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Capítulo 22

"Quem já não se perguntou: sou um monstro ou isso é ser uma pessoa?" - Clarice Lispector


O líder do setor comercial explicava, apontando para os gráficos, a situação atual da empresa enquanto Dinesh mexia no notebook vendo as notícias recentes. A empresa de Thomas Adams havia perdido uma parte considerável do seu poder econômico e, atualmente, se encontrava em um momento delicado pois alguns funcionários decidiram processar o presidente por violação de direitos trabalhistas. Em suma, o plano do Yamir tinha dado certo e os resultados seriam degustados com o maior prazer.

Bem feito, seu filho da puta, pensava.

— Sai do mundo da Lua e volte para a reunião. — murmura Masaichi, vice-diretor, apreensivo.

— Foi mal, cara.

— Então, o que acha da proposta, senhor Yamir?

— Ah... Muito boa.

— Sério? — o homem tinha brilho no olhar e o Yamir confirma com a cabeça. — Eu fico feliz! O investimento nessa região irá aumentar em 5% os nossos lucros.

— Uma boa ideia, afinal precisamos de capital reserva após a crise na América. — pontua Masaichi.

— Senhor Tsuchida, entregue-me um mapa de todas as regiões do Japão onde precisam de joalherias. Eu quero que analise o padrão de vida das pessoas nos bairros próximos e faça uma relação de custo-benefício.

— Certo, senhor Yamir!

Dinesh levava a xícara de chá aos lábios, voltando a analisar as notícias durante a reunião. Por ter concluído todas as etapas do seu plano, encontrava-se com todo o tempo livre para dedicar à empresa. Como havia saído temporariamente das aulas de Muay Thai na semana passada, podia descansar aos finais de tarde. Contudo, ainda mantinha um certo afastamento da sua família; não por opção própria, mas porque o Kiran o repudiava com todas as forças. Mesmo sendo uma situação delicada, Dinesh compreendia o ódio do irmão porque por muito tempo o menor foi tratado como lixo por ele, então esse forte sentimento negativo criou um abismo entre ambos.

— Nós temos uma Congresso importante na França. — comenta Masaichi. — O Ryan Mitchell estará lá, pelo visto.

— Sério? Que merda.

Miyuki aparecia dando leves batidas na porta e pedindo educadamente para entrar. Ela se aproximava empurrando um carrinho com café e biscoitos, distribuindo para todos presentes na sala. Além dos líderes dos setores e o responsável pela contabilidade, também havia alguns sócios de outras empresas da Ásia. Mesmo diante de pessoas importantes, o coração da secretária estava acelerado por se encontrar perto do Dinesh. Depois do beijo que tiveram há um mês atrás, tudo voltou ao normal e isso a desanimou demais.

No fundo, esperava que esse gesto tivesse significado algo para ele.

— Deverá controlar a sua língua durante esse Congresso, Dinesh. — aconselha um dos sócios. — É onde os maiores empresários do mundo se encontram e, também, é a nossa chance de ganhar destaque.

— Eu não falo tanto palavrão, caralho.

Todos na sala o lançam um olhar sugestivo e o Yamir resmunga em hindi, gesticulando para que prosseguissem com o assunto. Enquanto isso, Miyuki enchia novamente a xícara do seu chefe com chá e aproveitou para fitar o seu rosto. As olheiras haviam diminuído e seu aspecto parecia mais vívido, sinal de noites bem dormidas. Dinesh virava a cabeça em sua direção, fazendo os olhares se encontrarem e, rapidamente, ela se afastava passando o carrinho para o outro lado da mesa.

O Yamir não pôde esconder o sorriso de satisfação até o comentário de Masaichi o afastar de seus pensamentos.

— A Miyuki irá com a gente, não é?

— Hã? Eu?

— Claro, ela é a minha secretária e deve me acompanhar.

Mais uma vez, o rosto dela ficava vermelho e engolia seco.

— Será bom ter uma companhia feminina. — comenta a responsável pela publicidade com um sorriso simpático. — Esses homens são um pé no saco quando estão estressados.

Miyuki riu boba com o comentário, depositando uma xícara de chá ao lado da mulher.

