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O gato está morto vivo

O gato está morto vivo

"Existem todos os tipos de viciados, eu acho. Todos temos dor. E todos procuramos maneiras de fazer a dor desaparecer."

― Sherman Alexie, The Absolutely True Diary of a Part-Time Indian

Todoroki se tornou um rosto comum durante seus treinos. Aizawa conseguiu com que eles contassem como atividade extracurricular pré-estágio. A verdade era que Endeavor não havia ficado feliz por ter que treinar na escola depois da aula, porque assim não treinaria em casa. Nedzu falou com o herói que acabou tendo que concordar.

Todoroki parecia especialmente feliz em fazer algo que havia irritado o pai e ainda lhe livrado de treinos aos quais claramente não queria participar.

A ajuda que dava com Izuku não era exatamente útil. Eles testaram sobre a fixação da quirk de Izuku com a de Todoroki, mas nada foi conclusivo além do óbvio: sua quirk era estranha.

Todoroki também se recusava a usar o seu fogo para testarem qualquer coisa e a insistência apenas o levou a sumir por alguns dias e não responder suas mensagens, então à parte de quando ativava a quirk dele por acidente, Todoroki realmente não fazia muita coisa além de participar do aquecimento, soltar teorias bizarras sobre a quirk do Izuku e agir como um peso quando Aizawa o fazia o erguer no ar.

Aizawa o deixava ficar talvez pela mesma razão de Todoroki: para irritar Endeavor. Ele não parecia ser muito fã do outro herói. Ou talvez fosse pela companhia do outro adolescente ser um incentivo para Izuku socializar.

Izuku teria rido na cara dele se não tivesse controle, por ele achar que Todoroki o ajudaria a se socializar.

Izuku, no entanto, não tinha nada a reclamar. Ele gostava muito da companhia de Todoroki, mesmo quando ele insistia em tentar fazer combos de ataque com ele, como se Izuku um dia fosse precisar disso.

— Eu não estou treinando para entrar no curso de heróis, você sabe disso né?

Os dois caminhavam pelo campus quase vazio, Aizawa ficando para trás para guardar o equipamento e conversar com Power Loader sobre alguma coisa que não podiam saber.

— Então por que está fazendo isso?

Izuku franziu o nariz.

— Porque se não conseguir controle eu destruo tudo. Essa coisa é quebrada.

Todoroki o olhou de lado, uma expressão curiosa.

— Você odeia sua quirk ou tem medo dela?

Izuku não respondeu, virando o rosto e olhando as luzes do prédio principal, ou começaria a chamar o único amigo da sua idade que parecia ter de hipócrita.

— Izuku-

—Deku.

Os dois viraram ao mesmo tempo, vendo Bakugou recostado na parede do prédio. O esperando, mesmo que a aula tivesse terminado duas horas atrás.

Izuku esperou ficar na defensiva, mas estava cansado demais. Dias evitando Bakugou faziam isso.

— Bakugou.

— Meio-a-Meio, o que faz aqui?

— Ele treina comigo. O que quer aqui?

O outro respirou fundo e o ouviu contando baixo. Quando ele ergueu a cabeça se afastando do prédio sua expressão estava a mais neutra que havia visto em anos.

— Podemos conversar?

Talvez seja o fato que Bakugou não pedia nada, ele apenas exigia o que achava que tinha direito. Era algo novo. Ou talvez porque sentia que precisava daquilo, pelo velho Izuku ao menos.

— Certo.

.............

Todoroki vir junto não era novidade, Izuku sabia que ele não o deixaria sozinho com Bakugou. E, realmente, não se importava em falar na frente dele. Bakugou reclamou, mas quando deu de ombros ele não teve o que fazer.

Os três sentaram no chão de frente ao prédio principal, recostados na parede e perto das sombras, de forma que veriam quando Aizawa viesse.

Izuku se sentia calmo, sua quirk saciada e seus ossos cansados. Sua mente estava lúcida, diferente da última vez que haviam se visto. Todoroki sentou do seu lado, o calor reconfortante ajudava.

Bakugou o olhava da mesma forma neutra de antes. Se perguntava quem havia conseguido colocar na sua cabeça que gritar não lhe daria nada nessa situação. Assim, conseguia ver mais evidentemente as diferenças do garoto que havia visto meses atrás.

Bakugou também parecia mais cansado. Havia linhas escuras abaixo dos olhos dele, que também pareciam diferentes. Mais velhos.

— O que aconteceu, Deku?

Olhou o outro, o rosto virado levemente. Bakugou trincou a mandíbula, mas sua voz era quase calma.

— Você sumiu, sua mãe ficou como louca para te achar, ela some e você aparece, diferente com esse cabelo e com uma quirk.

Izuku suspirou, seus olhos focando em suas mãos tortas.

— Eu não sei.

— VOCÊ-

Bakugou respirou fundo, parecendo recuperar o controle.

— Você não sabe?

Ele pareceu descrente. Incrédulo. Izuku mordeu a bochecha e olhou para Todoroki, que também o olhava com leve curiosidade.

— A última coisa da qual eu lembro é de pegar meu caderno na fonte onde você jogou.

Os dois se retesaram com isso, mas Izuku os ignorou, mexendo com as unhas escuras.

— Eu atravessei o portão da escola e tudo some depois disso. Acordei na floresta, sem saber como fui parar lá e com essa... quirk fora de controle. Caminhei por um tempo até conseguir ajuda. Eles disseram que... hum, foi algo traumático e então eu apenas-

Fez um gesto com as mãos, sem saber como terminar, mas os dois pareceram entender ainda assim. Os notou olhando seu cabelo e então suas mãos trêmulas. Todoroki segurou uma delas e a apertou levemente.

