X - LEMBRE-SE DE MIM
Os sonhos de Elsa pareciam finalmente ter se tornado reais. Ali, sentada melancolicamente no centro do salão, a rainha encarava o chão, sendo capaz de ver seu próprio reflexo. Com isso, se lembrava de seus pesadelos, onde ela sempre estava em cima de um grande lago congelado e ele se quebrava. Bom, é claro que aquilo não era um lago congelado, mas ainda sim, sentiu como se estivesse se afogando.
Quando teve coragem para erguer a cabeça, suspirou frio ao ver que tudo havia sido perdido. “O que será de Arendelle agora?”
A brisa suave rondava o salão, balançando o cabelo da rainha. Ao mesmo tempo, pequenos flocos de neve eram vistos caindo em suas madeixas loiras. Antes, teria pensado ser uma visão incrível, mas agora, sentia como se fossem lágrimas que haviam sido congeladas. Olhou em volta, viu todos como gelo. Um único toque com um pouco mais de força e eles certamente se quebrariam em pedaços.
O que Elsa diria se soubesse que sua irmã também havia sido congelada enquanto observava o palácio em guerra, com os olhos cheios de esperança?
A princesa Ana não demonstrou surpresa ao ver que a forte nevasca se aproximava ainda mais. Ao contrário. Soube que Elsa havia feito o seu melhor, assim como Jack Frost. Diferente de Ana, a expressão congelada de Kristoff indicava medo e preocupação. Me atrevo a dizer que seu último pensamento poderia ter sido algo como: “O que vem agora?”. Ninguém saberia dizer ao certo. A propósito, de todas as pessoas… e “seres” do reino, havia um entre eles no qual não sofreu com a nevasca.
— Essa não… – a voz de Olaf soprou em um suspiro cheio de tristeza. Sentindo que seu coração havia se partido em milhões de pedaços, colocou seus braços em frente ao peito, dando alguns passos até chegar a Ana.
Um pequeno caixote abaixo da janela aberta foi o suficiente para que Olaf pudesse alcançar e subir. Pôde ver o reino. Uma fortaleza de gelo que até poucos minutos, era cheio de vida. E agora, não passava do resquício de uma lembrança. Olaf se encheu de dor. E pela primeira vez, se pegou chorando. Cobriu os olhos, embora soubesse que ninguém se importaria de vê-lo daquele jeito. Mas algo em seu coração falou mais alto, o fazendo cessar as lágrimas. Mais uma vez, olhou pela janela e observou com atenção o palácio de gelo.
Nem tudo estava perdido.
No palácio, o olhar assustado da rainha dava voltas em todo o salão, até finalmente chegar a Jack Frost. Deixe-me dizer uma coisa. Durante toda sua vida, Elsa se mostrou relutante em relação a chorar na frente de outras pessoas. Quando acontecia, sua única companhia era seu travesseiro ou então o tão conhecido cantinho em seu quarto. No entanto, ali, a rainha de Arendelle não pôde ser capaz de segurar seu choro.
— Ah, Jack… – ela sussurrou, tocando o rosto do rapaz com cuidado — Eu sinto muito. Eu não queria! Eu não consegui parar – ela se lamentou, cobrindo o rosto.
Com o salão em total silêncio, apenas o som do choro da rainha podia ser ouvido – isto é, se houvesse alguém para ouvir. Mas devo dizer que havia sim alguém. Elsa foi surpreendida pelo boneco de neve, que puxou a saia de seu vestido na intenção de fazê-la olhar para ele. Pobre Olaf, estava desolado. Com o olhar triste, ele esperou que Elsa dissesse alguma coisa. No entanto, isso não aconteceu. Olaf olhou em volta. Viu seu reflexo na parede congelada.
— O que faremos agora? – perguntou o boneco.
— Que sorte a sua, Olaf, achei que também fosse ser tomado pela neve. Mas você já é feito de neve… – disse a rainha — Ah, se todos fossem...
— Você pode trazê-los de volta?
Elsa se abaixou até ficar a altura do amigo. Precisava ser sincera.
— Não sei, Olaf... – respondeu a rainha, olhando para todos — Acha que eu sou um monstro? Eu acho. Não sei, tento consertar as coisas, mas… – continuou a garota, cerrando os dentes e balançando a cabeça indicando negação — Sempre pioro tudo.
— Claro que não, Elsa. Você salvou a Ana, lembra?
De fato, Elsa havia salvo Ana. Mas apenas Ana e não toda Arendelle. No incidente, não haviam pessoas congeladas como havia agora. Seria Arendelle, um reino lembrado nos livros de História, como um lugar que foi tomado pelo gelo causado por sua própria governante?
