Capítulo 25
*Atenção: O referido capítulo contém gatilho, como uso de drogas/álcool e abuso sexual!
"O remorso é a única dor da alma, que nem a reflexão nem o tempo atenuam." - Madame de Stael
Após uma breve discursão com o Kiran na mesma noite, Dinesh dormiu com a consciência pesada. Ele odiava lançar palavras ofensivas contra o seu irmão, mas precisava afastá-lo até apagar por completo o desejo do menor em assumir a presidência. O seu irmão atualmente possuía dezessete anos e já tinha participado de palestras, cursos profissionalizantes além de ler livros sobre administração. Dinesh sabia que o sonho do Kiran era cursar História e ser professor, mas ele também estava pronto para assumir a presidência da empresa caso algo desse errado.
Então, sendo tomado pelo desespero, o irmão mais velho optou por continuar a tratá-lo com hostilidade.
Porém, devido ao arrependimento sufocante, pediu desculpas ao Kiran no outro dia que, como sempre, o perdoou por possuir uma ingenuidade fora do comum. Em seguida, Dinesh perguntou ao seu irmão qual lugar poderia se reunir com seus amigos e recebeu o conselho de ir a um maid café na região Sul da cidade. Como o Yamir nunca havia visitado um lugar do tipo, viu-se tentado a aceitar.
Ao chegar na empresa, encontrou Masaichi em seu escritório beijando Yuri, o seu namorado. O vice diretor estava com as mãos apoiadas na cintura do homem enquanto distribuía selinhos por seus lábios.
— Tão fofos.
— Vai ser foder, Dinesh. — resmunga Masaichi.
— Olá, Dinesh! — exclama Yuri. — Eu vim visitar o meu amor já que você está consumindo muito o tempo dele!
O Yamir erguia os braços em sinal de rendição.
— Não darei aumento.
— Chato.
— Hoje a programação será mais suave, não é Masaichi?
— Isso mesmo, seu empata foda.
— Espera, vocês iam...? Calma, controlem-se! — brinca Dinesh. — Mas se quiser usar o sofá do meu escritório, tudo bem, ele é bem confort-...
— Sai daqui, Dinesh!
— E o chato sou eu? Ora...
Dineh deixava o escritório segurando a risada. As brincadeiras dele com o Masaichi eram frequentes, desde que se conheceram na empresa. Os dois possuíam uma ótima sintonia e relacionamento de trabalho pois, mesmo com as divergências, um sempre respeitava a opinião do outro.
Enquanto Dinesh assinava alguns papéis, Miyuki aparecia na sala depositando uma pasta com os cálculos mensais. Ela tinha ido para o setor de contabilidade à mando do seu chefe e retornou o mais rápido possível para vê-lo nesse curto período de tempo. Os longos cabelos do Yamir atrapalhavam a sua visão por ter esquecido, novamente, a borracha responsável por prendê-los.
Ao ouvir seus resmungos em hindi, ela deixou escapar uma breve risada.
— Eu irei te ajudar, senhor Yamir.
— Hã? Oh, obrigado.
Miyuki ficava atrás do rapaz, começando a trançar o cabelo dele. A ponta de seus dedos passeava pelos fios longos, admirando-se com a maciez que possuíam. Dinesh estava preso à sensação agradável desse cafuné indireto, quase dormindo enquanto folheava os papéis. A mulher abriu um leve sorriso ao vê-lo tão relaxado ao seu lado, como se a sua presença realmente o acalmasse.
— Você tem dedos tão delicados, senhorita Sato.
— Isso é bom, senhor Yamir?
— Muito...
Após terminar a trança, encarava o penteado e já mudava para um coque alto.
— Sinto-me uma boneca em suas mãos, senhorita Sato. — ironizava focando no computador enquanto digitava. — É tão divertido assim brincar com o meu cabelo?
— Sim! Eu nunca conheci alguém com o cabelo desse tamanho. Por que deixá-lo grande?
— Porque eu me sinto livre assim, como se pudesse ter controle sobre tudo.
Miyuki o fitava pensativa ao mesmo tempo que desfazia o coque para amarrá-lo em um rabo de cavalo baixo. Ela aproveitava para fazer um leve cafuné durante a execução do penteado.
