Capítulo 42
“Quando o amor é sincero ele vem com um grande amigo, e quando a amizade é concreta ela é cheia de amor e carinho.”
William Shakespeare
~~*~~
Provavelmente eu demorei no restaurante – principalmente conversando com minha amiga – mais tempo do que devia, já que, assim que eu cheguei no hospital, Edward já tinha acordado.
Mas de forma espantosa e curiosa, Edward estava acompanhado de uma equipe médica que cuidava dele como se estivesse acontecendo alguma coisa pior.
E, sim…
O médico que o atendia estava aplicando mais analgésicos, já que a situação do Edward havia piorado e ele queimava em febre.
Foi tudo tão de repente que eu só entendi algumas coisas que a enfermeira me disse, como: “A pressão dele caiu novamente”, “ele estava com muita febre”, “ele ainda sentia dor”.
O médico me deixou ficar no quarto e eu me sentei na poltrona afastada da maca onde Edward estava. Impacientemente observei as duas enfermeiras trocando os curativos do braço dele, e o médico fazendo massagem na mão esquerda.
Me perguntei o que Edward estaria pensando sobre o meu descuido de tê-lo deixado sozinho por mais tempo que deveria, e o que ele estaria sentindo sendo tratado daquela forma, em cima de uma cama de hospital, o único lugar que ele não queria estar. Mas ele permaneceu com os olhos fechados, e eu nem sabia se havia notado minha presença ali.
Conforme o que eu tinha para fazer, eu permaneci de forma inquieta, passando a mão pelo Jeans da minha calça, suspirando fundo e olhando tudo o que faziam com ele, e no fundo eu desejei que ele abrisse os olhos e sorrise para mim, como era acostumado a fazer.
Depois de mais alguns longos minutos torturantes tendo que ficar olhando para o Edward sentada e distante, os médicos disseram que a temperatura do corpo dele havia voltado o normal, e que estava tudo bem, mas ainda tinha uma péssima notícia (principalmente para o Edward), que ele deveria ficar ali por mais dois dias.
Edward havia voltado a dormir, e insisti que ficaria com ele. O médico permitiu e saiu acompanhado das enfermeiras. Voltei a arrastar a poltrona para o lado da cama com o máximo de cuidado, e antes de me sentar olhei para o Edward deitado e toquei levemente em seu braço.
Me sentei na poltrona ao lado dele e me inclinei ficando de frente a ele.
Voltei a analisar as linhas de sua expressão e como ele respirava. Toquei cuidadosamente em sua bochecha e contornei seu rosto com a ponta do meu dedo, analisando cuidadosamente cada detalhe.
Sorri ao lembrar da primeira vez que tínhamos nos encontrado, e o quão charmoso ele estava com o lenço azul. Sorri silenciosamente ao lembrar das vezes que ele me olhava com profundidade ou me elogiava me deixando extremamente vermelha. E enquanto sorria, lágrimas solitárias desciam pelo meu rosto.
E quando eu toquei em seus lábios frios, eu lembrei do nosso beijo. O nosso primeiro e único beijo. Recordei da sensação gostosa que foi. E de forma instantânea, quando eu me dei conta, eu estava inclinada sobre Edward, com meus lábios colados nos lábios dele.
E eu desejei no meu coração que ele também pudesse sentir meu toque.
Mas o que me fez sair de cima do Edward de forma brusca e constrangedora foi ouvir o som minucioso da porta se abrir, e o Cristian adentrar segurando uma pasta em suas mãos.
Ele me olhou de primeiro minuto assustado, mas logo fez uma expressão como dissesse que não viu nada.
Me sentei assustadoramente rápida e tímida e o Cristian entrou nas pontas dos pés para não fazer nenhum barulho sequer.
—Ahn… E-Eu… é… só estava conferindo se ele estava respirando bem… — falei ainda trêmula, e Cristian olhou para o amigo deitado e depois olhou para mim e concordou com um gesto de cabeça.
—Como ele está? O médico me disse que ele teve uma recaída… — Cristian murmurou.
—Está… melhor! Sim, só precisa dormir por conta dos analgésicos e as dores.
Cristian voltou a concordar balançando a cabeça em afirmação.
— Eu vim trazer algumas partituras das peças que estou ensaiando para ele dar uma olhada e ver se há algo que possa melhorar, ou se devo mudar algo. — Cristian me entregou a pasta que tinha em mãos. — Quando ele acordar, você entrega a ele, por favor. E quando ele estiver melhor, fala para ele olhar.
—Okay. Eu entrego, sim. — Segurei a pasta.
—Já vou indo. — Ele sussurrou e caminhou vagarosamente e silenciosamente até a porta. — Ah! — Ele se voltou a mim. — Você pode continuar verificando a respiração dele — disse sorrindo e saiu, fechando a porta em seguida. Eu permaneci sem reação, completamente vermelha.
~~*~~
Mesmo com todo constrangimento que passei horas atrás com a visita do amigo do Edward, eu consegui me acalmar rapidamente e agradeci aos céus por Edward ter continuado dormindo e não ter visto nada.
