Capítulo 09
"A paixão aumenta em função dos obstáculos que se lhe opõem."
— William Shakespeare
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Oito horas da manhã e Kate estava sentada no sofá do porão da avó da Kim me esperando, enquanto resmungava sobre meu atraso.
Eu diria que ela estava mil vezes mais ansiosa que eu, que nunca tinha ido ao centro dali e seria a primeira vez a visitar os lugares legais da minha mais nova cidade.
Com uma calça jeans, com bordados de flores enfeitando os bolsos traseiros, terminei de vestir minha blusa amarela com desenhos fofinhos na frente, e saí do banheiro.
Kate me puxou pelo braço falando que o Táxi já iria chegar. Nem deu tempo de prender meu cabelo e saí com ele solto mesmo. Esperamos poucos minutos o Táxi. Alguns vizinhos ficaram nos olhando entrar no carro.
Minha amiga não parava de falar sobre tudo o que víamos, ela fazia piada das pessoas da rua e falava até dos outdoor espalhados. Com certeza kate era mais que uma instrutora para uma jovem recém-chegada nessa cidade, que agora estava começando a viver sozinha — ela era a melhor pessoa que eu poderia ter conhecido. Mesmo que reclamasse de mim e era chata às vezes.
—Está vendo aquele lugar? — Kate indicou uma casa, ou melhor, um casarão do outro lado da avenida, de arquitetura rústica, não deixando de ser visado pelo lindo jardim que havia em frente.
—Sim — respondi, inclinando o rosto para trás, de modo a olha-lo pela janela aberta à medida que nos distanciávamos.
—Na minha infância — Kate começou a falar —, costumávamos a vir sempre nesse museu. Meu pai adorava levar eu e a minha irmã para sabermos as histórias. E sempre aproveitávamos para ir ao cinema que havia ali perto, hoje o cinema não existe mais. Entretanto, a parte que eu mais gostava, era a comida, os lanches e doces. — Kate exibiu um sorriso amarrado nas orelhas. — Mesmo que tivéssemos que pagar, valia sempre a pena no final.
Sorri em imaginar a cena da Kate comendo vários doces e comidas e correndo desesperada como uma criança tagarela e travessa.
— Posso saber do que está rindo?
— Nada demais. — Dei de ombro. — Só imaginando como seria você na sua infância. — Sorri.
— Ha-ha, não ria, branquela. Eu apanhava bastante. — Ela sorriu me fazendo fazer o mesmo.
— Isso é legal.
— Apanhar? Não mesmo.
— Mas é melhor apanhar dos pais na infância por algumas besteiras do que apanhar da vida. —Observei a rua pela janela. — Onde pretende me levar primeiro?
— Algum lugar para comermos.
Enquanto Kate contava as histórias que enfeitaram sua infância. Fazendo caretas e rindo — desde as coisas mais terríveis, até as menos complicadas, levando até o motorista gargalhar junto conosco, já que Kate falava alto o suficiente —, me lembrei dos meus momentos divertidos em Nova Orleans.
Os únicos momentos que eram especiais entre os Thompson, eram quando iamos na fazenda da senhora Thompson D’ Shasberg – minha avó. Antes do meu aniversário de doze anos, íamos sempre para a casa dela.
Ela não suportava o fato de me ver mexendo em sua plantação no quintal da casa e odiava as perguntas que eu fazia sobre cada enfeite que ocupava a estante da sua biblioteca. Ela também odiava que eu entrasse naquele lugar.
O primeiro livro que li eu tinha por volta dos nove anos, e foi lá, naquele lugar familiar e distante que eu o li. Bem, li escondida na verdade. Ela não podia sonhar que eu peguei em algum dos livros dela. De início eu não sabia que lugar era aquele. Sempre tão misterioso e ninguém poderia entrar — eu não podia entrar.
Eu ficava sempre curiosa quando viajávamos para lá, e sempre me perguntava o que podia haver naquele “quarto”. Como eu não tinha respostas para as perguntas da minha mente, eu conjecturava várias coisas que poderiam acontecer naquele cômodo. Por exemplo, me perguntava se dentro daquele lugar a senhora Thompson tinha encontros secretos com Ets.