— Os seus pais nunca reclamaram?
— Não, desde pequeno eles permitiram que eu escolhesse se cortaria ou não.
— Que incrível... Por falar em sua família, eles não visitam a empresa?
— Eu prefiro que mantenham distância daqui.
— Por que?
— Quanto mais longe estiverem desse inferno, mais seguros estarão. — comenta com um longo suspiro e, em seguida, ficava de pé virando-se em direção à mulher. — Mas não vamos falar de família, isso é broxante.
— E-Espera, você quer aqui e agora?
— Por que não? — murmura colocando-a contra a enorme parede de vidro. — Eu precis-...
As batidas apressadas na porta o interrompem em seu possível beijo, vendo uma loira aparecer no escritório com a respiração ofegante. Miyuki fechava a sua expressão ao se tratar de Allison Bailey.
— Você não atende as minhas ligações, Dinesh!
O Yamir acariciava as têmporas soltando um longo suspiro.
— Nós não temos nada, Alli-...
— Como não?! Você prometeu que sempre estaria comigo!
— Prometi?
— Você prometeu? — questiona Miyuki arqueando a sobrancelha. — Hum...
— Não me diga que está dormindo com essa aí?!
— Controle-se, Allison.
— Eu vou quebrar a sua cara! — ameaça Miyuki.
— E você também, senhorita Sato.
— Podem brigar. — dizia Masaichi aparecendo no escritório. — Eu pago dois mil ienes para a vencedora.
— Cala a boca, seu filho da puta!
— Estou brincando, Dinesh. Não se preocupe.
E então, Masaichi aproximava-se de Allison murmurando no ouvido dela:
— Mas caso queira o dinheiro terá que vencer, o que acho pouco provável.
— O que disse?! — questiona Dinesh.
— Parei, parei.
— Quem é essa? — pergunta Allison apontando para a jovem. — E por que eles estão tão próximos?
— Ah, essa é a secreta...
A fala de Masaichi é interrompida quando Dinesh puxava Miyuki pela cintura.
— É a minha noiva. Algum problema?
Miyuki arregalava os olhos vermelha e Allison pôs-se a chorar.
— Como pôde me enganar assim? Eu larguei o meu namorado por você!
— Isso não é problema meu. Eu nunca te obriguei a nada.
— Você me encheu com promessas falsas, até disse que se casaria comigo.
O Yamir deixa uma risada escandalosa escapar.
— É mesmo! Eu prometi essa merda. Nossa, eu poderia ser contratado por uma empresa de atuação.
— Seu monstro...
— Correto. Eu sou um monstro e você sabia disso desde o começo, mas nunca se importou pois estava de olho no meu dinheiro. — Dinesh comenta adquirindo uma expressão séria. — Era um jogo mútuo, mas eu sou o único acusado por ser sincero.
Allison encontrava-se sem palavras pois sabia que, no fundo, o argumento do Dinesh era verdadeiro. Ela abandonou o seu namorado por não ver nenhum futuro financeiro nele, então agarrou o Yamir como a sua última esperança para uma vida de luxo.
— Essa novela está ótima, mas é melhor você ir. — dizia Masaichi puxando delicadamente a loira para fora da sala. — Eu tenho lencinhos em meu escritório, não se preocupe.
— Eu não acredito que ele me enganou...
Quando os dois saem da sala, Miyuki empurrava bruscamente o Yamir cruzando os braços.
— Você ainda está envolvido com aquela maluca?
— De forma alguma. Desde a viagem para a França que nós cortamos laços.
— Por que? Você não parece ser do tipo que ignora uma boa chance para foder.
— Não mesmo, por isso se quiser continuar de onde paramos... — ele interrompe a fala ao ver o semblante sério da sua secretária e ergue os braços em sinal de rendição, sentando-se em sua cadeira. — Eu não poderia dormir com a Allison estando compromissado com alguém. Mesmo que eu tenha vários defeitos, eu nunca fui infiel.
O rosto de Miyuki adquiria uma tonalidade vermelha.
— V-Você disse que está compromissado...? C-Comigo?
— E quem mais seria, Miyuki?
É como um sonho, pensava sorrindo boba.
