Capítulo 17
"Eu não quero te deixar esperando
É por isso que você está me culpando, oh
Você está apenas me dando seus segredos
E eu também quero, sim." - Feel it, Michele Morrone
Os dedos ágeis do Dinesh digitavam no computador em busca de informações em sites de notícias, a fim de descobrir mais sobre Thomas Adams. Por ser uma figura conhecida no mundo dos negócios, dados sobre a sua vida pública eram facilmente encontrados. Porém, o objetivo do Yamir é destruí-lo de outra forma. Então, começou a anotar os pontos importantes sobre as matérias que lia. A notícia sobre a internação da mãe dele no asilo é mundialmente conhecida, mas os sites retratavam como uma atitude nobre do filho ao vê-la adoecida.
Mesmo que a verdade seja totalmente diferente.
Dinesh abria um sorriso frio, anotando o endereço do asilo onde a mulher, Katherine Adams, estava internada. Após obter um número de informações relevantes desse caso, ele pesquisou sobre os sócios da empresa do Thomas, procurando até mesmo os mínimos detalhes referentes à vida particular deles. Como o esperado, os empresários possuíam seus próprios "pecados" o qual o rapaz teria o prazer de fazê-los pagar por cada um deles.
Ele também não se prendeu somente ao seu plano de destruir Thomas, pois investiu na empresa analisando os contratos em relação aos materiais. Dinesh usou os seus conhecimentos na faculdade e o raciocínio lógico para firmar negócios somente com as companhias com melhor rendimento.
As batidas na porta o fizeram interromper a sua linha de raciocínio.
— Entre.
A sua secretária, Miyuki Sato, aparecia repousando alguns papéis sobre a mesa do rapaz sem antes fazer uma reverência.
— Eu classifiquei todos os documentos dos seus últimos três contratos com as companhias em ordem alfabética e redigi aquela carta para a empresa do senhor Thompson.
— Certo.
Miyuki inclinava levemente a cabeça para o lado, analisando as olheiras fundas e o cheiro de cigarro que impregnava o local.
— Você precisa tomar um ar, senhor Yamir.
— Sou eu quem decide isso.
— Que mal-humorado. — resmunga cruzando os braços. — Eu mal te vi comer nessas últimas semanas.
Dinesh erguia o olhar em sua direção, afastando o cigarro dos lábios e o repousando sobre o cinzeiro.
— Desde quando isso te interessa?
— Eu não quero que o meu chefe vire um anêmico, só isso.
Ele solta uma risada sarcástica, voltando a fazer as suas anotações.
— A minha alimentação só diz respeito à mim, senhorita Sato.
— Você é realmente complicado, hein...
— Um pouco.
— Eu trarei comida para você.
— Mas eu não pedi.
— Considere um bônus.
O rapaz franze o cenho confuso vendo Miyuki sair da sala em passos apressados. Então, retorna ao seu trabalho, ao mesmo tempo que conferia a agenda. Em um mês, teria uma viagem aos Estados Unidos e uma ideia surgiu em sua mente. De forma rápida, Dinesh ligava para um empresário de confiança do seu pai.
— Alô, senhor Mikes?
— Dinesh? Nossa, quanto tempo! Como está?
— O senhor quer saber como eu estou desde o falecimento do meu baldi ou desde que nasci? Porque ambas as respostas não são muito agradáveis.
— Pelo visto, não está de bom humor.
— Sim, mas esse não é o assunto em questão. Eu gostaria de perguntar algo.
— Pois bem, pode dizer.
— Eu sei que o senhor passou cinco anos trabalhando em conjunto com o senhor Adams, por causa de um projeto do governador do seu Estado. Então, eu acredito que conheça um pouco sobre esse homem.
— Digamos que sim, o senhor Adams não é do tipo que fala muito de si.
— Por mais que seja um homem de poucas palavras e círculo social limitado, deve haver alguém de extrema confiança para ele. O senhor suspeita de alguma pessoa?
— A secretária dele, Amélia Hanks. Secretamente, eles têm um caso. Por isso, ela conseguiu um emprego de alta confiança.
— Como sabe disso? E o que te faz deduzir o nível de confiabilidade dessa mulher?
— Eu conversei muito com a Amélia, ela é a melhor amiga da minha esposa. Certo dia, sem querer, acabei ouvindo a sua confidência sobre o caso com o senhor Adams. Na verdade, o que poucos sabem é que Amélia se inscreveu como curadora da mãe dele.