— Você precisa dar um jeito no seu cabelo, Dinesh. Se você o cortar, ficará bem melhor. — diz um sócio.

— Eu não quero.

— Mas ele não lhe serve para nada.

— Se formos seguir essa lógica, devemos cortar o seu pau. Afinal, ele é vencedor no quesito de inutilidade.

— O que disse?!

— Vamos nos acalmar. — pedia Masaichi e depois dava um tapa na nuca do Dinesh.

— Ai!

— Parece uma criança. Que coisa! Pois bem, vamos nos organizar para a viagem na próxima semana e pensem bem em como tratar os investidores no Congresso. Se tudo der certo, podemos alcançar o topo no futuro.

Os demais concordam com ânimo e se despedem, lançando olhares de reprovação para o Yamir, até Masaichi fazia uma expressão semelhante. Mesmo dando o seu melhor pela empresa, o temperamento explosivo do mais jovem retirava toda a sua carisma. Quando Miyuki daria o primeiro passo para fora da sala, a mão do Dinesh bloqueava a sua passagem fechando a porta. Então, ela erguia a cabeça em sua direção já começando a suar frio. Pela aproximação de ambos, podia prever que outro beijo aconteceria e não escondia a ansiedade em seu olhar.

— Senhorita Sato.

— S-Sim?

Ele se aproximava mais ainda ao ponto de ter poucos centímetros separando seus lábios dela. Nesse momento, Miyuki já estava com os olhos fechados e corada.

— Eu quero que fique encarregada na reserva do hotel e do restaurante. Nós passaremos somente dois dias em Paris, então não economize em luxo.

A jovem abriu os olhos sem esconder a frustação no olhar.

— Ah... Claro.

— Obrigado.

Então, ele deixava a mulher esperançosa sozinha na sala seguindo em direção ao seu escritório. Durante o caminho, ouviu murmúrios de alguns funcionários vindo do corredor e decidiu espionar. Dinesh não era uma pessoa curiosa, fazendo pouco caso da vida alheia, mas o seu nome havia sido citado na conversa e viu-se no direito de ouvir.

— Eu não sei como a empresa não faliu ainda. — comenta um homem.

— Boa pergunta. O senhor Yamir está nos afundando cada vez mais com a sua arrogância.

— Não me surpreende. Ele é um tipo de monstro sem coração, aposto como ficou feliz com a morte do pai. — dizia uma mulher segurando sua xícara de café em mãos e, depois, olhava para os lados desconfiada. — Isso se ele não causou a sua morte...

— Sério?

— É o que andam comentando no RH. Eu não duvido de nada vindo desse homem e vocês?

Os outros dois homens negam com a cabeça e um decide comentar:

— E o sorriso frio dele, vocês já viram?

— Sim, me dá medo. — dizia o amigo.

— É nojento. — resmunga a mulher. — Sinto como se estivesse trabalhando para o diabo.

Dinesh ouvia tudo com as costas apoiadas na parede e braços cruzados. Por estar com a cabeça baixa, as longas mechas do seu cabelo ocultavam a expressão dele.

— Eu aposto que ele pedirá nossas almas. — brinca o funcionário.

— Eu não duvido nada! Bem, não temos para onde ir, então o jeito é continuar aqui.

— Ah, mas eu sinto falta do Raj. — um deles comenta em tom nostálgico. — Ele era tão gentil.

— Sim, um chefe de verdade diferente desse desgraçado.

O Yamir optou por sair dali e não revidar as acusações, mesmo que por causa do esforço dele nenhum funcionário foi demitido em tempos de crise. Dinesh e Raj tinham abordagens diferentes em relação aos seus trabalhadores, por isso era difícil comparar a administração de ambos.

Como o requisitado, Miyuki reservou o hotel e o restaurante com antecedência, ligando para os sócios e demais funcionários para coletar os dados pessoais. Em seguida, se dirigiu para o escritório do seu chefe anunciar o seu feito – porque o telefone estava quebrado – e deu leves batidas na porta, não obtendo confirmação. Então, entrava mesmo sem permissão deparando-se com seu chefe transando com a secretária de Tomio Hitsutada, Allison Bailey, em cima da mesa.