Em contrapartida, eu estava histericamente inquieta por dentro, mesmo que continuasse sentada naquela poltrona ao lado do Edward olhando para ele, ou lendo uma revista de moda que tinha pego na recepção do hospital.
O que eu realmente desejava era poder vê-lo bem novamente, com o famigerado sorriso encantador de sempre no rosto, me olhando profundamente até eu ficar vermelha, ou conversando sobre qualquer assunto diverso, e até mesmo me incomodando por me chamar de curiosa ou lenta demais.
Quando já tinha folheado a revista da Vogler pela quinta vez, eu a deixei de lado e peguei a pasta que Cristian tinha deixado comigo para entregar ao Edward.
Assim que eu comecei ver aquelas partituras com siglas, sinais, número e tudo o que eu não entendia, ao invés de desistir de olha, eu permaneci tentando entender o que significava e como as pessoas conseguiam tocar olhando para aquilo.
Me surpreendi de forma instigante ao lembrar que Edward saberia ler tudo aquilo e deduzi o quão inteligente de fato ele era. Mas ao olhar novamente para a mão dele (a que ele não tinha o movimento dos dedos), me questionei inúmeras vezes quais eram os seus verdadeiros sentimentos em relação ao seu presente, se perdeu a oportunidade de fazer o que mais gostava, que era tocar piano.
Quando eu estava passando a última página da pasta, Edward se mecheu um pouco sobre a cama e abriu os olhos lentamente.
— Como está se sentindo? — me levantei deixando a pasta com as partituras sobre o meu acento e fiquei de frente ao Edward o ajudando a se sentar na cama.
— O que aconteceu? — perguntou com a voz um pouco rouca e esfregou os olhos em seguida, depois passou a mão pelo cabelo que caia sobre a testa.
— Você teve uma recaída. — Ajeitei os travesseiros para ele se apoiar e ele continuou seguindo meus movimentos com os olhos.
— Onde está o médico?
— Ele esteve aqui mais cedo e te deu novos analgésico e soro. Você estava queimando em febre, mas vejo que está bem melhor.
— É… as dores passaram… — Suspirou e passou a mão pelo cabelo novamente. — Por quanto tempo eu dormi?
— Quase a tarde toda. — Olhei a hora no celular. — Dormiu a tarde toda. — Sorri.
Edward se mecheu um pouco mais e encontrou uma posição mais confortável, tirei a pasta com as partituras de cima da poltrona e entreguei a ele.
— O Cristian veio trazer isso pra você. — Entreguei a ele. — Mas você ainda estava dormindo, e ele pediu para te entregar e falou para olhar quando estiver melhor.
— Ah… okay — respondeu vagamente e pegou da minha mão. Depois deixou ao seu lado na cama, sem ver o seu interior.
Fiquei parada no mesmo lugar apenas olhando para ele.
— Pode me dar um pouco de água? — Pediu.
— Claro! — Corri até a mesinha do quarto e peguei uma das garrafas que tinha levado mais cedo e abri oferecendo a ele.
Depois de beber a metade da água, Edward sorriu ainda encarando a tampinha em sua mão fechando a garrafa. Fiquei aliviada ao vê-lo sorrir de forma tranquila, mesmo não sabendo o motivo.
Me sentei novamente na poltrona e olhei para Edward que parecia um pouco distante.
— Aconteceu alguma coisa enquanto eu estava dormindo? — Se virou para mim e perguntou.
— Ahn… tipo o quê?
— Não sei. Mas eu acho que tive um sonho… não sei bem.
— E como foi o sonho?
Ele se virou me encarando e sorriu.
— Você me beijava.
Pigarrei quatro vezes em seguida e tive que me inclinar um pouco pra frente e bater no tórax para me recuperar. Edward se assustou e já estava quase gritando pelas enfermeiras, ou alguém que poderia me socorrer daquela crise de pigarreio que já estava se tornando em uma tosse crônica.
— Você está bem? — Ele quase se levantou para me ajudar, mas o impedi e peguei o resto de água da garrafa que ele tinha bebido e bebi toda a água sem nem respirar direito.
— Claro! — Forcei um sorriso e me recompus, me sentando de firma ereta na poltrona e suspirei fundo. — Só precisava de água… — mostrei a garrafa vazia para Edward e ele concordou voltando se acomodar direitamente sobre a cama.
— É… que sonho… diferente… — Comecei falar e já estava sentindo minhas bochechas queimarem.
— De certa forma, sim. Mas foi algo bem realista… — Antes que ele continuasse com aquela conversa, tratei de mudar de assunto.
— Ah! Eu entendo! Mas...é melhor não pensar muito pra não ter outra recaída… — Ajeitei o travesseiro pra ele se apoiar novamente e não esperei que ele me respondesse algo.
— Você quer mais alguma coisa? Quer eu faça algo por você? — Questionei o encarando.
— Ahn… onde está meu celular? Eu preciso ligar para o Cristian.
Peguei o celular dele que estava junto com alguns de seus pertences e o entreguei. Depois fui ajeitar a temperatura do aquecedor. Edward ficou focado no que escrevia em seu celular e eu voltei para perto dele.
— Você já tomou banho? — perguntou. Olhei para mim de cima para baixo.