— Ora, por que?
— Provavelmente porque se sente culpada com o estado da velha, eu não sei.
— Interessante... Então, a pessoa que o Thomas confia cegamente está nos Estados Unidos...
— Isso mesmo. O que pretende fazer, Dinesh?
— Nada demais.
Ele desligava a chamada antes de outra pergunta, abaixando o olhar em direção à sua agenda onde estava circulado o compromisso nos Estados Unidos. Um sorriso sádico se desenhou em seus lábios mas logo sumiu com a volta de Miyuki, a qual segurava dois obento's.
— O que é isso?
— É comida, senhor Yamir. Nunca viu?
Mesmo lançando um olhar ameaçador, ela apenas deu nos ombros e depositou o obento junto com os hashi's em cima da mesa dele. Antes de se virar e seguir seu caminho, o rapaz pedia:
— Pode ficar aqui?
— Hum?
— Temos assuntos a tratar. — resmunga abrindo a tampa do recipiente. — Urgente.
— Claro.
A mulher sentava na cadeira frente à frente com ele, pegando um sushi com agilidade enquanto o rapaz sempre derrubava a comida tentando, desajeitadamente, usar os hashi's. Miyuki mordeu o interior das bochechas para não rir da cena.
— Nós teremos uma viagem para os Estados Unidos no final do mês.
— "Nós"?
— Isso mesmo. Eu preciso da sua presença na reunião porque alguém tem que ficar encarregado de organizar a papelada antes, além de que odeio fazer o relatório.
— Ah, claro...
Ela suspira baixinho, levando outro sushi à boca com um olhar cabisbaixo. Por mais que estivesse um pouco animada com a sua primeira saída do país, não queria que fosse à negócios.
— Entre em contato com todos os sócios que estarão nessa reunião. — ordenava sério ainda em sua batalha contra o hashi. — E marque antecipadamente um jantar no melhor restaurante da cidade.
— Como desejar, senhor Yamir.
Dinesh levava cuidadosamente o hashi à boca com a mão trêmula enquanto Miyuki analisava a própria comida pensativa, deixando a pergunta escapar:
— Como o senhor está depois da morte dele?
— Puta que pariu! — exclama Dinesh quando o sushi caía mais uma vez. Então, erguia o olhar para a mulher à sua frente. — Estou bem.
A resposta dele não a convenceu mas, devido ao tom frio e distante, Miyuki percebeu que a ferida no coração do seu chefe era mais profunda do que o esperado. Então, a mulher ficava de pé pegando o seu obento.
— Eu vou agendar logo.
Porém, ele ignorou a sua presença ainda tentando comer o sushi enquanto analisava os cálculos do orçamento mensal.
O restante do dia foi agitado para o Dinesh, pois ele visitou os cinco últimos andares para conversar com os responsáveis de cada setor sobre a situação da empresa. Por mais que o restante da família estivesse de luto, ele não poderia se dar ao luxo de sofrer pela morte do pai.
(...)
Um mês depois, o avião partia para o aeroporto de Nova Iorque enquanto o Yamir e a sua secretária estavam lado à lado na poltrona. Dinesh lia um livro sobre estratégias e Miyuki analisava todo o ambiente ao redor um pouco assustada.
— Eu preferia ir de carro...
— Se o seu carro não voa, é pouco provável atravessar o mundo. — comenta Dinesh passando a página do livro. — Primeira vez?
— Sim...
Evidentemente, Miyuki encontrava-se nervosa pois alternava o olhar para todos os cantos do avião e encolhia-se na poltrona. Em momentos de turbulência, seu corpo travava e a respiração ficava mais pesada.
— Que medrosa, senhorita Sato. Os acidentes aéreos são raros de acontecer.
— Mas não são impossíveis, então eu tenho motivos para ficar com medo!
Ele suspirava pesadamente, virando o rosto em sua direção. Nesse momento, o rapaz estava com o cabelo solto e algumas longas mechas escorregavam por seus ombros, passeando por cima da camisa social cinza junto com o casaco preto. Dinesh retirava os óculos escuros para fitá-la de forma direta pela primeira vez no dia e um sorriso frio surgia em seus lábios.
