Olivia estava com lágrimas nos olhos ao terminar de ler o e-mail que Artur havia mandado há uma semana, a longa semana que ela se policiou para não ler o e-mail e derramar mais lágrimas por alguém que jamais as mereceu.

No entanto ela estava errada. E como estava errada.

Eu sou um babaca mesmo, né? Só posso ser um otário para agir como eu agi. Não espero que um dia tu me perdoes, pois, sejamos sinceros, eu destruí tudo e qualquer coisa que um dia tivemos (tudo bem que não deu tempo para ter muita coisa, afinal foram apenas duas noites, mas eu queria que fosse mais... bem mais).

Quando eu te vi pela primeira vez, entrando na porta do meu apartamento com as tuas amigas, logo disse ao Renato "quero o nome da guria de blusa azul". Ele riu de mim, falou que era um caso perdido, pois tu não eras para mim, não era para nenhum de nós, contudo ele me disse mesmo assim "Olivia, babaca, e trate de respeitá-la". E eu testei várias vezes teu nome em minha boca para ver qual a melhor maneira de pronunciá-lo, porém nenhuma delas fez jus a ti. Então sentei-me ao teu lado e perguntei se querias beber algo, tu sorriste para mim dizendo que uma água estaria bom. Acho que foi neste momento que eu me apaixonei por ti.

Conversamos a noite toda e quando tua amiga passou mal, foi o momento mais feliz da minha vida (sei que não deveria dizer isso, mas foi), mais feliz ainda fiquei quando Renato as convidou para passar a noite ali enquanto Bruna melhorava e você disse sim. Acho que eu já era um caso perdido de paixão quando te vi cuidando da tua amiga até ela dormir, com direito até a cafuné e canção de ninar (e que voz linda tu tens).

Assistimos um filme no colchão duro do meu quarto e tu não reclamaste que ele era duro. Eu escolhi Diário de uma paixão de propósito, pois sabia que tu ias chorar e querer abraçar algo, só não esperava que tu fosse escolher meu cachorro a mim, porém eu sorri por ter sido trocado por um dálmata, e não por outro guri. Então, o filme acabou e continuamos a conversar, e, neste momento, entre o término de um assunto e o ofegar pelo próximo, que eu tomei coragem e te beijei. E tu me beijaste de volta. Fui o homem mais feliz do mundo.

Nos desencontramos depois daquela noite e eu descobri que te compartilhei com meu meio-irmão, isso foi cruel. Não minto, fiquei puto, puto por não te ter só para mim e puto por ter chegado depois (pois tu ficaste com ele primeiro), então nunca mais te procurei, pois combinei com ele que laços de sangue vinham antes de mulheres.

Destino engraçado o nosso que alguns meses depois te encontro em outra cidade, outro estado, em outra festa, com outras pessoas e mesmo assim eu sorri quando te vi entrando, de novo, pela porta. Outra noite memorável que não descreverei aqui, não quero parecer obsessivo (perdão se já pareço), e depois desta noite eu percebi "caralho, o que eu estou fazendo?". Eu estourei. Disse coisas a ti que me arrependo, muito, tudo. Então, depois de algumas ligações ignoradas, decidi te escrever este e-mail.

Tu não és o tipo de garota que um cara pega por pegar e depois joga fora, sim, tu és linda, e também inteligente e simpática. Eu não costumo ficar duas vezes com a mesma garota, pois elas me cansam rápido, mas tu és diferente (acho que é porque tu não te apegas, não te prendes, não grudas que nem as outras) e isso me faz te querer ainda mais... faz com que eu queira ser o único cara para ti. E... me mata dizer isso, mas não dá! Não dá para ser só teu amigo, pois todo o dia que eu te encontrar, vai ser mais um dia que eu vou querer te trancar no meu quarto e ficar lá contigo, as vezes só por ficar.

Não precisas responder, nem espero uma resposta de ti, mas... se algum dia quiseres me perdoar por ter sido um bacaca, o otário aqui ficará feliz. E sabes que lá no céu sempre tem um lugar cativo para quem faz um otário feliz, né?

PS: só não contes para meu irmão que eu disse isso, supostamente nós nem deveríamos ter nos reencontrado.

Te cuida... e se não te cuidar, eu cuido.

Nunca foi uma escolha, não depois que ela o conheceu, mas seu orgulho tolo a fez não responder imediatamente o e-mail, perdendo, assim, o garoto de seus sonhos para outra.