— Vem cá. — ele dizia dando leves tapinhas em seu colo. — Eu preciso me desculpar por tê-la feito presenciar essa confusão.
Ela assentia positivamente com a cabeça, sentando-se no colo do rapaz e o encarando sem tirar o sorriso dos lábios. Dinesh envolvia os braços entorno da cintura dela, repousando a cabeça em seu ombro enquanto roçava a ponta do nariz na curva do seu pescoço. Em seguida, distribuía vários beijos na região até alcançar os lábios de Miyuki, onde os atacava de forma intensa introduzindo a língua.
(...)
Dinesh respirava fundo antes de entrar no maid café, analisando o ambiente. As mesas redondas e brancas combinavam com o espaço pequeno, porém aconchegante. As garçonetes vestiam uma saia e camisa preta de empregada junto com um avental branco, além de uma tiara no topo da cabeça. O Yamir fez pouco caso de observar mais detalhes nas vestimentas, diferente dos seus ex-colegas de trabalho que não tiravam os olhos das garotas.
Após se sentarem e serem atendidos, Dinesh jogava a cabeça para trás fitando o teto com uma expressão vazia.
— Sinceramente, não sei porque nos reuniu aqui...
— Não seja careta! — exclama Tomio. — Eu estou feliz por estar com a gente.
— O que acha de se reunir de novo ao nosso grupo?
— O que acha de ficar calado enquanto eu não quebrei seus dentes ainda, Ryan?
— Que agressivo...
— Vamos deixar as divergências de lado. Pelo menos, por hoje. — pedia Thomas. — Eu devo admitir que você foi muito bom jogando.
Dinesh abria um sorriso sádico, meneando a cabeça em direção ao careca.
— Eu sei que você é obcecado por mim, Thomas. Desde que nos conhecemos, você tem me perseguindo como o Tom e Jerry, mas saiba que eu combino mais com o gato. Afinal, sou bem mais bonito.
— Sarcástico como sempre, meu caro.
— É para não perder o costume.
Em determinado momento, Dinesh percebeu que Tomio e Ryan encaravam demais uma das garçonetes deixando-a desconfortável. O sangue do Yamir ferveu mas ele controlou a fúria com um longo suspiro, vendo os pedidos chegarem.
— Aconselho encararem o prato. — ameaça Dinesh brincando com a faca entre seus dedos. — Ou arranco a merda dos olhos de vocês.
— Acalme-se. — pedia Dylan nervoso. — Encarar não faz mal.
Dinesh crava a faca na mesa assustando os demais que, rapidamente, recuavam para trás. Os olhos negros e sem vida do Yamir os fizeram repensar por uma fração de segundos sobre a execução do plano, mas Thomas encontrava-se irredutível.
— Dinesh, não vamos começar uma discussão aqui. Eu quero sair do Japão e não deixar nenhum arrependimento ou mágoa.
— Caralho! Depois de ter fodido a minha vida, não quer carregar mágoa? Eu quero que pegue a sua hipocrisia e enfie no seu...
— É melhor comer. — dizia Dylan apreensivo. — Você assustará as funcionárias se continuar assim, Dinesh.
Após lançar resmungos inaudíveis, o indiano começava a comer o seu bolo de baunilha mal sentindo o sabor agradável da sobremesa, pois a presença daqueles empresários o fazia ter reviravoltas na barriga. Os demais conversavam normalmente, tentando aliviar o clima de minutos atrás enquanto Thomas encarava o Yamir de forma ansiosa. O seu plano teria que dar certo para, finalmente, destruir o seu maior inimigo.
Em determinado momento, Dinesh levantava-se da mesa após a terceira xícara de chá.
— Eu irei ao banheiro.
— Quer ajuda? — brincava Tomio, como fazia nos velhos tempos.
— Você não resistiria e faria um boquete. — ironizava com um olhar sério. — Eu passo.
Então, caminhava em direção ao banheiro soltando um longo suspiro. Ele passava por uma funcionária que falava animada com as demais por esse ser o seu primeiro dia de trabalho. Estranhamente, Dinesh sentia um desconforto no peito junto com um calafrio por todo o corpo, mas ignorou indo em direção ao banheiro.
Thomas sorria de canto virando o rosto para Ryan.
