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Capítulo 27 (Parte II)

"Perdoar a si mesmo, embora seja um ato solitário, é o modo mais prático de fazer as pazes com a única pessoa que pode te destruir de verdade e mais cedo." - Will Lukazi

Dinesh subia seu corpo, retornando à superfície enquanto recuperava o fôlego. As ondas do mar batiam as suas costas em uma massagem mais brusca. Por um momento, concentrou-se nas crianças brincando na água, a música local e os vendedores ambulantes anunciando seus produtos. Então, caminhou até a areia jogando o longo cabelo para trás e ignorando os olhares em sua direção. A aparência do homem, como sempre, chamava atenção por onde passava e no Brasil não era diferente.

Manu pediu para que ele fosse para uma das praias de Santos, uma cidade litorânea do Estado de São Paulo, para descansar um pouco.

Após se sentar no chão, apoiou as mãos sobre a areia macia soltando um longo suspiro aliviado. O Sol batia na sua pele morena, fazendo-o brilhar por causa do protetor solar em seu corpo. O longo cabelo estava solto e as mechas se espalharam pela areia quando o rapaz inclinou-se levemente para trás.

Enquanto encarava o mar, pensando em como encontraria a resposta do seu problema, duas garotas apareceram para pedir o seu número mas ele recusou com um aceno desajeitado, tentando falar português.

Droga. Eu vim para um país sem saber falar nada da língua nativa. Parabéns para você, Dinesh.

Ele abraçou as pernas, repousando o queixo sobre os joelhos e direcionando a sua atenção para as crianças brincando alegremente na água. Algumas pulavam as ondas, outras eram levadas por elas. O seu olhar mudou para os bebês brincando na areia, tentando fazer castelos de forma atrapalhada. Dinesh também analisou os jovens jogando futebol na praia, os vendedores com um largo sorriso expondo seus produtos e os casais andando de mãos dadas.

O seu coração doeu ao ver toda aquela alegria que desejava para si.

— Quem eu devo perdoar...?

Então, depois do seu murmúrio, Dinesh viu uma garota sorrindo enquanto tirava fotos da praia. Os longos cabelos negros dela e o seu largo sorriso o fizeram lembrar da jovem daquela fatídica noite.

— Sakura...

Ele arregalou os olhos surpreso com a sua conclusão, ficando de pé e colocando a calça às pressas. Ao fundo, podia ouvir alguns suspiros frustrados das mulheres por ele estar vestindo a sua roupa, ocultando a sunga preta com listras brancas.

(...)

— Eu encontrei quem eu devo perdoar! — exclama Dinesh eufórico.

Manu interrompia a sua explicação para alguns turistas, virando o rosto em direção ao Yamir e sorrindo fraco.

— Que ótimo. Sinto em seu olhar que realmente encontrou, mas poderia me esperar terminar de falar com os turist-...

— Por Ganesha! Eu não acredito que estava debaixo do meu nariz esse tempo todo!

— Dinesh, a paciência também é um dos fundamentos do Bud-...

— Eu poderei voltar para a minha família, mas será difícil conseguir o perdão dela.

— Dela?

— Sim, da garota que eu machuquei.

Manu soltava um longo suspiro, esticando a mão para frente em um sinal de interrupção da próxima fala do Dinesh.

— Não. Essa não é a resposta, Dinesh.

— Como não? Eu destruí a vida dela e ainda usei o seu ódio como desculpa para destruir aqueles filhos da puta!

— A língua, Dinesh. A língua.

O Yamir respirava fundo, desviando o olhar para baixo.

— Eu podia jurar que...

— A pessoa que você machucou, provavelmente, tem um grande significado para a sua jornada. O perdão dela irá te livrar de um grande peso, mas não será o responsável pela sua mudança interior.

— Não?

— Não, você precisa perdoar a pessoa mais machucada durante todo esse tempo. Agora, deixe-me guiar os turistas pelo templo.

Quando Manu vira o rosto para as outras pessoas, surpreendia-se com os olhares delas vidrados em Dinesh.

