I - QUANDO A NEVE CAI
Arendelle, um pequeno reino gelado na Noruega. Olhando por cima da montanha coberta de gelo, o gracioso palácio podia ser visto. Ao longe, o fiorde dava visão aos navios que chegavam, trazendo visitantes ao reino. Agora, olhando bem de perto do palácio, em uma janela lá em cima, a princesa Ana foi vista correndo pelos corredores do castelo. Segurando seu vestido, ela desviava de um funcionário ou outro, pedindo desculpas enquanto lançava um sorriso encolhido em seguida.
Ah, malditas escadas, pensou ela, chegando ao último degrau finalmente.
O ar lhe faltava, seus pulmões falhavam, a obrigando a respirar profundamente. “Por que esse castelo precisava ser tão grande?”. À frente, estava o quarto de Elsa. Olhou no relógio na parede, vendo que o ponteiro marcava pouco mais das sete da manhã, voltando então seu olhar à porta. Ora, seu vestido estava todo amarrotado. Com um suspiro, Ana deu três batidas na porta. Não demorou muito para que fosse aberta.
— Bom dia, Elsa! – gritou Ana, de forma espalhafatosa.
Devagar, a rainha coçou os olhos ainda com sono.
— Bom dia, Ana. Por que a animação logo cedo?
— Elsa, você esqueceu? O passeio que tínhamos combinado é hoje!
A mais velha pensou por alguns instantes. Foi como se uma lâmpada tivesse sido acesa em cima de sua cabeça.
— Ah, verdade, verdade... – ela se lembrou, um pouco decepcionada pelo seu esquecimento. Retornando ao quarto, Elsa caminhou até a janela onde foi capaz de observar a paisagem a frente — Que horas são?
— São sete e meia, iremos às oito! – respondeu a outra.
Elsa concordou com a cabeça.
— Certo. Acorde o Kristoff. Olaf e Sven estão bem ali, brincando na neve.
Aos arredores do castelo, a rena era bombardeada pelas bolas de neve de Olaf.
Kristoff possuía uma casa na cidade, não mais morando com os trolls especialistas em amor. Uma casa modesta, grande o suficiente para Sven conseguir entrar nela. Ao chegar, Ana fez o mesmo que havia feito no quarto de Elsa. Deu três batidas e a cada batida, chamava pelo nome de Kristoff. Ele, ao abrir a porta, sequer teve tempo de falar qualquer coisa, sendo surpreendido por um abraço de Ana.
— Ei, por que essa animação toda?
Os olhos de Ana rodopiaram com tamanha falta de memória de todos.
— Todos vocês esqueceram? Hoje é a nossa viagem! – a princesa respondeu irritada.
— Ah, sim, sim, a nossa viagem! – lembrou Kristoff, batendo na própria cabeça.
— Você precisa se arrumar, iremos às oito!
— Ah, temos tempo. – disse o rapaz, tentando enrolar a garota.
— Não, Kristoff, se apresse! Sem enrolação! – a princesa esbravejou, empurrando ele para dentro da casa.
•
Em seu quarto, a rainha Elsa observava seu reflexo no espelho. Usando um vestido de mangas compridas, ela arrumava seu capuz enquanto lutava com seu próprio cabelo. Vozes conhecidas vindas de fora do palácio chamaram sua atenção, voltando seu olhar à janela ao lado do espelho. Lá embaixo, caminhando sobre a neve fina, ela pôde ver Ana arrastando Kristoff pelo braço. Elsa achou engraçado.
Não era muito comum ver a rainha de Arendelle perambulando pelo palácio, a não ser por questões importantes como reuniões. Na maior parte do tempo, Elsa se via na obrigação de permanecer trancafiada em seu quarto, vendo a vida que havia lá fora, sentindo que nunca seria capaz de fazer parte daquilo. Encarando o papel de parede, Elsa passava seu olhar aos quadros pendurados; quadros que ela havia se esquecido que estavam ali. Deslizou o dedo por uma das molduras. “Um pouco empoeirado…”, pensou ela.
Chegando ao andar debaixo, frases de bom dia ecoaram pela sala.
— Onde estão Olaf e Sven? – perguntou a rainha olhando em volta.
