Capitulo Quarenta e Cinco
Victor Jones:
Meteora estava além da fúria; sua expressão era um retrato vívido de indignação contida e frustração acumulada. Seus olhos, brilhando com uma raiva intensa, fixaram-se impiedosamente em Merlin, que se atreveu a cruzar o pátio naquele momento carregado de tensão.
Com uma postura digna de uma adulta responsável, Meteora iniciou sua reprimenda com um tom que poderia ter feito qualquer mãe se orgulhar. Ela não poupou detalhes, destacando como havíamos mentido sobre nosso destino e enganado Erick de maneira flagrante. Não deixou Duncan de fora, insinuando que ele havia contribuído para um plano que poderia ter resultado em um desastre total. Meteora sublinhou a importância de nunca mais confiar em ninguém e, com um toque dramático, sugeriu que Erick havia violado a Lei e que poderíamos ser expulsos da ordem mágica.
Para piorar a situação, Meteora apontou diretamente para Rebecca, deixando claro que ela não escaparia das consequências caso sua ajuda fosse descoberta.
Finalmente, quando ela se acalmou, Meteora voltou seu olhar penetrante para mim. Sua voz, firme e carregada de censura, cortou o silêncio.
— Você colocou inúmeras vidas em perigo com sua decisão impulsiva. Não vou permitir que você aja como se não houvesse risco. Você poderia ter sido morto — Meteora advertiu, sua voz carregada de preocupação e descontentamento. — Se o irmão de Seniana não tivesse recusado ou se Maya e Ravan estivessem dispostos a atacá-lo...
Tentei me defender, tentando explicar meu ponto de vista.
— Eu não planejei isso — respondi, minha voz cheia de frustração. — Não posso ficar parado enquanto todos me mantêm no escuro. Eles querem que eu ajude o mundo mágico, mas não me contam nada. Eu precisava agir por conta própria.
Meteora parecia prestes a explodir.
— Você ainda é uma adolescente, se bem me lembro — ela disparou com raiva. — Não compreende o risco que corre.
Mantive minha postura firme.
— Estou tentando ajudar. Há poucos dias, me tratavam como um troféu, e agora, quando precisam de mim para salvar vidas, me deixam no escuro — retorqui, meu tom cheio de indignação. — O único que acreditou em mim foi o rei dos espíritos, que agora detesta fazer acordos com outras raças por causa do que aconteceu entre os feéricos e os dragões.
Meteora respirou fundo, claramente reavaliando suas palavras. Ela tinha mais a dizer, mas parecia contenha.
Enquanto Meteora permanecia em silêncio, eu continuava a refletir sobre as palavras não ditas, especialmente aquelas relacionadas a Seniana e a verdade sobre seu passado. Eu sabia que ela poderia estar prestes a revelar esses eventos ao rei.
Meteora, agora visivelmente exausta, ainda não havia terminado. Ela caminhou até uma mesa próxima e apoiou as mãos, olhando para mim com um misto de frustração e preocupação.
— A questão não é apenas sobre suas ações — ela disse, sua voz mais baixa, mas carregada de peso. — É sobre as consequências que elas podem trazer para todos nós. Você pode não perceber agora, mas suas decisões têm um impacto muito maior do que imagina.
Eu tentei argumentar novamente, sentindo a pressão e a tensão se acumularem.
— Mas eu estava tentando fazer o melhor que pude! — Eu exaltei. — Eu não podia simplesmente esperar enquanto todos me mantinham alheio ao que estava acontecendo. Era como se eu estivesse preso, incapaz de ajudar.
Meteora balançou a cabeça, como se minhas palavras não fossem suficientes para mudar sua opinião.
— Entendo que você queira ajudar, mas a impulsividade pode ser perigosa. Você não pode simplesmente agir sem considerar as consequências. Às vezes, o melhor a fazer é esperar e obter as informações corretas.
Rebecca, que estava em silêncio até agora, decidiu se manifestar.
— Meteora, eu entendo a preocupação, mas Aaron está certo sobre um ponto — ela falou com uma voz calma, mas firme. — A falta de comunicação da parte deles também contribuiu para essa situação. Eles foram deixados no escuro, e isso os forçou a agir por conta própria.
