lugar que acharem prudente, mas não pretendo ver um homem que odiaria minha existência carregando o nome de sua linhagem, mesmo que talvez fosse divertido ver o desgosto em seu rosto – o guarda pareceu concordar com essa parte e pela primeira vez sorriu, apesar de ter sumido tão rápido quanto veio. – Sei bem que tipo de monstro se encontra atrás dessa porta e respeito apenas o desejo de meu irmão de entender de onde veio, algo que órfãos compartilham, uma curiosidade mórbida em entender porque, no fim, fomos rejeitados ou abandonados, ou o que perdemos para a morte, mas não posso entender um homem que rejeita uma espécie. Com todo respeito a aqueles que me veem como inferior aqui, mas discordo. Não nos vejo como seres de espécies diferentes, bruxos e trouxas são humanos e Gellert é apenas outro homicida, apesar de ser oficialmente meu avô. Alguém que encontrou suas próprias justificativas para matar.

O guarda que esteve revistando Diego antes e ainda se mantinha de pé um pouco a sua frente, o encarou de forma intensa, mais até do que os outros que também olhavam como que para um animal exótico na sala.

Algo nas palavras daquele trouxa o fizeram questionar além de sua posição:

— Mesmo assim, julga certo deixar que essa criança encontre e fale com o homem que acaba de falar com tanto desprezo?

Suas palavras foram carregadas de significado.

Harrison não o reconhecia. Naquele lugar haviam duas opções e se seu nome era desconhecido, então provavelmente era alguém que escolhera aquele trabalho por desprezo a ideia de Gellert. Talvez um nascido entre trouxas, também pela forma como simpatizou com o medo anterior de Diego.

Ele não via o lorde das trevas como alguém digno de uma visita.

De uma família.

"Deixem-no morrer sozinho" as entrelinhas diziam, junto de seu olhar.

Também podia ser um bruxo que perdeu a família na guerra, mas era muito novo...

Diego levou um tempo para dizer algo e não foi uma resposta:

— Os senhores já perderam alguém de sua família?

— Do que isso vem ao caso, moleque? — questionou o da mesa.

— Porque se sim, conhecem um tipo de vazio difícil de explicar. Um órfão só conhece esse vazio durante boa parte de sua vida. E não importa para onde olhe, só há vazio e rejeição. Não há lugar para órfãos no mundo. Depois que se encontra alguém, algo para preencher, queremos tudo que for possível, para transbordar o buraco. Queremos tirar do peito essa área escura e solitária que era todo o nosso mundo. Meu irmão tem sangue para colocar onde eu e meus irmãos tentamos nos colocar, mas nunca é o bastante. Não quando você passa anos em um orfanato certo de que só tem a opção de ser escolhido, como um produto em um mercado, ou descartado quando passa da validade. Harry tem alguém para dizer mais e novas palavras sobre sua mãe, que nunca pôde conhecer. Gellert conheceu a própria Lilian Potter. Recebeu sua piedade e carinho enquanto pôde, seu nome foi dito pelos lábios desse homem. É algo que talvez nunca possam entender e nem nós podemos explicar. Apenas uma necessidade infantil de saber quem é para finalmente se livrar, se assim for preciso. Seguir em frente e preencher tudo apenas com o que é devido.

A pausa que se seguiu continuava a emitir os sons dos bruxos que digitavam, mas agora pareciam... mais lentos. Como se a curiosidade os vencesse e as palavras de Diego merecessem sua atenção mais do que o que precisavam relatar no papel. Hazz notou uma goteira no canto pela primeira vez.

Todos refletiam sobre aquelas palavras.

Davam o devido tempo para trocar de assunto, porque era assim que funcionava. A luta, a morte, a situação de um orfão. Não eram temas que as pessoas insistiam em ir mais afundo. Elas apenas respeitosamente desejavam melhoras, desculpas, ou ficavam em silêncio até que outra pessoa tomasse o controle da situação.

Neste caso, foi Ranulf, aquele de pé à esquerda na mesa em frente à Harrison.

— Sou o coronel Ranulf Langkau, segundo no comando — apresentou-se e houve aquele contentamento geral entre os guardas com a troca de foco. — Herdeiro Mitrica, queremos que saiba que não concordamos com sua visita.

Suas palavras carregavam um tom de desagrado evidente, como se a presença de todos ali fosse o que tornou seu dia ruim, além de oferecer uma espécie de bronca.

Harrison abaixou a cabeça acenando de forma humilde.

A ligação com sua horcrux passou um humor que quase o fez sorrir.

O homem que Harry tinha solicitado para ajudar a entrar naquele lugar sem que Lakroff soubesse, continuou, fingindo não estar diretamente envolvido com tudo aquilo. Seu papel muito bem interpretado:

— Aquele homem na cela não devia ter o direito de receber ninguém e ninguém deveria querer vê-lo, independente de seus pobres e lamentáveis motivos – agora havia um deboche comedido. – Infelizmente, por lei, somos obrigados a fornecer uma visita da família uma vez que também permitimos alguém de fora entrar. Não pretendemos repetir. Seja lá o que quer com aquela coisa, fale rápido e vá embora com o objetivo de não voltar. Retire esse homem de seus pensamentos, substitua por quantos trouxas forem necessários. Se case com alguém de família grande se é isto que lhe falta, mas não espere tê-lo como parte da sua história. Isso não deve passar de um conto. Uma anedota de feriado. Ninguém queria que você estivesse aqui, garoto que sobreviveu, entende isso?

— Sim – o menino também fez seu papel e fingiu remorso, como se fosse ruim para si atrapalhar tantas pessoas com um pedido egoísta. – Garanto que não irei incomodá-los de novo.

— Ótimo. Vamos seguir logo com isso. Wolfric, a papelada foi preenchida, espero. Agora o Lorde Potter pode me acompanhar, vou levá-lo por — mas Langkau foi parado.

Por um comando de Uravat. O general.

— Eu vou. Você fica no comando por aqui, Langkau.

— Senhor, eu acredito que – mas sua frase morreu com um olhar de seu superior. – Como desejar.

O alemão claramente estava irritado que o mais velho lhe desse ordens, ainda mais agora, mas não tinha muito o que fazer. Oficialmente estava abaixo, mesmo que os demais guardas lhe dessem mais atenção e respeito do que a Zunatta, este ainda era a ordem final na fortaleza.

Por enquanto.

Langkau olhou por um segundo para sua alteza, um pedido de desculpas mudo disfarçado de irritação, então bateu continência e deu uma passo na direção de Diego:

— Cuido do senhor então, Mitrica trouxa – novamente ele fingiu irritação.

Na verdade, por dentro, estava muito feliz e ansioso com a possibilidade de conhecer e estar próximo de uma das crianças adotadas pelo lorde Mitrica em pessoa.

— Comigo – chamou.

— Ao seu comando, senhor.

Diego o seguiu e Harrison se levantou quando percebeu que os encantamentos que o prendiam à cadeira enfim sumiram.

Zunatta atravessou a mesa e se pôs ao seu lado, chamando-o:

— Por aqui, garoto.

O caminho para as celas foi inicialmente bem silencioso e Harrison conseguia sentir a pressão que os guardas tentavam impor em cima do visitante indesejado.

Aqueles que o faziam, pelo menos.

Não os vários que se sentiam tentados a ajoelhar-se sempre que o herdeiro Grindelwald e futuro lorde em pessoa passava, fazendo suas almas gritarem por perdão enquanto tentavam manter as expressões duras para manter a farsa corretamente.

Harry novamente sentiu falta da presença constante de Tom, tinha a impressão de que a este ponto estaria ouvindo algum comentário ácido dele, algo parecido com "Esse lugar é mais corrupto que o ministério britânico e olha que isso é um feito".

No lugar do silêncio, apenas sentiu carinho. A presença e as emoções reconfortantes, como se Tom o estivesse consolando por saber exatamente como se sentia.

Estava dependente demais de seu amigo, percebeu.

A quebra daquele momento onde apenas os passos e o vento de inverno do lado de fora preenchiam o ambiente surpreendeu o menino, quando Zunatta comentou:

— Seus pais eram boas pessoas.

O menino prestou atenção às costas largas do homem mais velho e tentou não supôr muito sobre o motivo de estar tentando conversar:

— O senhor os conheceu? — sabia que sim, mas que mal faria ser simpático com o único guarda não corrupto que Gellert escolheu deixar viver em seu último massacre?

No mínimo, o homem valia seu tempo.

Uravat balançou a cabeça, enquanto sua postura permanecia inabalável:

— Eram boas pessoas. Podiam ver o bem em todos e trazer o melhor das pessoas para fora. Até de Gellert.

Harrison notou que aquele era o único na prisão, apesar de tudo, a não se referir a Gellert de forma pejorativa e até usar seu nome sem parecer um palavrão.

— Ele tem um lado bom?

— Eu o vi mostrar para sua neta. Talvez você tenha a mesma sorte, como bisneto. Ele parecia feliz em ver a barriga de sua mãe a cada visita e sempre te cumprimentava.

— Eu vejo – e sorriu, um sorriso fugaz, mas sincero de quem podia imaginar outros tempos.

Perdidos por entre aquelas paredes para sempre.

— Você precisava mesmo conhecê-lo?

— Ele tem respostas que preciso.

Para a surpresa de Harrison, Zunatta riu, uma risada que balançou o corpo e o fez parar, virando-se para o garoto com o primeiro sorriso que vira desde que começara a chegar em Nurmengard:

— Sua mãe disse a mesma coisa na primeira vez que veio. Mas sinto dizer, você não poderá ter mais que uma, então espero que encontre sua resposta rápido.

— Eu também.

Eles seguiram até a cela e Uravat parou ao lado da porta, junto com outros dois guardas, encarando-os:

— Troca de turno, podem sair, fico aqui até os outros chegarem.

— Senhor? — um deles perguntou, parecendo incerto.

— É uma ordem.

E os dois, sem opções, se dispersaram. Zunatta encarou Harrison com aquele mesmo sorriso nostálgico:

— Você tem os olhos dela.

— Sempre me dizem isso.

— Devem dizer mesmo. Lembra seu pai também, muito, mas acho que você também sabe dessa parte. Vai conseguir lidar com o Gellert se for tão parecido por dentro quanto é por fora, mas se precisar basta gritar, estarei do outro lado.

Hazz espantou-se:

— Vai me deixar entrar sozinho?

Zunatta não era um jurado, não estava do seu lado.

— Você jurou lá embaixo que não ajudaria ele a fugir, não tem como fugir daquele juramento que te arrastaram. Sei que não fará nada. Pelos seus pais, acho que você tem o direito de conhecer essa parte de si mesmo, garoto órfão. Eu fico aqui, grite sob qualquer inconveninete, não estarei ouvindo com tanta clareza. Estou velho, sabe?

Harrison sorriu, muitíssimo grato e assistiu enquanto o homem abria a porta da cela.

Então entrava.


Capítulo 1 – Dois lordes das trevas e um homem morto


"Lakroff nunca enfrentara alguém tão magicamente absurdo como Tom Riddle.

Mas ele tinha um plano feito pelo próprio pedaço de alma do homem".


Marvolo estava em seu escritório quando sentiu uma perturbação bastante forte de seus feitiços anti-intrusos que o alarmou. Imediatamente pegou sua varinha e se levantando, tentou localizar a fonte do problema.

Foi quando sua elfa apareceu:

— Milorde, há um homem no jardim, é nosso convidado?

Marvolo nem se preocupou em responder a criatura, apenas aparatou diretamente para os jardins ignorando como sentiu uma imensa dor de estômago com o feito e apontou sua varinha diretamente para o intruso.

Lakroff Mitrica.

Parado bem ali, como se pertencesse ao lugar, encarando as flores mortas.

Voldemort não disse nada, apenas lançou um feitiço:

— Estupefaça!

Mas Lakroff o desviou com uma barreira, "Protego!" entoou, criando um escudo invisível que levou o feitiço que o desmaiaria para o lado, onde uma árvore próxima explodiu em uma chuva de lascas de madeira.

Ele sorria, segurando a varinha de forma firme.

Poucos teriam a mesma firmeza enfrentando o lorde das trevas.

— Estou impressionado. Ou deveria ficar magoado? Nenhum feitiço da morte, para começar? Lorde Voldemort me quer vivo ou não ofereço risco o bastante para matar assim que visto, mesmo depois de invadir sua casa?

Voldemort não perdeu tempo:

— Expelliarmus!

Mas era uma armadilha, a palavra não correspondia a maldição de cortar os pulsos que saiu pela varinha. Grindelwald foi atingido, mas Voldemort teve que conter seu espanto quando viu-a criar dois cortes no ar, apenas próximo do homem com o movimento de sua varinha.

Não conhecia aquele contrafeitiço.

— Desculpe a invasão, milorde, mas vim tirar sua vida – comentou com tranquilidade. – Se não for importar-se.

­— Crucio! – brandiu.

Lakroff girou com a agilidade de um bruxo muito bem treinado, caindo com destreza em um movimento muito parecido com um mergulho, mas seu corpo logo estava de pé sobre as flores mortas, preparado para um próximo ataque. Tudo na mesma velocidade em que a maldição atingia o chão, levantando poeira.

Protego Horribilis!

Voldemort reconheceu um dos poucos, mas sempre poderosos feitiços das trevas para proteger um conjurador. Uma barreira inicialmente translúcida circundou o bruxo antes de desaparecer, era eficiente contra feitiços de invocação e contundentes.

Uma jogada defensiva, Riddle anotou em sua mente.

Pois agora estava em batalha e mais do que seu poder, sua mente sempre fez parte de seu sucesso, mesmo em seus piores dias.

Entenda seu adversário, preveja suas próximas ações, encontre seu objetivo.

Derrote-o.

Lakroff Mitrica começava a andar, Voldemort o acompanhando girando na direção contrária com calma e leveza. Seu adversário queria ser um predador, mas Voldemort não era presa.

Nem predador.

Era um monstro:

{— Estupefaça!} — sibilou.

O feitiço, fortalecido pela magia que uma língua encantada como a das cobras oferecia, atingiu a barreira apenas nas bordas. Grindelwald já tinha corrido para não ser atingido por completo, não confiando totalmente em sua proteção.

Afinal, em língua das cobras não teria como saber o que viria.

Voldemort sempre tinha essa vantagem contra os inimigos.

Accio!

Uma rocha voou pelas costas de Voldemort, que ouviu o chiado e apontou a varinha em sua direção, mudando a rota do feitiço em um giro, garantindo ainda mais aceleração quando a empurrou novamente contra Lakroff:

Engorgio!

A rocha dobrou de tamanho voando em alta velocidade até Grindelwald, mas foi espatifada em centenas de pequenas pedras com um Reducto.

Os pequenos pedaços e poeira atingindo a barreira circular, tornando-a mais evidente.

