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A caixa está aberta

Avisos desse capítulo: O abuso que Izuku sofreu é contado nesse capítulo, apesar de não haver nada explícito ou detalhado, apenas mencionado, leiam com cautela, caso haja gatilhos. Há menções sobre pedofilia, abuso infantil (físico, psicológico e sexual), cativeiro e trauma. Para quem quiser pular essas partes da conversa, terá um resumo dos pontos mais importantes nas notas finais.

A caixa está aberta

"Existem feridas que nunca aparecem no corpo e que são mais profundas e mais dolorosas do que qualquer coisa que sangre."

- Laurell K. Hamilton, Mistral's Kiss

Anos depois Aizawa ainda não teria certeza de como Izuku chegou até aquele local no estado em que estava. De acordo com os rastros que seguiu para o encontrar, ele pegou o trem, provavelmente caminhando ainda um longo tempo. Por sorte uma criança como Izuku andando sozinha chamou atenção o bastante para terem notícias sobre terem o visto em várias estações. Com a ajuda de Ragdoll eles conseguiram o encontrar ainda naquele mesmo dia.

All Might o encontrou primeiro e logo Aizawa estava lá. Olhou de relance o herói número um parado no limite da clareira, sem se mover, o rosto mais sério que havia visto desde o ataque em USJ.

Izuku estava encolhido, sentado no tronco de uma árvore e abraçando os joelhos com força. Ao redor na clareira algumas pedras e troncos flutuavam suavemente. Mesmo dali podia ouvir os soluços abafados dele e tudo o que queria era ir lá, o sacudir por ter fugido do hospital, mas mais que tudo verificar se estava machucado.

—Ele está sozinho?

Ragdoll analisou ao redor, o rosto virado levemente. Os olhos dela foram para o chão.

— Tem um espaço vazio subterrâneo, uma entrada para a superfície. Um esconderijo ocupando boa parte da clareira.

Ela pausou e franziu o cenho.

— Ninguém vivo, mas-

Ela parou e o olhou de forma significativa.

Eles provavelmente haviam encontrado onde ele estava no período em que ficou desaparecido então. Era a mesma floresta em que ele havia acordado, em que procuraram por pistas sem encontrar nada. Se apenas alguém tivesse trazido Ragdoll desde o início.

Com o barulho de pegadas olhou para trás e viu Naomasa com mais alguns policiais que ajudavam na busca. Aizawa passou a mão nos olhos e entrou na clareira, os outros ficando para trás. Mesmo que ele não tivesse levantado a cabeça, sabia que Izuku havia o percebido. Sua quirk nunca deixava escapar uma fonte de calor por perto. Quando se aproximou o bastante viu que perto do tronco onde ele estava havia uma entrada, outrora escondida por um tapete de folhas e grama. Uma porta de madeira, apodrecida pela chuva e pelo tempo. Olhou para os dois heróis e apontou para a porta.

Aizawa se ajoelhou na frente da criança encolhida, notando os tremores que passavam pelo corpo dele. Naomasa que se encaminhava para a porta olhou em sua direção e jogou um casaco. Colocou o tecido quente em Izuku, esfregando os braços dele e sentado do seu lado no tronco, aguardando.

Alguns homens entraram, e mesmo dali pode sentir um forte odor vindo de lá.

Sentiu uma mão fria na sua e olhou para baixo, vendo o perfil de Izuku fitando os próprios pés. O garoto se jogou mais do seu lado e passou os braços ao redor dele, apoiando a cabeça no cabelo branco, o rosto frio apertado contra seu peito.

— Izuku? Fale comigo, por favor.

O ouviu soltar o ar suavemente.

—Era uma quirk de controle mental, mas funcionava por sugestões. Ele achava que funcionava em todo mundo, mas eu acho que dependia do quanto a pessoa era teimosa.

Aizawa o apertou um pouco mais e olhou por cima da cabeça dele para Naomasa, atento na conversa dos dois.

