Sim, foi uma longa trajectória e infelizmente Light e sua família dão TCHAU a todos vocês.

Obrigada pela leitura se você chegou até aqui e espere que outros virão.

Boa Última Leitura.

LIGHT

“E no final o que sobra é aquilo que realmente importa”.

—Você me fez passar vergonha no dia de Acção de Graças. Fique longe. —Vicenzo andou para longe do seu doppelgänger que ostentava o sorriso mais largo e orgulhoso já visto.

Quem raios planea uma despedida de solteiro no dia de Acção de Graças porque nunca sabe quando é o dia de Acção de Graças? Sim, o meu irmão mais novo, aquele cujo olhar de cachorro pedinte estava direcionado a mim numa tentativa batoteira de obter algum apoio e defesa: Enzo.

Falta teoricamente um dia e meio para o casamento de Vicenzo e Tafadzua as ordens foram: Não tenham um dia de lixo um dia antes do casamento do meu bambino, tomem suas merdas e descansem o suficiente. Meus filhos nuncam chegam atrasados ou com cara de vômito em qualquer evento de merda. E meu contador de merda foi duas vezes ao alto.

—Oh, cale a boca. —Murmurou Enzo. —Você certamente gostou. Não minta para mim fratello. Eu ainda tenho os cem que você colocou na minha cueca. Tenho futuro como stripper.

Revirei os olhos. Eles eram doidos juntos, uma parte mais doida que a outra.

—Em que universo você acha sexy ter um cara que é exactamente igual a mim daçando num pau seminu é excitante ou atraente, pior ainda quando esse mesmo louco é seu irmão gêmeo.

—Um pau? —Perguntei suprimindo a gargalhada que de forma nenhuma eu devia deixar escapar. De soslaio eu pude ver que Gianna e Tafadzua compartilhavam o mesmo pensamento que eu, seus olhos estavam marejados e tentavam disfarçar o meio sorriso que ia para um grande riso.

—Uh. Não sejas tão mete suja fratello. —disse Enzo. —Não era um pau e sim poste ou mastro de pole dance. Aprendam com o mestre.

—Quem sentou em um pau? —indagou Kalahari, entrando na sala de jogos com Mariah á tira colo .

—Eu não sentei num pau, Dio mio. Não distorçam as coisas, eu gosto de mulher e isso é um facto e teria que ser um cara como Zander ou talvez Ártemis para me fazer dar a bunda. —disse Enzo.

—Cazzo! Você é louco. —praguejou Zander com um sorriso. —Talvez Ártemis aceite.

Não. Enzo e Ártemis seria a pior mistura de sempre. Uma maldita mistura dos infernos.

—Chega de falar de paus. Céus. —queixou-se Vicenzo ruborizado.

—Não sejas tão púdico fratello. —provequei-o. —Você não me poupou em imagens e gemidos no dia em que eu peguei você e Tafadzua compartilhando sexo no novo sofá da mamma.

—Porquê isso soa como um pedido para morrer?

—Beije minha bunda. —retrucou Vicenzo. —Se você contar para a mamma, eu direi que você e Kalahari estavam compartilhando sexo na piscina.

—Compartilhando sexo. —Enzo segurou sua barriga gargalhando deitado no sofá ao lado de Kalahari e Gianna que sorriam como duas malucas sendo puxadas pela aberração que era meu querido irmão. —Eu sinto muito Fratello. —Seu olhar foi direcionado a mim. —Você soa pior que um pudico, e quando diz “Compartilhar sexo”, soa ainda mais como um verdadeiro conservador de merda e você Vicenzo tem a mesma merda.

—Eu vou arrancar suas bolas caso Mariah repita suas palavras Enzo. —Exclamou Kalahari fuzilando-o com o olhar.

Enzo murmurou um “Oh” quase inaudível levantando as mãos em derrota.

—Eu acho que definitivamente escolhi o gêmeo certo. —Brincou Tafadzua, deixando um beijo rápido e fodidamente barulhento na bochecha do seu quase marido.

