Capítulo 29
"Toda dificuldade evitada se tornará um fantasma mais tarde que perturbará nosso descanso."
Frédéric Chopin
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Fiquei paralisada sem saber o que responder a minha mãe.
— Ahn… bem, nada demais, o Edward… ele queria me ajudar… me ajudar com algo e… Ele sabe explicar melhor! — Olhei para Edward que olhava para minha mãe possivelmente calmo.
— Ah! Então me contem! Quero saber as novidades! O que minha filha aceitou, Edward? — Minha mãe se sentou na poltrona tirando seus tênis e levou sua garrafinha de água até a boca.
— Ela aceitou a minha ajuda para conseguir um lugar para morar temporariamente — Edward falou sem esperar nada. Tão simples foi para ele falar isso. Minha mãe cuspiu a água da boca no chão e tossiu três vezes. Edward correu em direção a ela tentando ajudá-la.
— O quê?! Como assim? — Minha mãe se ajeitou na poltrona e ficou tensa olhando severamente para mim.
Edward voltou para a janela.
— Eu falei para a senhora, mãe… que não quero voltar para Nova Orleans… — comecei a falar tranquilamente. Aparentemente tranquila. Por dentro eu estava presenciando uma guerra.
— Não! Você vai voltar comigo!
— Mãe… por favor. — Suspirei. — Depois falamos sobre isso. Eu estou cansada agora e minha cabeça está explodindo de dor.
— Por que você fez isso, garoto? — Minha mãe alterou o tom de voz. — Ah! Não me digam que vocês são namorados, mas era só o que me faltava. Primeiro, a minha filha me desobedece e agora você. — Ela apontou para o Edward. — Você se intromete nas decisões da minha filha. E ainda por cima, mentiu pra mim! Dizendo que não namorava a Luara.
— Senhora Lavínia… — Edward cruzou os braços sobre o peito e encarou minha mãe. — Eu não menti para a senhora, eu e sua filha não temos relação nenhuma, tão pouco namoramos. Mas acho que a decisão final estava na mão da Luara, tenho certeza que ela não é uma criança e deve saber escolher o que quer. — Edward voltou a olhar a rua pela janela. — E já que a senhora voltou, não tenho porque está aqui. — Ele caminhou em minha direção e se aproximou, se inclinando até ficarmos próximos. — Se você ainda quiser continuar com isso, amanhã eu trago os papéis do contrato para você assinar, e falamos o valor do aluguel, caso você não queira mais, eu entendo — ele falou e se afastou em seguida.
— Tenha um bom dia, Senhora Lavínia. — Ele fitou minha mãe enquanto ela mantinha uma expressão tensa. — Tenha uma boa recuperação, Luara, e um bom dia também — Edward falou antes de sair.
— O que foi tudo isso?
— Nós não estamos juntos, mãe, eu não o conheço e nem ele me conhece, ele fez apenas uma boa ação, me vendo nesse estado de calamidade também quem não faria, não é mesmo? Somente quem não é gentil.
— Está dizendo que eu não estou sendo gentil com você, Luara? Eu? A sua mãe? Que te educou todos esses anos!
— Jamais disse isso.
— Mas é o que está dando a entender, eu me esforço para vim buscá-la, saio do meu conforto para um lugar totalmente desconhecido, a procura da minha filha, e é assim que você me retribui, preferindo estar com desconhecidos, do que com a sua mãe, a sua própria mãe. — Dona Lavínia deitou no sofá suspirando dramaticamente e começou a chorar em seguida. Era a primeira vez que eu a via daquela forma.
— Mãe... não é bem assim, por favor... — Tentei me movimentar para o lado, mas senti minha perna pesar, como se tivesse pedras sobre ela. — Eu ainda não entendi qual é a necessidade de você ter comprado aquela casa junto com o porão, por que faria isso? E como fez?
— Isso não é do seu interesse, já que não quer voltar com a sua mãe para a sua verdadeira casa.
Não consegui dizer mais nada. Apenas encarei o teto branco e escutei mais alguns murmúrios da minha mãe. Ela parecia tão decidida quanto eu, e aquela conversa não nos levaria a lugar nenhum. Com a dor que estava sentido na minha perna a única solução foi chamar um médico antes de ser medicada mais uma vez. Minha cabeça também doía, e com a ajuda dos remédios que tomei consegui dormir durante toda a tarde.
Despertei quando o sol já estava desaparecendo no final da tarde. Ninguém estava no quarto e eu não estava muito animada para conversar. E, se eu começava a pensar em tudo o que estava me acontecendo, era mais uma dor infernal de cabeça. Depois que jantei, e tomei banho — dessa vez consegui me virar um pouco mais sozinha, minha mãe me fez companhia. Bem, ao menos ela não comentou nada, apenas ligou a TV e ficou assistindo enquanto bebia café. Ela parecia estar calma.
Peguei meu celular quando o mesmo tocou mostrando o nome do meu chefe na tela. Philipe não parecia tão preocupado como estava antes, mostrou gentileza e solidariedade ao perguntar se eu precisava de algo e me dizer que ele faria tudo o que estivesse ao alcance dele. Também não falamos sobre o trabalho, mas tenho certeza que eles estavam indo bem, como todos os dias. E, no fundo tive um pequeno medo, aquele trabalho era a chave da porta de escape que eu tinha no momento, trabalhando eu iria conseguir pagar ao Edward os dias que ficaria na casa dele, depois iria procurar outro lugar de aluguel, mesmo se fosse outro porão, e seguiria minha vida, e dessa vez, eu quero estar bem longe de confusões e esbarrar em pessoas por aí.