Izuku não se importou. Parecia algo natural a se fazer. A voz dele era suave, um tom de entendimento súbito.

— Você disse que sua quirk apareceu de forma forçada, então foi por isso.

Todoroki era mais perceptivo do que lhe davam crédito. Izuku assentiu, seus olhos focados nas mãos dos dois.

— Você não lembra.

O tom de Bakugou tinha uma emoção desconhecida, mas não ergueu o rosto para ver.

— Do ataque do vilão? Do All Might?

Negou com a cabeça.

Os três ficaram silenciosos por alguns segundos e notou a mesma voz estranha em Bakugou.

— Deku... Izuku.

Ergueu o rosto com isso, surpreso. Os olhos de Bakugou estavam atormentados. Havia certa umidade ali que o deixou estupefato e silencioso. Há anos não o via chorar. Ou o chamar pelo seu nome.

— Eu fui a última pessoa que te viu antes de sumir. Duas esquinas até sua casa, foi lá que você ficou. Você nunca chegou em casa.

Izuku entendeu ali que Bakugou se sentia responsável pelo o que havia acontecido. Como ele mesmo havia o responsabilizado durante a briga dos dois. Depois de esfriar a cabeça ele se sentiu terrível de pensar assim.

Bakugou era só um garoto.

Um garoto arrogante e com uma quirk poderosa e habilidade, mas só um garoto. O que ele poderia ter feito de diferente? Teria adiantado algo? Nada.

Izuku apenas tinha certeza que ele não desejava o que tinha acontecido a ele para ninguém, muito menos Bakugou.

— Não tinha como você saber-

— Calado, Deku!

Fechou a boca, vendo o outro fungar. Ele não sentia mais raiva de Bakugou. Só pena no momento, mas o conhecia o bastante para saber que ele não apreciaria isso, então apenas ficou em silêncio.

..............

Quando Aizawa chegou os três ainda estavam calados.

Ele os olhou, medindo a situação em que chegava. Bakugou com olhos vermelhos, Todoroki com ar solene enquanto segurava a mão de Izuku em conforto.

Ele suspirou e os levou para casa.

.....................

No dia seguinte Izuku aceitou a oferta de Nedzu e começou, hesitantemente, a procurar terapia.

Ele queria ter certeza que nenhum pensamento feio como o de antes tomaria forma. Ele não deixaria o que aconteceu o mudar mais do que já tinha feito.

.....................

A data do festival de esportes chegou muito rápido e nos dias até lá Todoroki parecia mais e mais irritado. Suas mensagens eram vagas e ele se jogava nos treinos com ferocidade, disposto a vencer o campeonato a todo custo. Izuku não conseguia o entender, mas tentou o incentivar positivamente. Cada vez tinha mais certeza que havia algo de extremamente errado na situação de Todoroki em casa, na relação dele com sua família, principalmente seu pai.

Ele não entendia muito sobre pais, nunca tendo tido um, mas gostava de pensar que Aizawa talvez-

"Melhor nem pensar nisso. Nope. Não vou por aí."

Izuku tinha uma terrível mania de se apegar às pessoas. Ele até mesmo estava se aproximando mais do restante da classe de Aizawa nos últimos tempos, já que era comum o verem com Todoroki e eles sabiam que havia algo estranho na sua relação volátil com Bakugou. Izuku não almoçava mais sozinho ou com os professores, isso era um fato.

Quando o festival chegou Aizawa ainda estava enfaixado e a investigação sobre sua mãe estava parada. Todas as forças policiais muito investidas nos ataques do vigilante Stain que já havia matado 17 heróis e deixado mais de 20 inválidos. A terapia não havia o ajudado a lembrar de nada, mas estava tentando ser paciente, mesmo que os pesadelos estivessem se tornando mais e mais brutais, em uma mistura estranha entre o corpo de Aizawa depois de USJ, a porta e até mesmo Todoroki no meio.

Então, era de se esperar que no dia de festival Izuku estivesse inquieto e evasivo, se sentindo à flor de pele durante toda a manhã, ao ponto de Aizawa quase o deixar em casa. Armado com uma seringa de supressantes, algo que quase não havia usado nas últimas semanas, Mochi e Sushi, ele subiu até a cabine com Aizawa e Yamada e se preparou para assistir o que viria.

Logo no começo ele percebeu que sim, tinha boas razões para estar preocupado com Todoroki.

Ele não estava bem.

No intervalo depois da segunda prova ele tomou coragem e desceu para o estádio.

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— Não há nada de errado em querer vencer.

Izuku se sentia frustrado, mas era a primeira vez que sua frustração com Todoroki não tinha nenhuma diversão embutida, apenas aborrecimento e preocupação.

— Eu não disse que tem, mas nem começou ainda a luta e você já tem hipotermia. É, eu não sou cego, eu reconheço bem demais os sinais por experiência própria.

Todoroki parou onde caminhava a sua frente, as passadas largas propositais. Tentou não se magoar com isso, o encarando de frente e erguendo o queixo, se plantando firmemente.

— Isso não é da sua conta.

A voz dele era tão glacial quanto sua quirk, o olhar hostil o fitava de cima e Izuku se sentiu terrível.

— Me desculpe por ser um idiota e me preocupar com meu amigo.

—Eu não vim para U.A para fazer amigos, Midoriya. Não se meta nisso.

A frase o bateu quase de forma física e deu um passo para trás.

Izuku mordeu o lábio e tentou controlar o que sentia. A expressão de Todoroki se contorceu, ele abriu a boca para falar, mas Izuku apenas balançou a cabeça. Ele já havia passado por isso, várias vezes. Conhecia bem aquela história. Ele não seria como o velho Izuku nisso, não correria atrás de uma amizade unilateral.