—Era assim que ele pegava os outros garotos. Podia passar semanas os vigiando, analisando. Ele dizia o que eles queriam ouvir e os fazia gostar dele. Ninguém ia sentir falta deles, mas eu tinha minha mãe. Era um risco, mas ele realmente queria. Acho que o jogo estava ficando chato, muito fácil. Ele disse-

Izuku pausou, a voz em um tom desinteressado que lhe lembrava logo quando ele começou a morar com Aizawa. Aquela terrível apatia que havia sumido completamente nos últimos meses.

Viu a testa dele franzir.

—Ele me parou na esquina de casa e veio falar comigo. Eu acordei aqui embaixo. Depois eu soube que ele falou com minha mãe, ele tentou fazer ela me esquecer, mas não funcionou. Ele achou que seria fácil, disse que ninguém queria um filho sem quirk, que ela só ia precisar de uma desculpa.

Aizawa fechou os olhos com força tentando se controlar.

—Ele estava errado, sua mãe fez o inferno em terra por você, Izuku.

—Eu sei. Ele disse que eu era mais trabalho do que valia a pena, chamando muita atenção. Esconder as evidências era o ideal, mas ele não queria desistir, ele 'gostava do jogo mais difícil'. Era um desafio. Ter que forçar as coisas o deixava mais irritado, ele queria que eu apenas obedecesse, mas a quirk dele não funcionava direito em mim, eu conseguia quebrar o efeito muito rápido. Eu era teimoso demais.

"Claro que é." Aizawa não conhecia ninguém mais teimoso. Izuku era um sobrevivente, a teimosia por muito tempo foi a única arma que ele tinha na vida.

A respiração se tornou mais pesada em seu peito e Izuku o apertou com mais força.

— Geralmente ele vinha a noite.

"Os monstros aparecem a noite, Eraserhead."

—Não tinha como sair, a porta nunca abria. Eu quase consegui uma vez, mas então...

Izuku abriu as mãos no colo, tentando fechá-las em vão. Os dedos sempre trêmulos. Infelizmente Aizawa entendeu de imediato. O bastardo devia ter feito isso com as mãos dele por tentar fugir. Ele o colocava no condicionamento com a maldita quirk, mas Izuku quebrava o controle e por isso ele recorria a isso. E sabendo o quanto Izuku era teimoso e esperto não queria nem pensar o que mais havia acontecido.

—Ele trouxe minha mãe.

Aizawa ouviu o som de árvores desabando ao redor, mas manteve os olhos no garoto ao seu lado, o abraçando mais perto. Mesmo agora era difícil conseguir desligar a quirk dele, apertar o interruptor quebrado que queria sempre voltar para o lugar.

—Izuku-

Era como se ele não tivesse o ouvindo mais, a voz mais e mais acelerada ao ponto que mal conseguia entender algumas coisas.

—Ele sempre dizia que se eu tentasse algo ele ia atrás dela. Assim ele podia me obrigar a fazer o que ele queria mais fácil, a não fugir. Se eu fizesse algo de errado ela que pagava. Eu acho...eu acho que minha mãe o enganou, facilitou que ele a trouxesse de propósito para me achar.

Aizawa podia ver isso claramente, apenas pelo pouco que conhecia de Inko Midoriya por meio de Naomasa. Tudo o que a mulher havia feito para encontrar o filho, ela era capaz de fazer uma loucura dessas. Ela não deixaria escapar uma chance de encontrar o filho.

— Ele pensou que a quirk dele tinha funcionado, mas no momento em que ela me viu, ela atacou. Aconteceu tudo tão rápido...Ela só queria impedir que ele chegasse perto de mim. Mas ele era tão grande e tão... cheio de raiva. Eu não conseguia fazer nada para ajudar. E minha mãe... ele ia matar minha mãe. Eu não conseguia fazer nada. Eu lembro...eu lembro de sentir esse estalo.

Ele apontou para o próprio peito.

