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Capítulo 37

"Tenho medo de tudo que eu sou
Minha mente parece uma terra estrangeira
Silêncio ressoa dentro da minha cabeça
Por favor, me leve, me leve, me leve para casa." - Arcade, Duncan Laurence


Apesar de ter lidado com todo tipo de notícia, agradável ou não em sua vida, Dinesh se encontrava sem palavras. O seu olhar tornou-se distante por longos segundos e ele engoliu seco, sentindo um nó se formar em sua garganta. O seu coração batia de forma inquieta em seu peito enquanto respirar tornava-se uma tarefa cada vez mais difícil. Por outro lado, o advogado tentava manter a calma, comentando:

— Mas podemos fazer algo a respeito, senhor Yamir. Eu vou contratar os melhores detetives particulares da região para encontrar provas ao seu favor.

— Eu não me importo. Não quero que faça nada, senhor Homura.

— O senhor ficou maluco?! — exclama incrédulo. — A sua punição será pena de morte. Sabe o que isso significa?

— Acho que está longe de ser um SPA nas Maldivas, não é?

— Não é momento para brincadeiras, senhor Yamir. Nós não podemos ficar de braços cruzados em uma situação como essa. É o meu dever, como o seu advogado, te defender até o final do processo.

— E como o seu cliente, não quero defesa.

— Ora, por que não?

— Porque eu errei muito ao longo da minha vida e está na hora de pagar. Eu não posso continuar seguindo em frente sabendo do dano que causei à Sakura, mesmo ela tendo me perdoando. O problema é que eu não consigo me perdoar.

— O juiz te absolveu do estupro!

— Mas eu não estou me baseando na droga de uma lei, e sim no que eu acho correto! Eu estou cansado de ouvir todos os dias ofensas sobre isso, estou cansado de ser humilhado por causa desse erro. Por isso, a única forma de se livrar do meu carma é pagar com a minha vida.

Homura o encarou totalmente boquiaberto antes de afundar o rosto em ambas as mãos, deixando um longo suspiro de frustração escapar por seus lábios. Dinesh mantinha-se com o mesmo semblante calmo apesar da notícia chocante.

— O senhor enlouqueceu na cadeia, é isso. Se eu pedir para ser realocado para um hospital psiquiátrico, talvez...

— Se quiser me defender, tudo bem, mas não faça mais do que o necessário. Eu mereço esse final.

O advogado respirava fundo, limitando-se a apertar a mão do seu cliente e sair da sala antes de acabar brigando com ele. Por outro lado, o Yamir permanecia com o mesmo semblante calmo e se erguia para ser guiado em direção à sua cela.

Como o acordado, Dinesh foi realocado para outro presídio. Antes de sair da antiga cela, o indiano fez uma breve reverência em forma de agradecimento pelos meses de convivência com os detentos e depois deu uma piscada para o guarda, mostrando discretamente o dedo do meio. Ao ser transferido para outra penitenciária, o Yamir já sentiu a diferença no tratamento. Os funcionários locais o tratavam com indiferença mas, ao menos, não recebia nenhum olhar ou palavra hostil. Os seus colegas de cela eram mais comunicativos, o que causou certo alívio nele já que temia enlouquecer por guardar os pensamentos só para si.

Quando soube da decisão do filho em aceitar a pena de morte, Mahara entrou em desespero imediatamente. Ela tentou visitar Dinesh mas as regras do presídio eram rígidas, permitindo visitas apenas uma vez por semana. Como o julgamento dele seria em menos de duas semanas, Mahara só tinha uma chance de vê-lo antes da sentença ser decretada. Por isso, o clima na mansão Yamir ficou pesado, onde a ausência de Kiran contribuiu para intensificar aquela sensação. A namorada dele, Sakura Mitsuru, decidiu fornecer apoio à família naquele momento difícil.

— Vai ficar tudo bem. — dizia segurando as mãos da mulher com ternura. — A senhora contratou o melhor advogado do país para defende-lo.

Mahara suspirava pesadamente, procurando um pouco de conforto nas palavras da jovem. Maya estava no colégio e a mulher passou boa parte da manhã resolvendo algumas questões da empresa, mas precisou retornar para descansar depois de tamanha pressão psicológica. Youko a liberou compreendendo a situação por também ser uma mãe. Após chegar na mansão, preparou o almoço lembrando das dicas do Dinesh e depois ligou para a Sakura, sentindo a necessidade de ter alguém para conversar. A jovem chegou o mais rápido possível e as duas se dirigiram para a sala, sentando-se no sofá cor de marfim ao lado do piano do Kiran.