Quando desliguei o telefone, minha mãe quis saber quem era e comentou um pouco sobre o que ela achou do meu chefe – além de ter perguntado novamente o que tinha acontecido comigo na noite que ela apareceu para me ver. Definitivamente eu estava sem ânimo para levar nossa conversa além, e só disse que muitos imprevistos aconteceram.
Tudo parecia estar esclarecido, e pouco mais resolvido. Pela manhã o Edward levaria os documentos de aluguel temporário, então já tenho um lugar pra ficar depois de sair do hospital, o que me livra de voltar para Nova Orleans. A conversa que tive com o Edward contribuiu para eu ficasse bem. Muitas coisas tinham sido esclarecidas, e eu não iria me preocupar mais com a vida dele. E talvez pudéssemos ficar amigos. Amigos distantes. Mas seria de grande má fé falar que ele não estava realmente me ajudando. E eu deveria gratidão por isso.
Apenas um detalhe eu havia esquecido, o detalhe que eu deveria ter cuidado antes de tudo. Falar com a Kate. Minha amiga me ligou assim que troquei algumas palavras com minha mãe, logo após a ligação com meu chefe. E o mundo pareceu cair novamente. Mas dessa vez por falha minha. Kate me ligou dizendo que não iria conseguir vir me ver, mas que precisávamos ter uma boa conversa. E claro, como alegria de pobre dura pouco, o que na verdade aconteceu durante o tempo que eu estava dormindo a tarde, foi a minha mãe ter ido no meu trabalho falar com minha amiga.
E adivinhem, o que ela falou? Exatamente isso, minha mãe foi pedir a Kate que eu parasse com essa ideia de ir para casa do Edward. Minha amiga ficou bastante chateada, pude perceber no modo como ela conversava. O que a deixou assim, foi eu não ter falado nada a ela, principalmente o verdadeiro motivo pelo qual minha mãe veio para Oxford.
Kate não me deu muitos detalhes sobre como foi a conversa entre elas, e disse que na manhã seguinte iria vir me visitar antes de ir pro trabalho, e ela quer que eu explique tudo a ela. Principalmente a ideia de ir para casa do Edward. Mas nessa parte ela mudou o tom de voz, e se eu a estivesse vendo juraria que estava sorrindo, ou fazendo aqueles olhares misteriosos que ela sempre faz quando quer falar do Edward, mas eu sabia o que ela queria dizer por trás disso tudo. Que eu devo investir nele. Porém eu tenho absoluta certeza de que Kate está errada, e Edward não está a fim de mim. Ou melhor, ele deve me ver como uma jovem imprudente, que só se mete em besteiras. E talvez, um pouco curiosa demais.
Quando Kate se despediu de mim, minha mãe não estava mais no quarto. Com certeza, ela sabia que ela me ligou para falar sobre a conversa das duas. Não dei tanta importância. Já tinha uma decisão feita. O que restou foi assistir o jornal que passava na TV, enquanto pensava em como seria minha estadia na casa do Edward.
~~*~~
Como esperado, antes que a enfermeira entrasse segurando a bandeja com meu último café que tomaria ali no hospital, minha amiga tagarela e animada entrou. Ainda estava cedo e fazia mais frio que o dia anterior. Somente a cortina do quarto estava aberta, o que facilitava a entrada da pouca claridade do Sol. Kate não entrou tão animada como nas próximas vezes, mas se vestia de uma aparência bastante zangada, ou era o ela queria se mostrar.
— Pode começar me contar. — Ela puxou a cadeira para perto da minha cama e se sentou relaxando o pescoço. — E eu quero saber de tudo.
— Bom dia pra você também — falei. Levei a xícara de chá verde até a boca e depois peguei mais um biscoito de amêndoa para morder.
Kate simplesmente me olhou. Dava pra perceber que ela estava realmente chateada.
— Me desculpe, amiga... De verdade, eu não quis te contar antes para não te deixar preocupada, e... são problemas demais.
— Isso não justifica nada — ela continuou séria.
— Kate... Eu não sabia como falar, foram muitas coisas... e eu não sabia nem o que decidir.
— Tá bom, tá bom... Isso eu já entendi, e sei que você consegue tomar decisões, por mais que sejam estúpidas as vezes. Mas, como assim? Você e o Edward? Me explica isso.
— Oh! Nada disso! Não, não pense besteiras amiga. Por favor...
— Não estou pensando. — Ela sorriu.
— Bem... É tudo um acordo, e claro, isso vai me ajudar a não voltar para Nova Orleans.
— Ah! E que acordo? E sobre voltar pra Nova Orleans, que ideia estúpida! Por que sua mãe quis isso?
— Longa história... mas, eu sei que tenho que te contar.
Deixei meu chá sobre a mesinha de vidro ao meu lado, onde já tinha bastante objetos meu e me acomodei na cama, comecei contar todos os detalhes para minha amiga. E contei desde o acontecimento do concerto, até a ideia de morar alguns dias na casa do Edward. E cada frase que eu terminava de pronunciar, Kate exclamava alguns “Uau”, “Meu Deus”, “Santo queijo gorgonzola, Branquela”, mas o que ela extravasou foi quando falei do Edward. Ela gritava euforicamente. Com certeza, ela estava muito surpresa e animada. Principalmente quando falava que entre eu e ele rolava uma química.
Se realmente rolava uma química entre eu e ele eu não sabia.
O que eu sabia era que ele estava me ajudando bastante para não voltar para Nova Orleans.
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