Capítulo 47
"Somos todos tolos no amor."
Jane Austen
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Edward suspirou frustrado quando saímos do quarto hotel que também tinha todos os quartos ocupados, e não conseguimos nos hospedar. Ele pareceu mais desapontado com isso do que eu mesma aparentava estar. Continuamos caminhando pela Bourbon Street, que tinha os bares, restaurantes e hotéis lotados, que preenchiam os espaços livres da rua com os ruídos e os sons de jazz vindo de dentro de cada estabelecimento. Não tinha como pegarmos outro táxi, pois nem sabíamos para onde iríamos. Paramos na calçada de um restaurante quando eu já não conseguia andar de tanto cansaço.
—Me desculpe. — Edward repetiu essa frase pelas minhas contas umas 20 vezes desde que saímos do primeiro hotel desapontados. — Eu esqueci completamente desse detalhe. E Justo o detalhe mais importante! Me desculpe… — Repetiu novamente. — Eu tinha que ter previsto isso, na verdade, era o que iríamos precisar.
Me aproximei dele e deixei a minha mala estacionada ao meu lado, ele fez o mesmo.
—Isso não é culpa sua. Sério mesmo. — Sorri na tentativa que aquilo fosse acalma-lo. — Eu que deveria ter lembrado disso, já que conheço esse lugar melhor que você. Mas vamos encontrar um quarto vago. — Disse decidida e ele assentiu parecendo um pouco mais calmo.
—Ok. Então, para onde vamos agora? Já entramos em todos os hotéis?
Um grupo de turistas passou por nós tirando selfies e conversando entre si, enquanto apontava para as artes decorativas das sacadas e portões de algumas casas.
—Claro que não! — Sorri. — Hotel e pousadas é o que mais tem aqui. Mas, vamos comer alguma coisa primeiro, eu estou faminta e o outro hotel fica na outra rua, preciso recarregar minhas energias para conseguir chegar até lá.
—Vamos entrar aqui então. — Ele falou apontando discretamente para o restaurante a nossa frente.
Olhamos em sincronia para as malas em nossas mãos e sorrimos.
—Vamos ter que entrar com elas. — Ele afirmou e eu sorri desacreditada do nosso desespero.
—Então vamos lá.
Edward seguiu arrastando a sua mala pela calçada e segurando a minha bolsa de mão amarela (o que mais chamava a atenção das pessoas que passava por nós), e eu o segui, arrastando a minha mala.
Fomos recepcionados por um dos funcionários que olhou estranhamente para nossas malas, mas disfarçou assim que Edward pediu uma mesa para dois. Por sorte o lugar não estava tão cheio e conseguimos uma mesa privilegiada que tinha a janela de vidro em direção a rua (o restaurante era na esquina, o que facilitou ter janelas em bons locais). Edward fez o nosso pedido e eu continuei olhando para a rua que movimentava pela janela, sem prestar muita atenção em quem olhava para nós ou o barulho das mesas vizinhas. Deixamos nossas malas o mais próximo possível de nós, para que ninguém reclamasse que estava atrapalhando a passagem.
—Eu nunca imaginei e esperei que isso aconteceria comigo. — Comentei ainda com os olhos fixos em algumas pessoas comuns que caminhavam pela calçada com os celulares nas mãos. — Voltar para Nova Orleans acompanhada por alguém muito importante e extremamente cortês comigo. — Sorri e encarei os olhos azuis a minha frente. — Você até carregou a minha bolsa amarela hoje.
Edward revirou os olhos e eu continuei sorrindo.
—Me agradeça muito por isso. — Disse em um tom manso.
—Eu estou imensamente agradecida. — Sorri ainda mais e Edward não conseguiu disfarçar a sua vontade de rir também. — Onde aprendeu a carregar bolsa de mulheres? Fazia isso nos seus relacionamentos?
Edward deu de ombro. O garçom nos serviu e saiu.
—Não tive relacionamentos anteriores. — Afirmou enquanto provava um dos pratos mais famosos do restaurante e também da população: o Camarão Creole.
—Hmmm… — Ele afundou um pouco mais o camarão picado no molho que o acompanhava e voltou comer. — Isso é bom.
—Então… quem foi Louise? A mulher que você afirmou que a Elizabeth tinha conseguido separar vocês.
—Uma criança começou a chorar na mesa atrás de mim, fazendo com que a sua mãe implorasse para ela se comportar. Edward continuou apreciando seu camarão.
—Eu gostei dela por algum tempo, quando éramos mais jovens. Ela e a sua irmã eram amigas do Philipe. O Philipe se relacionou com a irmã dela.
— Ele fez uma pausa e limpou os cantos da boca. — Nessa mesma época, a Elizabeth já era muito próxima da minha família também, os pais dela são amigos dos meus, e morávamos no mesmo bairro na Alemanha. Os pais dela também são empresários e iam sempre visitar os meus. Praticamente vivemos a nossa infância se vendo.
Terminei de comer o meu ensopado de carne e apoiei os cotovelos na mesa, dando-lhe toda atenção.
—O que eu mantinha com a Elizabeth era amizade e respeito. Nunca tive segundas intenções com ela. O que era diferente com a Louise. Por mais que eu soubesse que era algo incerto e que ela sentia muita insegurança, até mesmo em relação de seus próprios sentimentos, eu continuei convivendo com ela como amigo. — Ele deixou o prato de lado quando terminou de comer seu último camarão picado e voltou a me encarar.
—A Elizabeth talvez tenha percebido que eu sentia algo a mais pela Louise e tentou se aproximar dela, para tentar afasta-la de mim. Isso não foi tão fácil de acontecer, já que a irmã da Louise tinha começado a namorar com o Philipe. Mas, no fim, aconteceu de nos afastarmos. — Ele permaneceu aparentemente calmo ao terminar de falar.