— Eu não sei. Eu estou com um péssimo pressentimento. As leis aqui são rígidas e o Dinesh está sendo acusado de...

Ela sentia um bolo se formar em sua garganta, estando incapaz de admitir em voz alta de que o próprio filho era o responsável por dois homicídios.

— O Dinesh não matou ninguém. — Sakura dizia firmemente, deixando-a surpresa. — Ele é uma boa pessoa e um bom filho. Com toda certeza, ele conhece o culpado mas está o protegendo por ser alguém importante em sua vida.

— Você acha...?

— Sim. Por isso, acredite na inocência do seu filho.

— Eu acredito. O meu Dinesh não seria capaz de matar alguém. Talvez machucar por causa da sua devoção pela empresa, mas matar? O Raj os ensinou a nunca irem para esse caminho.

Sakura sorria fraco, balançando a cabeça em concordância e vendo Mahara relaxar um pouco mais.

— Temos que confiar no senhor Homura e sua capacidade de defender qualquer tipo de caso.

— Verdade, eu não posso sofrer antecipadamente. Obrigada, Sakura. — agradecia dando um abraço apertado nela que era retribuído no mesmo instante. Ao se afastar, abria um leve sorriso a fitando com certa curiosidade. — Tem falado com o Kiran?

— Muito pouco, ele está cada vez mais ocupado. Quando eu e o Kiran conversamos, geralmente são por uma ou duas horas pela noite, mas ele sempre manda presentes pelo correio.

— Que fofo!

— Sim! Às vezes, fazemos vídeo chamada e ver o sorriso dele alegra o meu dia.

— Eu espero que vocês possam se reencontrar logo.

— Eu também... Eu sinto tanto a falta dele, mas sei que essa distância é por um bem maior.

Mahara apoiava a mão sobre a bochecha dela, acariciando a região com seu polegar.

— Eu desejo que os deuses abençoem o relacionamento de vocês.

— Obrigada, Mahara.

(...)

Kiran olhava os diversos papéis em cima da sua mesa, antes de puxar os cabelos com certa força. Os fios lisos e negros tocavam um pouco abaixo dos ombros, onde possuíam um brilho único. Por estar na sede da empresa, na Índia, estava apenas com a camisa social branca devido ao calor. O rapaz passava a mão entre os fios de seu cabelo, jogando-os para trás enquanto um longo suspiro escapava dos seus lábios. Os seus olhos procuravam desesperadamente por alguma ajuda, mas só podia encontrar a sua secretária o aguardando ansiosamente para a próxima ordem. Por outro lado, o mais novo escondia o rosto com ambas as mãos respirando fundo.

— O senhor está bem?

— Estou sim. Eu só me encontro um pouco perdido com as questões da empresa.

— As coisas estão indo bem, senhor Yamir. Graças às últimas reuniões, firmamos contrato com uma empresa de escavação muito importante na região.

— Mas ainda é assustador enfrentar todos aqueles empresários.

— O senhor irá conseguir, eu confio no seu potencial. — dizia abrindo um sorriso gentil, logo analisando o tablet em suas mãos. — A senhorita Khalikur já pode entrar?

Baguan Kelie! Eu esqueci totalmente da sua vinda. Por favor, mande-a entrar.

A secretária acenava a cabeça em concordância retirando-se do escritório em passos apressados. Poucos segundos depois, os sons do sapato alto preto ecoavam pelo ambiente fazendo-o erguer o olhar em direção à dona dos olhos castanhos mais intimidadores que conheceu. Ananya Khalikur caminhava calmamente até a mesa do diretor, mantendo o olhar intenso sobre o rapaz. Ela usava um terno cinza – junto com uma saia de mesma tonalidade – e justo por cima da camisa social branca. Os seus cabelos castanhos escuros estavam presos em um coque alto, sem deixar um fio sequer solto.

