Capítulo 35
“Quando o amor é sincero ele vem com um grande amigo, e quando a amizade é concreta ela é cheia de amor e carinho.”
William Shakespeare
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O dia seguinte amanheceu mais frio que os dias anteriores, o frio rigoroso do inverno se aproximava e junto com ele vinha uma data comemorativa; que agora, eu tinha planos diferentes para comemora-la. Nunca pensei que viveria o que vivi na noite passada. A mãe do Edward se mostrou muito gentil como o próprio filho era. Essa foi uma das características comum em ambos, mas com certeza, a personalidade alegre e bem-humorada da dona Dafne se exibia como o maior ponto forte dela. Eu havia amado cada segundo que ela passou conosco na noite anterior, e claro, a conversa que tivemos também.
D. Dafne me deu informações valiosas sobre Edward, incluindo o que ele fazia. Ela afirmou que ele tocava, e comentou que ele tinha um irmão, e que provavelmente a relação entre eles não estava tão bem. Por qual motivo ele não iria querer passar o natal em família? Se o pai dele for tão bom, tão gentil e legal quanto a senhora Dafne, eu atrevo pensar que ele tem uma família perfeita. Muito diferente do que eu tenho.
Edward tinha deixado meu café da manhã sobre a mesa ao lado da minha cama com um bilhete ao lado dizendo que ele havia saído e que não era para eu fazer esforços. Bem, como o clima era favorável para estar debaixo do conforto da coberta e aconchego do aquecedor do quarto, eu não me atrevi sair do quarto depois que tomei meu café e fui ao banheiro para lavar o rosto e arrumar meu cabelo.
Eu não aparentava estar mais cansada como os dias anteriores, e as dorzinha no pé e coceira estava aliviando, provavelmente não iria demorar para tirar aquele gesso. Voltei para minha cama e tirei meu celular do carregador. Havia inúmeras ligações perdidas de um número desconhecido, pela quantidade de chamadas, duvidava que seria promoções da operadora do chip e resolvi retornar à ligação. Uma voz familiar atendeu depois do segundo toque.
— Mãe? — perguntei ainda incrédula por saber que realmente a minha mãe estava me ligando, mas só tinha uma afirmação em mente: só poderia estar acontecendo algo grave!
— Filha! — exclamou do outro lado da linha. — Que demora! O que esteve fazendo ontem? Eu liguei várias vezes para você!
— Meu celular estava descarregado e eu só quis pegá-lo hoje. Onde a senhora está? O que fez durante esses dias?
— Voltei sozinha e triste para Nova Orleans. A minha filha, minha própria filha! Me abandonou e se revoltou, o que me restou foi voltar.
Fiquei alguns minutos pensando nas possibilidades de aquilo ter sido uma verdadeira loucura feita por minha mãe. O que ela realmente decidiu fazer? Quais eram as intenções dela? Mas, me contive a fazer apenas uma pergunta.
— E, o que a senhora fez com a casa que comprou aqui?
— Vendi .
Se eu tivesse algum problema respiratório, nesse exato momento estaria tendo uma crise de falta de ar e estaria agonizando no chão somente por uma notícia, uma simples palavra, que teve o poder de fazer perder o fôlego por um momento.
— O quê? — voltei respirar controladamente, compasso por compasso enquanto roía as unhas olhando para o nada. — Como assim? A senhora comprou ela pra quê? Só para me tirar de lá?
— Claro. Mas meus planos não era vendê-la depois, só que houve imprevistos.
— E por que a senhora me ligou tantas vezes como se estivesse desesperada?
— Eu tenho notícias gravíssimas para lhe contar. Mas, primeiro, como está o seu pé?
Pronto! Era o que eu esperava! As notícias ruins...
— Ah... está melhorando, eu ainda estou na casa do Edward, e não faço tanto esforço. Mas, por favor, me diga logo o que está acontecendo...
— Esse homem parece gostar muito de você, ao menos dessa vez você acerta em um relacionamento, porque o seu antigo foi o fiasco.
— Eu sei que foi. — Suspirei. — Mas já esqueci isso também, faz tantos anos.
— Mas se você se decepcionar dessa vez, você não vai ter a sua mãezinha para te consolar novamente, então não seja tão ingênua.
— Por quê diz isso?
Essa conversa ficava cada vez mais estranha.
— Estou apenas te aconselhando minha filha.
— Ah... Okay.
— E... Ele já tentou algo com você?
— Como assim?
— Ele já jogou charme para você?
— Hm... Não... Não que eu me dê conta, na verdade, nas poucas vezes que tínhamos algum diálogo, nossas palavras era composta de ironia e estranheza. Bem... Ultimamente isso tem mudado bastante...
— Interessante...
— Por quê insisti em saber sobre isso?
— Porque eu não pensei que você era tão lerda como seu pai era comigo.
— O papai?