No entanto, não foi preciso que alguém respondesse. Aos prantos, o boneco de neve entrou correndo no salão, sendo perseguido por um Sven furioso.
Kristoff gritou por ele, o fazendo parar de correr.
— Já disse para não correr atrás do Olaf!
— Oh, Elsa, como você está excepcional nesta manhã! – falou o boneco.
A rainha achou graça do elogio, dando dois leves tapinhas na cabeça de Olaf. Já reunidos, Elsa concluiu que era melhor se apressarem ou então, perderiam o passeio todo por conta do frio.
— Espero que estejam levando somente o necessário, porque vamos andando. – a rainha completou.
Talvez Kristoff não tenha entendido quando foi dito que seria um passeio que teria a duração de apenas um dia. Do chão, levantou uma grande bolsa, assustando as duas garotas.
— Somente o necessário! Cabe nós todos aqui. Lamento, Sven, mas você fica do lado de fora.
A insatisfação no rosto da rena foi indiscutível.
Andando pelas ruas, os súditos da rainha Elsa a cumprimentavam com reverências e acenos tímidos. A luva em suas mãos, no entanto, a fazia interromper os cumprimentos.
Seguindo o caminho até estarem fora dos arredores do reino, o grupo se aventurava subindo em uma colina. Se olhassem por cima dela, seria capaz de ver o reino e seus moradores. Vendo de longe, era como uma pintura tão bem feita que parecia ser real. A brisa soprou gelada, bagunçando o cabelo de Elsa, que precisou segurar os fios para que não fosse em vão todo o tempo que levou para arruma-lo.
Sven carregava a bagagem, bem como o boneco de neve Olaf. Ele cantarolava alguma coisa, enquanto mantinha seus bracinhos feitos de gravetos erguidos. E assim, ele lançava pequenos flocos de neve para o alto. Vendo um deles cair diante de seus olhos, Ana se viu intriga com uma dúvida.
— Elsa, acha que vai nevar?
— Não sei dizer. Se nevar, espero que já estejamos acampados.
— Sabe por que sempre neva assim, de repente? – perguntou Kristoff, sugerindo alguma coisa.
— Por quê? – Olaf se mostrou interessado.
Em um tom que esbanjava mistério, o rapaz respondeu:
— Jack Frost!
Ana se viu confusa.
— Jack Frost? Por que esse nome não me é estranho?
Elsa, no entanto, era cética demais para acreditar em qualquer coisa que lhe diziam. Revirando os olhos, ela disse:
— Jack Frost é só uma história, Ana. Ele não é real, é só alguém que foi criado para fazer parte de histórias para crianças.
Kristoff estava incrédulo. Como Elsa poderia afirmar aquilo?
— Ah, é? E como você explica quando neva sem motivo nenhum? É ele pregando peças! Quando menos se espera, ele aparece!
Ainda interessado, Olaf se perguntou como Jack Frost poderia ser. Teria uma aparência amigável ou assustadora? Teria razão para Olaf ter medo?
— Dizem que ele tem a pele branca como a neve. Seu cabelo é cinza e seus olhos são tão azuis que é possível ver seu próprio reflexo se olhar para eles. Além do mais, a Fada do Dente diz que os dentes dele parecem flocos de neve. – contou Kristoff — E também, faz da neve sua maior aliada. Quando quer perturbar a paz das pessoas, lança rajadas de vento nas cidades, tirando o chapéu dos homens e jogando bolas de neve em crianças.
Para Olaf, Jack Frost lhe pareceu agradável.
— Eu gostei do Jack Frost! – exclamou o boneco de neve.
“Quanta besteira”, Elsa pensou revirando os olhos.
Não demorou muito para que chegassem ao destino. No topo da colina, o canto dos pássaros era ouvido de longe. O vento soprava forte, levando junto dele um pouco da neve cristalina. Tirando a grande bolsa das costas de Sven, Kristoff a jogou no chão.
— Vamos ficar aqui, pessoal.
•
A tarde que se encerrava dava espaço para o surgimento do pôr-do-sol, que podia ser visto se escondendo do olhar de todos atrás do horizonte.