—Aqui. Algo expandido e expandido e eu não conseguia respirar. Tudo ficou branco. Ele gritou e gritou e o som de coisas quebrando e estalando. Eu não percebi na hora o que tinha acontecido, que era minha quirk, eu só queria que ele parasse de machucar minha mãe.

Um tronco explodiu na clareira, farpas indo em várias direções. Ativou sua quirk e suas scarf os rodeou como um escudo. Com a quirk dele desativada pedras e troncos caíram no chão. O corpo dele amoleceu do lado do seu, exausto.

—Izuku, você a defendeu. Sua quirk defendeu você.

O viu se encolher e percebeu que o pior ainda estava por vir. O corpo dele tremeu ainda mais perto do seu, no momento em que piscou viu o chão começar a rachar ao redor deles e ativou sua quirk imediatamente, seus olhos ardendo no processo. Não podiam arriscar um supressante com a dose que ele havia tomado no hospital.

—Eu acho que eu apaguei, por muito tempo. Talvez até mais de um dia, não tinha como saber.

O viu cobrir o rosto com as mãos, a voz abafada e muito baixa.

—Quando eu acordei eu o vi no chão. Torto e quebrado, como uma barata esmagada contra a parede. Tinha tanto...tanto sangue e minha mãe... minha mãe perto da porta. Eu chamei e chamei, mas ela não me respondia. Não se movia. Não respirava. Olhos abertos, mas não conseguia me ver. O pescoço dela... E eu entendi. Ela estava perto demais de mim naquela hora.

Ouviu Naomasa soltar o ar surpreso de onde estava em um xingamento baixo.

"Oh, Izuku."

Aizawa não aguentou mais e fechou os olhos. Ouviu algumas vozes exclamarem em susto quando a porta foi arrancada e jogada longe na clareira, batendo nos troncos das árvores, se retorcendo e despedaçando no ar. Quando o último pedaço caiu a quirk dele finalmente se acalmou, se tornando plácida. O silêncio repentino era quase ensurdecedor.

Agora ele entendia a razão dele odiar tanto a própria quirk, de se odiar tanto. Ele entendia a razão de ele ter empurrado isso tanto dentro da própria mente. Quando ele voltou a falar, sua voz estava embargada, as mãos agarrando os próprios cabelos em desespero.

—Eu matei minha mãe com minha quirk.

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—Quem matou o gato de Schrodinger?

—Foi você, que abriu a caixa.

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Aizawa removeu as mãos dele dos cabelos com dificuldade, segurando seus pulsos antes que ele se machucasse mais. Com uma mão livre puxou o rosto dele para cima gentilmente e o fitou nos olhos com convicção.

—Você não queria fazer isso. Nada estava no seu controle, não foi sua culpa. Izuku, foi um acidente.

O garoto balançou a cabeça em negação e desabou em soluços. Um choro sentido e doloroso demais.

—Foi um acidente, Izuku. Está me ouvindo? Foi um acidente.

Encostou o rosto no cabelo dele e o balançou de forma calmante por um longo tempo, repetindo aquilo até sentir a respiração dele mais compassada. A exaustão dos últimos dias finalmente havia o alcançado e o corpo dele amoleceu no abraço, apagado.

Naomasa se aproximou, a expressão sombria.

— Inko?

— A encontramos. Os dois.

Aizawa mordeu o lábio, tentando controlar o turbilhão que sentia no momento. O tom acusatório saiu sem se conter.

— Você não parece tão surpreso.

O homem suspirou e sentou do seu lado no tronco. Ignorou como ele parecia exausto.

—Sobre ter sido a quirk dele? Sim, estou surpreso. Sobre a mãe não estar mais viva? Nem tanto.

Naomasa olhou para o esconderijo, onde mais homens seus entravam.