Riddle sorriu, Grindelwald não tinha usado um feitiço das trevas ou nada muito forte, sua barreira era capaz de parar a coisa se fosse menor e sem levar danos, assim não precisaria gastar mais magia, uma vez que já estaria usando-a para manter a barreira em si e qualquer outro feitiço que quisesse usar para atravessá-la e atingir seu inimigo.

Usar aquela barreira em específico exigia inteligência ou era uma jaula poderosa. O sacrifício do encanto, o próprio fato de que protegia por dentro tanto quanto por fora, precisava ser moldada constantemente em uma batalha. Isso criava brechas.

Confringo!

No mesmo instante que Lakroff entoava seu feitiço Voldemort aproveitou a abertura que sabia que tinha e focou seu ataque:

Expulso!

Lakroff saltou novamente, mas com menos controle, empurrado pela força da explosão do solo no ponto atingido pela magia, Voldemort não teve tempo para desviar completamente do Confringo e sentiu sua barreira instável de Protego silencioso se romper e explodir diante de si, o fazendo recuar alguns passos. Grindelwald usou isso para atingir o chão:

Deprimo!

Abaixo dos pés do lorde das trevas, o solo implodiu sendo arremessado contra ele mesmo e depois para todos os lados. Marvolo se viu voando para desviar daquilo e a varinha de Lakroff vibrou, como se brandisse um chicote, alçando e agarrando o que era visível de Voldemort por entre a fumaça, e puxando-o para baixo.

Usou a força do voo para tentar arrastar Grindelwald contra uma pilastra velha do jardim, mas o homem logo soltou seu aperto trocando o feitiço. A corda de antes criou vida e começou a crescer, se estendendo pelo corpo do inimigo, amarrando-o de todas as formas até já estar quase prendendo seus braços.

Riddle desceu para o solo sentindo-se tonto, voar estava fora de cogitação, sua magia não estava pronta para aquilo, nem seu corpo. A cabeça ardendo como se estivesse com febre. Apontou para as cordas que se tornaram uma enorme cobra.

Serpensortia! — sibilou, fazendo não apenas aquela, mas um conjunto de cobras enormes caírem pelo chão à sua volta.

— {Ataquem-no!} — as serpentes obedeceram ao comando, deslizando velozes contra seu alvo.

Lakroff apontou para um bebedouro de pássaros velho e quebrado mais distante da batalha, um dos enfeites do velho jardim dos Riddle, então arremessou-o contra a maior das cobras com tanta força que esmagara sua cabeça contra o chão.

Thanatos Klydos.

O que aconteceu em seguida surpreendeu Marvolo, que não conhecia o feitiço e seus efeitos, apesar de reconhecer o grego arcaico nas palavras do homem.

"Thanatos", morte e "Klydos", onda.

Diante dele, as cobras que se rastejavam sob o comando de Voldemort foram uma a uma atingidas por uma onda sonora de energia que sentiu e reconheceu como necromântica. As serpentes imediatamente sofreram com uma morte de seus tecidos, se podia dizer algo dos efeitos em suas escamas e na forma como agonizaram, a carne sendo corroída até sobrar apenas ossos em questão de segundos.

Duro! — os cadáveres tornaram-se tão sólidos quanto o objeto que esmagara uma delas, então tudo voou contra Voldemort.

Reducto! — enquanto as pedras tornavam-se uma fina névoa diante de si, Voldemort afastou-se mais e cobriu os olhos, para não ser cegado, completamente ciente da presença do adversário mesmo que estivesse sempre movimentando-se.

Tinha de reconhecer a força de seu oponente, mas estava irritantemente curioso com a ideia do Grindelwald ali.

Um bruxo que gostava de usar o espaço, deve tê-lo avaliado bem antes de Marvolo chegar, Mitrica estava disposto a desviar de maldições e permitia ser atingido por um feitiço de impacto imediato para otimizar seu tempo desde que não destruísse a barreira, que conseguia lidar muito bem.

Apesar disso, qual era seu plano?

Afinal, nenhum homem invade a base de alguém que sabe ser um lorde das trevas, apenas para lutar sem um plano por trás.

Precisava ter certeza de que essa ideia do herdeiro Grindelwald, seja qual fosse, se mostrasse inútil contra Voldemort.

E rápido.

Sua cabeça estava ardendo muito. Cada feitiço parecia tirar a energia de outros cinco ou mais, tamanha sua instabilidade.

Pensara que estivesse melhor.

Mas as consequências da reabsorção de alma, pelo jeito, eram ainda piores do que visto a princípio.

Daria ao menos esse crédito àquele duelo. Lhe lançou alguma luz sobre sua verdadeira condição.

Mesmo assim se viu dizendo, frustrado:

— Não me pegou em um dia bom para duelos, Grindelwald. Não estou com paciência e muitos antes de você descobriram que não se deve testar minha paciência.

Assistiu, já livre da poeira, enquanto o homem parecia nada menos do que divertido com tudo:

— Muitos antes de você já reclamaram de como gosto de perturbar justamente este aspecto nas pessoas — seu sorriso era ladino enquanto fincava em uma base, pronto para o próximo ataque. — Consegue fazer algo realmente interessante com um feitiço tão simples, milorde.

Marvolo estreitou os olhos e percebeu sua respiração já um pouco descompassada pelo esforço de se manter íntegro apesar de tudo, um pouco diferente.

Ficou confuso em tudo aquilo pareceu atingi-lo.

Bem... isso se pudesse dizer o que exatamente seria o "aquilo".

Talvez a estranheza de ser chamado de milorde por aquele homem. Porque sim, em sua voz parecia estranho.

Com todas as implicações da palavra.

— Ficaria surpreso, Grindelwald, com o que um verdadeiro lorde das trevas é capaz de realizar com o mais mundano feitiço.

— Dê-me o prazer de ser surpreendido então, milorde – e seu sorriso tornou-se mais evidente enquanto levantava a varinha.

Confringo! — Voldemort entoou apontando para o chão.

A explosão levantou terra, rochas e uma nuvem de fumaça que cobriu toda uma área, escurecendo a visão de Lakroff completamente. Notou apenas o som de aparatação, mas Voldemort não parecia ter ido embora. O Mitrica garantiu uma situação onde ele não iria querer isso.

"Vamos" pensou recuando alguns passos, tentando sentir de onde vinha a magia de seu inimigo e buscando não gastar feitiços atoa para aquela luta.

Precisava que Voldemort atacasse primeiro e era primordial economizar o máximo de magia para enfrentar o homem. Aquele que Harrison nasceu destinado a vencer.

Harrison era absurdo, não suporia menos de Riddle.

Pelo pouco que sabia o homem era ridiculamente cheio de magia, se não o esgotasse, não tinha chances. Tinha que usar menos feitiços, não havia outra escolha por enquanto.

Sua cabeça girou e ele tomou impulso, saltando para a direita e aterrissando agachado no chão quando uma clara maldição Diffindo cortou a grama e o solo.

Ouviu a voz de Marvolo e a conhecia o bastante para, mesmo sem ver, saber que sorria. Um sorriso venenoso sem alegria, apenas acidez:

— Você é ágil, apesar do seu tamanho.

— Treino bastante, milorde — respondeu notando a direção de onde vinha o som.

Não viera do mesmo lugar que parecia ter lançado a última maldição.

"Isso, aparate" pensou. Aquele feitiço usava muita energia mágica, se Voldemort continuasse assim, tinha uma chance real.

Petrificus Totalus! — gritou apontando para suas costas.

Uma cobra imobilizada caiu no chão, arremessou-a para longe, para que não atrapalhasse.

Tinha uma boa memória e enquanto Voldemort não vinha a seu encontro quando invadiu, se atentou ao ambiente, não precisaria enxergar para conseguir lutar.

Andou lentamente para trás e para os lados, sempre atento às sensações de magia e aos obstáculos, provando a Marvolo que estava correto em sua teoria.

Grindelwald era um bruxo de estratégia e movimento em terreno.

Avifors! — Riddle entoou.

Lakroff baixou-se e desviou de um pássaro que correu por cima de sua cabeça, a poeira estava abaixando, viu a sombra Marvolo e correu em sua direção, pulando por cima da fonte que estava iludida para não ser vista, frustrando uma armadilha claramente feita para confundi-lo.

— Scūr Æxheofon! (Anglo-Saxão: "Scūr" significa "tempestade" e "Æxheofon" significa "lâminas". Portanto, o feitiço traduz-se como "Tempestade de Lâminas").

A ponta da varinha de Lakroff brilhou quando uma série de pequenos projéteis mágicos saíram à procura de um alvo vivo.

Elas dispararam para frente e deram uma curva criando uma corrente de ar que ajudou a dispersar ainda mais a fumaça, além de seguirem o único alvo que não o bruxo lançador.

Voldemort.

{— Protego Maxima!} — sibilou Marvolo, completamente confuso com os usos do feitiço que o seguia.

Nunca o viu antes.

As lâminas dos projéteis atingiram a barreira fortificada pela língua das cobras e se estilhaçaram, entretanto apenas algumas receberam este destino, Marvolo viu algumas entrarem em contato com sua pele e causarem ferimentos aparentemente superficiais. Cortes de faca afiados e dolorosos que o fizeram sangrar e se corroer de raiva.

Sua magia estava fraca.

Instável. Tinha apenas uma semana da absorção de uma horcrux, é claro, um espirro ainda ontem o fizera jogar água em cima de seu jornal, saindo de sua varinha que estava até então parada em cima da mesa.

Não estava em condições de uma batalha e sentia que muito além da energia elevada que gastava para cada feitiço, havia um esforço físico e mental para que fossem conjurados de forma correta.

Aparatar quase o fez vomitar, apesar de ter acreditado que era necessário nos momentos que recorrera a tal.

A grande questão agora era que havia um inimigo na sua frente que não podia simplesmente deixar e fugir, mesmo que fosse o mais inteligente a se fazer. Voldemort estava muito surpreso que Lakroff Mitrica soubesse sua identidade e de sua base, pois aquilo colocava uma nova luz a situação geral que não podia ser ignorada.

Estava sendo traído.

Mesmo mantendo tão poucos, já sofria com o velho mal de ratos entre seu grupo.

Seu corpo jovem era um segredo guardado apenas por três pessoas além de si mesmo. A aparência de Tom Riddle, em seus plenos dezoito anos, não devia ser reconhecida e principalmente esperada por alguém como Grindelwald. Lakroff não hesitou por um segundo em dizer que aquele era Voldemort.

Ele sabia.

Devia saber seu nome também, ou outra coisa que indicasse a velha mansão dos Riddle como um lugar a se procurar por ele.

Eram poucas as formas que dariam ao Mitrica acesso a essa informação, considerando todas as circunstâncias e cautela com que Voldemort vinha trabalhando, a traição dos poucos que tinha aceito de volta era a mais óbvia.

E irritante.

"Bando de vermes inúteis" pensou, enquanto se via forçado a desviar de um ataque inimigo de forma física.

Estava mais acostumado a usar magia bruta para enfrentar um duelo. As pessoas eram mais fracas que ele, tinham menos magia e cansavam-se antes. Não podia ter a mesma certeza aqui.

Não só isso, o homem que brandia contra ele tinha poder para invadir, mesmo com todos os feitiços de proteção e maldições contra inimigos, além de quase não ser percebido quando o fez. A variação nas proteções foi clara, mas ainda tinha uma sutileza como se estivesse convencendo a própria magia de Riddle de que não era algo importante e digno de nota.

Mesmo nestas condições, Marvolo sabia que um bruxo qualquer não conseguiria atingir tal efeito.

Além de tudo, confiara em Theomore para acrescentar alguns próprios encantos, por garantia, e estes caíram de vez com a invasão. Expulsos como se fossem lixo enquanto os de Marvolo continuavam ignorando Lakroff Mitrica de uma forma incomum.

Apenas fugir daquele homem sem saber como tudo aquilo foi possível, só lhe geraria um problema igual depois e mesmo que pudesse estar em uma condição melhor em outro momento, isto daria tempo ao inimigo de espalhar aquelas informações.

E deixaria Marvolo sozinho, sem saber com quem podia contar, mesmo que o mínimo. Até que pusesse as mãos nele novamente e lhe arrancasse as respostas.

Precisava lutar e precisava de Grindelwald vivo, para que falasse. A força seria um meio, mas também a vingança pelo incômodo.

Nada comparável ao que sentiria o traidor em si:

— Você tem um bom informante, espero que esteja pronto para me entregar-lhe a cabeça — ameaçou.

Conseguiu ver, depois de uma boa rajada do vento de outono que encerrou com sua nuvem de fumaça, como o suado e bagunçado inimigo ainda sorria daquela forma malandra:

— Milorde, posso lhe dar qualquer cabeça, se soubesse pedir com jeitinho.

Marvolo estreitou os olhos, novamente sentindo algo estranho com a forma com que aquele homem se dirigia para ele.

Bombarda Máxima! — entoou Lakroff.

Impedimenta!

A resposta de Marvolo fez o escudo de Grindelwald balançar translúcido por um instante e Marvolo ainda tinha que se curar daqueles cortes irritantes:

Crucio! — enquanto seu adversário saltava mais uma vez para desviar da maldição, Marvolo aproveitou para apontar para si mesmo — Episkey!

Ele não esperava que ainda no chão, Grindelwald lançasse o próximo ataque, tão rápido quanto um exímio duelista e no meio de seu processo de cura, o que impediu de se defender completamente.

Revenans Vultus! (Revenans: Retorno. Vultus: expressão para rosto).

Uma luz verde musgo incandescente iluminou a ponta da varinha e as feridas de Marvolo, que imediatamente aceleraram seu processo de cura e se fecharam, quando estava confuso pensando no que tinha acontecido, elas retornaram, com o dobro da dor que causaram inicialmente e bem mais profundas, cansando um sangramento que parecia que só iria continuar.

Olhou furioso para o homem agachado e sorridente.

— Sabe algumas magias irritantes, lorde Grindelwald. Antigo gálico, se não me engano?

[N/A: O gálico era a língua falada pelos antigos Gauleses, um grupo de tribos celtas que habitava a maior parte da Europa Ocidental e Central durante a Idade do Ferro e o período romano. O gálico é uma língua extinta, mas suas raízes estão presentes em muitas línguas celtas modernas].

— Muito sagaz — e teve a audácia de rir — Não esperaria menos do senhor, milorde. Uma maldição de 800 A.C., no calendário trouxa. Essas velharias tendem a ser esquecidas.

— Eu vejo — e mordia furioso o interior de sua bochecha.

Marvolo estava querendo arrancar aquele sorriso bonito da face de Grindelwald e fazer o homem gritar por piedade, implorando de joelhos.

E, por todas as maldições, como queria capturar aquele bruxo vivo.

Talvez, se conseguisse sair intelectualmente inteiro depois de destruí-lo, Lakroff Mitrica entenderia sua inferioridade e aceitaria sua posição diante de Marvolo. Um servo sempre ajoelhado, esperando por uma ordem.