Com a ajuda de Ana, Sven e Olaf, Kristoff fazia os últimos ajustes na barraca, para que não houvesse imprevistos ou surpresas durante a noite. Após isso, se reuniram em volta da fogueira que havia sido montada. Pobre Olaf, precisava ficar distante ou então derreteria. Oh não, isso não o entristecia. E seria mais correto dizer que todos, exceto Elsa, estavam perto da fogueira.
Olhando para o céu, a rainha começava a notar as primeiras estrelas surgindo por entre as nuvens. Uma brisa gelada soprou por seu corpo e ela se abraçou. Diferente dos outros, que se incomodaram, Elsa achou a sensação acolhedora. A voz de Ana a tirou de seus devaneios, olhando na direção da irmã. A mais nova a convidava para se juntar a todos, avisando que contariam histórias uns para os outros.
— Já vou!
Antes que pudesse virar seu corpo em direção a fogueira, viu algo passar voando diante de seus olhos; algo rápido e pequeno. Assustada com a aparição repentina daquele corpo desconhecido, Elsa tentou enxergar algo no meio das árvores. No entanto, havia apenas o escuro. Deu uma rápida olhada para trás, vendo que todos pareciam estar ocupados demais para prestarem atenção caso Elsa se afastasse, e aproveitando-se desse fato, assim ela fez. Sua curiosidade falou mais alto, a levando então para dentro da floresta. Esta, estava coberta por neve. A grama, as flores, os galhos.
A rainha andou para longe, se distanciando cada vez mais, seguindo apenas um rastro de luz que a guiava. Não só isso. O céu se via repleto de estrelas, iluminando a escuridão da noite. Olhando para elas, a rainha percebeu que as nuvens, agora, se mexiam cada vez mais depressa. Não foi apenas no céu que isso foi observado por Elsa. A brisa fina transformou-se em ventania, chacoalhando as árvores que eram descobertas por conta da neve que caía. A neve, então, se transformou em nevasca, o que dificultou a visão de Elsa, que acabou caindo no chão.
Incapacitada de enxergar com clareza, lhe restou apenas cobrir o rosto para que seus olhos não fossem feridos por conta dos flocos de neve.
A coragem ressurgiu dentro de seu peito, lhe dando forças para erguer o braço, fazendo a nevasca ser interrompida no mesmo instante. Devagar, tirou as mãos do rosto, tendo uma surpresa. À sua frente, os olhos azuis de um rapaz a encaravam, muito próximo de seu rosto. Com o susto, Elsa chocou sua cabeça na dele e ele, com dor, deu alguns passos para trás, batendo as costas em uma árvore próxima dali. Como se não bastasse, ao se chocar com a árvore, a neve que estava presa em seus galhos caiu em cima de seu corpo.
“Que frustrante”, pensou ele, vendo Elsa massagear a própria testa em uma tentativa falha de amenizar a dor.
— Ai... – ela resmungou, voltando a encarar o rapaz.
Enquanto se levantava, sem tirar os olhos do estranho à sua frente, viu que ele retirava a neve de sua cabeça. Que aparência peculiar, segundo Elsa. Que estranho o fato de que havia um cajado em suas mãos. E logo, ele se pôs de pé, dando um passo na direção da garota.
— Não chegue mais perto, fique longe de mim! – Elsa gritou — Eu sou–
— Eu sei quem você é. – disse o rapaz, esbanjando um sorriso largo em seu rosto — Rainha Elsa.
“Muito óbvio”, pensou ela.
— Claro que me conhece por ser rainha–
— Não, não! – disse ele, chegando mais perto e vendo Elsa se afastar — Eu te conheço há muito mais tempo.
— Como? Quem é você?
— Meu nome é Jack Frost e eu sou um Guardião.
Aquela mesma pequena e incessante luz foi vista passar fugaz pelos olhos de Elsa, se escondendo atrás de Jack. Seus olhos curiosos mantiveram o foco nos ombros do rapaz, vendo então surgir uma pequena cabeça de trás deles.
— Essa coisa...
— É a fadinha. – e então, já se sentindo seguro, saiu de trás de Jack. E este, sorria, esbanjando seus dentes brancos como a neve.
Reescrevendo o meu amorzinho 🤩
Deixem seus corinhos e comentários, me ajudam muuuito!!! Boa leitura!!
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