O rapaz jogava o longo cabelo para trás, ainda usando uma camisa térmica de tonalidade cinza, marcando os seus músculos. A pele morena dele brilhava, principalmente no rosto onde algumas gotas de suor escorriam pela região. Os seus olhos focam em todos presentes, ficando estático diante da admiração de tantas pessoas. Elas comentavam entre si sobre a beleza do Yamir e um dos turistas pergunta no ouvido do monge:

— Ele é o novo monge daqui?

— Digamos que é um estagiário temporário.

— Que pena.

Manu franze o cenho confuso enquanto o turista caminhava até Dinesh, pedindo o seu número. Porém, como o Yamir não compreendia a língua nativa do país, apenas deu nos ombros confuso.

— O que ele quer comigo, Manu?

— O seu número. — responde o monge à contragosto. — Mas sabe que envolvimentos amorosos não são permitidos aqui.

— Não se preocupe, eu não pretendo me envolver com ninguém.

— Fico aliviado.

Então, Dinesh apoiava a ponta dos dedos sobre o queixo do homem o qual havia pedido o seu número, fazendo-o erguer a cabeça para fitá-lo diretamente nos olhos. A expressão do indiano se suavizava enquanto um sorriso terno surgia em seus lábios.

— Desculpe-me, eu não posso fornecer o meu número.

Mesmo sem entender uma palavra sequer, o turista ficava vermelho devido à aproximação e a intensidade no olhar do Yamir. Logo, Manu surgia beliscando o braço do jovem.

— Ai!

— Nada de dar em cima dos turistas, Dinesh!

— Mas eu não estava!

— Como não?! Olhe para ele! — dizia apontando para a expressão boba do turista. — Lançou um feitiço no coitado!

— Eu não tive culpa.

O monge massageia as têmporas, desviando a atenção para uma pessoa especial no grupo de turistas. Então, caminhava até um casal e conversava com eles gesticulando em direção à filha de ambos.

— Obrigada pela ideia, senhor! — agradecia o homem à Manu.

— Nós ficamos gratos pela sua ajuda. — dizia a mulher abaixando-se para murmurar algo para sua pequena filha. — Tá bem?

A criança balança a cabeça em afirmação.

Em seguida, Manu virava-se para Dinesh com brilho no olhar.

— Você cuidará da filha desse casal.

O rapaz arregala os olhos, surpreso.

— Hein? Eu? Por que?

— Eles precisam de alguém para supervisioná-la enquanto eu os guio em uma sessão de meditação.

— Se quiser, eu pago uma babá e...

— Não, você cuidará dela.

— Mas e a minha jornada em busca de respostas?

— Talvez isso faça parte da jornada. Ah, por sinal, não se preocupe com a comunicação entre vocês. Ela fala inglês e eu suponho que você também.

Por mais que Dinesh quisesse retrucar, o monge já iniciava caminhada com o casal e os demais turistas, deixando-o sozinho com a sua nova companhia.

Lentamente, o Yamir desviava a atenção para a garotinha de sete anos o encarando. Ela tinha cabelos loiros e levemente cacheados nas pontas, olhos verdes e uma pele alva combinando com as bochechas rosadas. A criança usava um vestido rosa com pequenos desenhos de flores brancas e um laço preto entorno da cintura. As suas meias brancas entravam em contraste com as sapatilhas pretas que possuíam pequenos laços. Ela ajeitava a mochila rosa em suas costas, inclinando a cabeça para o lado enquanto o analisava.

— Por que está me olhando? — questiona Dinesh franzindo o cenho em desagrado.

— Você que está me olhando.

— Não, você está me olhando primeiro.

— Você que está!

— Você!

— Eu não, seu poste!

— Você sim, sua nanica!

A pequena o encarava com o lábio trêmulo e os olhos marejados, prestes à chorar.

— Merda!

Dinesh ajoelhava-se diante dela, respirando fundo enquanto algumas mechas do longo cabelo escorregavam pelos ombros.

— Okay. Você venceu, nani-... Criança. Aliás, qual o seu nome?