A empresária era conhecida na região por causa da sua rigidez, intimidação e temperamento difícil. Ela havia sido expulsa de casa muito jovem, por ter recusado um casamento arranjado. Os seus pais a rejeitaram e a expulsaram imediatamente. Por sorte, Ananya conseguiu apoio dos seus tios maternos e iniciou a faculdade de Administração com vinte anos. Alguns anos depois, abriu um pequeno negócio de venda e aluguel de máquinas para obras. Aos poucos, a sua empresa cresceu ao ponto de se tornar uma referência nacional.

—Já está se lamentando, pequeno Yamir? Eu esperava mais de você, o seu bhaya conseguia administrar a sede e todas as outras filiais sem problema algum.

— Eu não sou ele. — comenta em um tom ríspido. — E eu odeio ser comparado.

— Quando você é o presidente de uma empresa, acaba sendo comparado com o seu antecessor. Acostume-se, criança. — dizia apoiando ambas as mãos na mesa, sorrindo friamente expondo o piercing prata no canto da boca. Os seus olhos bem delimitados pela forte maquiagem escura o analisava com certo divertimento. — O Raj Yamir era um exemplo no mundo dos negócios e o Dinesh criou o seu próprio legado, e você? Vai viver na sombra deles por quanto tempo?

— Eu não pretendo viver na sombra de ninguém, mas também não quero ser alguém que eu não sou.

— Ele está indo bem. Então, pare de implicar tanto, Ana. — diz uma voz masculina a repreendendo.

A empresária desviava o olhar para o vice diretor da sede da Índia, Odara Jagannath, um senhor de quarenta anos, pele morena, cabelo preto e uma barba por fazer. Ela o fuzila com o olhar, porém o mais velho mantinha o semblante sereno. Ele era considerado o homem mais calmo daquela empresa e, por isso, havia ganhado o respeito de Raj por não sucumbir às brigas do ambiente de trabalho.

— Eu estava brincando. Não se preocupe, Odara.

A expressão de Ananya se suaviza e ela bagunça o cabelo de Kiran, ouvindo os seus resmungos. Odara deixava escapar uma breve risada, aproximando-se do Yamir e o observando com ternura.

— As coisas estão indo bem. As pessoas da cidade gostaram do senhor.

— Q-Que bom, eu acho. Eu não estou acostumado com tanto contato com as pessoas. — Kiran dizia corando um pouco, desviando o olhar. — Mas darei o meu melhor para manter o legado do bhaya!

— Você está indo bem. — comenta Ananya arrancando uma expressão surpresa dos outros dois homens na sala. — O que? Eu não posso elogiar?

Kiran ria fraco diante do comentário enquanto Odara dava nos ombros, voltando o seu foco na mesa pegando alguns papéis e os analisando. Ananya colocava-se ao seu lado para ajudar o atual diretor, dando dicas sobre quais cálculos deviam ser refeitos e apontando algumas cláusulas contratuais abusivas.

— Depois que o Dinesh morrer, a gente precisa mudar o slogan da empresa. — ela comenta mudando temporariamente de assunto e Odara balança a cabeça em concordância. — Algo mais alegre para combinar com o perfil do presidente.

— Flores, talvez. — sugere Odara.

— Não, muito comum.

— Joias?

— Pouco humilde. Tem que ser algo para substituir a imagem do último presidente. Hum...

O mais novo Yamir ouvia a conversa com um aperto no coração ao lembrar da pena de morte, abaixando a cabeça retornando às anotações e comentando:

— O Dinesh vai gostar quando vier visitar a empresa e tiver bolinhos nos corredores. Ele ama sobremesas.

— Mas ele não virá, Kiran. — dizia Ananya o fitando de canto.

— Você é atual presidente. — afirma Odara.

— Espero que tenha bolo de laranja, é o seu favorito. Ele vai gostar de trabalhar em um ambiente assim. — comenta Kiran escrevendo com a letra levemente torta por causa da mão trêmula. — E precisamos de muito chá.

— Chega! Não pode negar o fato de que ele será condenado à morte. — Ananya pontua seriamente.

Kiran largava a caneta, apoiando ambas as mãos nos ouvidos e se encolhendo com o corpo trêmulo. As lágrimas surgiam em seus olhos, atrapalhando a sua visão do horizonte.

— N-Não estou te ouvindo... Não estou...

— É hora de seguir em frente, Kiran. — aconselha o mais velho. — É a escolha mais sábia.