Meteora lançou um olhar crítico para Rebecca, mas parecia contemplar o que havia sido dito.
— Eu entendo que há falhas de comunicação, mas isso não justifica a maneira como as coisas foram conduzidas. Estamos lidando com forças muito maiores do que nossos erros pessoais — respondeu Meteora, sua voz carregada de cansaço. — No final das contas, todos nós precisamos trabalhar juntos e evitar que essas falhas se tornem catástrofes.
Havia uma pausa pesada na conversa, enquanto todos refletiam sobre as palavras de Meteora. Eu percebia a magnitude das palavras não ditas e o peso das responsabilidades que carregávamos.
Finalmente, Meteora respirou fundo e olhou diretamente para mim.
— Eu vou discutir essas questões com o conselho. Pode ser que haja algum espaço para reconsideração, mas precisamos de uma solução que não comprometa a segurança de todos. — Ela fez uma pausa, parecendo pesar suas próximas palavras. — E, enquanto isso, espero que você entenda a gravidade do que está em jogo e tome um tempo para refletir sobre suas ações.
A tensão no ar era palpável. Eu sabia que ainda havia muito a ser discutido e resolvido, e o silêncio que se seguiu parecia ser um momento de reflexão para todos nós.
Eu encarei Meteora, tentando absorver a importância de suas palavras e o peso das responsabilidades que agora pesavam sobre meus ombros. A discussão havia terminado por enquanto, mas eu sabia que a jornada para resolver essas questões estava apenas começando.
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Depois de tudo o que havia acontecido, fui para o meu quarto e tomei um banho, removendo a roupa destruída e a sensação de opressão que carregava. Deitei-me na cama, contemplando o intricado padrão do teto, minha mente uma tempestade de pensamentos caóticos. A porta se abriu silenciosamente e a voz de Merlin soou, suave e preocupada.
— Acordado? — Ele espiou pela porta entreaberta. — Tem refletido sobre o que aconteceu?
Suspirei, sentando-me e olhando para meu amigo que entrava no quarto.
— Estou exausto com toda essa situação. Tenho poderes, mas todos parecem me tratar como se eu fosse de cristal — desabafei, lançando-me de volta na cama. Merlin se acomodou ao meu lado, seu olhar atento e compreensivo.
— Talvez você esteja sendo duro demais consigo mesmo — Merlin disse com uma voz suave, quase como um bálsamo que aliviava a dor interna.
— A pressão que estão colocando sobre mim é esmagadora. Esperam que eu seja o guardião, o protetor dos indefesos e da ordem do mundo. Estou cansado de ser colocado em um pedestal inatingível e de nunca conseguir corresponder às expectativas que criaram para mim — respondi, minha voz carregada de frustração.
Merlin ponderou por um momento, observando suas próprias mãos, marcadas por pequenas cicatrizes, mas ainda jovens e sem rugas. Finalmente, ele deitou-se ao meu lado, e nossos olhares se encontraram.
— Quero que saiba que te vejo como um rapaz real, alguém que cuida dos amigos, teimoso e complexo quando se arrisca mais do que deveria — Merlin murmurou, sua voz carregada de sinceridade.
Senti um calor reconfortante percorrer meu corpo ao olhar nos seus olhos, e eu sussurrei, com o coração acelerado:
— Eu te vejo como mais do que apenas o Merlin que os outros veem. Acredito plenamente no seu potencial, tanto como pessoa quanto como mago.
Merlin se aproximou ainda mais, a proximidade nos fazendo esquecer um pouco da fadiga que nos envolvia. Seus olhos estavam sombrios, mas havia uma tristeza que parecia preencher o espaço entre nós. Apoiei minha cabeça em seu peito, e nos deitamos, pressionando nossos corpos juntos no travesseiro.
Para minha surpresa, ele inclinou-se e depositou um beijo suave em minha bochecha. O toque foi delicado, como a leveza de uma borboleta, e quando ele se afastou, eu sabia que meu rosto estava ruborizado.
