Lita caminhava pelo Jardim de Cristal, olhava com admiração a flora exótica de Coruscant. Gostava particularmente das flores, via tanta vida nelas. Eram decerto diferentes das da Terra, mas conseguia ver certa similaridade: reconheceu as chamativas bromélias, as vivazes azaleias, mas seu encanto recaiu sobre as grandes rosas. E eram em tantas cores, que ela se perdia num mar de beleza e profundidade. Quanto aos odores, enchiam seu coração de ternura e esperanças. Sim, esperanças de que o que havia em sua mente fosse possível e realizável.

Rememorava a conversa que tivera há pouco com a senadora Amidala, ou simplesmente Padmé, como se revelou. Ela confessou a Lita seu romance com o jovem Anakin, seu medo por ser ele um Jedi e ter a morte constantemente em seus calcanhares, mas também o quanto era doce e agradável estar em sua presença.

Lita sorveu a fragrância de uma grande rosa chá, sua preferida. Seu perfume era tão intenso e inebriante, lembrava alguém muito querido por seus sentimentos.

E ao abrir os olhos, ela viu: ele vinha em sua direção. O gracioso traje pardo, qual um quimono, realçando sua firme postura, coberto pelo manto marrom. Agora, depois de toda a tensão do assalto final ao gigante gasoso, sua tensão era outra, mas estava feliz e podia reparar em sua beleza. Os cabelos bem penteados destacavam os olhos azuis, firmes, mas também encantadores, a boca oculta pela barba.

Lita sorriu e foi ao seu encontro. Atirar-se-ia em seus braços, mas se conteve, embora fosse sua vontade. Havia preparado um ramalhete para ele com as flores que colheu. Apesar de as unir com uma fita discreta, fizera um laço com a faixa de seu quimono.

Entregou o ramalhete a ele sorrindo.

- É para você, Obi-Wan. Espero que goste.

O Jedi recebeu o presente de Lita surpreso.

- Obrigado, Srta. Lita, esta é a primeira vez que recebo flores. E fico feliz por recebê-las ainda vivo. - E sorriu. - Mas confesso que mais me agrada a faixa de seu... hã... "quimono"...

- Sim, quimono é um traje típico para uma prática marcial da Terra - falou ela segurando em suas mãos e, apesar de enrubescer diante dele, não as soltou.

Sentia seu coração bater acelerado, as faces queimarem. Não conseguia encará-lo, por isso encostou seu corpo junto ao dele segurando o ramalhete. Obi-Wan abriu levemente os lábios, surpreso talvez, e a abraçou. Lita conteve as lágrimas. Esperara tanto por este momento e agora ocorria de forma natural, sem que circunstância alguma impedisse a declaração de seus sentimentos ou a realização de seus atos fossem entendidos de outra forma.

Encostou sua cabeça à dele, pois era mais alta. Sentiu o perfume de seus cabelos, tinha cheiro de ervas e essências amadeiradas. Deslizou seus dedos pelo rosto, sentindo sua pele, sua barba macia. Acariciou seu pescoço com as unhas longas.

Ouviu sua voz dizendo:

- Fez um trabalho excelente enquanto Sailor Júpiter... e não decepcionou como Jedi. A galáxia deve sua existência a você.

Ainda em seus braços, Lita respondeu:

- A Terra também faz parte deste universo. Os Jedi não são muito diferentes de nós Sailor. Não mesmo. Temos muitas semelhanças, agora mais ainda.

- Há algo que preciso lhe dizer - disse ele. - E desde que nos conhecemos durante sua estadia aqui na capital da República, tenho refletido a respeito.

O coração de Lita se encheu de felicidade. E como nos sonhos de princesa, teria levantado um dos pés ao pensar no que estaria prestes a fazer, contudo julgou infantil demais para sua idade.

Ela pousou as duas mãos em seu peito, mas subitamente ele a soltou.

- Eu não posso, Srta. Lita, sou um Jedi.

E os sonhos de Lita se estilhaçavam, como um corte profundo no peito ou os ventos de um ciclone arrebatam tudo ao redor. Ela não podia crer, simplesmente não podia crer que todos os desejos de seu coração, todos os sonhos vagantes em sua mente se eram dissipados como poeira, como nada. Como fogo que se extingue se instalava em seu peito uma dor profunda.

Seus verdes olhos encheram-se de tristeza. Ela olhou para Obi-Wan repleta de lágrimas ao rosto.

- Diga que não é verdade, por favor - falou ela baixinho e percebeu sua expressão de compaixão.

Imóvel e plácido, o Jedi disse com sua voz suave:

- Agradeço os sentimentos que reserva para mim, Lita, mas a um Jedi é vedado o amor. É assim desde muito tempo e assim será por muito mais, eu espero. Nada pode haver entre nós que não a lealdade e o estudo da Força. Agradeço por ter salvo minha vida, mas... isso é tudo.

Obi-Wan pegou o ramalhete de suas mãos e deu um beijo em sua testa. Sorriu e saiu, percorrendo a aleia do Jardim de Cristal em direção ao pórtico. Lita sentiu enormes peso e dor em seu coração, mas entendia sobretudo os valores que ele carregava consigo. E ao pensar em Padmé e Anakin, sentia que seria bom privar Obi-Wan de carregar um fardo como aquele, que era o de ocultar seus sentimentos do mundo.

Contudo um impulso mais forte dominou seu coração. Ela gritou seu nome. Ele parou e viu-a vindo em sua direção. Os cabelos castanhos em rabo de cavalo saltando de sobre a cabeça, os olhos verdes, o tímido sorriso.

Ela parou em sua frente com um bonito ar jovial. Disse afinal:

- Antes que saia de minha presença e de minha consequente partida para a Terra devo pedir-lhe algo, Obi-Wan.

- Com toda gratidão, Lita. Diga-me que farei o que estiver dentro das minhas possibi...

Ela não esperou que ele terminasse, atirou-se em seus braços e o beijou intensamente, com um pé levantado e as mãos sobre os ombros. Ele a enlaçou pela cintura, como nunca havia feito em toda a sua vida. Já o ramalhete caiu, tocando o chão, espalhando a rosa chá sobre a faixa preta, enquanto o droid, escondido entre as flores do jardim, deixava soar uma música da Terra:

I'll be there for you

These five words I swear to you

When you breathe I wanna be the air for you

I'll be there for you¹

1 – N. A. Eu estarei lá por você / Essas cinco palavras que juro para você / Quando você respira eu quero ser o ar para você / Eu estarei lá por você

Música da banda Bon Jovi: I'll be there for you

F.I.M.