— É a história do copo meio vazio, pelo visto. Se a sua perspectiva é tão limitada ao ponto de ver apenas o lado negativo, eu não posso fazer nada.
Como secretária do dono de uma das maiores empresas mundiais, Miyuki deveria aceitar o seu comentário hostil mas a sua resposta foi cruzar os braços, retribuindo a intensa troca de olhares.
— Não é negatividade, senhor Yamir. Eu sou uma pessoa temente à minha vida, só isso.
Dinesh revira os olhos, voltando a colocar os óculos e a focar no livro. Ele gostava de alguém para confrontá-lo, assim poderia usar a jovem como um "freio" em momentos onde poderia perder o controle.
Quando a viagem chegou ao seu fim, eles pegaram um táxi até um hotel cinco estrelas localizado no melhor local da cidade. Miyuki deixou a função de carregar as malas para um dos funcionários do estabelecimento, seguindo junto com o Yamir pelos corredores após o check-in. O tapete vermelho com detalhes dourados estendia-se por todo o chão e as portas brancas possuíam números dourados cravados em sua superfície. O quarto dela possuía um sofá marfim, um cama king size, televisão, um lustre no teto e um belo tapete branco. A sacada dava acesso a uma bela vista da cidade movimentada naquele início de tarde.
Enquanto a mulher desarrumava suas malas e já se preparava para a reunião após o almoço, Dinesh ia para o seu quarto que possuía uma área cinco vezes maior. O chão tão branco e limpo que podia ver o próprio reflexo. A cama larga com quatro travesseiros e um abajur prata de cada lado ocupava uma boa parte do espaço. No canto esquerdo, havia um sofá branco e um quadro do mar na parede. Um pouco atrás do sofá, localizava-se uma pia em tom dourado com duas torneiras e um espelho bem iluminado por lâmpadas amarelas. O chuveiro envolto pelo box, presente no canto atrás da cama. O local não possuía nenhuma separação entre o quarto e o banheiro, mas Dinesh não viu problema pois era o único ali.
Os outros detalhes do quarto passaram despercebidos pois o seu celular tocou, anunciando que o horário da reunião se aproximava.
Ele trocou a sua roupa casual por um terno preto e camisa social branca, pegando um táxi junto com Miyuki que os levou para a empresa responsável pelo evento. Em seguida, os dois seguiram para o último andar onde se localizava a sala de reuniões.
— Nervoso? — pergunta a mulher lançando um olhar de canto. — É a sua primeira reunião como diret-...
— Não. O nervosismo é para os fracos.
A mulher o encara incrédula enquanto Dinesh tomava a frente entrando na sala e cumprimentando as pessoas presentes na enorme sala de reuniões.
Como o esperado, os homens e mulheres mais importantes da região encontravam-se juntos debatendo sobre o futuro de suas empresas. Miyuki tentava acompanhar o ritmo, anotando tudo em um bloco enquanto estava com as costas apoiadas na parede. Ela e os demais acompanhantes estavam de pé enquanto seus chefes conversavam sentados.
— O que acha da nossa proposta, Dinesh? — pergunta educadamente o dono da empresa.
— Sinceramente? Uma droga.
Todos encaram o Yamir de olhos arregalados, inclusive a sua secretária enquanto o rapaz ficava de pé caminhando até o gráfico.
— Vamos investir em um solo muito fértil, o que atrairá mais ainda a concorrência. — explicava apontando para o gráfico. — Temos que investir na empresa de menor visibilidade.
— Mas isso não seria desvantajoso?
— Apenas no começo. A INTERCAL, empresa de pouco poder, possui um dono muito inseguro de si e que provavelmente não espera ser o escolhido. Nós o teremos em nossas mãos e poderemos controlar todo o sistema empresarial.
— Que agressivo... — murmura um homem assustado.
— É o mundo dos negócios. — responde sorrindo friamente. — E também, em pouco tempo moldando a empresa ao nosso favor, poderemos torná-la forte o suficiente para superar a concorrência atual.
— Ainda acho arriscado. — comenta uma empresária da região. — E se falhar?
— Não irá. Nós faremos as grandes empresas brigarem entre si com falsas notícias e colocaremos requisitos absurdos na licitação.
— E eles irão gastar todos os recursos para atenderem esses requisitos...