— Quando eu peguei esse caso, Inko Midoriya me causou uma impressão, mesmo no pouco tempo em que estive com ela. Se essa mulher estivesse viva, não tinha nada no mundo que fosse a impedir de estar com o filho. Para alguém que parecia tão pacifica, ela era uma força da natureza. Então sim, eu sabia que ela não estava viva mais. Yagi também era da mesma impressão que eu, ele a conheceu bem nesse período. Ele falou com um velho conhecido para confirmar sobre o estado dela. Como Yagi e ela tinham uma ligação, ele o convenceu a olhar no seu futuro.

"Nighteye"

Guardou esse fato para depois, abraçando Izuku para mais perto.

— Por que não disse nada?

—Aizawa... Você acha, que no estado em que ele estava quando chegou, ele teria aceitado isso? No fundo ele sabia da verdade também, mas não podia aceitar. Teve uma razão para ele só lembrar disso agora, quando não está mais sozinho para aguentar o impacto. A mente dele é brilhante.

Sentiu a raiva sumir e desinflou exausto.

—Por isso não o forçou para lembrar. Não insistiu. Estava o dando tempo.

O homem suspirou e assentiu, tocando em seu ombro de forma relutante. Os dois olharam para o garoto, mais desmaiado do que adormecido. Aizawa reparava agora que apenas nesses dois dias ele parecia bem mais magro. Um dia inteiro sem comer com uma quirk como a dele era algo perigoso.

— Pode levá-lo daqui. Vamos cuidar de todo o resto.

All Might se aproximou dos dois, parecendo fora de lugar em sua roupa colorida na cena tão terrível.

—Eu guio vocês.

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Aizawa se recusou a entregar Izuku a All Might, com certa urgência de o manter o mais perto possível.

O herói estava silencioso, algo pouco característico desde que o conhecera. Aizawa não sabia exatamente qual era o envolvimento dele no caso e tinha curiosidade em saber, ainda mais com as novas informações que tinha. Desde o início ele parecia investido na situação além do que era profissional e não podia não notar a forma como ele olhava para Izuku em U.A.

—Yagi.

A voz baixa fez os dois olharem para Izuku, os olhos verdes entreabertos e fitando o homem. Aizawa arregalou os olhos em surpresa, mas All Might não parecia surpreso pelo garoto saber sua identidade real.

—Olá, Jovem Midoriya.

—Olá.

Aizawa sorriu levemente ao ver a voz quase tímida dele ao falar com o herói, mesmo com toda a exaustão. Sempre um fanboy.

—Você me encontrou.

All Might ficou com o rosto triste.

—Um pouco tarde demais, mas sim. Me desculpe.

O garoto não respondeu, encostando o rosto em seu peito. Aizawa olhou para All Might em questionamento.

—Naquele dia mais cedo, Jovem Midoriya e eu tivemos um terrível encontro, duas vezes. Ele acabou descobrindo meu segredo e eu disse algo que estava bem longe da verdade para ele, mas quando fui tentar remediar meu erro não o encontrei mais.

O homem fechou o punho, a expressão assombrada.

—Se ao menos eu tivesse me livrado dos repórteres mais cedo-

—Não é sua culpa.

A voz de Izuku era grogue e os dois olharam para baixo de novo, os olhos dele estavam fechados.

—All Might e Bakugou são estúpidos.

All Might deu uma pequena risada. Aizawa sabia que estando totalmente consciente Izuku não diria isso. Ele era educado demais para tanto.

Franziu a testa em curiosidade.

—O que disse a ele?

All Might olhou para baixo com vergonha, a expressão atormentada.

—Algo que não era o meu direito e que está muito longe da verdade. Jovem Midoriya?

—Hum?

—Você pode ser um herói.

Izuku tensionou em seus braços e abriu os olhos.

—Não posso.

—Claro que pode-

Ele balançou a cabeça. Os olhos desfocados, o rosto se contorcendo em tristeza e Aizawa o apertou um pouco mais.

— Eu sou um vilão.