— Foda-se, então. Você que sabe da sua vida.

Se virou para sair dali, antes que sua quirk desse as caras. Uma mão quente segurou firme em seu pulso e parou. Olhou para a mão e para Todoroki, que o soltou devagar, o rosto parecia quase em pânico.

—Eu...Midoriya. Espera. Me desculpe.

— O quê?

Todoroki suspirou de forma cansada, se recostando na parede e passando a mão no rosto.

— Eu não sei como fazer isso.

—Fazer o quê?

—Lidar com as pessoas, mas... eu não quero que vá embora.

Izuku sentiu a raiva se dissipar de uma vez, se recostando na parede na frente dele.

— Eu também não.

Eles dois eram uma bagunça pelo jeito. Todoroki o fitou por entre os dedos, os olhos nos seus, sua expressão parecendo ponderar algo, até se tornar resoluta.

— Midoriya, já ouviu falar sobre os casamentos arranjados entre quirks?

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Pelo menos sua quirk tinha bom gosto. Izuku agora sabia porque ela odiava tanto Endeavor. Izuku tocou o supressante em seu bolso, ponderado se valia a pena usar agora, porque com certeza ele sentia algo se expandindo em seu peito.

— Por isso que tenho que vencer o festival sem usar a quirk dele. Eu tenho que provar que não preciso dele para ser um herói.

E a situação apenas se complicava mais. Izuku sabia que não era a melhor pessoa para aconselhar sobre traumas, quando ele nem mesmo conseguia verbalizar sobre o que tinha certeza que havia acontecido consigo, porque só de pensar na palavra sentia vontade de arrancar sua pele fora. Mas Izuku sabia sobre quirks e principalmente sobre os efeitos negativos delas. Ele sabia que o que Todoroki estava fazendo podia o render incapacitado um dia, se não acontecesse algo pior até lá. Diferente da sua quirk quebrada, a dele era completa, balanceada perfeitamente. Ele estava se incapacitando propositalmente.

— Shoto.

O nome saiu facilmente de boca, sem formalidades. Já tinham passado disso.

O outro o olhou, o rosto ainda tempestuoso depois de jogar seus demônios para fora.

—Eu entendo onde quer chegar, mas não acha que o efeito é bem o contrário? Que está deixando ainda mais ele ditar sua vida, quando se incapacita assim por culpa dele?

A expressão do outro se fechou ainda mais e falou mais rápido.

— Você está se machucando por-

— Eu não vou usar a quirk dele, Midoriya. Isso é final. Não vou fazer o que ele quer.

— Mas é questão é essa, não é? A quirk não-

— Não seja hipócrita, não você, que odeia a sua quirk. Achei que iria entender isso, acho que me enganei.

— Me deixa falar!

Bateu o pé no chão, o túnel tremendo acima dele levemente, poeira caindo nas cabeças dos dois. Izuku respirou fundo, fechando os olhos. Todoroki ao menos dessa vez ficou em silêncio, aguardando que se recuperasse.

— Isso é diferente.

Abriu os olhos e fitou o outro com firmeza.

— Eu não quero ser um herói, eu não vou poder ser um. Nunca. Você vai. Provavelmente vai conseguir se graduar usando só seu gelo, se incapacitando, você é forte ainda assim. Mas um dia vai chegar uma situação, fora da escola, na vida real, em que vai ter uma escolha, onde usar sua quirk de forma completa vai ser a diferença entre salvar alguém ou não. Esse é um peso que vai ter que carregar, Shoto. A vida de alguém-

"Sangue nas paredes. Frio e silêncio. Um corpo imóvel, torto além do possível."

—Izuku?

Balançou a cabeça, colocando a mão na boca para impedir a súbita ânsia de vômito. Shoto tocou seu ombro, a expressão agora menos guardada, os olhos vasculhando seu rosto.

—Eu não quero que leve esse peso, Shoto. Não deixa seu pai tirar isso de você.

A expressão do outro ficou em conflito, mas era clara a teimosia ali.

Antes que pudesse falar mais alguma coisa ouviram palmas nas arquibancadas, a voz de Kayama anunciando que a próxima etapa estava perto de começar.

— Eu tenho que ir.

Shoto o olhou em conflito, fitando fim do corredor e seu rosto possivelmente muito pálido.

— Vou te levar até Aizawa.

—Não, pode ir. Vou ficar bem. Pensa no que eu disse, tudo bem? Essa conversa não acabou.

Apenas quando o outro saiu do túnel percebeu que não estavam sozinhos, a outra fonte de calor conhecida bem perto. Izuku virou irritado.

— Bakugou, ouvir algo íntimo de outra pessoa assim sem permissão é terrível.

O outro saiu de onde estava atrás da parede, uma expressão petulante, mas o conhecia o bastante para saber que ele estava abalado. Bom.

— Se não sair logo vai perder sua vez.

— Vai se foder, Deku.

Mostrou o dedo do meio em resposta. Talvez estivesse convivendo demais com Bakugou nos últimos tempos. O outro lhe deu as costas e tratou de jogar a última pedra.

— Estou torcendo pelo Shoto! Espero que ele chute você!

Quase riu quando ouviu a explosão e o grito indignado.

—ÃH??

Saiu de lá antes que ele voltasse.

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Quando Shoto jogou um iceberg que cobriu metade da arena suspirou e voltou a descer da cabine.

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Ele o sentiu antes mesmo de o ver. Endeavor tinha um calor bem particular, que deixava sua quirk agitada, mas em repulsão. O viu no corredor, seu corpo parecendo imenso em comparação ao de Shoto. O homem esbravejava, punhos fechados e rosto flamejante. Na sua mente veio a mesma imagem, mas um Shoto bem menor. Uma criança, vulnerável. Sem poder se defender.

