𓂀 ℂ𝕒𝕡í𝕥𝕦𝕝𝕠 𝕀𝕏 𓂀
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DOLOROSAS MEMÓRIAS
Recomeço
Por Seth...
Enquanto dormia, pude ouvir as súplicas de meu amor pedindo para que retornasse; ouvi o quanto ele me amava e estava saudoso, ouvi todos os seus planos para o nosso futuro e isso me dava ainda mais forças para lutar contra minha mente.
Me encontrava preso a ela, às correntes nas masmorras de Horus nao me prenderam apenas ás colunas, elas me prenderam em minhas memórias. E ainda estava lá... revivendo o inferno que passei durante aqueles dezoito anos.
Memórias do Caos...
Durante aquela batalha, nós lutamos arduamente, vi meu amor ser ferido, por aqueles que juravam lhe proteger.
Ali Eu era o vilão, mas por quê só Eu o queria bem? por quê só Eu o queria seguro e sem feridas?
Que mãe era aquela que ao invés de proteger, o machucava? Por que tanto ódio, quando na verdade só queríamos amar?
Estava fraco demais para reagir, em meus últimos momentos de força, olhei para Isis e em um pedido silencioso a supliquei por misericórdia, não por mim, mas por ele.
Ele era um Deus, como eu, mas não tinha a mesma força. Isis me entendeu e pela primeira vez naquela noite, ela se pronunciou, não permitiu que Nephtys o machucasse mais e não deixou que Horus arrancasse meu coração, que já estava dilacerado pela situação.
Isis pregou o amor e o perdão, deu alternativas aos outros, para impedir nossas mortes, deu a certeza de que Abayomi estava morto e de que nós não precisaríamos morrer, era só nos distanciar, esse seria nosso castigo pela eternidade.
Rá e os outros deram-se por satisfeitos, Nephtys e Hórus não.
Eles me queriam morto...eles queriam meu lugar no Enead. Mas não tiveram forças contra a decisão de Isis, a única coisa que puderam fazer foi nos aprisionar em seus palácios, garantindo que nunca mais fossemos libertos.
Mal sabiam eles que a chave de nossa liberdade repousavam sereno e protegido nós braços de minha amiga Lira.
Nosso caminho para a liberdade, não foi nada fácil, eu fui preso a correntes que me drenavam a vitalidade, vagarosamente.
Fui açoitado, humilhado, por vezes aquele imundo até tentou me violar, mas sempre, graças a Ísis ele nunca conseguiu corromper meu corpo, que continuou pertencendo apenas a Anúbis e assim seria pelo resto de minha existência.
Horus foi meu carrasco e diga-se de passagem, o melhor deles, nunca vi tanto ódio em um só ser, jamais imaginaria que ele nutria um sentimento tão forte contra mim.
Duzentas e dezesseis luas, esse foi o tempo em que sofri por amar e sofreria mais outras, se ao final pudesse tê-lo novamente em meus braços.
Já não sabia mais que dia era aquele, não comia nada a muito tempo, minhas feições eram outras, meus cabelos antes vermelhos como fogo, tinham perdido sua cor para o branco, eu não tinha mais o rosto jovem, a pele quente, a vontade de viver, chorava baixo e sem forças, quando ouvi passos, imaginei ser meu carrasco, para mais uma seção de tortura, mas ao levantar meu rosto, tamanha foi minha surpresa, um garoto estava ali, parado diante de mim, seus olhos marejados e a tristeza estampada em sua sua face, o reconheci e reconheceria em qualquer lugar.
Aqueles olhos de jabuticaba, curiosos, ele herdou de Anubis, aquelas bochechas gordinhas e o nariz de botão eram meus.
Minha alegria estava ali, ele finalmente veio me libertar. Juntei a força que me restava e ele pareceu juntar sua coragem, me chamou de pai.
Ah, sensação maravilhosa, enchi meus pulmões e respondi:
━━ Meu filho!
Ele correu em minha direção, me abraçou e chorou, meu bebê já era um lindo rapaz, cresceu tanto, mas seus olhos eram tristes e eu o entendia, ele não demorou a libertar-me. Ao colocar o amuleto em meu pescoço, meu poder ali armazenado voltou ao meu corpo, tive forças para quebrar as correntes, o elo havia sido desfeito, agora tanto eu quanto Anúbis estavamos livres e em breve estaríamos juntos.
Dei meu primeiro abraço em meu filho. Me senti completo naquele instante, mas nosso momento não durou, em questão de segundos meu algoz estava lá, pronto para mais uma batalha, só que dessa vez eu também estava pronto.
Hórus atacou Abayomi, fui rápido ao protegê-lo, mas nem tanto, ele ainda foi atingido. Decidido a acabar logo com aquilo, convoquei meu amor e ah...! Como ele estava lindo! Surgindo em sua forma †zoomórfica, metade homem, metade chacal, meu Anubis atendeu meu chamado, veio acompanhando de outro jovem, que tinha mais ou menos a idade de Abayomi. Para minha surpresa ele era filho de Hórus, com uma humana, a criança era um semideus e odiava a seu pai tanto quanto nós.