Lakroff ficaria ainda melhor assim.

Lhe contando todos os seus segredos a um simples pedido, como uma boa ovelha de seu rebanho.

"Um cachorrinho" um pensamento fugaz foi mais alto. "Latindo quando ordenado".

Ah sim.

Era assim que o herdeiro Grindelwald ficaria depois daquela "conversa".

— Velharias tendem a ser esquecidas, às vezes como um processo natural, você vê.

Comentou circundando o terreno, pois o outro levantara-se e estava caminhando mais uma vez, olhos de águia astuta, sorriso de geleira para Marvolo. Implorando para ser destruído.

— Tudo porque não funcionam tão bem diante de novos feitiços mais potentes — ele voou alguns metros para trás e Lakroff, como previsto correu para alcançá-lo, foi quando atingiu o chão: — Glisseo!

O solo tornou-se plaino e gélido fazendo o homem escorregar.

Finite Incantatem — tentou contra suas feridas e ficou feliz quando sua teoria foi mais uma vez a certa e as feridas pararam de se abrir ou causar aquela dor irritante.

Lakroff, por sua vez, caiu com ambas as mãos no chão e as usou de impulso para dar uma cambalhota que o deixou outra vez agachado, mas firme no chão.

— Habilidoso, mas podia ter quebrado sua varinha.

Marvolo estranhou no instante que aquelas palavras sairiam de si.

Talvez fosse a forma como seu adversário o tratara até então, mas normalmente não era de trocar mais do que uma provocação ou ameaças em seus duelos, mesmo que fosse um bruxo até discursador em batalha. Nunca conversou com seus adversários e sentia que era o que estavam fazendo.

Foi como na primeira interação dos dois, Riddle simplesmente sentia facilidade e desejo de conversar com aquele homem.

Descobrir tudo que pudesse sobre seus mistérios.

Um Grindelwald, um bruxo com magias que nunca ouvira antes, mesmo que velhas, era uma fonte de conhecimento e Marvolo tinha fascinação por conhecimento mágico.

— Ela é bem resistente, milorde, mas também não tenho tantos problemas em usar magias sem ela.

— Está louco se pensa que me venceria sem uma.

— Não penso, milorde. Eu teria que fugir.

— Seria perseguido.

— Estaria esperando que o fizesse.

Novamente, entendia que era loucura, mas quase se flagrou rindo de tudo aquilo. Com a sensação de que o herdeiro Grindelwald o estava paquerando.

Agora, além de tudo, no meio de uma batalha.

Tinha a sensação de que aquele homem era um tanto louco. Como Bella, por exemplo.

Seria lindo vê-lo tão servil quanto a Black.

Apontou sua varinha para frente, Lakroff parecia pronto.

Inferno! — chamas vermelhas intensas saíram da varinha e começaram a criar a forma de uma imensa bola até que Marvolo a preencheu com sua magia obscura.

Sentiu quando o Fogomaldito criou vida e rugiu contra seu inimigo.

— Quando eu o derrotar, haverá de me contar tudo que sabe. O rato, suas magias, nada sobrará nessa sua mente sem que eu tenha tocado!

— Se vai me violar dessa forma, poderíamos ter ao menos um jantar primeiro!

A provocação veio conforme Grindelwald corria das chamas, Marvolo o acompanhando em passos lentos sentindo o fogo crescer conforme se alimentava de tudo à sua frente.

Eles atravessaram os jardins e Lakroff saltou quando uma cobra de fogo tentou agarrá-lo antes de chegar ao cemitério dos Riddle, tomou impulso em um dos mausoléus, usando um feitiço que arremessou-o para frente em parafuso com um jato de água que o protegeria do calor, mas não das chamas do fogomaldito.

Marvolo redirecionou suas chamas para a nova posição de seu alvo, correndo colina acima, território que já estava familiarizado.
Mas era uma péssima ideia, pensava, afinal tudo por lá já havia sido consumido pelo fogo e jazia em cinzas. Não poderia mais usar de subterfúgios do ambiente para suas artimanhas.

Novamente, não tinha certeza do que pensava seu inimigo, quando uma das criaturas se aproximou para atacar e ele gritou:

Ektinein Energeia! (Extinguir Energia).

O grego arcaico fluiu por seus lábios tal qual o faria com um nativo e Voldemort sentiu quando toda a força, a vida fundida por sua magia dentro das chamas do fogomaldito... começou a se dissipar.

Exstinguo Ignis! (Extinguir Fogo) — acrescentou em latim e uma onda de energia ante mágica azulada irrompeu da ponta de sua varinha, avançando rapidamente sobre o fogo.

As chamas encantadas resistiram por um momento, Marvolo tentou manter seu domínio contra a barreira, mas sentindo sua cabeça implorar para que parasse e seu estômago rachar e pesar, como se uma rocha pontiaguda se alojasse por lá. O fogo crepitou com uma fúria sobrenatural, antes de ser subitamente apagado.

A energia do feitiço de Mitrica dissipava como um tsunami as chamas, deixando apenas o cheiro de fumaça e um terreno escurecido, mas seguro.

Nunca, em toda sua vida, Marvolo soubera de algo que pudesse fazer algo como aquilo contra Fogomaldito. O conhecimento daquele homem era realmente delicioso. Um pecado que Gellert Grindelwald tivesse mantido tudo apenas para si, antes que Tom Riddle pudesse usurpar por si próprio.

Outro vento de outono levantou uma neblina escura da grama e das flores queimadas, empurrando aqueles vestígios de luta para longe, passando por suas vestes, sujando o belo terno bruxo de Lakroff, mas sutilmente passando pelas vestes negras de Marvolo.

Estava calmo, algo esperado devido a densidade das magias que circundavam a casa e aqueles dois.

Marvolo podia sentir a magia de Lakroff Mitrica.

Podia sentir o ponto onde ambas as suas magias se tocavam e se empurravam, conseguia entender aspectos que os homens nunca mostram, mas que são parte de si enquanto bruxos e perceber mais mistérios por trás daquele homem ofegante e corado à sua frente.

Os dois bruxos se olhavam diretamente agora.

Lakroff tinha as provas de seu esforço enfeitando seus traços firmes, tudo que fizera para desviar dos ataques de Voldemort nas roupas sujas e amassadas. Um bruxo que usa o corpo para economizar magia enquanto Marvolo se limitava ao mínimo para não cansar o físico e ficar como seu adversário.

Desalinhado e ofegante. Indisciplinado. Um humano. Voldemort tinha que ser além do humano, isso aterrorizava suas vítimas.

Lakroff não estava aterrorizado, não em sua face, ao menos. Ainda sorria.

Dualidades.

Marvolo mantinha o rosto impassível, com ao menos uma dose de veneno.

Mas tinha de admitir, Grindelwald ficava divino assim. Descompassado.

Estava sem a trança. Os cabelos bagunçados e soltos, rebeldes e caindo sob a testa e o olho, porém nada menos que belos.

Como se soubesse que Riddle estava olhando para eles, com a mão esquerda, o loiro platinado puxou seus fios mais rebeldes para trás, os dedos passando pela testa até a nuca, pelos fios absurdamente claros de cabelo que dançavam na direção que eram ordenados em ondas suaves.

Sua barriga fez menção de o trair.

Ânsia de vômito, Voldemort não podia se permitir, nunca. Diante de qualquer olhar, ele não racharia. Entretanto, tinha de admitir que a situação só se mostrava mais complicada.

Cruel encruzilhada.

Um homem muito próximo de Harrison Potter tinha informações privilegiadas sobre e precisava interrogá-lo para descobrir de onde vieram.

Igualmente preocupante, Lakroff Mitrica não era um inimigo qualquer, não era tolo e apesar de ser menos favorecido magicamente em comparação à Marvolo, ainda se tratava de um adversário trabalhoso para uma alma não completamente restaurada.

O Fogomaldito foi outra prova de que não podia recorrer tanto a maldições, não podia ser ele mesmo. Teria que lutar com o básico e enfrentar de tal forma degradante alguém como o herdeiro Grindelwald, que lhe apresentava uma gama de novos conhecimentos com a naturalidade ímpar.

Dependia tanto de sorte quanto uma habilidade absurda para ter certeza de que seus feitiços funcionariam como deviam e não gastariam mais energia do que necessário.

O homem também não usaria tudo que tinha conseguido de seu informante para invadir sem um plano e Voldemort ainda não conseguira descobrir qual era o plano.

O máximo que viu era que o homem parecia priorizar se defender a atacar. Se tinha a ideia ridícula de esperar Voldemort se exaustar como outros um dia já pensaram, estava louco. Mesmo em suas condições, era Tom Marvolo Riddle e ninguém no mundo tinha mais magia no corpo que ele.

Avada Kedavra!

Lakroff apontou sua varinha para o chão:

Murus Petra! (Muro de pedra).

Marvolo reconheceu o latim, mas não o feitiço (de novo). Era apenas levemente irritante se não fosse versado o bastante para aprender um feitiço novo apenas ao vê-lo em execução e tentar algumas vezes.

A terra debaixo dos pés de Lakroff tremeu e se levantou tão rápido quanto o raio de luz verde foi ao seu encontro, uma parede se formou na sua frente e foi arrebentada, mas serviu para parar a maldição.

Esperou.

O homem continuava o encarando.

"Vamos, não acha mesmo que vai simplesmente me cansar, não é? Você está pior do que eu" pensava, mas apesar disso sua cabeça martelava e também estava ficando ofegante pelo seu esforço para se controlar.

Uma maldição como a da morte, agora, causou-lhe o equivalente se tivesse lançado outros cinco feitiços.

Quanto tempo realmente tinha para manter aquela brincadeira chata?

As rochas da parede despedaçada se juntaram novamente e esta foi empurrada na sua direção em uma velocidade espantosa.

Bombarda!

Elas explodiram em várias direções e Marvolo notou que antes de atingirem o chão em sua totalidade, já estavam flutuando para se refazer. Um encanto de foco. Se mantinha enquanto o bruxo desejasse.

Interessante. Então, agora, Grindelwald pretendia atacar?

"Não pense que já me cansei com tão pouco, não sou um bruxo como os outros".

Conjunctivitis! — Riddle lançou um feitiço ocular, tentando cegar Mitrica temporariamente.

Isso pareceu bastar para que as rochas enfim caíssem no chão, apesar de Lakroff desviar da magia. O importante era que seu foco fora perdido.

"Já chega de desviar, cachorrinho".

Marvolo apontou sua varinha para o chão próximo ao inimigo:

Palus Captivus! ("Pântano Capturador").

O solo começou a borbulhar, transformando-se rapidamente em uma massa de lama viscosa que Lakroff tentou usar a mesma destreza de antes para se esquivar, mas foi parcialmente impedido pelos pés agarrados pelo terreno pantanoso que os jardins queimados haviam se tornado, dificultando cada movimento seu.

Mitrica conjurou um escudo rápido, desviando do feitiço não verbal que tentava o atingir em seguida e Voldemort deu alguns passos, retrocedendo para que conseguisse pensar em sua situação.

Isso o drenou demais.

Chegava a ser ridículo o quanto.

Tinha algo muito errado e agora começou a considerar a possibilidade de não ser apenas a sua alma instável a interferir em seu desempenho.

Teria pouco tempo para fazer o que queria, mas talvez fosse o bastante:

Revelatio Magica! (Relativo a magia)

Uma luz prateada irradiou da varinha, espalhando-se pelo entorno. O chão, os objetos e o ar ao redor brilharam em um tom prateado, destacando magias ativas. Uma aura vermelha pulsante marcou o solo pantanoso convocado por Marvolo, uma roxa para o escudo ainda levantado de Lakroff, mas algo ficou vermelho no ar, algo que foi se expandindo revelando sua presença e intensidade sufocante até Lakroff apontar sua varinha para Voldemort novamente:

Shaqāf Sekhem!

Marvolo reconheceu o sotaque com algo semelhante ao que conhecia do árabe, mas parecia bem mais rústico e não soube identificar o significado das palavras. Não encontrou solução melhor do que apenas desviar. Saltou para longe da magia, a cabeça latejando em labirintite com o movimento, mas o corpo muito bem treinado completamente capaz de completar a missão com sobra.

O chão onde esteve foi atingido e emitiu um som forte como se tivesse recebido um impacto que afundou parte do solo.

Um feitiço contundente então, pensou Marvolo.

[N/A: Shaqāf Sekhem usei bases do antigo Egípcio e Árabe: "Shaqāf" significa "abalo" e "Sekhem" significa "poder". Portanto, o feitiço traduz-se como "Abalo Atordoante" ou "Abalo de Poder"].

A cada segundo podia se consolar na certeza de que, mais uma vez, estava coberto de razão.

Gellert Grindelwald acumulou conhecimento e o guardou em segurança. Seu herdeiro tinha acesso vitalício a materiais antigos nunca vistos ou registrados nos meios conhecidos por Marvolo. Conhecimentos de família, provavelmente, daqueles que lhe foram leais e lhe deram acesso a suas bibliotecas, que guardavam pergaminhos e artigos como aqueles malditos sangue puros sempre faziam! Impedindo a evolução da magia, guardando segredos apenas para si como se tivessem o direito de privatizar a magia, capitalizar conhecimento e história bruxa em sua completude e beleza.

Como um maldito pássaro enjaulado que poderia morrer de fome conforme famílias antigas eram desfeitas.

Um desperdício.

Mas não em Lakroff Mitrica. Ele não permitia que aquilo morresse. Era um professor de história, quanto disso não podia ter deixado escapar para novas gerações habilidosas de bruxos das trevas?

Seu pássaro estava vivo e cantando lindamente bem a sua frente, mesmo que sujo de lama.

— Um maldito pântano? — ele reclamava, puxando o pé com dificuldade para cima e se atolando novamente em seguida. — Isso é meio desconfortável, milorde.

— Você não leva as situações tão a sério como deveria, não é mesmo? — questionou quase precisando de força para segurar um sorriso que não sabia porque queria sair.

— Milorde, é um dos meus dons. Eu nunca sou completamente sério, não sem ser ameaçado.

— Deveria estar, então. Eu sou a maior ameaça que encontrará na sua vida.

— Tenho apenas um objetivo aqui, milorde, e lhe garanto, se alguém sair morto não serei eu.

— É muito arrogante para alguém que deixou um feitiço pronto antes de iniciar o duelo. Uma trapaça flagrante entre o que julgava ser dois cavalheiros. O que era?

— Posso até lhe contar qual foi o feitiço que montei antes de chegar, milorde, se me estender a gentileza e apresentar favor semelhante após o duelo. Preciso urgentemente de algo do senhor.

— Minha morte? – zombou.

— Ah, isso também, mas há outra coisa antes disso, se for possível.

Voldemort teve que rir:

— E veio aqui porque acredita que conseguirá me tirar ambas à força?