Ele dizia isso com tanta convicção, como se fosse a verdade absoluta, algo óbvio demais e que eles já deviam saber.

Aizawa a boca para refutar de imediato, mas All Might tomou sua frente.

—Isso não é verdade! Quem falou esse absurdo?

Eu matei minha mãe.

All Might olhou em sua direção surpreso. Aizawa suspirou, sabendo que teria que repetir muito isso para sua criança problema.

—Izuku, foi um acidente. Sua quirk tentou salvar você, proteger você. Se não fosse por isso vocês dois estariam mortos. Então não, você não é um vilão. Não vou deixar se culpar por sobreviver.

—Como Eraserhead falou.

All Might apontou e rolou os olhos. Izuku continuava o olhando com os lábios trêmulos.

—Heróis, Jovem Midoriya, são humanos. Eles sangram, eles erram e tomam decisões difíceis. Você pode não querer se tornar um herói oficialmente, e tudo bem. Você pode ser qualquer coisa, mas nos meus olhos e sei que nos olhos de Eraserhead aqui, do jovem Iida e de Todoroki, você já é um herói. Não tem ideia do quanto me inspirou a ser uma pessoa melhor. Você é meu herói, jovem Midoriya.

"Hum, ele faz um bom discurso até."

Olhou o outro de forma apreciativa. All Might tossiu envergonhado, sangue escorrendo do canto da sua boca.

—De qualquer forma, tem uma coisa que é uma característica de todo herói, jovem Midoriya. Sabe qual é?

Izuku negou, os olhos adoravelmente arregalados durante todo o discurso apaixonado do outro.

—Se meter em problemas que não lhe dizem respeito. E pelo o que eu ouvi sobre você, é algo que faz com bastante frequência.

—Até demais.

Aizawa resmungou com desgosto. Izuku não respondeu a isso, apenas voltou a recostar a cabeça em seu peito e fechou os olhos, mas podia o notar menos tenso.

Aizawa suspirou e olhou para o outro herói.

—Obrigado por isso.

All Might sorriu, o rosto envergonhado.

— Meu prazer.

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Mesmo com o corpo em estado avançado de decomposição, não foi difícil encontra a identidade dele, mas escavar sobre seu histórico foi. Para alguém com tantas ofensas, sua ficha era limpa, provavelmente fruto de sua quirk que o deixava se livrar de seus crimes.

Ele morava em um bom bairro e era bem reconhecido na comunidade, pagava suas taxas e tinha o mesmo trabalho em uma biblioteca nos últimos vinte anos. Um cidadão perfeito durante o dia, um pedófilo, estuprador, sequestrador, sádico e assassino durante a noite. Além das nove vítimas, contando Izuku, dos últimos dois anos, mais crimes foram atribuídos a ele ao longo dos anos, agora que eles descobriam o verdadeiro padrão. As coisas que havia encontrado no HD dele lhe dariam pesadelos por anos e agradecia por não ser o responsável por ter que verificar tudo aquilo.

Quando passava pelo esconderijo subterrâneo, vendo as fotos e vídeos horríveis do seu garoto, a cama suja, a estante de livros e os cadernos para ele escrever na mesinha do canto, ele não podia não pensar no inferno pelo qual Izuku passou ali dentro, em uma prisão disfarçada de lar feita apenas para ele, durante semanas em que ele era vigiado nas ruas por um monstro a espreita sem ninguém perceber.

Foi ali que alguém quebrou uma das pessoas mais brilhantes que havia conhecido. Se não fosse por Inko Midoriya, ninguém nem mesmo teria ido atrás de Izuku. Ele seria só mais alguém que sumiu e que nunca seria encontrado, morto quando um monstro se cansasse dele, abrindo espaço para mais uma vítima.

Aizawa não gostava de pensar nisso. De pensar que nunca teria conhecido Izuku, o visto com Mochi e suas lâmpadas coloridas, escondido no seu saco de dormir, rindo com seus alunos ou agarrado na manga da sua camisa quando andava com ele na rua. Nunca ter conhecido Izuku parecia impossível e um ultraje, mesmo nas terríveis circunstâncias com que ele entrou na sua vida.