Porém, ela permanecia com a mesma expressão com algumas lágrimas escorrendo pelo rosto, o que aumentava o desespero do rapaz.

— Eu compro todos os doces que você quiser se parar de chorar!

Ainda assim, a menina continuava à beira de um ataque de choro e Dinesh suspira pesadamente.

— Olha, eu não sou muito bom com crianças. A minha vida se resume em cuidar da empresa de diamantes e...

—Uma empresa com diamantes?

— Sim, uma empresa e mineradora.

— O que é mineradora?

— É onde os homens extraem os diamantes.

A criança inclina levemente a cabeça para o lado, confusa.

— Como os sete anões...?

Dinesh ri baixo e balança a cabeça em afirmação.

— Nem todos são tão baixos, mas podemos dizer que sim.

Nesse momento, os olhos dela se enchem de brilho e a pequena já esquecia do motivo da discussão entre eles.

— Eu quero conhecer um dos anões! Eu quero!

— Quem sabe um dia. — brincava. — Então, qual o seu nome?

— Lucy.

— Prazer, Lucy. Eu sou Dinesh, Dinesh Yamir.

— Que nome estranho.

Maldita seja a sinceridade infantil, pensava.

Então, Dinesh ficava de pé olhando ao redor em busca dos pais da criança mas eles já haviam sumido do seu campo de vista. Por isso, voltava a focar na garotinha que mantinha o olhar fixo no longo cabelo dele.

— Você é uma princesa?

— Hein?

— O seu cabelo é grande. As princesas têm cabelo grande.

— Branca de Neve não tem. — ele retruca.

— Mas ela tem anões, como você.

Ele revira os olhos, começando a caminhar em direção à saída do templo e Lucy o seguia, segurando firme as alças da mochila. Por causa da grande diferença nas passadas, a pequena andava saltitando para acompanhá-lo até o jardim nos fundos do local. Ela exclamava surpresa e boquiaberta, vendo as diversas flores que compunham o cenário.

— Que lindo!

Dinesh dava nos ombros, sentando-se na grama e cruzando as pernas.

— Eu irei meditar, não posso perder tempo cuidando de crianças. Então, não me atrapalhe, entend-...

Porém, a sua fala é interrompida por um grito agudo da garota, o que fez Dinesh ficar de pé bruscamente e correr em sua direção. Antes mesmo de questionar, ele se colocava na frente dela para protegê-la de uma possível ameaça.

— O que houve? É uma onça? Eu ouvi dizer que há onças no Brasil. Droga, eu não quero bancar uma de Tarzan aqui mas, se for necessário...

— É assustador... — dizia tremendo e apontando para uma lagarta marrom que andava na grama.

— Está com medo dessa lagarta inofensiva?

— Ela parece malvada.

— Essa lagarta com uma cara de lerda? — questiona o Yamir, pondo-se a rir antes de sentar na grama. — Não deveria julgá-la apenas pela aparência.

— Por que não?

— Porque a coitada não fez nada errado. Tudo bem que pode parecer assustadora, mas não julgue algo sem antes conhecer.

Lucy piscava rapidamente os olhos, um pouco confusa com as palavras do rapaz mas não demorou muito para entender. Então, sentou ao lado dele imitando a sua posição ao cruzar as pernas e apoiar as mãos sobre os joelhos.

— Por que você faz isso?

— Isso o que?

— Essa pose engraçada. — dizia a garotinha segurando o riso. — Parece que vai voar.

Dinesh ri fraco.

— Eu estou mediando, ou seja, acalmando a minha mente.

— Por que?

— Porque eu tenho muitos problemas.

— Como as princesas?

Ele respirava fundo, fuzilando-a com o olhar.

— Eu já disse que não sou uma princesa!

— É sim.

Dinesh desistia de insistir nesse assunto e foca a sua atenção no horizonte. Lucy o acompanhava com o olhar, vendo algumas borboletas voando perto dos arbustos locais.

— Woah! Tão lindas!

— Eu não te entendo, pequena. Se você odeia lagartas, como pode amar tanto as borboletas? Os seus pais nunca te falaram da transformação delas?

