Capítulo 13
„Mas é possível escrever os principais textos de nossa vida nos momentos mais difíceis de nossa existência.“
— Augusto cury
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Sempre tive uma vontade gigantesca de poder ver uma orquestra tocando algum dia. Claro, que o instrumento que mais me chama atenção é o piano, e que sonho em poder aprender toca-lo um dia, contudo, todos aqueles instrumentos juntos transmitem uma melodia perfeita. Desde quando cheguei aqui, não tinha despertado esse desejo de querer ver um concerto, mas por alguns conhecimentos eu sabia que as orquestras daqui são as mais belas que alguém pode ver e ouvir.
Kate já tinha comentado comigo algo sobre como essa cidade fica linda no natal — além das grandes preparações, enfeites na rua e encontros com a família —, quando escuta os doces acordes vindo de dentro de alguma sala de teatro ou nas praças mais conhecidas daqui, o verdadeiro espetáculo que é.
—Estou pensando que você não gosta desse tipo de música, e que acha chato ficar vendo vários instrumentos sendo tocados — Philipe comentou com seus olhos fixos no meu esperando por alguma resposta minha.
—Oohhh, não é isso, eu só não esperava que seria essa a proposta — falei ainda sem reação.
—Relaxa, não vai ser tão ruim, alguns dos músicos são amigos meus, e um dos que vai se apresentar em solo, me convidou, e me deu dois ingressos, pensei que você iria querer.
—Eu aceito, sim, com certeza.
Talvez, isso foi mais uma tragédia icônica para ir para o livro das escolhas burras ou decisões erradas que Luara Thompson sempre tem.
—Que ótimo então. — Philipe exibiu um sorriso preguiçoso. — Será daqui 2 semanas. Domingo, às 19:00 hora. Te buscarei em casa, só precisa me passar o endereço.
Será que fiz certo em aceitar? Pensando bem, não acho que aconteceria nada demais. Acredito que não irei me arrepender!
Voltei meu olhar para a cozinha, de onde o cheiro de ovo frito estava vindo.
—Eu posso ir sozinha, consigo pegar um táxi, não precisa se incomodar. — Descansei os pratos de porcelana que estavam em minhas mãos sobre o balcão e procurei pelos cardápios para organiza-los.
—É melhor eu ir te buscar, evita atrasos ou se perder no caminho, não será incômodo. — Meu chefe depositou a xícara sobre a pia, e voltou para o mesmo lugar onde estava. — Além do mais, eu estou te convidando, não seria agradável chegar lá sem minha convidada. Agora eu preciso ir, tenha um bom trabalho e faça tudo direito, tem clientes chegando, tenha um bom dia. — Ele se afastou.
—Tenha um bom dia também. — Foi tudo o que eu disse antes de pegar o menu para ir atender uma mesa.
~~*~~
Bastou um minuto de sossego para Kate brotar ao meu lado com um sorriso curioso nos lábios.
—Pode começar contar tudo, quero saber todos os detalhes! — kate afastou algumas coisas da mesinha atrás do balcão dando espaço para ela se debruçar apoiando o queixo sobre o braço curvado.
—Falar o quê? — perguntei colocando as últimas louças que faltavam ser guardada, no armário.
—Sobre hoje, ontem… a conversa com o Philipe, seu fim de semana, tudo o que for novo… —Ela conteve a risada e continuou falando. — Sei que tem muitas coisas para falar, e eu quero saber de tudo, com todos detalhes!
Quando Katharine falava que queria saber até os mínimos detalhes, podia ter certeza de que ela falava sério. Bastava um segundo sozinha, um deslize qualquer, cliente satisfeito, ou fim do expediente, para ela surgir ao meu lado para me questionar ou comentar algo que sempre me levava a rir.
— Aham... Apenas conversamos... Nada de intere... Oh meu Deus,— Coloquei a mão na testa — eu deixei a torta no forno.
Senti o cheiro de queimado vindo da cozinha e caminhei rapidamente para desligar o forno.
— Impossível alguém comer isso aqui... — Comentei abrindo o forno no mesmo momento em que Kate se aproximou.