— Mas o que...!

— Oh, senhorita Sato. Algum recado a dar? — perguntava calmamente sem interromper o ato.

— Eu... Ahm... Reservei as vagas no hotel e restaurante... — dizia desconfortável virando o rosto para o lado. — Como o senhor pediu...

— Ótimo. Só isso?

— Sim.

— Pode sair.

Inconformada, ela batia a porta com força enquanto voltava para a sua mesa. Na hora do almoço, devorava o seu misshoshiro – sopa com tofu, soja, cebolinha e hondashi – ignorando os olhares curiosos de suas amigas. Claramente, a jovem comia na "força do ódio".

— Caiu da cama, Miyuki?

— Não, Erika.

— Não é o que parece.

— É que eu odeio o senhor Yamir, só isso!

As três se entreolham confusas até Ume comentar:

— Odeia não estar sentando nele?

— Ah, cala boca!

— Conte-me o que houve. — pedia Suyen preocupada.

Então, Miyuki admitia os seus sentimentos pelo chefe e contava sobre o breve beijo que tiveram no hotel antes dele se despedir da Shanti. Porém, para a sua tristeza interna, também falou sobre o fato de tê-lo encontrado transando com a secretária de outra empresa e como fez pouco caso da sua presença no momento.

— Puta que pariu! — exclama Suyen.

— Eu não acredito. —murmura Erika.

— Eu sei, o que ele fez comigo foi ridicu-...

— Ele te beijou! — dizia Ume chamando a atenção de todos no refeitório.

— H-Hein?

— Que inveja.

— Queria estar no seu lugar.

— Como assim, meninas? Eu acabei de contar que ele está transando com outra enquanto flertou comigo e vocês só pensam no beijo?

— Prioridades, Miyuki.

— Eu não sei se abraço vocês ou encho de tapas.

— De qualquer forma, não pode culpar o gostoso do chefe. — dizia Ume.

— Sim, ele é solteiro e não disse que vocês tinham algo. — afirma Suyen.

— E o beijo?

— É só um beijo, Miyuki.

— Mas, Erika...

— É um gesto que não significa muita coisa nos tempos atuais, você precisa entender isso.

— Eu não acredito que estão defendendo esse babaca. — resmunga cruzando os braços.

— Se quer sentar no seu chefe, precisa conquistá-lo.

— Isso é ilógico. Ele vive entre as pernas de outras mulheres com tanta facilidade, por que eu preciso desse esforço se o senhor Yamir não tem iniciativa comigo?

— Já parou para pensar que ele não te tocou ainda porque te considera especial? — deduz Suyen.

— Bobagem.

— Não, a Suyen está certa. Eu não consigo ver outra explicação para isso. — comenta Erika. — Por mais canalha que o gosto-... o senhor Yamir seja, ele te respeita e nunca ousou te tocar sem a sua permissão.

— É verdade... — Miyuki concorda à contragosto. — Mas por que tanta frescura? Será que ele não suspeita dos meus sentimentos?

— Isso depende da forma como age perto dele.

— Ele te deu uma indireta dizendo que se apaixonaria por alguém que o aceita como é. — dizia Ume.

— Ou seja, você. Então, ele te deu essa brecha, deve aproveitá-la para colocar o plano de conquistá-lo em ação.

— Eu nem sei como fazer isso!

— Deixe de negativismo! —resmunga Suyen. — Nós te passaremos as instruções necessárias.

— Isso, confie na gente!

— Eu não sei se isso me assusta ou me incentiva...

Elas riam dando leves tapinhas nas costas da amiga. Nesse ritmo, seguiu-se o intervalo antes da retomada do trabalho.

Miyuki andou de um lado para o outro nervosa, tentando controlar a sensação sufocante em seu peito. Mesmo assim, precisava dar um recado importante e deu as batidas na porta, obtendo a confirmação segundos depois. Logo após, entrou no escritório com certo receio de presenciar outra cena imprópria, mas encontrou o Dinesh analisando alguns papéis com um semblante sério. Ele ergueu o olhar em sua direção, afastando o cigarro dos lábios para perguntar:

— Sim, Senhorita Sato?

