Meu cabelo estava mais loiro. Os adereços de EVA haviam sido substituídos por metal. A saia de tule foi substituída por uma saia de cetim brilhante. Minha blusa branca de manga princesa agora tinha uma pedra azul e vários raios dourados em volta. E eu conseguia enxergar muito bem. De onde eu estava, dava para ver o confeti na cabeça do Doutor Estranho. E ele estava na entrada do condomínio.

Apesar disso, os docinhos se afastaram. Isso porque eu havia crescido uns 50 centímetros. Eu queria que meus colegas de turma me vissem agora.

Eu devo ter falado essa última parte em voz alta, porque meus novos amigos arregalaram os olhos.

– Você não pode colocar a sua identidade em risco, tá doida?
– Eles já conhecem a minha identidade. Eu frequento a escola com aquelas pessoas todos os dias. Mas não se preocupem. Eles nunca acreditariam. Não é como se eu pudesse fazer esse truque legal na aula de Educação Física. Não é?
Olhei para eles, pedindo confirmação. Ambos negaram.

– Isso não é uma festa a fantasia, né?

Sacudiram a cabeça novamente.

Dei de ombros e decidi aproveitar a festa. Acho que o chazinho devia ser alguma poção mágica. Só isso explicaria ter feito trenzinho com todos os vingadores da Marvel, ou o tango que dancei com o Coringa. Ele dançava muito bem, a propósito. Arrisquei uns metros no hoverboard antes de quase cair de cara. Quem riu de mim foi o Mutley, claro. Quando um cara loiro de cueca que parecia exagerar no crossfit colocou Thriller na caixa de som, Dafne e Velma começaram a gritar que era a música delas.

Já passava da meia noite quando cheguei em casa. Meu corpo pedia arrego, mas eu não me divertia tanto desde que me entendia por gente. Uma parte de mim sabia que seria para sempre o meu segredo. Mesmo que eu quisesse contar, ninguém acreditaria. E o meu celular nem bateria tinha.

Pedi uma “carona” de teletransporte para a Cintilante, já que pedir um uber estava fora de cogitação. Agora eu sabia como o Homem aranha se sentia ao voltar para casa depois de uma de suas aventuras. Caí na cama, decidida adiar ao máximo a bronca da minha tia e a realidade.

Acordei no dia seguinte me sentindo descansada. Fiz minha higiene matinal, tomei um banho, e ao voltar, reparei em algo que não estava na penteadeira antes. Um pacote comprido, com o aviso: Não use na escola.

Sem assinatura.

Dentro dele, a espada da festa e uma máscara dourada.