— A mamãe comentou uma vez... Só que eu não consigo gostar das lagartas...

— Sabe, às vezes temos que passar por essa fase "assustadora" para se tornar uma bela borboleta.

— S-Sério?

A garotinha virava o rosto em direção ao indiano com brilho no olhar.

— Sim, por isso dê uma chance para as pobres lagartas. Nós, humanos, também passamos por transformações assim.

— Você é uma lagarta ou uma borboleta, então?

Nesse momento, Dinesh abriu um sorriso triste que não passou despercebido pela criança. Ele abaixou o olhar para as próprias mãos que estavam juntas, ainda mantendo a pose de meditação.

— Uma lagarta... Uma eterna lagarta, eu diria.

— Mas você disse que todos nós passamos por essa transformação.

— Então, a minha transformação foi a maior sacanagem do mundo porque começou ao contrário!

— Mas você não me parece uma lagarta assustadora.

— Isso quer dizer que eu me pareço com uma bela borboleta? — questiona Dinesh com esperança.

— Não, você parece uma princesa.

— Puta que pariu!

Lucy piscava os olhos confusa antes de voltar a sua total atenção para as borboletas ao redor das flores. Então, abria um sorriso triste murmurando:

— Eu queria ser uma borboleta... Mas acho que não tenho muito tempo...

— Por que?

— Papai e mamãe disseram que eu estou muito doente. Bem, eu ouvi isso do médico e ele falou algo sobre ter pouco tempo. — dizia brincando com os próprios dedos e abaixando o olhar. — Então, eu não poderei ser uma borboleta, não é?

Dinesh a encarava sem esconder a surpresa e tristeza em seu semblante. A pequena Lucy provavelmente tinha uma doença terminativa que iria encurtar o seu tempo de vida. Ele se via incapaz de fazer algum comentário sobre esse assunto para deixá-la mais triste, então teve outra ideia. O Yamir apoiou a mão sobre a cabeça da criança e fez um leve cafune, abrindo um sorriso gentil.

— Você já é uma bela borboleta.

— Sou?

— Sim, a mais bela de todas.

— Mas eu queria ser como o meu maninho, os meus pais devem gostar mais dele. Eles ficaram tão felizes quando o maninho passou em uma prova difícil...

— Tenho certeza que eles se orgulham de você também. — comenta colocando a criança em seu colo e voltando a focar na paisagem. — O fato do seu irmão trazer alegria, não significa que você não faça o mesmo. Então, não se machuque com esse tipo de pensamento.

Ele sentiu um estranhamento interno diante das próprias palavras, junto com um aperto sufocante no peito. Lucy repousou a cabeça no peitoral dele, erguendo o olhar para fitar o semblante triste do Yamir. Em seguida, apoiou a mão sobre o rosto do Dinesh abrindo um sorriso bobo.

— Você tem irmãos também?

— Tenho dois. Uma garotinha um pouco mais velha que você e um irmão do meio.

— E vocês brincam muito?

— Não... Eu me afastei deles.

— Por que? Eles são chatos e vivem gritando como o meu?

Dinesh ri fraco, negando com a cabeça.

— Nessa história, eu devo ser o único chato. O meu bh-... irmão é tão alegre e traz uma boa energia, já eu não me encaixo nesse tipo de ambiente. Sinto como se a minha família fosse melhor sem mim.

Lucy inclinava levemente a cabeça para o lado, confusa.

— Mas eu gostaria de ter um irmão como você!

— S-Sério?

Ele abaixa o olhar para fitá-la, surpreso.

— Sim! Além de ser uma princesa muito bonita, você me protege e cuida de mim! — ela exclama com brilho no olhar. — É o irmão perfeito!

Dinesh sorria bobo virando o rosto para o lado, a fim de esconder uma lágrima que escorria pela sua bochecha. Por mais que não admitisse em voz alta, sentia-se feliz por alguém – mesmo não o conhecendo de verdade – valorizar todo o seu esforço. Então, diante de todas as pessoas que saíram machucadas ao longo de sua vida, ele teve um leve pressentimento em quem saiu mais prejudicado com as suas ações.