— Será que ele vai demorar a sair...?

— Aceite que ele vai morrer em breve.

— Eu sei! — Kiran gritava aos prantos. — Eu sei, não paro de pensar nisso. Não paro de pensar em sua morte, mas isso é tão injusto! Ele... Ele merecia ser feliz...

Ele ocultava o rosto com ambas as mãos, soluçando alto. Odara o abraçava carinhosamente como um pai preocupado com seu filho. Por não ser muito afetuosa, Ananya se limitava a apoiar a mão no ombro do Yamir em sinal de solidariedade. Os mais velhos se entreolham com a tristeza evidente em seus semblantes. No fundo, ninguém queria aceitar aquela morte.

(...)

As algemas foram tiradas de seu pulso e o guarda confirma com a cabeça para o indiano avançar. Ele murmura um agradecimento antes de sair para a área externa da prisão, onde não havia nenhum outro detento por ter sido reservado exclusivamente para aquela visita. A sua garganta fica seca ao ver Mahara se aproximando ao lado de sua irmã. Dinesh se ajoelha abrindo os braços e Maya corria em sua direção, abraçando-o bem forte. A pequena afunda o rosto na curva do pescoço dele, soluçando baixo enquanto sentia os braços fortes do seu irmão a envolvendo. A mulher secava uma lágrima teimosa diante da cena.

Bhaya, volta para casa. Eu estou com saudades.

Dinesh abaixava o olhar com as palavras da sua irmã. Em resposta, apertava-a carinhosamente naquele abraço.

— Desculpa, Maya...

— A mamadi disse que você está de castigo. Quando o castigo acaba? — questiona afastando o rosto o encarando com os olhos marejados. — Você prometeu que a gente ia para a pista de patinação, bhaya.

Ele suspirava pesadamente, apoiando ambas as mãos no rosto da irmã e secando suas lágrimas com os polegares. Dinesh tinha um semblante terno antes de depositar um beijo na testa dela.

— Eu irei no próximo inverno.

— Não sei. E se você estiver mentindo?

— Eu sou um homem de palavra, esqueceu?

— O Dinesh nunca mentiria, Maya. — pontua Mahara apoiando a mão no ombro da menor. — Ele já descumpriu uma promessa?

— Não...

— Então, querida, ele irá na próxima vez.

Maya assente com a cabeça e voltava a abraçar bem forte o seu irmão que a pegava nos braços. Lentamente, Dinesh caminhava até uma das mesas de concreto e se sentava com a pequena em seu colo. Mahara tomava o seu lugar de frente ao filho, apoiando as mãos sobre a mesa e analisando o pátio.

— Aqui é bem mais arrumado do que o outro.

— Sim e eles me tratam bem.

— Que alívio. Eu odiaria te ver machucado novamente. — comenta desviando o olhar para o corte no lábio do seu filho. — Dinesh, eu conversei com o senhor Homura...

Ele colocava a irmã no chão e acariciava o topo da sua cabeça.

— O que acha de me mostrar a cambalhota que você aprendeu, Maya?

— Claro, bhaya! Eu vou te mostrar a melhor cambalhota do mundo!

Maya corria para o centro do pátio, apoiando ambas as mãos na grama e tentando erguer o corpo mas caía sentada, voltando a tentar segundos depois. Dinesh ria fraco da cena e a incentivava a continuar, focando em sua mãe logo em seguida.

— Eu já tomei a minha decisão, mamadi.

— Eu não vou suportar essa dor, Dinesh. — Mahara dizia com os olhos marejados e as suas mãos trêmulas seguram as dele. — Pense na sua família.

— É por vocês que estou tomando essa decisão. O baldi queria que eu os protegesse do todo o mau e, no final, a última peça que pode machuca-los está diante dos seus olhos.

— Seja egoísta, filho. Por favor, ao menos uma única vez, coloque a sua felicidade acima de tudo. Acima de todos, até mesmo da própria família!

— Não consigo...

Mahara soluçava baixo e Dinesh contorna a mesa, sentando-se ao seu lado. O braço dele passava envolta os ombros da mulher e a puxava para um abraço apertado. Ela permitia-se desabar em lágrimas enquanto era acalentada por todo aquele gesto gentil do seu filho, mas seu peito se enchia com uma inexplicável dor por saber que provavelmente seria o último abraço de ambos. Por outro lado, o Yamir sabia que a sua mãe não poderia visita-lo mais uma vez, pelo menos não até o dia do julgamento. Então, ele engoliu toda e qualquer lágrima esforçando-se para que aquele momento fosse de paz; não de sofrimento. Para a sorte de ambos, Maya estava distraída demais brincando no jardim para ver aquela cena.