— Achei que se eu não usasse força antes do meu pedido, então o senhor não ouviria um homem qualquer.

— E você se trata de um homem qualquer, Grindelwald?

— Temo que sim, milorde, ao menos enquanto não lhe mostrar do que sou capaz — seu sorriso ainda completamente branco e brilhante irradiou pelo rosto corado e ofegante.

Havia uma mancha de lama em sua bochecha direita agora.

Isso irritou e cativou Voldemort de uma forma conjunta e estranha:

— Para seu descontentamento, posso descobrir seu feitiço trapaceiro sozinho e não haverá força que lhe renderá um favor de Lorde Voldemort. Tudo o que conquistará depois de ter vindo aqui é a punição por me incomodar e entenderá porque as pessoas escolhem não me importunar, nem mesmo usando meu nome em vão.

— Não quis importuná-lo, milorde. Quero algo muito pior que tal adjetivo.

— Por isso está tentando esgotar minhas reservas mágicas? — perguntou direto, mas não viu qualquer perturbação no rosto do homem ao ser pego em seu plano. Deveria haver mais, então. Ou era um ótimo ator. — Não pensou que eu fosse um bruxo qualquer que não nota os próprios sinais mágicos?

Girando calmamente, avaliou outros sinais, os movimentos de cada parte do corpo de seu adversário. Lakroff parecia calmo em suas expressões, mas o corpo tenso esperava com a varinha levantada em posição de ação. Uma base firme, um olhar analítico, mais provas de um duelista exímio.

— Uma área de esgotamento mágico — afirmou, porque tinha certeza sobre aquilo. — O que pensa que conseguirá com isso? Garanto que se cansará antes de mim, mesmo que recorra a me esperar atacar primeiro.

Katarse ivertum — entoou, mas não estava fazendo magia alguma, apenas constatando algo. — Esse é o nome, milorde. Um feitiço muito usado na Durmstrang, principalmente com a adesão do nosso professor de magia experimental no corpo discente.

Voldemort nunca ouvira falar de tal feitiço antes, mas riu. Uma risada sem alegria e ácida:

— Se o preparou antes de esperar que eu chegasse, quer dizer que é parte de seu plano esperançoso para me derrotar. Grindelwald, você não me parecia ignóbil ao ponto de perder sua única vantagem de forma tão desmedida.

Lakroff respondeu com um sorriso. Um gélido e cortante, tal qual uma lâmina de glacial para os olhos de Marvolo, que sentiu seus cabelos se arrepiarem de uma forma incomum, como se sentissem algo que nem mesmo sua mente tinha conhecimento ainda, apenas seu corpo.

Como se pudesse ler aquele gesto, mesmo que seu consciente não registrasse a informação. Apenas seus instintos.

Então o homem falou e aquilo causou uma explosão de fúria em Marvolo:

— Posso lhe dar o nome e pode achar que o entende, mas sei que o senhor não reconhece o feitiço mesmo diante do encanto e falha em entender seus efeitos. Ele foi justamente criado por meu professor durante os anos de sua queda, milorde. Falar sobre não oferece vantagem alguma ao senhor, apenas evidencia suas falhas como lorde caído por uma década.

Voldemort travou sua mandíbula cansado daquela ladainha:

{— Reducto!}

Lakroff demonstrou a mesma destreza de sempre, mesmo com o terreno glutinoso, desviando do ataque inimigo enquanto acrescentava para o solo:

Finite Incantatem!

Uma boa área do terreno pantanoso retornou ao normal e lhe deu uma base onde podia contra-atacar:

Estupefaça!

— Protego! — sua varinha, além de protegê-lo, brilhou enquanto jatos de água fervente correram para atacar.

Reverti magnificentia!

Os jatos pararam e Marvolo sentiu que, de repente, estava lutando pelo controle de seu próprio feitiço. Reverti magnificentia, latim, reverta a magnificência. Voldemort não estava em condições de brigar assim e desperdiçar magia com algo que pudesse se virar contra ele. Se viu forçado a desviar fisicamente da coisa, de seu próprio feitiço! Correndo para a direita quando uma pequena nuvem de fuligem voou com o impacto da água.

Ah, Grindelwald ia pagar muito caro. Por tudo! Principalmente, não deixaria um canto de seu corpo se esquecer das consequências daquela provocação. Não permitiria que insinuasse que aqueles poucos anos em desvantagem foram o bastante para diminuir quem era Lorde Voldemort.

Se Lakroff Mitrica acreditasse mesmo que aquela era uma vantagem, estava enganado. Só estava vivo ainda porque era um Grindelwald. Porque sua linhagem tinha valor. Só podia dizer aqueles absurdos porque Voldemort estava sendo piedoso em destruí-lo em troca de poupá-lo da morte.

Ele teria a chance de falar muito ainda, mas diria apenas o que Voldemort queria ouvir, se lembraria disso.

Katarse ivertum... Foi isso que encantou no ambiente.

Não era latim, o máximo que conseguia pensar de proximidade linguística seria o som do indonésio.

Catarse... libertação, expulsão ou purgação do que é estranho. Um feitiço de exorcismo?

Voldemort sentiu um frio preocupante na barriga, algo que não lhe ocorrera há décadas. Há tanto tempo quanto tinha suas horcruxes.

Medo.

Não sabia o que o feitiço fazia, mas agora tinha a impressão terrível de que a traição gerou algo muito além do esperado.

Lakroff Mitrica sabia sobre sua alma.

Sabia sobre o diadema, a que estava mais próxima. Bartolomeu Crouch Jr, ele estava ao alcance do Grindelwald, em Hogwarts. Com algum conhecimento, será concluíra que Marvolo tinha passado pelo ritual de absorção e, agora, estava tentando expurgá-lo? Usar a fragilidade momentânea para piorar a ligação entre seus pedaços de alma e reverter o ritual tão doloroso o destruindo por dentro?

Aquilo era possível?

Magia de alma era um conhecimento muito raro e um ramo quase intocado da magia. Marvolo teve que descobrir muitas coisas por si próprio.

Mas e se Grindelwald tinha guardado o conhecimento que ele apenas sonhou em possuir? Um lorde das trevas antes dele, não pensaria em garantir a imortalidade? Dumbledore o mantinha preso, não morto, para que não pudesse usar das Horcruxes, inicialmente? Não até que as encontrasse?

Dumbledore sabia sobre horcruxes?

O primeiro livro que Marvolo achara sobre elas fora em Hogwarts!

Não podia permitir!

Os problemas agora só aumentavam!

Sentiu-se enjoado, como se pudesse voltar a vomitar sangue e tudo que comera naquele dia. Seu pânico foi tanto que gelou suas mãos:

Avada Kedavra! — a maldição saiu antes que conseguisse pensar sobre isso.

Precisava eliminar seus problemas. Antes que eles o destruíssem primeiro.

Mas a maldição da morte era potente por si só.

Sentiu-se mais enjoado quando sua magia claramente chorou com a intensidade do encantamento, enquanto via Lakroff desviar, apontou para bem onde pararia e outro feitiço saiu na sequência:

IMPEDIMENTA!

Mitrica foi atingido por esse, mas as artes das trevas e seu escudo lançado bem antes impediram boa parte do impacto. Estilhaçando a proteção e o empurrado de costas.

O loiro platinado rolou no chão endurecido e mesmo assim Voldemort sentiu um corte o atingir, desta vez na barriga.

Diffindo. Não verbal.

Mitrica era bom e isso só tornava a emergência mais alarmante. Voldemort tinha que ser melhor e rápido. Não podia se permitir ficar mais tempo sob o efeito daquela magia em área.

Lakroff Mitrica estaria acabado em alguns feitiços. Se conseguisse sair vivo, imploraria à Voldemort junto com o maldito traidor que o ajudara, depois de lhe contar tudo que sabia. Tiraria cada parte do Grindelwald.

Quatro maldições. Não se permitiria mais do que isso até o fim da batalha, acabaria com qualquer vantagem de seu inimigo e lhe mostraria porque Voldemort era o bruxo mais forte de seu tempo.

Tinha um plano e mesmo que Lakroff tentasse fugir... bem...

Sabia onde encontrar sua filha aborto.

Era só um humano e cairia diante de alguém acima disso.

ESTUPEFAÇA! — entoou.

Lakroff desviou.

Tarantallegra!

— Protego! — e riu do feitiço.

Parecia muito estúpido vindo de Tom. Afinal Tarantallegra apenas tornava as pernas incapazes de se controlar, deixando-as dançantes e frenéticas.

— Esse parece fraco demais para alguém como o senhor, milorde. Ou estaria interpretando apenas Clavance Raaz novamente?

— Me diga você, Grindelwald! Não parou de dançar desde que chegou, já não acha que está se cansando desses malabarismos?

— Eu prefiro Mitrica, se não se importar. E o senhor também parece bem cansado.

Voldemort estreitou os olhos, ignorando a respiração ofegante que saia por seu peito e avaliando como colocaria seu plano em prática.

Lakroff, ao que tudo indicava, não era o tipo que fugiria da batalha.

Bastavam duas aparatações para o levar onde Marvolo conquistaria uma vantagem.

Mesmo assim, a magia de Voldemort estava chiando em sua cabeça como se estivesse sob a pressão do mar só de pensar no que faria a seguir. Sua alma doendo. Dificultando sua respiração de forma dolorosa.

"Ele vai pagar por isso" repetia mentalmente, a raiva fomentando sua magia, tornando as artes sombrias mais intensas para acompanhar suas emoções, seu desejo de destruir o inimigo.

Mesmo que fosse um Grindelwald, a resolução daquilo não seria uma luta.

Seria um massacre.

A varinha de Voldemort vibrou e outro jato de Fogomaldito saiu com a facilidade de uma lufada, em formato de um basilisco vermelho sangue, correu na direção de Lakroff, que transfigurou as rochas no chão uma horda de criaturas para alimentar e distrair as chamas.

Água se materializou da umidade do ar, tão rápido e severamente a volta de Marvolo que o engoliu em jatos de múltiplas direções, formando uma esfera perfeita.

Ele parou de respirar e não manteve o Fogomaldito mais que o necessário, suas barreiras de oclumência tremiam assim como seu corpo parecia rachar em cada extremidade em uma ardência extrema.

Primeira maldição.

Restavam três.

Deixou seu inimigo acreditar que o tinha pegado enquanto aparatava, ocultado pelas criaturas de chamas que consumiam os sacrifícios de Grindelwald.

Soube quando seu feitiço petrificante atingiu as costas de Lakroff mesmo que ele tenha conseguido escutá-lo desaparatar às suas costas e se virar, então agarrou a mão do outro, sabendo que não duraria muito mais e aparatou novamente.

Theomore Nott não teve mais do que um segundo para entender a mensagem dirigida de seu mestre pela marca negra, de que estavam sob ataque, até que Voldemort e Lakroff estivessem no centro do salão de entrada da mansão Nott.

O de cabelos castanhos não precisou de mais que isso, entretanto:

Petrificus Totalus!

A voz de Lakroff estava fraca, impedida pelos movimentos mais retardados e teve que ser usada:

Impedimenta!

Não ficara necessariamente surpreso que Voldemort apelasse para um de seus comensais, mas não julgou que realmente faria isso levando em conta suas condições.

E o fato de que a este ponto já devia ter notado a "traição" de um deles.

Crucio! — Marvolo brandou.

Diffindo! — Theomore gritou em conjunto.

Katarse ivertum! — Lakroff entoou recebendo os dois feitiços dos inimigos de uma vez.

A dor que sentiu vinda de Voldemort foi absurda!

Seus próprios ossos pareciam estar em fogo e sua cabeça levava o equivalente a centenas de parafusos enfiando-se em cada canto do cérebro, os olhos ardendo como se pudessem derreter, lacrimejando e obscurecendo sua visão. Precisou de força para não morder a própria língua e sabia que provavelmente derrubara saliva junto com o grito de dor que soltou. Nem sentiu a dor do feitiço cortante que acertou suas costelas, mas sabia que estavam sangrando e danificadas.

Só podia torcer para que não fosse forte o bastante para cortar os ossos em dois.

Mesmo assim, não superava as piores dores que Lakroff já sentira.

Quantas maldições do tipo não suportou como forma de criação em sua infância? Para aprender a não gritar com suas visões mais cruéis, nada melhor que dor, não é mesmo?

Mas Voldemort precisava acreditar que o tinha pego em cheio para manter a maldição de pé por tempo o bastante, então Lakroff suportou sem esconder a dor que lhe causava.

Tremeu e se segurou como pôde em pé, ainda sob a maldição, conseguiu fazer a varinha vibrar na direção de Theomore Nott. A força do feitiço que dela emanou foi tal que Voldemort foi forçado a conjurar um reluzente escudo de prata para proteger seu comensal, que atingido emitiu uma nota grave de um gongo.

Nott sentiu os cabelos ficarem em pé quando o raio que não o atingiu, ainda deixou para trás sua presença magicamente absurda.

Como seu mestre cuidou de sua retaguarda, não perdeu tempo:

Expulso!

Um armário atraído por Lakroff se desintegrou, a força da explosão atirando o homem para quase a ponta da sala.

Crucio! — acrescentou.

O homem rolou no chão para frente, desviando por pouco da maldição que passara por seus pés.

Impedimenta! — gritou Marvolo.

Protego! — o Mitrica rebateu e, ainda do chão, de repente foi alçado para cima.

O imenso tapete no assoalho o seguiu, o tecido puxado com força e rapidez por um feitiço, desequilibrando seus dois inimigos despreparados para o movimento do terreno.

O carpete levantado endureceu como rocha sólida e levou os danos do feitiço que Voldemort tentara atingir, enquanto outro cruciatos de Nott era desviado e atingia o lustre acima de sua cabeça, que se espatifou e criou uma chuva de cacos de vidro em sua direção.

Vitreus Animatum! (vidro animado) — apontando a varinha na direção dos cacos, estes criaram vida, fundindo-se e com olhos opacos de vidro, criaturas pequenas correram como Fogomaldito, movidas contra alvo vivos.

Lakroff moveu a varinha e o tapete se estendeu mais alguns metros, cobrindo-o como um casulo no momento do ataque do vidro, que se espatifou contra a resistência imediata.

Voldemort, colocando os pés com firmeza no chão para restabelecer seu equilíbrio, invocou chamas poderosas de sua varinha, que carbonizaram cada caco. Registrou minimamente o fato de que as artes marciais trouxas que vinha treinando, tornaram muito melhores seus reflexos, para não ser afetado mais do que em simples surpresa pelo uso do terreno contra si.

Nott, por sua vez, foi bem mais afetado. Conseguiu gritar um "Protego" enquanto quase falhava totalmente em se reequilibrar, a barreira mal conseguindo conter o ataque, cortando-o um pouco no rosto com um pássaro de cacos errantes.