— Isso mesmo! — exclama Dinesh apoiando as mãos na mesa. — Senhoras e senhores, nós temos em nossas mãos um diamante que precisa ser lapidado. Então, a escolha cabe à vocês sobre qual é o melhor caminho.
— Podemos confiar em você, Dinesh?
O Yamir dava nos ombros, arqueando a sobrancelha com um semblante convencido.
— Se não confiarem, estamos desperdiçando o nosso tempo com essa reunião.
(...)
Mesmo sendo um plano de pura manipulação sobre o mais fraco, no final todos concordaram porque se sentiram pressionados pela áurea assustadora do Dinesh. Enquanto Miyuki passava o restante da tarde refazendo as anotações, à mando do seu chefe, antes do jantar que o rapaz marcou, o Yamir alugou um carro para ir até a cidade onde a mãe do seu maior adversário estava internada.
O asilo era inegavelmente de alta qualidade, mas possuía um clima tão pesado. Dinesh poderia sentir como muitos idosos ali presentes não queriam estar naquele local. Ao se aproximar da recepção, a mulher no atendimento já largava o telefone em um canto qualquer para dar toda a atenção devida ao moreno. Como sempre, conseguiu o que queria com poucas palavras usando – indiretamente – o seu charme. Então, em seguida, foi guiado para o vasto jardim onde os idosos usavam para caminhadas ou apenas para tomar um pouco de ar fresco.
— Obrigado!
— De nada.
Katherine Adams, uma senhora de oitenta anos, rugas expressivas em seu rosto e curtos cabelos brancos encontrava-se sentada em um banco de madeira. Ela admirava a paisagem ao lado da sua curadora e secretária do Thomas, Amélia Hanks, uma bela mulher de longos cabelos loiros e olhos verdes.
— Será que ele vem hoje? — a idosa perguntava.
— Eu não sei, senhora Adams. Por que não voltamos para dentro? A gente já espera quase todos os dias da semana.
— Não! Ele virá hoje, eu sei que sim!
A loira apenas abria um sorriso em um misto de preocupação e impaciência.
Ela tem idade para ser a filha do Thomas, Dinesh pensava ao se aproximar.
— Com licença, senhorita Hanks?
Quando focou no indiano, a jovem sentiu as bochechas corarem de forma brusca diante de tal beleza. Dinesh havia amarrado o cabelo em um rabo de cavalo baixo e ocultou o terno com um longo sobretudo azul marinho. O seu sorriso simpático – e falso – a prendeu totalmente por um momento até ficar de pé, pigarreando alto.
— S-Sim, sou eu.
— Prazer, senhorita. Eu sou um admirador do seu patrão, o senhor Thomas. — comenta estendendo a mão enquanto a outra permanecia dentro do bolso. — Eu fiquei sabendo que a mãe dele se encontra aqui, então achei uma boa ideia visitá-la para conhecer mais sobre o seu filho. Afinal, ele é uma referência no mundo dos negócios.
Amélia abria um sorriso amarelo, sem conseguir mentir diante da gentileza dele, apertando a sua mão.
— Bem, quanto a isso, ele não a visita com frequência.
— Não? — fingia estar surpreso. — Mas por que? Ela não quer vê-lo?
— Não, não. A senhora Adams sente muito a ausência do filho depois da morte do seu marido, mas ele simplesmente...
— Simplesmente?
— Eu não posso falar, é pessoal.
— Eu entendo. Desculpa se pareceu que eu quis te forçar algo.
— Nada disso, senhor. — sorria simpática. — É que o senhor Adams realmente gosta de manter sua vida privada em segredo.
— Eu imagino... — murmura dando alguns passos até estar frente à frente com a jovem, fazendo-a corar novamente. — Eu também gostaria de manter em segredo se escondesse algo tão belo... — ele passava a ponta dos dedos pelo rosto de Amélia. — Não acha?
Ela o encarava surpresa e também envergonhada, mas sem esconder como estava gostando. A mãe de Thomas continuava com o olhar focado no chão, vendo algumas formigas passearem pela estrada de pedras.
— S-Se você diz...
— Mas eu também tenho alguns segredos guardados... — Dinesh interrompia a fala para abaixar o olhar em direção à própria calça. — Que gostaria de mostrar, mas eu entendo que a discrição é necessária em alguns momentos.
Então, o rapaz recuava um pouco deixando a loira com uma expressão toda boba ainda mantendo o intenso contato visual.