Aizawa agradecia por Inko ter lutado tanto pelo filho, até a última respiração ela não deixou de lutar por ele.

Agora era a vez dele de assumir o lugar. Ele não a decepcionaria por nada.

—Eraser, vai levar algo daqui? Antes que tudo vire evidências.

Aizawa ergueu o caderno com capa queimada, o número 13 escrito com a letra impecável, antes das mãos dele serem arruinadas demais ao ponto de ter que reaprender a escrever.

—Só isso aqui.

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Um mês depois

— Então, ele visita Izuku para dormirem?

Aizawa deu de ombros, sem entender qual era o problema. Nemuri revirou os olhos, vendo os dois adolescentes cochilando no sofá, Izuku esparramado em cima de Todoroki, os dois servindo de travesseiro para os gatos.

—Quer dizer, é fofinho, mas não é um passatempo de adolescentes normais, Shota.

Aizawa achava dormir um passatempo normal e seguro. E Izuku parecia mais calmo quando o outro garoto estava por perto. Mesmo um mês depois de todo o incidente com Stain, Izuku ainda não havia retornado para U.A totalmente. Havia mais dias ruins do que bons ultimamente.

— Eu não gosto de ver Izuku assim.

Olhou Nemuri que fitava os dois garotos com uma expressão triste.

—Calado, fora do ar, com um sorriso tão falso. Eu me contentaria até com ele irado, quebrando coisas. Seria o normal, mas ele apenas... aceita tudo calado.

Ele a entendia bem. Izuku tentava tanto que era doloroso de assistir. E por mais que tentasse falar com ele sobre o assunto, ele apenas agia como se tudo estivesse indo bem.

—Ele ainda se culpa pelo o que aconteceu com a mãe. É teimoso demais para mudar de ideia assim, mas sabe que se falar isso vou insistir em dizer que não.

—Então ele apenas finge que aceitou?

Os dois adultos olharem o garoto no sofá, presos nos próprios pensamentos.

—Ele parece muito com você.

Aizawa abriu a boca para negar, mas se calou. Talvez esse fosse o real problema, não era?

—Eu não acho que isso seja uma coisa boa, Nemuri.

Sentiu uma cotovelada em sua barriga.

—Cala a boca, você é maravilhoso. E Izuku também. As coisas vão se ajeitar, vai ver só.

As coisas iam se ajeitar, mas como acontece geralmente na vida, elas tendem a piorar antes de isso acontecer.

Aizawa acordou naquela noite com o som de coisas quebrando e objetos flutuando. Era como retornar ao início de tudo, logo quando o trouxe para casa e Aizawa realmente tinha medo que não conseguiria o tirar dali, que os dois ficariam presos naquele ciclo.

Limpou tudo e colocou as coisas quebradas no saco de lixo, aproveitando para pegar um ar e respirar. Ele sentia como se pudesse sufocar a qualquer momento. E se estivesse fazendo tudo errado? Se apenas estivesse piorando a situação? Aizawa nunca se sentiu bom com pessoas, às vezes ele nem mesmo se sentia bom como herói, que julgava ser a única coisa decente que fazia na vida. Se ele fosse realmente bom teria evitado tanta coisa.

Se ele fosse bom não teria perdido tantas pessoas.

Onde estava o herói Eraserhead quando monstros pegavam crianças das esquinas de suas casas e as arruinava, as quebrava de forma tão profunda que as fazia se odiarem tão completamente?

Se sentia entrando em espiral com esses pensamentos, sem saída.

—Você está bem?

Olhou para cima, o saco de lixo ainda na mão e a tampa da lixeira aberta. Não sabia quanto tempo havia ficado assim, ou há quanto tempo Izuku estava ali o olhando, se abraçando, mesmo com um casaco pesado por cima do pijama.