Girando em torno da estátua que se tornara o tapete no centro da sala, Lakroff ocultou-se da visão de Voldemort e focando-se em Nott para fazer valer seu próximo encanto, gritou:

Shaqāf Sekhem!

Desta vez, Marvolo pôde assistir o que aquela maldição fazia se acertasse seu adversário. Houve um som grave e intenso quase como uma onda sonora de choque contra o ar e de repente Theomore Nott era arremessado tão intensa e rapidamente, que quando seu corpo acertou a parede oposta da sala, estava sangrando.

Ele cuspiu em reação ao impacto nas costas, uma bola disforme de sangue que caira no chão, junto com seu corpo logo em seguida.

Marvolo não perdeu tempo com isto, entretanto:

Umbra Servitutis... — sussurrou e escutou o grito estrangulado de Lakroff quando sua própria sombra deve ter lhe agarrado seus tornozelos.

Voldemort correu e viu a coisa quase o derrubando, enquanto que a sobra da rocha que criara, se desfigurou em um formato humanoide, avançou e se jogou acima do bruxo, os braços entorno do pescoço, enforcando-o.

Outras várias pequenas sombras levantaram-se de objetos pela sala, de uma poltrona, um aparador, o lustre que sacudia, todas se tornando criaturas humanoides estranhas ao olhar que se jogavam contra o bruxo para atacá-lo. Arranhando-o, batendo, chutando.

Lakroff tentava usar o próprio corpo para lutar fisicamente com algumas, já que estavam impedindo a movimentação de sua varinha, agarrando-se a sua mão e tentando roubar-lhe ao comando de seu mestre.

Voldemort sentiu uma ardência nos olhos e algo na bochecha, mas ignorou enquanto se aproximava mais do inimigo, no instante que uma das sombras lhe acertou com um candelabro a qual pertencia originalmente.

Atingira bem a mão de Lakroff e houve o som de algo se quebrando.

Quando a sombra levantou o objeto para um próximo golpe, Marvolo constatou que o candelabro estava inteiro.

Lumus Máxima! — Grindelwald gritou, cegando imediatamente Voldemort pela intensidade do feitiço.

As sombras sumiram como se fossem queimadas a fogo, tão rápido quanto apareceram e deixando Marvolo ligeiramente impressionado, enquanto piscava os olhos para se reajustar à luminosidade.

A maioria dos bruxos que tentou usar essa maldição, feita por si próprio, não pensavam na resposta óbvia: usar a luz contra sombras. A novidade e a quantidade de inimigos, geralmente, os deixavam confusos por mais tempo e com mais danos do que Mitrica levara, mesmo assim...

Crucio! — Lakroff não teve tempo de se proteger e gritou lindamente quando a coisa o atingiu de frente.

Seu corpo caindo no chão de uma vez por todas.

-x-x-x-

— Que merda! Então era isso?

Essas foram as primeiras palavras ditas por Harrison Potter no instante em que a porta da cela de Nurmengard se fechou atrás de si.

Suas primeiras palavras na presença de seu bisavô.

Incríveis.

— Falando sozinho ou sobre a minha situação de merda? — e estas foram as primeiras palavras de Gellert Grindelwald (o verdadeiro, não um quadro) para o seu tão querido bisneto.

O primeiro momento entre eles não tinha começado exatamente como Hazz teria imaginado.

Foi bem mais caótico.

— Eu apaguei minha memória para não mentir pro Lakroff com um feitiço temporário – se explicou. – Sabia que quando entrasse na sua cela, a magia seria bloqueada e eu me lembraria de novo. É a isso que estava me referindo...

— Você chegou a este ponto apenas para não mentir para ele?

— Eu tinha prometido não esconder mais coisas dele, mas se eu não lembro, então não escondi, concorda?

De alguma forma aquilo foi perfeito.

Gellert soltou uma risada sincera e gostosa, daquelas que te faz rir junto, e Hazz viu os anos saírem de suas costas como se escorressem por seu sorriso. Os olhos acinzentados pela catarata ganhando cor até tornarem-se o padrão azul e castanho, os cabelos compridos e bagunçados cobrindo o rosto, mas não seu brilho natural charmoso.

Era um homem destruído, mas que conseguia se reconstruir com um gesto o bastante para se reconhecer.

— Você é louco como todos da família! – debochou divertido. – Ser vidente realmente acaba com a sanidade de um bruxo.

— Tive muitos outros incentivos para perder a minha, não dê os créditos apenas a dona morte. Sou arauto da morte, a propósito.

— Não sei se é melhor ou pior – provocou, inclinando a cabeça.

— Existe uma opção melhor? – levantou as sobrancelhas e cruzou os braços, em desafio.

Depois de conhecer sua Luna e ver o bullying com que tinha de lidar, não julgaria nenhuma das três condições fáceis.

Gellert parecia concordar:

— Não. Você tem razão. Estamos sempre condenados. Como vai a sanidade do bom e velho Lakroff, a propósito?

— Uma porcaria.

— Então estamos bem. Como vai Harrison? Você tem os olhos da sua mãe.

— Literalmente acabaram de me lembrar disso, acredita que depois de todos esses anos ainda esqueço?

— Deveria tratar essa memória, ou será que evita o espelho por causa da cara feia do seu pai?

— A primeira opção, é claro. Eu sou lindo, nem James seria capaz de impedir isso.

— E tem o humor horroroso da família – negou com a cabeça, fingindo pesar. – Que combinação tenebrosa é você!

— Azar de quem for se casar. Isso se der tempo para algo assim.

— Sempre podemos encontrar tempo para acabar com a vida de uma pobre coitada. Ou coitado. Como está em relação a isso?

— Indiferente – sacudiu os ombros.

— Melhor para você, mais opções – constatou com a tranquilidade de quem estava em uma festa do chá. — Aproveite a juventude, erre bastante.

— Como você?

— Nunca como eu. Duvido que ache um erro maior que Albus para sua lista.

— Isso foi um desafio?

— Por favor, não! – riu novamente, expurgando mais daquele clima pesado que uma cela em uma enorme fortaleza poderia causar.

Não haviam correntes prendendo suas mãos às paredes, nem mordaças completas para os pés amarrados a ferro ao chão. Nem as tatuagens bloqueadoras de magia.

Era apenas um velho bruxo e seu bisneto.

Conversando.

"Como vão os namoradinhos?" tudo tão mundano, numa situação tão única dos Grindelwald, que representava muito bem aquela família.

Caos.

Paz apesar dele. Junto dele. Uma combinação visualmente bonita e absurda.

— Soube que ele te visitou – foi tomando um lugar no chão da cela, as pernas cruzadas à sua frente, quase do tamanho do outro homem agora.

— Como se já não estivesse sendo uma tortura boa o bastante ficar aqui. É bem tedioso e dá uma dor de cabeça essas runas.

— Você é bem resistente, não é?

— Culpo o merda do meu pai. Um século depois, o homem ainda é o problema da minha vida.

— Lakroff afirmaria o mesmo, mas diz que você é um problema tão grande, ou até pior, que Albert Grindelwald para a vida dele.

— Uma afirmação válida, depois dos estragos que garanti carimbar nas costas dele. Arruinei nossas vidas, mas ao menos fiz com o estilo de um lorde das trevas, quem pode dizer o mesmo? – e piscou quando Hazz riu. – Ainda sou o pai dele, não? Se fui eu que dei vida, então sejamos justos, não estou só no negativo.

— Pensa assim de Albert?

— Não. Esqueça o que eu disse. Meu progenitor poderia ter ido direto para o inferno, a única coisa boa que fez foi possibilitar o nascimento dessa família, mas além de fornecer material genético, nada mais saiu de lá que favorecesse o que os demais fizeram sozinhos. Se fui um pai igual um dia, para qualquer um dos meus filhos, mereço o mesmo ostracismo.

— Você foi um bom bisavô.

Tinha sacrificado muito por Harrison. Estava lá, naquela cela com aquelas correntes, passando por algo que poderia ser descrito como um pesadelo em uma fortaleza apertada e até seus últimos dias. 

Abandonou a guerra por sua família.

Saiu apenas por ele.

Voltou pelos mesmos motivos.

Gellert negou com a cabeça:

— Não diminui todo o resto, mas me consola. Uma bela rosa em cima de muito lixo. Um lírio também. Quer saber? Algumas flores em um aterro. Eu sou o aterro.

— Autodepreciativo. Lakroff aprendeu bem com você essa parte – brincou.

— Imagino que sim. Só lhe ensinei o pior. Qualquer coisa que ele tenha tomado de exemplo em mim, foi falha dele. Espero que ao menos possa ter aprendido sozinho partes boas o bastante dessa porcaria que chamamos de vida e como levá-la adiante.

Hazz se iluminou, como se lembrasse de algo muito animador:

— Ele foi num encontro! Fim de semana passado.

Gellert teve uma reação confusa e cheia de alterações de humor, para enfim responder:

— Espero que não seja tão ruim quanto parece. Ele sempre teve um péssimo gosto para homens – então pensou um pouco. – É um homem, certo? Ele não mudou tanto...

— Sim, é um homem.

— E então? O quão ruim ele é?

— Talvez pior do que você já esteja imaginando. É uma longa história.

— É claro que é pior! – bufou. – E não me olhe assim, sei o que está pensando. Sempre fomos uma porcaria para escolher quem devia estar do nosso lado – revirou os olhos. – Óbvio que Lakroff é um emocionado que não aprendeu nada com os meus erros de merda. Precisa das próprias quedas para se arrebentar!

— Eu gosto desse, se te serve para algum consolo. Não tive que estourar sua sala e ser arrancado de lá, pelo menos.

— Você estourou a sala de Albus?

— O chão. Ele me encheu a paciência.

— Aquele idiota, eu ainda avisei quando veio aqui esses tempos.

— Mesmo? – perguntou sorrindo. – Você viu algo?

— Não está achando que vou falar alguma coisa sobre isso, não é?

— Ele ganha um aviso e seu bisneto não?

— Ele não me importo se cair da torre de Astronomia e rachar a cabeça. Melhor que faça. Uma linda queda da torre mais alta de Hogwarts – e moveu o máximo que podia os braços, de forma teatral. – Você eu prefiro que fique seguro no chão. Sabendo disso garoto, é ótimo te ver e falar com você. Blocksberg sabe como me alegro com uma visita dessas, mas diante do que me disse quando chegou, era para você estar aqui?

— Não, mas eu quis.

Outra risada, esta rápida, porém alta e franca, de boca aberta:

— Maldito Grindelwald! – então franziu o senho e encarou o chão, pensativo. – Minha boca não está muito suja, está? Você tem quatorze agora, eu não disse nada que já não tenha escutado na escola, correto? Talvez eu devesse me controlar mais?

Isso causou uma sensação de déjà vu em Harrison muito gostosa, que o fez rir.

Lembrou-se de um dia, anos atrás, quando foi no Gringotts com uma versão mais jovem e igualmente ansiosa do homem à sua frente. Lakroff preocupado que estivesse dizendo palavras feias na sua frente.

Três tapas na boca e um murmúrio "sem palavrões na presença de crianças" antes de voltarem a conversar.

Gellert o olhou, confuso com o que fizera o menino sorrir daquela forma nostálgica.

— Lakroff odeia isso, mas vocês realmente são iguais, sabe?

— Ele está mais bonito. Mais jovem. Nos comparar te faz diminuí-lo ou me exaltar muito.

— Sabe que ele está deixando o cabelo crescer para não o compararem mais a você dessa forma?

— Se vazasse nos jornais uma foto de mim atualmente, ele seria oficialmente um idiota – e balançou as longas madeixas brancas, para ressaltar o que disse.

— Lakroff mataria o jornalista que tirasse essa foto, tenho certeza. Mesmo que ele seja bem mais loiro.

— E jovem.

— Não fique com inveja, vocês ainda lembram muito um ao outro. Realmente bizarro. Você está ótimo para alguém que não vê direito o sol a anos.

— É genética, nem essa cela poderia estragar minha beleza.

Novamente, mas agora em outra direção, balançou os cabelos. Lembrou muito Harrison aqueles comerciais de shampoo trouxas, o que era irônico e tornava a ação ainda mais engraçada e teatral.

O homem assistiu a diversão do bisneto com uma satisfação emotiva antes de cantarolar:

— Lakroff tem mais gosto por matar do que eu tinha, não é mesmo? – uma leve culpa pintava seu tom de voz.

— Ele não gosta de pensar que algum limite o impediria de conquistar o que quer. Limites morais estão na lista. Físicos também. Uma pessoa é só um limite físico a ser retirado.

— Deve ter sido uma péssima influência para você, pelo que vejo – estreitou os olhos, acusadoramente.

— Não exatamente. Eu diria que isso era algo que Lakroff almejava. Ser um bom tutor para mim, tentar dar uma boa influência depois de tudo que tive que aguentar, fosse nele ou em outras pessoas das quais poderia recorrer para um pouco mais de razão. Ele foi uma boa influência, apesar do seu histórico. Um pai que não foi dado a ele, entende?

— Entendo — murmurou, aquela palavra carregando um mundo.

Hazz sacudiu os ombros e esticou as pernas distraidamente:

— Então ele é bem controlado perto de mim.

— Você é feliz com Lakroff?

— Muito.

— Então tomei a decisão certa. No fim... – suspirou, igualmente relaxado, mesmo com o peso de todo aquele ferro mágico.

— Você tomou – garantiu.

Houve uma pausa, onde Gellert parecia se ajustar com aquela informação, absorvê-la como se lhe desse o descanso que precisava, a lufada de ar que libertaria sua alma apesar da prisão do corpo.

O homem não parecia assim. Preso.

O peso do passado que carregava era muito maior do que aquela cela podia proporcionar e estava, ao menos em uma parte, sendo tirado de si.

— Ele não sabe que você está aqui.

Não foi uma pergunta. Gellert sabia o que Harrison estava fazendo, apenas confirmando os fatos.

— Ele está ocupado hoje.

— Então você aproveitou a oportunidade.

— Meu tio não quer que eu te conheça.

— Mesmo?

— Prefere que nós todos mantenhamos distância de você.

— Eu vejo — murmurou, olhando para baixo por um instante — Ele me odeia?

— Profundamente.

— Imaginei. Também me odeio.

— É a cara dele dizer algo assim.

— Ainda somos parecidos, ele evitando isso ou não. Um fruto de uma árvore distorcida.

— São como gêmeos — comentou rindo, cobrindo a boca.

Gellert sorriu astutamente de volta:

— Aposto que ele odiaria ouvir isso?

— Amargamente. Ele odeia seu bigode. E seu estilo.

— Ele já gostou, mande-o se lembrar de quem era antes de dar uma de arrogante para cima de mim! – brincou com falsa irritação. – Uns anos fora da cadeia e de repente é um mimado?

— Eu herdei todas as suas botas – e estendeu as pernas para mostrar que estava, naquele momento, usando uma delas.

Isso tirou outra risada sincera de seu bisavô.