Quando a mulher recupera o fôlego, afastava-se um pouco e limpava as lágrimas delicadamente com a ajuda do seu filho. Dinesh a fitava com ternura, segurando o rosto dela e depositando um beijo demorado em sua testa.

— Vai ficar tudo bem, eu prometo. Não esqueça do Kiran, ele cuidará de vocês...

— ... Assim como você cuidou da gente, Dinesh.

— Eu acredito que acabei trazendo mais problemas do que soluções, já que...

— O Kiran contou sobre o que você e o Raj fizeram.

A fala dela corta qualquer chance de Dinesh argumentar. Ele a encarava incrédulo e se afastando lentamente.

— Como...?

— O Kiran chegou abalado após a visita ao presídio. Ele olhou para mim e começou a chorar. Sem entender, eu o abracei enquanto o escutava dizer "ele é uma boa pessoa, sempre foi. Nós não o entendíamos". No começo, fiquei confusa e pedi uma explicação. Conforme o Kiran falava, o chão abaixo de meus pés parecia sumir. Você foi tão longe pela gente, Dinesh. Eu... Eu estou sem palavras.

Mahara recordava-se claramente da sensação das lágrimas queimando em seus olhos enquanto caía de joelhos ao receber a notícia dos inúmeros sacrifícios do seu filho. Inicialmente, sentiu raiva de Raj por ter escondido o plano e também por saber da própria morte mas, aos poucos, entendeu que era a melhor forma de manter a família protegida. Ao imaginar toda a dor passada por seu filho mais velho, seu coração se apertava de uma maneira inexplicável e a vontade de chorar voltava a atingir seu âmago. Porém, acabava contendo as lágrimas ao se deparar com o semblante sereno de Dinesh.

— Por vocês, eu faria tudo isso de novo.

— Desculpa... Desculpa não ter notado o seu sofrimento. Eu sou uma péssima ma-...

— Não diga isso, por favor. — ele a interrompia voltando a abraça-la com força. — A senhora sempre sentiu orgulho de mim e foi o meu pilar para continuar seguindo os meus sonhos, só precisa entender que esses sacrifícios eram necessários.

Ela balançava a cabeça em concordância, suspirando baixo.

— Foi por esse tal Thomas que você acabou fazendo tudo isso...?

— Sim, eu usei todo o meu conhecimento para destruir o Thomas e toda a sua empresa de lixo. Posso ter errado em meus métodos violentos, mas não me arrependo do que eu fiz. Ele merecia.

— O Raj nunca aprovaria isso...

— Eu sei, ele deve estar tão dece-...

— Mas você fez o certo, filho.

— Hein?

— Você e ele possuem formas diferentes de lidar com os problemas. O Raj sacrificou a própria vida para proteger a família e você sacrificou a vida de outra pessoa por nós. Quem está certo ou errado? Acho que isso não importa, o objetivo de vocês dois sempre foi o mesmo. Então, o Raj sente muito orgulho de todo o seu sacrifício e força de vontade para nos proteger.

O Yamir surpreendia-se com as palavras ternas de sua mãe e não demora para um largo sorriso surgir em seus lábios. Ele secava uma lágrima teimosa no canto do olho e, enquanto isso, Mahara continuava a falar:

— A empresa alcançou a primeira posição no ranking mundial.

— S-Sério?! — exclama com brilho no olhar. — O bhai é realmente incrível.

— Não, Dinesh. Ela alcançou por causa dos seus investimentos enquanto era o presidente, ou seja, foi por sua causa. — dizia apoiando a mão sobre a face dele sem tirar o sorriso gentil dos lábios. — Parabéns, filho. Você realizou o desejo do Raj.

Por um instante, Dinesh parecia incrédulo com a notícia e demorou para processar a informação. Então, ele soltava um grito de alegria abraçando fortemente Mahara. Maya assustava-se com a reação do seu irmão, focando a sua atenção na cena dos dois abraçados e corria em direção à ambos fazendo parte daquele abraço em família. A pequena, mesmo sem entender o motivo da alegria dos dois, sorria abertamente compartilhando do momento único que aquecia o seu coração.

