Capítulo 05
"Jogue sempre como se estivesse na presença de um mestre."
— Robert Schumann
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— Já que você tem experiência nesse ramo vai ser mais fácil. Eu só preciso que você traga seu currículo como lhe disse, porque tem duas pessoas na sua frente, que vieram querer esse cargo — Philipe falou educadamente estando ainda atrás do balcão.
Depois de alguns minutos esperando para falar com o patrão da moça que me atendeu – o Philipe –, consegui finalmente ir, com boas notícias no final.
Naquele momento precisei me sentar na cadeira ao meu lado, e acreditar que aquilo era mesmo real. Eu estava próxima de conseguir um emprego!
O Philipe disse que eu precisava levar um currículo para ele, e se eu fosse chamada ficaria somente uma semana de experiência até pegar o jeito das coisas aqui.
Era um ótimo começo.
Com certeza era a melhor notícia que eu tinha recebido até aquela hora. Nem estava acreditando que aquilo estava sendo mesmo possível. Talvez foram as boas vindas da Anne – esposa do Matthew – que me fez começar minha nova vida com o pé direito.
Ali, percebi que não queria mais retroceder, e que continuaria com a minha vida naquele lugar; tentando e conquistando.
Tinha a possibilidade de não dar certo também, mas mesmo assim eu iria continuar tentando. E iria procurar por outros lugares; principalmente os que a Kim me indicou, até conseguir um emprego.
Eu não posso desistir!
Peguei meu capuccino de banana que estava sobre o balcão e a sacola que continha os bolinhos de leite com canela que eu comprei para levar para casa. Gravei o número do Philipe na lista de contatos do meu celular para poder manter contato, caso houvesse alguma mudança.
Deixei o dinheiro ao lado do copo de água sobre o balcão de vidro e saí dali com um sorriso estampado no rosto. Decidida a chegar em casa, tomar um bom banho, desfazer minhas malas e comer meus bolinhos; além de ligar para minha mãe.
Eu tinha que ligar pra ela para explicar tudo de forma simplificada e saber como ela estava.
Ainda escutando os murmúrios que vinha de dentro do café, caminhei pela calçada com a sacola de bolinhos e o capuccino nas mãos. Parei em frente a faixa de pedestre, esperando o sinal fechar pra poder passar.
Mesmo que não fosse em uma das maiores metrópoles, eu precisaria ter atenção nas avenidas e na rua para não correr o risco de sofrer acidente. Já que sou desastrada demais.
Peguei meu celular para colocar o brilho da tela no máximo a fim de conseguir visualizar a hora no visor do mesmo. Apressei meus passos chegando no asfalto quando o sinal fechou. Porém, em um movimento impulsivo e rápido, senti meu corpo sendo puxado para trás me fazendo chocar com algo atrás de mim, voltando para calçada.
Todo o momento de alegria de alguns minutos atrás foi para o chão quando vi a tela do meu celular trincada, os bolinhos no chão e o meu precioso capuccino de banana derramado sobre o piso, e escorrendo pelo meu vestido rosa pérola com desenhos de florzinhas amarelas.
Meu joelho estava ralado e sangrando. Levantei minha cabeça para olhar quem era o autor daquele desastre, com os olhos fervendo de raiva.
— Olha o que você fez! – Meus olhos fitaram o azul intenso do olhar do homem à minha frente.
Tinha que ser: homens. Somente eles poderiam causar tamanho estrago em minha vida (Menos o meu pai).
— Deveria me agradecer. – Seu tom de voz era normal, exceto pelo sotaque intimidador.
— Te agradecer?! Por estragar meu momento de alegria? Ah! Mas era só o que me faltava. — Ri com sarcasmo.
Algumas pessoas pararam na rua para observar o que estava acontecendo enquanto algumas continuaram sua caminhada.
— Por que me puxou desse jeito? – questionei ainda aumentando a minha voz.
Algumas senhoras se aproximaram mais enquanto cochichavam entre elas.
— Porque se você estivesse prestando atenção no que iria fazer, em vez de ficar focada no celular, não teria sido quase atropelada.
— Mas o sinal tinha fechado – esbravejei irritada.
— Não justifica você ter feito isso. — Olhei para celular quebrado e todo o farelo de bolinho no chão, estava passando a maior vergonha ali.
Tentei esticar um pouco minha perna para poder me levantar, mas foi em vão. Meu joelho latejava de dor, por mais que o ferimento não fosse tão grave.
— Me desculpa — ele falou um pouco preocupado. — Não queria fazer todo esse estrago. — Seus olhos vasculharam a mancha no meu vestido e toda a sujeira no chão.
— Desculpa não vai fazer meu celular consertar, nem tão pouco meus bolinhos voltarem a estar como antes! — retruquei ainda mais irritada.
— Eu falei sobre o seu joelho. Me deixe te ajudar. — Ele estendeu a mão para me ajudar a levantar do chão.
— Não preciso da sua ajuda. — Apoiei a mão no piso, mas a dor que estava no pé me impediu de apoia-lo contra o chão para me dá equilíbrio.
— Fica quietinha, moça, e me deixa te ajudar.
Petulante.
Não sei se foi pela minha raiva que me fez ficar despercebida e não reparei que o garoto a minha frente tinha um lenço azul enrolado no pescoço. Ele desatou o nó do lenço e tirou do pescoço, levando até meu joelho para prendê-lo sobre o machucado.
As senhoras que não paravam de olhar para mim começaram a caminhar em direção oposta, mas antes olharam para mim com cara desprezível.
— Pra que isso? — perguntei encolhendo o corpo.
— Você não vai querer expor esse ferimento pela rua.
— O que eu não vou querer, ou melhor, o que eu não queria, era que você me puxasse daquela forma! — Voltei a gritar.