— Você usa essas velharias? – e ria, com o corpo todo. Nem parecia o homem velho e frágil, quase desnutrido.

— São minhas relíquias! – corrigiu animado e olhou timidamente para o chão, quando recebeu um olhar tão cheio de carinho e pesar que o desconcertou. – Lakroff atearia fogo nas capas se me visse usando uma, juro que ele tentou fazer isso com as botas se eu não tivesse apelado para uma carinha de choro.

— Aposto que você consegue dobrar aquele coração mole como se fosse nada.

— Só não o lembre disso. Quando percebe fica um tempo mais pulso firme.

— Só um tempo?

— Ele amolece depois de algumas tentativas.

Gellert riu alto, uma risada seca, porém divertida:

— Tal pai tal filho? – e Harry riu de como aquilo soou como uma pergunta.

Haviam ouvidos naquela prisão e nem todos eram ouvidos leais.

Ao menos, no mínimo, tinham que continuar com o fingimento. Lakroff Mitrica era irmão de Garden, ninguém mais ou menos que isso.

— Por isso acho que um dia ainda consigo as roupas também, só não tentei mais porque não cabem – contou, como quem conta uma arte que estava prestes a aprontar.

— Você é um pestinha. Não está facilitando para ele, não é mesmo?

— Lakroff precisa de alguma emoção na vida dele. Gosto de ser parte disso – dispensou. – Meus irmãos não são muito melhores, para o azar dele. Adotou um bando de órfãos que eram conhecidos como demônios, as pistas estavam lá, ele apenas não deu atenção.

— Quem diria, não é mesmo? Lakroff Grindelwald adotando crianças trouxas... – suspirou. – Não sei de onde tirou que somos parecidos. Ele é muito melhor – sussurrou em um suspiro cansado. – Eu nunca faria isso.

— Ele só fez por mim.

— Ele entende o valor de fazer determinadas coisas, mas pelas pessoas certas. Na hora certa.

— Você também. Não se pode privar desse mérito. Eu estou aqui apenas porque você agiu quando eu precisei. Sou muito grato. Não quero que se esqueça disso.

— Deixe suas gratidões apenas para Lakroff – dispensou negando com a cabeça. – Eu sou só um velho louco que matou alguns pares de guardas. Ele fez a parte difícil.

— Você também matou alguns pessoas, antes disso. Mas as mãos de Lakroff estão sujas como as suas.

— Eu lhe daria algum perdão uma vez que a maior parte do seu sangue é culpa unicamente minha, mas que seja – bufou, fazendo um movimento estranho para conseguir colocar as correntes por cima da cabeça e coçá-la.

Deviam ser muito pesadas ou ele já estava desnutrido demais.

— Sabe que se Lakroff não te quer aqui, garoto, eu não vou fazer nada por você, não é? Pedi para que ele cuidasse de você, lhe dei essa missão, não vou atrapalhar mesmo que me doa lhe dizer um não. Sou bom com isso. Veja: NEIN – falou lentamente, movendo bem a língua para a pronúncia alemã.

Bitte, mein lieber opa! (Por favor, meu querido avô).

Gellert arregalou os olhos e se jogou dramaticamente para trás:

Blocksberg! Mein Urenkel ist charmant, er versucht, das gegen mich auszunutzen! (Blocksberg! Meu bisneto é charmoso, ele tenta usar isso contra mim!).

Hazz riu do mais velho.

Que depois de um sorriso ladino voltou para o inglês, olhos estreitos:

— Não vai funcionar, mesmo assim. Confiarei, acima de tudo, no julgamento do meu... filho – falou pausadamente, como se fosse (e era) estranho dizer aquela palavra se referindo a Lakroff. — Você veio à toa.

— Não foi à toa. Eu o conheci.

— Pare com isso, o charme realmente não vai funcionar – apontou para o menino, de forma acusadora.

— Vim porque Lakroff está me escondendo algo e não gosto de sentir que o homem que me incentivou a jurar por sinceridade, me mantém no escuro desmedidamente. Pode escolher ajudá-lo com isso, entretanto o que vão ganhar além da minha desconfiança? Eu lhe garanto, vovô, mesmo que seja Lakroff, mesmo depois de tudo, confiar para mim é difícil e esperar que isso não se abale é tolice se há provas de que devo ficar alerta. Só me afastará dele, o que nenhum de vocês quer.

Gellert ficou um bom tempo encarando Harrison, sem dizer nada, isso inquietou o menino.

Na verdade, ele... Estava muito feliz de estar ali.

Realmente, além daquela memória, além de todo o mistério envolvendo Regulus Black, Hazz sempre quis estar aqui. Desde que soube o que o bisavô fizera por ele anos atrás.

Sempre quis ter a chance de ver Gellert. O verdadeiro, em carne e osso.

Queria entender melhor, cada ponta solta que sentia que apenas cara a cara conseguiria juntar. Ter a chance de compará-lo à Lakroff, por mais que o mais jovem detestasse isso.

Ver a alma de Gellert.

Então, descobrir cada uma das coisas às quais Lakroff sempre gostava de lembrar, mesmo que às vezes estivesse deprimido e insistisse que nem existiam. As diferenças.

Eles eram fisicamente iguais, como irmãos gêmeos muitas vezes acabavam sendo. Gellert e Lakroff. Duas faces da mesma moeda sem coroa. Mesmo assim, estavam tão distantes um do outro.

Principalmente para aquele fora da cela.

Lakroff odiava Gellert. Odiava o que aquele homem teve que se tornar para chegar ao ponto de estar ali dentro e nunca, nunca, queria voltar a ter a vida que tinham antes, quando estavam juntos e acabavam levando um ao outro à autodestruição.

Era algo tão fascinante. Orbitar a história de quem agora se chamava Lakroff Mitrica e ver as mentiras que contava sobre si mesmo, ou a forma como via sua própria vida. Ele nasceu em algum ponto da vida de Gellert e não conseguia se desvencilhar dele mesmo que quisesse na maior parte do tempo. Gellert era essa parte curiosa, que Harrison nunca havia conseguido alcançar antes, aquilo que seu tio-avô tentava desesperadamente deixar para trás, esquecer junto de suas antigas e piores decisões.

Mas não podia.

Estavam ligados por um laço tenso, de sangue, de história, de almas. Que um dia poderia uni-los novamente e isso parecia aterrorizar Lakroff de um jeito que... apenas deixava Hazz mais curioso.

Pensar em como Lakroff teve a coragem de abandonar às traças naquela cela alguém que sempre fez parte de si, não só para ignorar como um inseto irritante, ele esperançosamente pedia pela morte de Gellert.

De qualquer forma que nunca mais pudesse voltar, como Voldemort fez. Queria apenas que deixasse de existir.

Fim.

Esse pequeno mistério, a raiva, mágoa, tudo ali era tão intrigante quanto o que impulsionou hazz de uma vez até ali.

Talvez, no fim, ele só quisesse uma desculpa para ignorar tudo que Lakroff pudesse dizer e estar ali de uma vez por todas.

— Não vai dizer nada?

Gellert sorriu e se moveu, para tentar ficar mais confortável. Hazz tinha a sensação de que ele nunca conseguiria ficar confortável ali.

— Você me chamou de vovô, de novo – e parecia radiante com o fato.

— Que merda, vocês dois são mesmo farinha do mesmo saco — resmungou, revirando os olhos.

— Ele só prefere se esquecer e fugir disso – e revirou os olhos, depois estalou o pescoço, como se algo o incomodasse. – Se consegue lidar melhor com as coisas deste modo, que seja. Mas sabe... Sua mãe nunca me chamou assim, seu pai, acredito que foi o que permitiu-se ficar mais íntimo de mim naquela época e mesmo assim, ele apenas me chamava de "velho Gê".

— Se eu chamar de vovô de novo me fala o que quero saber?

— Talvez, gostei bastante do som disso.

Harrison riu da confissão.

Ao menos esse era mais sincero. Ou já tinha perdido sua noção, devido a toda a solidão, não sabendo mais medir o que se pensa e o que se diz.

— Vovô, por favor! – tentou. – Não quero achar que Lakroff mentiria para mim. Eu sei que ele não fez ainda, posso saber quando mentem ou me enganam, mas...

— Não é mentira. Ele é um adulto e você uma criança.

— Legalmente adulto – mas Gellert não deu atenção.

— É normal que você não precise saber de tudo. Se ele esconde algo, deve ser para te proteger. Lakroff não quer, não pensa em nada além da sua proteção, eu me certifiquei disso antes de escolher deixar ele sob seus cuidados ao invés de prendê-lo aqui no meu lugar. Confio no meu julgamento, garoto. Em consequência, confio nele.

— Regulus Black — disparou e não precisou de mais do que isso. A alma de seu bisavô já mostrou a resposta para a próxima pergunta, mesmo assim a fez — Reconhece esse nome?

— Sim. Que história é essa de legalmente adulto?

— Porque Lakroff Mitrica esconderia algo sobre um homem morto? – ignorou a segunda pergunta.

— Que história é essa de legalmente adulto?

— Fui emancipado pelo ministério britânico, não é importante.

— Mas parece!

— Porque Lakroff Mitrica esconderia algo sobre um homem morto?

— Eu não — antes que pudesse terminar a frase, foi interrompido.

Hazz negou com a cabeça:

— Não minta para mim. Não quero que ganhe essa imagem e você também não vai querê-la. Não confio em quem mente para mim.

— Não preciso que confie em mim, garoto, com todo o respeito.

— Mas precisa que eu confie em Lakroff. Dito isso, pense bem, o que pretende me dizer sobre esse nome? Porque parece que há um segredo envolvendo o herdeiro dos Black? Qual conexão você possui com ele? Acha mesmo que eu vou parar antes de ter minhas respostas se fui capaz de apagar minha própria mente? Acho que deveriam temer mais o que sou capaz de fazer para tentar chegar na resposta sozinho.

— Argumente isso com ele, não comigo.

— Não pode me fazer um favor?

Gellert fez uma careta enquanto o observava atentamente.

— Por favor, vovô. Eu literalmente nunca lhe pedi nada antes.

O homem bufou derrotado:

— Seu pai se importava muito com o garoto Black. James era um maldito Grifinorio, que daria a vida por muitas pessoas, se julgasse que a vida delas merecia ser salva e que não havia outro recurso. Não estou diminuindo o que ele fez por você, ainda tem o mesmo peso, apenas mostra o tipo de caráter que ele tinha. De se importar mais com as outras pessoas do que consigo mesmo. Sempre pensava no outro primeiro. Conhece esse tipo de pessoa?

Hazz baixou a cabeça.

Ele era esse tipo de pessoa.

Gellert acenou, com entendimento:

— Uma vida merecia ser vivida, era o que ele pensava. Não se enfiaria em uma guerra, lutando por uma causa, se não fosse assim. Então havia Regulus Black e seu pai acreditava que esta era uma alma que precisava ser salva. Que precisava de seu lado heróico.

— E ele pediu sua opinião sobre isso? – estranhou.

— James Potter tinha um irmão. Não de sangue, uma ligação emocional puramente, mas ainda muito intensa. Ele amava e tratava Sirius Black como sua própria carne.

— Eu sei.

— Então agora tente entender a lógica de seu pai. Se Sirius Black era seu irmão, ponto final, e Sirius tinha um irmão de sangue, por extensão, Regulus era seu irmão mais novo também. Consegue imaginar o quão obcecado ele ficou com essa ideia? De que tinha um irmãozinho que o detestava, diga-se de passagem, e que estava escorregando para um caminho sem volta na guerra que poderia matá-lo? Não só isso, ele estaria de máscara. O próprio Sirius ou ele poderiam ser os matadores. James não era de deixar qualquer comensal sair com vida de um duelo.

— Ele queria tirar Regulus de Voldemort – constatou.

— Queria porque Sirius queria, ou porque o menino era seu irmão mais novo, em sua cabeça. Haviam muitos sentimentos envolvendo os dois. Muita frustração também. Regulus não aceitava a aproximação de James e acreditava em coisas diferentes. O atrito era real e impedia seu pai de fazer o trabalho que queria de ficar de olho nele.

Uma luz se acendeu na cabeça de Harrison:

— Ele pediu um jeito de identificar e rastrear Regulus? Que Voldemort não pudesse impedir?

— Quase isso. Ele tinha uma ideia já formada, queria apenas ajuda para garantir o sucesso da execução. Seu pai era um dos homens mais engenhosos e criativos que já conheci, sempre teria uma resposta, mesmo que absurda. Já viu aqueles relógios que algumas famílias têm que apontam onde cada pessoa está? Trabalho, casa, perigo...

— Já ouvi sobre sim. Talvez Lakroff nunca tenha feito um porque provavelmente não funcionaria bem com trouxas, um aborto e eu.

— Imagino. Bem, James queria um igual, com todos os seus amigos. Apontava para "respirando", "morto" ou "em perigo". A respiração fica descompassada quando estamos em perigo. Mas ele não podia, entende? Isso é magia antiga e de sangue. Não podia ligar-se a todos que conhecia. O que permite esses relógios existirem em casas bruxas é exatamente usar a magia da linhagem. Magia de lorde.

— Mas ele tinha sangue Black e o futuro Lorde.

— Exato. Fez um que mostrava Sirius e Regulus. Tinha que bastar. Fez escondido, para que Sirius não ficasse louco olhando o maldito relógio o tempo todo. James era mais controlado, tinha sangue frio quando precisava disso. É aí que a história se complica, veja bem. Regulus Black, um dia, estava apontando para "em perigo" e James quase passou por um estrunchamento tentando aparatar para onde o menino estava, sem se importar com as consequências. Encontrou-o em um lago cheio de criaturas que Voldemort preparou. Uma armadilha para quem tentasse tomar sua – e olhou para a cicatriz do garoto, – alma.

Hazz baixou a cabeça, as imagens de seu sonho completamente vívidas em sua mente agora.

De seu pai gritando pela vida de Regulus no lago dos inferis.

A mente martelando para juntar as peças de algo que ainda parecia não se encaixar.

— Meus pais sabiam o que tinha no lago? Sabiam sobre as Horcruxes?

— Não. Não teriam ido tão longe se soubessem. Ou teriam as procurado e destruído primeiro. James assumiu por todo o tempo que Voldemort deixou Regulus para morrer porque havia falhado em alguma missão. Quase como se aquilo fosse um abatedouro do sádico.

— Você sabia?

— Não a tempo – sussurrou e Hazz acenou.

Gellert parecia novamente adquirir uma expressão de culpa, uma que carregava desde que viu Harrison, apesar de todas as outras emoções. O homem tinha um espírito obsessor que o atormentava com incertezas. "E se", dizia por cima do ombro e enegrecia sua visão.

"E se tivesse feito diferente?"

Harry fora criado desde a páscoa dos seus sete anos por Lakroff Mitrica. Foi ensinado incessantemente a não permitir que aquele fantasma criasse moradia em sua mente.

