"Tenha paciência. Tudo aquilo que você deseja, se for verdadeiro, e o mais importante: se for para ser seu,
acontecerá."

—William Shakespeare

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Finalmente! Chegou o dia tão esperado do concerto. Depois de terça-feira, os dias passaram rápidos e minhas noites foram as mais ansiosas e frias que eu tive. Na sexta, eu fui na casa da minha amiga alegre e tagarela buscar o sapato que a mãe dela havia me emprestado. Uma sandália de salto alto prata. Ela era linda e sabia que combinaria bastante com o vestido que usaria. O único detalhe que me incomodou foi em pensar em tentar me equilibrar com ela. Seria a primeira vez que usaria um salto alto como aquele. E essa ideia me assustava.

A casa de Kate não era grande, como ela mesma havia me falado. Era uma casa pequena, mas bem organizada. A sala não era tão grande, mas cabia dois sofás e o painel da tv a cabo. Também tinha uma mesinha de centro com alguns porta-retratos, o que me lembrou da minha casa em Nova Orleans. Minha antiga residência era grande e bem espaçosa, mas não me fazia falta isso. O que me fazia falta era ter notícias da minha mãe.

Kate dividia o quarto com a sua irmã, e havia outro quarto para seus pais. A cozinha era de tamanho mediano, mas nada era comparado com o pouco espaço da minha bat caverna.

Minha amiga chegou minutos antes do que havíamos combinado para me ajudar com minha arrumação. Kate detestava atrasos e disse que eu deveria me arrumar cedo. 

— Eu não sei se vai dar certo, Kate... — falei apreensiva demais ao fechar os olhos para que minha amiga tentasse uma nova maquiagem que marcasse bem meus olhos.

Kate não sabia muito sobre maquiagem, mas ela sabia mais que eu. Ao menos ela sempre costumava usar base, rímel, pó... enquanto eu só uso filtro solar.

A primeira tentativa de me maquiar poderia ter sido um sucesso se Kate não tivesse preenchido demais minha sobrancelha. Ela se empolgou tanto que trocou o lápis marrom pelo preto e parecia que tinha passado carvão na minha sobrancelha. Mas ela não desistiu daquela ideia e fomos assistir tutoriais na internet. O jeito que as blogueiras faziam deixavam parecer que era simples demais, porém, com certeza, não era.

— Fica quietinha com o olho branquela — Kate falou ao esticar mais minha pálpebra passando a ponta do delineador sobre meus olhos. — Prontinho! Esse ficou muito lindo. —  Kate saiu da minha frente, e eu me virei para me ver no espelho novamente a nova tentativa de maquiagem.

— Não ficou ruim... mas acho que está desproporcional, Kate... — Fitei novamente meus olhos. — Marcante demais! Não quero ser chata e nem exigir demais, porém, acredito que algo mais suave ficaria melhor.

— Aham... — Kate avaliou meu rosto como se fosse uma profissional procurando falhas no seu trabalho para aperfeiçoar. — Você está certa, algo mais natural combina mais! — ela falou animada. 

Me levantei do sofá para procurar meu celular e aproveitei para beber um pouco de água. Me assustei ao ver as horas no visor do celular. Havia se passado uma hora! E eu deveria me apressar pois já era 17:40h. E nenhuma das tentativas de maquiagem tinha dado certo.

— Eu acredito que seja melhor eu me vestir logo, e depois você termina de me maquiar, assim ganhamos mais tempo — falei decidida.

—Tudo bem! —Kate sorriu e se jogou na minha cama segurando seu celular.

Peguei meu vestido que estava estendido sobre o braço do sofá e entrei para o banheiro para me vestir. Eu já havia tomado banho e só vestir uma roupa simples porque teria que passar pelos testes de maquiagem da minha amiga primeiro. Desse modo meu vestido não sofreria nada.

Vesti o vestido que continuou bonito no meu corpo e sai do banheiro encontrando Kate tendo seus ataques de risos.

— O que aconteceu? —  perguntei tirando a atenção dela do seu celular e se voltando para mim.

— Nada, só estava vendo alguns memes e vendo alguns vídeos engraçados na internet. — Ela se levantou e deixou o celular na cama.

— Uau, branquela! — Kate sorriu ao me ver. — Nosso chefe que se segure, porque você está lindíssima.

— Não é pra tanto, Kate... e não começa com suas gracinhas falando que nosso chefe está interessado em mim, por favor. — Suspirei.

— Não vou falar. Agora falta arrumar seu cabelo e terminar a maquiagem.

Suspirei só em imaginar que terei que esperar os minutos passarem com Kate me maquiando.

— Okay, okay, mas dessa vez tenta uma maquiagem mais básica, amiga... deve ficar melhor.

— Vou fazer, vai ficar linda, mas vamos começar pelo cabelo primeiro!

Kate conversava sobre tudo enquanto mexia no meu cabelo. Ela levava jeito pra aquilo. Minha amiga fez um penteado que gostei bastante. Nada extravagante, nem alvoraçado. Ela prendeu os fios loiros em um coque estiloso, deixando alguns fios enrolados caírem levemente, na frente ela passou bastante creme para que os fios rebeldes ficassem no lugar. Meu cabelo colaborava sempre comigo, e daquela vez não foi diferente.