—Você não se sente incomodado quando fala sobre isso?
—Eu me sentiria incomodado se fosse falar para algum estranho. Porque não gosto de falar muito sobre mim. Mas contar isso para você não me incomoda, até porque eu tratava a Louise mais como amiga, do que um amor não correspondido.
—Aaah… — Balbuciei. — De toda forma eu fico feliz que você não se sinta incomodado.
—E, em relação a carregar a bolsa… bem…. Eu cresci vendo o meu pai fazer isso por minha mãe. E a minha mãe sempre afirmava que eu deveria fazer isso com a mulher que seria a nora dela. Ela sempre dizia que deveria tratar uma bela senhorita de forma respeitosa e cordial.
Foi impossível não corar com aquela afirmação. Coloquei uma mecha do meu cabelo atrás da orelha e sorri de forma meiga. Edward sorriu percebendo a minha timidez. Ele pediu a conta ao garçom e saímos do restaurante a procura de um quarto para nos hospedar.
~~*~~
Uma grande salvação (ou eu posso considerar como um milagre), foi encontrarmos um hotel que ainda tinha quarto vago. Mas tínhamos uma péssima notícia também. O hotel tinha apenas um quarto disponível. O que impulsionou Edward e eu a nos olharmos com as sobrancelhas erguidas e de forma assustadora.
—Tem certeza que só há um quarto? — Edward questionou novamente para a recepcionista.
—Sim. E tenho certeza que os outros hotéis estão também ocupados. Ninguém se atreve vir a Nova Orleans nessa época do ano, sem ter feito reservas com antecedência.
—Tudo bem. Vamos ficar aqui. — Aceitou sem ter outra opção.
Edward terminou o check in e eu fiquei sentada em um dos sofás elegantes ao lado de uma enorme samambaia com vaso branco de cerâmica. Fiquei analisando meu all star amarelo gasto, agradecendo por estar sentada em um lugar confortável.
—Vamos ter que ficar no mesmo quarto. — Ele se aproximou segurando o cartão com o número do nosso quarto e a chave.
—Tudo bem. — Tentei não parecer constrangida. Mas, fiquei muito feliz com a notícia. — Vamos lá. Estou louca por um banho…
Edward fez que sim e juntos caminhamos até o elevador com as nossas malas. Seguimos para o nosso quarto e Edward me deu passagem para que eu entrasse primeiro. Apesar de não ter sido um dos melhores hotéis que poderíamos nos instalar, mas a boa iluminação do quarto e as paredes brancas já eram o suficiente para deixar o lugar confortável para dormir. Havia um armário um pouco antigo de madeira e uma televisão instalada na parede de frente a única cama que havia ali. E foi nessa hora que eu olhei para Ed que também olhou aquilo de forma irônica. Desacreditado totalmente.
—A moça não me disse que havia apenas uma cama. Me desculpa. — Disse.
—Tudo bem. Vai ser por poucos dias. Não faz mal. — Puxei minha mala para perto da cama e me sentei testando o colchão, que também não era ruim.
Edward assentiu e se sentou do outro lado da cama. Mantendo distância.
— Você quer ir tomar banho primeiro? E depois conversamos sobre o que vamos fazer. — Perguntei tentando esconder o quão nervosa estava ao imaginar que passaríamos uma noite juntos, mas de forma casual e totalmente fora do que estávamos acostumados.
— Não precisa ficar nervosa. — Ele disse calmo. — Nós moramos juntos. Essa noite não vai ser diferente das que já estamos acostumados a passarmos juntos.
— Eu não estou nervosa... — Menti.
Ele riu um pouco alto.
— Então porque está quase abrindo um furo na toalha que não para de esfregar nas mãos?
Olhei para as minhas mãos e sorri desajeitada.
— Então eu vou tomar banho primeiro. — Afirmei já correndo em direção ao banheiro.
Edward continuou onde estava e eu adentrei no banheiro sentindo meu coração palpitar fortemente. O que estava acontecendo comigo?
~~*~~
Não.
Não.
Não.
Não podia ser.
Me encostei na parede do banheiro cobrindo meus seios com a toalha, enquanto tentava pensar em modo de reverter o que eu havia feito – ou melhor, o que havia esquecido.
Eu acabei deixando meu sutiã em cima da cama junto da minha camisa do pijama.
Como eu acabei esquecendo de trazer para o banheiro o mais importante?
E se o Ed tiver visto?
Senti uma vontade imensa de fingir um desmaio só em pensar nessa possibilidade. Ele não podia ver meu sutiã minúsculo que ainda por cima tinha desenhos infantis, que era conjunto de uma das minhas calcinhas.
Isso não podia estar acontecendo.
Edward tocou na porta. Estremeci completamente e quase tive uma crise de pânico.
— Está tudo bem Luara? — Ouvi a voz dele.
— Ahn... Sim! Claro! — Minha voz saiu abafada.
— Faz duas horas que você está trancada aí. Tem certeza de que está bem? Eu pensei que tinha até passado mal.
Merda.
— Claro que está. Eu só estou... É... Pensando.
— Está vestida? Pode abrir a porta?
De jeito nenhum!
— Na verdade, é que... A chave da porta sumiu. — Menti. Mas essa de fato, foi a melhor resposta que eu consegui pensar.
— O QUÊ? — A voz dele se alarmou. — E por quê não disse antes?! Eu pensei que você estava com vergonha de me pedir o sutiã e o moletom que deixou em cima da cama... Vou chamar alguém para abrir a porta, espera só mais um pouco.
Estremeci. Não podia ser. Edward tinha visto meu sutiã P e ainda por cima sabia o verdadeiro motivo porque estava tanto tempo trancada no banheiro.
Corei bruscamente e abri a porta de imediato.
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