Tirei a torta de maçã queimada do forno colocando-a no suporte em cima da mesa que a Kate tinha acabado de colocar.
— Você é o desastre na cozinha, branquela!
— A Maria ainda não chegou? — Mesmo sabendo a resposta, questionei.
— Não, ela precisou ir comprar algo. Ela que pediu para você olhar a torta no forno?
— Sim... A Cynthia não veio hoje, e ela pediu um dedinho de ajuda meu... Que deu nisso... — Olhei para a torta queimada em minha frente, com expressão de desgosto.
Kate voltou olhar para fora ao ouvir os ruídos e murmúrios e deu por entender que ela estava atrasada com alguns pedidos.
— É melhor eu ir, antes que os clientes derrubem isso aqui! — Suspirou.
Minha amiga caminhou até a porta e somente o som do choro de uma criança soou nos meus ouvidos antes da Maria voltar novamente e eu explicar tudo o que aconteceu. Fazendo ela correr para preparar outra torta.
Graças ao céu, ela não brigou comigo, apenas disse que isso era normal acontecer para quem não tem experiência na cozinha.
Voltei a atender os clientes minutos depois. Desse instante em diante o movimento de pessoas só aumentou, porta abrindo e fechando, mulheres se esbarrando em mim, pedidos e mais pedidos para uma única cozinheira atender, criança derramando ketchup na camisa branca, deixando a mãe zangada, mais pedidos de café expresso, outras louças sujas.
Quase escorrei no chão, quando uma senhora deixou virar um copo de suco sobre a toalha da mesa, fazendo com que o líquido derramasse pelo chão.
Eu estava virando uma pipoca ali dentro.
Nem me dei conta quando já estava escurecendo e as luzes ali de dentro foram acessas.
Gradualmente as pessoas foram saindo e o barulho maior era da rua.
Comecei tirar os pratos sujos de cima da mesa para levar para lavar. Kate lavava as louças e eu estava limpando as primeiras mesas.
Maria estava aliviada na cozinha. Terminando de varrer a sujeira no chão.
Passei o pano na última mesa suja, e voltei para onde Kate estava, a fim de guardar as xícaras.
— Você não me contou ainda, branquela.
— Sobre o que?
Peguei o pano de prato com desenhos de árvores para secar as xícaras de porcelana.
—Eu observei tudo, e não tem como você fingir que nada aconteceu...
—Bem… —Revirei os olhos.
—Santo queijo Gorgonzola, Branquela!
—Não precisa falar as bobeiras que você está pensando Kate — exclamei ao ver seus olhos amendoados arregalar. — Bem… o Philipe veio me convidar para ir em um concerto com ele – falei com uma falsa tranquilidade.
— Oh! — Kate levou sua mão a boca com cara de surpresa. — Bem… pelo menos foi a um concerto, coisa que você deve gostar muito.
—Eu fiquei feliz por saber que é em um concerto, sempre quis ir em um…
—Eu iria te levar para assistir daqui alguns meses, no natal. Está mais próximo do que imaginamos.
—Não sabia que queria me levar, já que fez tanto por mim, não quero que se incomode.
—Não era pra você saber. — Deu de ombros. — Era uma surpresa, mas não importa, eu te levo mesmo você sabendo antes. — Sorriu, secando suas mãos em uma toalha pendurada no suporte na parede.
—Ah, bem. Tudo bem, então.
— E sobre o tal de Cristiano, Cristofer, Cris…
—Cristhian — completei. — Não tive nenhuma notícia sobre ele ou o que seja que ele queria…
—Entendo. Isso está ficando cada vez mais divertido. — Kate gargalhou.
Nem precisava perguntar para saber o motivo do riso da Kate, eu sabia o quanto ela poderia estar maquinando as várias hipóteses em sua mente e em todas colocando o garoto desconhecido no meio.
Suspirei e fui guardar as últimas xícaras que faltavam. Maria saiu da cozinha deixando seu avental de lado e passando as mãos pela blusa preta limpando qualquer sinal de farinha de trigo. Ela se despediu de mim e Kate com um abraço e saiu logo depois.
