Bilhete
Henrique foi duas noites seguidas à casa de pedra na esperança de passar um tempo nos braços de sua amada, contudo Ágatha não apareceu. Ele sentia o coração apertado por não poder ir até a Casa Grande e descobrir o motivo de sua ausência, embora as carruagens elegantes com símbolos de famílias nobres, que iam e vinham pelas pequenas ruas, lhe davam uma ideia do motivo.
Havia algumas tensões entre territórios. Quando os Selvagens tentavam expandir os seus matando alguns Civilizados e Nômades, vários líderes de clãs e matilhas vieram até ali para traçarem novas estratégias de controle da praga Selvagem.
Provavelmente tinha muitos olhos sobre a princesa, e talvez escapar à noite fosse complicado. Mas saber disso não diminuía a saudade no peito de Henrique. Uma amargura se agitava dentro dele, quando avistava de longe a garota que amava trocar risinhos com filhos de Nobres ao passearem de braços dados pelo mercado. E Lúcio era um deles.
O garoto da nobreza não se aproximou mais da arena ou lhe dirigiu o olhar, contudo, infelizmente, parecia bastante interessado em Ágatha. E por mais que ele tentasse ignorar, aquele garoto era de um território importante e talvez o escolhido pelos pais dela.
Durante o treino descontou sua frustração ao atacar Dylan com garras e dentes, deixando seu lobo tomar o controle. As lutas na forma de lobo eram mais sangrentas e primitivas, permitiam extravasar sua raiva. O lobo preto pulou sobre o branco, rolaram e seus dentes quase alcançaram a jugular do branco, que o empurrou para longe.
Henrique girou nas quatro patas e se colocou novamente em posição de ataque. O lobo branco desaparecera, e Dylan o olhava com preocupação com as mãos estendidas em sinal de paz.
— Calma, amigo!
O lobo preto parou diante da fala e respirou fundo, os ossos se moveram, os músculos esticaram e encolheram moldando a forma humana.
— Me matar não vai resolver seus problemas com a princesa. — Dylan mostrava-se aborrecido ao vestir a calça deixada ao lado da arena.
— Desculpe — Henrique disse sem olhá-lo ao vestir-se também. — Não era minha intenção. — Mergulhou a tigela de barro no barril de cerejeira e jogou um pouco de água sobre a pele suada. — Não tenho notícias de Ágatha há dois dias — confessou.
Dylan pegou a água com as duas mãos e passou no rosto e nos cabelos. Nada disse. Henrique começava a se afastar frustrado por deixar seus sentimentos influenciarem nos treinos e em todos os minutos de seu dia.
— Eu não devia, mas posso entregar um bilhete para ela, se quiser. — Dylan sorriu ao lhe pousar a mão no ombro antes de ir em direção ao refeitório.
Henrique acenou agradecido. Correu para o baú ao lado de sua cama, afastou com cuidado o desenho feito por Ágatha guardado ali com carinho e pegou o papel de carta, que deveria enviar com notícias suas para seus pais, e despejou seus sonhos e sentimentos em uma caligrafia cuidadosa.
"Querida Ágatha,
É difícil respirar estando longe de você. Meu coração bate cada segundo na ânsia de reencontrá-la. Nosso amor é impossível, eu sei. Mas sonho com um dia no qual sejamos livres, no qual voltemos da floresta de mãos dadas e cabeça erguida. Porque o amor é o sentimento mais puro e verdadeiro. Não importa se nossas tradições dizem o contrário, a única coisa que tenho certeza é de que a amo com todo meu coração e nunca deixarei de amar.
Seu eterno, Lang."
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