"Sem poder fazer nada para impedir sua mãe de se machucar."

Izuku esperava perder o controle ali, mas o efeito foi contrário e inesperado, como se fosse a primeira vez que ele e sua quirk entravam em acordo em algo. Era a primeira vez que se sentia totalmente no controle.

Sentiu o balão em seu peito se expandir, a sensação do calor desagradável de Endeavor próxima. Izuku tomou aquela sensação para si e apenas puxou, o balão se expandido até se abrir, preenchendo cada parte do seu corpo, fazendo a energia fluir até a ponta de seus dedos, vibrando em expectativa. Era uma sensação nova, não se sentir sufocado por sua própria quirk.

Ele guardaria para sempre o rosto embasbacado de Endeavor quando as chamas sumiram de forma repentina do seu rosto. O viu tentar as acender de novo, mas continuou puxando. Shoto o viu, os olhos arregalados nos seus, os lábios trêmulos em quase um sorriso. Izuku piscou um olho e o fez sinal para se afastar, de olhos nas costas do herói que parecia tentar entender o que estava acontecendo com a própria quirk, procurando provavelmente por Aizawa por perto.

Shoto deu um passo para o lado e Izuku, com a maior satisfação que já havia sentido em usar sua quirk até então, deixou a energia fluir por seu corpo e empurrou.

Endeavor quase voou para fora do túnel, caindo dentro da arena.

Os dois garotos se olharam, ambos de olhos arregalados. Izuku sabia que estava encrencado, Aizawa ia saber quem havia feito isso na hora, ainda assim não conseguia se arrepender.

Não quando ouvia pela primeira vez a gargalhada de Shoto.

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Eles deram um intervalo maior para a batalha final. Izuku caminhou com Shoto até a sala onde se prepararia para a luta contra Bakugou. Ele sabia que não havia muito o que fazer para o outro mudar de ideia, assim como sabia que só com meia quirk Shoto nunca venceria Bakugou.

— Eu sei o que está pensando.

Olhou para o outro de forma curiosa.

—Não sabia que lia mentes, Shoto.

— Você não entende. O poder dele-

— Você continua dizendo isso, que o poder é dele. Vou te contar uma coisa, minha quirk ama a sua quirk, mas odeia a do Endeavor.

Shoto virou o rosto levemente, a testa franzida, o lembrando novamente de Mochi. Izuku parou na porta e olhou para dentro, vendo Bakugou murmurando algo na mesa, os ignorando propositalmente.

— O que quero dizer, é que é seu poder. É sua quirk. E você vai ser um herói com ela e foda-se Endeavor, isso não tem nada com ele se não quiser.

A cara de Shoto naquele momento era algo que queria guardar também. Uma expressão de incredulidade, como se tivesse lhe contado o segredo sobre a viagem no tempo.

Depois não saberia explicar a razão de ter ficado na ponta dos pés e beijado o rosto embasbacado do outro rapidamente.

—Boa sorte, Shoto.

Izuku andou pelo corredor e virou a curva sem olhar para trás, apenas quando não o via mais arregalou os olhos em incredulidade e pânico, tampando seu rosto com as mãos e escondendo a cara no canto da parede.

— Por que diabos eu fiz isso!?

...................................

Quando o estádio ardeu em chamas Izuku esqueceu da sua mortificação.

Sua quirk se moveu no seu peito, alcançando o calor que estava em toda parte. Saciada e feliz.

Izuku focou no sorriso de Shoto lá embaixo, no rosto excitado de Bakugou, e também se sentiu estranhamente saciado.

Shoto venceu o festival.

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Izuku não pode ficar e comemorar com Shoto sobre a vitória. No meio da cerimônia Aizawa recebeu a notícia sobre o que havia acontecido com Ingenium e eles foram para casa mais cedo para que ele passasse no hospital. Os dois haviam estudado em U.A na mesma época e eram velhos amigos.

Izuku conseguiu conversar com o herói ferido brevemente, mas foi o suficiente para ver, não pela primeira, como era comum coisas ruins acontecerem com pessoas boas.

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Após o festival as coisas estavam parecidas, mas diferentes, como tudo na vida de Izuku.

Sua relação com Bakugou, seu intervalo em U.A, seu treinamento e até um pouco a relação com sua quirk. Tudo havia mudado um pouco, algo que parecia mínimo, mas era como tentar navegar em terreno outrora conhecido quando alguém muda tudo 5 cm de lugar. Parece algo pequeno, mas faz você tropeçar a toda hora.

A principal mudança, no entanto, era sua relação com Shoto, e não só porque agora se correspondiam com primeiro nome. Havia algo a mais, que não conseguia compreender direito.

Ele quase começava a pensar que o calor que sentia em seu peito quando o via não era só em razão da sua quirk estranha.

Shoto também o olhava diferente, mas era Shoto, ele nunca tinha certeza do que se passava na cabeça dele.

— Então, vai fazer estágio com Endeavor?

O outro deu de ombros.

— Eu não posso mentir e dizer que ele não é o melhor. Se quero entender minha quirk, é para onde tenho que ir.

Izuku não gostava da ideia, mas entendia onde ele queria chegar.

— Boa sorte, então. O estágio é em Hosu, certo? Onde teve os últimos ataques de Stain?

Seu peito apertou um pouco com isso e sentiu Shoto bater o ombro no seu onde estavam sentados se alongando. Aizawa mandou que fossem na frente e fizessem o aquecimento, ao que parece ele iria trazer um novo aluno para treinar com eles.

— Não precisa se preocupar comigo.

Fez um muxoxo brevemente, mas soltou com uma risada.

— Amigos são para essas coisas?

Por alguma razão pensou ver Shoto ruborizar levemente.