Os três passaram o restante do horário de visitas conversando, onde Mahara atualizava seu filho das notícias do mundo exterior e como o Kiran tem dado o seu melhor como presidente da empresa. Dinesh ouvia tudo atentamente enquanto, vez ou outra, enchia a bochecha de sua irmã de beijos. Ela ria toda boba, prestando atenção na conversa mesmo sem entender o assunto. Ao final, Mahara se erguia da mesa e olhava para cima dos ombros o guarda que estava apoiado na porta de braços cruzados.

O clima do pátio havia mudado um pouco e era perceptível as nuvens cinzas se formando no céu azul. Uma leve brisa pairava sobre o local e a mulher precisou segurar a barra do seu vestido enquanto mantinha o foco nos dois filhos.

— Nós precisamos ir, Maya.

— Mas já? Eu quero ficar com o bhaya. — ela dizia chorosa, abraçando o mais velho pelo pescoço. — Não me deixa ir. Eu não quero ir embora.

— É preciso, pequena. O meu castigo não me permite vê-los por muito tempo. — Dinesh comenta acariciando a cabeça dela.

— Quando eu poderei te visitar novamente, bhaya?

O sorriso dele sumia dando espaço para uma expressão vazia.

— Não sabemos, mas espero que consigamos visita-lo logo. — Mahara dizia apoiando ambas as mãos no rosto do filho e depositando um beijo demorado em sua testa. — Vai ficar tudo bem, eu vou orar para que os deuses o abençoem.

Dinesh erguia a cabeça com os olhos marejados e abria um sorriso triste.

— Desculpa ter falhado.

— Você nunca falhou, filho. Você deu o seu melhor para nos proteger e conseguiu.

— Espero que os deuses perdoem os meus erros, assim eu poderei ficar perto do baldi.

Mahara fechava os olhos com força, abraçando o seu filho e escondendo o rosto na curva de seu pescoço. Ela soluçava baixinho e sentia a mão de Dinesh em suas costas. Maya piscava os olhos confusa mas, por algum motivo, o seu peito doía. A pequena encolheu-se no colo do seu irmão, também apreciando o momento em silêncio.

Ao se afastar, Mahara secava as lágrimas de forma desajeitada e se afastava em passos lentos.

— Eu vou te esperar na porta, Maya. Não demore.

— Tudo bem, mamadi!

— Eu te amo, filho. Vai ficar tudo bem, eu prometo.

— Eu também te amo, mamadi.

Ele acenava brevemente e depois se sentava na mesa de concreto, colocando Maya ao seu lado. A pequena brincava com os próprios dedos, buscando palavras para se expressar mas era tudo tão confuso. Ela não entendia o porquê de todos estarem chorando com o "castigo" do seu irmão, já que acreditava veementemente de que ele sairia logo para estar perto da sua família mais uma vez.

— Cuide da mamadi na minha ausência. — Dinesh cortava o silêncio, fazendo a menor virar o rosto em sua direção. — Você sempre foi muito perceptiva, conseguia ver quando os outros estavam sofrendo. O seu dom pode ajudar as pessoas, Maya. Continue o usando com sabedoria.

— Mas eu não sei como ajudar...

— Você é como o Kiran, ambos possuem uma energia brilhante que atrai alegria às pessoas ao redor.

— Você também, bhaya. Mesmo não percebendo, eu consigo ver essa energia.

Dinesh abria um sorriso fraco, erguendo a cabeça em direção ao céu vendo as nuvens cinzentas se acumularem.

— Sabe, eu era um garoto problemático quando tinha um pouco mais da sua idade. Eu queria a atenção dos meus pais e, por isso, fiz de tudo para que eles notassem a minha existência. Mas eu acabei machucando as pessoas ao meu redor, então não posso negar como só trago problemas por causa do meu jeito de ser.

— Eu não me importo. Quando você chegava em casa, o ambiente ficava mais colorido.

O mais velho a olhava um pouco surpreso e o seu sorriso aumentava gradativamente. As palavras de uma garotinha de oito anos eram repletas de sabedoria.

— Você é incrível, pequena.