Suspirou e jogou o lixo no lugar, tentando organizar os pensamentos. No fim optou por ser sincero.

—Acho que minha cabeça foi em um lugar ruim.

Ele assentiu como se isso fizesse todo o sentido. E realmente devia fazer para ele.

Aizawa sentou na escada de entrada do prédio e bateu do seu lado em convite. Izuku hesitou apenas alguns segundos antes de sentar ao seu lado, recostando o corpo mais perto por calor. Passou o braço nos ombros dele e olhou a noite a frente, a calçada vazia, exceto pelos gatos que passavam para os becos.

—Me desculpe.

Olhou para baixo e viu Izuku mexendo com os dedos, algo que fazia sempre que ficava nervoso.

—Eu sei que estou sendo difícil.

—Você não fez nada de errado, Izuku.

—Eu sei, mas-

—Você acha que fez.

O garoto se calou, mas não negou.

—Mais cedo Nemuri me disse que você parece comigo.

Izuku o olhou com a testa franzida por isso, a expressão especulativa.

—Eu também tenho a tendência de me culpar por coisas que estão fora do meu controle. Na verdade, eu estava fazendo isso agora mesmo, olhando para aquela lixeira. Então eu sei que por mais que eu diga a verdade, e eu vou dizer sempre, que não foi culpa sua nada do que aconteceu, você vai continuar se culpando. Pensando no que poderia ter feito diferente. Não é verdade?

Izuku engoliu, a voz saindo em um tom embargado.

—Uhum.

—Mas você tem que saber de duas coisas: Primeiro, o que aquele monstro fez com você, nada foi sua culpa. Eu nunca vou, sob hipótese alguma, aceitar que se culpe por isso. Segundo, sua mãe era uma pessoa espetacular, Izuku. Ela lutou por você, e agora você está aqui. Isso era tudo o que ela queria. Ela faria tudo por você e não te culparia pelo o que aconteceu.

Aizawa viu as luzes dos postes piscando e acionou sua quirk, sentindo os olhos arderem por isso. A voz de Izuku saiu com a única emoção verdadeira que havia ouvido dele em muito tempo: raiva.

—C.como pode saber disso? Você não pode-

—Porque você fez exatamente aquilo que ela queria que fizesse, você sobreviveu. Você saiu de lá, sozinho, andou por horas e encontrou ajuda. E então se ergueu, fez amigos, foi para escola, se apaixonou e está aqui, vivo. Você fez tudo certo, Izuku. E se depender de mim, vai continuar fazendo. Como sua mãe poderia odiar algo que permitiu que você ficasse vivo?

O viu limpar o rosto e fungar baixo, sem saber como responder, mas tudo bem. Sua quirk agora parecia controlada. Ele ao menos agora parecia mais vivo, menos um boneco sem cordas jogado e seguindo a corrente.

Após um bom tempo viu mais lágrimas escaparem dele, mas dessa vez ele não as limpou, olhando para Aizawa de uma forma que partiu seu coração, a voz terrivelmente trêmula.

—Eu sinto falta dela.

—Eu sei.

—Eu... eu não quero deixar isso que aconteceu definir quem eu sou para sempre, mas é tão difícil. Eu não quero odiar minha quirk, me odiar para sempre, mas eu não sei o que fazer. Eu penso toda hora que teria sido melhor não ter acordado, mas eu não quero pensar mais assim.

Aizawa soltou a respiração devagar. Ele nunca imaginou o quão difícil seria ouvir aquilo saindo da boca de uma criança, ainda mais uma que já considerava sua.

— Você não está bem.

Não. Não estou.

—Esse é o primeiro passo para resolver um problema. Admitir que ele existe, certo?

Izuku assentiu rapidamente, esfregando os olhos em vão. Segurou o rosto dele entre as suas mãos, limpando suas lágrimas com cuidado.