— O s-senhor tem uma reunião em quinze minutos, eu vim avisar porque os preparativos já foram feitos e o senhor Takeda pediu para avisá-lo.

— Tudo bem, obrigado. — respondia com um breve sorriso, voltando a analisar os papéis. — Pode se retirar.

A jovem respirou fundo, reunindo um pouco de coragem em seu coração.

— Senhor Yamir, sobre o que houve em Déli, eu...

Porém, um resmungo do seu chefe interrompeu a sua fala e ela o fitou confusa, vendo-o morder fraco o lábio inferior enquanto amassava a folha de papel em suas mãos.

— Melhor ir, senhorita Sato. Nós conversaremos depois.

— Como quiser...

Dinesh esperou a sua secretária se retirar para soltar o preso em seus pulmões, abaixando o olhar para a Allison debaixo da mesa entre suas pernas, chupando-o com ânimo. Um sorriso de canto desenhou-se nos lábios do Yamir, admirando a visão enquanto repousava a mão sobre a nuca dela.

— Você ouviu o que ela disse, só temos quinze minutos. Então, seja rápida.

(...)

Os afazeres na empresa consumiram muito o tempo de todos, ao ponto de nem notarem como os dias passaram rápido e, agora, estavam na viagem à França. Miyuki reservou o melhor hotel da região, onde teriam uma boa vista da beleza de Paris. O quarto do diretor, sócios e funcionários de importância eram totalmente bege, desde o tapete macio até as cortinas listradas com marrom. Os móveis, como mesinha e poltrona, apresentavam um estilo mais rústico, remetendo à la belle époque. Ao lado da cama king size, encontrava-se um criado mudo e um abajur, ambos de tonalidade clara. O lustre com cristais no teto ganhava destaque e tornava o ambiente mais luxuoso.

Em contrapartida, o quarto de Miyuki era mais simples e moderno. O pequeno tapete marrom na extremidade da cama era macio, além de combinar com os detalhes de madeira nas paredes. A cortina transparente suavizava a aparência do local, dando total vista para a varanda onde é possível ver a cidade. Ao lado da cama havia um simples arranjo de flores e uma luminária pequena.

Por mais que o cansaço da viagem e o conforto de seus quartos o atraíssem para o local, eles precisaram se dirigir para o Palácio do Congresso onde ocorreria o evento. Miyuki arregalou os olhos surpresa com o tamanho da estrutura e a arquitetura moderna que a compunha. Os deputados autorizaram a reunião em um dos auditórios, por isso o fluxo de pessoas naquele dia estava duas vezes maior. A maioria trajando o típico terno e algumas mulheres optaram por vestidos mais compostos.

Dentre todos, com certeza Dinesh chamava atenção por causa do longo cabelo solto e os brincos de argola em suas orelhas. Mesmo sendo alvo de olhares, tanto positivos quanto negativos, o homem fazia pouco caso. A sua maior preocupação no momento era esbarrar com Thomas Adams ou um de seus funcionários nesse congresso.

Ao se direcionarem para o auditório, tomaram seus respectivos lugares em uma das cadeiras vermelhas. Miyuki olhava ao redor tentando se adaptar ao ambiente luxuoso, pousando um bloco de notas sobre o colo. Por estar ao lado do Dinesh, o perfume dele impregnava as suas narinas o que tornava difícil a tarefa de se concentrar.

Quando o primeiro palestrante subiu no palco e foi recepcionado com uma chuva de aplausos, a jovem vira o rosto em direção ao seu chefe, perguntando:

— Espera, eles irão traduzir somente em inglês?

— Espanhol e italiano também, por que?

— Eu não vou entender nada.

— Eu sei.

— Então, por que me pediu para acompanhá-lo até Paris?

— Porque eu queria uma boa companhia.

Miyuki encontrava-se dividida entre a alegria e o receio, pois Dinesh era bom jogando com palavras e manipulando as pessoas.