Um vidente não deve olhar demais para frente, nem se distrair muito com o passado.

O presente é tudo do qual temos controle. Ponto final.

Ver em Gellert como aquilo afetava suas feições e deixavam-no mais velho, era uma prova interessante de como Lakroff aprendera muito com o passado e com as experiências de Gellert para moldar a sua própria forma de ver o mundo.

"Para que cometer erros velhos se há tantos novos a serem cometidos?" ele dizia e parecia se encaixar bem ali.

Lakroff era muito parecido com Gellert, sim. Os dois podiam ser ditos como a mesma pessoa por aqueles que só conseguiam olhar sua aparência de quase réplicas, assim como Dumbledore fez.

Isso só provava como Albus era um idiota, pois bastava alguns instantes na mesma sala com qualquer um deles para perceber que nunca deviam ser confundidos.

Claro, Harrison via almas, nunca confundiria qualquer pessoa, mas mesmo assim... o mais diferente neles não era necessário ter nenhum poder especial para notar.

Gellert estava preso, mas não era simplesmente Nurmengard que o selava. Sua própria mente era seu cárcere privado. Lakroff estava livre, se permitia viver apesar de qualquer sofrimento ou arrependimento. Isso lhe dava a chance de crescer e se tornar alguém que Gellert apenas sonharia em ser agora. Os dois fugiram da cadeia, mas Lakroff criara uma nova identidade e se permitiu uma chance de assumi-la para si, com seus lados bons e ruins.

Gellert apenas foi preso de novo idependente de como pudesse se sentir em relação a isso.

Não conseguia pensar em outra solução. Talvez nem se tivesse tentado de verdade. Aquilo era o mais longe que conseguia ver. O máximo que conseguia lutar. Isso dizia muito.

"A morte do homem começa no instante em que ele desiste de aprender" Albino Teixeira.

Lakroff fez esta citação em alguma de suas aulas, lembrava-se disso, pois tinha até mesmo anotado em seu diário e aquele momento fez a coisa piscar na cabeça de Harrison, como uma foto.

"Um homem não está acabado quando enfrenta a derrota. Ele está acabado quando desiste." Richard Nixon, outra citação que causou o mesmo efeito.

Entre "pai e filho", Gellert e Lakroff nunca seriam os mesmos e talvez essa fosse uma parte do que movia a raiva em Lakroff. O ódio que tinha em ser "diminuído" a apenas uma sombra de Gellert quando tinha muito mais a oferecer.

Quando lutava para isso. Era um erudito que estava sempre buscando aprender mais sobre a vida, um vidente que olhava para frente como uma possibilidade, muito mais do que uma certeza, era um lutador que jamais desistia e se arrependia apenas do que fez, nunca do que deixou de tentar.

Mas, no fim, todos apenas diziam "vocês são iguais".

Uma sombra pesada e desagradável.

Seu espírito obsessor.

Harrison suspirou:

— Sim... foi bom vir aqui.

— Por que chegou a essa conclusão agora? – o homem riu, uma expressão curiosa no rosto.

— Ganhei uma peça nova em um quebra-cabeça velho. Estava faltando e me incomodava, às vezes.

— Fico feliz em ter sido útil, então.

— Dito isso, vim atrás de outra peça, lembra? O que aconteceu, de verdade, com Regulus Black? – decidiu ser direto.

— Eu te conto, se me disser o que viu. O que suas visões disseram para te mover até aqui?

— Eu vi Regulus Black. Meu pai. Memórias deles e de James tentando salvá-lo.

— Porque isso é um problema, arauto da morte? Achei que ver memórias dos mortos não o deixaria tão incomodado.

— Esse é o problema. Eu vejo as almas dos vivos. Sou um chacal, um agente da morte, vejo apenas o que se reserva a nós, consigo ver a morte chegando em uma alma, mas principalmente toda a verdade sobre a vida dela. Consigo afastar os fantasmas e consigo, aparentemente, sentir o véu da morte se realmente tentar, mas não vejo do outro lado dela. Isso se reserva apenas à senhora dos mortos. Eu não sou senhor da morte, sou humano e tenho limites de até onde posso olhar. Nunca vi e falei com uma alma morta. Mas falei com Regulus Black. Vi as memórias dele. Não apenas de sua morte, o que sim, é bem normal para mim. Vi sua vida e isso é estranho. Não foi um reflexo de seus últimos momentos, foi mais. A dúvida agora é: eu tenho mais poder do que sei ou não sei algo maior?

— E Lakroff não podia te dar a resposta?

— O ponto é que eu tenho a resposta.

— Um Grindelwald sempre sabe – recitaram juntos.

Hazz sorriu, mas continuou, a expressão endurecendo até o fim da frase:

— Mas se ela estiver certa, então meu tutor está me escondendo algo muito importante a anos.

— Por que isso é importante para você?

— Como não seria?! Minha mãe era uma pocionista incrível e ajudava a cuidar dos feridos da guerra sempre que podia. Ela tinha uma ideia interessante para impedir que a maldição matasse Regulus Black. Se a ideia foi um sucesso, onde está o irmão do meu padrinho?!

— Por que isso importa?

— Ele está vivo – foi uma afirmação.

Mesmo assim, Gellert deu uma resposta estranha:

— Da última vez que seus pais vieram, sim. Ainda.

— Onde ele está? Por que Lakroff me escondeu isso?

— Por quê? Só posso imaginar. Talvez porque você tentaria salvá-lo?

— Ele precisa ser salvo?

— Seus pais nunca descobriram como trazê-lo de volta. Até o último suspiro, eles tiveram de manter o garoto em coma mágico.

— Por que eu não sabia disso?! Quer dizer... Regulus ainda está inconsciente depois de todos esses anos? Lakroff simplesmente... o que? Desistiu dele? – mas aquilo não parecia ser a verdade. Seu tio-avô não desistia até conseguir.

Ou morria tentando.

— Eu podia estar ajudando! Se ele ainda está – mas Gellert fez questão de interromper o bisneto.

— Quantos anos você tem?

— O que isso tem a ver?!

— Quantas coisas você gosta de jogar nas suas costas logo nessa idade, garoto? Quanto do mundo você carrega sem perceber que isso pode te sobrecarregar um dia? Você tem quatorze anos e veja só, está no seu penúltimo ano e porquê? Para que tanta pressa?

Mas o homem arregalou os olhos, então bufou, fechou a boca, mordendo com raiva e desviando o olhar.

Hazz não esboçou reação.

— Você tem sua resposta, não tem? Ou preciso dizer o óbvio?

Gellert pareceu querer responder algo, mas era como se tivesse se esquecido como se faziam frases, ou mesmo sílabas. No fim, negou com a cabeça, parecendo bem abatido:

— Lakroff já tem muito o que pensar e você também. As vezes... só não dá para salvar todo mundo.

O peito de Harrison apertou e o garoto também não tinha mais palavras depois daquilo.

Ficaram em silêncio.

Alguém bateu na porta.

Seu tempo estava acabando:

— Onde ele está? Eu tenho o direito de tentar ajudá-lo. Sou o futuro Lorde Black, se o título servir para algo. Não me importo com o que vocês pensam sobre como levo minha vida. Fiz as escolhas que achava melhores para mim e continuo tentando, mesmo que pareça esforço demais e para nada, foi como decidi que queria levar cada dia. Como se fosse meu último. Por isso a pressa! Eu estava suportando em um dia e no outro tinha matado mais pessoas do que conseguia calcular e meu corpo tinha sido destruído por chamas. Eu não me importo com o peso nas minhas costas, me importo de ser levado sem ter feito nada antes disso.

— Então você quer fazer tudo?

— Sim! E se eu quero colocar mais um peso nas minhas costas ou não, é problema meu! Se estou aguentando andar, é porque ainda não está pesado o bastante!

— Compensa uma vida com as costas doendo? – e havia muita dor naquelas palavras. – Você não merece uma vida tranquila depois de tudo isso?

— Deixe a vida tranquila para os velhos. Eu sou jovem, quero o caos!

A resposta bem humorada, ao menos, pareceu diminuir um pouco da tensão entre eles.

Coloque humor nas piores situações e ria da desgraça, era assim que funcionava um bom Grindelwald.

— Outra que – continuou, baixinho, como se fosse um segredo. – Minhas costas estão bem. Eu tenho muitas pessoas que dividem o peso comigo.

— Mesmo assim...

— Vovô. Por favor – implorou.

Gellert suspirou, parecendo ainda bem incomodado:

— Eu acho que você tinha que deixar Lakroff cuidar disso, mas se não posso te convencer disso...

— Não pode.

— Eu tinha investido muito em medicina trouxa antes de ser preso.

— Espere... Ele está no mundo trouxa?!

— Se tudo estiver como seu pai deixou? Sim. Lorde Voldemort nunca procuraria por lá, não acha?

-x-x-x-

— Puta merda – disse Remus pela, talvez, vigésima vez.

Sinceramente, Harrison não estava contando, mas notava uma vez que não era acostumado em sua casa a ouvir termos mais chulos, ainda mais de um de seus responsáveis, mesmo que estivesse distraído encarando o irmão de seu padrinho, inconsciente em uma maca de um dos hospitais que sua família tinha ligações financeiras.

Foi relativamente fácil achá-lo nos cadernos de contabilidade depois que sabia o que procurar.

Diego parou em um canto do quarto, parecendo também bem surpreso com o rumo que tudo levara, mas Remus Lupin era o pior.

Seu humor poderia-se descrever com algo como: completamente sem chão.

— Puta merda – repetiu, de novo, colocando a mão na boca, depois bagunçando o cabelo.

Que já estava tão desalinhado que logo começaria a cair.

— Onde está Lakroff? – o lobisomem perguntou e havia um toque de raiva na voz.

Harrison suspirou:

— Não tenho ideia, ele disse que não demoraria tanto, sinceramente já estou ficando preocupado, então por favor não piore isso.

Lakroff não respondia e Harrison ainda estava sem seu medalhão, o que queria dizer sem Tom. Estava se sentindo mal o bastante e não queria se arrepender de ter chamado o Lupin.

— Sirius vai ficar louco!

Harrison o encarou indignado:

— Você não vai contar para ele!

— Por que não?!

— Você não conhece seu próprio noivo?! Caramba, meu pai escondeu essa merda dele porque sabia como Sirius ficaria. Já fazem quinze anos que Regulus Black está em coma e, até onde sabemos, não há nada que tenha mudado em todo esse tempo! Para os trouxas, isso já seria motivo para desligar os aparelhos e desistir. Ele já teria sido dado como morto e você quer dar esperança a ele a troco de nada?! Se meu tio-avô não achou uma solução até hoje, e te garanto que ele deve ter se matado tentando, então não será a coisa mais fácil do mundo! Você vai ficar quieto!

— Eu não posso simplesmente esconder algo assim do meu noivo! É o irmão dele! Sirius morreu quando soube que Regulus tinha partido!

— Mas sobreviveu, olha só! Se queremos evitar uma segunda morte psicológica, não vamos dizer nada. Aprenda a guardar um maldito segredo, não me importo!

Harrison estava tenso e, sinceramente? Estava começando a entender bem porque Lakroff manteve aquela merda toda apenas para si.

— O que vamos fazer?

— Agora? Esperar meu avô voltar e descobrir o máximo que sabemos, então tentar mais. É tudo que podemos.

Mas Harrison tinha Tom, talvez... só talvez eles tivessem uma chance melhor.

Apesar de que, se fosse o caso, o maldito vidente já teria pedido sua ajuda ou da horcrux.

A coisa era pior do que parecia e já estava bem ruim, se pudesse dizer alguma coisa.

Houve uma longa pausa, onde todos apenas ficaram presos em seus próprios pensamentos e Harrison tentou vasculhar tudo que sabia, mesmo assim sentia que não levaria a lugar nenhum.

Diego, que se manteve em silêncio até então "saboreando" um péssimo lanche que conseguiu da cantina do hospital, estava um pouco impressionado.

A única vez que vira dois bruxos agirem com tanto pânico e desnorteados, foi quando a vida de Harrison estava em perigo por conta daquele maldito orfanato e da tentativa de assassinato com fogo. Naquela época, Lakroff e o menino não tiravam as caras sérias enquanto pensavam nas cicatrizes.

Em qualquer outra situação ao longo dos últimos anos, levando em conta ainda seu pai adotivo e sua juventude quase eterna, a magia parecia à Diego capaz de qualquer coisa.

Mesmo que às vezes não fosse a opção mais prática.

Ele e os irmãos criaram uma tradição de natal. Magia contra tecnologia. Onde Heris e Harrison competiam um contra o outro para dizer quem tinha o melhor recurso, trouxas com tecnologia ou bruxos com magia. Alice escolhia três feitiços aleatórios todo natal e os meninos passavam o restante do ano decidindo como poderiam provar seu ponto. Todos votavam, Lakroff, Heris, Alice, Harrison, Diego e os elfos. Nove votos. Quem recebesse mais, ganhava a competição daquele ano. Lumos perdeu para os sistemas de iluminação trouxa que tinham lanternas mais potentes, com alcance maior, podiam ser programados para funcionar com um bater de palmas e controlavam a iluminação de diferentes cômodos da casa simultaneamente sem que o trouxa precisasse estar presente como um bruxo devia.

Isso, somente um exemplo de uma competição extensa e acirrada.

Dito isso, magia era capaz de tudo, isto se tornou uma certeza na cabeça do trouxa, apenas os bruxos estavam atrasados vez ou outra e ainda não tinham aproveitado-a o bastante.

Como o correio.

Heris deu boas risadas quando percebeu que bruxos tinham um sistema de pombos até hoje.

— O caso dele é tão ruim? – sua curiosidade natural o impedia de não questionar nenhuma vez aquela ansiedade toda.

Remus, o noivo do padrinho de Harrison, deu um gemido e repetiu as palavras "merda fodida". Ao menos estavam criando variações agora. Talvez estivesse começando a se adaptar à sua nova realidade.

— Inferi – Harrison começou a responder, se levantando e indo até a janela inquieto – São cadáveres. Defuntos enfeitiçados para cumprir ordens de um bruxo das trevas. Regulus Black recebeu uma maldição que ao morrer tornaria-o um Inferius.

— Certo, mas ele não morreu – disse, o que parecia óbvio.

— Ele foi reanimado. Meu pai o reanimou, mas a maldição já tinha começado.

Diego, novamente, deixava a boca trabalhar na mesma velocidade que a mente, não o bastante para filtrar o que deveria ou não ser dito:

— Então a maldição não se encerraria? Se ele está vivo, não pode ser reanimado em um cadáver das trevas. As coisas se chocam, não?

Harrison abriu a boca para responder algo mas a fechou. Remus olhou de um para o outro irmão Mitrica por um longo tempo.

Estavam pensando naquelas palavras.

Mesmo?

Só Diego estava confuso com aquilo?