— E eu... Seria um filho perfeito?

— Se me der chocolate, sim. — Lucy brincava. — E também você disse algo... Hum... Oh, lembrei!

A pequena saía do colo de Dinesh, virando-se para estar frente à frente com ele e ficava na ponta dos pés, apoiando a mão na cabeça do indiano para fazer um cafuné. Em contrapartida, o rapaz a encarava confuso mas não ousou questionar, afinal estava gostando de toda essa atenção extra pois se sentia como um irmão de verdade.

— "Não se machuque com esse tipo de pensamento". — ela repetia suas palavras. — Você protege seus irmãos, certo?

— Sim...

— Você não vive gritando com eles, não é?

— Não ousaria...

— Quando eu me saio bem na terapia, mamãe faz cafuné e eu recebo elogios! Você se saiu bem, então também merece.

Ele deixa escapar uma breve risada.

— Nem venha! Não sou uma crianç-...

— "Bom trabalho." — Lucy dizia durante os afagos na cabeça do maior. — "Você deu o seu melhor."

Instantaneamente, Dinesh focava a sua atenção na garotinha que possuía um sorriso bobo e, de forma involuntária, as lágrimas começaram a rolar por seu rosto. Ele abaixou a cabeça escondendo a face com a palma da mão enquanto chorava baixinho. Os seus ombros tremiam em sinal de fragilidade e os soluços eram constantes, sem dar importância à hipótese de alguém aparecer.

— Sim... Eu dei o meu melhor...

Logo, Dinesh puxou a criança para um forte abraço e acariciou sua cabeça. No começo, Lucy não entendeu o porquê do gesto mas não demorou muito para retribuir o abraço, deitando a cabeça no ombro do maior.

— Você também deu o seu melhor, Lucy, e se tornou uma bela borboleta.

— Que bom. Eu espero poder voar bem alto até o Céu quando for a hora.

Os olhos da pequena enchem-se de lágrimas e ela soluça baixinho, o que faz o Yamir a apertar carinhosamente. Ele não sabia quais palavras usar para se expressar, mas o valor daquele abraço era o suficiente para afastar o medo da garotinha. Os dois permanecem em silêncio, apenas escutando o canto dos pássaros ao redor deles até que, minutos depois, ouvem os gritos do monge e dos pais de Lucy os chamando. Então, eles se afastam e Dinesh pega a pequena em seus braços, colocando-a sentada sobre seus ombros.

— Hora de ir, nanica!

Lucy infla as bochechas apoiando ambas as mãos na cabeça dele enquanto o rapaz se dirigia até a entrada do templo.

— Você mora aqui?

— Não, estou de férias.

— Nesse lugar chato?

Dinesh segura a risada mordendo o interior das suas bochechas.

— Era de calmaria que eu estava precisando. — murmura colocando-a no chão ao ver os pais dela se aproximarem, abaixando-se para estarem na mesma altura — Cuide-se, tá bem?

Ela assente com a cabeça, olhando para seus pais a chamando e dava o primeiro passo em direção à eles. Contudo, rapidamente, envolvia os braços entorno do pescoço de Dinesh deixando-o surpreso.

— Você é a melhor princesa de todas e o melhor irmão de todos também!

— O-Obrigado.

Então, Lucy acenava enquanto corria em direção aos seus pais com um largo sorriso. O Yamir a observava sentindo a brisa brincar com seu longo cabelo. Manu aproximava-se em passos lentos, parando ao lado para também presenciar a cena.

— Pelo visto, vocês se tornaram amigos.

— Sim... Ei, Manu.

— Sim?

— Eu gostaria de meditar depois. Sinto-me mais leve e acho que minha conversa com essa garotinha foi de grande ajuda.

O monge abria um leve sorriso e balançava a cabeça em concordância.

— Como desejar.

(...)

O tapete confortável e o silêncio ajudaram na concentração do Dinesh que estava com as pernas cruzadas e os olhos fechados. Ele respirava fundo, focando unicamente em sua mente e em tudo o que passou ao longo dos anos. Manu encontrava-se sentado na sua frente com a mesma pose, acompanhando o desenvolvimento do seu "aprendiz" na meditação.