— É bom saber então que não está sozinho, que tem ajuda para passar por tudo isso. Estou aqui, Nemuri, Todoroki, e aquele loiro idiota herói número um, que por alguma razão que nunca vou entender, você gosta.

Izuku sorriu levemente com isso e se sentiu vitorioso.

—Até a minha sala de pesadelos e a criatura estranha que é o diretor. Todos aqui, por você. Eu sinceramente acho que foi um mau negócio adquirir tanta gente estranha, mas agora infelizmente não tem devolução.

Dessa vez conseguiu arrancar uma risada baixa e seu lábio tremeu, mas segurou a expressão séria. O sentiu voltar a se recostar nele, os dois em silêncio. O viu franzir a testa, com certeza analisando a conversa e tentou não sorrir.

—Você-

Izuku pausou e esperou pacientemente ele organizar a cabeça. Quando ele finalmente falou sua voz era baixa, quase um sussurro.

—Você acha que um dia que vou deixar de ir lá? Eu fecho os olhos e sempre volto para aquele lugar. Como se eu nunca pudesse sair de verdade.

Aizawa fechou os olhos e suspirou.

—Eu me pergunto isso às vezes, quando volto ao meu lugar ruim. Eu não posso te afirmar isso, Izuku, por mais que eu queira, mas tem uma coisa que eu posso te garantir.

—O quê?

—Que quando for para lá, eu trago você de volta. Você não vai ficar mais sozinho.

Sentiu os braços dele o rodeando de forma abrupta, a cabeça em sua barriga enquanto ele o abraçava com força. A voz abafada em sua blusa saiu em um sussurro embargado, mas fervoroso.

— Obrigado, Shota. Por tudo. Por não desistir de mim.

O nome o fez sorrir levemente.

— Disponha, Izuku. Disponha.

Os dois subiram após alguns minutos. Fizeram um chá e ligaram a televisão em algum filme idiota até dormirem lá mesmo no sofá. Na manhã seguinte quando levantou já tarde, o pescoço dolorido pela posição em que havia pego no sono, o viu sentado no chão da sala, erguendo Mochi com sua quirk suavemente.

Tentando.

E isso era tudo que podia pedir.

Aizawa teve certeza ali que eles ficariam bem.


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Notas finais

Um resumo do que ocorreu:

- Izuku conta em como seu sequestrador tinha uma quirk de controle mental, mas essa não funcionava em todas as pessoas. Quanto maior a teimosia das pessoas mais facilmente os efeitos eram quebrados. Isso aconteceu com Izuku e também com Inko. Lembram do homem que ela disse ter visto? Ele tentou usar a quirk nela para que ela não fosse atrás de Izuku.

-Izuku ficou em cativeiro por um bom tempo e eventualmente seu sequestrador trouxe Inko para o chantagear. Inko saiu do controle mental para ajudar Izuku, mas ela não conseguiu lutar contra ele e iria ser morta. A quirk do Izuku despertou para salvar Inko, mas ela estava muito perto dele e acabou sendo pega no ataque. A quirk dele a matou por acidente. Esse foi o trauma que o fez esquecer.

-Aizawa descobre que All Might e Naomasa sempre suspeitavam que Inko não estava mais viva, depois de uma conversa com Nighteye. All Might conta em como ele conheceu Izuku antes e que depois do ataque em que ele salvou Bakugou ele foi atrás de Izuku para conversar, mas não o encontrou mais, pois ele já tinha sido levado pelo sequestrador na volta para casa. Ele se sentiu culpado e por isso fez de tudo para o encontrar e no processo ele e Inko se tornaram amigos.

-Aizawa descobre tudo sobre o sequestrador, como ele já tinha feito isso antes com outras crianças e como ele era um sujeito do qual nada se suspeitava.

-Aizawa ajuda Izuku a começar a lidar com o trauma.

P.S: Sim, o gato de Schrodinger sempre foi a Inko, por isso na capa ele é verde.

No próximo, Epílogo.


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