Kate verificou se estava tudo desligado dentro da cozinha e voltou para onde estava. Viramos nossos rostos para a porta de entrada ao ouvir o estalar na fechadura. Philipe entrou sereno como sempre.
— Me desculpem o atraso, já era para vocês terem ido para casa, mas eu tive alguns contratempos e o trânsito não me ajudou muito. Podem ir agora, eu fecho tudo por aqui. E obrigado por esperarem.
— Só estávamos aguardando por você. — Kate falou se levantando da cadeira. — Até amanhã então. — Ela sorriu.
— Até amanhã, tenha uma boa noite.— Me despedi e caminhei até a porta, fechando-a atrás de mim após pisar na calçada.
Abracei a Kate, antes de atravessar a rua movimentada, a deixando para trás esperando seu táxi.
Caminhei pela rua pouco iluminada imaginando o que poderia fazer ao chegar em casa. Se iria dormir logo depois de tomar banho, ou arriscar arrumar pelo menos metade da bagunça que estava lá. Exatamente, mesmo com poucas coisas, aquele porão tinha diminuído de tamanho pela desorganização que estava. Me arrependi por não ter arrumado tudo antes de virar toda aquela cena caótica.
Me assustei quando um motorista buzinou ao meu lado, para um cachorro sair da frente do carro. Por um minuto eu pensei que estaria sendo quase atropelada.
Virei a última esquina que dava até a rua da minha casa. Como de costume estava tudo sossegado. Tinha vezes que eu até me perguntava se não haviam muitas pessoas nas casas vizinhas.
Eu sabia que não havia ninguém morando na casa acima do porão onde eu morava.
Abri o portão e entrei em seguida tendo uma pequena noção do que iria fazer. Troquei a calça e a blusa que estava vestida por um vestido de tecido fino. Se não fosse pelo descuido de não ter verificado antes a carga do meu celular, eu poderia ligar para alguma Delivery nos arredores, pedindo uma comida que valesse por um ótimo preço.
Contudo, só me restaram duas opções: demorar horas preparando algo para comer e depois ir arrumar o porão com muito sono e acabar não fazendo nada. Ou, ir em uma Delivery perto, comprar o que queria, voltar para casa e arrumar pelo menos minhas roupas e depois me ajeitar para dormir.
Resolvi ficar com a segunda opção.
Deixei meu celular carregando em uma tomada perto da cama e peguei as chaves antes de sair, verificando se tinha pegado minha carteira também.
Ainda tinha um número considerado grande de pessoas na rua naquela hora. Visto que era antes das 21:00h, grande parte das ruas estavam ocupadas por jovens. Busquei em minha mente recordações se não tinha errado o endereço, desde a última vez que Kate foi comido naquela devilery.
Caminhei devagar pelas ruas, fazendo um mapa mental de todos os lugares que eu passei, para não me perder na volta até em casa. Demorei mais que o esperado, já estava pensando em pegar um táxi pela dor que estava nos meus pés. Não era acostumada andar tanto assim em Nova Orleans, visto que tinha ótimos lugares para mim ir, mas nunca aproveitava as poucas oportunidades.
A palavra “ Cowley” estampada no letreiro néon me fez lembrar de como as pizzas daquele lugar eram deliciosas. Atravessei a rua, e fui direto para a porta de entrada. As paredes de cores vivas dava mais alegria ao lugar. Entrei e segui até o balcão na recepção. Cumprimentei a atendente e escolhi um hamburger para levar. Depois de esperar por longos minutos sentada em uma cadeira, recebi o meu pacote e paguei antes de sair dali.
Segui até uma faixa de pedestre, esperando o sinal fechar para mim poder atravessar. Mesmo em meio ao barulho de uma avenida movimentada, carros e motos passando sem parar, escutei gritarem meu nome ainda distante. Olhei para os lados e não vi ninguém familiar. Poderia ter me confundido, mas novamente chamaram meu nome, me virei para trás para saber se era alguém da delivery. Não sabia qual era minha reação ao ver aquele homem alguns metros de distância de mim. Mesmo distante eu sabia que era ele, com as mesmas expressões e o mesmo jeito de ficar em pé. Depois de algum tempo, ele finalmente apareceu.
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