Como o esperado pela secretária, ela não entendeu nada do que os palestrantes falaram mas estava feliz por compartilhar um momento assim ao lado do homem que nutria sentimentos. Dinesh alternava o olhar para o palco e o celular, mandando mensagens para Allison e tal fato não passou despercebido por Miyuki. Ela sentiu um desconforto interno com a interação dos dois e aproveitou o intervalo para ir ao corredor, onde serviam alguns petiscos e bebidas.

— Aquele idiota, vive flertando descaradamente... — resmunga enchendo o seu copo com água. — Será que é cego ou finge ser?

As pessoas passavam por ela achando-a uma maluca por falar sozinha, mas a jovem estava absorta demais em suas próprias reclamações para dar importância à opinião alheia. Porém, alguém parava ao seu lado pegando um doce sobre a mesa enquanto conversava com um colega.

— Eu não acredito que eles conseguiram reservar esse lugar.

— Não é para menos, Ryan. As pessoas mais importantes se encontram aqui.

Um calafrio percorreu o corpo dela ao reconhecer as vozes, encontrando-se paralisada e torcendo internamente para não ser reconhecida. Ela tentou sair de forma discreta mas sentiu uma mão em seu ombro, sendo forçada a virar o rosto em direção ao homem: Dylan Hall.

— A senhorita sabe onde fic-... Ei! Eu te conheço, você é a dançarina daquela boate!

— É ela mesmo! — confirma Ryan surpreso, aproximando-se dela a vendo recuar. — Sabe da confusão que causou?

— Não vá brigar aqui, será burrice e ainda vai sujar a nossa imagem.

— Foda-se, Dylan! Por causa dela, aquela confusão foi instaurada. — reclama segurando o braço da jovem com força, puxando-a contra o seu corpo. — Eu acho que você nos deve um pedido de desculpas, sua puta de quinta categoria.

Apesar do medo, Miyuki estava cansada de ser tratada daquela forma e deu um chute entre as pernas do rapaz com toda a sua força, usando o bico do sapato alto. Ryan gritou de dor encolhendo-se com a mão sobre a região atingida, soltando a secretária como um movimento involuntário. Ela recuou dando as costas pronta para iniciar uma corrida, mas um homem alto e careca interceptou a sua passagem.

— Temos uma ovelha indefesa aqui. Interessante, não acham?

— Você a reconhece também, Thomas?

— Eu sou péssimo com rostos mas esse... — ele passava a ponta dos dedos sobre a bochecha dela. — ... eu tive o prazer de recordar. Então, o que faz aqui?

— Não é da sua conta!

— Que atrevida.

— Vocês acham que podem intimidar só porque são ricos, mas vão para o inferno com essa merda de dinheiro! Eu não vou me rebaixar novamente por pessoas assim.

— O que te faz pensar que possui dignidade agora? — pergunta Thomas.

— Eu sempre tive, mas pessoas arrogantes como vocês pensam o contrário.

— Muito corajosa, eu devo admitir.

Ela tentava encontrar brechas mas o corredor estreito e, infelizmente, vazio a impedia de qualquer movimentação.

— O que faz aqui? — questiona Ryan após recuperar o fôlego do golpe. — Não me diga que virou prostituta de um empresário? Eu sabia!

— Nada disso!

— É a única explicações lógica para alguém como você estar aqui.

Thomas a encarava de cima à baixo com uma expressão duvidosa.

— O Ryan está certo, senhorita. Putas não costumam ficar em lugares assim, deveria saber.

— Ela teve sorte que encontrou alguém para bancá-la. — comenta Dylan. — Vamos voltar, a próxima palestra será interessante.

— Acha mesmo que irei voltar depois de encontrar essa miserável, causadora de tanta discórdia naquele dia?

— Você guarda muito rancor, hein...

— Façam o que quiserem com ela. — dizia Thomas calmamente. — Eu devo admitir que estou um pouco irritado com essa jovem por causa daquela confusão.

— N-Não permitirei que me toquem!

— Nós estamos em maior número e seremos rápidos. — anuncia Ryan.

— Será pior se dificultar as coisas. — comenta Thomas. — Principalmente porque nós temos poder suficiente par-...