Pedi a Anubis que protegesse nossas crianças... sim nossas, a partir daquele momento Nour seria de nossa família também e por eles lutaria contra Horus.
Me revesti com minha armadura dourada e me dirigi aos céus , lá seria meu campo de batalha. A luta era acirrada. Horus não poupava esforços em me atacar, já tinha meus poderes,mas ainda não estava totalmente curado e ele sabia disso, em um descuido meu, ele atacou de forma covarde, uma de minhas feridas abertas, perdi o equilíbrio, meu sangue dourado escorria por meu corpo, minhas asas, já não me obedeciam, minha última visão foi seu sorriso debochado e ali eu desfaleci e despenquei em queda livre.
A cena se repetia como um loop infinito, as batalhas, as correntes, Abayomi, Anúbis, Nour, o sorriso diabólico de Hórus, o medo de ter perdido meus bens mais preciosos, tudo retornava , momento após outro, até eu ouvi-lo chamar por mim.
Meu Amor estava ali, mais uma vez, para me salvar, ele não sabe, mas ele me salvou, da tristeza, do ódio, do rancor e até de mim mesmo, O Senhor da Morte me trouxe vida e lá estava ele novamente a me resgatar.
Ao abrir meus olhos tive dificuldade em mantê-los abertos, a claridade não era grande, mas minhas pálpebras ainda pesavam, por instinto levei minha mão em direção ao rosto daquele que eu tanto desejava ver, ele sorriu...com seus dentinhos avantajados que lhe davam aparência de um coelho, seus olhos pidões que no momento, estavam marejados, o melhor e mais lindo sorriso, só pude sorrir de volta, com o coração cheio de amor, ao homem a minha frente.
Meu Anúbis, Meu Senhor dos Mortos a minha Vida.
Por Anúbis...
Ver meu amor despertar, trouxe grande alívio ao meu frio coração, Seth se tornou o calor de meu ser, sem ele, jamais saberia o que fazer de minha existência. Foram longos dezoito anos de distância e mais algumas luas, para que tudo se findasse.
Ansiei tanto pelo toque daquelas mãos, tão pequenas e fofas que se encaixavam perfeitamente na minhas, por aquele sorriso, que deixavam seus olhos fechados e suas bochechas gordinhas, mais rosadas e aparentes, sem falar em seu nariz de botão, que deslizava por meu maxilar, farejando-me como um cão atrás de sua caça.
Não sei como pude aguentar tanto tempo longe dele, de seus carinhos e até de suas manias e manhas. Mas ainda bem que tudo acabou, nossos dias dolorosos, tiveram um fim, ele, estava em meus braços novamente e meu filho, repousava na cama ao lado, minha família estava novamente unida.
Ajudei meu precioso amor a levantar-se, nosso momento era lindo, mas ele precisava de atenção e cuidados, foram longos meses apagado em sua cama, ele tinha que nutrir seu corpo, apesar de sermos Deuses, temos necessidades, assim como os humanos.
Abayomi também era cuidado por Nour, agradeço muito a Isis por ter protegido nossas crianças, Nour já era considerado de nossa família, pelo menos por mim, saberia a opinião de Seth em breve, lhe daria tempo para se recuperar e teríamos uma conversa sobre todos os anos. Abayomi ainda precisava de respostas e nos as daríamos.
(...)
Passado alguns dias, após o despertar de Abayomi e Seth ambos, sentiam-se melhor e mais enérgicos, Anúbis já havia os dito que teriam uma conversa e nela tudo se esclareceria.
Reunidos no jardim do palácio, abaixo de tamareiras, aproveitando o frescor do dia, os quatro homens se dispuseram a dialogar, compartilharam suas histórias, medos e alegrias, fizeram a promessa de permanecerem unidos e sempre se apoiarem.
O relato mais doloroso foi o de Anubis, relembrar a forma como ele arrancou o coração de Nephtys ainda lhe era traumático.
Memórias da Morte
Após nossa batalha no palácio de Seth, fui levado ao palácio de minha mãe, ou melhor arrastado, fui jogado e acorrentado ao pilares do submundo, fui despojado de minhas vestes e por dias açoitado, minha própria mãe era minha algoz. Descobri que Nephtys nunca me amou, sempre fui parte de um plano de poder e vingança. Nephtys queria ser a mulher de Osíris, mas este, se apaixonou por Ísis, tomada pela inveja e rancor ela seduziu meu pai e traiu a Seth, tudo foi proposital, ela só não esperava que Seth matasse a Osíris, por conta disso, ela o odiou ainda mais, jurou vingança e ajudou Isis na ressurreição de Osíris. Ficou ainda mais furiosa por ter sido rejeitada mais uma vez, pois Osíris engravidou Ísis, dando origem a Horus.