— É a nossa brecha!
Ryan acena com a cabeça, tirando do bolso uma pequena sacola transparente com um pó branco e despejava quase todo o conteúdo na xícara do Dinesh. Tomio e Dylan aproveitavam para experimentar um pouco, afinal queriam se divertir também mas ainda sóbrios diferente do seu alvo.
Quando Dinesh retorna, todos já disfarçam suas expressões terminando de comer. O Yamir bebia calmamente o seu chá, desejando sair dali o mais rápido possível. Como se suas preces fossem ouvidas, Thomas decidia pagar a conta após conferir no relógio o tempo para o efeito total da droga.
— Vamos fazer uma breve caminhada. — comenta Thomas após sair da cafeteria.
Dinesh sentia-se tonto, apoiando a mão sobre a parede e vendo tudo girar sutilmente.
— Eu vou para casa... Não estou me sentindo bem...
— Nada disso. Você tem que ir com a gente. Afinal, é a nossa última vez como um grupo de amigos. — dizia Tomio apoiando as mãos nos ombros do Yamir e o conduzindo. — O que acha de parar na praça do outro lado para tomar um ar? A sua pressão deve ter caído por ter bebido tanto chá.
— É... Deve ser isso...
— Eu vou comprar algo para beber. — anuncia Dylan caminhando para a mercearia na esquina. — Eu não irei demorar!
Os empresários vão para a praça e Dinesh se senta no banco, abaixando a cabeça enquanto a sentia latejar. Tudo girava com maior intensidade e a sensação apenas aumentava quando Dylan aparecia com "água" – que, na verdade, era whisky. Por causa da sua capacidade cognitiva diminuída, o Yamir não conseguia entender o diálogo dos demais e nem diferenciar o gosto da bebida.
Thomas explicava com maiores detalhes o plano e Dylan engole seco, nervoso.
— Isso é meio pesado, não acham?
— É a única solução.
— Não seja covarde, Dylan. — dizia Ryan. — E o único a ser incriminado será esse miserável.
— A polícia pediu apenas que o material genético dele seja deixado. — anuncia Tomio. — Mesmo que o nosso esteja presente, eles não confirmarão nada mas, para o juiz incriminá-lo, é preciso que haja provas da participação do Dinesh.
— Se vocês dizem... Quando o plano entrará em ação?
— Quando a cafeteria fechar, seja paciente.
Dinesh respirava pesadamente, levantando-se com dificuldade e ouvia as instruções confusas de Tomio. Ele pediu para correr até a garota do outro lado da rua e pedir uma informação importante. O Yamir concordou com a cabeça, seguindo a sua ordem ainda vendo tudo girar. Quanto mais se aproximava da jovem, mais rápido ela corria.
Que estranho, pensava.
Os outros quatro já estavam em seus devidos postos, ajudando-o na perseguição contra a funcionária da cafeteria até ela estar em um beco escuro, sem saída. Dinesh acompanhava os demais, apoiando a mão na parede e abaixando o olhar, resmungando de dor. Ele podia ouvir alguns gritos indecifráveis mas o som parecia distante demais.
O ambiente onde se encontrava não parava de girar e a sua visão estava embaçada. Quando ouvia o Tomio chamá-lo, virava o rosto em sua direção e visualizava uma cópia do seu amigo. Dinesh ria bobo apontando para ele.
— O seu clone é tão feio quanto você!
— Hã? Clone? — ele nega com a cabeça. — Esquece. Eu preciso que me ajude a segurar.
— Segurar quem?
— A nossa presa.
— Presa? Estamos caçando no meio da cidade?
— Sim, seu filho da puta. Agora, ajude-me.
Dinesh dava nos ombros ainda rindo, segurando no braço do "animal" que se debatia e gritava. Ele não conseguia focar no som ou na imagem distorcida à sua frente, pois só imaginava a bronca que receberia ao chegar em casa naquele estado. Thomas o chamava para se localizar mais para o lado enquanto, à contragosto, Ryan tentava tirar a calça do Yamir.
Contudo, o rapaz pegava o Ryan pelas mechas do seu cabelo e o encarava com um vazio no olhar.
— Está ficando maluco?
