Capítulo 5
Uma das coisas que mais me incomoda nessa escola é como ela é tão fechada. Quase não se vê a luz do sol, apenas as lâmpadas brancas que na maioria das vezes incomodam os meus olhos.
Estava voltando para a sala quando o professor de biologia me parou no pátio.
- Olá, Ariana. - ele disse, aparentando estar um pouco incomodado. Aflito com alguma coisa.
- Oi, professor. - respondi, tentando ser o mais educada possível.
Ele colocou as mãos no bolso da jaqueta e olhou para mim, mexendo os lábios em desconforto.
- Você conhece o novo aluno do terceiro ano? - perguntou. - O estrangeiro.
Até onde sabia, o único aluno novo na escola era Pablo, não fazia ideia se ele era do terceiro ano ou não mas confirmei com a cabeça.
- É amiga dele? - perguntou de forma impaciente.
- Considerando que só falei com ele duas vezes, acho que não. - respondi.
- Tudo bem... Obrigado, Ariana. - e foi em direção a uma das salas, provavelmente a que estava dando aula.
- De nada. - murmurei.
Não me canso de dizer que ele é estranho, pois após cada vez que digo ele me dá mais um motivo para ter certeza disso.
Contei sobre isso a Carolina, ela não achou tão estranho quanto eu. Apenas disse que se eu não quiser virar alvo de fanfics é melhor não contar nada as garotas, principalmente a Giovana, nossa escritora de fanfics particular.
- Eu não sei como ela consegue fazer fanfic com tudo. - Carolina disse. - Acho que é um dom.
- Cada um com sua peculiaridade, não é?
O tempo começou a passar mais rápido conforme fomos conversando sobre fanfics Larry, e logo já estávamos prontas para sair da sala e nos empanturrar com a comida da escola.
O intervalo se baseou em Tainara reclamando em como a comida grudava em seu aparelho dentário, em Carolina contando sobre a minha conversa com o argentino e nas outras garotas surtando por causa disso.
- Não entendo porque vocês ficam tão animadas com isso, não foi nada de mais. - falei.
- Mas pode se tornar algo a mais! - disse Júlia me dando uma piscadela e fazendo arminhas com as mãos.
- Vocês se empolgam muito fácil. - invejo a energia delas para literalmente qualquer coisa, enquanto eu sempre me sinto como um zumbi.
Não via a hora de voltar para casa, mas não podia negar que estava adorando ficar ali o observando do outro lado do pátio.
- Ele é tão bonito, dá vontade de agredir. - Michele disse pra mim ao perceber que eu estava o encarando.
Não pude discordar dela.
- Seu cabelo vai ficar maravilhoso! - Lívia, a tia de Carolina me disse.
Estávamos no seu salão inteiro feito nas cores branco e rosa. Era um dos meus lugares favoritos graças a alegria contagiante daquela mulher.
- Esse black power vai ficar divino! - ela hidratava meu cabelo enquanto Carolina olhava algumas revistas.
É a única cabeleireira das redondezas que confio, pois é a única que cuida exclusivamente de cabelos afros.
Era engraçado olhar as fotos nas paredes do salão, ela com com os cachos livres, a pele negra vivíssima e sempre com um sorriso no rosto ao lado do tio de Carolina, que assim como ela apenas ao olhar para a foto é possível ver o quanto o cabelo castanho claro é liso. Ele sempre de terno com a aparência cansada e as olheiras bem destacadas na pele branca, e Lívia sempre cheia de vida com seus vestidos florais. Adoro isso na família de Carolina, a diversidade, ela sempre me diz que se parece com uma grande marmita.
Os priminhos de Carolina estavam brincando em um cantinho, os dois com o cabelo trançado.
Adorava aquele lugar, me fazia sentir que não estava sozinha nesse mar de pessoas brancas. Ali eu tinha a certeza de que não passaria por nenhuma situação de preconceito e discriminação. Ali eu me sentia livre para gritar que tenho orgulho de ser negra.
- Ariana, depois vamos ao mercado? Tenho que comprar leite condensado, tô com vontade de comer brigadeiro. - Carolina me disse, não podia olhar para ela pois estava com a cabeça deitada enquanto Lívia lavava o meu cabelo.
- Não precisa pedir duas vezes!
Meu pescoço já estava doendo, mesmo não sendo por muito tempo aquela definitivamente era a pior posição pra se ficar. É a única coisa que não gosto no salão, o desconforto na hora de lavar o cabelo.
Ela terminou e ligou o secador, a temperatura do ar era muito confortável pra mim, era uma das coisas que Carolina não entendia pois pra ela isso sempre foi muito insuportável, não importava se estivéssemos no verão ou no inverno. Sempre gostei de me sentir quentinha.
- Você vai acabar se apaixonando. - ela disse de repente. Meu cérebro teve uma breve demora para raciocinar o que ela tinha falado.
- O quê? - perguntei sem entender nada e olhei para ela através do espelho.
- O argentino, vai acabar se apaixonando por ele.
- Quê? Claro que não, Carolina!
- Ariana apaixonada? - Lívia perguntou animada até demais, me fazendo rir. - Quem é o sortudo?!
- Não é ninguém! - falei revoltada, me segurando para não jogar uma escova em Carolina.
- Esse aqui. - ela disse mostrando o celular para a tia.
- O quê? Como você tem fotos dele, Carolina? - perguntei, estava ficando indignada.
- Ai meu Deus, ele é um gatinho! Pode ir, Ariana, eu aprovo. - Lívia começou a dar pulinhos, quase arrancando meu cabelo da minha cabeça.
- Ele é muito lindo. E eu tirei fotos dele na escola pra te mandar depois, já que não achei ele no Facebook.
Me limitei a apenas revirar os olhos, de qualquer forma não ia conseguir fazê-la mudar de ideia.
Após pouco tempo Lívia havia terminado.
Me levantei e me olhei no espelho.
O black power havia ficado maravilhoso, o tom da minha pele e as roupas pretas deixavam minhas Guias bem destacadas em meu pescoço. Sinto muito, mas não tem como a mulher maravilhosa que eu sou ter baixa auto estima e não se sentir incrível todos os dias.
Eu estava me sentindo deslumbrante.
E creio que todos deveriam se sentir assim.
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