— Eu quero saber de tudo, exatamente tudo! Não tente me esconder nada! — Kate continuou passando o pincel para espalhar o blush nas minhas bochechas.

— Eu vou contar..., mas, não deve acontecer nada demais, vamos só ver grandes músicos se apresentarem.

— Tudo bem..., mas já estou avisando. — Sorriu. — Prontinho! — Minha amiga deixou os pinceis de maquiagem no sofá e pegou o espelho para eu me visse novamente.

— Wow! Eu estou me sentindo tão bem...  Tão delicada... e minhas bochechas estão bem rosadas, as pessoas vão pensar que estou com vergonha. — Sorri.

— Há há, ficou fofo, deu um toque especial.

Kate pegou seu celular novamente e se sentou na cama.

Me levantei do sofá com as pernas adormecidas de tanto que fiquei sentada. Me observei pela última vez no espelho e o sorriso que formara em meus lábios não conseguia se desfazer.

O vestido estava lindo e tudo era harmonioso em mim. A cor dos meus olhos se destacou muito, a maquiagem estava leve, o que se destacou além dos meus olhos, foi o gloss que passei nos meus lábios. O penteado do meu cabelo também ficou muito lindo e elegante.

Tudo muito elegante, tudo bem harmonioso.

— Já está quase dando a hora para o chefe vir te buscar, é melhor eu indo antes que fique muito tarde. — Kate se levantou com dificuldade da cama, mostrando preguiça.

—Muito obrigada amiga, nem sei como posso te agradecer.

—É pra isso que serve as amigas! Não precisa me agradecer. Mas, não se esqueça de me contar os detalhes!

—Contarei tudo!

—E se seu salvador aparecer, não evite conversar com ele.

— Quem?

—O seu salvador, o seu garoto do lenço azul. — Kate sorriu ainda mais. — Esse nome é tão engraçado.

Bufei.

— É impossível ele aparecer.

—Não é, não. Muitas pessoas vão a esse concerto nessa época, não é como os de natal e fim de ano, mas esse é muito famoso, e é o único do ano que o Riccardo Muti veem nos dar a honra de se apresentar também.

— Parece ser muito importante mesmo, o Philipe me disse um pouco sobre isso.

— Uhum, agora vou indo, se cuida, branquela. E não esquece dos meus conselhos, se seu Salvador aparecer procure investigar a vida dele.

Acompanhei Kate até o portão do porão e desci as escadas segurando o cumprimento do vestido com as mãos para não passar no chão.

Olhei ao meu redor e observei se faltava fazer algo. Já estava arrumada, cabelo arrumado, maquiagem feita, vestido limpo, peguei meu par de brincos e coloquei nas minhas orelhas. Tudo estava completo, ou quase... faltava o salto!

Meu celular tocou quando me inclinei para calçar minha sandália. Peguei o celular do meu lado da cama e atendi, era meu chefe.

— Boa noite, Luara.

— Boa noite... aconteceu alguma coisa?

— Não, não, eu já estou aqui do lado de fora da sua casa te esperando. Já são 19:00h.

— Oh, claro, claro, já estou subindo as escadas, não se preocupe.

Desliguei o celular e terminei de calçar minha sandália. Era estranho ficar de pé calçada em um salto, já que não tinha costume. Caminhei me segurando nos móveis para não tropeçar e peguei minhas chaves, meu celular, e apaguei as luzes. Fechei a porta e olhei para escada a minha frente.

“Você consegue”. Repeti para mim mesma.

Era só colocar um pé na frente do outro, como Dona Marcela me ensinou.

Um pé na frente do outro.

Coloquei meu pé no primeiro degrau e agarrei uma mão no corrimão da escada enquanto a outra segurava o cumprimento do meu vestido. Quando cheguei no topo da escada sorri aliviada, eu ainda estava intacta! E meu vestido também.

Abri o portão e vi o sonata preto do meu chefe estacionado na porta da casa da avó da Kim. Philipe estava em pé, de braços cruzados, tendo a porta do seu carro como encosto para suas costas. Ele sorriu ao me ver. Meu chefe estava lindo demais, elegante demais e mantinha o sorriso preguiçoso de sempre. Como marca de algum vendedor de cremes dentais.

O cabelo preto estava com um corte baixo e a barba bem-feita. Os olhos escuros tinham profundidade. Respirei fundo. Nada de confundir as coisas Luara.

— Vamos?  — Ele se aproximou de mim.

— Claro. — Continuei segurando meu vestido e estufei meus peitos e mantive a postura ereta para conseguir chegar até o carro.

Cambaleei um pouco até chegar no carro, mas consegui disfarçar bem.

Philipe abriu a porta do carro para mim e deu a volta se acomodando logo depois no banco de motorista.

— Você está linda. — Ele quebrou o silencio.

— Obrigada... — agradeci constrangida.

Continuamos em silêncio durante o percurso. Philipe não parecia se incomodar com isso. Mas eu não estava tão aliviada quanto deveria estar.