Infelizmente, a tontura o atingiu de novo e Dinesh sentou-se no chão, apoiando ambas as mãos nos ouvidos. Durante esse tempo, alguém tinha aparecido para impedi-los mas foi ameaçado por uma faca que Dylan carregava. Então, essa pessoa saiu correndo tão rápido que o Yamir mal notou o seu rosto. Ele se encolheu mais ainda, escondendo-se entre as pernas enquanto sentia reviravoltas no estômago.
— O miserável não vai conseguir. — resmunga Dylan ainda segurando a garota.
— Que merda de droga é essa?!
— Você que me pediu a mais forte, Thomas. — dizia Ryan. — Não me culpe.
— Eu pensei que não faria todo esse efeito no Dinesh, já que ele deve usar outras drogas também.
— Eu acho que houve um equívoco aqui. Se está causando esse efeito, quer dizer que o Dinesh não usa nada. — conclui Tomio. — E agora, o que faremos?
— Já começamos essa droga e temos que terminar. — dizia Ryan abrindo um sorriso malicioso em direção à garota. — Afinal, ela é bem gostosa.
Os demais se entreolham e dão nos ombros, começando a rasgar as roupas dela.
Os sons ao redor incomodavam o Yamir ao ponto de fazê-lo se encolher, como uma criança assustada. O homem não fazia ideia do que estava acontecendo, mas forçava o máximo possível a sua mente para processar as informações. Em determinado momento, sentiu alguém o segurar pelos ombros, levantando seu corpo de forma brusca. Ele ergueu o olhar para o rosto preocupado de Tomio que, diversas vezes, estalava os dedos em sua frente.
— Será que ele terá uma overdose?
— Não seja exagerado. — dizia Ryan. — Esse desgraçado não morrerá tão fácil. É como dizem, "vaso ruim demora a quebrar".
— O que faremos agora? O Dinesh não colaborou com o estupro.
— Ainda podemos fazê-lo cometer outro crime, usando a sua natureza violenta. — dizia Thomas tirando uma agulha do bolso. — Além de que precisamos tirá-la daqui já que fomos vistos.
Então, o homem invejava a agulha no braço da jovem que não parava de chorar até desmaiar devido à droga contida no recipiente. Ryan a pegava nos braços, iniciando uma caminhada para o velho galpão da empresa dos Yamir's, um lugar deserto e abandonado. Com certa dificuldade, Dylan e Tomio carregam Dinesh envolvendo os braços dele sobre seus ombros.
— Para onde... Estão me... Levando...?
— Fica quieto e colabora.
(...)
Dinesh apoiava a mão sobre a cabeça, olhando para Tomio com confusão em seu semblante. O seu amigo o entregou uma barra de ferro enquanto Thomas se aproximava. A jovem já se encontrava acordada, estando de joelhos e com os braços amarrados por correntes. As suas roupas rasgadas mostravam o quão machucado seu corpo estava. O sangue do ato ainda estava entre suas pernas e os soluços dela ecoavam por todo o galpão vazio.
— Por favor, tirem-me daqui! Eu prometo não contar isso à ninguém, mas eu imploro para que me deixem sair!
Antes do Yamir perguntar algo, Thomas aparecia na sua frente o segurando pelos ombros.
— Essa garota é a sua inimiga! Ela estava tramando tomar a empresa do seu pai e nós descobrimos. Você também precisa saber que está diante da causadora do seu término com a Shanti, a morte do seu pai e o afastamento da sua família.
— O que...
— É tudo um plano dela!
— Está maluco, Thomas? — murmura Dylan confuso. — Ele não acreditará nessa idiotice.
— Com o nível de drogas em seu sangue, não há nada em que ele não acredite.
Dinesh alternava o olhar entre todos presentes, principalmente a jovem amarrada, e depois focava na barra de ferro em suas mãos.
— Só você é capaz de se vingar! — exclama Thomas. — Ou continuará sendo um covarde que brinca de ser empresário? Eu pensei que resolvia os seus problemas com violência!
— Isso! Mostre quem você é de verdade, Dinesh! — dizia Ryan.
— Prove que consegue liberar toda essa fúria. — Dylan incentiva.
