Who's that the Boy?
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Lute! Reacenda a luz que se apagou!
— Dylan Thomas.
— E agora, para onde a gente vai? — perguntei, com as duas mãos agarradas no sinto de segurança.
Após embicar na Pico Boulevard, o Bugatti irrompeu a toda velocidade na Pacifc Coast Highway.
Instalando no assento do piloto se achando o próprio Ayrton Senna, Tommo lançara mão de uma pilotagem agressiva: freadas e acelerações bruscas, curvas como o motor a giro máximo.
— Este carro é um foguete! — limitou-se a responder.
Com a cabeça grudada no encosto, eu tinha a impressão de estar em um avião no momento da decolagem. Observei-o passando as marchas com uma destreza pouco comum. Era evidente que ele fazia aquilo com grande prazer.
— É um pouco barulhento, você não acha?
— Barulhento? É uma piada ou o quê? Esse motor toca Mozart!
Minha observação não teve efeito nenhum sobre Tommo. Já um pouco nervoso, repeti:
— E então, para onde a gente vai?
— Para o México.
— O quê?
— Arrumei uma mala e um nécessaire para você.
— Mas que ideia é essa? Eu não vou a lugar nenhum!
Contrariado com os rumos daquela conversa, pedi a ele que me deixasse num médico para cuidar do meu tornozelo, mas ele ignorou meu pedido.
— Pare — ordenei, agarrando-lhe o braço.
— Você está me machucando!
— Patê essa lata-velha agora!
Ele freou bruscamente, batendo levemente no meio-fio. O Bugatti deu uma pequena derrapada antes de parar completamente em meio a uma nuvem de poeira.
-x- -x-
— Que história é essa de México?
— Estou te levando para onde você não tem coragem de ir!
— Ah, é? E posso saber a que você está se referindo?
Para encobrir o barulho do trânsito, eu era obrigado a gritar, o que me provocava uma dor ainda mais aguda nas vértebras.
— Encontrar a Aurore! — ele berrou, no momento em que uma careta roçava no Bugatti soltando uma buzina ensurdecedora.
Olhei para ele completamente bobo.
— Não vejo o que a Aurore tem a ver com esta conversa.
O ar estava engordurado e poluído. Para além das cercas de arame, distinguíamos ao longe as pistas e a torre de controle do Aeroporto Internacional de Los Angeles.
Tommo abriu o porta-malas e me estendeu um exemplar da revista People. Na capa, vários indivíduos dividiam o espaço: ameaça de rompimento entre Brangelina, excentricidades de Pete Doherty, fotografias feitas no México do campeão de Fórmula 1 Zayn Malik com sua nova namorada... Aurore Velancourt.
Como para me maltratar, abri a revista nas páginas indicadas e descobri fotos glamorosas tiradas em um local paradisíaco. Entre rochedos escarpados, areia branca e água turquesa, Aurore irradiava beleza e serenidade nos braços do seu hidalgo.
Minha vista embaçou. Paralisado, tentei ler a matéria, mas não consegui. As frase apenas se imprimiam dolorosamente em meu espírito.
Aurore: “Nosso relacionamento é recente, mas sei que o Zayn é o homem da minha vida”.
Zayn: “Nossa felicidade será completa quando Aurore me der um filho”.
Num movimento de repulsa, joguei fora aquele pasquim. Em seguida, apesar de minha habilitação cassada, me instalei no volante, fechei a porta e dei meia-volta para retornar à cidade.
— Ei! Você não vai me largar no meio da estrada, vai?
Deixei que ele entrasse apenas para constatar que ele não estava nem um pouco a fim de me dar uma trégua.
— Eu entendo seu sofrimento... — ele começou.
— Não precisa ter pena, você não entende absolutamente nada.
Enquanto dirigia, tentava colocar as ideias no lugar. Precisava refletir sobre tudo o que acontecera desde manhã. Precisava...
— E pra onde você pretende ir desse jeito?
— Para a minha casa.
— Mas você não tem mais casa! E, a propósito, eu também não, também não tenho mais casa.
— Vou procurar um advogado — resmunguei. — Vou dar um jeito de recuperar a casa e todo o dinheiro que o Liam me fez perder.
— Isso não vai dar certo — ele me cortou, balançando a cabeça.
— Cale a boca! E cuide da sua vida!
— Mas isso também é a minha vida! Eu estou encurralado aqui, e a culpa é sua e dessa porra de livro mal impresso!
No sinal vermelho, vasculhei o bolso e encontrei aliviado o tubo de ansiolíticos. Eu estava com uma vértebra fraturada, o tornozelo em chamas e o coração destruído. Foi então que, sem culpa nenhuma, deixei três comprimidos derreterem debaixo da língua.