— Encontre a resposta para o seu perdão, Dinesh Yamir.

A voz do monge entrava na cabeça do rapaz de uma maneira suave, quase o deixando em transe. Os músculos de Dinesh relaxam ao ponto de estarem completamente anestesiados e essa sensação espalhava-se por todo corpo até alcançar o ponto principal: a mente.

Dinesh abriu os olhos, encontrando-se em uma completa escuridão. Ele analisou o próprio corpo e se surpreendeu ao ver que estava usando um terno preto. Em seguida, ergueu o olhar em direção a um pequeno feixe de luz e decidiu se aproximar, sendo levado pela curiosidade. Enquanto caminhava, analisava aquela dimensão vazia e sentiu leves calafrios sentindo medo de ter entrado em alguma parte proibida da sua mente.

Conforme se aproximava, a luz diminuía até tomar a forma de um garotinho de costas para ele. A criança possuía seus seis anos e tinha a pele morena, além de um cabelo preto tocando o seu ombro. Ao parar alguns metros de distância, analisou o pequeno com certa dúvida e receio.

— Ei...

Quando escutou a voz, o garotinho virou-se em sua direção o que rendeu uma exclamação surpresa de ambos. Dinesh viu que a pessoa diante de seus olhos era ele mesmo quando tinha somente seis anos. Por outro lado, a criança inclinava a cabeça para o lado apertando mais forte o seu ursinho de pelúcia, Cuddy, expressando uma sincera confusão em seu olhar.

— Quem é você, moço?

— Eu sou você do futuro, eu acho.

A criança franze o cenho.

— Hã?

— Okay, eu também estou confuso nessa droga. — dizia olhando ao redor. — Eu só não entendo o porquê de você estar aqui. Eu deveria conversar com o baldi.

— O baldi está aqui? — os olhos do garotinho se enchem de brilho. — Eu quero vê-lo! Ele prometeu que brincaria comigo hoje.

Dinesh abria um sorriso forçado para disfarçar a tristeza.

— Ele logo virá.

— Você é realmente o "eu" do futuro?

— Digamos que sim.

— Woah! O meu cabelo é tão grande e incrível assim? Então, eu mal vejo a hora para crescer.

O Yamir deixa escapar uma baixa risada e a criança continua a falar:

— Dinesh do futuro, nós nos tornamos um grande chefe de cozinha, não é? Como é o nosso restaurante?

Nesse momento, o sorriso nos lábios do homem some e a expressão dele torna-se vazia, desviando o olhar para o lado.

— Não... "Nós" falhamos nisso.

O garotinho ficava com um semblante triste.

— Por que?

— Porque eu precisei abrir mão desse sonho para ajudar o baldi e proteger o Kiran.

— Quem é Kiran?

— É o nosso bhai.

— N-Nós temos um bhai? Eba! Eu poderei brincar com ele, né? — pergunta com ânimo, dando leves pulinhos. — Isso significa que eu serei o irmão mais velho... Preciso ser o herói perfeito para ele e...

— Ele me odeia.

— Hã? Como assim?

— O bhai me odeia porque eu sou uma péssima pessoa na vida dele, vivo sempre brigando com o Kiran e o afastando. — dizia com peso no olhar. — Na verdade, eu afasto todos ao meu redor, até mesmo a minha noiva.

— Você tinha uma noiva? O que aconteceu com ela?

— Advinha? Ela me odeia também. — comenta após uma risada sarcástica. — Bem como a minha ex-namorada... Isso se a gente chegou a um relacionamento de verdade.

— O baldi não briga com você por causa disso? Quando eu faço algo errado, recebo uma bronca.

Dinesh respirava fundo tentando não chorar diante do garotinho, mas a sua voz já estava em um tom levemente trêmulo.

— O baldi, provavelmente, está decepcionado com tudo o que fizemos.

O pequeno Dinesh apertava com força o ursinho contra seu corpo enquanto os olhos ficavam marejados. Ele encarava a sua versão no futuro com um misto de preocupação e dor no olhar.