Os olhos negros do Yamir continuavam fixos na barra de ferro, apertando-a com tanta força que as veias de seu braço tornavam-se visíveis. Ele pensava em todo o sofrimento causado durante a sua vida e, claramente, queria culpar alguém. Contudo, olhou para a jovem aos prantos e totalmente destruída... Assim como ele. Então, largou a barra de ferro e caminhou lentamente em sua direção com um olhar carregado de arrependimento. Mesmo recebendo palavras de incentivo, a sua única vontade era ajudá-la a sair desse inferno.
Rapidamente, Ryan pôs-se na sua frente o empurrando em direção à saída do galpão. A sua última visão naquele momento foi um olhar carregado de ódio vindo da jovem, a qual jurava vingança contra todos presentes.
— Não me toque, seu lixo! — exclama Dinesh dando um soco nele. — O que fizeram com essa garota? Espera, o que eu fiz...?
Naquele momento, Thomas tinha uma ideia para que o seu plano desse certo.
— Você a estuprou, Dinesh.
— O que?! Como...? Eu...
— Você estava tão drogado que não notou, não é? Eu sempre soube que era um monstro, mas nunca à esse ponto. Eu espero que fique de bico calado senão todo o esforço do seu pai será jogado fora.
Dinesh era empurrado para fora do galpão caindo sentado e Dylan fechava a enorme porta. O Yamir permaneceu parado com um olhar de completo desespero, encolhendo-se enquanto sentia o corpo ter vários calafrios. Logo, ele se levantava vomitando todo o seu jantar em um arbusto perto de onde se encontrava.
O que eu fiz?!
Sendo tomado pelo desespero, apenas um nome vinha em sua mente. Então, ligou para o Kiran sentindo as mãos trêmulas e as náuseas voltarem.
— Kiran, Kiran...
— O que houve, Dinesh?
— Eu não queria ter feito aquilo... Eu... Por favor, ajude-me, bhai...
Kiran encontrava-se confuso e exigiu uma explicação, mas Dinesh só pôde lançar suas lamentações e dizer a localidade do galpão, apesar do seu irmão mais novo conhecer a região. Após desligar a chamada, apoiou as costas na parede e caiu sentado sentindo a cabeça latejar mais uma vez.
Ele mal percebeu quando seu irmão chegou, fazendo diversas perguntas e entrando no galpão preocupado. Dinesh fechava os olhos com força, sentindo-se o maior monstro do mundo. À partir daquele momento, sabia que o mínimo de bondade em seu coração havia morrido junto com tamanho ato cruel contra uma vida inocente.
Quando Kiran retornou com a jovem em seus braços, depois de usar suas habilidades em Jiu Jitsu para nocautear os quatro empresários dentro do galpão, lançou um olhar de reprovação para o seu irmão mais velho.
— Pegue o carro e volte para casa. Nós iremos conversar quando eu voltar.
— Perdão, eu...
— Não há perdão para o que houve.
Kiran saía com a garota em seus braços, deixando-o sozinho com seus próprios pensamentos sufocantes.
(...)
Dinesh havia vomitado duas vezes quando chegou em casa, evitando fazer barulho pois as pessoas presentes dormiam. Em seguida, andou de um lado para o outro no escritório suando frio. Aos poucos, recobrava a consciência mas a sua cabeça continuava a doer além de que era alvo de vários pensamentos negativos.
Por mais que desejasse ser discreto, Kiran apareceu chutando a porta com um semblante sério.
— Você é desprezível, Dinesh! Estupro, sério? Que tipo de monstro você se tornou?!
— Eles me manipularam! Quando avistaram a garota na cafeteria, começaram a comentar sobre a sua beleza e eu acabei entrando no jogo deles! — mentia pois se via incapaz de dizer que havia sido drogado porque, na verdade, não sabia o que tinha acontecido.
— Para o inferno! Virou um influenciado, agora?
Dinesh puxava os fios de seu longo cabelo, fitando um ponto qualquer com o mesmo semblante desesperado de antes.
— E se eles te incriminarem, Dinesh? Você perderá a liderança da empresa! Olha, é melhor você se entregar e...
— Não! Eu não posso me entregar e jogar todo o esforço no lixo por causa de um erro. E sei que eles não me entregarão porque também foram partícipes nesse crime, ou seja, há vestígios deles no galpão.
