- 𝒄𝒉𝒂𝒑𝒕𝒆𝒓 53
── Me de seu celular. ── A voz rouca e ameaçadora de um dos homens mascarados ecoou pela escuridão. Eu senti um calafrio percorrer a minha espinha, reconhecendo aquela voz de algum lugar, mas sem conseguir lembrar de quem era.
Um dos homens surgiu das sombras, iluminado apenas pela luz fraca que entrava por uma janela alta e estreita. Ele se aproximou de mim, e começou a gritar no meu ouvido, exigindo que eu lhe entregasse o meu celular. Mas que droga, nem na véspera de Natal eu podia ter um pouco de paz.
── Não trouxe. ── Eu respondi com frieza, encarando o homem com desafio.
── Até parece. ── Ele riu sarcasticamente, se agachando na minha frente e agarrando o meu rosto com força.
── FALA LOGO ONDE ESTÁ O SEU CELULAR PARA VOCÊ SAIR LOGO DAQUI! ── Ele berrou, perdendo a paciência.
── Do lado direito do bolso da minha calça. ── Eu disse, sem vontade de prolongar aquela tortura.
O homem enfiou a mão no meu bolso e arrancou o celular, mas logo viu que ele estava bloqueado por uma senha. Ele logo me pediu para dizer a senha.
── Qual é a senha? ── Ele perguntou, me mostrando o celular.
── Eu não falo a senha para estranhos, me solta que eu desbloqueio. ── Eu falei, tentando me livrar do seu aperto.
── Problema é seu, quando você sair daqui é só trocar. ── Ele disse, ignorando o meu pedido.
── E como eu posso confiar que vocês vão me libertar depois? E mais, a senha é o meu CPF, eu não posso simplesmente dizer para vocês, certo? ── Eu disse e o homem rosnou.
── Que saco, solta logo esse infeliz, mas se você tentar escapar, eu vou atrás do seu irmãozinho!
Merda, isso era chantagem, ele sabia que o meu ponto fraco era o Bill, se algo acontecesse com ele, ainda mais por minha culpa, eu nunca me perdoaria, eu preferia morrer!
── Eu não vou escapar, mas vocês podiam pelo menos soltar o meu pé também, né? ── Eu pedi e o homem riu.
── Aí você está pedindo demais. ── Ele falou e a outra pessoa que estava com ele se aproximou por trás de mim e se abaixou para soltar a corda.
Eu pude sentir o perfume da pessoa, não era perfume de homem, mas de mulher, até o corpo, também era de uma mulher.
Minhas mãos foram soltas e eu peguei o celular para desbloqueá-lo, até pensei em jogar o celular na cara do homem que estava na minha frente, mas sem chance, como o outro estava atrás de mim, não ia funcionar e sim piorar as coisas.
Desbloquei o celular e entreguei para o homem que sumiu na escuridão, o outro atrás de mim amarrou a corda de novo, mas percebi que estava bem solta. Podia ser de propósito, ou não, mas dessa vez foi.
── Não há ninguém vigiando, tirando você, só estamos nós dois aqui. Essa chave abre a porta que leva para a rua, você não está tão longe de casa. Boa sorte. ── A voz feminina e suave sussurrou no meu ouvido, depositando uma chave no meu bolso. Depois, ela desapareceu na escuridão. Eu fiquei confuso, sem saber o motivo daquilo. Seria ela uma fã? Mas que fã sequestraria seu ídolo? Pensando bem, muitos.
── Quero dez mil reais. ── Ouvi a voz do homem, provavelmente falando com algum conhecido meu, provavelmente, Bill.
── Ei, ei! ── Tentei chamar a atenção da mulher com o olhar, pedindo para ela soltar as cordas dos meus pés.
Ela captou o meu pedido e rapidamente desatou os nós, antes que o homem voltasse com a ligação terminada.
── Pronto, está tudo acertado. Vamos encontrar com ele. ── O homem disse, olhando para a mulher.
── E ele? ── Ela perguntou, apontando para mim.
── Ele vai ficar aí, eu disse que em troca do dinheiro eu devolvia ele, mas não disse se seria vivo ou morto. ── Ele riu, trazendo um galão que parecia conter gasolina e uma caixa de fósforos.
── Você vai matá-lo? ── A mulher perguntou, com uma voz de horror.
── Esse não era o plano? ── Ele gargalhou, derramando a gasolina no chão.