A fala do homem é interrompida quando alguém apoia o braço em sua cabeça, fazendo-o erguer o olhar em direção a essa pessoa. Ryan e Dylan o acompanham ficando surpresos com a presença dele naquele local. Dinesh abria um sorriso frio, ainda apoiando-se no seu maior adversário: Thomas Adams.

— Eu estou começando a acreditar no destino, pois estamos unidos novamente. Ou seria apenas um imã de filhos da puta? Afinal, é muita coincidência todos estarem juntos.

— O que faz aqui, Dinesh?!

— O mesmo que vocês, eu suponho. — ele dizia focando na sua secretária enquanto empurrava Thomas para o lado. — Vem cá.

Miyuki não pensou duas vezes em correr até o rapaz, escondendo-se atrás dele sem esconder o evidente medo.

— Agora eu não estou entendendo nada.

— Não me surpreende, Ryan. A inteligência nunca foi o seu forte, por isso sua empresa está falindo.

— Meça bem suas palavras, Dinesh!

— E fará o que? Vai me destruir com o seu poderzinho de merda? Eu quero ver tentar.

— Controle-se. — adverte Thomas. — Nós não viemos aqui brigar.

A risada seca do Yamir deixa todos os demais em alerta e até mesmo Miyuki treme com tamanha frieza.

— O que essa prostituta fez com voc-...

— É a minha secretária, Ryan.

— Desde quando uma puta pode virar secretária?

— Eu não sei. Desde quando uma puta pode se tornar uma mãe tão incompetente ao ponto de ter um filho fracassado como você? — dizia Dinesh ironicamente. — Eu precisarei perguntar à sua mãe, é um bom questionamento.

— Essa eu não deixava... — murmura Dylan.

— Brincando de ofender a mãe, Dinesh? Você já foi melhor.

— Eu brinco de foder a sua mãe, sobre ofender eu prefiro me referir unicamente à você. — comenta dando alguns passos em direção à Ryan mas Miyuki segura a mão dele, impedindo-o de avançar. Ao analisar o seu semblante preocupado, respirava fundo recuando. — Escapou de um dente quebrado, miserável.

— Quer brigar? Só vem, filho da puta!

Dinesh ria jogando o longo cabelo para trás.

— Sério? Não sei se admiro a sua coragem ou se te levo para a NASA fazer experimentos, será o primeiro animal com o Q.I mais baixo do mundo.

— Vamos acalmar os ânimos. — aconselha Thomas. — Brigas não nos levarão à nada. Dinesh, nós só queremos saber o que essa prost-... jovem faz com você.

— É a minha secretária, eu já disse.

— Contratando putas como secretária? Essa nova. — comenta Dylan rindo. — O que deu em você?

— O meu novo "eu" tem um limite de tolerabilidade, não abuse.

— Sinceramente, você ficou maluco. — dizia Ryan caminhando até estar frente à frente com o rapaz. — Primeiro, gasta um puta dinheiro por causa dessa vadia e depois a contrata para ser a sua secretária. O que deu em você, Dinesh? Por acaso não sabia o que fazer com o dinheiro e a mulher? Eu faria bom uso deles! Ia gastar toda a grana com ações e foderia essa puta todos os dias.

Miyuki apertava a camisa do Yamir sentindo as lágrimas em seus olhos. Ela nunca encontrou pessoas tão frias e insensíveis em toda a sua vida. Porém, ao contrário da jovem, Dinesh não demonstrou ser intimidado pelas palavras do seu ex-amigo.

— E sabe o que eu poderia fazer com você, meu caro Ryan?

— O que?

— Eu iria destruir toda a sua empresa em um estalar de dedos, acabar com seu poder de merda e depois anunciaria o seu pecado para todos. Você seria preso e levado para a cadeia, onde viraria a cadelinha deles. — dizia em um tom intimidador, abaixando o rosto olhando no fundo dos olhos dele. — E a sua querida esposa ficará com todos os bens, todo o fruto do seu esforço, se bem que ela merece mais do que um lixo como você. A senhora Mitchell faria bom uso da grana enquanto, na prisão, eles irão te estuprar dia após dia, deliciando-se com seus gemidos de uma puta revoltada.

— H-Hein?