Então, de algum modo, estava em seus braços, e ele me beijava. O beijo começou rígido, como se ele estivesse lutando contra seus próprios sentimentos, mas logo seus lábios se suavizaram, e eu senti a aceleração dos batimentos cardíacos. O gosto doce de seus lábios se misturou com o meu, e passei minhas mãos em seus cabelos, algo que havia desejado desde o nosso primeiro quase-beijo. Seus cabelos eram finos e sedosos, enrolando-se em meus dedos enquanto nos beijávamos.
Merlin se afastou de repente, com uma expressão de surpresa, mas ainda mantendo os braços ao redor da minha cintura.
— Eu... — ele começou, a voz trêmula e cheia de emoção.
— Eu adorei o beijo — disse tranquilamente, e ele acariciou meu rosto com ternura.
— Victor, eu sei que você está com a cabeça cheia de preocupações neste momento, mas quero que saiba que tudo vai dar certo no futuro. Você tem apenas dezesseis anos e acabou de entrar no mundo mágico — Merlin falou com gentileza, entrelaçando seus dedos nos meus. — Eu sempre estarei aqui para você. Entendo que você está com raiva de Meteora por mantê-lo no escuro, mas ela está fazendo o melhor que pode com a situação.
Baixei a voz, sentindo o peso das palavras de Merlin.
— Eu entendo que ela está se esforçando dentro das limitações que enfrenta, mas quero que ela confie em minhas habilidades e no que posso fazer com o que tenho.
Merlin soltou um suspiro, seu rosto refletindo um misto de dor e satisfação.
— Ela sempre fez o possível para ajudar a todos, até sacrificou sua liberdade por mim e por meus irmãos, mesmo sem nenhuma obrigação com meus pais. Assumiu nossa guarda sem hesitar — Merlin disse, seu olhar distante e nostálgico. — Sinto-me profundamente grato por tê-la como minha guardiã, mesmo que isso possa parecer egoísta. Não mudaria nada do que aconteceu até agora.
As palavras de Merlin tocaram profundamente meu coração, e eu sabia que tinha uma missão clara no futuro: garantir que ele e seus irmãos fossem oficialmente reconhecidos no mundo mágico, para que não pagassem pelos erros de seus pais. Também estava determinado a quebrar as correntes que aprisionavam Meteora, permitindo que ela deixasse o castelo quando desejasse.
Sorrindo timidamente, ele beijou o topo da minha cabeça com doçura. Merlin permaneceu ao meu lado até que finalmente consegui adormecer, mas minha mente ainda estava cheia de preocupações sobre as ameaças iminentes que poderiam se abater sobre mim e aqueles que amava.
Estava resoluto em ser a solução para os problemas que nos cercavam, com a certeza de que a força e o amor que compartilhávamos seriam fundamentais para enfrentar os desafios à frente.
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Naquela noite, enquanto eu descansava nos braços de Merlin, senti-me acalentado e seguro, como se nada mais importasse naquele momento. Seus braços em volta de mim eram um refúgio do turbilhão de preocupações que haviam assolado minha mente durante todo o dia.
A lua, com sua luz prateada, espiava pela janela, lançando um brilho suave sobre nós. O silêncio entre nós era reconfortante, preenchido apenas pelo som das nossas respirações sincronizadas. A suavidade dos lábios de Merlin ainda parecia presente em minha pele, e o calor de seu corpo colado ao meu fazia o mundo exterior parecer distante e insignificante. Era um momento de conexão genuína, algo que havia sido evitado por tanto tempo, mas que agora se manifestava com intensidade.
Merlin, quebrando o silêncio com uma voz suave e sincera, falou:
— Victor, sei que tem muito na sua cabeça neste momento, mas quero que saiba que estou aqui para você. Tudo ficará bem no futuro. Você é apenas um adolescente de dezesseis anos e acabou de ser lançado no mundo mágico.
Suas palavras foram como um bálsamo para a minha alma inquieta, e eu me senti imensamente grato por tê-lo ao meu lado, oferecendo apoio e compreensão.
— Eu sei que é uma jornada complicada, e sinto como se estivessem escondendo informações de mim, mas vou fazer o meu melhor para lidar com isso — murmurei, entrelaçando meus dedos com os dele, buscando conforto e força em seu toque.
Merlin assentiu, seu olhar fixo no teto, como se procurasse as respostas nas sombras que dançavam à luz da lua.