Elsa não gostaria de ter que ler algo assim. “Salvei”, Elsa concordou. “Acha que consigo de novo?”
— Ana confia em você. Precisa confiar em você também, Elsa.
Se dissesse que não estava surpresa, Elsa poderia ser taxada como a maior mentirosa que já existiu. E com um sorriso, seguido de aperto de mão firme, a rainha de Arendelle agradeceu ao boneco de neve.
Durante todos esses anos, Elsa se viu obrigada a permanecer forte em todas as ocasiões, até mesmo quando atitude mais plausível delas nesses casos, deveria ser apenas se sentar no chão e chorar desesperadamente como algumas pessoas fazem quando não aguentam passar por alguma coisa. Mas Elsa sabia como enfrentar problemas, ela só nunca confiou o suficiente em si mesma para acreditar nisso.
Caminhou então ao centro do salão, ficando embaixo do lustre. Devagar, fechou os olhos e então, com alguns movimentos com as mãos, decidiu que consertaria o que havia sido quebrado. Todos aqueles corações congelados voltariam a ter o calor pulsando dentro deles. E Elsa sabia que aquilo deveria ser feito logo ou então, mesmo que conseguisse trazer todos de volta, de nada mais valeria. E assim, Arendelle poderia também ser lembrada como um “Reino Fantasma”, no qual seria moradia de apenas uma pessoa.
— Vamos, eu consigo… – sussurrou a rainha, abrindo os olhos.
E depois de alguns segundos, um raio de esperança perpetuou pelo palácio. Elsa sentiu seus pés molharem e quando olhou para o chão, o sorriso que se formou em seu rosto poderia trazer alegria até para a pessoa mais triste do mundo. O gelo se tornou água, fazendo até mesmo com que algumas gotas pingassem do lustre na garota. As paredes já não refletiam como espelhos e já não mais caíam os insistentes flocos de neve em sua cabeça.
Olaf comemorou batendo palmas.
O coração de Elsa pulsava forte, tão forte que mal cabia no peito. Com a respiração ofegante devido a emoção, a rainha teve sua atenção voltada às vozes que foram ouvidas atrás dela. Os Guardiões estavam sentados no chão, tentando se recuperar do ocorrido. Se viram completamente molhados por conta do gelo derretido. O Coelho da Páscoa sacudiu o corpo, balançando seu pêlos para todas as direções. Aquilo molhou ainda mais Norte, que se viu nervoso.
A Fada do Dente parecia confusa. Com a mão na cabeça e a visão turva, ela olhou em volta analisando se estavam todos bem. Jamie fez o mesmo, encarando Jack
finalmente.
•
O processo de descongelamento de Ana e dos outros foi mais lento. A princesa foi a primeira a voltar ao normal, se surpreendendo em seguida. Não havia tempo a perder, ela sabia que se o gelo havia derretido, tudo tinha terminado bem. Como uma criança quando fica feliz ao encontrar os pais depois de um longo dia sem vê-los, Ana saltitou, correndo para fora da cabana. O sol era visto surgir atrás do palácio, trazendo esperança ao reino mais uma vez.
O som de gelo se quebrando atrás de si a obrigou a se virar, ansiosa. Finalmente Kristoff, Flynn, Sven e Rapunzel foram trazidos de volta.
— Meu Deus! – exclamou Rapunzel desapontada — Sorte a minha meu cabelo estar curto! Levaria séculos para secá-lo se ele ainda fosse daquele tamanho! – completou, arrancando risos dos outros.
— Elsa espera por nós. – Ana afirmou, ainda com os olhos no palácio — Olaf não está aqui, deve ter ido atrás dela. Temos que ir também.
— Eu não sei vocês, mas eu não vou sair molhado nesse frio. – disse Flynn, indo em direção ao banheiro.
Óbvio. Foi uma ótima ideia terem levado trocas de roupa.
A propósito, embora Hans estivesse descongelado agora, permanecia desacordado no chão. Seus olhos começaram a se abrir e ainda sonolento, pôde ver que assim como ele, todos estavam de volta. Sabia que deveria fugir o mais rápido possível ou então seria condenado a passar o resto de sua vida preso nas Ilhas do Sul. Tentou se levantar, sem sucesso. O Coelho da Páscoa colocou todo seu peso nas costas do príncipe, na intenção de fazê-lo permanecer no chão.
E ao seu lado, Sandman o ameaçava com uma marreta feita de areia.