— Não… não voltei pra casa ainda.
— Você pode voltar agora, antes que fique mais tarde. Eu vou ficar bem por enquanto… — Desligou o celular e me olhou tranquilamente. — Toma um banho bem relaxado e aproveita pra lavar o cabelo também… você fica ainda mais atraente com o cabelo molhado.
Sorri ainda sem jeito e olhei para ele também.
— Eu senti falta dos seus elogios. — Confessei e abaixei a cabeça para olhar meu tênis.
— Eu sei que sentiu — respondeu e sorriu bem mais a vontade.
— Tem certeza que vai ficar bem aqui sozinho?
Ele afirmou balançando a cabeça.
— Uhum… Vou conseguir sobreviver ainda.
— Ah… tá bom, mas se precisar de alguma coisa, me liga imediatamente… ou se perceber que eu estou demorando muito, pode me ligar também!
— Okay.
— Eu não vou demorar muito. — Afirmei.
— Tem certeza de que vai voltar? — perguntou.
— Com certeza. — respondi sorrindo para ele e depois saí em busca de um táxis que me levasse para casa para que pudesse tomar um bom banho e lavar meu cabelo.
~~*~~
Quando voltei ao hospital suspirei de forma aliviada por sentir o ar quente dos corredores enquanto eu caminhava em direção ao quarto do Edward. Mas a minha animação foi um pouco frustada ao ver que ele estava dormindo novamente.
Uma das enfermeiras responsável por ele tinha acabado de sair do seu quarto assim que eu entrei e me disse que Edward já havia tomado banho (ela afirmou que ele fez isso sozinho), e que também já havia comido. Talvez, eu tinha demorado bem mais do que eu pretendia.
Deixei algumas peças de roupa de frio que trouxe a mais sobre a poltrona vazia e tirei minhas pantufas de urso panda da bolsa pra trocar meus tênis por elas.
Verifiquei se Edward estava bem coberto ou se precisava de mais alguma coisa para dormir de forma confortável e me deixei na maior poltrona que ficava perto da janela fechada do quarto. Um pouco distante da cama do Edward, mas próximo o bastante para conseguir olha-lo dormir.
Estiquei minha perna por cima do braço da poltrona e me cobri com um dos cobertores que trouxe comigo. Sem mais nada para fazer, eu fiquei jogando um joguinho no celular, esperando ter sono, ou na expectativa de que Edward poderia precisar de alguma coisa.
Quando eu ia passar de nível no jogo, Edward me chamou de repente. Deixei o celular de lado e enfiei minhas pantufas no pé correndo até ele.
— O que foi? Precisa de algo? Está com dor? — perguntei alarmada.
— Ah… não. — ele esfregou os olhos com força e passou a mão pelo cabelom — Desculpa por te assustar. — Ele se mecheu na cama como se algo estivesse o incomodando.
— Quer se levantar? — ele balançou a cabeça em negação. — Eu acordei você por acaso? — perguntei já preocupada.
— Não, não. Na verdade, eu não estava dormindo. Eu estava tentando. Mas eu não gosto desse lugar e não estou conseguindo dormir.
— Aaah… — Murmurei aliviada e me sentei ao lado dele. — Você estava acordado todo esse tempo? Desde quando cheguei?
— Eu acho que sim.
Balancei a cabeça incrédula e sorri relaxando um pouco mais. Edward ergueu a cabeça um pouco para poder me olhar direito.
— Conta uma história pra mim. — Pediu.
Sorri.
— Como? Que história? — Continuei sorrindo. — Sou péssima com isso. — Afirmei. — Na verdade, eu nunca fiz isso, eu acho…
Edward continuou me olhando com um meio sorriso no rosto.
— Conta qualquer história pra eu conseguir dormir. — Pediu mais uma vez.
— Okay. — Aceitei e pensei um pouco.
— Ahn… então vamos lá… — Edward fechou os olhos e continuou me escutando.
— … Era uma vez, uma garotinha que sonhava em tocar piano e dirigir… uma certa vez, essa garotinha decidiu fazer uma viagem muito loonga… e nessa viagem, ela encontrou um outro garoto… e esse garoto usava um lenço azul. — Fiz uma pausa e respirei. — Essa garotinha curiosa e teimosa… — Continuei.
— …ela queria sempre saber o motivo pelo qual ele amava tanto aquele lenço e porque sempre usava o mesmo… e o tempo foi passando… passando… e esse garoto foi entrando cada vez mais na vida dessa garotinha, e de forma surpreendente ele se tornou a pessoa que mais a ajudou nessa grande viagem. — Fiz uma pausa e olhei para o teto escuro sorrindo silenciosamente. — ...E essa garotinha começou se encantar por ele… — Continuei ainda sem saber o motivo do meu sorriso. — Principalmente pelo sorriso manhoso dele. E por coincidência, esse garotinho se chamava: O garoto do lenço azul. E de forma tão intrigante, ele a ajudou a criar um mundo melhor para si.
Parei de falar, e olhei para o Edward ao meu lado que dormia tranquilamente e eu me perguntei se ele havia escutado tudo até o fim.
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