La Cucaracha
Música pra entrar no clima
Achei essa (͡° ͜ʖ ͡°)
O foco é a música pra se sentirem na cena 乂❤‿❤乂
Depois podem dar pausa e bem, vocês quem sabem!!!
Boa Leitura!
———— T H E • P A P E R • B O Y ———
O amor é como mercúrio na mão. Mantenha-a aberta e ele permanecerá em sua palma; feche-a e ele lhe escapará por entre os dedos.
— Dorothy Parker
RESTAURANTE LA HIJA DE LA LUNA
NOVE HORAS DA NOITE
Agarrando ao penhasco, o luxuoso restaurante dava ao mesmo tempo para a piscina e para o mar de Cortés. À noite, a paisagem era tão impressionante quanto de dia, ganhando em romantismo e mistério e perdendo em profundidade. Lampiões de cobre pendiam ao longo das treliças,e lanternas coloridas aureolavam as mesas com uma luz intima.
Em uma das calças justas preta, com uma blusa branca que usava e uma jaqueta jeans verdes, jogando a franja no rosto, Tommo me precedeu na antessala do estabelecimento. Uma simpática recepcionista nos conduziu até a mesa onde Liam já nos esperava. Visivelmente bêbado, ele foi incapaz de me explicar as razões da ausência de Niall.
Algumas mesas adiante, instalados no meio do terraço como uma joia no veludo, Aurore e Zayn Malik exibiam seu amor recente.
O jantar foi melancólico. Até Tommo, geralmente animado, parecia ter perdido o entusiasmo. Visivelmente cansado, estava pálido e desfigurado. Um pouco mais cedo, eu o encontrara em nosso quarto, enroscado na cama, onde passara a tarde toda. “Um mal-estar por causa da viagem”, ele arriscou. De qualquer forma, não foi fácil tirá-lo debaixo das cobertas.
— O que aconteceu com o Niall? — ele perguntou a Liam.
Meu amigo tinha os olhos injetados de sangue e o rosto derrotado de quem está prestes a desabar sobre a mesa. Enquanto gaguejava algumas palavras como explicação, uma voz de tenor rompeu a palidez do restaurante.
La cucaracha, la cucaracha
Ya no puede caminar
Um grupo de mariachis acabava de chegar à nossa mesa para uma serenata. A orquestra era poderosa: dois violinos, dois trompetes, um violão, um guitarrón e uma vihuela.
Porque no tiene, porque le falta
Marijuana que fumar
Os trajes da banda eram um espetáculo à parte: calça comprida preta com costuras bordadas, paletó curto com a lapela enfeitada com botões prateados, gravata com nó elegante, cinto com fivela em forma de águia, botas exageradas. Sem esquecer o sombrero de abas largas do tamanho de um disco voador.
À voz chorosa o cantor seguiu-se um coro que ruidosamente exprimia uma jovialidade um pouco forçada, que mais parecia um desabafo que alegria de viver.
— Meio cafona, não?
— Você está brincando! — exclamou Tommo. — Eles tem muita classe.
Olhei para ele com cara de dúvida. Era visível que não tínhamos a mesma definição de classe.
— Cavalheiros, aprendam! — ele disse, voltando-se para Liam e para mim. — Eis a expressão profunda da virilidade.
O cantor alisou o bigode e, se sentindo admirado, emendou um novo número, acompanhado de ensaiados passos de dança.
Para bailar la bamba,
Se necessita una poca de gracia
Una poca de gracia pa mi pa ti
Arriba y arriba
O concerto adentrou a noite. Passando de mesa em mesa, os mariachis desdobravam seu repertório de canções populares que falavam do amor, da coragem, da beleza das mulheres e das paisagens áridas. Um espetáculo medíocre e tedioso para mim; a encarnação da alma orgulhosa de um povo para Tommo.