—Azar o seu bella mia, eu sou o único Bonnatero perfeito aqui. —Enzo piscou.

Eu grunhi sendo seguido por Gianna e Vicenzo que o fitavam divertidos. Podia sentir minha cabeça latejante e meus olhos doloridos. Com o tempo eu havia aprendido que o limite entre a diversão com a bebida estava entre o vômito e a ressaca na manhã seguinte, porém Enzo tão persuasivo que era, fez com que eu perdesse a conta de quanto scotch duplo eu havia enfiado guela abaixo, e o filho da mãe parecia tão limpo e lívido quanto  um bebê.

Um traidor.

—A macarronada está pronta. —Murmurou Kalahari.

—E você cunhada diz isso só agora? —perguntou Enzo, em seu tom de acusação cômico. Se eu não tivesse certeza de que Vicenzo é meu irmão eu teria sérias dúvidas quanto a Enzo.

—Não misturo macarronada com paus. —soltou Kalahari fazendo todos gargalharem inclusive eu.

• •

As vezes perdas são mais que perdas, são verdadeiras lições de vida. Perder para dar valor, algo assim, em vez de simplesmente valorizar para não perder; e tudo que eu havia perdido, todos os momentos em família, todas a alegria que poderia ter enchido o meu coração e tornar-me alguém melhor e as lembranças que eu poderia ter amorosamente guardado não seriam nada iguais a tudo que estava vivendo, e tudo que ficou para trás, os ‘e ses’ eram apenas possibilidades de algo que nunca aconteceu e que se acontecesse, eu teria perdido mais que uma parte da minha vida. Eu teria perdido minha família.

Vê-los tão despreocupado em torno da mesa e agindo como uma verdadeira família feliz, fez-me perceber que era áquilo que eu queria, não apenas para mim, mas também para os meus filhos e da mesma forma que eu jurei proteger toda a minha família, eu irei atender o pedido da minha mamma e ir atrás da minha própria felicidade, junto da família que eu construí, junto da mulher que mostrou-me que existem mais motivos para lutar pela felicidade que viver sob uma nuvem escura revestida por dor, ódio e mágoa.

Sentado na cabeceira da mesa papà levantou-se, seu olhar estava única e inteiramente na mulher que estava sentada ao seu lado direito, e seus olhares eram simplesmente apaixonados. Ter o que eles tinham era a minha meta. O amor verdadeiro.

O amor que era bondoso e que não se orgulhava, o amor que era paciente e não é egoísta. O amor genuíno. O amor que tudo sofreu, mas que sempre vence e venceu.

—Huh... Huh... —pigareou meu pai, fazendo com que toda a conversa cessasse. —Eu quero fazer um brinde; um brinde a vida, a família e a união. Quero dizer que estou orgulhoso de todos vocês, do poder de superação e perdão que existe em Light e que nem mesmo ele acreditava que existia, um brinde a Kalahari por ser tão persistente e por nunca ter permitido que todos os maus acontecimentos a afastassem, por dar-me netos tão bonitos que eu estou completamente derretido e falando com a voz mais aguda que posso sempre que estou perto deles, um brinde a Vicenzo e Tafadzua pelo casamento e que sigam o exemplo de seus irmãos e que não deixem que o laço do amor que vocês formaram se rompa, um brinde ao Enzo por finalmente deixar de colocar suas camisetas cheias de conteúdo explícito e erótico e mais ainda por ser tão corajoso e leal a família, um brinde a Gianna que finalmente decidiu dar a Kammily o famoso e tão esperado  “sim”, a todos nós e a nossa família, aos amigos e todos aqueles que serão eternos em nós e para nós.

Um brinde a ele que superou sua doença e estava em pé para poder fazer um brinde a todos nós.

—E eu quero fazer um brinde ao pai vocês, que foi um lutador e passou pela cirurgia sem complicações e um brinde ao amor. —complementou mamma.

—Não nos podemos esquecer do brinde especial. —disse Gianna. —Um brinde especial a mamma que sustenta a nossa família com amor e carrega-nos em suas costas fazendo sacrifícios loucos e arriscados.