Uma das férias do meu pai, ele resolveu que iríamos para fazenda da minha avó. Foi nessa ida que tive a oportunidade de entrar naquele lugar e descobrir que era uma biblioteca.
Era noite de natal, tudo estava preparado, a comida estava pronta, bebidas, sobremesas. Nessa hora vi a porta daquele cômodo aberta. Passei despercebida por todos que estavam na sala, e entrei. Surpreendi-me pelo que vi, depois de tantas imaginações. Livros e mais livros estavam organizados na estante. Desse dia em diante a minha paixão por livros aumentou cada vez mais.
— Branquela… branquela! Você está me escutando? — Kate balançou meu braço.
— Ahh! Sim, eu estava distraída.
— Percebi. — Kate fez careta. — No que pensava tanto? Eu estava comentando sobre aquela loja que passamos por frente e você não prestou atenção...
— Me desculpa. — Dei um meio sorriso. — Estava lembrando da minha avó.
— Hmmmm, o que tinha tanto de especial nas suas lembranças?
— Nada demais. Só lembrei de quando ia para a fazenda da minha avó.
— Ah! Entendo. Você devia ser bem apegada a ela. Faz muito tempo que ela faleceu?
— Não, não. — Gargalhei deixando Kate com um semblante confusa. — Ela ainda está viva.
— Aaaah! Nossa, me desculpa. — Kate sorriu. — mas você não tinha muito contato com ela?
— Não. Ela nunca quis sair da fazenda dela, sabe. Ela tem uma casa em Nova Orleans, mas nunca quis ir pra cidade depois da morte do meu avô. O que faz muito tempo. Ela que ainda cuida de todos os negócios que era do meu avô, incluindo a fazenda. Mas, acho que ela tem outras pessoas de confiança que ajuda ela, na parte de administração...
— Ooooh! — Kate pareceu surpresa.
— Tínhamos pouca aproximação, mesmo eu sendo a única neta dela.
— E por quê? Você não gostava dela?
— Bem. Eu gostava sim. Mas, nunca tinha muito interesse de ir na fazenda dela. Minha mãe dizia que era inútil ir. Somente uma vez eu fui visitá-la depois de adulta. Os empregados nos ligaram dizendo que ela estava doente, passei uma semana com ela. E pra falar a verdade... Eu tinha amado aqueles dias.
— Isso é muito bom!
— Sim, sim. Depois disso eu sempre ligava para saber de mais notícias dela. E ela foi melhorando, mas nunca quis voltar para casa dela em Nova Orleans.
— Sua mãe ao menos poderia ter ido visitar ela mais vezes.
— Eu sei... É tão complicado... Que nem mesmo eu consigo entender, só espero que ela esteja bem.
Kate assentiu e apenas exibiu um sorriso e olhou para o lado observando o lugar onde o taxista estacionou.
Descemos do carro após Kate pagar o taxista e caminhamos pela praça central, até encontrar um lugar para comermos. Entramos em uma lanchonete próxima e nos acomodamos ali mesmo.
— Sorria para foto, branquela! — Kate se pronunciou em meio aos risos e caretas que ela fazia para tirar self, me levando a fazer o mesmo, me interrompendo de saborear nosso café da manhã.
—Ah! Kate — protestei. — Assim não vale.
—Vamos tirar outras, faz biquinho branquela — Kate falou sorrindo.
Minha amiga com seu jeito extrovertido falava todas as poses e caretas que tínhamos que fazer enquanto tirávamos self com o meu celular novo. Quando o momento sessão de fotos acabou, minha barriga doía de tanto rir.
Terminamos de comer os nossos steak and kidney pie que tínhamos pedidos assim que chegamos e saímos dali, deixando o dinheiro sobre a mesa, ao lado do copo de suco detox que eu tinha pedido.
— Para aonde vamos agora? — perguntei a Kate, enquanto caminhávamos pela calçada passando pelas pessoas.
—O que você prefere? Irmos agora no museu? Ou irmos à livraria primeiro?