Quando a apresentação se aproxima do fim, pudemos ouvir um burburinho distante. Num mesmo movimento, todos os clientes voltaram os olhos para o mar. Um ponto luminosos surgiu no horizonte. O zumbido se tornou cada vez mais abafado, e a silhueta de um velho hidroavião destacou-se no céu. Mantendo baixa altitude, o pássaro de ferro sobrevoou o restaurante e despejou uma chuva de rosas multicoloridas caíam do céu, terminando por cobrir totalmente o piso reluzente do restaurante. Aplausos de entusiasmos saudaram aquele inesperado aguaceiro floral. Em seguida, o hidroavião ressurgiu sobre nossas cabeças antes de se lançar uma coreografia caótica. Rastros fosforescentes desenharam no céu um improvável coração de fumaça, que rapidamente se dissolveu na noite mexicana. Um novo burburinho percorreu as mesas quando todas as luzes se apagaram e o maítre avançou até a mesa de Aurore e Zayn Malik carregando um anel de diamante sobre uma bandeja de prata. Zayn então se ajoelhou para fazer seu pedido de casamento, enquanto o garçom se manteve recuado, pronto para estourar o champanhe em celebração ao “sim” de Aurore. Estava tudo perfeito, milimetricamente organizado, para quem aprecia o romantismo sentimentaloide e os momentos pré-fabricados vendidos por catálogo.
Mas não era justamente tudo isso que a Aurore detestava?
* * *
Eu estava um pouco distante para ouvir sua resposta, mas suficientemente perto para ler seus lábios.
— S-i-n-t-o m-u-i-t-o... — Ela murmurou, sem que eu pudesse ter a certeza se as palavras se dirigiam a ela mesma, ao público ou a Zayn Malik.
Por que os caras não pensam um pouco antes de fazer esse tipo de pedido?
Um silêncio opressivo se instalou, como se todos ali estivessem constrangidos por aquele semideus banido, que naquele momento não passava de um pobre coitado ajoelhado no chão, imóvel como uma estátua de sal, paralisado na vergonha e na estupidez. Eu havia passado por isso antes, e naquela instante preciso sentia mais pena dele do que júbilo de vingança.
Enfim, isso foi antes de ele se levantar e atravessar o salão com uma espécie de majestade ferida e, me pegando completamente desprevenido, me acertar um de direita estilo Mike Tyson.
...
— Quer dizer que o pilantra foi até o senhor e lhe deu um soco no meio da cara. — resumiu o dr. Mortimer Philipson.
CLÍNICA DO HOTEL
QUARENTA E CINCO MINUTOS DEPOIS
— Foi mais ou menos isso — assenti, enquanto ele limpava o ferimento.
— O senhor teve sorte. Sangrou bastante, mas o nariz não quebrou.
— Já é alguma coisa.
— Em compensação, seu rosto está inchado como se tivesse levado uma surda. Brigou recentemente?
— Tive uma discussão em um bar com um tal de Ian e seus comparsas — respondi vagamente.
— E está com a vértebra quebrada, além de um entorse feio no tornozelo, que está uma bola. Vou passar uma pomada, mas terá de voltar aqui amanhã de manhã para eu fazer um curativo com compressa. Como foi que arranjou isso?
— Caí sobre um teto de um carro — respondi com a maior naturalidade do mundo.
— Hum... o senhor vive perigosamente.
— De uns dias pra cá, podemos dizer que sim.
O centro clínico do hotel não era um simples pronto-socorro, mas um complexo moderno com instalação high-tech.
— Cuidamos das maiores estrelas do planeta — disse o médico, depois que lhe fiz essa observação.
Mortimer Philipson estava perto da sua aposentadoria. A silhueta longilínea tipicamente inglesa contrastava seu rosto bronzeado, os traços rudes e os olhos claros e risonhos. Era um Peter O'Toole atuando em uma versão sênior de Lawrence da Arábia.
Terminou de massagear meu tornozelo e pediu a uma enfermeira que me trouxesse um par de muletas.
