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Inocente



– Antônia! Antônia! – Uma mão de criança apertava o ombro da jovem drogada. – A Natane sumiu!

– Sai daqui, garota! – Antônia bradou irritada, empurrando a pequena para longe com força. – Ela deve estar por aí fumando um ou brincando com o açúcar mágico.

– Toni! – A menina de nove anos esbravejou. – Você me machucou, sua bruxa! Caí de bunda no chão, viu? Eu sei que a Natane não usa açúcar mágico droga nenhuma, ela cheira pó!

– Quem te falou isso? – Antônia despertou de um salto quando percebeu o que sua irmã caçula estava falando. – Quem te disse essas coisas, Gigi?

– Eu não sou burra, sei que vocês fazem de tudo para conseguir cigarros e pó. – Gigi dobrou os joelhos e sentou-se direito no chão. – Não sou um bebê, também sei o que aqueles homens fazem com vocês duas naquele quarto dos fundos.

Aquilo era tudo que Antônia não precisava! Sua irmã caçula e única responsabilidade na vida sabia que ela fazia programa e se drogava o tempo todo. E agora tinha que descobrir onde a idiota da Natane havia se metido, se estivesse em apuros outra vez, Antônia não se responsabilizaria.

– Toni...

– Cala essa boca só um pouco, Gigi. – A jovem pediu enquanto massageava a têmpora devagar, tentando afastar a névoa que ficava depois de estar completamente chapada. – Eu preciso de um plano agora para achar Natane.

– Nós não podemos morrer.

– Eu sei! – Antônia fechou os olhos e abriu repetidas vezes. – Ninguém aqui vai morrer. Para de falar besteira.

– Eu tentei morrer, Toni. – A menina falava com voz fina.

– Eu também! Fechei os olhos e tentei morrer, mas olha só, estou viva.

A mente de Antônia trabalhava freneticamente para tentar imaginar em que lugar a companheira de quarto estava, pois se Natane sumisse no mundo, deixaria Antônia e Gigi em péssima situação, já que deviam uma fortuna para um traficante, graças às loucuras de Natane.

– Merda! – Antônia gritou irritada. – Eu tô sangrando! O que eu fiz pra ficar assim? Quebrei algum copo?

O lençol em que a jovem estava deitada estava empapado de sangue, sua blusa e a coberta também estavam sujas se sangue, pegajosas. Antônia sentiu náuseas por causa do cheiro metálico e do excesso de vermelho vivo em seu corpo. Quando deu por si percebeu que Gigi a olhava com curiosidade, esperando sua reação.

– Você sabe o que aconteceu?

– Enfiei a faca de cortar carne em você, Toni. – A menina disse docemente. – Li na internet que muitas pessoas sumiram no mundo todo, sei que a Natane foi uma dessas pessoas, porque ela estava dormindo ali no chão, bêbada e drogada demais para dar o fora daqui sozinha.

– Você me furou com uma faca? – Antônia estava histérica.

– Eu te esfaqueei algumas vezes, era preciso. – Gigi mostrou a faca escondida dentro da gaveta do criado-mudo. – Na internet estão dizendo que não podemos morrer! Ninguém mais vai morrer Toni!

A mulher começou a tatear o próprio corpo sentindo diversas lacerações no peito, horríveis cortes profundos. Tentou gritar, mas não tinha voz. Estava horrorizada com o sangue frio da própria irmã. Estava deitada em uma enorme poça do próprio sangue por horas e ainda estava viva! Aquilo era insano demais, por isso ponderou se não estava tendo alguma alucinação.

– Eu também não posso morrer, olha só! – Gigi estava excitada com a novidade e esticou os pulsos na direção da irmã.

Antônia gritou ao ver os cortes imensos e ensanguentados nos pulsos de Gigi. A garota estava perdendo muito sangue e ela não tinha sequer notado. Era mesmo uma drogada irresponsável! Correu para o armário e pegou uma camiseta velha, rasgando-a e enrolando nos pulsos da menina que sorria tranquilamente.

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