— Então... Nós falhamos?

— Bem...

— Eu não sou um bom filho?

Dinesh encarou a criança fragilizada e cheia de questionamentos que passará uma vida inteira de autocrítica por causa das pessoas ao seu redor. Ele olhou nas íris vazias da sua versão mais jovem o medo de falhar, a pressão ao longo dos anos e a verdadeira essência que habitava dentro de si. Naquele momento, ele descobriu que a pessoa que saiu mais machucada por todo esse tempo estava diante dos seus olhos. Por isso, negou com a cabeça enquanto as lágrimas também se faziam presentes em seus olhos, escorrendo pelas bochechas.

— Não... Você é o melhor filho de todos... Você dará tudo de si para proteger a sua família mesmo que isso custe a sua felicidade...

Então, Dinesh caía de joelhos puxando a criança para os seus braços onde o apertava fortemente. O garoto escondia o rosto na curva do ombro do maior, soluçando baixinho enquanto retribuía o abraço.

— Estou com medo... Medo de ser ruim... Eu sou ruim?

— Não, você tem um grande coração destinado a amar e a proteger. — respondia Dinesh soluçando também, ignorando o quão frágil estava no momento. Ele apoiou a mão na cabeça da criança, fazendo um leve cafuné na região. — Por favor, me perdoa. Eu falhei com você, destruí os seus sonhos e te fiz acreditar, por todos esses anos, que era uma pessoa ruim. Nós não somos ruins, eu te garanto. O baldi tem orgulho da gente, apesar dos erros. Então, não se machuque mais... Eu te peço... Pare de se machucar, Dinesh.

O garoto acariciava as costas dele o confortando, abrindo um leve sorriso ainda chorando. Por algum motivo, ambos se sentiam com um peso a menos após esse momento.

— Você foi muito bem, Dinesh do futuro. Agora, seja feliz. Eu tenho certeza que o baldi quer te ver feliz.

Ao ouvir as palavras da criança, lembrou de todo o esforço do seu pai em proteger a família e até mesmo aceitar a morte para que todos ficassem bem. Finalmente, havia entendido que o sacrifício de Raj seria em vão se ele não aproveitasse as oportunidades da vida em busca da sua própria felicidade. Então, Dinesh afastou um pouco o rosto para fitá-lo nos olhos e sorriu apesar das lágrimas escorrendo pelas bochechas.

— Eu prometo que vou procurar a minha felicidade.

— Sim, senão levará uma bronca!

Após uma breve risada, Dinesh sentia os olhos pesados como se fosse dormir e sabia, de alguma forma, que o seu momento em sua "mente" estava acabando.

— Eu preciso ir, nanico.

— Posso ser nanico, mas vou crescer como você! — exclama com um sorriso orgulho e depois fazia cafuné na cabeça do maior. — Ei...

— Sim?

— Eu te perdoo por tudo.

Essa simples frase foi capaz de fazê-lo voltar a chorar e abaixar a cabeça, escondendo o rosto com ambas as mãos. Ele soluçou baixinho e assentiu optando pelo silêncio para expressar o misto de sensações em seu peito.

— Obrigado... Obrigado... Obrigado...

— Vá em busca da sua felicidade, grandão.

Quando acordou, direcionou a sua atenção para Manu que o analisava com ternura. Dinesh passou a ponta dos dedos sobre a bochecha ao senti-la molhada, percebendo as lágrimas em seus olhos. Em resposta, apenas deixou o choro contido por anos se libertar e o monge se aproximou em passos lentos.

— Pelo visto, você encontrou a pessoa a quem deveria perdoar acima de tudo.

— Sim... Eu me machuquei por todos anos e mal percebi o estrago que estava fazendo. — murmura com a voz trêmula. — Muito obrigado por ter me acolhido no seu templo.

— Eu sempre ajudarei uma alma em busca da sua redenção. Agora que se perdoou, já sabe o que deve fazer?

— Sim!

(...)