— Izuku, posso perguntar uma coisa?

Se esticou tocando a ponta dos dedos dos pés, sentindo os estalos prazerosas em sua coluna.

— Já fez.

Quase podia sentir o aborrecimento dele de longe e sorriu.

—Duas, então.

— Já fez também.

Esticou uma perna de frente ao corpo, dobrando a outra e jogando seu corpo de lado. Ficava feliz ao notar que agora tinha algum músculo. Era tão difícil se manter em forma com uma quirk como aquela.

—Quatro perguntas.

Izuku sorriu, esticando a outra perna e se jogando do outro lado.

—Já fez.

Viu a cara de Shoto perto do seu rosto onde ele se esticou para o ver, também se flexionando.

— Quando?

—Acabou de fazer.

O empurrão que recebeu foi merecido, mas não menos doloroso. Os dois se engalfinharam de forma nada elegante, sua quirk quase ronronando satisfeita com a proximidade. No fim Shoto o imobilizou vergonhosamente rápido, sentando em sua cintura e segurando seus braços cruzados na frente do corpo.

Izuku ficou momentaneamente preocupado, esperando entrar em pânico com a posição, algo que até hoje ocorria mesmo que fosse Aizawa lutando com ele. Era difícil fugir da sensação terrível que estar assim sempre causava.

Dessa vez não havia nada, além do excitamento da sua quirk e de rostos corados pela ação. Os dois respiraram rápido e sentiu seu rosto doer por estar sorrindo tão largo. Meses atrás não pensou que isso seria mais possível.

Shoto o olhou também sorrindo, um sorriso bem menor, mas estava ali. O viu se inclinar levemente, o rosto virado em curiosidade.

—Por que me beijou?

Então essa era a pergunta. Seu rosto corou terrivelmente e tentou o desviar, mas era difícil com Shoto o olhando assim.

— Foi de boa sorte? Desculpa.

Gemeu com sua própria resposta desastrada, mas o outro não pareceu irritado, apenas ainda mais curioso. Pensativo. O viu franzir os lábios e então a testa, ponderando algo, para então assentir resoluto.

—Entendi. Nesse caso-

Shoto desceu a cabeça tão rápido que não teve como se preparar. O beijo atingiu o canto da sua boca e quase machucou seu nariz pela falta de jeito dos dois. Ainda assim, seu coração bateu acelerado, os olhos passando entre os olhos e a boca dele rapidamente quando ele se afastou para ver sua reação. Os olhos de Shoto suavizaram. O viu se mover quase em câmera lenta, pronto para se abaixar novamente, mas uma voz bem irritada se fez presente.

— Não era desse aquecimento que estava falando.

A faixa de Aizawa tirou Shoto de posição mais rápido do que o viu utilizá-la em toda a sua vida.

Izuku cobriu o rosto com as mãos, sentindo suas bochechas quentes. Virou o corpo e se encolheu, espiando seu guardião por entre os dedos, ainda com Shoto preso nas faixas, os cabelos flutuando. Ao lado dele havia um rosto conhecido. Havia o visto no festival. Os olhos cansados e os cabelos bagunçados, assim como o sorriso estranho que tinha agora, tudo lhe lembrava terrivelmente Aizawa.

— Esse é Hitoshi Shinsou, ele vai treinar com a gente a partir de hoje.

Aizawa largou Shoto no chão de uma altura maior do que ele merecia, mas Izuku preferiu não falar nada.

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—Ei, Izuku.

Shoto franziu a testa, olhando fixamente onde Hitoshi corria ao redor da área e Aizawa sentado debaixo de uma árvore, que tinha os olhos mais alertas do que de costume durante essas sessões.

— Hum?

— Isso parece meio absurdo, mas me ouve. Shinsou e Sensei. Não acha eles muito parecidos?

—Shoto-

— Acha que ele é o filho secreto do sensei? Isso faz de vocês irmãos, certo?

Izuku soltou o ar em uma pequena risada. Shoto era realmente alguma coisa.

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"Você acha que pode fugir de mim? Não há nada mais em você do que eu agora. Eu vou provar. Merece uma lição por isso."

Às vezes Izuku podia lembrar da sensação com clareza, principalmente após acordar de um pesadelo. O objeto pesado vindo contra suas mãos, a impossibilidade de se mover e fugir da dor enquanto os ossos pareciam pulverizar abaixo do peso.

Suas mãos antes eram uma parte tão importante de si. Com elas ele escrevia suas análises, os sketchs dos heróis detalhados. Era seu grande orgulho, a única coisa que achava fazer direito na vida. Agora? Ele não conseguia nem segurar uma caneta direito para escrever sem sentir dor. A terapia ajudava, mas só havia tanto que mesmo Recovery Girl pudesse fazer. Com o tempo da injúria quando havia chegado ao hospital, havia tido sorte de não ter nada amputado.

Olhou para seus dedos arruinados e suspirou, desistindo de segurar os hashis. Não estava com fome mesmo.

Balançou os pés pendurados na mesa do lado de fora do prédio, olhos verdes procurando Shoto que já devia ter saído para o intervalo. Shinsou havia roubado Mochi e tirava um cochilo, deitado estendido no banco, as pernas longas demais quase saindo na ponta.

Era um sujeito estranho, Shinsou. A quirk dele também lhe dava uma sensação ruim, mas se refreava em dizer qualquer coisa. Deus sabia que ele já era autoconsciente o bastante com todas as coisas que ouviu sobre ela e Izuku sentia que o problema não era a quirk do Shinsou em si, mas alguma associação que sua mente fraturada tentava fazer. Além do mais, Izuku realmente gostava de Shinsou, algo em como ele parecia tanto com Aizawa. Ou talvez Izuku apenas se tornasse próximo dos mais traumatizados e inaptos socialmente, devia ser um dom.