Elsa olhou à sua volta, vendo que Breu ainda estava congelado. “Logo será sua vez”, pensou ela, virando o corpo totalmente em sua direção.
— Guardiões – chamou a rainha — Preciso que cuidem de Breu. Ele poderá voltar a forma normal a qualquer momento. Temos que estar preparados.
— O que vamos fazer? – perguntou a Fada.
No entanto, Elsa saberia apenas na hora. E assim, todos exceto o Coelho da Páscoa se colocaram em volta de Breu. As pequenas fadinhas da Fada do Dente formaram uma grande nuvem ao redor do tão temido vilão. Bastava apenas esperar. Porém, Elsa se viu irritada ao perceber que Jack Frost ainda se encontrava congelado.
— Por que não descongela? – ela se questionou confusa — Por quê?! Eu descongelei todos, só falta você, Jack!
— Elsa, fique calma. – pediu Olaf se aproximando.
— Eu não entendo! Por que ele não volta ao normal?!
A raiva que assolava o coração de Elsa se foi em poucos instantes, dando espaço para que uma grande onda de tristeza a atingisse de forma certeira. Seus olhos não puderam controlar a queda das lágrimas e assim, a rainha de Arendelle desabou.
Ana chegou em seguida junto dos outros, que ao virem a cena, expressaram espanto em seus rostos. Para eles, era algo totalmente estranho ver Elsa chorar, tampouco desmontar algum tipo de emoção. Se surpreenderam ao ver a rainha abraçar Jack Frost, como se quisesse fazê-lo voltar ao normal com o calor de seu corpo.
— Pobre Jack… – falou Norte, entristecido.
— Jack... – Elsa sussurrou — Jack, você precisa voltar. Precisa voltar…
O choro junto da tristeza de Elsa neutralizou qualquer som ou ação que acontecia a sua volta, esquecendo-se totalmente das pessoas que estavam no grande salão. Ela se abaixou no chão, aos pés de Jack, permanecendo com a cabeça baixa para que ninguém a visse naquele estado. Mas ainda sim, qual o problema se vissem? Embora demonstrasse ser uma pessoa imbatível, Elsa ainda era humana.
E não há nada mais humano do que chorar.
Repentinamente, algo aconteceu sem que a rainha notasse. Tudo começou pelas suas mãos, indo aos poucos até seus braços. O cabelo branco, antes cercado pelo gelo, ganhava movimento. Após isso, uma perna se libertou e em seguida, a outra. De olhos fechados, Elsa pôde sentir gotículas pingando em suas mãos, erguendo o rosto imediatamente.
— Elsa.
— Jack, você voltou! – exclamou a rainha, partindo para cima do rapaz com um abraço.
Seria maravilhoso dizer que toda a nossa bela história havia acabado de maneira feliz, bem naquele momento. Entretanto, ainda havia algo a ser feito. O último a se libertar do gelo. Depois de voltar a forma normal, Breu foi visto cair no chão. Ao erguer a cabeça, pôde encarar Jack Frost mais uma vez. Antes que Jack pudesse pensar em qualquer coisa, Elsa se colocou a sua frente apontando o braço na direção de Breu.
— Suas últimas palavras – disse ela — Pense bem.
Breu arregalou os olhos ao se dar conta do que lhe esperava. Ainda sim, não foi capaz o suficiente de pensar em algo para fugir. Ah, não, Elsa não lhe deu tempo de resposta. Sem aviso, uma rajada de gelo foi lançada em sua direção, acertando seu coração mais uma vez. Agora, não havia nada que pudesse ser feito para salvá-lo. E aos poucos, o gelo começou a tomar conta de seu corpo. Irritado, Breu olhou para Hans. “Você, garoto, faça alguma coisa!”, ele berrou.
Contudo, Hans também não sabia o que fazer. E pensando agora, talvez ele não faria nada nem se pudesse. Ele pensou em fugir, mas não seria possível já não havia como e nem para onde, então permaneceu paralisado.
De nada adiantou o esforço miserável que Breu fez para correr na direção de Jack e Elsa, já que, antes que chegasse até eles, se transformou em gelo, para o espanto de todos. Jack, encarando a estátua congelada, tomou distância e com o seu cajado, a quebrou, o fazendo em pedaços que mais pareceram pequenos cristais flutuantes.
— Finalmente… – Elsa suspirou aliviada.
— Agora que tudo terminou – Ana se pronunciou — O que faremos com você, Hans?
— O mandaremos de volta para as Ilhas do Sul. – Elsa respondeu.