Ela sorria sem jeito e depois olhava o céu.

— Sinto falta das nossas canções antes de dormir.

— O que acha de cantar?

— Mas não está anoitecendo, bhaya.

— Ora, acha mesmo que eu ligo para regras? Por que acha que eu estou aqui? — ele sorria de canto. — Vamos, vamos.

Maya balança a cabeça em concordância e Dinesh puxava a música, balançando o corpo para os lados enquanto a sua irmã o acompanha no mesmo ritmo.

— "Brilha, brilha, estrelinha..."

Mahara observava a cena com a mão apoiada sobre o peito, sentindo-o doer. Ela rezava aos deuses para que, de alguma forma, o seu filho saísse dessa situação. Ele e Maya pareciam tão absortos ao mundo que os rodeava como se nenhum problema pudesse afetá-los.

(...)

No outro dia, Dinesh dispensou o banho de Sol para meditar sentado em sua cama. Os seus companheiros de cela gostavam do indiano pois o seu jeito calado e, ao mesmo tempo, intimidador afastava qualquer briga. Enquanto os demais detentos aproveitavam para respirar um ar fresco, o Yamir permanecia de olhos fechados sentado de pernas cruzadas sobre o colchão nada confortável de sua cela. Ele desligou a sua mente de qualquer barulho ou distração externa para se concentrar, unicamente, em sua mente usando os conhecimentos adquiridos do retiro em São Paulo.

Contudo, um flash surgiu em sua mente.

Dinesh visualizava o rosto choroso da Sakura, a forma como o seu corpo se debatia pedindo para sair do aperto daquelas mãos fortes. Ele lembrou do rosto de Dylan ao seu lado, segurando outro braço da garota. Em seguida, recordava de Ryan tentando desesperadamente abaixar as calças do Yamir. As memórias, antes distorcidas, se tornavam cada vez mais claras.

Ele sentiu o seu corpo se chocar contra a parede suja do beco enquanto se encolhia. Dinesh recordava perfeitamente da sensação de enjoo que o atingira na maldita noite. As palavras dos homens naquele dia ecoavam em sua mente.

"— O miserável não vai conseguir. — resmunga Dylan."

"— Que merda de droga é essa?!"

"— Você que me pediu a mais forte, Thomas. — dizia Ryan. — Não me culpe."

"— Eu pensei que não faria todo esse efeito no Dinesh, já que ele deve usar outras drogas também."

"— Eu acho que houve um equívoco aqui. Se está causando esse efeito, quer dizer que o Dinesh não usa nada. — conclui Tomio. — E agora, o que faremos?"

"— Já começamos essa droga e temos que terminar. — comenta Ryan. — Afinal, ela é bem gostosa."

O Yamir erguia o olhar para os homens em cima da garota que chorava descontroladamente. Ele observava tudo de longe, ainda atordoado por causa da droga e voltando a se encolher puxando com força os fios de seu cabelo.

Quando abria os olhos, foi tomado por um súbito desconforto e correu desajeitadamente até a privada no canto da cela, colocando todo o seu café da manhã para fora. O desespero era evidente em sua face ao recordar, através da meditação, dos detalhes daquela noite. Porém, ao mesmo tempo que seu peito era esmagado pelo desespero, sentia um fio de esperança surgir.

— Eu... Eu não fiz aquilo com a Sakura...

Rapidamente, Dinesh corria até a grade chamando pelo guarda diversas vezes. Em questão de segundos, ele aparecia confuso e um pouco ofegante.

— O que houve?

— Eu preciso ligar para o meu advogado... Eu preciso...!

Em outras circunstâncias, Dinesh seria punido por gritar com um superior. Porém, o homem viu o desespero em sua face e sentiu um pouco de pena daquele homem quebrado. Então, balançou a cabeça em concordância, permitindo que o Yamir saísse da cela. Ao chegarem perto do telefone, o indiano não pensava duas vezes em discar para o seu advogado — agradecendo à si mesmo por sua boa memória — e aguardou ansiosamente para ouvir a voz daquele homem.

— Alô?

— Senhor Homura? Sou eu, o Dinesh!

— Dinesh?! Como você...? O que houve?

— Eu mudei de ideia.

— Sobre?

— A minha punição. Eu não quero e eu não mereço morrer. Eu quero lutar pela minha liberdade! 

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