— Sensei está falando com ele.

Falando nisso.

Olhou para cima ao ouvir a voz conhecida e Bakugou já vinha sentando na mesa e tirando o bento. O olhou com curiosidade, porque era raro o ver sozinho. Ele sempre tinha um esquadrão atrás dele, embora esses, diferentes dos que lembrava na escola, eram realmente boas pessoas. Era engraçado de ver como os alunos mais animados da classe haviam adotado o Grinch da turma.

"Vai entender."

—Com o bastardo meio-a-meio.

—Shoto?

Ele o olhou como se dissesse 'quem mais?'

Izuku piscou ainda mais curioso. Bakugou o ajudando, quem diria. Kirishima e os outros realmente estavam conseguindo um progresso.

Olhou de rabo do olho seu antigo amigo de infância comer e o ignorar. Shinsou abriu um dos olhos e o fitou em questionamento. Apenas deu de ombros. "Para ser justo ele está mudado. Meu sumiço realmente mexeu com ele."

Eles nunca voltaram ao assunto, mas notava como ele passava um tempo fitando seu cabelo, olhando com fixação quando usava sua quirk, acessando as cicatrizes. Como agora, fitando suas mãos trêmulas ao tentar pegar um hashi de novo. Ele notou também a forma como ele se movia perto, principalmente quando sua classe hiper-excitada acabava deixando Izuku ansioso demais ou ficava nervoso perto de algum professor quando estava com eles.

Bakugou sempre foi inteligente, intuitivo, por baixo de toda essa fachada. Izuku sabia que ele havia feito a pesquisa dele e tinha uma noção do que havia acontecido com Izuku.

—O que tem você e o meio-a-meio?

A pergunta pareceu desinteressada, mas Izuku sentiu o sangue subir em seu rosto. Imediatamente começou a brincar com os próprios dedos e ouviu uma suspeita risada vinda da forma deitada no banco.

—Minha quirk gosta do calor.

Bakugou parou com o curry perto da boca e o fitou incrédulo. E então deu o que parecia suspeitosamente uma risada, sua voz sarcástica bem evidente.

—O que é você? Um gato?

Izuku ficou ainda mais mortificado, sua boca abrindo e fechando para ter uma resposta a altura.

Ele não teve.

.................................................................

As coisas estavam indo bem para Izuku. Ele tinha novos amigos, uma relação melhor com sua quirk e tinha Aizawa. Izuku também tinha Shoto, que era alguma coisa a mais, talvez seu melhor amigo, mas o termo não parecia mais o suficiente.

Ele não estava totalmente feliz, não sem sua mãe por perto, não com os pesadelos. Era como piscar e de repente tudo ao redor sumir e estar de frente para a porta. Izuku às vezes acordava de noite sem saber se tudo de bom havia sido apenas um sonho.

Ainda assim ele estava melhorando, estava se encaminhando.

E como tudo em sua vida, sempre que começava a entrar em equilíbrio, era quando algo terrível iria acontecer.

.................................................

Talvez existisse alguma lei sobre a sua vida, Izuku pensava, a qual ordenava que quando algo desse errado, daria da pior forma possível e em todos os aspectos possíveis.

Aquela noite em Hosu estaria nos pesadelos de muitas pessoas por muito tempo, foi um desses exemplos de desastres seguidos, com Nomus atacando e Stain à solta, heróis feridos e uma quirk em descontrole.

Para Izuku tudo começou quando decidiu tomar o trem sozinho entre as prefeituras. Aizawa estava em patrulha e Kayama, que estava para vir ficar com ele, acabou sendo chamada no último minuto. Izuku ofereceu a opção de ficar em casa, mas Aizawa negou, dizendo que voltaria para casa e o traria para a agência. Seu guardião parecia inquieto com algo e não queria que Izuku ficasse sozinho. Como acordo, ele o convenceu a não voltar só para buscá-lo, já que o trem da sua casa até a agência tinha apenas duas estações e Izuku estava se sentindo particularmente corajoso naquele dia. Ele já andava no campus sozinho, tinha ido ao mercado sem entrar em pânico e naquele horário quase sempre estava bem vago. Além do mais, naquele ponto já estava confiante que sabia se defender se fosse atacado. Izuku não poderia se esconder para sempre. Conseguiria fazer isso.

E no início tudo deu certo. O trem estava quase vazio, ninguém veio conversar com ele. Sentou no banco dos fundos, seu capuz vermelho erguido cobrindo os cabelos brancos e fones de ouvido, Mochi bem segura dormindo dentro do seu casaco.

Quando o trem passava em Hosu foi quando tudo deu errado. Izuku sentiu antes de se virar para a janela. O calor, mesmo nessa distância, deixou sua quirk inquieta. Ergueu do banco e olhou para fora, os olhos arregalando ao ver o rastro de caos na cidade.

Ele sentiu o impacto em um dos vagões, fazendo pessoas caírem no chão e gritarem. O trem parou e ouviu um som estridente e pavoroso. Algo invadiu o seu vagão e abraçou Mochi em segurança, vendo uma criatura gigante fazendo passagem pelo metal facilmente, vindo em direção as pessoas que se encolhiam nos vagões traseiros apavoradas.

Izuku não teve que pensar realmente. Apenas sentiu a sensação da sua quirk tomar conta do seu corpo, quase como um mecanismo de sobrevivência, a energia cobrindo a ponta dos seus dedos e subindo por seus braços. Izuku empurrou, ouvindo o estalo agourento de ossos se quebrando quando o monstro se esticou forçosamente antes de ser jogado pelo vidro do trem caindo abaixo dos trilhos.