Meus olhos brilharam só em escutar o nome livraria.
—Eu preferiria ir à livraria, porém, acredito que seja melhor irmos ao museu primeiro — falei calmamente.
—Então vamos ao museu primeiro, só temos que andar um pouquinho mais.
Fiz questão de aproveitar cada segundo que estive ali. Estava realmente feliz. A recordação do primeiro dia que cheguei aqui foi instantânea, principalmente a alegria que fiquei ao conseguir um emprego. Mas o final do dia não foi tão bom, aquele garoto pertinente tinha estragado minha alegria. Cruzei os dedos para que aquele dia continuasse tão bem como começou.
—O que está achando do nosso passeio? — Kate perguntou me analisando. — Você parece pensativa — comentou por fim.
—Está sendo ótimo, só estava pensando em algumas coisas, mas nada que tire a minha alegria de hoje. — Sorri.
—Aah! Que ótimo!
Paramos em um portão com bastante pessoas em uma fila para comprar o ingresso de visita. A entrada era enfeitada por um jardim incrivelmente lindo. Havia flores de diversos tipos, margaridas, orquídeas, jasmim, os diversos perfumes que encantavam ainda mais a entrada. Kate me acompanhou, seguindo até a porta de entrada, no canto esquerdo, notei as minhas flores favoritas, tão belas e delicadas, as rosas. Passamos por algumas pessoas que aproveitavam aquele explendido jardim para tirar fotos. Na porta inicial tinha um outdoor com todas as informações necessárias. Passamos pelos monumentos que estavam expostos e seguimos nosso tour por dentro do museu.
O lugar era extremamente grande. A arquitetura era diferente do que estava costumada ver nos museus em Nova Orleans. Também não era totalmente diferente.
Diversos quadros enfeitavam a parede de tijolos da sala onde estávamos.
Kate me mostrava tudo e contava as coisas que sabia que aconteceram em cada episódio representado por objetos históricos. Foi extremamente incrível, nunca tinha visitado um museu desse tipo.
Quando saímos do museu, fomos diretamente para uma livraria perto de uma das maiores bibliotecas existentes ali. Porém, não poderíamos entrar na biblioteca, por ela fazer parte de uma faculdade.
O cheiro de livros novos ressoou pelas minhas narinas quando entrei na livraria. Não sabia nem o que comprar exatamente, já que o meu desejo era levar todos os livros presentes ali.
—Isso aqui é uma maravilha! — comentei enquanto caminhava por um dos corredores silenciosos ao lado da Kate.
—Você tem algum livro em mente para comprar?
—Vou olhar alguns exemplares de romance e poesia.
Na verdade, era para ser somente poesia, porém a voz na minha cabeça falou mais alto e eu quis um livro de romance também. E pelo que a atendente me avisara, quando eu acabasse de lê-lo meu travesseiro iria estar encharcado do tanto que eu ia chorar.
Saí de dentro da livraria com o sorriso enfeitando meu rosto, realmente eu não conseguia parar de rir. Kate caminhava ao meu lado enquanto seguíamos para um restaurante próximo. Ela continuava com seu bom humor, fazendo piadas e rindo de quase tudo. Fazendo com que a minha alegria aumentasse cada vez mais.
Sentei-me na cadeira vaga na frente de Kate no restaurante que estávamos.
Fizemos nossos pedidos e esperamos enquanto olhava nossas fotos de horas anteriores.
Mexi meu Chowder no prato com ajuda de uma colher, acompanhada do som de moonlight sonata que ressoava pelo lugar. Meu celular vibrou ao receber notificação de uma mensagem. Apoiei a colher ao lado do prato e peguei meu celular que estava sobre a mesa.
Havia uma mensagem de um número desconhecido:
“ Senhorita, é extraordinário o seu gosto pela cor amarela, entretanto, uma blusa azul cairia bem melhor em você. Buscarei meu lenço na próxima semana. Tenha um ótimo dia!
Ass: o garoto do lenço azul.”
Terminei de ver a mensagem revirando os olhos, e coloquei o celular novamente sobre a mesa.
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