— B-Bem, eu acho que não tem problema te contar algumas coisas.
— Eu não quero dizer nada para te prejudicar, senhorita Hanks.
— Pode me chamar somente de Amélia. — dizia aproximando-se mais uma vez. — Por favor, senhor...?
— Eu diria como deve me chamar, mas eu preciso confirmar de qual forma o meu nome sairá... — murmura a última parte no ouvido dela em um tom arrastado. — ... dos seus lábios em determinado momento.
Amélia mordia fraco o lábio inferior, esquecendo por um instante a sua função como curadora. Porém, voltava à si antes de fazer alguma "besteira" e lançava um olhar receoso em direção à senhora sentada no banco. Então, Dinesh a puxava de forma brusca pela cintura para colar ambos os corpos e abaixava a cabeça quase a beijando.
— Deixe-a aqui, eu prometo que não vamos demorar muito.
— T-Tudo bem... — ela virava o rosto em direção à Katherine. — Senhora Adams, eu voltarei daqui a pouco, então fique aqui.
Ela pedia mesmo sabendo que a idosa não poderia andar pelo jardim sozinha, mas apenas queria se certificar com uma falsa preocupação. A mais velha apenas acenou com a cabeça em um ritmo lento, sem tirar os olhos da sua distração atual: as formigas.
— Poderia me mostrar um ótimo lugar para a gente "conversar", Amélia?
— C-Claro. Vem comigo!
https://youtu.be/2jb1Yl1HAC4
A jovem apressava os passos esperando que ele a acompanhasse, mas o Yamir permanecia parado encarando a mãe de Thomas com a sobrancelha arqueada. Então, se ajoelhou ficando frente à frente com Katherine.
— Olá, senhora Adams. Eu sou um amigo do seu filho.
A mulher continuava calada mas olhava para o rapaz, então ele entendia isso como um sinal para continuar a falar.
— Ele não é um ótimo exemplo de filho, pelo visto. Afinal, ele te abandonou nesse asilo para apodrecer e sua alma cair no esquecimento. — comenta passando a mão pelo rosto da idosa que, atualmente, expressava medo. — Mas não se preocupe, eu farei com que seu filho não fique muito tempo nesse mundo, assim você terá um motivo menos deplorável para justificar a ausência dele.
— N-Não toque no meu filh-...
— Ele não virá porque não liga para a senhora. Isso é tão triste, não acha? Então, por que não colabora comigo ficando calada e negando a minha visita nesse lugar, caso alguém pergunte? Assim, eu prometo não machucar o seu filho.
Katherine concordava com a cabeça, tremendo de medo ao ver a expressão sem vida nos olhos do rapaz à sua frente, lembrando-se do seu próprio filho.
Abrindo um sorriso vitorioso, o Yamir colocava os óculos escuros seguindo o seu caminho em direção ao depósito de limpeza, indicado pela jovem. Ele mal esperava entrar completamente no local para puxá-la pela cintura, iniciando um beijo já pedindo passagem para a língua enquanto suas mãos desciam pelas pernas dela. Ao ser erguida no colo do Dinesh, Amélia envolvia os braços entorno do pescoço dele antes de ser colocada contra a parede.
Os lábios do Yamir pararam na orelha da jovem enquanto tirava a camisa dela, voltando a atacar sua boca com maior voracidade roçando o quadril contra a intimidade da loira. Amélia arfava de prazer, subindo a mão pela nuca dele e puxando os fios longos de seu cabelo. Ela já descia a mão pelo corpo do homem, ajudando-o a tirar a calça com os olhos brilhando de prazer.
— Promete me contar tudo? — ele sussurrava em seu ouvido, dando uma fraca mordida no lóbulo da orelha dela. — Se fizer isso, eu prometo não ser gentil. Eu aposto que é isso que você quer, não é?
— S-Sim...
— Ótimo. Eu estou curioso para saber o quão fundo posso ir em você e te explorar.
Amélia estava tão presa ao prazer que mal percebeu o duplo sentido das palavras do rapaz. Ele despia a moça enquanto a usava para apagar a Shanti da sua mente. Afinal, tinha preocupações maiores em sua vida e também não queria ser um idiota esperando por um amor impossível. Então, à partir daquele momento, decidiu se divertir da melhor forma. De alguma maneira, queria usar o contato físico para provar que ainda se encontrava vivo, pelo menos por fora, além de que se distrair usando pessoas pareceu ser bem mais divertido do que imaginou.