Ignorou os sussurros ao redor, pessoas o olhando de forma incerta ao o ver parando o monstro em questão de segundos. Izuku sentiu o frio em seu corpo, mas o calor que vinha de Hosu queimando não o deixou se sentir assim por muito tempo.

Olhou para baixo, ainda estarrecido com o cenário.

— Oh não, Shoto.

Puxou o telefone e mandou duas mensagens seguidas, mas elas não foram visualizadas.

Izuku talvez não pudesse jogar toda sua culpa na sorte, o ajudava como tinha a tendência de tomar decisões estúpidas. Para quem não queria ser um herói, ele gostava de se meter nos problemas alheios com frequência.

O mais seguro realmente seria ele ficar no trem com os passageiros, onde heróis começavam a chegar para levar as pessoas para lugares seguros.

Izuku pulou da janela para os trilhos, usando sua quirk para flutuar momentaneamente e amortecer a queda. Ele correu em direção ao caos.

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Izuku não era nenhum herói. Ele nunca poderia ser.

Era o que repetia a si mesmo sempre que interferia em algum ataque dentro de Hosu. Ele só queria encontrar Shoto, salvar pessoas era só uma consequência.

Mesmo com todo o fogo ao redor ele começava a sentir frio, nunca havia usado sua quirk de forma tão continua, e tinha certeza que o que fazia no momento podia se configurar como crime de vigilantismo, mas quando as pessoas gritavam por socorro ele tinha que intervir.

"Ninguém veio por você. Ninguém ouviu você. Você gritou e gritou e ninguém veio."

Trincou os dentes e puxou, um Noumu vindo em sua direção para então o empurrar para longe na parede de um prédio. Entrou na multidão quando viu os heróis procurando quem havia feito isso. Podia sentir um gosto metálico na sua boca, uma dor em seu abdômen por usar tanta energia sem uma reposição.

Tentar usar sua quirk em pequenas doses para não perder o controle e causar um estrago maior do que ajudar, necessitava de mais energia do que podia imaginar e sentia o balão em seu peito se expandindo e se movendo de forma insatisfeita. Era difícil respirar assim.

Se sentia sufocado e saiu do meio das pessoas para a calçada, correndo na direção em que seu celular apontava a agência de Endeavor. Alguém puxou sua bolsa no desespero, coisas caindo ao redor. Mochi pulou dos seus braços e correu, a seguindo para fora da multidão.

Foi quando ele deu de cara com Stain e o irmão do Tensei.

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Izuku: Shoto? Está tudo bem?

Izuku: Estou em Hosu.

Izuku: Responde quando visualizar.

Izuku: Preocupado.

Izuku enviou sua localização.

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Aizawa olhou as notícias sobre Hosu na televisão da agência, onde havia retornado para esperar por seu garoto que devia ter chegado tempos atrás.

A imagem do trem parado nos trilhos lhe deu a certeza que algo havia acontecido.

Pegou o telefone no bolso para ligar, já se encaminhando para a porta.

Foi quando viu a mensagem com a localização.

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Se meter entre o perigo e outra pessoa era tão familiar quando respirar, e nem era a primeira vez que alguém que tentava ajudar recusava a sua ajuda. Iida era uma pessoa que não conhecia bem, haviam conversado poucas vezes, mas não tinha o visto como uma pessoa que faria algo assim, que se deixaria ser consumido.

"A dor faz isso com as pessoas, você sabe mais do que ninguém."

— Isso não te diz respeito! Saia, Midoriya!

Sorriu, porque era tudo tão familiar. Stain o olhava com curiosidade desde que havia entrado no beco, com suas roupas civis e baixa estatura.

— Seu irmão vai querer que volte para casa, Iida. Não se preocupe, eu pedi ajuda.

Stain deu uma risada e se postou melhor na frente dos dois caídos.

— A atitude de um herói, se envolver mesmo quando sua vida corre risco.

Izuku tentou não se encolher com isso, os olhos endurecendo.

— Eu não sou um herói.

Fechou as mãos em punhos e se preparou, de olho em todas as lâminas no corpo do vigilante. Aquilo estava totalmente fora da sua liga.

—E ainda assim, se comporta melhor do que esses falsos-

Izuku jogou o vigilante contra a parede com força, o puxando e jogando contra a outra.

— Odeio monólogos.

Uma faca veio em sua direção e o caos começou.

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Quando o calor conhecido se aproximou seus sentimentos eram contraditórios. Ele estava feliz por não estar mais sozinho, apavorado porque Shoto iria ficar em perigo e sua quirk se moveu excitada em seu peito, já alcançando sua fonte de calor favorita.

Izuku engoliu o sangue em sua boca, não querendo correr o risco de dar margem ao vigilante de o paralisar, sorrindo ao ver as chamas engolindo o beco, fazendo uma barreira entre Izuku e o perigo, como na primeira vez que se viram.

— Não podia ser mais específico, Izuku?

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Talvez eles pudessem ter ganho, os três juntos. Mesmo que Izuku estivesse se esforçando para não perder o controle a todo momento, já no seu limite. Shoto devia saber disso, por isso se colocava tanto à sua frente e tomava os ataques.

—Eu disse que um dia podia precisar dos combos.

Izuku se negou a responder, porque eles podiam ganhar. Haviam entendido a quirk do Stain, a ajuda estava vindo, só tinham que o impedir de ferir mais alguém.

Estava tão perto.

Até ser paralisado.

—Izuku!

—Midoriya!

Caiu como uma boneca quebrada no chão, sem conseguir se mover. Sua quirk batia furiosa em seu peito, a sensação de energia ainda estava lá, mas não conseguia focar em nada. Podia ver o chão se rachando abaixo do seu corpo. Shoto gritou por seu nome e virou os olhos para cima, o vendo tentar chegar até ele e se defender ao mesmo tempo.