Levei o copo quase sem bebida  ao ar acompanhado o movimento feito por todos eles, o brinde de vitória e de união, de lealdade e de felicidade.

A decisão de deixar Felipo Galari vivo, de entregar Claude aos Beserkers e de desistir de algo que sempre foi destinado para mim eram passos tão grandes e ao mesmo tempo humanos da minha parte. Ser da máfia nem sempre significava ser mau intencionalmente ou um assassino sem remorsos, ser um mafioso era viver sob regras e juramentos que nunca se podiam quebrar, mas para toda regra existe exceções e aproveitando isso estava na hora de abrir meu coração e seguir longe de tudo certo?

Sim, eu achava que sim.

Pigarei chamando a atenção para mim dessa vez. Meu pai ja estava sentado segurando a mão da minha mãe e seus olhares direcionados a mim eram de orgulho e por mais que fosse novo o sentimento, eu gostava. Tê-los orgulhosos de mim era tão bom quanto saber que eles me amavam mesmo eu tendo cometido vários erros e atrocidades.

Arrastei meu olhar até Kalahari, que estava sentada ao meu lado esquerdo com Miguel nos seus braços, pedido mentalmente o seu apoio e em troca ela sorriu para mim, exibindo as ruguinhas quase invisíveis que apareciam apenas quando ela sorria largamente. Kalahari acenou positivamente com a cabeça e por mais que ela não soubesse qual seria a minha grande decisão, ela apoiava de igual forma. Ela confiava tanto em mim que era tão injusto ás vezes.

Eu a amava de todo o meu coração.

—Err... Huh. —Eu estava nervoso. Era a primeira vez que eu me abriria tanto e tê-los todos olhando para mim em expectativa, preocupação e orgulho chegava a ser meio sufocante. Respirei fundo e permiti-me ser espontâneo. —Nos últimos meses eu aprendi o significado das palavras perdão e recomeço, o significado de condescendência e principalmente do amor. Perdoar é muito mais que aceitar que eventualmente estará tudo bem e que podemos superar as coisas e perceber que as pessoas as vezes nos magoam, perdoar é sempre o recomeço de uma nova descoberta, seja ela boa ou ruim, perdoar é o descobrimento do amor e da paciência e ser condescendente faz parte do conjunto. —Era tão difícil quanto parecia. —Eu estou feliz por ter perdoado, para poder amar e ser condescendente para poder recomeçar e por isso eu tenho uma notícia para todos vocês...

—Kalahari está gravida? —quetionou Enzo cortando-me as palavras...

—Enzo... —disseram Gianna e Tafadzua em uníssono.

—O quê? —indagou Enzo. —Esses dois são a definição de coelhos.

—Continuando... E não, Kalahari não está grávida, pelo menos não que eu saiba. — compeltei. —Eu anúncio que estou oficialmente renuncaindo o meu lugar de Capo dei Capi da Cosa Nostra e da Cosa Nera.

—Oh merda... —praguejou Vicenzo, sendo mortalmente fuzilado pelo o olhar azulado de mamma. —Desculpa.

—Você está doente?

Gianna levantou-se saindo do seu lugar até o meu, para colocar sua mão na minha testa e ter a certeza de que eu não estou tendo febres delirantes.

—Não, você não está doente. —murmurou ainda estática.

Sorri para a minha irmã que parecia mais assustada que todos nós. Sim, ela estava com medo de perder-me e eu porra que sentia o mesmo medo.

—Vem cá. —levantei-me e puxei seu pequeno corpo até mim envolvendo-a num abraço de urso que sei que ela odiava. —Está tudo bem. —sussurei para que apenas ela ouvisse. Gianna acenou positivamente com cabeça saindo do abraço.

—Que seja. —disse dando de ombros. —Se você sumir eu mato você. —Ameaçou.

Um pequeno gatinho seria mais assustador.