(...)
Dinesh jogava-se no banco do carro, tirando o gravador guardado em seu bolso e começou a escrever uma carta com instruções. Em seguida, depositava a folha de papel e o gravador dentro de um envelope amarelo.
Fácil demais, pensava.
Ele dirigiu até a primeira caixa de correio, endereçando o envelope para uma revista famosa que vive de fofoca sobre famosos. Logo após, olhou no seu relógio de pulso o horário e acelerou o carro ao notar que estava uma hora atrasado para o jantar com Miyuki. Quando chegou no restaurante, ela o encarava de braços cruzados com uma expressão nada agradável. Mesmo não sendo um encontro, a mulher esperava o mínimo de pontualidade.
— Não me faça essa cara, eu estava resolvendo algo importante.
— Tipo, experimentando batons?
Dinesh passou a ponta dos dedos sobre os lábios, vendo a tonalidade vermelha em que sua pele se encontrava. Então, deu nos ombros e se permitiu analisar a jovem à sua frente. Ela usava um curto vestido preto colado ao corpo e o cabelo estava preso em um coque alto. Como sempre, usava uma sutil maquiagem no rosto, exceto pelo forte batom nos lábios.
— Você está linda.
— E você estava transando.
— Isso virou algum elogio? Hum... Eu gostei. — ele sorria de canto. — Eu espero que as mulheres me elogiem mais vezes assim.
— Por que me deixou esperando? Você poderia, ao menos, ter avisado.
— Eu esqueci e isso nem é um encontro. Não seja idiota.
Miyuki massageia as têmporas soltando um longo suspiro.
— O único idiota aqui é você...
— O que disse?
— Nada.
— Foi o que pensei. — sorria de canto, acenando para o garçom que se aproximava rapidamente. — Traga-me o seu melhor vinho, estou com vontade de comemorar.
O garçom acenava com a cabeça, retirando-se enquanto Miyuki o encara interrogativa.
— Comemorar o que?
— A lei do retorno.
Mesmo continuando confusa, Dinesh a deixava permanecer com a dúvida na mente enquanto degustava o vinho. Os seus olhos correm em direção à televisão, onde anunciava uma gravação escandalosa sobre um empresário do país. A notícia veio de um anônimo e ele pediu para que o Thomas Adams respondesse judicialmente por abandono afetivo. Um sorriso de satisfação surgia nos lábios do rapaz e ele se acomodava na cadeira macia do restaurante.
Essa é a distração perfeita para iniciar o meu plano, pensava.
— Abandonar a própria mãe em um asilo porque se recusou a cuidar dela. — Miyuki lia a matéria na TV. — Que monstro! Será que irão mostrar o rosto dele?
— Provavelmente, não. Ele deve ser alguém importante, então consegue driblar uma situação assim.
Mas não com tanta facilidade, completava em pensamento.
— É... Você está certo.
— Eu sempre estou, na verdade.
A mulher revira os olhos, apoiando as mãos na mesa pronta para se levantar e pedir a conta mas a comida acabou de chegar.
— Espera, eu não pedi nada.
— Eu pedi. — anuncia Dinesh. — Enquanto dirigia para cá, eu já adiantei o nosso jantar.
Miyuki desvia o olhar para a variedade de comidas sobre a mesa, sem esconder o quão surpresa se encontrava naquele momento.
— Por que fez isso?
— Porque eu imaginei que estivesse com fome após um longo dia de trabalho. — comenta dando breve gole no vinho. — E, por sinal, você foi bem na reunião.
— Er... V-Você também.
— Eu sei.
Convencido, ela pensava.
Por uma fração de segundos, Miyuki reconheceu o lado acolhedor do rapaz no dia em que foi salva, mas nada passou de uma fugaz impressão sobre o Dinesh porque os olhos vazios dele indiciavam a morte instantânea de sua alma. Ainda assim, não pôde evitar a sensação calorosa em seu peito.
*Obento: uma porção para uma pessoa, servida em uma bandeja com repartições. Originalmente são servidos arroz, peixe ou carne e legumes para acompanhar, seguindo a dieta japonesa.
*Hashi: são as varetas utilizadas como em parte dos países do Extremo Oriente, como China, Japão, Vietnã e Coreia.
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