O pequeno controle que ainda tinha parecia ainda menor, o metal da lixeira se retorcendo perto, sua quirk em desespero querendo liberdade. Querendo proteger.

Shoto chamando por seu nome, se machucando, tentando o proteger.

"Sua mãe chamando por seu nome, se machucando, tentando o proteger."

Enquanto estava paralisado sem poder fazer nada além de assistir.

"Vulnerável, sem poder, sem escolha. Apenas assistir."

E de repente ele não estava mais lá. Seus olhos vidrados na cena, o beco sumindo. Tudo era apenas aquela porta. A porta podre e suja de sangue. A porta que só exalava morte e dor.

—Izuku! Corra daqui!

Estava tão perto que podia tocá-la. Ouvir as frases atrás com clareza. Os gritos por seu nome. Seus gritos.

"Como vai estar o gato quando abrir a porta? Morto ou vivo?"

Izuku tocou a maçaneta arruinada e a abriu.

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"—Quem matou o gato de Schrodinger?"

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Aizawa chegou em meio ao caos. Bem a tempo de ver Iida salvar Todoroki de ser empalado, bem a tempo de ouvir seu garoto gritar. Um grito do fundo do peito, atormentado e apavorado que nunca devia sair da boca de ninguém, ainda mais de uma criança.

As paredes ao redor tremeram, os carros na rua acionaram os alarmes e os postes se retorceram na direção deles. A energia era tão forte que foram jogados para trás, sua scarf segurando seus alunos antes que pudessem ir mais longe. Seu corpo ficou subitamente frio, como se todo o calor ao redor fosse sugado. Olhou para Izuku e viu uma estranha forma ao redor dele, quase transparente se não fosse a alta densidade, circulando ao redor da sua criança e se movendo com fúria.

Foi a primeira vez que a ideia ridícula de Todoroki sobre a quirk de Izuku ser parecida com a de Tokoyami fez algum sentido.

Checou rapidamente Todoroki e Iida, notando sangue. Seus alunos estavam feridos. Eles se machucaram e não estava lá para ajudar. Izuku se machucou e não estava lá, havia chegado tarde, de novo.

Mais heróis chegaram na cena, alguns indo até Stain, outros indo ao seu garoto.

— Não o machuquem!

O fogo de Endeavor sumiu. Aizawa teve um vislumbre do rosto de Izuku e viu algo que não tinha visto antes. Os olhos dele estavam totalmente brancos, apenas a esclera a mostra. O rosto dele foi em direção ao herói e Endeavor foi jogado contra a parede.

—Eraserhead? Consegue parar a quirk dele?

Seus olhos vermelhos focaram em Izuku e viu a forma se recolher, só para crescer novamente. Era como tentar alcançar um botão de desligar que estava muito fora do alcance, as pontas dos dedos tocando o interruptor que sempre voltava ao lugar. Piscou e balançou a cabeça frustrado, voltando a tentar.

—Está demorando demais, é a primeira vez que o vejo assim. Preciso dos supressantes.

Sentiu seus pés saírem do chão e se segurou na escada de incêndio. Dentro do beco as coisas flutuavam, a quirk dele levantando objetos e pessoas a parte.

—Isso é insano! Que diabos de quirk é essa?

Mais rápido do que poderiam prever um Noumu voador cortou rasante e veio em direção a Izuku, antes que pudessem fazer qualquer coisa a massa densa e esbranquiçada atacou e o Noumu estava no chão. Ouviram o som de ossos estalando e os gritos da criatura, mas a força não diminuía, o afundando mais e mais, sangue jorrando pelo chão. Era violento e brutal e Aizawa nunca havia visto Izuku dessa forma.

—Mochi.

A voz sem ar de Todoroki o fez olhar para baixo e viu sua gata flutuando nos pés dele, uma seringa na boca. Antes que pudesse fazer qualquer coisa Todoroki a pegou e usando sua quirk para se manter no chão tomou impulso até o centro do caos.

—Todoroki! Não!

—Shoto! O que está fazendo?!

Aizawa finalmente entendeu o que Izuku queria dizer quando falava que sua quirk gostava do Todoroki. Talvez fosse as barreiras de gelo que ele fez ao redor, mas no momento em que ele se aproximou o bastante eles conseguiram tocar o chão, as coisas caindo no beco. A forma retrocedeu, rodeando os dois pacificamente como um cobertor, até sumir subitamente.

Correu para os dois garotos, Todoroki segurando Izuku contra seu peito de joelhos no chão, a seringa ainda fincada no braço dele. Ajoelhou-se ao lado dos dois e tocou o rosto desacordado.

—Hipotermia.

Todoroki assentiu e notou que ele o segurava de um lado, tentando o esquentar. Precisavam ir ao hospital rapidamente, os três garotos estavam muito machucados.

—Consegue o carregar? Tentar subir a temperatura dele até o hospital.

—Claro. Sensei?

Olhou para o outro, os olhos assombrados, algo que nunca havia visto antes. Todoroki sempre tinha a expressão controlada demais para uma criança.

—Ele disse que lembrou de tudo.

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Na manhã seguinte os garotos estavam estáveis. Stain havia sido preso, a situação em Hosu controlada.

Quando a enfermeira entrou no quarto para verificar os pacientes ainda desacordados uma das camas estava vazia.

Izuku Midoriya havia desaparecido.

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Notas finais

Eu não resisti em usar o diálogo "posso fazer uma pergunta?" que vi em um meme.

Só mais um capítulo e o epílogo. O próximo foi um dos mais difíceis de escrever, mas também com um dos diálogos mais importantes para mim. 

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