— Sério que essa é a sua única preocupação?
Kiran segurava o seu irmão pela gola da camisa, dando um forte soco em seu rosto o fazendo cambalear para trás. Antes do Dinesh reagir, recebia um chute batendo as costas na mesa e resmungava de dor. Por mais que o mais novo desejasse continuar a golpeá-lo, precisava controlar a sua raiva.
— O que faremos?
— Precisamos matá-los. — Dinesh diz ficando de pé com certa dificuldade, apoiando a mão na mesa.
— Está maluco? Matar pessoas? Quer chegar a esse nível?
— Não preciso sujar minhas mãos de sangue. — comenta focando no Kiran. — Não mesmo.
— Espera, eu não posso fazer isso!
— Quer ver o legado do baldi se afundar por causa de quatro desgraçados, Kiran?
— Não, mas matar é errado.
— Deixe-me pensar em um plano...
Dinesh apoiava a mão no queixo, dando voltas pelo escritório enquanto Kiran senta na poltrona de couro preta, pensando se a garota que resgatou estava bem após deixá-la em casa e entrar em contato com uma equipe médica.
— Por favor, Sakura, fique bem... — murmura para si mesmo.
— Sakura? Quem é Sakura?
— Ninguém que você deva saber, Dinesh.
— Nada disso. Nunca te ouvi falar o nome de uma garota. É alguma garota do colégio? Não me diga que está apaixonado por ela?!
— Não, não estou! Que tipo de mudança de assunto é essa? Aliás, a Sakura é a garota que você...
No final, Kiran usa o silêncio como resposta vendo-se incapaz de terminar a frase.
Dinesh suspira cabisbaixo com o olhar carregado de arrependimento, pelo menos por uma fração de segundos já que se mostrava eufórico depois.
— Isso! Podemos usar a Sakura!
— Oi?
— Quando ela estava sendo atacada pelos demais, pude ver o ódio em seu olhar. Essa garota nunca mais será a mesma, tenho certeza que deseja vingança.
— E...?
— Você pode apoiá-la na vingança, Kiran! Eu te forneço o dinheiro necessário para isso, não se preocupe.
— O que deu em você? Ela precisa de acompanhamento psicológico e boas pessoas ao seu lado, não da droga de uma vingança.
— E eles precisam de alguém para fazer justiça. Com toda certeza, você é a pessoa que poderá influenciá-la com a vingança, só precisa ganhar a confiança dela.
Dinesh segurava o rosto dele com firmeza o fitando profundamente.
— Ela ficará feliz ao saber que alguém a apoia em sua vingança. Você pode ser o feixe de luz na vida dela, Kiran. É a sua chance de provar que não é defeituoso, prove que também é capaz de trazer sorte para a família.
Então, ele começa a explicar como ajudará financeiramente na vingança com o capital reserva da empresa. Dinesh também falou que forneceria as informações necessárias sobre os sócios, por ser o dono da empresa tinha acesso ao banco de dados sigiloso.
Dinesh não desejava usar o seu lado manipulador, aproveitando da inocência do Kiran para conseguir se safar dessa situação. Contudo, ele tinha plena consciência que acabara de ser usado por Thomas Adams e a única saída era agir com as mesmas cartas, mesmo que isso implique em manipular a própria família.
No final, Kiran concorda – à contragosto – com o plano mas, antes de sair da sala, viro o rosto em direção ao irmão, vendo o homem fitar a cidade com as mãos nas costas.
— Ei, Dinesh.
— Sim?
— Eu serei um monstro se fizer isso?
Dinesh abre um sorriso torto e dá nos ombros.
— E quem não é, hoje em dia?
Dito isso, Kiran saía do escritório sentindo um inexplicável aperto no peito enquanto Dinesh suspirava pesadamente. Ele não sabia ao certo o que havia acontecido no meio tempo em que esteve drogado, mas se recusava a ficar de braços cruzados diante de tamanha atrocidade.
Naquele dia, ele decidiu que iria matar indiretamente cada um dos empresários envolvidos no estupro e isso também incluía à si mesmo.
— Por favor, Sakura, venha até mim e mate-me quando for a hora...
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