— Primeiro. — O jovem amarrou o lenço no meu joelho e se ergueu novamente, voltando a sua atenção para mim. — Para de gritar! você está chamando atenção de todas as pessoas que estão passando e chega de reclamações — ele continuou a dizer. — Segundo, não estrague o meu lenço.
Abri a boca para falar, porém fui impedida. O moço dos olhos azuis me interrompeu.
— Eu estou atrasado pra um compromisso, vou chamar um táxi pra te levar até a sua casa. —Sem esperar reivindicações, ele fez o que falou. Segundos depois, o táxi estava estacionado do outro lado da rua.
— Eu já disse que não preciso que me ajude, eu sei andar muito bem! — falei após ele tentar segurar minha mão para me ajudar a atravessar a rua.
— Não me importo. —Ele segurou na minha mão, mesmo contra a minha vontade e atravessou comigo para o outro lado.
— Agora sim, você soube atravessar, vou aceitar agradecimento depois. — O jovem sorriu e abriu a porta do táxi.
— Arrogante. —Dei as costas para ele.
Entrei no carro e esperei o taxista que estava na calçada conversando com o homem que tinha feito acontecer aquele desastre comigo.
O taxista entrou e pediu o meu endereço. Pela sorte eu ainda me lembrava pois, a Kim tinha feito questão de repeti-lo diversas vezes para mim aprender também.
Enquanto íamos em direção à minha mais nova residência, me peguei pensando no garoto que acabara de estragar meus momentos de felicidades. Um sorriso bobo surgiu nos meus lábios quando passei a mão pelo lenço azul enrolado no meu joelho, mas logo foi embora quando me lembrei da tela trincada do meu celular.
Fiquei torcendo para o celular funcionar ainda, já que não sabia de outro meio para falar com minha mãe.
Nem percebi que já estava na porta de casa quando o taxista me chamou. Só estava conseguindo pensar em como iria falar com minha mãe depois.
Com o vestido ainda sujo de capuccino, consegui descer do carro com um pouco de dificuldade. Se eu soubesse que a minha alegria iria durar tão pouco teria aproveitado bem mais o tempo quando estava na cafeteria. Perguntei o motorista o valor da corrida, mas o mesmo me disse que já estava pago, o jovem desconhecido que tirou minha alegria tinha acertado tudo com ele.
Com um sorriso e um simples aceno de mão me despedi do taxista e me forcei a caminhar até o portão. Ainda com o pé dolorido e o joelho machucado me esforcei para descer as escadas.
Eu ainda iria me familiarizar a descer e subir aquelas escadas. E me acostumar a andar naquela rua também e com o silêncio que formara ali.
Entrei no porão da família da Kim e me joguei no sofá. Estiquei minha perna para ver o ferimento e lembrei que estava com um lenço azul preso no meu joelho. Soltei o nó que o prendia e comecei a pensar no que fazer.
Meu celular não estava ligando. E a cada tentativa de liga-lo mais desesperada eu ficava.
Como iria fazer para conversar com minha mãe?
Minha solução momentânea foi chorar. Não tinha o que fazer. E tudo por culpa daquele garoto estúpido.
Coloquei o lenço em um lugar improvisado para lavar e caminhei em direção ao banheiro. Mesmo temendo a dor para lavar meu joelho, lutei contra o medo e tomei um banho morno. Após me vestir me acomodei novamente no sofá.
O que me restava era arrumar minhas bagagens; ou metade delas.
Levantei-me e comecei a tirar minhas roupas de uma das malas. Porém, fui impedida de prosseguir ao ouvir o toque da campainha. Subi devagar os degraus da escada me apoiando no corrimão. Destravei a fechadura do portão e o abri.
— Você? — Uma das minhas sobrancelhas se ergueu e uma marca se formou no meio da minha testa.
— Vim pessoalmente para você me agradecer.
Revirei os olhos.
O garoto desconhecido de cabelo castanho e olhos azuis — que tinha feito meu celular quebrar, meus bolinhos caírem no chão e virarem farelos, meu capuccino ido para o chão também, e um ferimento no meu joelho, e a dor no meu pé —, estava parado na minha frente, com uma sacola grande segura em uma das mãos, enquanto a outra estava enterrada no bolso da sua calça jeans.
— Arrogante. — Cruzei os braços sobre meus peitos – Mini-peitos.
— Vou considerar isso um agradecimento especial. — Sorriu.
— O que está fazendo aqui? Ou melhor, como soube onde eu morava?— Troquei o peso do meu corpo para a perna esquerda por causa do meu joelho ferido, e continuei com os braços cruzados.
— Isso não foi difícil. Eu liguei novamente para o táxi que a trouxe e pedi seu endereço... — Deu de ombro. — Mas… vim aqui para me desculpar por estragar seus bolinhos e ter derramado seu capuccino.
— E quebrado meu celular! — Acrescentei.
— Mesmo que tenha sido por uma razão de importância e lógica, diferente de você, que não presta atenção no que faz, eu peço desculpa por tudo isso. Trouxe nova comida para você. — O moço me estendeu a sacola que estava em suas mãos.
Olhei o conteúdo de dentro da sacola e o aroma delicioso me fez não recusar.
— E se tiver veneno dentro?
O jovem gargalhou.
— Não vai ter veneno, pode confiar.
— Ahn… obrigada — agradeci um pouco; somente um pouco constrangida.
— Tenha um bom apetite. — Com um sorriso tímido formado nos lábios, ele se afastou e caminhou até um carro vermelho estacionado perto da casa vizinha.
— Obrigada novamente. — Murmurei baixo demais.
Voltei para dentro do porão. Com a fome que estava seria difícil recusar aquela marmita.
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