Hans, no entanto, não disse nada. O que poderia dizer, afinal? Tudo o que fez foi abaixar a cabeça. Jack deixou de encará-lo, prestando atenção agora no garoto que há dezesseis anos não via. Jack flutuou até Jamie, que ao contrário dele, parecia não querer conversar.
— Jamie...
— Desculpe, Jack. – falou o rapaz, erguendo os olhos finalmente — Algo aconteceu no dia em que foi embora. Talvez tivesse me esquecido momentaneamente sobre tudo o que passamos naquele ano, mas nunca deixei de acreditar. Nunca deixei de acreditar em Jack Frost.
Para Jack, foi de extrema satisfação saber que, mesmo após quase vinte anos, Jamie ainda se lembrava. De longe, Elsa junto de Ana e os outros, viam a cena, contentes. A rainha suspirou mais uma vez, caminhando então até a saída do salão. Pôde ver as pessoas deixando suas casas, receosas, mas ainda sim, com um fio de confiança em seus corações. Tudo havia terminado bem.
— Jack! – Norte chamou — Temos que arrumar essa bagunça!
Ah, sim, todos tiveram um grande trabalho organizando o salão. Secaram o chão, as paredes. Kristoff recrutou algumas das pessoas com quem trabalhou para que tirassem toda aquela neve do reino. Os Guardiões, juntos de Jamie, Rapunzel e Flynn, colocaram uma nova decoração no salão. Olaf e Sven não fizeram outra coisa a não ser brincar um com o outro.
Devo confessar que demorou muito até que tudo estivesse em seu devido lugar de novo, mas ao fim do dia, todos puderam ver o sol começar a desaparecer por trás do fiorde.
— Acredito – começou Jack — Que acabou agora. Acho… que é hora de ir.
— Realmente – concordou o Coelho da Páscoa, batendo o pé no chão. Em seguida, um buraco se abriu — Preciso ir, Jack, a Páscoa me espera. Posso trazer alguns ovos aqui. Mas é apenas uma ideia, não gosto do frio – e então, o Coelho da Páscoa se virou de frente para Jack — Juízo, garoto.
O Coelho da Páscoa foi o primeiro a partir. Sandman tirou seu chapéu de areia como forma de despedida, voando para longe com sua nuvem dos sonhos. A Fada do Dente se mostrou relutante em se despedir, mas concluiu que era preciso. “Foi bom te ver, Jack”, disse ela, lhe dando um rápido abraço. “Foi bom te ver, Fada”, respondeu o rapaz. E então, sendo seguida por suas fadinhas, a Fada do Dente também se foi.
— Norte, pode dar uma carona para Jamie? Vai ser uma grande viagem até os Estados Unidos. – Jack brincou.
— É claro! Suba nessa belezinha aqui! – falou o Papai Noel, dando um tapa em seu trenó.
Ah, despedidas, despedidas… Jack encarou o amigo já em cima do trenó, que não tardou a voar em direção às nuvens.
Mais uma vez, todos se foram como há dezesseis anos, deixando para trás um resquício de esperança e uma pontada de confiança para acreditar que, sempre que fosse necessário, o Homem na Lua daria um jeito de resolver tudo, nem que para isso fosse preciso reunir os Guardiões novamente.
A propósito, não podemos nos esquecer de Hans, que havia sido mandado de volta a prisão. De longe, Elsa e Ana observavam o navio deportar o príncipe, esperando nunca mais vê-lo. Ele com certeza passaria o resto de seus dias encarcerado, podendo sair de novo apenas por um milagre. “Confesso que achei que tudo fosse se perder”, disse Ana, olhando para a irmã. Elsa tocou o ombro da mais nova, lhe mostrando um sorriso gentil repleto de paz.
— Estarei sempre aqui. – respondeu a rainha, olhando para o céu.
O quão feliz poderia ter sido se Jack Frost tivesse permanecido em Arendelle junto de Elsa? Certamente teria sido muito feliz. Mas devo alertá-los que isso não aconteceu. Jack Frost se foi, levando com ele a sua brisa gelada e toda a sua diversão. O Homem na Lua nunca lhe disse muitas coisas, mas uma coisa em específico nunca foi preciso lhe ser dita: Jack Frost havia vindo ao mundo para permanecer sozinho para sempre, não importando quantas pessoas passassem por sua vida.
E de longe, ele observou as luzes do reino se ascenderem, impedindo a cidade de ser tomada pela escuridão da noite.
AAAAA, me digam o que acharam? Jack foi embora? Meu Deus??? 🤯🤯
Gente não esqueçam dos votos ⭐
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