— Não coloque o pé no chão por alguns dias — recomendou, entregando-me seu cartão com minha consulta do dia seguinte anotada.
Agradeci pelos cuidados e, com a ajuda das muletas, arrastei-me com dificuldade até a minha suíte.
* * *
O quarto estava imerso em uma luz suave. No centro, um fogo claro creptava na lareira, projetando seu halo nas paredes e no teto. Procurei Tommo, mas ele não estava na sala nem no banheiro. O refrão abafado de uma canção de Nina Simone chegou a meus ouvidos.
Abri as cortinas que davam para o terraço e descobri o garoto, de olhos fechados, tomando um banho de lua na jacuzzi transbordante. Todo em linhas e curvas, a banheira era revestida de azulejos. Para abastecê-la, um grande bico de cisne despejava continuamente um filete de água, sobre o qual uma iluminação programada fazia desfilar toda a cartela de cores do arco-íris.
— Quer entrar? — ele me provocou, sem abrir os olhos.
Aproximei-me da jacuzzi. Estava cercado por uma vitrine de velas, que formavam uma barreira de cintilâncias. A superfície da água brilhava como champanhe, e dava para discernir pela transparência as bolhas douradas que subiam à superfície.
Larguei as muletas, desabotoei a camisa e tirei o jeans antes de entrar na água. Distribuídos pelo tanque, cerca de trinta jatos produziam uma massagem mais revigorante que relaxante, enquanto nos quatro cantos alto-falantes à prova d'água espalhavam uma música envolvente. Tommo abriu os olhos e estendeu a mão para passar os dedos no esparadrapo com o qual Philipson acabara de cobrir o meu nariz. Iluminando por baixo, seu rosto parecia diáfano e seus cabelos davam a impressão se ter embranquecido.
— O guerreiro precisa de repouso? — ele brincou, acercando-se de mim.
Tentei resistir à investida.
— Não creio que seja útil repetir o episódio do beijo.
— Ouse dizer que não gostou.
— A questão não é essa.
— Mas funcionou. Poucas horas depois, sua querida Aurore rompia escandalosamente o noivado.
— Talvez, mas Aurore não está conosco nessa jacuzzi.
— Como você sabe? — ele perguntou, se lançando em meus braços. — Todos os quartos deste hotel têm uma luneta no terraço e todo mundo espiona todo mundo. Não percebeu?
Agora seu rosto estava a poucos centímetros do meu. Seus olhos estavam azulados, os poros da sua pele haviam se dilatado sob efeito do vapor, e gotas de suor brotavam de sua testa.
— Talvez ela esteja nos vendo neste momento — ele continuou — Não me diga que isso não o deixa um pouco excitado...
Eu detestava aquele jogo. Não tinha nada a ver comigo. Apesar disso, arrebatado pela recordação do nosso beijo, eu ia cedendo e colocando uma mão em seu quadril e a outra no seu pescoço.
Ele colou suavemente os lábios nos meus e minha língua buscou a dele. Mais uma vez, a mago funcionou, mas durou apenas alguns poucos segundos, até que um gosto forte e amargo me obrigasse a interromper aquele beijo.
Senti uma coisa ácida, desagradável e viscosa na boca e recuei bruscamente. Tommo parecia atônico. Foi então que notei seus lábios escuros e sua língua arroxeada. Seus olhos haviam se animado, mas a pele estava cada vez mais pálida. Ele tremia, batia dentes e mordia o lábio. Preocupado, sai da jacuzzi, o ajudei a sai dali e o massageei com a toalha. Eu sentia que suas pernas vacilavam, que estava prestes a desmoronar. Agitado por um violento acesso a tosse, ele me repeliu para se debruçar, tomado por uma vontade súbita de vomitar. Com dor, regurgitou uma massa grossa e viscosa antes de desabar no chão.
[N/A: O nosso Tommo ficará assim até determinado capitulo, gravem ele assim ;-)]
Mas o que eu vi ali não era vômito.
Era tinta.
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