Dinesh retornou à Índia com um peso a menos em seu peito, despedindo-se de Manu com um forte abraço de agradecimento. Ao chegar em sua casa, foi recepcionado pela pequena Maya pulando em seus braços e logo Mahara se aproximou, repousando a cabeça no peito de seu filho. Naquele momento, ele percebeu como queria estar ao lado da sua família e ser mais presente na vida deles.

Em seguida, Mahara vai até o quarto do Kiran para comunica-lo da notícia e Maya segurava a mão do irmão, puxando-o para o quarto dela para mostrar a nova coleção de bonecas. Enquanto a pequena falava animada sobre uma das versões da Barbie, ele só conseguia pensar em quantos obstáculos terá pela frente para reconquistar o seu espaço entre todos.

O bhai será o mais difícil, pensava.

— Vamos falar com o Kiki! — exclama Maya saindo em disparada até o quarto do irmão.

Dinesh soltava um longo suspiro, caminhando em direção ao quarto e apoiava o ombro na porta. Maya volta até o irmão mais velho pulando em seus braços e ele a segura, apertando-a carinhosamente. Porém, logo voltava a atenção para o outro.

— Olá, Kiran.

— Olá, Dinesh.

Mahara acaba percebendo o clima tenso entre ambos, decidindo deixá-los à sós.

— Maya, vamos arrumar a mesa. — ela diz saindo do quarto.

A pequena dá um beijo na bochecha do irmão, descendo do colo dele e correndo ao encontro da sua mãe.

— Chegou cedo. — Kiran dizia sarcasticamente. — Lembrou que tem uma família?

— Sabe que a empresa consome muito do meu tempo, Kiran. Enquanto você fica brincando de salvador do mundo, tenho empregados para administrar e não posso perder o capital da empresa.

Com um solavanco, Kiran ficava de pé caminhando até o irmão, puxando-o pela gola da camisa.

— Sabe muito bem sobre as dificuldades dessa jornada, não ouse abrir a boca para falar alguma besteira desnecessária. Eu só te suporto por causa da mamadi e da Maya.

— Sei disso. — ele diz tirando a mão da sua camisa. — Mas não quero ficar nesse clima desagradável contigo, bhai.

— Não me venha com essa!

Kiran o empurra violentamente contra a parede. Naquele momento, toda a pouca paciência do Dinesh chegou ao seu limite. Depois de ver a si mesmo com mais amor, o Yamir não aceitava mais a ideia de fazer visto como um vilão.

— Nós brincávamos juntos! Como pôde esquecer disso? — Dinesh gritava alterado. — Estudamos cursinhos e fizemos artes marciais juntos! Somos parecidos!

— Não me compare com você! Eu nunca seria capaz de fazer o que você fez! Sabe dos danos que causou?!

Ele desvia o olhar desconfortável, suspirando baixo e apoiando uma mão sobre o rosto.

— Eu não queria ter feito aquilo...

— Mas fez! E nada pode mudar o passado, Dinesh! Eu não estava somente brincando de salvar o mundo, também fiz o possível para tirar uma garota inocente da escuridão.

— Eu te admiro por isso e é por causa dessa admiração que não quero perder toda a amizade que construímos.

— Por que não assume o erro, então?

— Pelo bem da empresa, eu não posso!

— Não há dinheiro nenhum naquela empresa que vala mais do que a justiça, bhaya! Esqueceu dos valores ensinados por nosso baldi?

— Nunca! Mas também não esqueci do esforço dele para construir essa empresa, mesmo com aqueles acionistas sanguessugas tentando roubar tudo.

— Dois deles já estão mortos.

— Sou grato à isso.

— Eu não, porque me sinto sujo com o que estou fazendo. — Kiran reclama.

— Então, somos iguais!

— Saía daqui!

Dinesh respirava fundo saindo do quarto e caminhando até o enorme quadro no corredor do segundo andar. Na foto, todos estavam juntos e sorriam como se não tivessem problemas. Ele apoiava a mão sobre a imagem, deixando uma lágrima escapar do canto do olho.

Será um longo caminho mas eu não desistirei, baldi. Eu vou me tornar digno de voltar para a minha família.

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