— Uhum... Mas isso faz muitos anos, e não convenhamos falar sobre isso agora, vamos para o que realmente importa... — ela parou de falar por alguns segundos e eu continuei em silêncio segurando o celular no ouvido.
— Eu ainda tenho que lhe contar... Nem sei por onde começar... — minha mãe mudou o tom de voz, o que antes estava aparentemente calmo e distante, ficou apreensivo. — A sua avó está muito doente e está muito perto de falecer.
Arregalei os olhos e fiquei em silêncio tentando assimilar aquilo.
— Como assim? Ela vai morrer?
— Provavelmente minha filha, mas isso não é o pior... tem muitas coisas que você precisa saber e é por isso que você deve voltar para Nova Orleans, se não quiser permanecer aqui, apenas volte para saber de tudo o que está acontecendo.
— E-eu... Eu... N- não sei, mãe... — juntei forças para falar enquanto sentia lágrimas descer pelos meus olhos.
— Tem uma coisa que posso te contar, as outras você só vai compreender estando aqui, mas creio eu que você vai desejar ver a sua avó antes que ela se vá.
Continuei em silêncio limpando as lágrimas que molhava minha bochecha.
— A nossa casa... eu vendi ela antes de ir para Oxford. Aliás, foi com o valor dela que eu comprei a casa aí, eu sei que ela era muito importante para nossa família, mas eu não tive escolha, eu tive que vendê-la. E eu tive que comprar o lugar onde você estava para te fazer voltar, mas como meus planos não deu certo, eu tive que vendê-la novamente e a metade do dinheiro eu paguei as dívidas que tínhamos. E ainda tenho um pouco do dinheiro para sobreviver, por enquanto estou morando em um hotel, mas não sei até quando vou ter dinheiro.
Comecei a chorar ainda mais.
— A vovó... Ela... ahn, o que ela tem?
— Além da velhice, ela desenvolveu algumas doenças, mas que nem sabíamos, e agora, infelizmente a situação piorou.
— Eu preciso desligar, mãe. Irei pensar em tudo o que me falou. Mas antes disso, por favor, me informa sempre que puder sobre a vovó. A saúde dele... Se ela vai melhorar... — funguei mais um pouco e tirei os fios do cabelo do meu rosto.
— Pense muito bem em tudo, minha filha, principalmente em ver a sua avó.
Deixei o celular de lado e afundei o rosto no travesseiro chorando e chorando profundamente. Sem saber o que pensar e fazer, apenas chorei parecendo uma criança de colo.
Quando já tinha molhado quase todo o travesseiro de lágrimas senti uma mão tocar no meu cabelo quando ainda fungava o nariz. Me virei com o cabelo desgrenhado e o rosto vermelho e olhei para Edward que estava sentado na cama. Tirei o cabelo do rosto e controlei um pouco mais o choro.
— Não vi você entrar.
— Por que está chorando? — ele me ajudou sentar na cama e encostar minhas costas nos travesseiros na cabeceira da cama.
— Minha mãe me ligou. — voltei chorar e Edward me abraçou, deixando que eu repousasse minha cabeça em seu ombro e chorasse ainda mais molhando a sua camisa. — É tudo tão difícil... — falei ainda deitada no ombro dele, enquanto ele massageava minhas costas e passava a mão no meu cabelo. — Eu não sei o que fazer. — Chorei ainda mais e ele não se importou com aquilo. Edward continuou alisando meu cabelo e me confortando em seus braços.
— O que a sua mãe disse para você ficar assim?
— A minha avó está doente, e tem muitas outras coisas... — Controlei o choro, mas continuei onde estava. — A minha mãe vendeu a nossa casa em Nova Orleans... E talvez, se eu voltasse antes com ela, eu poderia ver o que realmente está acontecendo com a minha avó.
Me afastei do abraço do Edward e ele tirou do bolso da calça alguns lenços e me ofereceu. Depois que me acalmei consegui olha-lo.
— Se acalma primeiro. — Ele voltou a repousar minha cabeça em seu ombro e me abraçou. Apenas agradeci mentalmente a cordialidade dele enquanto ainda sentia lágrimas molhar minhas bochechas.
~~*~~
Quando despertei, Edward ainda estava no quarto sentado na cadeira perto da janela com um livro aberto nas mãos. Assim que notou que eu havia acordado, ele deixou o livro sobre a cadeira e se levantou pegando um copo de água e me oferecendo.
— Como está se sentindo?
— Bem... Mas, meu coração ainda dói, eu estou perdida...
— Não pensa muito. — Ele pegou o copo da minha mão e se sentou na cama ao meu lado. — Me conta uma coisa de cada vez.
Suspirei e me ergui ficando sentada corretamente na cama com as pernas cobertas pelo cobertor e coloquei uma mecha do meu cabelo atrás da orelha enquanto Edward observava pacientemente.
Comecei detalhar a ele sobre o assunto da ligação. Tudo o que a minha falou e a cada palavra que eu pronunciava sobre a minha avó estar realmente quase morrendo meu coração se apertava assim como me lembrava do meu pai. Fiz uma pausa nas palavras para respirar e limpar algumas lágrimas e Edward continuou me ajudando pacientemente e me escutando atentamente.