—Io no vou — assegurei-a,  — Mas como eu estava dizendo, eu renuncio a minha posição, porém não deixarei de estar por perto, digamos que serei uma espécie de conselheiro externo. À alguns dias eu tive uma conversa com mamma e um par de dias depois tive outra com o papà e percebi que isto... — movi minhas mãos para tudo que havia em nossa volta. — É a minha vida, vocês são, meus pais, irmãos... Mulher e filhos. Vocês são a minha vida e eu tive tempo demias dentro da máfia para saber que não faz bem para mim, para a minha saúde mental então eu estou me aposentando.

—Mas você tem 23 Light. —comentou Vicenzo.

—E você tem 22 e por esse motivo eu estou deixando para você o trono Nero. —exclamei para a surpresa de todos.

O corpo de Vicenzo ficou rígido e os seus olhos buscaram os meus numa velocidade incrível. Sim, estavam todos surpresos. Bom, era exactamente essa a minha intenção, deixá-los surpresos.

—E você Enzo, espero que erga a Cosa Nostra e faça dela melhor do que era. Eu confio a minha vida a vocês e o negócio da família também.

—Eu acho que você anda vendo série de televisão mais do que devia. —reclamou Enzo. —Você simplesmente enlouqueceu fratello. Eu sou um bebezão, não posso cuidar de um trono que até alguns dias pertencia ao inimigo, o trono daquele que o fez sofrer e moldado em negócios sujos.

—Tome-o e faça-o limpo.

• •

E prontos...

O que havia para fazer estava feito. Eu estava me mudando para as colinas na parte superior da Itália e seria um simples produtor de vinhos, Enzo depois de muita reclamação e algum rabo doce aceitou bem a notícia de tornara-se no novo Don da Cosa Nostra, Vicenzo estava empolgado e feliz, já Gianna estava bem sendo a nova CEO das Indústrias Alencar. Esse era o momento de cuidar da minha família, de amar ainda mais minha piccola e fazer meus filhos crescerem... Longe do sangue e da máfia. Fazê-los crescer longe da violência física e psicologica e nunca deixar que eles passassem por nada daquilo que eu passei.

A dor física pode ser suportável quando a mente é forte o suficiente para suportá-la, porém a mente é uma arma tão perigosa quanto uma guilhotina pronta para decapitar.

Com o passar do tempo eu aprendi que nem sempre as feridas deixam cicatrizes, mas também aprendi que cicatrizes são lembretes de que um dia eram feridas e que com o tempo, todas elas fecham e param de doer, no entanto nem toda ferida está cem por cento curada.

Andei alguns passos pelo relvado bem cuidado e perfeitamente verde. Parecia tudo tão nostálgico e também doloroso, sempre seria. A maldita dor que era impossível esquecer. Aquela dor de quem realmente já viu ir o que sempre achou que seria enterno. Estar naquele lugar fazia-me insanamente revoltado principalmente depois de ler e reler as palavras que tanto doiam. Quanta merda.

—Sim, passamos por muitas coisas, um par de coisas boas e uma tonelada de coisas ruins. Se eu lamento a trajetória de tudo? Sim. Extremamente. Se eu culpo-me, sim, porra que sim. Eu deveria ter prestando mais atenção certo? Eu deveria estar lá sempre e nunca largá-la, porém o passo que dei foi maior que o seu salto. —Suspirei. —Eu sinto tanto a tua falta, tanto que dói. Não é justo sabe. Não era para ser assim e eu penso... Deveria ser eu porque merda... Dói todas manhãs ao acordar e todas as noites quando vou me deitar, as imagens que ficaram marcadas na minha mente. Dói que você foi egoísta e deixou-nos para trás, deixou Mariah para trás, mas eu sei... Eu sempre soube que as melhores pessoas são aquelas que se vão antes, pois o mundo é insanamente injusto. Eu amo-te, eu amo-te sempre e para sempre e sinto tanto a tua falta e sinto muito por tudo.

Abaixei-me para deixar a única túlipa branca e com mais um suspiro permiti-me ler as maltidas escritas:

“Que você seja tão livre quanto um pássaro agora”.

Giordana Lara Bonnatero

1994–2017

FINALE...