Durante toda minha existência, fui educado e ensinado a odiar Seth , ela minou o coração de Horus da mesma forma. Senti nojo de minha mãe, todas as vezes que ela me contou, um pedaço de sua história doentia, aquela não era a mulher que eu imaginava, nunca foi, ela era falsa, mesquinha, odiosa. Não bastasse a tortura física eu era torturado em mente, ela utilizava de seu poderes e manipulava minha mente, para que visse a morte de meu filho e de meu amor, mas jurei, ali as portas do submundo, acorrentado e torturado, jurei que a mataria, da mesma forma que ela matava minha família em meus pensamentos.
(...)
O dia tão esperado havia chegado , assim que pus meus olhos naquele garoto de olhos esmeralda, eu sabia que meu filho estava nos libertando. Mesmo fraco pude sorrir e quando senti meu corpo emanar o calor de Seth, sabia que estava live. Não tardei em quebrar as correntes que me prendiam, ouvi o chamado de meu amor e levei Nour comigo.
A batalha foi árdua, enquanto protegia as crianças, Seth e Horus pintavam os céus de dourado, me senti desesperado ao ver o corpo de Seth cair desacordado, mas eu não poderia me abater, eu precisava defender a vida de meu filho.
Abayomi precisava de minha força, me pus em posição de batalha pronto para atacar , quando uma luz muito forte surgiu a meu lado, era ele, meu filho, em sua primeira transformação, tão brilhante quanto o sol de Rá, tão sombrio quanto Seth e tão frio quanto a mim.
Maior que um Deus, mais forte que o Enead, surpreendendo a todos, ele não deu chances a Horus. A destruição havia despertado seria o fim do Enead. Protegi Nour e Seth o quanto pude, a batalha não durou por muito, Abayomi era muito mais forte, em um simples golpe ele esmagou Hórus.
Após tal feito vi meu filho voltar a sua forma humana, corri para ampara-lo, ele também desfaleceu, ainda não tinha controle sobre seu poder. Mesmo temeroso, me senti orgulhoso, no fim o meu menino era a chave de nossa liberdade e nossa salvação.
Isis chegou pouco depois, nos ajudou novamente com Seth e Abayomi, eu poderia permanecer com eles, mas, eu precisava encaminhar a alma de Horus e precisava achar Nephtys, garantir que eles jamais retornassem . Estava muito tempo fora do submundo, garantiria uma bela refeição a Ammit. Chegando em meu antigo lar, eu sabia que encontraria Horus, na sala das duas justiças, mas para minha surpresa, encontrei em meu caminho, minha adorada mãe tentando resgatar a alma de seu comparça. Possuído pelo ódio e rancor não pensei em mais nada, eu estava em meu território, do Submundo eu era o Deus, da morte eu era o Senhor e com minhas garras eu arranquei o coração de Nephtys.
Ela não esperava por mim, achou que não saberia de suas passagens quase secretas. Pude ver o desespero em seus olhos, quando eu surgi a sua frente, ela me olhava em súplica e eu a olhava em desprezo, sem esperar por mais, sorri, dei a ela, o mesmo sorriso que ela me dava, ao me fazer vê-la, retirando o coração de Seth.
E da mesma forma, enfiei o punho em seu peito, apertei seu coração, o retorci em minhas mãos, o senti pulsar e o esmaguei, retirei meu punho de seu peito e lhe mostrei o próprio coração, despedaçado em minhas mãos, essa foi sua última visão, meu sorriso e seu coração arrancado.
Seus corpos não foram embalsamados, suas almas não foram julgadas , eles não eram dignos de tais rituais, Ammit teve uma bela refeição, não era todo dia que um demônio devoraria dois deuses de uma única vez.
Após tanta conturbação, meu corpo cedeu finalmente ao cansaço, eu queria voltar aos braços de minha família, mas não pude, apaguei durante algumas semanas e fui cuidado por Osíris, meu pai esteve ao meu lado enquanto eu permaneci desacordado e ao me ver depertar ele me abraçou e abençoou.
Meu pai nunca foi ruim , nem me desprezou, Nephtys era quem me mantinha afastado, para que ela pudesse por seus planos odiosos em prática.
Descobri que meu pai e Isis sempre protegeram Abayomi, eles sabiam de sua existência e garantiram que ele crescesse saudável. Me senti grato, mas eu precisava voltar, minha família esperava por mim.
O meu Amor esperava por mim.
Após a conversa e os relatos de suas dores os quatro homens resolveram comemorar suas liberdades, nada seria melhor, do que retornar ao mundo mortal, afinal Lira ainda estava lá e esperava por eles.
A surpresa foi grande, o coração de Lira errou batidas, suas lágrimas banharam sua face, suas "crianças" estavam ali, vivas, bem diante de seus olhos.
Naquele dia houve festa no povoado de Siwa. A população não sabia, mas os deuses estavam abençoando aquele lugar, Lira era a mais feliz de todos os humanos, tinha novamente, seus filhos de coração consigo e ainda ganhou mais um.
Seth e Anúbis dançavam e gargalhavam, relembrando momentos, vividos antes de todo o caos.
Nour e Abayomi se olhavam enamorados, porém ainda receosos, se mantiveram unidos por um longo tempo, mas não sabiam que os sentimentos que nutriam um pelo outro era recíproco.
Ainda teriam mais uma conversa, mas essa, seria em um outro momento...
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