— Isso tudo é muito estranho — comentou assim que eu terminei meu relato dramático. — Pode ser que a sua avó realmente esteja ruim... Mas porque a sua mãe insistiria em alguém que ela não se preocupou antes?
— Eu também não sei.
— Pelo o que você me contou, vocês costumava visitá-la quando ainda você era criança, e o que houve depois?
— Meu pai faleceu.
Edward pareceu um pouco surpreso.
— Eu sinto muito — disse com sinceridade e mansidão no tom de voz.
— Tudo bem. Faz tempo isso.
— Então, depois da morte do seu pai, você não foi visitar a sua avó?
— Eu fui. Algumas vezes somente. Mas, a minha mãe parou de ir lá depois de uma discussão que ela teve com a minha avó. E então eu só fui uma vez depois de adulta. E tudo parecia normal. Minha avó se preocupava muito com a sua fazenda e seus negócios, ela também era acionista de uma empresa, mas não quis deixar que ninguém cuidasse disso para ela, claro que ela tinha alguns empregados, e foi por isso que eu me contentei em saber que ela sabia se virar muito bem sozinha.
— É... Todo esse assunto é complicado.
— E, eu não sei o que fazer, não sei no que acreditar, e se realmente minha avó estiver doente? O que vai acontecer? E se eu não for vê-la? Eu sou a única neta que ela tem... E a minha mãe disse que está morando em um hotel! E que tem pouco dinheiro para sobreviver agora. O que eu faço? Eu não sei...
— Você é muito desesperada. Para saber se tudo isso é realmente verdade, você deve pesquisar e tentar descobrir. Não queira fazer tudo de uma única vez.
— E como eu faço isso? Olha o meu estado! Não consigo nem andar direito, e ainda estou de atestado no trabalho, como conseguir dinheiro para voltar assim?
— Seu QI é realmente abaixo da média, nunca vi tanta lerdeza em uma única pessoa.
— Agora você está me ofendendo?
— Não. Eu estou deixando claro que eu posso te ajudar. O que você quer fazer?
—É fácil para você resolver se não está sentindo o que estou sentindo.
— Eu não estou diminuindo o seu problema, Luara, e você devia saber que todos têm suas dificuldades. Não afirme algo que não tenha total certeza.
— Me desculpe...
Edward sorriu levemente e continuou me olhando.
— Senhorita Luara, você precisa realmente voltar para Nova Orleans para descobrir o que, de verdade, aconteceu durante todos esses anos. E eu vou te ajudar com isso, não se preocupe, apenas descanse e se recupere.
— Mas isso não deve ser algo confidencial?
— Você confia em mim? — ele perguntou.
— Sim.
— Ótimo! Então não se preocupe, você saberá de tudo o que está acontecendo.
— E o que você pretende fazer?
— Vou contatar alguém de confiança para investigar se realmente a sua mãe voltou para sua cidade natal e depois reservarei nosso vôo para lá.
— Meu Deus! Como vai encontrar alguém de confiança para investigar isso?
Ele sorriu.
— Eu tenho alguém que trabalha para mim.
— O quê? Como?
— Isso é assunto familiares, não vou revelar. Ou, não agora.
— Ah... Sem problemas. E muito obrigada por tudo isso e o seu acalento.
Ele olhou para mim e eu consegui ver os olhos dele brilhando mais que o normal. Fiquei um pouco corada por estar sendo tão fitada mas estava mais aliviada.
— E... ahn, afinal, com o que você trabalha? O que faz o dia todo? — perguntei desfazendo nosso contato visual.
— Eu não sei se esse é um bom momento para expor o meu trabalho.
Sorri incrédula.
— Por quê? O que faz é algo confidencial?
— Não. Mas tenho medo das suas perguntas. — sorri ainda mais.
— Sou tão curiosa assim?
Edward gargalhou e afirmou balançando a cabeça.
— Pergunte isso a si mesma e veja o quanto já sofri.
— Nossa. — falei um pouco envergonhada. — Me desculpa por isso. Confesso que antes eu realmente implicava muito com você.
— Que bom que assume a culpa. — Ele continuou sorrindo. — Mas não tem problema, já te perdoei por isso.
— Só irei te fazer uma pergunta...
— Vai em frente.
— Você já foi um músico?
— Sim.
— E o que você faz agora? Por que não é mais um músico?
— Era somente uma pergunta.
— Desculpa, não me contive.
Edward pensou um pouco e eu permaneci em silêncio.
— A minha mão me impediu de continuar sendo um músico e eu me aposentei precocemente por causa disso, e hoje eu cuido dos negócios do meu pai.
— Aah... — Olhei de relance para a mão dele que estava sobre a cama e voltei olha-lo. — O que aconteceu com a sua mão?
— Sofri um acidente.
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