13
Do outro lado, e quase em paralelo com David, estava Lian, observando Kevin, brincar com o cachorro no gramado.
Ele se concentrava naquele pequeno garoto que agora aparenta estar mais forte e saudável desde a última vez que o vira. Ele pensava em como uma criança tão pequena pôde ser submetida a tamanha crueldade. Ele se esforçava, mas não conseguia aceitar o que a mãe fora capaz de fazer.
Era bom ver que ele não estava mais correndo perigo, e que está vivendo numa casa grande e não minúscula, e com certeza pelo seu tipo físico tem se alimentado bem, e isso trazia um fio de esperança para Lian.
Mas ao observar cada vez mais Kevin, ele percebeu que o cachorro não interagia muito bem as investidas do garoto, o que era estranho. Em toda sua vida, ele nunca tinha visto um cachorro rejeitar as brincadeiras de uma criança.
Kevin ficou parado, enquanto rex latia na direção dele, que parecia analisar o animal, mas não se importava com agressividade dele. Kevin não aparentava nenhuma reação de medo, nem raiva, o que seria comum para idade dele, mas também não mostrava admiração, suas emoções eram indecifráveis naquele momento para Lian que estava acostumado a lidar com tipos de expressões duvidosas, a de Kevin parecia um difícil quebra cabeça.
Lian então fechou a janela e voltou para o quarto, até ouvir um rosnado feroz, o que o fez voltar imediatamente para onde estava.
E viu que Kevin estava caído no chão enquanto o cachorro estava ressentido do lado dele, uivando.
Ele correu e foi o primeiro a chegar perto do garoto que estranhou a sua aproximação, chamando a atenção de David e Sarah, que estavam na cozinha.
—– Você está bem, se machucou? — Ele perguntou, enquanto buscava indícios de ferimentos no garoto.
—– Ei, o que está fazendo, sai de perto dele — David avançou na direção de Lian, empurrando-o para trás.
—– Calma, não é o que você está pensando, eu ouvi o cachorro, pensei que ele tinha mordido o garoto — Lian explicou com as mãos estendidas
Lian olhou para o cachorro, e estranhou o fato dele estar calmo na presença dele. Se a poucos minutos ele estava latindo uma criança.
Por que não latiu para ele, já que era um desconhecido.
—– Isso é verdade, Kevin? — Saran interrogou o garoto.
Kevin olhou pra Lian e assentiu.
Sarah olhou retraída para o jovem policial.
—– Não conhecemos você, é daqui mesmo da vizinhança? — David perguntou desconfiado ao notar a troca de olhares entre a esposa e o policial
—– Não, realmente não nos conhecemos, eu acabei de me mudar, moro — Lian girou o corpo na direção da sua nova residência — Aqui em frente.
—– Entendi
—– Desculpe a minha intromissão, eu realmente pensei que o garoto estava em perigo.
—– Me desculpe também pela minha indelicadeza, não escutamos o cachorro, eles sempre costumam brincar juntos, nunca aconteceu algo assim antes — David disse suavizando suas expressões.
—– Ele deve ter pulado em cima do Kevin, e o derrubado, Rex tem dessas manias — Sarah comentou, se divertindo com a situação fazendo carinho na cabeça do cachorro, que parecia bem manso por sinal.
—– Bom, ele não teria rosnado, se fosse apenas uma brincadeira — Lian desconfiou.
—– Acho que você deve ter escutado errado, Rex é manso, ele tem estranhado a chegada de Kevin, mas ele vai se acostumar — Sarah retrucou.
—– Chegada? — Lian fingiu curiosidade
—– Sim, Kevin é o nosso filho...
David começou, mas Sarah o interrompeu.
—– Que estava passando um tempo com a avó.
David a fuzilou com o olhar. Mas ela manteve a sua postura diante do policial que parecia intrigado.
Todo mundo sabia sobre as tentativas fracassadas de Sarah para tentar engravidar, então como eles tinham passado um tempo fora de casa, queriam que as pessoas pensassem que Kevin era mesmo um milagre que aconteceu durante as férias.
—– É sim, a gente também, porém Rex teve que ficar aqui, porque a mãe dela não gosta de cachorro, pagamos uma cuidadora para cuidar dele — O marido acrescentou para fortalecer a mentira contada pela mulher
Lian, apesar de saber de tudo, achou aquela explicação a pior de todas, considerando que Kevin era bem mais velho que o tempo que os dois provavelmente ficaram fora, porém ele decidiu não se meter.
—– Ok, acho melhor eu voltar para casa então, já que está tudo sob controle.
Lian estendeu a mão para David que demorou um pouco para aperta-la,e forçar um sorriso.
Enquanto atravessava a rua, Lian pensava em quão estranha tinha sido aquela situação. Começando pelo fato dos pais não terem ouvido o rosnado do cachorro estando tão perto, e ele do outro lado da rua foi capaz de ouvir de forma tão aguçada, e ele também achou um absurdo, eles não assumirem que eram os pais adotivos do garoto.
Por que mentiram sobre isso?
Ele voltou para a janela e percebeu que o casal discutia, e David parecia ter um controle maior sobre a mulher, já que ela revidava de maneira contida as investidas do marido.
Ele analisou Kevin e viu que aquela situação não o chateava, ele parecia gostar de ver os pais brigando por causa dele. O que para Lian era muito duvidoso.
Kevin era estranho, mas não tanto quanto aqueles dois que se julgavam pais dele.
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