A mulher, então, pulou nas costas do homem, tentando distraí-lo, e gritou:
── CORRA, TOM, CORRA! ── Ela exclamou e eu me ergui prontamente, desvencilhando-me da corda que prendia meu pulso e meus pés. Em seguida, na penumbra, tateei a parede em busca da porta e, ao encontrá-la, não precisei sacar a chave do bolso, pois já estava destrancada. Saí a toda velocidade e finalmente pude contemplar a luz do dia. Corri o mais rápido que pude, clamando por socorro, enquanto sentia um odor de queimado e o homem tentando entrar no carro. Retrocedi correndo e, assim que me aproximei do homem, atingi o seu rosto com um soco. Nós começamos a trocar golpes, enquanto eu ouvia a mulher gritar pelo meu nome e bater com toda a sua força na porta. O homem me derrubou e ficou sobre mim, com as duas mãos no meu pescoço. Eu tentava chutá-lo, mas era inútil. Ele estava com tanta fúria que usou toda a sua força. Eu berrava para ele me soltar, mas, como eu estava quase desfalecendo e vermelho de tanto ficar sem ar, fingi um desmaio, fazendo o homem me soltar e fugir de carro. Ao perceber que o homem tinha escapado, procurei as chaves no meu bolso, mas elas haviam desaparecido, ou talvez caído pelo chão. Levantei-me meio tonto e encontrei a chave, peguei-a e abri a porta, mas não escutava mais a voz da mulher. Agachei-me pelo chão para procurar o seu corpo e, assim que o senti, puxei-o para fora. Mesmo atordoado, coloquei-a no meu colo e sua cabeça ficou apoiada nos meus ombros. Era evidente que ela estava inconsciente. Tentei caminhar o mais longe possível da casa e, em seguida, não resisti quando senti a minha visão ficar turva e a sensação de que eu estava perdendo a minha consciência aos poucos. Caí no chão abraçado com a mulher e não vi mais nada.
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Após receber uma chamada anônima exigindo dez mil reais em troca do resgate de Tom, dirigi em alta velocidade rumo ao local combinado, com a polícia me seguindo de perto para capturar o sequestrador. Entrei em contato com Simone para saber como estavam as coisas no hospital e ela me informou que estava sozinha, pois Roger havia saído em busca de Tom logo depois de conversar com ela e Tatiane preferia ficar isolada. Aproveitei para enviar o endereço do ponto de encontro para Simone, que teve a ideia de avisar a Roger para procurar Tom nas proximidades, caso os sequestradores não cumprissem o acordo.
Ao chegarmos ao local, deparámo-nos com um cenário desolador: um campo de futebol em ruínas, onde deveríamos encontrar alguém, mas que estava completamente vazio. Tentei contactar o número de Tom, que havia telefonado, mas em vão, só dava sinal de caixa postal.
Os policiais emergiram dos seus esconderijos e resolvemos regressar, mas que frustração, onde estaria o meu irmão? Foi isso que eu exclamei em lágrimas.
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Enquanto dirigia o veículo, aproximando-me do endereço que Simone me fornecera, deparei-me com dois corpos estendidos no asfalto. Poderiam ser mendigos, mas a rua era desolada, cercada de casas em ruínas, e não me parecia provável que os pobres escolhessem justamente aquele lugar para se abrigar. Estacionei o carro e desci, caminhando cautelosamente em direção aos indivíduos prostrados.
Ao chegar mais perto, reconheci Tom e uma figura feminina que o abraçava.
── Que canalhice, simulando o próprio rapto para enganar minha filha, infame! ── Exclamei, desferindo um soco no rosto de Tom, que já apresentava escoriações.
Arrastei-o até o carro e o acomodei no banco traseiro. Em seguida, retornei ao local onde estava a outra pessoa e, ao remover a máscara que lhe cobria o rosto, pude identificá-la claramente. Sorri e, em seguida, liguei anonimamente para a emergência, informando que a moça se encontrava ali, e depois voltei para o carro, para conduzir Tom ao mesmo hospital onde Tatiane se encontrava.
Dirigia apressadamente, levando Tom ao hospital, quando avistei uma casa em ruínas, que nem deveria ser chamada assim, sendo devorada pelas labaredas. Um arrepio percorreu minha espinha, mas não me detive. Não podia me dar ao luxo de me preocupar com aquilo. A vida de Tom dependia de mim.
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Gustav e eu entramos na loja onde Tom foi visto pela última vez. Falamos com a vendedora, mas sem sucesso. Ela disse que viu nas notícias sobre o desaparecimento de Tom e que ele não retornou à loja dela. Agradecemos a informação e voltamos para o carro entristecidos. Onde está Tom?
─ Vamos para o hospital, vai que obtiveram novas informações lá? ─ Gustav sugeriu.
─ Pode ser. E a Tatiane precisa da gente também! ─ Falei e seguimos para o hospital.
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