— Assim é tão mais fácil... — lançou Tommo, num tom de voz que era um misto de crítica e decepção.
Naquele instante preciso, senti vontade de esganá-lo, mas respirei bem fundo e mantive a calma.
— Não é cruzando os braços e se entupindo de remédios que você vai reconquistar sua namorada.
— Você não sabe de nada sobre o meu relacionamento com a Aurore. E, para seu governo, eu já fiz de tudo para reconquistá-la.
— Talvez tenha metido os pés pelas mãos, ou não fosse o momento certo. Talvez julgue conhecer as mulheres, quando na verdade é um amador. Mas acho que posso ajudar...
— Se quer realmente me ajudar, me dê um minuto de silêncio. Apenas um!
— Quer se livrar de mim? Ótimo, basta voltar a escrever. Quanto mais depressa tiver terminado seu romance, mais depressa retornarei ao mundo da ficção!
Satisfeito com seu argumento, cruzou os braços e esperou por uma reação que não veio.
— Escute — ele disse, se animando —, proponho um trato: vamos para o México, eu te ajudo a reconquistar a Aurore e, em troca, você escreve o terceiro volume da trilogia, porque esse é o único jeito de me mandar de volta para o lugar de onde eu vim.
Massageei as pálpebras, devastado diante daquela proposta mirabolante.
— Eu trouxe seu laptop, está no porta-malas — ele esclareceu, como se aquele detalhe pudesse mudar alguma coisa na minha decisão.
— Não é assim que funciona — expliquei — Ninguém escreve um romance por decreto. É uma espécie de alquimia. E depois eu teria que me matar de trabalhar durante seis meses para terminar um livro. É um trabalho beneditino, para o qual não tenho força nem vontade.
Ele zombou de mim, me imitando:
— Ninguém escreve um romance por dentro. É uma espécie de alquimia...
Ele deixou que alguns segundos se passassem e então explodiu:
— Caramba, você tem que parar de se deliciar com seu sofrimento! Se não puder um fim nisso, vai terminar batendo as botas. Você acha mais fácil se destruir em fogo brando do que se questionar, é isso?
Touché.
Não respondi, mas entendi seu argumento. Ele não estava totalmente errado. Aliás, um pouco antes, no consultório de psiquiatria, alguma coisa dentro de mim havia se desbloqueado quando atirei a estátua para quebrar o vidro, uma vontade de retomar às rédeas da minha vida. Mas era preciso constatar que aquela veleidade murcharam tão rapidamente quanto brotara.
Agora eu sentia que Tommo estava exaltado, disposto a me jogar algumas verdades na cara:
— Se você não travar uma luta contra si mesmo, sabe o que vai acontecer?
— Não, mas conto com você para me dizer.
— Você vai afundar cada vez mais nos remédios e nas drogas. Vai descer um por um um os degraus da decadência e do autodesprezo. E, como não é mais um ricaço, vai acabar na sarjeta, onde numa bela manhã será encontrado mortinho da silva com uma seringa enfiada no braço.
— Muito gentil...
— Você também precisa saber que, se não reagir agora, nunca mais vai ter energia para escrever uma única linha sequer...
Com as duas mãos no volante, fixei a estrada com o ar ausente. Claro que ele tinha razão, mas sem dúvida era tarde demais para reagir. Resignaram-me a me anular para sempre, subjugando-me a tudo que havia de mais destrutivo em mim.
Ele me lançou um olhar severo.
— E todos aqueles belos valores que você exalta em seus livros: a oposição à infelicidade, a segunda chance, os recursos que temos de mobilizar para dar a volta por cima depois de um duro golpe... Escrever é fácil, mas na prática é difícil, não é?
De repente sua voz ficou embargada, como se vencida pelo excesso de emoção, cansaço e medo.
— E eu? Você está pouco se lixando para mim! Perdi tudo nessa história. Não tenho mais família, não tenho mais trabalho, não tenho mais casa, e a única pessoa que poderia me ajudar prefere ter pena de si mesma.
Surpreso com toda aquela melancolia, virei o rosto e fitei-o, um pouco envergonhado, sem saber bem o que responder. Seu rosto estava enaltecido pela luz e purpurina brilhava em seus olhos. Então dei uma espiada no retrovisor e uma acelerada vertiginosa que me permitiu ultrapassar uma longa fila de carros antes de dar meia-volta mais uma vez e apontar para o sul.
— Para onde vamos? — ele me perguntou, enxugando uma lágrima perdida.
— Para o México — eu disse —, para recuperar a minha vida e mudar a sua.
Notas finais
Desculpem os erros :-/
O que estão achando da história?
Ansiosos para mais momentos?
Espero que estejam Amando como amei o livro que li
Todo amor, A.
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