O Homem
Trenton entendeu a mensagem mais rápido que Nathan. Ele agarrou seu braço e o puxou para fora do estacionamento. Eu esperei para dar uma vantagem a eles e, então, comecei a correr também.
Ouvi os passos acelerarem atrás de mim e sabia que o homem e os fantasmas também estavam vindo.
— O que diabos é aquilo? — eu gritei para Jessamine.
Ela também corria para me acompanhar ou, talvez, aquela coisa também pudesse feri-la de alguma forma. Será que era ele? A pessoa que estava afetando o Outro Lado? Ele tinha os olhos brancos dos fantasmas que me atacaram no outro dia, mas Nathan e Trenton podiam enxergá-lo.
Uma anomalia.
— Eu não sei! É uma pessoa, mas o que está dentro dele- — Jessamine nunca terminou sua frase, porque ela desapareceu.
— Jessamine? — gritei para uma rua escura na qual entramos.
Ninguém respondeu. Eu também não parei para procurá-la, só esperava que fosse um dos seus sumiços comuns e que ela não tivesse partido para sempre. Eu estava quase me acostumando com sua presença irritante.
Continuei correndo. Acabei alcançando Nathan e Trenton, porque Nathan já estava sem fôlego. Nós paramos em uma rua deserta que ia para o porto de Nova York. Olhei para trás e os nossos perseguidores ainda vinham na nossa direção, mas estavam distantes. Ainda sim, eu consegui sentir os olhos brilhantes do homem fixos em mim. Um arrepio subiu pelos meus braços.
— Quem é esse cara?! Ele não deveria ter um pouco mais de respeito por vocês, digo, vocês não são policiais?! — Nathan gritou e sua respiração estava pesada.
— Ele não é uma pessoa comum e... Bem, ele está acompanhado por outros fantasmas. Eles têm esses olhos brancos e não são almas comuns. Elas estão corrompidas e acho que são capazes de machucar humanos — falei resumidamente. Trenton e Nathan arregalaram os olhos.
Passei a mão pelos bolsos do meu blazer, procurando por sal. Mas, claro, eu havia deixado no carro, porque pensei que não poderia ser atacado duas vezes no mesmo local.
— O que fazemos? — Trenton perguntou.
Olhei para o outro lado da rua. Havia um galpão enorme e abandonado. Era uma ideia arriscada encurralar eles ali dentro. Se a coisa de olhos brancos era um homem, ele podia ser facilmente nocauteado, mas e as almas? Como eu me livraria delas? Eu lembro vagamente do comando que Jessamine fez para expulsá-los e ela mal teve tempo de me ensiná-los.
Eles servem apenas como um auxílio para focalizar nosso poder real, ela havia me dito isso naquela noite. Espero que meu poder real seja o suficiente para isso.
— Venham! — corri para o galpão e eles vieram atrás de mim.
Eu só precisava que Trenton e Nathan ficassem em um local seguro. Trenton poderia proteger Nathan. Ele era um civil e a primeira coisa que aprendemos na academia de polícia é que devemos proteger os civis, mesmo que ele seja um filho da puta. Eu também não queria que Trenton se machucasse.
— Aqui — eu me escondi atrás de um pedaço de metal.
Nathan encostou no metal que provocou um barulho alto.
— ISSO É MAIS DIVERTIDO NA TV!
Saquei minha arma e me levantei.
O homem foi o primeiro a chegar. Havia pouca luminosidade dentro do galpão. A única luz vinha da lua e de alguns postes da rua, assim eu conseguia enxergar apenas alguns traços do rosto do homem. Ele tinha cabelos grisalhos, rugas no rosto e aqueles olhos brancos que não eram normais. Provavelmente estava na casa dos sessenta. Ele me parecia familiar, mas não podia dizer onde o tinha visto.
As quatro almas chegaram logo atrás dele. Eram três mulheres e um homem. Todos de peles pálidas e secas como se estivessem em processo de decomposição. Uma das mulheres usava um sari indiano.
— Nathan, fique abaixado! — falei — Trent? Preciso que cuide do homem. Ele não está armado. Eu vou...
— Está bem — Trent não esperou eu explicar, apenas avançou até o homem.
As almas vieram na minha direção. Eu corri até o outro lado do galpão. Joguei a arma para o lado, porque ela seria inútil contra os mortos. Tudo que eu podia contar era um poder que eu mal sabia controlar.
Elas me encurralaram em um canto cheio de barras de metal. Eu parei e olhei para aquelas almas. Elas pareciam vivas, vivas como Jessamine, mas havia algo não-natural naquele modo de andar. Era quase como se elas estivessem sendo controladas.
— A quem vocês servem? — perguntei.
A mulher de sari não respondeu, apenas avançou em um movimento rápido e enfiou a mão no meu peito. Eu arfei. Senti novamente aquele medo irracional. A vontade de ser consumido e deixar ser consumido.
Sim, aqui está uma chance de deixar esse mundo que não pegou leve com você, Russell. Que nunca vai deixar as coisas leves para você.
— Montague! — Ouvi Nathan gritar e isso me trouxe de volta para a realidade.
A outra mulher que vestia um terno também veio na minha direção, mas antes que pudesse me atacar, eu me levantei e ergui a minha mão como Jessamine fez. Parecia idiotice, ainda mais enquanto todas minhas forças estavam sendo drenadas e o chão parecendo que iria ceder sob os meus pés.
Eu fechei os olhos. Senti aquelas quatro almas invadirem meu corpo, mas continuei me concentrando. Rangi os dentes. Vão. Tentei imaginar o Outro Lado. A fenda entre nosso mundo e o deles. Voltem para lá. Então, pensei em Jessamine. Pensei na força dela somada à minha e, por um momento, pude jurar que a força dela realmente estava ali comigo.
Tudo ficou branco e a angústia sumiu. Soltei o ar, aliviado, e fui direto para o chão, mas mal tive tempo de alcançá-lo, porque duas mãos me pegaram e me jogaram contra as barras de metal.
Olhei para cima e vi o homem. Ele levou um soco no olho e a boca sangrava, porém sua expressão era impassível. Os olhos brilhantes continuavam ali. Ele me jogou contra a parede.
— Se renda — ele disse e empurrou as mãos contra meu pescoço.
— Quem-quem te enviou? — gaguejei, porque suas mãos começaram a apertar minha pele. O ar começou a ficar rarefeito de novo.
— Se renda — repetiu.
As mãos me apertaram ainda mais. Senti o sangue pulsar no meu cérebro. Eu não conseguia respirar. Meu corpo doía. Tentei levantar minha perna para chutá-lo, mas ainda estava fraco depois de mandar aquelas coisas embora.
Então, o sangue espirrou pela minha camiseta e o aperto enfraqueceu. O homem caiu sob os meus pés. Eu tomei o ar e ergui os olhos para ver Trenton com a pistola apontada na direção do homem.
Ele correu até mim e colocou a mão no meu ombro.
— Você está bem, Russ?
Assenti. Virei para o homem caído no chão. Seus olhos não estavam mais brancos. Ele parecia apenas um homem comum agora.
— Ah, meu Deus — Nathan saiu de trás do suporte de metal — É o senhor Eddie.
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