— E não acaba por aí. — Dinesh o interrompe envolvendo a mão no pescoço dele, exercendo uma certa pressão na região. — Irão te arregaçar até sangrar, comeria o próprio vômito e dormiria sobre os seus malditos excrementos. E eu juro que faria o possível para que nunca saísse desse inferno. Afinal, demônios como você precisam estar em seus devidos lugares.

— V-Você é doente...

— Eu sou uma pessoa justa diante de um doente que toca em uma mulher sem o seu consentimento.

— M-Mas ela...

— Sem "mas". Se você ousar tocar um dedo nela, eu juro que será a última coisa que fará nessa e em todas as suas próximas vidas.

— Eu disse para não se exaltar, Dine-...

— Calado, Thomas! — exclama jogando Ryan contra a parede e o soltando. — Não se preocupe, eu estou me controlando muito bem.

— Então...

— Então não fiquem no meu caminho e muito menos questionem as minhas escolhas. — comenta puxando Miyuki pela cintura, colocando-a contra o seu corpo. — Nós não somos amigos, por que enchem tanto o meu saco?

— Também não somos inimigos. — afirma Thomas. — Afinal, nós já atingimos os nossos objetivos, não é?

Dinesh lançava um olhar de descaso, pois sabia como o homem estava mentindo descaradamente. O objetivo de Thomas sempre foi roubar a empresa Yamir para si e não desistiria até obter êxito.

— Tentando resolver um conflito no diálogo ao invés de ameaça? Quando você se tornou tão fraco?

Mesmo ofendido, Thomas apenas sorriu de canto respondendo:

— Desafiando-me?

— Não pretendo, eu não tenho poder para isso. — mentia. — Mas não permitirei uma atitude idiota contra a minha secretária.

— Dorme com ela, Dinesh? — pergunta Dylan ironicamente. — Que patético!

— Se o assunto for a minha vida sexual, as coisas ficarão mais interessantes pois ofender vocês é muito chato. — resmunga revirando os olhos. — Eu estou diante de três filhos da puta em Paris, não poderia ser pior. E ainda preciso falar das suas atitudes deploráveis? Não entendem como estão sendo inconvenientes?

O líder deles estreita os olhos analisando as feições do Yamir. Diferente da última vez, ele estava menos agressivo e usava bons argumentos.

É o máximo que posso extrair de você, Yamir? É uma pena mas terei que ser paciente, pensava Thomas.

— Como o esperado de um grande empresário. Não se preocupe, Dinesh, nós voltaremos para nossos lugares. — comenta iniciando uma caminhada e sinalizando para os demais que, à contragosto, o seguem. Por uma fração de segundos, Thomas encarou o seu adversário por cima dos ombros com um olhar vazio. — Eu só espero que possa protegê-la melhor do que fez com seu pai. Afinal, seria uma pena se a história se repetisse.

Dinesh fechou os punhos com força, determinado a tirar satisfações com Thomas mas uma voz conhecida ecoa pelo corredor.

— A palestra já vai começar. — comenta Masaichi. — O que fazem aqui?

— Porra nenhuma.

O vice-presidente consegue visualizar as três silhuetas se afastando e encara Dinesh incrédulo.

— Você brigou com eles?

— Foi preciso.

— Eu não acredito!

— Não brigue com ele, Masaichi. — pedia Miyuki. — O senhor Yamir me protegeu daqueles homens.

— Protegeu ou lançou ofensas gratuitas?

— Um pouco dos dois.

— Dinesh, você não pode comprar briga com esses homens.

— Meio tarde para dizer isso. — comenta sarcasticamente, retomando a caminhada em direção ao auditório. — Mas não precisa se preocupar comigo, eu darei conta deles.

— Cabeça dura...

O Yamir dava nos ombros, fazendo pouco caso das palavras do seu colega e seguia em direção ao auditório. Miyuki o observava com a mão apoiada sobre o peito, sentindo um certo desconforto. Quando Masaichi dá o primeiro passo para acompanhá-lo, a mão da jovem o interrompe em sua caminhada.

— Masaichi...

— Sim?

— Eu estou com medo.

— Daqueles homens? Não fique, eles já for-...

— Não. Eu estou com medo do senhor Yamir.

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