— Meteora está sob uma pressão tremenda, assim como todos nós. Ela tem feito o possível para nos proteger, mesmo que isso signifique manter segredos. Tudo o que podemos fazer é confiar nela e tentar entender o peso que ela carrega — disse ele, sua voz carregada de empatia e compreensão.
À medida que a noite avançava, não sentíamos pressa de dormir. Em vez disso, compartilhávamos nossos pensamentos mais íntimos e nossas esperanças para o futuro. Cada palavra que Merlin proferia revelava mais sobre ele, e eu sentia uma proximidade crescente, um vínculo que se fortalecia com cada confidência compartilhada.
Finalmente, o cansaço começou a nos envolver, e nossos olhos começaram a pesar. Merlin me deu um último beijo suave na testa, um gesto de carinho que parecia selar o conforto e a segurança que sentíamos um no outro.
Enquanto me entregava ao sono, minha mente ainda estava repleta de preocupações, mas agora havia uma nova determinação pulsando em meu peito. Eu faria o possível para proteger aqueles que amava, enfrentaria os desafios que se aproximavam e, acima de tudo, lutaria para ser a solução para os problemas que assombravam nosso mundo mágico.
Com Merlin ao meu lado, sentia que não estava sozinho nessa batalha. A força de nosso vínculo e a certeza de que estávamos juntos para enfrentar o que viesse me davam coragem e esperança para o futuro.
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No escuro profundo do meu sono, fui arrastado para um pesadelo ainda mais sombrio. Eu me encontrava em um lugar estranho e opressivo, envolto por uma escuridão que parecia ter vida própria. Sombras retorcidas dançavam ao meu redor, se contorcendo e se unindo em uma dança macabra. Essas sombras formavam, lentamente, uma figura monstruosa feita inteiramente de escuridão, como se a própria noite tivesse se materializado em uma entidade de puro terror.
A criatura sombria erguia-se diante de mim, sua presença era esmagadora, um peso opressivo que parecia drenar a luz e a esperança do ambiente. Seus olhos eram buracos negros e profundos, sugando toda a luminosidade ao redor, e um sorriso perverso, uma fenda de malícia, estendia-se por seu rosto aterrorizante. Era um sorriso que parecia zombar da minha própria existência.
À medida que a criatura avançava, sua risada macabra preenchia o espaço, um som grotesco que reverberava em minha mente. Cada gargalhada era um golpe direto ao meu coração, um eco de medo e desespero que fazia a escuridão parecer ainda mais implacável. O som era como um sussurro de loucura, uma melodia sinistra que prometia dor e desespero.
No entanto, mesmo com o terror consumindo cada parte de mim, algo inesperado começou a acontecer. Um riso nervoso e desafiador, quase como uma reação involuntária, começou a escapar dos meus lábios. Era um riso que misturava medo e desafio, um grito desesperado de que eu não cederia ao pavor. Meu subconsciente parecia estar lutando contra a ameaça de uma maneira bizarra, como se procurasse a menor faísca de resistência dentro de mim.
A risada da criatura tornou-se ainda mais perturbadora, um som que parecia fazer as sombras ao nosso redor tremerem e vibrar. O cenário sombrio parecia reagir à intensidade desse duelo bizarro, uma luta surreal entre o medo e a resistência.
À medida que as sombras começavam a se dissipar, a figura monstruosa se desfazia em uma fumaça negra e etérea, a risada diminuindo até se tornar um sussurro distante. O último eco de sua presença era uma sensação de frio penetrante e uma agonia profunda no meu peito. Quando a criatura parecia ter desaparecido, um golpe final a fez perfurar meu coração, uma dor aguda que se misturava com a sensação de vazio.
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Acordei com o coração batendo descontrolado, a respiração entrecortada e uma sensação estranha e gélida no peito. O pesadelo ainda pairava sobre mim como uma sombra, uma lembrança perturbadora de que, mesmo em sonhos, a escuridão poderia se manifestar de maneiras horríveis e inexplicáveis. O riso sinistro da criatura e a dor esmagadora do sonho ainda estavam frescos na minha mente, deixando-me com uma sensação desconcertante de que o medo, por mais irreal que fosse, tinha uma forma palpável e ameaçadora.
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Gostaram?
Até a próxima 😘
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