Não Harrison aparentemente também tinha chegado aquela mesma dúvida.

Um paradoxo.

Remus questionou:

— Isso faz sentido?

Por algum motivo olhou para Diego ao perguntar, por isso o trouxa se deu ao trabalho de responder:

— Do meu ponto de vista é meio óbvio: se a maldição serve para animar um cadáver, basta que não haja um cadáver que não funciona.

Harrison negou com a cabeça:

— Meus pais tiveram de colocá-lo em coma mágico ou a maldição alcançaria Regulus de toda forma.

— Quem usou a maldição?

— Voldemort.

— E você não sabe o que foi que ele fez exatamente?

— Voldemort era um bruxo muito poderoso, muitas das coisas que fez na primeira guerra ainda são mistérios – explicou Remus, sem necessidade.

Mas Diego concluiu que o homem não sabia da horcrux.

Uma coisa que deveria saber como reverter uma maldição que ele mesmo lançou. Não é mesmo?

Mesmo assim Harrison estava com uma careta cobrindo as feições e andou até Regulus. Ou melhor, até o aparelho que sinalizava seus batimentos cardíacos, encarando como se pudesse lhe dizer a resposta para fugir daquela encruzilhada.

Diego se aproximou do irmãozinho:

— O que foi?

— A maldição só funciona se ele morrer, você está certo, então meus pais precisavam mantê-lo vivo.

— Sim.

— Mas eu não posso acordá-lo.

— Porque ele vira um zumbi oficialmente, um morto trazido à vida – Diego teorizou e deu de ombros quando os dois bruxos o encararam. – O que foi? Vocês sabem o que é um Zumbi, não é? Madrugada dos mortos e tudo mais?

Remus encarou Harrison cruzando nervosamente os braços:

— Esse humor é realmente coisa de família.

— Isso nem chega perto do que chamamos de humor. Isso foi só um comentário – dispensou, olhando para o irmão mais velho. – Continua, preciso pensar.

— Tudo bem, vejamos. Se Regulus morreu e foi amaldiçoado, quando seu James Potter reviveu ele, Black acabaria voltando como Inferiu já que esse é o princípio da maldição. Um morto ser "ressuscitado" – e abriu as aspas com as mãos. – É um paradoxo. Se morre é amaldiçoado, ele foi, se é reanimado a maldição persiste porque morreu e voltou. Se o matamos, ele volta. O coma é a única opção, mas não salva ele, apenas evita o destino de Zumbi. Mas ele já está vivo a muito tempo, isso é curioso. Algo já teria que ter mudado. Vocês bruxos não podem virar fantasmas? Não sabem um pouco mais sobre isso? Regulus está sendo segurado pela maldição?

Hazz corrigiu:

— Pelo coma.

— Que também o segura vivo, mas sem poder acordar nunca – acenou apontando para o homem em coma. – Ele é um paradoxo e acho que por isso meu pai não achou a resposta ainda.

— Pode não ter resposta ou pode ter várias, nenhuma necessariamente satisfatória.

— Estão dizendo que não tem chance? Regulus vai ter que ficar assim para sempre?

Harrison negou.

Diego dispensou com um movimento de mãos:

— A melhor resposta não é deixá-lo assim, é cruel. Compensa sacrificar destruindo o corpo, para dar alguma paz, desse jeito não está indo nem voltando.

Enquanto Remus olhava indignado para o militar trouxa, Harry ignorava tudo perdido encarando aquele homem preso no tempo e espaço.

Regulus Black.

James Potter realmente tentou salvá-lo, mas será que tirá-lo do lago fez alguma diferença?

O maldito homem parecia não ter saído dos seus dezoito anos nem por um fio de cabelo. Claro, era um coma mágico, mas era absurdo pensar que aquilo foi possível e para que?

Onde tudo isso levaria?

Lakroff nunca contou nada a Harrison...

Talvez nunca tenha tido qualquer visão sobre o garoto Black. Estaria insistindo apenas em nome de James, mas era Lakroff. Uma pessoa pragmática apesar de tudo. Em algum ponto chegaria a conclusão de que era melhor deixar Regulus partir.

O que o mantinha ali?

O que trouxe Harrison até ali?

A alma daquele homem.

A pessoa que viu na mansão Black.

Algo que não estava naquela maca naquele instante.

Regulus Black, deitado com seu rosto angelical imaculado pelo mundo à sua volta, estava sem alma.

Isso era pior ainda.

"Onde você está?" perguntou, olhando preocupado para a ausência de algo que sempre deveria estar lá.

Nos vivos.

"Mas se ele estivesse morto, se tivesse passado pelo véu, a maldição já teria feito-o levantar-se e ir para o lago".

Era tudo tão confuso. Nem um, nem outro.

Uma preocupação chata e agonizante o rondava.

"É por isso que foi me ver?" Porque Regulus Black tinha ido até sua antiga casa, porque apareceu para Harrison? "Você quer que desliguem os aparelhos? Quer passar pelo véu?"

Porque aquela era uma possibilidade. Um corpo cuja alma vagava escondida onde os olhares das pessoas comuns não podiam enxergar. Perdido, sem rumo. Um destino cruel. Mesmo assim...

Um sonserino, alguém que se sacrificou para parar o lorde das trevas, merecia ser salvo se tivesse qualquer chance. Quanto tempo valia tentar?

Uma escolha difícil.

Cruel.

Lakroff não quis colocá-la nas mãos de mais ninguém. Guardara para si e apenas para si esse fardo. Agora Harrison entendia.

Mas tinha uma coisa que talvez nem seu tio-avô notara.

Havia magia.

Um bruxo tinha sua alma e magia presos, eram como um só, mesmo assim havia magia em Regulus Black enquanto sua alma não estava lá. Aquilo era perturbador e muito confuso para sua cabeça.

Se sentia olhando para um zumbi, assim como Diego dissera, mesmo que não visse as feridas de Inferi que sabia que tinha por baixo de ataduras.

James tinha errado tanto que havia prendido um homem ao limbo?

Mas Lakroff era um Grindelwald e... Grindelwalds sabem.

Um Grindelwald está pronto para tomar as decisões difíceis, mesmo que sejam mariposas insistentes. Lakroff não saberia dizer quando seria o momento de desistir? Ou estava mais focado em insistir por alguém que sentia que devia algo?

Harrison foi para a janela e a abriu, precisava de ar.

Remus estava andando de um lado para o outro agora, parecendo um maldito cachorro perdido.

James Potter queria tanto proteger Regulus, desejava tanto não falhar em salvá-lo, que o prendeu a uma falsa esperança naquela insistência tão característica de uma mariposa? Mesmo que fosse apenas por casamento. Aquilo era possível para James... mas e Lily?

Foi ela que colocou o garoto em coma.

Sua mãe, não James.

Lilian. Aquela que desafiou e mudou os planos do próprio destino. Um Grindelwald e uma Mitrica! Um chacal que... não temia a morte. Não lutaria contra ela de forma tão inútil, mesmo que fosse destruir o marido, seria sábia.

Ela se permitiria esperança, manter Regulus ali, se não fosse possível ajudá-lo? Se não tivesse uma prova?

Qual era a prova que sua mãe encontrou?

— Puta merda – suspirava Remus.

Harrison também suspirou.

Que droga, onde estava Lakroff?! Ele teria as respostas. Aquele maldito chacal não achava que era a hora de levar a alma de Regulus Black, então que se explicasse!

Mas ele não atendia.

Estava sumido, longe do alcance das tentativas de contato de Harrison. Até seu Patrono.

O que estava acontecendo com ele? Porque ele não atendia?

O sol estava laranja no horizonte.

-x-x-x-

Marvolo sabia, sabia que sua magia estava no fim, conseguiu sentir isso quando parou o Cruciatus depois de um longo minuto inteiro.

As maldições eram as piores nessa fase pós absorção. Elas o destruíam. Estava sentindo dores em lugares que não devia, sua cabeça estava prestes a rachar, sentia como se isso fosse um fato, e sua magia estava se dissipando pelo ambiente como uma névoa, não aguentaria mais.

Sua respiração era um sacrifício à parte.

Cada lufada de ar exigia tanta força que se não fosse pela beleza de ouvir Lakroff Mitrica gritar, não teria nem tentado manter a maldição por tanto tempo.

Inspirou, dor, dor por todo canto.

Ele próprio queria gritar, mas não se deixaria cair.

Era vencedor, apesar de tudo.

Como sempre.

Apontando a varinha para Lakroff Mitrica pensou em usar a própria maldição mostrada pelo homem. Apenas para que perdesse a consciência sabendo quem era Lorde Voldemort de verdade. Um bruxo capaz de aprender, um vencedor e um sobrevivente hábil em todas as magias que não podia ser derrotado. Mas não.

Um feitiço simples, um que tinha certeza que conseguiria soltar com o pouco de magia que ainda guardava, apenas para acabar com aquele bruxo e com aquela coisa que estava fazendo que só piorava sua instabilidade já afetada, isso era o bastante:

Estupefaça! — a magia saiu com um raio contra o alvo e o atingiu.

O fazendo se despedaçar.

Marvolo arregalou os olhos tão espantado que sua mão tremeu.

Diante dele o corpo de Lakroff Mitrica havia se tornado rocha sólida e sua cabeça despedaçara-se com o feitiço que o atingira.

— Sabe, colocar magia o bastante em um golem para te enganar e não me notar em outro lugar foi uma droga, que bom que treinei bastante para conseguir fazer tão rápido que você nem notou — comentou Lakroff, como se comentasse o clima, escondido onde Voldemort não conseguia vê-lo.

Finiti Encantatem! — tentou para revelar o bruxo, não funcionou e só fez respirar parecer que estava inspirando pó ácido pelas narinas.

— Estou usando uma capa e com isso, acho que você não aguenta mais, estou achando que vai acabar desmaiando sem que eu precise fazer isso por mim mesmo.

Voldemort tremeu e caiu de joelhos no chão, sentindo as ondas do tapete, o veludo grosso nele, o sangue escorrendo por seus olhos.

Era isso que estava ardendo antes.

Seus olhos estavam sangrando.

Ele tossiu e uma bola muito parecida com a de Theomore saiu de sua boca para o carpete manchando sua visão turva.

"Não, não, não" pensava repetidamente diante de sua condição.

Ele não podia morrer agora.

Ele não queria morrer.

Não ia!

Accio capa de invisibilidade! — ele viu quando um canto da sala pareceu ficar onduladamente estranho e apontou a varinha para lá — Avada Kedavra!

Ele não se importava mais com Grindelwald, nem com seus segredos, podia dar um jeito depois, ele sempre dava, mas tinha que fugir e aquele homem não podia segui-lo.

A maldição acertou a parede e fez um pequeno buraco enegrecido.

Lakroff Mitrica estava alguns metros ao lado, percebeu quando o homem despiu de própria vontade a capa:

— Você prefere matar a si mesmo do que deixar que eu o mate?

Marvolo sentiu um puxão no umbigo pelo qual foi sugado, mas algo deu terrivelmente errado e foi expelido sentindo seus ossos racharem e sua carne se distorcer pela força de um estrunchamento.

Não tinha conseguido aparatar.

Pior, tinha estrunchado. Só podia sentir o quão ruim tinha sido para seu corpo desaparatar daquela forma.

Ele vomitou e balançou, as mãos no chão tão fracas que só conseguiu força para se jogar para o lado e não cair nos próprios excrementos.

— Bartô Crouch te entregou o diadema, milorde, mas eu garanti que haveria com ele uma maldição que você poderia deixar passar, por achar que era parte de suas proteções, isso se notasse. Foi apenas uma garantia a mais. E serviria apenas caso você tentasse reabsorver as horcruxes — ele se aproximava, um feitiço desarmante não verbal fazendo a varinha de Voldemort vítima do bruxo, uma vez que não teve qualquer força para impedir. — Meu neto sempre acreditou que você estava absorvendo-as. Mesmo que tudo, até você pudesse dizer o contrário, decidi confiar em seus instintos e pensar bem sobre isso. Fazia sentido, então porque não me aproveitar disso? Você está sofrendo agora de uma maldição feita por ele, algo que afeta a própria alma do bruxo. Que acorrenta uma alma. É bem cruel, já foi usada na própria família, se mostrou bem eficaz.

Apesar de toda a dor que sentia, Marvolo não queria (não podia) se deixar ficar inconsciente. Enquanto estivesse acordado ele tinha que ter como lutar. Ele sempre lutava e tinha como vencer.

Era sua única chance.

"Eu não quero morrer" seus pensamentos o machucavam.

Marvolo só fechou os olhos porque eles não paravam de sangrar, então sentiu pesar por si mesmo. E raiva.

Não tinha perdido para Lakroff Mitrica, mas para si mesmo.

Se nunca tivesse partido sua alma.

Se nunca tivesse optado por continuar com esse duelo, se tivesse fugido assim que notou a armadilha, se não confiasse que ganharia mesmo depois de um ritual de absorção.

Se nunca tivesse se partido.

Lakroff Mitrica sabia sobre sua alma, desde o princípio o pegara em seu momento mais vulnerável. Era um covarde que não ganharia em uma luta justa.

Apenas tinha usado todas as decisões ruins de Marvolo contra ele mesmo.

Lorde Voldemort...

Poderia ter seu fim em suas próprias mãos? Seu fracasso...

Thaar-Eka-Vesha — Marvolo ouviu Lakroff dizer, mas não sentiu nada, nem parecia um encantamento, apenas uma fala.

Não reconhecia a língua.

Grindelwald estava perto e se abaixou para olhar bem para Marvolo:

— Bombarda, Reducto, Confringo, Estupefaça, Expulso. Aquele maldito candelabro. Qualquer coisa explosiva ou de contusão, quebram a marionete de pedra que fiz. É um feitiço muito velho, das civilizações do Vale do Indo, mais de 3000 anos antes de cristo. Coisa velha, datada. Só que... Como tínhamos conversado antes, funciona muito bem hoje em dia. Principalmente contra aqueles que gostam de maldições e causar dor, mais do que simplesmente estourar seu inimigo para longe, entende? Achei que funcionaria contra você — ele apontou sua varinha para Voldemort. — Mas as sombras foram uma surpresa, quando elas quebraram a mão da marionete achei que você pegaria, mas se focou em me causar dor então foi fácil mandar que ela se encolhesse e escondesse a mão destruída. Últimas palavras?

Voldemort não queria morrer.

Seu coração estava disparado e ele estava em uma agonia tão forte de dor e sofrimento que sua boca abriu sem que percebesse em um sussurro:

— Não...

Não viu quando Lakroff sorriu, mas sabia, pelo tom de sua voz quando tocou as costas de Riddle com a varinha:

— A menos, milorde — sussurrou, de forma dócil, porém fria como uma nevasca indomável. — Que esteja disposto a não morrer.

VOTE no capítulo se gostou, não esqueçam de deixar as considerações finais e até a próxima!

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